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CAPÍTULO 11: “A Terra Se Encherá Do Conhecimento Do Senhor”

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A interpretação do capítulo 11 tem sido o tema de revelação moderna. Quando Moroni apareceu pela primeira vez a Joseph Smith no dia 21 de setembro de 1823, Joseph falou que Moroni “citou o capítulo onze de Isaías, dizendo que estava prestes a ser cumprido”.[1] Esta declaração indica claramente, que os acontecimentos descritos neste capítulo são pertinentes aos últimos dias; em particular, o período precedente à Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo, bem como ao reino Milenar do Senhor aqui na Terra. Em Doutrina e Convênios Seção 113, uns companheiros do profeta Joseph Smith perguntaram-lhe sobre os versículos no capítulo 11.[2] O Senhor, falando através do profeta Joseph, deu as respostas.

O capítulo 11 pode ser dividido em quatro seções. Os versículos 1 até 9 descrevem a Segunda Vinda de Cristo e reinado milenar, os versículos 10 até 12 descrevem a coligação de Israel das diversas terras para onde foram dispersos, os versículos 13 e 14 descrevem as vitórias de Israel sobre seus vizinhos hostis, e os versículos 15 e 16 descrevem as mudanças geográficas—usadas por Isaías como metáforas para descreverem acontecimentos espirituais e políticos importantes—que virão a acontecer antes ou durante o milênio.

O tronco de Jessé, mencionado nos versículos 1 até 5, é Cristo—que julgará em retidão, não somente durante o milênio, mas também no julgamento final. A pessoa que teria o papel fundamental na restauração nos últimos dias antes do milênio foi descrita metaforicamente como um “rebento” saindo das “raízes” de Jessé, e refere-se novamente a Cristo como o “renovo”. Durante o milênio, a guerra e a inveja cessarão e o conhecimento sagrado de Deus cobrirá a Terra, como as águas cobrem o mar. Em preparação para o milênio, o Senhor levantará um estandarte e juntará Israel das diversas terras para onde foram dispersos. Néfi cita o capítulo 11 por completo; compare 2 Néfi 21. Pequenas diferenças no texto do Livro de Mórmon são apresentadas em itálico onde forem citadas. Néfi também explica os elementos deste capítulo em 2 Néfi capítulo 30.

Os versículos 1 até 9 descrevem o ministério mortal de Cristo e reinado milenar. O tronco de Jessé mencionado no versículo 1 é Cristo: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará”. A mesma metáfora é usada aqui como foi introduzida anteriormente por Isaías:[3] Quando a árvore é cortada, o tronco[4] continua a brotar. Depois da destruição e cativeiro de Israel, um renovo justo surgiria do parentesco original, mantendo intacta as bênçãos prometidas aos patriarcas antigos. Será desta ordem justa, a qual incluía os descendentes de Jessé e os herdeiros do trono de Davi, que Cristo viria. Maria, a mãe de Jesus, como também José, Seu guardião legal, eram da linhagem de Jessé.[5] Esta profecia de Isaías foi citada no Novo Testamento relacionada ao ministério Jesus Cristo.[6]

Em Doutrina e Convênios, o Senhor afirma que Cristo é o Tronco de Jessé: “Quem é o Tronco de Jessé mencionado nos versículos 1, 2, 3, 4 e 5 do capítulo 11 de Isaías?” “Em verdade, assim diz o Senhor: É Cristo”.[7]

“Um rebento” brotando do tronco de Jessé, também foi mencionado no versículo 1: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé…”. O Senhor esclarece o significado em Doutrina e Convênios: “O que é o rebento mencionado no primeiro versículo do capítulo 11 de Isaías, que brotaria do Tronco de Jessé?” “Eis que assim diz o Senhor: É um servo nas mãos de Cristo, que em parte é descendente de Jessé assim como de Efraim, ou seja, da casa de José, a quem foi dado muito poder”.[8] O “rebento” é geralmente interpretado entre os Santos dos Últimos Dias como sendo Joseph Smith, o profeta da Restauração.[9]

O título “renovo” pode ser aplicado simultaneamente a Cristo e a um líder político moderno da linhagem do Rei Davi da antiguidade, cuja retidão permitir-lhe-ia a ser guiado pelo Senhor. Jeremias, no Velho Testamento, predisse:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra.
“Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.”[10]

“O Senhor”, como foi usado nesta passagem, provavelmente significa um líder temporal. Isto se contrasta, no versículo anterior[11], com “o Senhor”, que significa Jeová. O nome deste governante Judeu nos últimos dias seria Davi, como foi predito por Ezequiel e Oséias.[12] Joseph Smith declarou profeticamente: “O trono e reino de Davi ser-lhe-á tomado [Davi da antiguidade] e dado par um outro por nome de Davi nos últimos dias, levantado de sua linhagem”.[13] Bruce R. McConkie confirmou que o renovo, bem como o rebento, é Cristo.[14]

O versículo 1 contém um quiasma reconhecido no hebraico original, que foi reconstruído aqui para combinar com a construção hebraica:[15]

A: (1) Porque brotará
B um rebento do tronco de Jessé,
B: e um renovo das suas raízes
A: frutificará.

Visto que Cristo é o “tronco de Jessé”, um renovo crescendo de “suas raízes”—ou as raízes de Jessé, ou a linhagem dos reis davídicos—pode ser que esteja referindo-se a Cristo, se os elementos do quiasma estiverem paralelos, ou pode ser que signifique outra pessoa da mesma linhagem, se os elementos do quiasma forem complementários.

Os versículos 2 e 3 descrevem a retidão de Jesus Cristo ao exercer juízo, e serve como um símbolo dos atributos cristãos do líder temporal nos últimos dias, chamado Davi, bem como Joseph Smith, o profeta da Restauração. O versículo 2 prediz: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. O pronome, “ele”, simultaneamente significa o “rebento” e o “renovo”—Joseph Smith, Cristo, e o Davi dos últimos dias.

O versículo 3 continua: “E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos”.

Versículo 4 descreve o julgamento e destruição que acontecerão na Segunda Vinda, referindo-se agora somente a Cristo: “4 Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio”. A palavra hebraica traduzida como “repreenderá com equidade” significa “decidir com justiça”.[16]

Este versículo é parafraseado por Paulo em sua segunda epístola aos Tessalonicenses: “E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda”.[17]  Paulo esclarece que tão somente o assopro da boca do Senhor matará aos iníquos.

O Senhor, ao repreender a Martin Harris por haver perdido as 116 páginas traduzidas da primeira parte do Livro de Mórmon, usou semelhantes palavras: “Portanto ordeno que te arrependas—arrepende-te, para que eu não te fira com a vara de minha boca e com minha ira e com minha cólera e teus sofrimentos sejam dolorosos—quão dolorosos tu não sabes, quão intensos tu não sabes, sim, quão difíceis de suportar tu não sabes”.[18]

O Senhor também enfatizou que os iníquos destruiriam aos iníquos em guerras que aconteceriam durante os últimos dias, antes da Sua Segunda Vinda:

“Em minha ira jurei e decretei guerras sobre a face da Terra; e o iníquo matará o iníquo e temor virá sobre todo homem;
“E os santos também mal escaparão; contudo eu, o Senhor, estou com eles e, da presença de meu Pai, descerei no céu e consumirei os iníquos com fogo inextinguível.[19]

É pelo decreto do Senhor que aconteceriam guerras, nas quais os iníquos matariam uns aos outros.

