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CAPÍTULO 14: “Como Já Cessou O Opressor, Como Já Cessou A Cidade Dourada!”

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O capítulo 14, que continua a predição da destruição da Babilônia, que começou no capítulo 13, contém cinco partes. A primeira, abrangendo os versículos 1 até 3, proclama a misericórdia do Senhor sobre Israel, que será reunida e desfrutará de um descanso milenar. A segunda parte, compreendendo os versículos 4 até 11, prediz a derrota e a desonra do rei da Babilônia; e a terceira parte, abrangendo os versículos 12 até 23, compara o rei da Babilônia com Lúcifer, que foi expulso dos céus por causa de sua rebelião. A quarta parte, do versículo 24 até ao versículo 27, prediz e promete que o Senhor livrará Seu povo dos agressores assírios; e a quinta parte, abrangendo os versículos 28 até 32, prediz a destruição da Palestina. Esta profecia refere-se tanto à Babilônia antiga quanto à Babilônia dos últimos dias, isto é, o mundo pecador antes da Segunda Vinda do Senhor. Néfi cita este capítulo por completo com variações em diversos versículos. Compare 2 Néfi 24.

Nos versículos 1 até 3 Isaías proclama a misericórdia do Senhor sobre Israel, que será reunida e desfrutará de um descanso milenar. O versículo 1 declara: “Porque o SENHOR se compadecerá de Jacó, e ainda escolherá a Israel e os porá na sua própria terra; e ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros, e se achegarão à casa de Jacó”. “Estrangeiros” é traduzida de uma palavra hebraica que significa “peregrinos”.[1] Os prosélitos que não faziam parte do Convênio Abraâmico, mas que receberiam a religião verdadeira nos últimos dias, também ajudarão a cumprir o Convênio Abraâmico.[2]

O versículo 2 começa: “E os povos os receberão, e os levarão aos seus lugares” ― O Livro de Mórmon adiciona uma frase aqui: Sim, desde os confins da Terra; e voltarão para suas terras de promissão”.[3] A versão de João Ferreira de Almeida continua: “e a casa de Israel os possuirá por servos, e por servas, na terra do Senhor; e cativarão aqueles que os cativaram, e dominarão sobre os seus opressores”. Este versículo prediz a coligação dos remanescentes de Israel nos últimos dias; eles nunca mais seriam oprimidos, mas reinariam sobre os seus opressores.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Porque o SENHOR se compadecerá de Jacó,
B: e ainda escolherá a Israel e os porá na sua própria terra;
C: e ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros,
D: e se achegarão à casa de Jacó.
E: (2) E os povos os receberão,
E: e os levarão aos seus lugares; Sim, desde os confins da Terra; e voltarão para suas terras de promissão.
D: e a casa de Israel
C: os possuirá
B: por servos e por servas, na terra do Senhor; e cativarão aqueles que os cativaram,
A: e dominarão sobre os seus opressores.

“O Senhor se compadecerá de Jacó” é complementado por “dominarão os seus opressores”, isto é, através da compaixão do Senhor Jacó dominará os seus opressores. “Os porá na sua própria terra” compara-se com “na terra do Senhor”. A terra prometida aos filhos de Israel é mencionada como sendo a terra do Senhor. “E ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros” complementa “os possuirá”, mostrando que seus antigos opressores serão servos dos filhos de Israel. “A casa de Jacó” é equivalente à “casa de Israel”; “os receberão” corresponde à frase “os levarão aos seus lugares”. Israel voltará à sua própria terra, tendo ganho a vitória sobre seus opressores. Os antigos opressores de Israel, que se uniriam à casa de Jacó, tornar-se-iam seus servos.

O versículo 3 continua: “E acontecerá que no dia em que o Senhor vier a dar-te descanso do teu sofrimento, e do teu pavor, e da dura servidão com que te fizeram servir” —[4] O versículo seguinte continua a sentença, mas o assunto muda.

Os versículos 4 até 11 predizem a derrota e desonra do rei da Babilônia. O versículo 4 continua a sentença iniciada no versículo 3: “Então proferirás este provérbio contra o rei da Babilônia, e dirás: Como já cessou o opressor, como já cessou a cidade dourada!” “Provérbio” significa “sentença moral” ou “poema”.[5] O Livro de Mórmon adiciona: “E acontecerá naquele dia”, no começo deste versículo,[6] indicando que pelo menos algumas das profecias seriam cumpridas nos últimos dias. O “provérbio” ou “poema” abrange os versículos 4 até 21.

O versículo 5 declara, “Já quebrantou o Senhor o bastão dos ímpios e o cetro dos dominadores”. O Livro de Mórmon usa “os cetros dos governantes”.[7] O paralelismo nesta sentença leva-nos à conclusão de que os governantes derrotados, tornaram-se tão iníquo, que o Senhor destruiu seus regimes corruptos.

O versículo 6 continua: “Aquele que feria aos povos com furor, com golpes incessantes, e que com ira dominava sobre as nações agora é perseguido, sem que alguém o possa impedir”. “Com golpes incessantes” significa que este governante iníquo infligiria continuamente dores e lesões sobre o povo. Esta declaração descreve a iniquidade tanto do rei da Babilônia antiga quanto de seu equivalente moderno.

O versículo 7 descreve as condições depois da derrota do tirano: “Já descansa, já está sossegada toda a terra; rompem cantando”. O Livro de Mórmon apresenta: “…eles rompem em cânticos”. Ninguém lamenta a perda deste tirano.

O versículo 8 usa uma metáfora com árvores[8] para descrever o grande alívio dos governantes das nações menores: “Até as faias se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano, dizendo: Desde que tu caíste ninguém sobe contra nós para nos cortar”. O Livro de Mórmon apresenta: “…e também os cedros do Líbano, dizendo: Desde que tu caíste, nenhum lenhador subiu contra nós”.[9] “Faias” é traduzida de uma palavra hebraica que significa “cipreste”, “zimbro”, “abeto” ou “pinheiro”.[10]

Esta metáfora foi usada antes por Isaías, no capítulo 2:

“Porque o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido;
“E contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã.”[11]

Note que a primeira sentença provê a interpretação da metáfora.

O versículo 9 continua a retórica dos líderes das nações menores: “O inferno desde o profundo se turbou por ti, para te sair ao encontro na tua vinda; despertou por ti os mortos, e todos os chefes da terra, e fez levantar dos seus tronos a todos os reis das nações”.

“Inferno” foi traduzido da palavra hebraica sheol, que significa o mundo dos espíritos que partiram.[12] O significado original desta palavra não tinha uma conotação de punição.

No versículo 10, os príncipes da terra continuam a zombar do rei da Babilônia: “Estes todos responderão, e te dirão: Tu também adoeceste como nós, e foste semelhante a nós”.

Os versículos 8 até 10 contêm um quiasma:

A: (8) Até as faias se alegram sobre ti,
B: e os cedros do Líbano, dizendo:
C: Desde que tu caíste nenhum lenhador sobe contra nós para nos cortar.
D: (9) O inferno desde o profundo se turbou por ti,
E: para sair ao teu encontro
E: na tua vinda;
D: despertou por ti os mortos, e todos os chefes da terra,
C: e fez levantar dos seus tronos
B: a todos os reis das nações.
A: (10) Estes todos responderão, e te dirão: Tu também adoeceste como nós, e foste semelhante a nós.

