Arquivo da tag: Isaías 51:10

CAPÍTULO 51: “Porém a Minha Salvação Durará Para Sempre, e a Minha Justiça Não Será Abolida”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

O capítulo 51 descreve os acontecimentos nos últimos dias. Depois de muitas tribulações, Sião e Jerusalém serão confortadas pelo Senhor. Os remidos virão à Sião com muita alegria e as bênçãos da felicidade eterna e da santidade serão conferidas sobre suas cabeças através do sacerdócio.

Os capítulos 48 até 54 de Isaías são citados no Livro de Mórmon.[1] Jacó, o irmão de Néfi, citou o capítulo 51, em 2 Néfi capítulo 8, e explicou este capítulo em 2 Néfi capítulos 9 e 10. Jacó apresenta, com maior clareza, a profecia de Isaías dos dois filhos de Jerusalém— os profetas dos últimos dias, que seriam enviados para Jerusalém e que seriam mortos e seus corpos ficariam na praça de Jerusalém. João, o Revelador, dá mais detalhes a respeito desta profecia.[2]

No versículo 1, o Senhor chamou aqueles que O buscariam nos últimos dias: “Ouvi-me, vós os que seguis a justiça, os que buscais ao SENHOR. Olhai para a rocha de onde fostes cortados, e para a caverna do poço de onde fostes cavados”. Jacó, no Livro de Mórmon, omite “os que buscais ao Senhor.[3] A rocha e a caverna do poço são definidas no seguinte versículo como sendo Abraão e Sara.[4] A frase “vós os que seguis a justiça” reflete as próprias palavras de Abraão:

“E achando que havia maior felicidade e paz e descanso para mim, busquei as bênçãos dos pais e o direito ao qual eu deveria ser ordenado para ministrá-las; tendo eu mesmo sido seguidor da retidão, desejando também ser possuidor de grande conhecimento e ser maior seguidor da retidão …” (ênfases adicionadas).[5]

O versículo 2 explica com mais detalhes: “Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque, sendo ele só, o chamei, e o abençoei e o multipliquei”. O Livro de Mórmon omite “e o multipliquei”.[6] Os descendentes dignos de Abraão e Sara podem requerer sua herança—as bênçãos do Convênio Abraâmico.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Ouvi-me, vós os que seguis a justiça, os que buscais ao SENHOR.
B: Olhai para a rocha de onde fostes cortados, e para a caverna do poço
C: de onde fostes cavados.
B: (2) Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz;
A: porque, sendo ele só, o chamei, e o abençoei e o multipliquei.

“Os que seguis a justiça” complementa “o chamei, e o abençoei e o multipliquei”. “A rocha … e … o poço” iguala-se com “Abraão … e … Sara”. A mensagem do quiasma é que as mesmas bênçãos que o Senhor conferiu sobre Abraão estão disponíveis a seus descendentes que seguem em retidão.[7]

O versículo 3 promete consolo sobre Sião: “Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia”.[8] “Sião” foi usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias para os descendentes justos de Abraão, bem como um sinônimo para Jerusalém, especialmente a Jerusalém justa dos últimos dias.[9] Assim como o Senhor abençoou Abraão e Sara com posteridade, mesmo quando o cumprimento desta promessa parecesse impossível, o Senhor abençoaria Seus discípulos dos últimos dias apesar dos enormes obstáculos.[10]

Em Doutrina e Convênios, o Senhor oferece a mesma promessa: “Os que permanecerem e forem puros de coração retornarão para suas heranças, eles e seus filhos, com cânticos de eterna alegria, para edificar os lugares desolados de Sião— E todas estas coisas para que os profetas se cumpram”.[11]

As palavras deste versículo refletem a profecia anterior de Isaías: “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa”.[12] O profeta previu a transformação física do deserto em um lugar agradável e o estabelecimento de Sião no deserto; ele também previu o estabelecimento espiritual de Sião entre os povos da Terra, o lugar solitário espiritual. Esta profecia começou a ser cumprida com a chegada dos pioneiros Mórmons na Grande Bacia ocidental da América do Norte, em 1847 e o estabelecimento de Sião. Conversos de muitas nações estão sendo coligados em Sião ou em suas Estacas, que estão estabelecidas atualmente em muitos lugares do mundo.

Nos versículos 4 e 5, o Senhor proclama a restauração nos últimos dias. O versículo 4 começa: “Atendei-me, povo meu, e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de mim sairá a lei, e o meu juízo farei repousar para a luz dos povos”. [13] “Juízo”, como foi usado aqui, significa “um sistema de lei equitativo”.[14] O Senhor adverte a Seu povo do convênio a dar ouvidos à lei que iria de vir.

O versículo 5 continua a proclamação de restauração do Senhor: “Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação, e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão, e no meu braço esperarão”. A sentença “As ilhas me aguardarão” pode, em parte, está se referindo aos nefitas no continente americano,[15] a quem Cristo visitou depois de Sua crucificação e ressurreição, e também à mistura de seus descendentes atuais.[16] “O braço do Senhor” significa Seu poder de corrigir as injustiças feitas pelos iníquos contra os que confiaram no Senhor.