Néfi provê uma interpretação profética:

“E com justiça julgará o Senhor Deus os pobres e reprovará com equidade pelos mansos da Terra. E ferirá a Terra com a vara de sua boca; e com o sopro de seus lábios matará os ímpios.
“Pois rapidamente chegará o tempo em que o Senhor Deus fará uma grande divisão entre o povo e destruirá os iníquos; e poupará seu povo, sim, ainda que tenha que destruir os iníquos com fogo.[20]

As palavras do versículo 4 descrevem a destruição dos iníquos antes da Segunda Vinda do Senhor. Durante o milênio, guerra e inveja serão aniquiladas e o conhecimento de Deus cobrirá toda a Terra.

O versículo 4 contém um quiasma:[21]

(4) Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra;
A: e ferirá a terra
B: com a vara de sua boca,
B: e com o sopro dos seus lábios
A: matará o ímpio.

“Ferirá a terra” complementa “matará o ímpio”, indicando que o propósito do Senhor em ferir a Terra é para destruir a iniquidade entre a população humana, ao invés de infligir punição sobre a Terra em si. “A vara de sua boca” é sinônimo para “o sopro dos seus lábios”.

O versículo 5 descreve a fonte de poder de Cristo, e como um símbolo, também a de Davi dos últimos dias e do profeta da Restauração: “5 E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins”. “Lombos” e “rins” vieram da palavra hebraica que significa “cintura”.[22]

O Senhor usa palavras semelhantes para instruir os Santos dos Últimos Dias:

“Portanto uma vez que eu, o Senhor, decretei todas estas coisas sobre a face da Terra, desejo que meus santos se reúnam na terra de Sião;”E que todo homem tome a retidão em suas mãos e cinja seus lombos com a fidelidade; e aos habitantes da Terra levante uma voz de advertência e declare, tanto por palavra como por fuga, que a desolação virá sobre os iníquos.[23]

A retidão e a fidelidade são atributos cristãos que todos nós devemos emular; ao fazer isto escaparemos a desolação que virá sobre os iníquos.

Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma:

A: (3) E deleitar-se-á no temor do Senhor;
B: e não julgará segundo
C: a vista dos seus olhos,
D: nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos.
E: (4) Mas julgará com justiça os pobres,
E: e repreenderá com equidade aos mansos da terra;
D: e ferirá a terra com a vara de sua boca,
C: e com o sopro dos seus lábios
B: matará ao ímpio.
A: (5) E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.

“No temor do Senhor” corresponde à “a justiça” e “a fidelidade”, que apresentam o tema do quiasma. A palavra “Julgará” é comparada com “matará o ímpio”, provendo uma maior explicação para o uso da palavra “julgar”. “A vista dos seus olhos” corresponde à “com o sopro dos seus lábios”. “Repreenderá” no versículo 3 é equivalente à “ferirá”, e “julgará com justiça os pobres” reflete-se em “repreenderá com equidade aos mansos da terra”, que é o enfoque central do quiasma. O Senhor, ao matar o ímpio, age com equidade. Consequentemente, a destruição dos ímpios resultará em equidade e justiça para os pobres e mansos da terra.

Nos versículos 6 até 9 Isaías metaforicamente descreve a eliminação das hostilidades entre as nações em guerra, que eram inimigas já há muito tempo. As metáforas de animais—alguns predadores naturais e outros a sua presa—vivendo amigavelmente uns com os outros durante o milênio são frequentemente interpretadas literalmente, mas seriam melhor entendidas num sentido metafórico. Algumas das nações assim representadas são identificáveis; o urso pode ser a Rússia e o leão pode ser a Grã-Bretanha. A estrutura quiasmática deste versículo e seu equivalente no versículo 13 confirma que Isaías está falando metaforicamente.

Os versículos 6 até 8 apresentam as metáforas. O versículo 6 declara: “E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará”.[24] Os opostos são apresentados como contrastes literários para enfatizar as diferenças.

O versículo 7 apresenta mais contrastes literários: “A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi”.

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

A: (6) E morará o lobo com o cordeiro,
B: e o leopardo com o cabrito se deitará;
C: e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos,
D: e um menino pequeno os guiará.
C: (7) A vaca e a ursa pastarão juntas,
B: seus filhos se deitarão juntos,
A: e o leão comerá palha como o boi.

“O lobo” e “o cordeiro” correspondem ao “leão” e ao “boi”; “se deitará” corresponde à “se deitarão juntos”; a frase “o bezerro, e o filho de leão” correspondem à frase “a vaca e a ursa”; e “um menino pequeno os guiará” é a única declaração central. O significado é que o menino pequeno guiará todos os animais mencionados no quiasma.

O quiasma forma o elemento inicial num quiasma maior que inclui os versículos 6 até 13. O quiasma dos versículos 6 e 7, que contém os nomes dos animais que representam as nações em guerras e suas vítimas, complementa o quiasma do versículo 13, que descreve o fim da hostilidade entre as nações de Judá e Efraim, bem como com outros vizinhos hostis. Esta equivalência quiasmática explica a metáfora.

O versículo 8 continua, apresentando mais contrastes literários e adicionando um significado ainda mais profundo à metáfora: “E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco”. A áspide é uma cobra venenosa da família das víboras, já um basilisco é um réptil fabuloso a que se atribuía o poder de matar através do olhar, do bafo ou do contato.[25] Note o paralelismo; “a toca da áspide” é equivalente à frase “na cova do basilisco”, e “a criança de peito” é equivalente à “desmamada”. Estas comparações reforçam ainda mais a suposição de que Isaías está falando metaforicamente—o que é conhecido como prejudicial e perigo é contrastado com inocência e vulnerabilidade.

Versículo 8 contém um quiasma reconhecido no original em hebraico, e que foi reformatado aqui para combinar com a construção hebraica.[26]

A: (8) Brincará
B: a criança de peito sobre a toca da áspide,
B: e a desmamada na cova do basilisco
A: meterá a sua mão.

Este quiasma coloca palavras que aparecem como duas declarações paralelas na versão de João Ferreira de Almeida como declarações paralelas inversas, adicionando um equilíbrio poético.

No versículo 9 o Senhor descreve as condições milenar: “Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”. É o conhecimento do Senhor que terminará com a guerra e a inveja.[27] “Monte” retoricamente significa “nação”, ou domínio político.[28] Assim, no domínio do Senhor—que incluirá toda a Terra, como mostra na frase seguinte— “não se fará mal nem dano algum”.