“Até as faias se alegram sobre ti” corresponde à “Estes todos [os reis] responderão, e te dirão”. A frase “Os cedros do Líbano” é equivalente à frase “reis das nações”; observe a chave dada aqui por Isaías para se entender o simbolismo das árvores, que representam os reis das nações. “Desde que tu caíste” contrasta-se com “fez levantar”; “o inferno desde o profundo se turbou por ti” complementa “despertou por ti os mortos”; e “sair ao teu encontro na tua vinda” forma o enfoque do quiasma. Os governantes das nações, que estavam sendo ameaçados pelo o rei da Babilônia, se alegraram com sua morte.

A zombaria dos príncipes contra o rei da Babilônia, continua no versículo 11: “Já foi derrubada na sepultura a tua soberba com o som das tuas violas; os vermes debaixo de ti se estenderão, e os bichos te cobrirão”. O Livro de Mórmon apresenta “o som dos teus alaúdes não é ouvido”.[13]

Os versículos 12 até 23 comparam o rei da Babilônia a Lúcifer, que foi expulso dos céus por sua rebelião. Esta profecia não só se refere ao antigo rei da Babilônia; haverá um equivalente moderno que ainda não foi manifestado. Este equivalente moderno estará determinado a avançar os propósitos de Satanás, tanto quanto o antigo rei da Babilônia.

O versículo 12 é um lamento profético: “Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!” O rei da Babilônia foi comparado aqui a Lúcifer, o filho da manhã decaído. “Lúcifer” vem de uma palavra hebraica que significa “portador da luz” ou “estrela da manhã”;[14] portanto o nome “Lúcifer” descreve a alta posição no mundo pré-mortal de onde ele caiu por rebeldia, para chegar a ser Satanás. A morte de Lúcifer foi espiritual, já a do rei da Babilônia foi física.

Foi mostrado numa grande visão a Joseph Smith e a Sidney Rigdon o decaído Lúcifer e a origem de Satanás:

“E isto também vimos e testificamos: Que um anjo de Deus, que possuía autoridade na presença de Deus, que se rebelou contra o Filho Unigênito, a quem o Pai amava e que estava no seio do Pai, foi expulso da presença de Deus e do Filho,
“E foi chamado Perdição, porque os céus prantearam por ele—ele era Lúcifer, um filho da manhã.
“E olhamos, e eis que ele caiu! Caiu, ele, um filho da manhã![15]

Os versículos 11 e 12 contêm um quiasma:

A: (11) Já foi derrubada
B: na sepultura a tua soberba com o som das tuas violas não é ouvido;
C: os vermes debaixo de ti se estenderão,
C: e os bichos te cobrirão.
B: (12) Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva!
A: Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!

Neste quiasma a expulsão de Lúcifer dos céus é um símbolo da morte do rei da Babilônia. “Já foi derrubada” é equivalente a “foste cortado por terra”; “na sepultura a tua soberba” corresponde à “como caíste desde o céu”; e a frase “os vermes debaixo de ti se estenderão” corresponde-se à frase “os bichos te cobrirão”. Como já foi mencionado, a morte de Lúcifer foi espiritual; a do rei da Babilônia foi física.

O versículo 12 contém um quiasma:

A: (12) Como caíste desde o céu,
B: ó Lúcifer,
B: filho da alva!
A: Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!

“Como caíste desde o céu” é equivalente à “como foste cortado por terra”; note que a primeira frase refere-se a Lúcifer, mas a frase equivalente refere-se ao rei da Babilônia. “Lúcifer” é um sinônimo para “filho da alva!”, dando a definição do nome.  Lúcifer era um dos filhos espirituais mais velhos do Pai Celestial, e desfrutava de grande honra e poder no mundo pré-mortal, antes da sua queda ignominiosa. Da mesma maneira, o rei da Babilônia desfrutou de grande glória e honra antes de sua morte.

Os versículos 13 e 14 continua o “provérbio”, ou uma expressão com fundo moral, descrevendo a arrogância e rebelião de Lúcifer. O versículo 13 declara: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte”. De acordo com as crenças Babilônicas, o norte era o lugar onde habitavam os deuses.[16] A ambição cega de Lúcifer é um símbolo para a do rei da Babilônia.

O versículo 14 continua: “Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”. Tanto Lúcifer quanto o rei da Babilônia procuraram exaltar a si mesmos, e serem como Deus.

Foi mostrado também a Joseph Smith e a Sidney Rigdon a rebelião e a hostilidade de Satanás para com os santos de Deus: “…vimos Satanás, aquela antiga serpente, sim, o diabo, que se rebelou contra Deus e procurou tomar o reino de nosso Deus e seu Cristo—Portanto ele faz guerra aos santos de Deus e cerca-os”.[17]

O Senhor explica com mais detalhes:

“Mas eis que em verdade vos digo: Antes que passe a Terra, Miguel, meu arcanjo, soará sua trombeta e então todos os mortos despertarão, pois suas sepulturas serão abertas e eles surgirão—sim, todos.
“E os justos serão reunidos a minha direita para a vida eterna; e os iníquos a minha esquerda, envergonhar-me-ei de reivindicar perante o Pai;
“Portanto eu lhes direi: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.
“E agora, eis que vos digo que nunca, em tempo algum, declarei de minha própria boca que eles voltariam, pois onde eu estou eles não podem vir, porque não têm poder.
“Lembrai-vos, porém, de que aos homens não são dados todos os meus juízos; e assim como as palavras saíram de minha boca, assim serão cumpridas, para que os primeiros sejam os últimos e para que os últimos sejam os primeiros em todas as coisas que eu criei pela palavra de meu poder, que é o poder de meu Espírito.”[18]

Os versículos 13 e 14 contêm um quiasma:

A: (13) E tu dizias no teu coração: Eu subirei
B: ao céu;
C: acima das estrelas de Deus
D: exaltarei
D: o meu trono,
C: e no monte da congregação me assentarei,
B: aos lados do norte.
A: (14) Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.

“Eu subirei” corresponde à frase “subirei sobre as alturas das nuvens”; “ao céu” comparara-se com a frase “aos lados do norte”; e “acima das estrelas de Deus” reflete-se “no monte da congregação”. O enfoque e sua reflexão são “exaltarei” e “o meu trono”. Os desejos de Lúcifer de “subir ao céu” e exaltar o seu trono “acima das estrelas de Deus” é semelhante ao desejo do rei da Babilônia de assentar-se “no monte da congregação” “nas extremidades do norte”. Para ambos, o maior desejo era o de subir “acima das alturas das nuvens”, e ser “semelhante ao Altíssimo”. Para cada um deles, o que lhes motivavam grandemente era a obtenção de um poder incomparável.

Revelações modernas proveem detalhes adicionais a respeito da queda de Lúcifer:

“E Eu, o Senhor Deus, falei a Moisés, dizendo: Aquele Satanás a quem tu deste ordem em nome de meu Unigênito é o mesmo que existiu desde o princípio; e ele apresentou-se perante mim, dizendo: Eis-me aqui, envia-me; serei teu filho e redimirei a humanidade toda, de modo que nenhuma alma se perca; e sem dúvida eu o farei; portanto dá-me a tua honra.
“Mas eis que meu Filho Amado, que foi meu Amado e meu Escolhido desde o princípio, disse-me: Pai, faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre.
“Portanto, por ter Satanás se rebelado contra mim e procurado destruir o arbítrio do homem, o qual eu, o Senhor Deus, lhe dera; e também por querer que eu lhe desse meu próprio poder, fiz com que ele fosse expulso pelo poder do meu Unigênito.
“E ele tornou-se Satanás, sim, o próprio diabo, o pai de todas as mentiras, para enganar e cegar os homens e levá-los cativos segundo sua vontade, sim, todos os que não derem ouvidos a minha voz.[19]

Elder Joseph Anderson explicou esta passagem:

“Dá à entender que visto que na existência pré-mortal, naquele estado espiritual, os espíritos tiveram seu livre arbítrio, havia diferentes graus de obediência lá, diversos graus de retidão. Lúcifer exerceu seu livre arbítrio quando rebelou-se contra o Pai, mas teve que pagar as consequências de sua rebelião e ainda está pagando, bem como aqueles espíritos que o seguiram. Foi-lhes negado o privilégio de tomarem sobre si a mortalidade, e isto tem sido uma grande maldição e desapontamento para eles.”[20]

Continuando com o versículo 15, o rei da Babilônia e seu equivalente moderno são ainda mais menosprezados: “E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo”.