Doutrina e Convênios mostra o mandamento do Senhor a Seus discípulos dos últimos dias: “Enviai os élderes de minha igreja às nações longínquas; às ilhas do mar; enviai-os às nações estrangeiras; clamai a todas as nações, primeiro aos gentios e depois aos judeus”.[17]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) Atendei-me, povo meu,
B: e nação minha, inclinai os ouvidos para mim;
C: porque de mim sairá a lei, e o meu juízo farei repousar para a luz dos povos.
D: (5) Perto está a minha justiça,
D: vem saindo a minha salvação,
C: e os meus braços julgarão os povos;
B: as ilhas me aguardarão,
A: e no meu braço esperarão.

Neste quiasma o Senhor proclama a restauração nos últimos dias. “Atendei-me, povo meu” é complementado por “no meu braço esperarão”. Note a correlação entre dar ouvidos e confiar no Senhor.

No versículo 6, o Senhor proclama a natureza eterna da Sua obra de salvação: “Levantai os vossos olhos para os céus, e olhai para a terra em baixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra se envelhecerá como roupa, e os seus moradores morrerão semelhantemente; porém a minha salvação durará para sempre, e a minha justiça não será abolida”. “Salvação”, como foi usado aqui, significa a completa restauração do Senhor à vida e bem-estar[18]—através da Sua ressurreição—que durará para sempre e o que Ele oferece como uma dádiva à toda a humanidade. Até mesmo o céu e a Terra desaparecerão, mas a salvação e justiça do Senhor existirão eternamente. “Desaparecerão como a fumaça” vem da palavra hebraica que significa “dissipado”.[19]

O versículo 7 adverte ao povo do Senhor a não temer: “Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo em cujo coração está a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias”. O Livro de Mórmon apresenta “… povo em cujo coração eu escrevi a minha lei …”.[20]

Durante Seu ministério mortal, o Senhor deu o mesmo conselho aos Seus discípulos, os quais Ele enviou a pregar:

“O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados.
E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”.[21]

O Senhor deu um conselho semelhante aos obreiros da Sião dos últimos dias: “E todo o teu trabalho, daqui em diante, será em Sião, com toda a tua alma; sim, abrirás sempre tua boca pela minha causa, não temendo o que o homem possa fazer, porque estou contigo”.[22]

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

A: (6) Levantai os vossos olhos para os céus, e olhai para a terra em baixo,
B: porque os céus desaparecerão como a fumaça,
C: e a terra se envelhecerá como roupa,
C: e os seus moradores morrerão semelhantemente;
B: porém a minha salvação durará para sempre, e a minha justiça não será abolida.
A: (7) Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo em cujo coração eu escrevi a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias.

Apesar do fato que a Terra e os céus desaparecerão e todos os mortais morrerão, a dádiva de salvação do Senhor—a Expiação, oferecida pelo derramamento de Seu próprio sangue—durará para sempre. A sentença “porque os céus desaparecerão como a fumaça” contrasta-se com “porém a minha salvação durará para sempre, e a minha justiça não será abolida”.

O versículo 7 contém um quiasma reconhecido no original hebraico, reconstruído, aqui, para corresponder com a construção hebraica:[23]

A: … não temais
B: o opróbrio dos homens,
B: pelas suas injúrias
A: nem vos turbeis.

Este quiasma admoesta: “não temais”, “nem vos turbeis”. O enfoque é “o opróbrio dos homens, [nem] pelas suas injúrias”.

O versículo 8 descreve o fim daqueles que insultarem os servos do Senhor: “Porque a traça os roerá como a roupa, e o bicho os comerá como a lã; mas a minha justiça durará para sempre, e a minha salvação de geração em geração”. Novamente, “salvação” significa “restauração à vida e bem-estar”,[24] referindo-se à restauração do Senhor à vida e saúde, depois de Sua crucificação. Aqueles que perseguem os justos discípulos do Senhor, perdem Sua proteção providencial e se tornam vítimas das consequências naturais.[25] Essa perda contrasta-se com a proteção e cuidados do Senhor: “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre”.[26]

Os versículos 6 até 8 contêm um quiasma:

A: (6) Levantai os vossos olhos para os céus, e olhai para a terra em baixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra se envelhecerá como roupa,
B: e os seus moradores morrerão semelhantemente;
C: porém a minha salvação durará para sempre,
C: e a minha justiça não será abolida.
B: (7) Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo em cujo coração eu escrevi a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias.
A: (8) Porque a traça os roerá como a roupa, e o bicho os comerá como a lã; mas a minha justiça durará para sempre, e a minha salvação de geração em geração.

Neste quiasma, o Senhor conforta aqueles que seriam perseguidos. “Levantai os vossos olhos para os céus, e olhai para a terra em baixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça” complementa “a traça os roerá como a roupa, e o bicho os comerá como a lã”. Bem como os céus e a Terra, os que perseguem os discípulos dignos do Senhor também desaparecerão.