Dallin H. Oaks declarou:

“Hoje em dia estamos assistindo a uma explosão de conhecimento a respeito do mundo e seus povos. Mas os povos do mundo não estão obtendo uma expansão de conhecimento comparável sobre Deus e o plano dele para seus filhos. Nesse assunto, o mundo necessita não é de mais erudição e tecnologia, porém de mais retidão e revelação.
“Aguardamos o dia profetizado por Isaías no qual “a terra se encherá do conhecimento do Senhor”.[29]

No Livro de Mórmon, Néfi também cita os versículos 4 até 9 em 2 Néfi capítulo 30 com pequenas variações.[30] Néfi adiciona esta explicação interessante depois da citação:

“Portanto as coisas de todas as nações se tornarão conhecidas; sim, todas as coisas serão dadas a conhecer aos filhos dos homens.
“Nada haverá secreto que não seja revelado; não haverá obra tenebrosa que não venha à luz; nada haverá selado na face da Terra que não seja descerrado.
“Portanto todas as coisas que foram reveladas aos filhos dos homens serão reveladas naquele dia; e Satanás já não terá poder sobre o coração dos filhos dos homens, por um longo tempo….”[31]

O conhecimento da verdade, revelado aos filhos dos homens, tirará eficazmente o poder de Satanás.

Ao instruir ao Santos dos Últimos Dias, o Senhor declara: “E nesse dia [o reinado milenar do Senhor], a inimizade do homem e a inimizade das bestas, sim, a inimizade de toda carne terá fim de diante de minha face”.[32] Aqui mostra bem claro que ambos elementos, literal e metafórico, da profecia de Isaías virão a se cumprir.

Os versículos 10 até 12 descrevem a coligação de Israel. Em preparação para o milênio, o Senhor levantará um estandarte e juntará Israel que foi espalhada por muitas nações. O versículo 10 refere-se a uma “raiz de Jessé”, que é um profeta mandado aos gentios nos últimos dias: “E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso”. A frase “naquele dia” significa os últimos dias, a época em que esta profecia deverá ser cumprida.[33]

O versículo 10 foi citado pelo Apóstolo Paulo, referindo-se a aceitação de Cristo pelos gentios: “Outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão”.[34] Os gentios nos últimos dias aceitariam a Cristo através da “raiz em Jessé”, proclamada por Isaías—o grande profeta da Restauração, Joseph Smith.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor deu uma maior explicação: “O que é a raiz de Jessé mencionada no versículo 10 do capítulo 11?
“Eis que assim diz o Senhor: É um descendente de Jessé, assim como de José, a quem por direito pertencem o sacerdócio e as chaves do reino, posto por estandarte e para a coligação de meu povo nos últimos dias”.[35] Estas características descrevem atributos principais da linhagem e missão profética de Joseph Smith.”[36], [37]

Joseph Smith, juntos com seus companheiros da Restauração, eram herdeiros legítimos do sacerdócio através desta linhagem. O Senhor, através de uma revelação moderna, declarou:

“Portanto assim diz o Senhor a vós, com quem o sacerdócio continuou através da linhagem de vossos pais—
“Porque sois herdeiros legais segundo a carne e fostes escondidos do mundo com Cristo, em Deus—
“Portanto vossa vida e o sacerdócio permaneceram; e é necessário que permaneçam por meio de vós e de vossa linhagem, até a restauração de todas as coisas proferidas pela boca de todos os santos profetas desde o princípio do mundo.”[38]

Foi dado a Joseph Smith, através da ministração de anjos, as chaves de vários ofícios e funções essenciais do sacerdócio como parte da Restauração. Essas ministrações angelicais incluem a ordenação ao Sacerdócio Aarônico pelas mãos de João Batista[39] e a ordenação ao Sacerdócio de Melquisedeque, inclusive ao Apostolado, pelas mãos de Pedro, Tiago e João.[40] Moisés restaurou as chaves da coligação de Israel, através de Joseph Smith numa visão gloriosa.[41] Elias restaurou o poder do selamento para unir os pais aos seus filhos de todas as gerações,[42] e Elias, o tisbita, restaurou as chaves do evangelho de Abraão pelas quais todas as futuras gerações seriam abençoadas.[43]

Joseph Smith, como o profeta de Restauração, estabeleceu um estandarte para o povo do mundo—incluindo os gentios e as tribos de Israel—onde se congregariam nos últimos dias. Numa revelação moderna, o Senhor declarou:

“Pois eis que vos digo que Sião florescerá e a glória do Senhor estará sobre ela;
“E será um estandarte para o povo e a ela virão de todas as nações debaixo do céu (ênfases adicionadas).”[44]

O profeta Leí, no Livro de Mórmon, em sua última bênção a seu filho mais novo, José, descreveu um profeta dos últimos dias que se chamaria José (Joseph).[45] Semelhantemente, Jacó—ou Israel—ao pronunciar a última bênção sobre seu filho José, profetizou sobre um profeta dos últimos dias que também se chamaria José.[46]

O versículo 11 descreve as nações de onde os remanescentes de Israel serão juntados: “E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar”. Néfi também cita a primeira parte deste versículo em 2 Néfi 25:17 e 2 Néfi 29:1.[47]

Estes nomes de países do tempo de Isaías representam lugares para onde Israel foi originalmente dispersa. Seus equivalentes no mundo atual não são estritamente relacionados às localidades mencionadas.  Por exemplo, parece que “as ilhas do mar” referem-se ao Arquipélago Grego por causa da estrutura quiasmática deste e de outros versículos, descrita abaixo. Entretanto, esta frase também refere-se às Américas, a herança dos filhos de Leí.[48]

O “estandarte”, como foi usado no versículo 10, significa uma bandeira militar, que era usada para denotar condições no campo de batalha e enviar mensagem aos combatentes.[49] Neste caso a mensagem é para se juntarem, como mostrado no versículo 12: “E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra”.[50] A palavra hebraica traduzida como “confins”, na frase final, significa “extremidades” ou “bordas”.[51]

Concernente aos versículos 11 e 12, LeGrande Richards ensinou:

“O Anjo Morôni repetiu essa mensagem ao Profeta Joseph Smith, quando este tinha apenas dezoito anos de idade, na ocasião em que o visitou três vezes em seguida, durante a noite e pela manhã, indicando que essa obra deveria ser realizada.
“Pensem na responsabilidade do Profeta Joseph naquela ocasião. Ele estabeleceu um estandarte para todas as nações e nenhuma outra igreja do mundo está fazendo pelos seus membros o que esta Igreja está fazendo, ajudando-os a progredir e, ao mesmo tempo, estabelecendo um estandarte para o mundo. Indivíduos nos procuram para saber como estamos conseguindo fazer tais coisas.”[52]

A coligação de Israel, descrita nestes versículos, seria o maior milagre feito pelo Senhor nos últimos dias, como foi testificado por Jeremias:

“Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito.
“Mas: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais.[53]

Este grande milagre é parte da obra missionária dos últimos dias, um meio pelo qual Israel será coligada.[54]

Como descrito no versículos 13 e 14, antes da Segunda Vinda do Senhor, Israel—unidas como uma só nação, ao invés de dois reinos diferentes—dominará seus vizinhos que antes eram hostis. O versículo 13 proclama: “E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim”. O Livro de Mórmon apresenta “Cessará também a inveja de Efraim”.[55]

Os versículos 6 até 13 formam um elegante quiasma:

A: (6) E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. (7) A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. (8) E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco.
B: (9) Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.
D: (10) E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé,
E: a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso. (11) E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado,
F: da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia
F: de Elão, de Sinar, de Hamate, e das ilhas de mar.
E: (12) E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel,
D: e os dispersos de Judá congregará
C: desde os quatro confins
B: da terra.
A: (13) E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim.