Os versículos 13 até 15 contêm um quiasma:

(13) E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação
A: me assentarei, aos lados do norte.
B: (14) Subirei sobre as alturas das nuvens,
C: e serei semelhante ao Altíssimo.
C: (15) E contudo levado
B: serás [levado] ao inferno
A: [levado] ao mais profundo do abismo.

Os elementos emparelhados deste quiasma formam uma série de contrastes literários. “Aos lados do norte” contrasta-se com “ao mais profundo do abismo”. “Subirei sobre as alturas das nuvens” é o oposto de “serás [levado] ao inferno”, e “serei semelhante ao Altíssimo” contradiz “contudo levado”. O lado ascendente do quiasma descreve as ambições altivas, mas malévolas que caracterizavam tanto a Lúcifer quanto ao rei da Babilônia; o lado descendente revela o resultado ignominioso.

Os versículos 16 e 17 apresentam uma pergunta retórica. O versículo 16 declara: “Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos?” Esta declaração refere-se ao decaído rei da Babilônia e seu equivalente moderno. “Contemplarão” foi traduzido de uma palavra hebraica que significa “olhar atentamente”.[21]

O versículo 17 completa a pergunta retórica que começou no versículo 16: “Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos?” Este tirano destruiu cidades, tomou cativos, e despovoou muitas terras. Temor, ou terror, foi a influência preeminente exercida pelo déspota destronado.

Os versículos 18 e 19 contrastam o tratamento do derrotado rei da Babilônia com os sepultamentos dos reis. O versículo 18 começa: “Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada”. O Livro de Mórmon substitui “…sim, todos eles…”.[22] “Sua morada” significa “a sepultura de sua família”.[23]

O versículo 19 continua a comparação: “Porém tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada, como os que descem ao covil de pedras, como um cadáver pisado”. O Livro de Mórmon apresenta “…como um ramo abominável…”.[24] “Ramo abominável” significa “um ramo rejeitado, podado e desprezado”.[25]

O versículo 20 revela a razão para tal desonra: “Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada”.

Os versículos 17 até 20 contêm um quiasma:

A: (17) Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos? (18) Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada.
B: (19) Porém tu és lançado da tua sepultura,
C: como um renovo abominável,
D: como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada,
D: como os que descem ao covil de pedras,
C: como um cadáver pisado.
B: (20) Com eles não te reunirás na sepultura;
A: porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada.

“Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades?” complementa “destruíste a tua terra e mataste o teu povo”; “tu és lançado da tua sepultura” é esclarecido pela frase “com eles não te reunirás na sepultura”. “Como um renovo abominável” é o mesmo que “como um cadáver pisado”; e a frase “como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada” complementa “como os que descem ao covil de pedras”, que forma o enfoque do quiasma.

O versículo 21 continua: “Preparai a matança para os seus filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e nem possuam a terra, e encham a face do mundo de cidades”.[26] O Livro de Mórmon apresenta “…por causa da iniquidade de seus pais…”.[27] Não só seria destruído o rei da Babilônia e seu corpo profanado, mas seus filhos seriam abatidos também, para evitar que outra geração subisse ao poder e continuassem esse regime injusto.[28] O tratamento divinamente mandatados para este tirano e seus herdeiros é de exterminação, para prevenir a ascensão de outra dinastia injusta.

O Senhor está envolvido nesta atrocidade aparentemente cruel, como foi explicado no versículo 22: “Porque me levantarei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos, e extirparei da Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o SENHOR”.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) Preparai a matança para os seus filhos
B: por causa da maldade de seus pais,
C: para que não se levantem,
D: e nem possuam a terra,
D: e [nem] encham a face do mundo de cidades.
C: (22) Porque me levantarei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos,
B: e extirparei da Babilônia
A: o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o SENHOR.

“Os seus filhos” complementa “o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto”, provendo uma explicação mais ampla. “Maldade de seus pais” compara-se com “Babilônia”. Este significado simbólico é bem conhecido, mas aqui Isaías estabelece a conotação através da estrutura do quiasma. “Para que não se levantem” contrasta-se com “me levantarei contra eles”, que descreve o propósito do Senhor para a destruição decretada. “Nem possuam a terra” contrasta-se com “encham a face do mundo de cidades”, que forma o enfoque do quiasma e descreve a mensagem intencionada.

O versículo 23 relembra-nos de que a Babilônia nunca mais seria habitada: “E farei dela uma possessão de ouriços e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos”.[29] “Ouriço” é o fruto da castanha, constituído por uma cápsula espinhosa com uma semente dentro.[30]  “Ouriço” foi traduzido de uma palavra hebraica que significa “porco-espinho”.[31]

A quarta parte deste capítulo, abrangendo os versículos 24 até 27, representa uma mudança brusca de assunto. Predizendo e prometendo que o Senhor livrará Seu povo dos agressores assírios. Isaías predisse este acontecimento antes, no capítulo 10.[32] O antigo cumprimento desta profecia está registrado em 2 Reis 18 e 19 e em Isaías 36 e 37.

Os versículos 24 e 25 descrevem a destruição dos assírios. O versículo 24 começa: “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará”. O Senhor jura que será como Ele pensou e planejou, que Ele derrotaria os exércitos dos assírios.

O versículo 25 continua: “Quebrantarei a Assíria na minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros”.[33] O Livro de Mórmon substitui “quebrantarei” por trarei.[34] “Na minha terra, e nas minhas montanhas” significa que isto aconteceria em Judá;[35] além disso, este acontecimento terminaria com a subordinação de Judá à Assíria.

O cumprimento desta profecia ocorreu quando 185.000 homens dos exércitos assírios foram destruídos durante a noite por um anjo do Senhor, enquanto eles estavam sitiando a cidade de Jerusalém:

“Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram cadáveres.
“Então Senaqueribe, rei da Assíria, partiu, e se foi, e voltou e ficou em Nínive.
“E sucedeu que, estando ele prostrado na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada; porém eles escaparam para a terra de Ararate; e Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar.”[36]

O versículo 26: “Este é o propósito que foi determinado sobre toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações”. “O propósito” é que, eventualmente, todas as nações do mundo serão derrotadas desta forma.[37] Este acontecimento, apesar de haver sido cumprido no passado, é também um símbolo para acontecimentos semelhantes nos últimos dias.