No versículo 9, depois de ver as perseguições sofridas pelos justos, Isaías suplica ao Senhor para impor a justiça sobre os ímpios: “Desperta, desperta, veste-te de força, ó braço do Senhor; desperta como nos dias passados, como nas gerações antigas. Não és tu aquele que cortou em pedaços a Raabe, o que feriu ao chacal?” Isaías, aqui, faz referência à conquista pré-mortal do Senhor sobre Satanás.[27] Raabe é um nome antigo do Oriente Médio para um monstro de caos que se relaciona diretamente com o leviatã,[28] a personificação do mal.[29] Raabe também era o nome de uma mulher prostituta que facilitou a conquista de Josué da cidade de Jericó,[30] e quem ele protegeu em sinal de gratidão.[31] Literalmente, o nome “Raabe” significa “mulher fácil”; é também um nome emblemático para o Egito.[32] O significado neste versículo, entretanto, representa a conquista de uma nação iníqua e adúltera pelo Senhor: “Tu quebraste a Raabe como se fora ferida de morte; espalhaste os teus inimigos com o teu braço forte”.[33]

Anteriormente, no capítulo 27, Isaías prediz a derrota final de Satanás: “Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar”.[34] O Senhor castigando com “a sua dura espada, grande e forte” representa Sua onipotência e Seu grande poder sobre Satanás. “Leviatã” vem do hebraico liwyathan, e significa serpente ou dragão.[35] Satanás, a personificação do mal, é caracterizado nas escrituras como uma serpente ou dragão.[36]

O versículo 10 continua a súplica de Isaías por justiça: “Não és tu aquele que secou o mar, as águas do grande abismo? O que fez o caminho no fundo do mar, para que passassem os remidos?” O Livro de Mórmon apresenta “Não és tu ele que secou o mar …?”[37] Isaías, aqui, descreve o Senhor separando as águas do Mar Vermelho, permitindo com que os filhos de Israel passassem em terra seca para encontrar segurança.[38] O caminho em terra seca através do Mar Vermelho é um símbolo para o caminho estreito e apertado, o caminho da retidão, ou o Plano de Salvação.[39] A maneira pela qual os remanescentes de Israel serão reunidos nos últimos dias é através deles seguirem o caminho estreito e apertado. O evangelho ser-lhes-á pregado, eles se unirão à Sião e seu povo, sua identidade como herdeiros do Convênio Abraâmico ser-lhes-á revelada, e eles farão convênios com o Senhor como no passado.

O versículo 11 descreve o retorno dos sobreviventes remidos de Israel: “Assim voltarão os resgatados do Senhor, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão”. O Livro de Mórmon apresenta “… perpétua alegria e santidade haverá sobre as suas cabeças …”.[40] “Sião” foi usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para a Jerusalém justa dos últimos dias.[41] “Sobre as suas cabeças” sugere que as ordenanças do sacerdócio serão conferidas, inclusive aquelas feitas no templo.[42]

Estes gloriosos acontecimentos foram descritos em Doutrina e Convênios, com o Senhor parafraseando abundantemente Isaías:

“E aqueles que estiverem nos países do norte serão lembrados pelo Senhor; e seus profetas ouvirão sua voz e não mais se conterão; e ferirão as pedras e o gelo se derreterá diante deles.
“E erguer-se-á uma estrada no meio do grande abismo.
“Seus inimigos tornar-se-ão uma presa para eles;
“E nos desertos estéreis surgirão poços de água viva; e o solo ressequido já não será uma terra sedenta.
“E trarão seus ricos tesouros para os filhos de Efraim, meus servos”.[43]

“Aqueles que estiverem nos países do norte” significam os dispersos de Israel. Apesar deles terem sido, originalmente, levado cativo para o norte, sua dispersão continuou durante muitas eras para que eles fossem achados e reunidos “… desde o oriente, e … desde o ocidente. Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas; trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra”.[44]

Os versículos 9 até 11 contêm um quiasma:

A: (9) Desperta, desperta, veste-te de força, ó braço do Senhor;
B: desperta como nos dias passados,
C: Não és tu aquele
D: que cortou em pedaços a Raabe,
D: o que feriu ao chacal?
C: (10) Não és tu ele que secou o mar, as águas do grande abismo?
B: O que fez o caminho no fundo do mar, para que passassem os remidos?
A: (11) Assim voltarão os resgatados do Senhor, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria e santidade haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão.

O propósito deste quiasma é de descrever acontecimentos antigos que demonstram o poderoso braço do Senhor, para que os que forem reunidos em Sião nos últimos dias sejam confortados. “Veste-te de força, ó braço do Senhor” é complementado por “Assim voltarão os resgatados do Senhor, e virão a Sião com júbilo”. O retorno dos resgatados é a manifestação antecipada da força do braço do Senhor. “Como nos dias passados” complementa “que fez o caminho no fundo do mar, para que passassem os remidos”. O Senhor separando as águas do Mar Vermelho em tempos antigos, a fim de prover um meio de escape para os filhos de Israel, é um símbolo da coligação de Israel nos últimos dias. O caminho aberto no mar representa o evangelho, caracterizado como o caminho estreito e apertado.