A declaração introdutória deste elegante quiasma se encontra nos versículos 6 e 7, que por si mesmos formam um quiasma completo e foi descrito anteriormente. Sua reflexão complementar se encontra no versículo 13, que também é outro quiasma completo. As declarações centrais são dois conjuntos de locais geográficos, dados no versículo 11. Quando os locais são colocados num mapa,[56] o padrão que Isaías tentou descrever aparece: Cada conjunto forma uma linha mais o menos reta, as duas linhas se cruzam para formar um “X”—a letra Grega chi, como na palavra “quiasma”.

O padrão planejado por Isaías é evidente quando estes oito locais geográficos são considerados em ordem. Assíria ficava ao norte da Babilônia no vale do Rio Tigre; sua capital era Nínive. Egito fica aos dois lados do Rio Nilo e seu delta fica no sudoeste da Assíria. Patros é parte do Alto Egito, localizado ao longo do Rio Nilo para o sudoeste, e Etiópia é mais ainda para o sudoeste do Egito onde viviam um povo de pele escura. Estes quatro locais formam uma linha que começa inclinando-se na direção sudoeste, mas muda para a direção mais para o sul. A segunda linha começa em Elão, que é a parte sudeste da Pérsia, ou Iran, ao sudoeste da Assíria. Sinar é a Babilônia, que fica na parte mais baixa da planície dos rios Tigre e Eufrates, ao noroeste de Elão. Hamate ainda é uma cidade importante na Síria, localizada mais ainda ao noroeste das linhas descritas. Esta cidade foi nomeada como o limite setentrional da terra prometida da Palestina.[57] As “ilhas do mar” refere-se ao Arquipélago Grego, que forma o fim da segunda linha ao noroeste.

Versículo 13 contém um quiasma:[58]

(13) E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados;
A: Efraim
B: não invejará
C: a Judá
C: e Judá
B: não oprimirá
A: a Efraim.

Este quiasma reflete a declaração introdutória do quiasma dos versículos 6 até 13. Sua relação complementar confirma que os animais nos versículos 6 e 7 são metáforas representando nações guerreiras agressoras e suas vítimas perenes. A primeira menção de “Efraim” é equivalente à segunda no final do versículo; “não invejará” é equivalente a “não oprimirá”; e “Judá” corresponde a “Judá”.

O versículo 14 descreve as vitórias da Israel unida: “Antes voarão sobre os ombros dos filisteus ao ocidente; juntos despojarão aos do oriente; em Edom e Moabe porão as suas mãos, e os filhos de Amom lhes obedecerão”. Estes vizinhos adversários do tempo de Isaías teriam outros nomes hoje.

O versículo 15 descreve mudanças que ocorrerão antes ou durante a parte inicial do Milênio: “E o Senhor destruirá totalmente a língua do mar do Egito, e moverá a sua mão contra o rio com a força do seu vento e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete correntes e fará que por ele passem com sapatos secos”. Estas mudanças—descritas por Isaías em termos geográficos—podem ser parcialmente ou totalmente metafóricas, representando mudanças políticas e sociais que facilitariam a coligação de Israel. A divisão das águas do Mar Vermelho na época de Moisés, para permitir aos Israelitas a escaparem dos exércitos egípcios, é um símbolo para o caminho estreito e apertado, no sentido espiritual. “A língua do mar do Egito” provavelmente significa o Golfo de Suez—a língua ao noroeste do Mar Vermelho, localizada entre o Egito e a Península do Sinai—que foi dividida na época de Moisés.[59] Ventos poderosos também se manifestariam, tal como nos tempos da divisão do Mar Vermelho.[60] “O rio” provavelmente significa os rios Tigre e Eufrates juntos;[61] fortes ventos ferirão os sete afluentes destes rios[62] permitindo que os homens atravessem-nos “com sapatos secos”.

Será que os ventos poderosos representam as mudanças políticas rápidas que acontecerão na terra por causa dos rios Tigre e Eufrates e seus afluentes, estabelecendo liberdade política e religiosa, e permitindo com que os homens e as mulheres daquelas nações obtenham o conhecimento verdadeiro do Plano de Salvação? Se assim for, o significado metafórico de Isaías é de que esses acontecimentos são tão importantes nos últimos dias como foi a divisão das águas do Mar Vermelho nos tempos antigos.

A destruição da língua do mar do Egito coincidirá com a coligação, como foi sugerido no versículo 16: “E haverá caminho plano para o remanescente do seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito”.[63] Outra referência semelhante a um caminho ou estrada foi feita  por Isaías, no capítulo 35, indicando que o significado é espiritual ao invés de temporal:

“E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para os remidos. Os caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão.”[64]

O “caminho” é o caminho estreito e apertado.[65] A maneira pela qual os remanescentes de Israel serão juntados nos últimos dias é com o evangelho sendo pregado a eles; eles se unirão com Sião e seu povo, e seguirão o caminho estreito e apertado. Sua identidade como herdeiros do Convênio Abraâmico ser-lhes-á revelada, e eles farão convênios com o Senhor como em tempos passados.

NOTAS

[1]. Joseph Smith—História 1:40.
[2]. Versículos 1-5, 10.
[3]. Isaías 6:13.
[4]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1503, p. 160.
[5]. Ver Mateus 1:1-16.
[6]. Ver também Isaías 7:14; 9:6; 25:9; 53:5.
[7]. Doutrina e Convênios 113:1-2.
[8]. D&C 113:3-4.
[9]. Donald W. Parry, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 21//Isaías 11”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon], Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 379-380.
[10]. Jeremias 23:5-6.
[11]. Jeremias 23:5.
[12]. Ver Ezequiel  37:21-28 e Oséias 3:4-5.
[13]. História da Igreja, v. 6, p. 253.
[14]. Bruce R. McConkie, The Promised Messiah [O Messías Prometido]: Deseret Book Co., Salt Lake City UT, 1978,  p. 192.
[15]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3198, p. 406-407.
[17]. 2 Tessalonicenses 2:8.
[18]. D&C 19:15.
[19]. D&C 63:33-34.
[20]. 2 Néfi 30:9-10.
[21]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2504, p. 323.
[23]. D&C 63:36-37.
[24]. Versículo 6 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Morará/o lobo com o cordeiro//o leopardo com o cabrito/se deitará. Em Parry, 2001, p. 259.
[25]. Basilisco Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/basilisco. Ver também Isaías 14:29; 59:5 e comentário pertinente.
[26]. Parry, Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[27]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[28]. “Monte” é retoricamente correlacionado com “nação”. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[29]. Dallin H. Oaks, “Vozes Alternativas”, A Liahona, Julho de 1989, pág. 29.
[30]. 2 Néfi 30:9, 11-15.
[31]. 2 Néfi 30:16.
[32]. D&C 101:26.
[33]. Compare Isaías 27:2.
[34]. Romanos 15:12.
[35]. D&C 113:5-6.
[36]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 172-174.
[37]. D&C 135:3.
[38]. D&C 86:8-10.
[39]. Joseph Smith—História 1:72; D&C 13:1.
[40]. Joseph Smith—História 1:72; D&C 27:12.
[41]. D&C 110:11.
[42]. D&C 110:13-16.
[43]. D&C 110:12.
[44]. D&C 64:41-42.
[45]. Ver 2 Néfi 3:6-22.
[46]. Ver Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 114-116; também JST de Gênesis 50:24-38.
[47]. Victor L. Ludlow, “Isaiah in The Book of Mormon”[ “Isaías no Livro de Mórmon”], Book of Mormon Reference Companion [Companheiro de Referências do Livro de Mórmon], Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 344.
[48]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 18:1-2 e comentário pertinente.
[49]. Ver também D&C 113:6, D&C 64:41-42 e Isaías 5:26.
[50]. Ver Isaías 5:26 e comentário pertinente.
[51]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3671, p. 489.
[52]. LeGrande Richards, “Profetas e Profecias”, A Liahona, Fevereiro de 1976, p. 43.
[53]. Jeremias 16:14-15.
[54]. Ver Isaías 18.
[55]. 2 Néfi 21:13.
[56]. Ver Mapa Bíblico 2.
[57]. Ver Números 34:8; Josué 13:5.
[58]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[59]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3956, p. 546; Ver Map 3, Bíblia SUD em inglês.
[60]. Ver Êxodo 14:21-22.
[61]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson interpretam “o rio” como sendo o Eufrates. Em Parry et al., Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 124-125.
[62]. Possivelmente Grande Zab, Pequeno Zab, Diyala, e Adhaim (afluentes do rio Tigre); Kara, Murat, e Khabur (afluentes do rio Eufrates).
[63]. Ver Êxodo 14:21-31 e Isaías 51:10.
[64]. Isaías 35:8. Ver Isaías 19:23; 40:14; 49:11 e comentário pertinente.
[65]. Ver 1 Néfi 8:20; Mateus 7:14 e 3 Néfi 14:14; compare 2 Néfi 9:41, 31:18, 33:9; Jacó 6:11, Helamã 3:29, 3 Néfi 27:33, e D&C 132:22.