O versículo 27 reafirma a vontade do Senhor mencionada no versículo 24: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?”[38] O Livro de Mórmon omite “o” e diz: “…e quem invalidará?”[39]

A parte final deste capítulo, abrangendo os versículos 28 até 32, prediz a destruição da Palestina. O versículo 28 afirma: “No ano em que morreu o rei Acaz, foi dada esta sentença”. Uma sentença, como foi traduzido do hebraico, é uma mensagem de condenação para o povo.[40] O ano em que morreu o rei Acaz foi mais ou menos em 730 a.C.[41]

Durante um certo período de tempo os filisteus estavam subjugados por Judá; entretanto, no versículo 29, os filisteus são advertidos à não se regozijarem na derrota prevista de Judá: “Não te alegres, tu, toda a Filístia, por estar quebrada a vara que te feria” ― O Livro de Mórmon diz: “Não te alegres tu, Palestina toda” …[42] “Palestina” vem de uma palavra hebraica que significa “terra dos filisteus” ou “terra dos estrangeiros”.[43] Continuando: “porque da raiz da cobra sairá um basilisco, e o seu fruto será uma serpente ardente, voadora”, que significa que apesar do fato de que Judá seria subjugada e eventualmente destruída, os subsequentes opressores da Filístia tornar-se-iam progressivamente piores, resultando finalmente em sua destruição. Portanto, a Filístia não teria nenhuma razão para regozijar-se com a destruição de Judá.

O versículo 30 continua: “E os primogênitos dos pobres serão apascentados, e os necessitados se deitarão seguros; porém farei morrer de fome a tua raiz, e ele matará os teus sobreviventes”.[44] Apesar da predita destruição de Judá pelas mãos do rei da Babilônia, ela seria novamente estabelecida; seus pobres e necessitados seriam cuidados por bons governantes. Por outro lado, a iníqua Palestina será aniquilada: “morrer de fome a tua raiz, e ele matará os teus sobreviventes”. “Raiz” significa ancestrais; “sobreviventes” significa descendentes. Quem está falando aqui é Jeová; os exércitos invasores agiriam como representantes para cumprir a vontade do Senhor.

Continuando no versículo 31: “Dá uivos, ó porta, grita, ó cidade; tu, ó Filístia, estás toda derretida; porque do norte vem uma fumaça, e não haverá quem fique sozinho nas suas convocações”. O Livro de Mórmon apresenta: “…ninguém ficará solitário no tempo que lhe foi designado”. A última frase neste versículo, “não haverá quem fique sozinho nas suas convocações”, revela que esta “fumaça” é um exército bem disciplinado, que avançará do norte.

Os versículos 29 até 31 contêm um quiasma:

A: (29) Não te alegres, tu, toda a Filístia, por estar quebrada a vara que te feria;
B: porque da raiz da cobra sairá um basilisco, e o seu fruto será uma serpente ardente, voadora.
C: (30) E os primogênitos dos pobres serão apascentados,
C: e os necessitados se deitarão seguros;
B: porém farei morrer de fome a tua raiz, e ele matará os teus sobreviventes.
A: (31) Dá uivos, ó porta, grita, ó cidade; tu, ó Filístia, estás toda derretida; porque do norte vem uma fumaça, e não haverá quem fique sozinho nas suas convocações.

“Não te alegres, tu, toda a Filístia” corresponde à “Dá uivos, ó porta, grita, ó cidade; tu, ó Filístia, estás toda derretida”, que prediz a destruição da Filístia (Palestina). “Da raiz da cobra” complementa “farei morrer de fome a tua raiz”, indicando que a destruição total da Filístia, pelas mãos da Assíria, ocorreria sob um governante tirano, que seria pior do que os outros dois anteriores. A frase “Os primogênitos dos pobres” corresponde à frase “os necessitados se deitarão seguros”, que forma o enfoque do quiasma. Apesar da Palestina ter sido destruída pelo exército invasor, Judá seria eventualmente restaurada, e teria o Senhor cuidando de seus pobres e necessitados.

O versículo 32 reforçar o significado do versículo 30: “Que se responderá, pois, aos mensageiros da nação? Que o Senhor fundou a Sião, para que os opressos do seu povo nela encontrem refúgio”. O Livro de Mórmon apresenta “Que responderão pois os mensageiros das nações?…”.[45] Isto é, “O que vai relatar os emissários de várias nações sobre a destruição da Palestina?” A resposta se encontra na sentença final: “Que o Senhor fundou a Sião, e que nela acharão refúgio os aflitos do seu povo”. O Senhor apoiará Seu povo justo em seu tempo de necessidade; a retidão pessoal é a chave para a sobrevivência. O significado de “Sião” aqui é Jerusalém sob um governo justo; como também um lugar de coligação espiritual nos últimos dias.[46]

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1616, p. 158.
[2]. Ver Gênesis 22:15-18.
[3]. 2 Néfi 24:2.
[4]. Os versículos 2 e 3 contêm um quiasma: Por servos e por servas/aqueles que os cativaram/sofrimento//pavor/dura servidão/servir.
[5]. Brown et al., 1996, 1996, Número de Strong 4912, p. 605.
[6]. 2 Néfi 24:4.
[7]. 2 Néfi 24:5.
[8]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:18-19, 33-34; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[9]. 2 Néfi 24:8.
[10]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1265, p. 141.
[11]. Isaías 2:12-13. Também ver Isaías 9:18; 10:18-19, 33-34; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[12]. Isaías 14:11, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 11a; Ver Dicionário Bíblico—Inferno.
[13]. 2 Néfi 24:11.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1966, p. 237.
[15]. D&C 76:25-27.
[16]. Ver Isaías 14:13, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 13e.
[17]. Doutrina e Convênios 76:28-29.
[18]. D&C 29:36-39.
[19]. Moisés 4:1-4.
[20]. Joseph Anderson, “A Testimony of Christ” [Um Testemunho de Cristo], Ensign, Nov. 1974, p. 101.
[21]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7200, p. 906; Ver também Isaías 14:16, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 16b.
[22]. 2 Néfi 24:18.
[23]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1004, p. 108.
[24]. 2 Néfi 24:19.
[25]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5432, p. 666; Ver também Isaías 14:19, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 19a.
[26]. Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Porque destruíste a tua terra/a descendência dos malignos//a matança para os seus filhos/para que não se levantem, e nem possuam a terra.
[27]. 2 Néfi 24:21.
[28]. Ver Isaías 14:21, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 21a.
[29]. Ver Isaías 13:19-22; Ver também Isaías 34:11-15.
[30]. Ouriço Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ouriço.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7090, p. 891.
[32]. Isaías 10:24-34.
[33]. O versículo 25 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Deles/jugo se apartará/a sua carga/se desvie dos seus ombros. Em Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 259.
[34]. 2 Néfi 24:25.
[35]. “Montanha” significa “nação”; Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[36]. 2 Reis 19:35-37. Ver também Isaías 10:33-34 e pertinent discussion.
[37]. Ver Isaías 14:26, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 26b.
[38]. Os versículos 24 até 27 contêm um quiasma: Como pensei, assim sucederá/quebrantarei a Assíria na minha terra/nas minhas montanhas o pisarei/seu jugo se aparte//sua carga se desvie/este é o propósito que foi determinado sobre toda a terra/esta é a mão que está estendida sobre todas as nações/o Senhor dos exércitos o determinou; quem o invalidará?
[39]. 2 Néfi 24:24.
[40]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4853, p. 672.
[41]. Ver Dicionário Bíblico—Cronologia.
[42]. 2 Néfi 24:29.
[43]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6429, p. 814.
[44]. O versículo 30 contém dois quiasmas reconhecido no hebraico original: Serão apascentados/pobres//necessitados/ se deitarão seguros. Tua raiz/ele matará//será destruído/ os teus sobreviventes. Em Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[45]. 2 Néfi 24:32.
[46]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente. Ver também Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 1:27; 2:3; 4:5; 24:23; 28:16; 31:9; 35:10; 46:13; 51:16; 52:7, 8; 59:20.