No versículo 12 o Senhor afirma: “Eu, eu sou aquele que vos consola; quem, pois, és tu para que temas o homem que é mortal, ou o filho do homem, que se tornará em erva?”[45] O Livro de Mórmon apresenta “Eu sou ele; sim, sou aquele que vos consola; quem pois és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem, que se tornará em erva?”[46] O Senhor argumenta que Seu povo apreensivo não tem nenhuma razão para temer o homem, pois Ele prometeu que usaria Seu grandioso poder na defesa e conforto de seu povo. A frase “o filho do homem”, como foi usado aqui, significa a posteridade do homem mortal. Note que o conforto do Senhor é para o povo de Sião, coletivamente, indicado pelo uso do pronome no plural “vos”, enquanto que o temor do que o homem pode fazer é individual, indicado pelo uso do pronome no singular “tu”.

Anteriormente, no capítulo 40, Isaías explicou o significado da humanidade sendo como comparada a erva:

“Uma voz diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo.
“Seca-se a erva, e cai a flor, soprando nela o Espírito do Senhor. Na verdade o povo é erva”.[47]

Bem como a erva e a flor do campo secam com o passar do verão, a jornada da humanidade na Terra é passageira.

O versículo 13 continua a afirmação do Senhor: “E te esqueces do Senhor que te criou, que estendeu os céus, e fundou a terra, e temes continuamente todo o dia o furor do angustiador, quando se prepara para destruir; pois onde está o furor do que te atribulava?”[48] O povo do convênio do Senhor teme o furor do angustiador, apesar dele ser somente um homem mortal. A sua confiança deveria ser colocada no Senhor, o Criador dos céus e da Terra, que protegeria os justos.

O versículo 14 descreve a situação difícil do povo do convênio do Senhor, exilados das terras de sua herança: “O exilado cativo depressa será solto, e não morrerá na caverna, e o seu pão não lhe faltará”. Em cativeiro em terras estranhas, os exilados estão preocupados com o seu pão de cada dia e em obter sua liberdade. Em muitas culturas a família e amigos são responsáveis pela comida, água e roupa do prisioneiro.[49] A falta de pão resultaria na morte do prisioneiro.

No versículo 15, o Senhor relembra ao povo de Israel cativo: “Porque eu sou o Senhor teu Deus, que agito o mar, de modo que bramem as suas ondas. O Senhor dos Exércitos é o seu nome”. O Livro de Mórmon omite “que agito o mar” e apresenta “Mas eu sou o Senhor teu Deus”.[50] A habilidade do Senhor de libertar os cativos é bem reconhecida, pois Ele já havia separado as águas do Mar Vermelho.[51]

No versículo 16, o Senhor explica Seu propósito: “E ponho as minhas palavras na tua boca, e te cubro com a sombra da minha mão; para plantar os céus, e para fundar a terra, e para dizer a Sião: Tu és o meu povo”.[52] O significado do Senhor colocando “palavras na tua boca” é que Ele revelará e orientará Seus profetas dos últimos dias, dando-lhes as palavras especificas para eles falarem ao povo. O significado de “Sião”, aqui, é um lugar de coligação espiritual nos últimos dias.[53] O propósito do Senhor em criar os céus e a Terra, proteger Seu povo do convênio e fornecer orientação inspirada é para estabelecer Sião, Seu povo do convênio.

Semelhantemente, o Senhor confirma a verdade de Suas palavras dadas aos Seus discípulos dos últimos dias: “Eis que eu sou Deus e disse-o; estes mandamentos são meus e foram dados a meus servos em sua fraqueza, conforme a sua maneira de falar, para que alcançassem entendimento”.[54]

No versículo 17, Isaías clama à moderna Jerusalém: “Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém, que bebeste da mão do Senhor o cálice do seu furor; bebeste e sorveste os sedimentos do cálice do atordoamento”. O Livro de Mórmon apresenta “… o cálice da sua cólera; tu bebeste até a borra o cálice da vacilação.[55] Isaías relembra Jerusalém das suas provações, sofridas por ter rejeitado seguir o Senhor em diversos tempos. “Até a borra” significa até a última gota do líquido do copo, inclusive o sedimento amargo que acumula no fundo do copo.

Nos versículos 18 até 20, Isaías prediz um incidente na Jerusalém moderna que serviria como um precursor da Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo. A versão do Livro de Mórmon desta passagem permite-nos reconhecer que esta profecia refere-se ao mesmo evento previsto por João, o Revelador.[56]

O versículo 18 lamenta a falta de orientação espiritual de Jerusalém: “De todos os filhos que ela teve, nenhum há que a guie mansamente; e de todos os filhos que criou, nenhum há que a tome pela mão”. Apesar de sua rica história eclesiástica, por causa da apostasia nenhum dos seus filhos estão preparados para oferecer a liderança espiritual necessária.