CAPÍTULO 9: “O Povo Que Andava Em Trevas, Viu Uma Grande Luz”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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A primeira parte deste capítulo é uma profecia predizendo a vinda do Messias, referindo-se tanto ao ministério mortal do Senhor, quanto à Sua Segunda Vinda.  Ao seguir vemos uma advertência dirigida especialmente a Efraim, porém aplicável a Judá e aos descendentes de ambas tribos nos últimos dias, para que evitassem o orgulho e a corrupção governamental, ou seriam destruídos. Este capítulo é citado completamente por Néfi, com pequenas variações, mostradas em itálico quando forem citadas. Compare 2 Néfi 19.

Versículo 1 declara: “Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galileia das nações”.[1] O Livro de Mórmon apresenta “…e depois afligiu mais severamente, pelo caminho do Mar Vermelho…”.[2] As terras de Zebulom e Naftali se encontravam na direção oeste e noroeste, respectivamente, do Mar da Galileia.[3] A  palavra entenebrecida que se encontra na primeira parte do versículo 1 refere-se ao último versículo do capítulo 8; a conjunção “mas”, estabelece esta conexão e indica que as trevas (entenebrecer significa cobrir de trevas) mencionadas aqui é a escuridão espiritual, trazida pelas iniquidades mencionadas nos últimos versículos do capítulo 8. Escuridão, ou temor e desencorajamento descrevem os sentimentos do povo quando os invasores assírios vieram atacar pela primeira vez as terras de Zebulom e de Naftali.

Comentadores rabínicos “relacionam isto aos ataques assírios sob o comando de Tiglate-Pileser e Sargão II”.[4] Entretanto, devido Isaías usar acontecimentos desta época como exemplos de acontecimentos que viriam a acontecer no futuro, não se deve depender somente nos registros históricos como chave principal para entender as palavras de Isaías.

Os versículos 2 até 5 descrevem a glória a ser contemplada na vinda do Senhor. O versículo 2 declara: “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz”. Esta passagem descreve uma grande luz que influenciaria todos “os que habitavam na região da sombra da morte”, o que significa todos os habitantes da Terra em seu estágio mortal probatório na época da vinda do Senhor. Durante Seu ministério mortal essa luz era espiritual, compreendida somente por aqueles que acreditavam e entendiam Sua missão divina. Todavia, Ele rompeu as ligaduras da morte e proporcionou a salvação para todos; esta luz de esperança e felicidade brilham em cada um de nós que somos os beneficiários de Sua Expiação. Na Sua Segunda Vinda, esta luz será um fenômeno físico também.

Os versículos 1 e 2 foram citados por Mateus; esta profecia de Isaías é uma das diversas profecias citadas por escritores do Novo Testamento que foram cumpridas com acontecimentos na vida de Jesus Cristo:[5]

“E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali;
“Para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz:
“A terra de Zebulom, e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, A Galileia das nações;
“O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; aos que estavam assentados na região e sombra da morte, A luz raiou.”[6]

Esta passagem ilustra o uso extenso de símbolos e duplo significados usados por Isaías, e a compreensão profunda que Mateus tinha deles.

O versículo 2 é a base textual para a obra “O Messias” de Handel, Parte 1, número 11—Ária para Baixo, “O povo que andava em trevas viu uma grande luz”.

O versículo 3 declara: “Tu multiplicaste a nação, a alegria lhe aumentaste; todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa, e como exultam quando se repartem os despojos”. A tradução de Joseph Smith afirma “…e todos se alegrarão perante ti…”.[7] Haverá uma grande alegria na vinda do Senhor—alegria semelhante à quando há uma boa ceifa, ou quando os soldados conquistadores repartem os despojos. “Multiplicaste a nação” refere-se ao Convênio Abraâmico, no qual foi prometido a Abraão uma posteridade inumerável.[8] O número dos congregados e dos que retornarem por meio da Restauração e pregação do evangelho será grande, culminando na época da Segunda Vinda do Senhor.

Ao contrastar o temor e apreensão provocada pelas ameaças de invasão dos assírios, que tanto Israel quanto Judá enfrentaram, com a luz, alegria e gratidão trazida pela vinda do Messias prometido, Isaías confirma que as condições impostas pelos invasores seriam somente temporárias. Num tempo no futuro, o Messias viria aos descendentes de Abraão, um povo que ainda existiria.

Os versículos 1 até 3 formam um quiasma:

(1) Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali;
A: mas nos últimos tempos afligiu mais severamente junto ao caminho do Mar Vermelho,
B: além do Jordão, a Galileia das nações.
C: (2) O povo que andava em trevas viu uma grande luz;
C: e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz.
B: (3) Tu multiplicaste a nação,
A: a alegria lhe aumentaste; todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa, e como exultam quando se repartem os despojos.

Isaías usa um contraste literário neste quiasma para comparar as trevas e o temor infligido pelos invasores assírios, descrito no lado ascendente do quiasma; com a alegria que o povo sentiria quando o Senhor vier em Sua glória, descrito do lado descendente. Num contraste literário, os opostos são comparados a fim de ressaltarem as diferenças. A alegria que sentirá o “povo que andava em trevas” e os “que habitavam na região da sombra da morte”, seria porque o povo “viu uma grande luz”, e porque “resplandeceu a luz” sobre eles.