CAPÍTULO 11: “A Terra Se Encherá Do Conhecimento Do Senhor”

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A interpretação do capítulo 11 tem sido o tema de revelação moderna. Quando Moroni apareceu pela primeira vez a Joseph Smith no dia 21 de setembro de 1823, Joseph falou que Moroni “citou o capítulo onze de Isaías, dizendo que estava prestes a ser cumprido”.[1] Esta declaração indica claramente, que os acontecimentos descritos neste capítulo são pertinentes aos últimos dias; em particular, o período precedente à Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo, bem como ao reino Milenar do Senhor aqui na Terra. Em Doutrina e Convênios Seção 113, uns companheiros do profeta Joseph Smith perguntaram-lhe sobre os versículos no capítulo 11.[2] O Senhor, falando através do profeta Joseph, deu as respostas.

O capítulo 11 pode ser dividido em quatro seções. Os versículos 1 até 9 descrevem a Segunda Vinda de Cristo e reinado milenar, os versículos 10 até 12 descrevem a coligação de Israel das diversas terras para onde foram dispersos, os versículos 13 e 14 descrevem as vitórias de Israel sobre seus vizinhos hostis, e os versículos 15 e 16 descrevem as mudanças geográficas—usadas por Isaías como metáforas para descreverem acontecimentos espirituais e políticos importantes—que virão a acontecer antes ou durante o milênio.

O tronco de Jessé, mencionado nos versículos 1 até 5, é Cristo—que julgará em retidão, não somente durante o milênio, mas também no julgamento final. A pessoa que teria o papel fundamental na restauração nos últimos dias antes do milênio foi descrita metaforicamente como um “rebento” saindo das “raízes” de Jessé, e refere-se novamente a Cristo como o “renovo”. Durante o milênio, a guerra e a inveja cessarão e o conhecimento sagrado de Deus cobrirá a Terra, como as águas cobrem o mar. Em preparação para o milênio, o Senhor levantará um estandarte e juntará Israel das diversas terras para onde foram dispersos. Néfi cita o capítulo 11 por completo; compare 2 Néfi 21. Pequenas diferenças no texto do Livro de Mórmon são apresentadas em itálico onde forem citadas. Néfi também explica os elementos deste capítulo em 2 Néfi capítulo 30.

Os versículos 1 até 9 descrevem o ministério mortal de Cristo e reinado milenar. O tronco de Jessé mencionado no versículo 1 é Cristo: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará”. A mesma metáfora é usada aqui como foi introduzida anteriormente por Isaías:[3] Quando a árvore é cortada, o tronco[4] continua a brotar. Depois da destruição e cativeiro de Israel, um renovo justo surgiria do parentesco original, mantendo intacta as bênçãos prometidas aos patriarcas antigos. Será desta ordem justa, a qual incluía os descendentes de Jessé e os herdeiros do trono de Davi, que Cristo viria. Maria, a mãe de Jesus, como também José, Seu guardião legal, eram da linhagem de Jessé.[5] Esta profecia de Isaías foi citada no Novo Testamento relacionada ao ministério Jesus Cristo.[6]

Em Doutrina e Convênios, o Senhor afirma que Cristo é o Tronco de Jessé: “Quem é o Tronco de Jessé mencionado nos versículos 1, 2, 3, 4 e 5 do capítulo 11 de Isaías?” “Em verdade, assim diz o Senhor: É Cristo”.[7]

“Um rebento” brotando do tronco de Jessé, também foi mencionado no versículo 1: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé…”. O Senhor esclarece o significado em Doutrina e Convênios: “O que é o rebento mencionado no primeiro versículo do capítulo 11 de Isaías, que brotaria do Tronco de Jessé?” “Eis que assim diz o Senhor: É um servo nas mãos de Cristo, que em parte é descendente de Jessé assim como de Efraim, ou seja, da casa de José, a quem foi dado muito poder”.[8] O “rebento” é geralmente interpretado entre os Santos dos Últimos Dias como sendo Joseph Smith, o profeta da Restauração.[9]

O título “renovo” pode ser aplicado simultaneamente a Cristo e a um líder político moderno da linhagem do Rei Davi da antiguidade, cuja retidão permitir-lhe-ia a ser guiado pelo Senhor. Jeremias, no Velho Testamento, predisse:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra.
“Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.”[10]

“O Senhor”, como foi usado nesta passagem, provavelmente significa um líder temporal. Isto se contrasta, no versículo anterior[11], com “o Senhor”, que significa Jeová. O nome deste governante Judeu nos últimos dias seria Davi, como foi predito por Ezequiel e Oséias.[12] Joseph Smith declarou profeticamente: “O trono e reino de Davi ser-lhe-á tomado [Davi da antiguidade] e dado par um outro por nome de Davi nos últimos dias, levantado de sua linhagem”.[13] Bruce R. McConkie confirmou que o renovo, bem como o rebento, é Cristo.[14]

O versículo 1 contém um quiasma reconhecido no hebraico original, que foi reconstruído aqui para combinar com a construção hebraica:[15]

A: (1) Porque brotará
B um rebento do tronco de Jessé,
B: e um renovo das suas raízes
A: frutificará.

Visto que Cristo é o “tronco de Jessé”, um renovo crescendo de “suas raízes”—ou as raízes de Jessé, ou a linhagem dos reis davídicos—pode ser que esteja referindo-se a Cristo, se os elementos do quiasma estiverem paralelos, ou pode ser que signifique outra pessoa da mesma linhagem, se os elementos do quiasma forem complementários.

Os versículos 2 e 3 descrevem a retidão de Jesus Cristo ao exercer juízo, e serve como um símbolo dos atributos cristãos do líder temporal nos últimos dias, chamado Davi, bem como Joseph Smith, o profeta da Restauração. O versículo 2 prediz: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. O pronome, “ele”, simultaneamente significa o “rebento” e o “renovo”—Joseph Smith, Cristo, e o Davi dos últimos dias.

O versículo 3 continua: “E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos”.

Versículo 4 descreve o julgamento e destruição que acontecerão na Segunda Vinda, referindo-se agora somente a Cristo: “4 Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio”. A palavra hebraica traduzida como “repreenderá com equidade” significa “decidir com justiça”.[16]

Este versículo é parafraseado por Paulo em sua segunda epístola aos Tessalonicenses: “E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda”.[17]  Paulo esclarece que tão somente o assopro da boca do Senhor matará aos iníquos.

O Senhor, ao repreender a Martin Harris por haver perdido as 116 páginas traduzidas da primeira parte do Livro de Mórmon, usou semelhantes palavras: “Portanto ordeno que te arrependas—arrepende-te, para que eu não te fira com a vara de minha boca e com minha ira e com minha cólera e teus sofrimentos sejam dolorosos—quão dolorosos tu não sabes, quão intensos tu não sabes, sim, quão difíceis de suportar tu não sabes”.[18]

O Senhor também enfatizou que os iníquos destruiriam aos iníquos em guerras que aconteceriam durante os últimos dias, antes da Sua Segunda Vinda:

“Em minha ira jurei e decretei guerras sobre a face da Terra; e o iníquo matará o iníquo e temor virá sobre todo homem;
“E os santos também mal escaparão; contudo eu, o Senhor, estou com eles e, da presença de meu Pai, descerei no céu e consumirei os iníquos com fogo inextinguível.[19]

É pelo decreto do Senhor que aconteceriam guerras, nas quais os iníquos matariam uns aos outros.

Néfi provê uma interpretação profética:

“E com justiça julgará o Senhor Deus os pobres e reprovará com equidade pelos mansos da Terra. E ferirá a Terra com a vara de sua boca; e com o sopro de seus lábios matará os ímpios.
“Pois rapidamente chegará o tempo em que o Senhor Deus fará uma grande divisão entre o povo e destruirá os iníquos; e poupará seu povo, sim, ainda que tenha que destruir os iníquos com fogo.[20]

As palavras do versículo 4 descrevem a destruição dos iníquos antes da Segunda Vinda do Senhor. Durante o milênio, guerra e inveja serão aniquiladas e o conhecimento de Deus cobrirá toda a Terra.