No versículo 19, dois profetas são enviados a Jerusalém: “Estas duas coisas te aconteceram; quem terá compaixão de ti? A assolação, e o quebrantamento, e a fome, e a espada! Por quem te consolarei?” O Livro de Mórmon apresenta importantes diferenças na redação desta passagem: “Estes dois filhos que vieram a ti terão compaixão de ti—tua desolação e destruição e a fome e a espada—e com quem te consolarei?”[57] Os dois profetas, filhos de Jerusalém, lamentam por todo o sofrimento que Jerusalém passou[58]

O versículo 20 continua, descrevendo a apostasia da Jerusalém moderna: “Os teus filhos já desmaiaram, jazem nas entradas de todos os caminhos, como o antílope na rede; cheios estão do furor do Senhor e da repreensão do teu Deus”. O Livro de Mórmon apresenta “Teus filhos desmaiaram, exceto esses dois …”.[59] A passagem, como está registrada no Livro de Mórmon, descreve a apostasia espiritual predominante, com exceção dos dois profetas, que seria cheio da fúria e ira do Senhor. Eles, eventualmente, seriam mortos e jazeriam na praça de Jerusalém. “Como o antílope na rede” significa que, apesar de terem sido mortos, eles continuam muito perigosos, de acordo com o ponto de vista dos sistemas religiosos e políticos de Jerusalém.[60] A Bíblia de King James em inglês diz “touros selvagens”.

João, o Revelador, forneceu mais detalhes:

“E [eu, o Senhor] darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco ….
“Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem.
“E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará.
“E jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor também foi crucificado.
“E homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações verão seus corpos mortos por três dias e meio, e não permitirão que os seus corpos mortos sejam postos em sepulcros.
“E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra.
“E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram.
“E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para aqui. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram”.[61]

Isaías prediz o fim das tribulações de Jerusalém, começando no versículo 21: “Portanto agora ouve isto, ó aflita, e embriagada, mas não de vinho”. O Livro de Mórmon apresenta “… embriagada, e não de vinho”.[62] Néfi, no Livro de Mórmon, provê uma explicação sobre os embriagados de Jerusalém “… eis que estarão embriagados de iniquidade e de toda espécie de abominações”.[63] Devido à iniquidade, Jerusalém não é mais capaz de entender a verdade, como se estivesse incapacitada pelo vinho.

Nos versículos 22 e 23, Isaías prediz o fim das tribulações de Jerusalém. O versículo 22 começa: “Assim diz o teu Senhor, Jeová, e teu Deus,[64] que pleiteará a causa do seu povo: Eis que eu tomo da tua mão o cálice do atordoamento, os sedimentos do cálice do meu furor, nunca mais dele beberás”. O Livro de Mórmon apresenta: “… eis que eu tomo das tuas mãos o cálice da vacilação, a borra do cálice do meu furor …”.[65] O Senhor declara que provações e tribulações, eventualmente, serão removidas de Jerusalém.

O versículo 23 conclui: “Porém, pô-lo-ei nas mãos dos que te entristeceram, que disseram à tua alma: Abaixa-te, e passaremos sobre ti; e tu puseste as tuas costas como chão, e como caminho, aos viandantes”. O Senhor fará com que aqueles que perseguem Jerusalém sofram tanto quanto Jerusalém.

O Livro de Mórmon inclui os primeiros dois versículos do capítulo 52 como os dois últimos versículos da citação de Jacó do capítulo 51.[66]

Os versículos 17 até 23 contêm um quiasma:

A: (17) Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém, que bebeste da mão do Senhor o cálice do seu furor;
B: bebeste e sorveste os sedimentos do cálice da vacilação.
C: (18) De todos os filhos que ela teve, nenhum há que a guie mansamente; e de todos os filhos que criou, nenhum há que a tome pela mão.
D: (19) Estes dois filhos te aconteceram; quem terá compaixão de ti?
E: A assolação, e o quebrantamento,
E: e a fome, e a espada!
D: Por quem te consolarei?
C: (20) Os teus filhos já desmaiaram, exceto esses dois; jazem nas entradas de todos os caminhos, como o antílope na rede; cheios estão do furor do Senhor e da repreensão do teu Deus”. (21) Portanto agora ouve isto, ó aflita, e embriagada, mas não de vinho. (22) Assim diz o teu Senhor, Jeová, e teu Deus, que pleiteará a causa do seu povo:
B: Eis que eu tomo da tua mão o cálice da vacilação, os sedimentos do cálice do meu furor, nunca mais dele beberás.
A: (23) Porém, pô-lo-ei nas mãos dos que te entristeceram, que disseram à tua alma: Abaixa-te, e passaremos sobre ti; e tu puseste as tuas costas como chão, e como caminho, aos viandantes.

A mensagem deste quiasma é que Jerusalém tem sofrido muito e há bebido do cálice do furor do Senhor. Dois dos profetas dos últimos dias lamentarão grandemente por Jerusalém e irá confortá-la; entretanto, ela ainda sofrerá com a fome, com a destruição e com a espada. “Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém, que bebeste da mão do Senhor o cálice do seu furor” corresponde “pô-lo-ei [o cálice da vacilação] nas mãos dos que te entristeceram”.
NOTAS