Os versículos 4 e 5 descrevem a destruição que aconteceria entre os opressores do povo do Convênio do Senhor na Sua Segunda Vinda. O versículo 4 inicia dizendo: “Porque tu quebraste o jugo da sua carga, e o bordão do seu ombro, e a vara do seu opressor, como no dia dos midianitas”. O Livro de Mórmon omite “como no dia dos midianitas”.[9]  Na Segunda Vinda do Senhor Seu povo será livrado da opressão.

O versículo 5 continua: “Porque todo calçado que levava o guerreiro no tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue, serão queimados, servindo de combustível ao fogo”.[10] Ao invés das típicas cenas de batalha caracterizadas pelo “tumulto” e mortes provocadas por armas convencionais, resultando em “todo o manto revolvido em sangue”, nesta destruição “serão queimados, servindo de combustível ao fogo”. Será que isto significa um holocausto nuclear, ou se refere aos iníquos sendo consumido pela glória da presença Senhor? No capítulo 10 Isaías declara: “Por isso o Senhor, o Senhor dos Exércitos, fará definhar os que entre eles são gordos, e debaixo da sua glória ateará um incêndio, como incêndio de fogo. Porque a Luz de Israel virá a ser como fogo e o seu Santo por labareda, que abrase e consuma os seus espinheiros e as suas sarças num só dia”.[11] Isto parece indicar que a glória do Senhor será o fogo consumidor—aqueles que forem indignos de Sua presença, e que não forem capazes de suportá-la, serão consumidos. “Seus espinheiros e as suas sarças” também referem-se às falsas doutrinas, que serão exterminadas na Sua vinda.[12]

Outras passagens que parecem indicar que a glória do Senhor será o fogo consumidor são: “Está queimada pelo fogo, está cortada; pereceu pela repreensão da tua face”, em Salmos;[13] “Os montes tremem perante ele, e os outeiros se derretem; e a terra se levanta na sua presença; e o mundo, e todos os que nele habitam”, em Naum;[14] e “Porque eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo”, em Malaquias.[15] Esta passagem em Malaquias foi citada pelo Anjo Moroni ao jovem profeta Joseph Smith com algumas variações: “Porque eis que vem o dia que arderá como fornalha e todos os soberbos, sim, e todos os que cometem impiedade, queimarão como a palha; e aqueles que hão de vir os abrasarão, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixarão nem raiz nem ramo” (ênfases adicionadas).[16] A glória do Senhor e a das hostes de anjos que Lhe acompanham, aparentemente, queimará os ímpios.

Talvez uma conflagração nuclear ocorrerá nesta época, também. Uma guerra nuclear é possivelmente a “abominação desoladora” profetizada por Daniel.[17]

Revelações modernas nos esclarecem este assunto:

“Eis que o tempo presente se chama hoje até a vinda do Filho do Homem e, em verdade, é um dia de sacrifício e um dia para o dízimo de meu povo; pois aquele que paga o dízimo não será queimado na sua vinda.
“Porque depois de hoje vem a queima—falando à maneira do Senhor—pois em verdade eu digo que amanhã todos os soberbos e os que praticam iniquidade serão como o restolho; e queimá-los-ei, pois sou o Senhor dos Exércitos, e não pouparei quem permanecer em Babilônia.”[18]

O versículo 6 apresenta a profecia sobre Cristo: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. Estas palavras ficaram imortalizadas em “O Messias” de Handel, Parte 1, número 12—Refrão, “Porque um Menino Nos Nasceu”. Quem não se emociona com uma apresentação de um coral destas palavras tão comoventes?

A palavra hebraica traduzida como “Maravilhoso” é um substantivo masculino,[19] que indica que deveria haver um título distinto de o Senhor, ao invés de um adjetivo ou uma palavra subsequente, “Conselheiro”. No Livro de Mórmon,[20] bem como em traduções bíblicas, incluindo a versão de João Ferreira de Almeida em português, a versão em inglês de King James e a versão em espanhol de Valera, uma vírgula foi colocada corretamente pelos tradutores depois do título “Maravilhoso”, preservando o significado original intencionado.

Parte da profecia anunciada no versículo 6 foi cumprida com o nascimento de Jesus, mais o restante está para ser cumprida na Sua Segunda Vinda. Durante Seu ministério mortal Ele não presidiu sobre nenhum governo político, e Ele foi aclamado “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” somente por seus seguidores mais fiéis. Os escritores no Novo Testamento proclamaram que esta profecia de Isaías relaciona-se ao ministério mortal e imortal de Jesus Cristo.[21]

Como podemos dizer que Jesus Cristo é o Pai da Eternidade? Abinádi, um profeta do Livro de Mórmon, explicou:

“Eis que vos digo que quem tenha ouvido as palavras dos profetas, sim, de todos os santos profetas que profetizaram sobre a vinda do Senhor, digo-vos que todos aqueles que tenham escutado suas palavras e acreditado que o Senhor redimiria seu povo e hajam esperado ansiosamente pelo dia da remissão de seus pecados, eu vos digo que estes são a sua semente, ou seja, os herdeiros do reino de Deus.
“Porque estes são aqueles cujos pecados ele tomou sobre si; estes são aqueles por quem ele morreu, para redimi-los de suas transgressões. E agora, não são eles sua semente?[22]

O Senhor Jesus Cristo torna-se o Pai, espiritualmente falando, de todos os que se beneficiarem de Seu sacrifício redentor e de todos aqueles que tomam Seu nome sobre eles—o Pai de sua salvação.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Porque tu quebraste o jugo da sua carga, e o bordão do seu ombro,
B: e a vara
C: do seu opressor, como no dia dos midianitas.
D: (5) Porque todo calçado que levava o guerreiro no tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue,
D: serão queimados, servindo de combustível ao fogo.
C: (6) Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu,
B: e o principado
A: está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

Isaías usa novamente um contraste literário para enfatizar a grande diferença entre o governo do Senhor e a opressão da Assíria, ou a destruição pelo fogo que precederá a Segunda Vinda do Senhor. O “ombro” do povo suportando “a vara” da opressão contrasta-se com os amplos ombros do Redentor que suportaria a responsabilidade de um governo justo. “A vara” da opressão contrasta-se com o governo benevolente do Senhor; “opressor” é o oposto de “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu”. Ao invés de vir como um conquistador opressivo, o Redentor nasceria como uma criança inocente. A frase “No tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue” contrasta-se com “serão queimados, servindo de combustível ao fogo” para indicar que a destruição antes da Segunda Vinda do Redentor seria pelo fogo ao invés de métodos prevalentes de guerra.

A profecia de Isaías continua no versículo 7, declarando o acesso do Senhor ao trono de Davi:[23] “Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto”. Cristo é o herdeiro literal do trono de Davi.

Versículos 6 até 7 contêm um quiasma:

(6) Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro,
A: Deus Forte,
B: Pai da Eternidade,
C: Príncipe
D: da Paz. (7) Do aumento deste principado
D: e da paz não haverá fim,
C: sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça,
B: desde agora e para sempre;
A: o zelo do Senhor dos exércitos fará isto.