O versículo 4 contém um quiasma:[21]

(4) Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra;
A: e ferirá a terra
B: com a vara de sua boca,
B: e com o sopro dos seus lábios
A: matará o ímpio.

“Ferirá a terra” complementa “matará o ímpio”, indicando que o propósito do Senhor em ferir a Terra é para destruir a iniquidade entre a população humana, ao invés de infligir punição sobre a Terra em si. “A vara de sua boca” é sinônimo para “o sopro dos seus lábios”.

O versículo 5 descreve a fonte de poder de Cristo, e como um símbolo, também a de Davi dos últimos dias e do profeta da Restauração: “5 E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins”. “Lombos” e “rins” vieram da palavra hebraica que significa “cintura”.[22]

O Senhor usa palavras semelhantes para instruir os Santos dos Últimos Dias:

“Portanto uma vez que eu, o Senhor, decretei todas estas coisas sobre a face da Terra, desejo que meus santos se reúnam na terra de Sião;”E que todo homem tome a retidão em suas mãos e cinja seus lombos com a fidelidade; e aos habitantes da Terra levante uma voz de advertência e declare, tanto por palavra como por fuga, que a desolação virá sobre os iníquos.[23]

A retidão e a fidelidade são atributos cristãos que todos nós devemos emular; ao fazer isto escaparemos a desolação que virá sobre os iníquos.

Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma:

A: (3) E deleitar-se-á no temor do Senhor;
B: e não julgará segundo
C: a vista dos seus olhos,
D: nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos.
E: (4) Mas julgará com justiça os pobres,
E: e repreenderá com equidade aos mansos da terra;
D: e ferirá a terra com a vara de sua boca,
C: e com o sopro dos seus lábios
B: matará ao ímpio.
A: (5) E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.

“No temor do Senhor” corresponde à “a justiça” e “a fidelidade”, que apresentam o tema do quiasma. A palavra “Julgará” é comparada com “matará o ímpio”, provendo uma maior explicação para o uso da palavra “julgar”. “A vista dos seus olhos” corresponde à “com o sopro dos seus lábios”. “Repreenderá” no versículo 3 é equivalente à “ferirá”, e “julgará com justiça os pobres” reflete-se em “repreenderá com equidade aos mansos da terra”, que é o enfoque central do quiasma. O Senhor, ao matar o ímpio, age com equidade. Consequentemente, a destruição dos ímpios resultará em equidade e justiça para os pobres e mansos da terra.

Nos versículos 6 até 9 Isaías metaforicamente descreve a eliminação das hostilidades entre as nações em guerra, que eram inimigas já há muito tempo. As metáforas de animais—alguns predadores naturais e outros a sua presa—vivendo amigavelmente uns com os outros durante o milênio são frequentemente interpretadas literalmente, mas seriam melhor entendidas num sentido metafórico. Algumas das nações assim representadas são identificáveis; o urso pode ser a Rússia e o leão pode ser a Grã-Bretanha. A estrutura quiasmática deste versículo e seu equivalente no versículo 13 confirma que Isaías está falando metaforicamente.

Os versículos 6 até 8 apresentam as metáforas. O versículo 6 declara: “E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará”.[24] Os opostos são apresentados como contrastes literários para enfatizar as diferenças.

O versículo 7 apresenta mais contrastes literários: “A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi”.

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

A: (6) E morará o lobo com o cordeiro,
B: e o leopardo com o cabrito se deitará;
C: e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos,
D: e um menino pequeno os guiará.
C: (7) A vaca e a ursa pastarão juntas,
B: seus filhos se deitarão juntos,
A: e o leão comerá palha como o boi.

“O lobo” e “o cordeiro” correspondem ao “leão” e ao “boi”; “se deitará” corresponde à “se deitarão juntos”; a frase “o bezerro, e o filho de leão” correspondem à frase “a vaca e a ursa”; e “um menino pequeno os guiará” é a única declaração central. O significado é que o menino pequeno guiará todos os animais mencionados no quiasma.

O quiasma forma o elemento inicial num quiasma maior que inclui os versículos 6 até 13. O quiasma dos versículos 6 e 7, que contém os nomes dos animais que representam as nações em guerras e suas vítimas, complementa o quiasma do versículo 13, que descreve o fim da hostilidade entre as nações de Judá e Efraim, bem como com outros vizinhos hostis. Esta equivalência quiasmática explica a metáfora.

O versículo 8 continua, apresentando mais contrastes literários e adicionando um significado ainda mais profundo à metáfora: “E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco”. A áspide é uma cobra venenosa da família das víboras, já um basilisco é um réptil fabuloso a que se atribuía o poder de matar através do olhar, do bafo ou do contato.[25] Note o paralelismo; “a toca da áspide” é equivalente à frase “na cova do basilisco”, e “a criança de peito” é equivalente à “desmamada”. Estas comparações reforçam ainda mais a suposição de que Isaías está falando metaforicamente—o que é conhecido como prejudicial e perigo é contrastado com inocência e vulnerabilidade.

Versículo 8 contém um quiasma reconhecido no original em hebraico, e que foi reformatado aqui para combinar com a construção hebraica.[26]

A: (8) Brincará
B: a criança de peito sobre a toca da áspide,
B: e a desmamada na cova do basilisco
A: meterá a sua mão.

Este quiasma coloca palavras que aparecem como duas declarações paralelas na versão de João Ferreira de Almeida como declarações paralelas inversas, adicionando um equilíbrio poético.

No versículo 9 o Senhor descreve as condições milenar: “Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”. É o conhecimento do Senhor que terminará com a guerra e a inveja.[27] “Monte” retoricamente significa “nação”, ou domínio político.[28] Assim, no domínio do Senhor—que incluirá toda a Terra, como mostra na frase seguinte— “não se fará mal nem dano algum”.

Dallin H. Oaks declarou:

“Hoje em dia estamos assistindo a uma explosão de conhecimento a respeito do mundo e seus povos. Mas os povos do mundo não estão obtendo uma expansão de conhecimento comparável sobre Deus e o plano dele para seus filhos. Nesse assunto, o mundo necessita não é de mais erudição e tecnologia, porém de mais retidão e revelação.
“Aguardamos o dia profetizado por Isaías no qual “a terra se encherá do conhecimento do Senhor”.[29]

No Livro de Mórmon, Néfi também cita os versículos 4 até 9 em 2 Néfi capítulo 30 com pequenas variações.[30] Néfi adiciona esta explicação interessante depois da citação:

“Portanto as coisas de todas as nações se tornarão conhecidas; sim, todas as coisas serão dadas a conhecer aos filhos dos homens.
“Nada haverá secreto que não seja revelado; não haverá obra tenebrosa que não venha à luz; nada haverá selado na face da Terra que não seja descerrado.
“Portanto todas as coisas que foram reveladas aos filhos dos homens serão reveladas naquele dia; e Satanás já não terá poder sobre o coração dos filhos dos homens, por um longo tempo….”[31]

O conhecimento da verdade, revelado aos filhos dos homens, tirará eficazmente o poder de Satanás.

Ao instruir ao Santos dos Últimos Dias, o Senhor declara: “E nesse dia [o reinado milenar do Senhor], a inimizade do homem e a inimizade das bestas, sim, a inimizade de toda carne terá fim de diante de minha face”.[32] Aqui mostra bem claro que ambos elementos, literal e metafórico, da profecia de Isaías virão a se cumprir.