[1]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[2]. Ver Apocalipse 11:3-12 e D&C 77:15.
[3]. 2 Néfi 8:1.
[4]. Isaías 51:1, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 1b.
[5]. Abraão 1:2.
[6]. 2 Néfi 8:2.
[7]. Ver Abraão 1:2.
[8]. O versículo 3 contém um quiasma: Consolará a Sião/consolará a todos os seus lugares assolados/deserto como o Éden//solidão como o jardim do Senhor/gozo e alegria/graças, e voz de melodia.
[9]. Ver Isaías 3:16; 1:27; 18:7; 33:5; 49:14.
[10]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 447.
[11]. Doutrina e Convênios 101:18-19.
[12]. Ver Isaías 35:1 e comentário pertinente.
[13]. O versículo 4 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Atendei-me/povo meu//nação minha/inclinai os ouvidos para mim. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[14]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 54:17.
[15]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 24:15; 42:4, 10; 49:1; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[16]. Ver 3 Néfi 11:7-15.
[17]. D&C 133:8.
[18]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 3444, p. 447.
[19]. Brown, et al., 1996, Número de Strong 4414, p. 571.
[20]. 2 Néfi 8:7.
[21]. Mateus 10:27-28.
[22]. D&C 30:11.
[23]. Parry, 2001, p. 263.
[24]. Brown, et al., 1996, Número de Strong 3444, p. 447.
[25]. Ver Isaías 50:9.
[26]. Isaías 32:17.
[27]. Ver Moisés 4:1-4.
[28]. Ver Isaías 27:1.
[29]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaiah Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 2 Néfi 8/Isaías 51:1—52:2, p. 354.
[30]. Ver Josué 2:1-3; 6:17, 23.
[31]. Ver Josué 6:17, 22-23, 25.
[32]. Dicionário Bíblico—Rahab; Brown, et al., 1996, Número de Strong 7294, p. 923.
[33]. Salmos 89:10; Ver também Salmos 87:4.
[34]. Isaías 27:1.
[35]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3882, p. 531.
[36]. Ver Gênesis 3:1, 4-5, 13-14; Jó 26:13; Apocalipse 12:3-4, 7-9; 13:2-4; 20:2; 2 Néfi 2: 18; Mosias 16:3; D&C 76:28; 88:110; Moisés 4:5-10, 19-20.
[37]. 2 Néfi 8:10.
[38]. Ver Êxodo 14:21.
[39]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 35:8; 40:3; 49:11; 62:10 e comentário pertinente.
[40]. 2 Néfi 8:11.
[41]. Ver Isaías 3:16; 49:14; 51:3; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[42]. Parry et al., 1998, p. 454.
[43]. D&C 133:26-30.
[44]. Isaías 43:5-6.
[45]. Os versículos 11 e 12 contêm um quiasma: Voltarão os resgatados do Senhor/virão a Sião com júbilo/perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças//gozo e alegria alcançarão/a tristeza e o gemido fugirão/ eu, eu sou aquele que vos consola.
[46]. 2 Néfi 8:12.
[47]. Isaías 40:6-7.
[48]. Os versículos 12 e 13 contêm um quiasma Eu, eu sou aquele que vos consola/temas o homem que é mortal/filho do homem/estendeu os céus//fundou a terra/angustiador/prepara para destruir/furor do que te atribulava?
[49]. Ver Isaías 3:1 e comentário pertinente.
[50]. 2 Néfi 8:15.
[51]. Ver Êxodo 14:21.
[52]. O versículo 16 contém um quiasma: Ponho as minhas palavras na tua boca/te cubro com a sombra da minha mão/plantar os céus//fundar a terra/dizer a Sião/tu és o meu povo.
[53]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente. Ver também Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 1:27; 2:3; 4:5; 14:32; 24:23; 28:16; 31:9; 35:10; 52:7, 8; 59:20.
[54]. D&C 1:24.
[55]. 2 Néfi 8:17.
[56]. Ver Apocalipse 11:3-12.
[57]. 2 Néfi 8:19.
[58]. D&C 77:15.
[59]. 2 Néfi 8:20.
[60]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaiah Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 2 Néfi 8/Isaías 51:1—52:2, p. 356.
[61]. Apocalipse 11:3, 6-12.
[62]. 2 Néfi 8:21.
[63]. 2 Néfi 27:1
[64]. A Bíblia Sagrada, Traduzida por João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida, Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
[65]. 2 Néfi 8:22.
[66]. 2 Néfi 8:24-25.

CAPÍTULO 11: “A Terra Se Encherá Do Conhecimento Do Senhor”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

A interpretação do capítulo 11 tem sido o tema de revelação moderna. Quando Moroni apareceu pela primeira vez a Joseph Smith no dia 21 de setembro de 1823, Joseph falou que Moroni “citou o capítulo onze de Isaías, dizendo que estava prestes a ser cumprido”.[1] Esta declaração indica claramente, que os acontecimentos descritos neste capítulo são pertinentes aos últimos dias; em particular, o período precedente à Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo, bem como ao reino Milenar do Senhor aqui na Terra. Em Doutrina e Convênios Seção 113, uns companheiros do profeta Joseph Smith perguntaram-lhe sobre os versículos no capítulo 11.[2] O Senhor, falando através do profeta Joseph, deu as respostas.

O capítulo 11 pode ser dividido em quatro seções. Os versículos 1 até 9 descrevem a Segunda Vinda de Cristo e reinado milenar, os versículos 10 até 12 descrevem a coligação de Israel das diversas terras para onde foram dispersos, os versículos 13 e 14 descrevem as vitórias de Israel sobre seus vizinhos hostis, e os versículos 15 e 16 descrevem as mudanças geográficas—usadas por Isaías como metáforas para descreverem acontecimentos espirituais e políticos importantes—que virão a acontecer antes ou durante o milênio.