Neste quiasma “Deus Forte” é equivalente ao “Senhor dos exércitos”, estabelecendo a equivalência destes dois títulos para o Senhor Jeová. “Pai da Eternidade” compara-se com “desde agora e para sempre”. “Príncipe” equivale ao “trono de Davi e no seu reino”, provando que “Príncipe da Paz” refere-se especificamente a herança de Cristo ao trono de Davi. “Paz”, o enfoque central deste quiasma, caracterizaria o reino do Senhor na Terra.

Os versículos 8 até 21 contêm uma mensagem profética, ou sermão sacerdotal, a Efraim, ou ao reino setentrional de Israel.[24] Este sermão sacerdotal consiste-se em três oráculos de pesar que descrevem as iniquidades, inclusive o orgulho e a corrupção governamental, pelas quais Efraim está sendo destruído. O quarto oráculo de pesar, dirigido contra Efraim e Judá, abrange a primeira parte do capítulo 10. Entretanto, a mensagem completa também aplica-se a nós nos últimos dias. Estes acontecimentos, que iriam se passar com as antigas Efraim e Judá, são exemplos de semelhantes ocorrências em nossos dias.

Os quiasmas nesta mensagem profética fornecem uma ponte entre os quatro oráculos de pesares, unificando-os como uma advertência coerente. A frase final de cada oráculo de pesar— “nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão” —forma a declaração central no primeiro quiasma, uma declaração auxiliar no segundo, a reflexão da declaração introdutória no terceiro, e a declaração introdutória e sua reflexão no quarto quiasma. As frases que são quiasmaticamente equivalentes fornecem um método para discernir o significado intencionado por Isaías.

O versículo 8 significa que o Senhor enviou uma mensagem profética a Israel: “O Senhor enviou uma palavra a Jacó, e ela caiu em Israel”. No Livro de Mórmon diz: “O Senhor enviou sua palavra a Jacó…”.[25] A mensagem segue nos próximos versículos.

O versículo 9 declara: “E todo este povo o saberá, Efraim e os moradores de Samaria, que em soberba e altivez de coração, dizem” — A frase “todo este povo o saberá” indica que o reino de Israel todo saberá sobre esta mensagem profética e deverá aprender com esta mensagem. E também, é um exemplo da Segunda Vinda quando “a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamente a verá…”.[26] Todo o povo de “Efraim e os moradores de Samaria” saberão, apesar do orgulho—soberba e altivez de coração—que tomou conta de seus corações.

No versículo 10, o orgulho do povo de Efraim e Samaria é manifestado em sua declaração que apesar da destruição que lhes sobreviria, eles por si mesmos reconstruiriam melhor que antes: “Os tijolos caíram, mas com cantaria tornaremos a edificar; cortaram-se os sicômoros, mas em cedros as mudaremos”.

No versículo 11, “Portanto o Senhor suscitará, contra ele, os adversários de Rezim, e juntará os seus inimigos” indica que os inimigos do rei da Síria juntar-se-iam para guerrear contra ele.

O versículo 12 continua: “Pela frente virão os sírios, e por detrás os filisteus, e devorarão a Israel à boca escancarada; e nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”. Esta frase descreve uma longa história de guerras contra o reino setentrional de Israel, que finalmente resultaria em sua destruição. Israel e Síria, aliados contra o reino meridional de Judá, seriam destruídos pelos seus adversários.

A frase final do versículo 12, “nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão” significa que a justiça da ira do Senhor continua e sua mão está estendida contra eles para puni-los. Aparentemente, o tempo para o arrependimento terá passado quando estas condições surgirem. Esta frase aparece pela primeira vez no capítulo 5, onde é precedida por uma frase paralela com algumas diferenças na redação, porém com o mesmo significado: “Por isso se acendeu a ira do Senhor contra o seu povo, e estendeu a sua mão contra ele”.[27] A frase repete-se três vezes no capítulo 9,[28] e aparece uma vez mais no capítulo 10,[29] todas com o mesmo significado. Uma segunda interpretação é que “com tudo isto, o Senhor ainda está disponível para ajudá-los, se eles se voltarem para Ele”.[30] A primeira interpretação é absolutamente verdadeira, já a segunda continua sendo uma possibilidade, dado o caráter misericordioso do Senhor.

Este Segundo significado é explicado por Néfi:

“Ai dos gentios, diz o Senhor Deus dos Exércitos! Pois apesar de eu estender o braço sobre eles, dia após dia, eles me negarão; não obstante, serei misericordioso para com eles, diz o Senhor Deus, caso se arrependam e venham a mim; pois o meu braço está estendido o dia todo, diz o Senhor Deus dos Exércitos (ênfases adicionadas).”[31]

A frase final do versículo 12, “nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão” é equivalente quiasmaticamente à frase “este povo não se voltou para quem o feria, nem buscou ao Senhor dos Exércitos” no versículo 13. Aqui fica claro que o Senhor estenderia Sua mão para ferir os iníquos de Israel.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor explica que Seu braço estende-se para salvar o Seu povo contra os iníquos nos últimos dias: “Eu sou aquele que tirou os filhos de Israel da terra do Egito; e meu braço estende-se nos últimos dias, para salvar meu povo Israel”.[32]

A mensagem do versículo 13 é que tribulações e punições pela mão do Senhor raramente levam ao arrependimento: “Todavia este povo não se voltou para quem o feria, nem buscou ao Senhor dos Exércitos”.

Os versículos 14 e 15 descrevem a destruição que sobreviria a Israel; isto também é um exemplo da destruição dos ímpios nos últimos dias. O versículo 14 declara: “Assim o Senhor cortará de Israel a cabeça e a cauda, o ramo e o junco, num mesmo dia”. “A cabeça e a cauda, o ramo e o junco” significam as diferentes camadas sociais.[33] “Junco” é um nome dado às plantas herbáceas aquáticas, alongadas e flexíveis, comumente usadas para tecelagem de cestas e tapetes.[34] A destruição seria dirigida primeiramente aos líderes e clero corruptos de Israel, porém se estenderia à camada mais baixa do reino—todos os que estiverem envolvidos em mentiras[35] e outras corrupções. A destruição aconteceria rapidamente, em um dia.

Os versículos 12 até 14 contêm um quiasma:

A: (12) Pela frente virão os sírios, e por detrás os filisteus,
B: e devorarão a Israel à boca escancarada;
C: e nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.
C: (13) Todavia este povo não se voltou para quem o feria, nem buscou ao Senhor dos Exércitos.
B: (14) Assim o Senhor cortará de Israel
A: a cabeça e a cauda, o ramo e o junco, num mesmo dia

A frase “pela frente virão os sírios, e por detrás os filisteus” complementa “a cabeça e a cauda, o ramo e o junco”. Os exércitos invasores—ou sua analogia nos últimos dias—traria a destruição descrita. “Israel” no versículo 12 é o mesmo que “Israel” no versículo 14, identificando o reino de Israel e seu equivalente nos últimos dias como alvo da destruição. “Nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão” é equivalente à “todavia este povo não se voltou para quem o feria, nem buscou ao Senhor dos Exércitos”. Aqui fica claro que o propósito do Senhor ao estender a Sua mão é para feri-los, mas isto não faz com que o povo busque ao Senhor.