Os versículos 10 até 12 descrevem a coligação de Israel. Em preparação para o milênio, o Senhor levantará um estandarte e juntará Israel que foi espalhada por muitas nações. O versículo 10 refere-se a uma “raiz de Jessé”, que é um profeta mandado aos gentios nos últimos dias: “E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso”. A frase “naquele dia” significa os últimos dias, a época em que esta profecia deverá ser cumprida.[33]

O versículo 10 foi citado pelo Apóstolo Paulo, referindo-se a aceitação de Cristo pelos gentios: “Outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão”.[34] Os gentios nos últimos dias aceitariam a Cristo através da “raiz em Jessé”, proclamada por Isaías—o grande profeta da Restauração, Joseph Smith.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor deu uma maior explicação: “O que é a raiz de Jessé mencionada no versículo 10 do capítulo 11?
“Eis que assim diz o Senhor: É um descendente de Jessé, assim como de José, a quem por direito pertencem o sacerdócio e as chaves do reino, posto por estandarte e para a coligação de meu povo nos últimos dias”.[35] Estas características descrevem atributos principais da linhagem e missão profética de Joseph Smith.”[36], [37]

Joseph Smith, juntos com seus companheiros da Restauração, eram herdeiros legítimos do sacerdócio através desta linhagem. O Senhor, através de uma revelação moderna, declarou:

“Portanto assim diz o Senhor a vós, com quem o sacerdócio continuou através da linhagem de vossos pais—
“Porque sois herdeiros legais segundo a carne e fostes escondidos do mundo com Cristo, em Deus—
“Portanto vossa vida e o sacerdócio permaneceram; e é necessário que permaneçam por meio de vós e de vossa linhagem, até a restauração de todas as coisas proferidas pela boca de todos os santos profetas desde o princípio do mundo.”[38]

Foi dado a Joseph Smith, através da ministração de anjos, as chaves de vários ofícios e funções essenciais do sacerdócio como parte da Restauração. Essas ministrações angelicais incluem a ordenação ao Sacerdócio Aarônico pelas mãos de João Batista[39] e a ordenação ao Sacerdócio de Melquisedeque, inclusive ao Apostolado, pelas mãos de Pedro, Tiago e João.[40] Moisés restaurou as chaves da coligação de Israel, através de Joseph Smith numa visão gloriosa.[41] Elias restaurou o poder do selamento para unir os pais aos seus filhos de todas as gerações,[42] e Elias, o tisbita, restaurou as chaves do evangelho de Abraão pelas quais todas as futuras gerações seriam abençoadas.[43]

Joseph Smith, como o profeta de Restauração, estabeleceu um estandarte para o povo do mundo—incluindo os gentios e as tribos de Israel—onde se congregariam nos últimos dias. Numa revelação moderna, o Senhor declarou:

“Pois eis que vos digo que Sião florescerá e a glória do Senhor estará sobre ela;
“E será um estandarte para o povo e a ela virão de todas as nações debaixo do céu (ênfases adicionadas).”[44]

O profeta Leí, no Livro de Mórmon, em sua última bênção a seu filho mais novo, José, descreveu um profeta dos últimos dias que se chamaria José (Joseph).[45] Semelhantemente, Jacó—ou Israel—ao pronunciar a última bênção sobre seu filho José, profetizou sobre um profeta dos últimos dias que também se chamaria José.[46]

O versículo 11 descreve as nações de onde os remanescentes de Israel serão juntados: “E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar”. Néfi também cita a primeira parte deste versículo em 2 Néfi 25:17 e 2 Néfi 29:1.[47]

Estes nomes de países do tempo de Isaías representam lugares para onde Israel foi originalmente dispersa. Seus equivalentes no mundo atual não são estritamente relacionados às localidades mencionadas.  Por exemplo, parece que “as ilhas do mar” referem-se ao Arquipélago Grego por causa da estrutura quiasmática deste e de outros versículos, descrita abaixo. Entretanto, esta frase também refere-se às Américas, a herança dos filhos de Leí.[48]

O “estandarte”, como foi usado no versículo 10, significa uma bandeira militar, que era usada para denotar condições no campo de batalha e enviar mensagem aos combatentes.[49] Neste caso a mensagem é para se juntarem, como mostrado no versículo 12: “E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra”.[50] A palavra hebraica traduzida como “confins”, na frase final, significa “extremidades” ou “bordas”.[51]

Concernente aos versículos 11 e 12, LeGrande Richards ensinou:

“O Anjo Morôni repetiu essa mensagem ao Profeta Joseph Smith, quando este tinha apenas dezoito anos de idade, na ocasião em que o visitou três vezes em seguida, durante a noite e pela manhã, indicando que essa obra deveria ser realizada.
“Pensem na responsabilidade do Profeta Joseph naquela ocasião. Ele estabeleceu um estandarte para todas as nações e nenhuma outra igreja do mundo está fazendo pelos seus membros o que esta Igreja está fazendo, ajudando-os a progredir e, ao mesmo tempo, estabelecendo um estandarte para o mundo. Indivíduos nos procuram para saber como estamos conseguindo fazer tais coisas.”[52]

A coligação de Israel, descrita nestes versículos, seria o maior milagre feito pelo Senhor nos últimos dias, como foi testificado por Jeremias:

“Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito.
“Mas: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais.[53]

Este grande milagre é parte da obra missionária dos últimos dias, um meio pelo qual Israel será coligada.[54]

Como descrito no versículos 13 e 14, antes da Segunda Vinda do Senhor, Israel—unidas como uma só nação, ao invés de dois reinos diferentes—dominará seus vizinhos que antes eram hostis. O versículo 13 proclama: “E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim”. O Livro de Mórmon apresenta “Cessará também a inveja de Efraim”.[55]

Os versículos 6 até 13 formam um elegante quiasma:

A: (6) E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. (7) A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. (8) E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco.
B: (9) Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.
D: (10) E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé,
E: a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso. (11) E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado,
F: da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia
F: de Elão, de Sinar, de Hamate, e das ilhas de mar.
E: (12) E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel,
D: e os dispersos de Judá congregará
C: desde os quatro confins
B: da terra.
A: (13) E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim.

A declaração introdutória deste elegante quiasma se encontra nos versículos 6 e 7, que por si mesmos formam um quiasma completo e foi descrito anteriormente. Sua reflexão complementar se encontra no versículo 13, que também é outro quiasma completo. As declarações centrais são dois conjuntos de locais geográficos, dados no versículo 11. Quando os locais são colocados num mapa,[56] o padrão que Isaías tentou descrever aparece: Cada conjunto forma uma linha mais o menos reta, as duas linhas se cruzam para formar um “X”—a letra Grega chi, como na palavra “quiasma”.

O padrão planejado por Isaías é evidente quando estes oito locais geográficos são considerados em ordem. Assíria ficava ao norte da Babilônia no vale do Rio Tigre; sua capital era Nínive. Egito fica aos dois lados do Rio Nilo e seu delta fica no sudoeste da Assíria. Patros é parte do Alto Egito, localizado ao longo do Rio Nilo para o sudoeste, e Etiópia é mais ainda para o sudoeste do Egito onde viviam um povo de pele escura. Estes quatro locais formam uma linha que começa inclinando-se na direção sudoeste, mas muda para a direção mais para o sul. A segunda linha começa em Elão, que é a parte sudeste da Pérsia, ou Iran, ao sudoeste da Assíria. Sinar é a Babilônia, que fica na parte mais baixa da planície dos rios Tigre e Eufrates, ao noroeste de Elão. Hamate ainda é uma cidade importante na Síria, localizada mais ainda ao noroeste das linhas descritas. Esta cidade foi nomeada como o limite setentrional da terra prometida da Palestina.[57] As “ilhas do mar” refere-se ao Arquipélago Grego, que forma o fim da segunda linha ao noroeste.