O tronco de Jessé, mencionado nos versículos 1 até 5, é Cristo—que julgará em retidão, não somente durante o milênio, mas também no julgamento final. A pessoa que teria o papel fundamental na restauração nos últimos dias antes do milênio foi descrita metaforicamente como um “rebento” saindo das “raízes” de Jessé, e refere-se novamente a Cristo como o “renovo”. Durante o milênio, a guerra e a inveja cessarão e o conhecimento sagrado de Deus cobrirá a Terra, como as águas cobrem o mar. Em preparação para o milênio, o Senhor levantará um estandarte e juntará Israel das diversas terras para onde foram dispersos. Néfi cita o capítulo 11 por completo; compare 2 Néfi 21. Pequenas diferenças no texto do Livro de Mórmon são apresentadas em itálico onde forem citadas. Néfi também explica os elementos deste capítulo em 2 Néfi capítulo 30.

Os versículos 1 até 9 descrevem o ministério mortal de Cristo e reinado milenar. O tronco de Jessé mencionado no versículo 1 é Cristo: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará”. A mesma metáfora é usada aqui como foi introduzida anteriormente por Isaías:[3] Quando a árvore é cortada, o tronco[4] continua a brotar. Depois da destruição e cativeiro de Israel, um renovo justo surgiria do parentesco original, mantendo intacta as bênçãos prometidas aos patriarcas antigos. Será desta ordem justa, a qual incluía os descendentes de Jessé e os herdeiros do trono de Davi, que Cristo viria. Maria, a mãe de Jesus, como também José, Seu guardião legal, eram da linhagem de Jessé.[5] Esta profecia de Isaías foi citada no Novo Testamento relacionada ao ministério Jesus Cristo.[6]

Em Doutrina e Convênios, o Senhor afirma que Cristo é o Tronco de Jessé: “Quem é o Tronco de Jessé mencionado nos versículos 1, 2, 3, 4 e 5 do capítulo 11 de Isaías?” “Em verdade, assim diz o Senhor: É Cristo”.[7]

“Um rebento” brotando do tronco de Jessé, também foi mencionado no versículo 1: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé…”. O Senhor esclarece o significado em Doutrina e Convênios: “O que é o rebento mencionado no primeiro versículo do capítulo 11 de Isaías, que brotaria do Tronco de Jessé?” “Eis que assim diz o Senhor: É um servo nas mãos de Cristo, que em parte é descendente de Jessé assim como de Efraim, ou seja, da casa de José, a quem foi dado muito poder”.[8] O “rebento” é geralmente interpretado entre os Santos dos Últimos Dias como sendo Joseph Smith, o profeta da Restauração.[9]

O título “renovo” pode ser aplicado simultaneamente a Cristo e a um líder político moderno da linhagem do Rei Davi da antiguidade, cuja retidão permitir-lhe-ia a ser guiado pelo Senhor. Jeremias, no Velho Testamento, predisse:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra.
“Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.”[10]

“O Senhor”, como foi usado nesta passagem, provavelmente significa um líder temporal. Isto se contrasta, no versículo anterior[11], com “o Senhor”, que significa Jeová. O nome deste governante Judeu nos últimos dias seria Davi, como foi predito por Ezequiel e Oséias.[12] Joseph Smith declarou profeticamente: “O trono e reino de Davi ser-lhe-á tomado [Davi da antiguidade] e dado par um outro por nome de Davi nos últimos dias, levantado de sua linhagem”.[13] Bruce R. McConkie confirmou que o renovo, bem como o rebento, é Cristo.[14]

O versículo 1 contém um quiasma reconhecido no hebraico original, que foi reconstruído aqui para combinar com a construção hebraica:[15]

A: (1) Porque brotará
B um rebento do tronco de Jessé,
B: e um renovo das suas raízes
A: frutificará.

Visto que Cristo é o “tronco de Jessé”, um renovo crescendo de “suas raízes”—ou as raízes de Jessé, ou a linhagem dos reis davídicos—pode ser que esteja referindo-se a Cristo, se os elementos do quiasma estiverem paralelos, ou pode ser que signifique outra pessoa da mesma linhagem, se os elementos do quiasma forem complementários.

Os versículos 2 e 3 descrevem a retidão de Jesus Cristo ao exercer juízo, e serve como um símbolo dos atributos cristãos do líder temporal nos últimos dias, chamado Davi, bem como Joseph Smith, o profeta da Restauração. O versículo 2 prediz: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. O pronome, “ele”, simultaneamente significa o “rebento” e o “renovo”—Joseph Smith, Cristo, e o Davi dos últimos dias.

O versículo 3 continua: “E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos”.

Versículo 4 descreve o julgamento e destruição que acontecerão na Segunda Vinda, referindo-se agora somente a Cristo: “4 Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio”. A palavra hebraica traduzida como “repreenderá com equidade” significa “decidir com justiça”.[16]

Este versículo é parafraseado por Paulo em sua segunda epístola aos Tessalonicenses: “E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda”.[17]  Paulo esclarece que tão somente o assopro da boca do Senhor matará aos iníquos.