No versículo 15 o profeta explica parcialmente o simbolismo, inserido em parêntesis: “15 (O ancião e o homem de respeito é a cabeça; e o profeta que ensina a falsidade é a cauda)”. O Livro de Mórmon omite “e o homem de respeito”,[36] revelando que não haveria ninguém que seria considerado respeitável aos olhos do Senhor entre os que seriam destruídos naquela época.

No versículo 16 Isaías continua a explicação: “Porque os guias deste povo são enganadores, e os que por eles são guiados são destruídos”. “Os guias deste povo” ―a cabeça―significa líderes políticos e a cauda significa líderes espirituais. “Os que por eles são guiados” são o ramo e o junco.

O versículo 17 continua: “Por isso o Senhor não se regozija nos seus jovens, e não se compadecerá dos seus órfãos e das suas viúvas, porque todos eles são hipócritas e malfazejos, e toda a boca profere doidices; e nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”. A nação inteira—dos seus jovens até os seus órfãos e as suas viúvas—são hipócritas, malfeitores e mentirosos.

No versículo 18, os iníquos são apresentados como combustível para o fogo: “Porque a impiedade lavra como um fogo, ela devora as sarças e os espinheiros; e ela se ateará no emaranhado da floresta; e subirão em espessas nuvens de fumaça”. As sarças e os espinheiros para serem devorados são as falsas doutrinas que surgiriam no lugar da verdade,[37] resultando num longo período de apostasia. “Se ateará no emaranhado da floresta” significa que as sociedades dos nobres e poderosos seriam destruídas.[38] Tudo desapareceria como nuvens de fumaça.[39]

O versículo 19 continua a metáfora e provê uma explicação: “Por causa da ira do Senhor dos Exércitos a terra se escurecerá, e será o povo como combustível para o fogo; ninguém poupará ao seu irmão”.[40] Os ímpios serão queimados pelo fogo da destruição, com as pessoas servindo como combustível para o fogo. A palavra hebraica traduzida como “poupar” significa “ter piedade ou compaixão”.[41]

O versículo 20 declara: “Se colher à direita, ainda terá fome, e se comer à esquerda, ainda não se fartará; cada um comerá a carne de seu braço”. Ganancia e corrupção lastrar-se-iam desenfreadamente sobre a terra. Todos enganariam ou roubariam seu vizinho à direita, porém ainda quereriam mais, e cada um roubaria de seu vizinho à esquerda e ainda não ficariam satisfeitos. Essas terríveis condições resultariam em um colapso total da sociedade; as ações corruptas do povo seriam tão destrutivas para a sociedade quanto a ação de comer a carne do seu próprio braço seria para o corpo.

O versículo 21 continua: “Manassés a Efraim, e Efraim a Manassés, e ambos serão contra Judá. Com tudo isto não cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”. Este versículo e os versículos precedentes descrevem os terrores da guerra infligidos sobre Efraim, Manassés e Judá. A frase final, “Com tudo isto não cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”, significa que a justiça da ira do Senhor continua e está estendida a sua mão contra eles para puni-los.[42]

Os versículos 19 até 21 formam um quiasma:

A: (19) Por causa da ira do Senhor dos Exércitos a terra se escurecerá, e será o povo como combustível para o fogo;
B: ninguém poupará ao seu irmão.
C: (20) Se colher à direita, ainda terá fome,
C: e se comer à esquerda, ainda não se fartará;
B: cada um comerá a carne de seu braço. (21) Manassés a Efraim, e Efraim a Manassés, e ambos serão contra Judá.
A: Com tudo isto não cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.

A frase “Por causa da ira do Senhor dos Exércitos a terra se escurecerá” complementa “Com tudo isto não cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”, e “ninguém poupará ao seu irmão” complementa “cada um comerá a carne de seu braço”, provendo uma interpretação para o simbolismo. “Se colher à direita, ainda terá fome” complementa “e se comer à esquerda, ainda não se fartará”, formando o enfoque central do quiasma.

A frase final, “Com tudo isto não cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”, é também a frase introdutória do quiasma formada pelo quarto oráculo de pesar, que se consiste dos primeiros quatro versículos do capítulo 10.[43]

NOTAS

[1]. Versículo 1 contém um quiasma: Entenebrecida/nos primeiros tempos/Zebulom//Naftali/nos últimos tempos/ enobreceu.
[2]. 2 Néfi 19:1.
[3]. Ver Mapa Bíblico 3.
[4]. Ver Isaías 9:1, nota de rodapé da versão da Bíblia de King James em inglês 1b.
[5]. Ver Isaías 6:10, comentário pertinente e endnote.
[6]. Mateus 4:13-16.
[7]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 197.
[8]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah: [Compreendendo Isaías] Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 94.
[9]. 2 Néfi 19:4.
[10]. Ver Isaías 1:7, 28; 5:24; 9:18-19 e comentário pertinente.
[11]. Isaías 10:16-17.
[12]. Ver Isaías 5:6 e comentário pertinente.
[13]. Salmos 80:16.
[14]. Naum 1:5.
[15]. Malaquias 4:1.
[16]. Joseph Smith—História 1:37.
[17]. Ver Daniel 9:27, 11:31, e 12:11; Ver também Mateus 24:15.
[18]. Doutrina e Convênios 64:23-24.
[19]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 6382, p. 810.
[20]. Ver 2 Néfi 19:6.
[21]. Ver também Isaías 7:14; 11:1; 25:9; 53:5.
[22]. Mosias 15:11-12.
[23]. Ver Gênesis 49: 9-10.
[24]. Ver Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A New Translation With Interpretive Keys From The Book of Mórmon [O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon]: Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, p. 19.
[25]. 2 Néfi 19:8.
[26]. Isaías 40:5.
[27]. Isaías 5:25.
[28]. Isaías 9:12, 17, e 21.
[29]. Isaías 10:4.
[30]. Isaías 9:12, nota de rodapé na Bíblia SUD em inglês 12d.
[31]. 2 Néfi 28:32.
[32]. D&C136:22.
[33]. Ver Isaías 19:15, nota de rodapé da versão da Bíblia de King James em inglês 15a.
[34]. Junco em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/junco.
[35]. Ver Isaías 16:6; 28:15, 17; 59:3-4 e comentário pertinente.
[36]. 2 Néfi 19:15.
[37]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 10:17; 27:4; 32:13 e comentário pertinente.
[38]. Ver Isaías 2:13; 10:18-19, 33-34; 14:8; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[39]. Ver Isaías 1:7, 28; 5:24; 9:5 e comentário pertinente.
[40]. Os versículos 17 até 19 formam um quiasma: Todos eles…toda a boca/a sua ira/lavra como um fogo/sarças//espinheiros/se ateará/ira do Senhor dos exércitos/ninguém.
[41].  Brown et al., 1996, Número de Strong 2550, p. 328.
[42]. Ver comentários para o versículo 12, onde esta frase também aparece.
[43]. Um outro quiasma também se encontra nos versículos 19 até 21: Ira do Senhor dos exércitos/ninguém poupará ao seu irmão/Manassés/Efraim//Efraim/Manassés/ambos serão contra Judá/não cessou a sua ira.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.