Versículo 13 contém um quiasma:[58]

(13) E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados;
A: Efraim
B: não invejará
C: a Judá
C: e Judá
B: não oprimirá
A: a Efraim.

Este quiasma reflete a declaração introdutória do quiasma dos versículos 6 até 13. Sua relação complementar confirma que os animais nos versículos 6 e 7 são metáforas representando nações guerreiras agressoras e suas vítimas perenes. A primeira menção de “Efraim” é equivalente à segunda no final do versículo; “não invejará” é equivalente a “não oprimirá”; e “Judá” corresponde a “Judá”.

O versículo 14 descreve as vitórias da Israel unida: “Antes voarão sobre os ombros dos filisteus ao ocidente; juntos despojarão aos do oriente; em Edom e Moabe porão as suas mãos, e os filhos de Amom lhes obedecerão”. Estes vizinhos adversários do tempo de Isaías teriam outros nomes hoje.

O versículo 15 descreve mudanças que ocorrerão antes ou durante a parte inicial do Milênio: “E o Senhor destruirá totalmente a língua do mar do Egito, e moverá a sua mão contra o rio com a força do seu vento e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete correntes e fará que por ele passem com sapatos secos”. Estas mudanças—descritas por Isaías em termos geográficos—podem ser parcialmente ou totalmente metafóricas, representando mudanças políticas e sociais que facilitariam a coligação de Israel. A divisão das águas do Mar Vermelho na época de Moisés, para permitir aos Israelitas a escaparem dos exércitos egípcios, é um símbolo para o caminho estreito e apertado, no sentido espiritual. “A língua do mar do Egito” provavelmente significa o Golfo de Suez—a língua ao noroeste do Mar Vermelho, localizada entre o Egito e a Península do Sinai—que foi dividida na época de Moisés.[59] Ventos poderosos também se manifestariam, tal como nos tempos da divisão do Mar Vermelho.[60] “O rio” provavelmente significa os rios Tigre e Eufrates juntos;[61] fortes ventos ferirão os sete afluentes destes rios[62] permitindo que os homens atravessem-nos “com sapatos secos”.

Será que os ventos poderosos representam as mudanças políticas rápidas que acontecerão na terra por causa dos rios Tigre e Eufrates e seus afluentes, estabelecendo liberdade política e religiosa, e permitindo com que os homens e as mulheres daquelas nações obtenham o conhecimento verdadeiro do Plano de Salvação? Se assim for, o significado metafórico de Isaías é de que esses acontecimentos são tão importantes nos últimos dias como foi a divisão das águas do Mar Vermelho nos tempos antigos.

A destruição da língua do mar do Egito coincidirá com a coligação, como foi sugerido no versículo 16: “E haverá caminho plano para o remanescente do seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito”.[63] Outra referência semelhante a um caminho ou estrada foi feita  por Isaías, no capítulo 35, indicando que o significado é espiritual ao invés de temporal:

“E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para os remidos. Os caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão.”[64]

O “caminho” é o caminho estreito e apertado.[65] A maneira pela qual os remanescentes de Israel serão juntados nos últimos dias é com o evangelho sendo pregado a eles; eles se unirão com Sião e seu povo, e seguirão o caminho estreito e apertado. Sua identidade como herdeiros do Convênio Abraâmico ser-lhes-á revelada, e eles farão convênios com o Senhor como em tempos passados.

NOTAS

[1]. Joseph Smith—História 1:40.
[2]. Versículos 1-5, 10.
[3]. Isaías 6:13.
[4]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1503, p. 160.
[5]. Ver Mateus 1:1-16.
[6]. Ver também Isaías 7:14; 9:6; 25:9; 53:5.
[7]. Doutrina e Convênios 113:1-2.
[8]. D&C 113:3-4.
[9]. Donald W. Parry, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 21//Isaías 11”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon], Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 379-380.
[10]. Jeremias 23:5-6.
[11]. Jeremias 23:5.
[12]. Ver Ezequiel  37:21-28 e Oséias 3:4-5.
[13]. História da Igreja, v. 6, p. 253.
[14]. Bruce R. McConkie, The Promised Messiah [O Messías Prometido]: Deseret Book Co., Salt Lake City UT, 1978,  p. 192.
[15]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3198, p. 406-407.
[17]. 2 Tessalonicenses 2:8.
[18]. D&C 19:15.
[19]. D&C 63:33-34.
[20]. 2 Néfi 30:9-10.
[21]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2504, p. 323.
[23]. D&C 63:36-37.
[24]. Versículo 6 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Morará/o lobo com o cordeiro//o leopardo com o cabrito/se deitará. Em Parry, 2001, p. 259.
[25]. Basilisco Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/basilisco. Ver também Isaías 14:29; 59:5 e comentário pertinente.
[26]. Parry, Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[27]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[28]. “Monte” é retoricamente correlacionado com “nação”. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[29]. Dallin H. Oaks, “Vozes Alternativas”, A Liahona, Julho de 1989, pág. 29.
[30]. 2 Néfi 30:9, 11-15.
[31]. 2 Néfi 30:16.
[32]. D&C 101:26.
[33]. Compare Isaías 27:2.
[34]. Romanos 15:12.
[35]. D&C 113:5-6.
[36]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 172-174.
[37]. D&C 135:3.
[38]. D&C 86:8-10.
[39]. Joseph Smith—História 1:72; D&C 13:1.
[40]. Joseph Smith—História 1:72; D&C 27:12.
[41]. D&C 110:11.
[42]. D&C 110:13-16.
[43]. D&C 110:12.
[44]. D&C 64:41-42.
[45]. Ver 2 Néfi 3:6-22.
[46]. Ver Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 114-116; também JST de Gênesis 50:24-38.
[47]. Victor L. Ludlow, “Isaiah in The Book of Mormon”[ “Isaías no Livro de Mórmon”], Book of Mormon Reference Companion [Companheiro de Referências do Livro de Mórmon], Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 344.
[48]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 18:1-2 e comentário pertinente.
[49]. Ver também D&C 113:6, D&C 64:41-42 e Isaías 5:26.
[50]. Ver Isaías 5:26 e comentário pertinente.
[51]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3671, p. 489.
[52]. LeGrande Richards, “Profetas e Profecias”, A Liahona, Fevereiro de 1976, p. 43.
[53]. Jeremias 16:14-15.
[54]. Ver Isaías 18.
[55]. 2 Néfi 21:13.
[56]. Ver Mapa Bíblico 2.
[57]. Ver Números 34:8; Josué 13:5.
[58]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[59]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3956, p. 546; Ver Map 3, Bíblia SUD em inglês.
[60]. Ver Êxodo 14:21-22.
[61]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson interpretam “o rio” como sendo o Eufrates. Em Parry et al., Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 124-125.
[62]. Possivelmente Grande Zab, Pequeno Zab, Diyala, e Adhaim (afluentes do rio Tigre); Kara, Murat, e Khabur (afluentes do rio Eufrates).
[63]. Ver Êxodo 14:21-31 e Isaías 51:10.
[64]. Isaías 35:8. Ver Isaías 19:23; 40:14; 49:11 e comentário pertinente.
[65]. Ver 1 Néfi 8:20; Mateus 7:14 e 3 Néfi 14:14; compare 2 Néfi 9:41, 31:18, 33:9; Jacó 6:11, Helamã 3:29, 3 Néfi 27:33, e D&C 132:22.