O Senhor, ao repreender a Martin Harris por haver perdido as 116 páginas traduzidas da primeira parte do Livro de Mórmon, usou semelhantes palavras: “Portanto ordeno que te arrependas—arrepende-te, para que eu não te fira com a vara de minha boca e com minha ira e com minha cólera e teus sofrimentos sejam dolorosos—quão dolorosos tu não sabes, quão intensos tu não sabes, sim, quão difíceis de suportar tu não sabes”.[18]

O Senhor também enfatizou que os iníquos destruiriam aos iníquos em guerras que aconteceriam durante os últimos dias, antes da Sua Segunda Vinda:

“Em minha ira jurei e decretei guerras sobre a face da Terra; e o iníquo matará o iníquo e temor virá sobre todo homem;
“E os santos também mal escaparão; contudo eu, o Senhor, estou com eles e, da presença de meu Pai, descerei no céu e consumirei os iníquos com fogo inextinguível.[19]

É pelo decreto do Senhor que aconteceriam guerras, nas quais os iníquos matariam uns aos outros.

Néfi provê uma interpretação profética:

“E com justiça julgará o Senhor Deus os pobres e reprovará com equidade pelos mansos da Terra. E ferirá a Terra com a vara de sua boca; e com o sopro de seus lábios matará os ímpios.
“Pois rapidamente chegará o tempo em que o Senhor Deus fará uma grande divisão entre o povo e destruirá os iníquos; e poupará seu povo, sim, ainda que tenha que destruir os iníquos com fogo.[20]

As palavras do versículo 4 descrevem a destruição dos iníquos antes da Segunda Vinda do Senhor. Durante o milênio, guerra e inveja serão aniquiladas e o conhecimento de Deus cobrirá toda a Terra.

O versículo 4 contém um quiasma:[21]

(4) Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra;
A: e ferirá a terra
B: com a vara de sua boca,
B: e com o sopro dos seus lábios
A: matará o ímpio.

“Ferirá a terra” complementa “matará o ímpio”, indicando que o propósito do Senhor em ferir a Terra é para destruir a iniquidade entre a população humana, ao invés de infligir punição sobre a Terra em si. “A vara de sua boca” é sinônimo para “o sopro dos seus lábios”.

O versículo 5 descreve a fonte de poder de Cristo, e como um símbolo, também a de Davi dos últimos dias e do profeta da Restauração: “5 E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins”. “Lombos” e “rins” vieram da palavra hebraica que significa “cintura”.[22]

O Senhor usa palavras semelhantes para instruir os Santos dos Últimos Dias:

“Portanto uma vez que eu, o Senhor, decretei todas estas coisas sobre a face da Terra, desejo que meus santos se reúnam na terra de Sião;”E que todo homem tome a retidão em suas mãos e cinja seus lombos com a fidelidade; e aos habitantes da Terra levante uma voz de advertência e declare, tanto por palavra como por fuga, que a desolação virá sobre os iníquos.[23]

A retidão e a fidelidade são atributos cristãos que todos nós devemos emular; ao fazer isto escaparemos a desolação que virá sobre os iníquos.

Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma:

A: (3) E deleitar-se-á no temor do Senhor;
B: e não julgará segundo
C: a vista dos seus olhos,
D: nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos.
E: (4) Mas julgará com justiça os pobres,
E: e repreenderá com equidade aos mansos da terra;
D: e ferirá a terra com a vara de sua boca,
C: e com o sopro dos seus lábios
B: matará ao ímpio.
A: (5) E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.

“No temor do Senhor” corresponde à “a justiça” e “a fidelidade”, que apresentam o tema do quiasma. A palavra “Julgará” é comparada com “matará o ímpio”, provendo uma maior explicação para o uso da palavra “julgar”. “A vista dos seus olhos” corresponde à “com o sopro dos seus lábios”. “Repreenderá” no versículo 3 é equivalente à “ferirá”, e “julgará com justiça os pobres” reflete-se em “repreenderá com equidade aos mansos da terra”, que é o enfoque central do quiasma. O Senhor, ao matar o ímpio, age com equidade. Consequentemente, a destruição dos ímpios resultará em equidade e justiça para os pobres e mansos da terra.

Nos versículos 6 até 9 Isaías metaforicamente descreve a eliminação das hostilidades entre as nações em guerra, que eram inimigas já há muito tempo. As metáforas de animais—alguns predadores naturais e outros a sua presa—vivendo amigavelmente uns com os outros durante o milênio são frequentemente interpretadas literalmente, mas seriam melhor entendidas num sentido metafórico. Algumas das nações assim representadas são identificáveis; o urso pode ser a Rússia e o leão pode ser a Grã-Bretanha. A estrutura quiasmática deste versículo e seu equivalente no versículo 13 confirma que Isaías está falando metaforicamente.

Os versículos 6 até 8 apresentam as metáforas. O versículo 6 declara: “E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará”.[24] Os opostos são apresentados como contrastes literários para enfatizar as diferenças.

O versículo 7 apresenta mais contrastes literários: “A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi”.

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

A: (6) E morará o lobo com o cordeiro,
B: e o leopardo com o cabrito se deitará;
C: e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos,
D: e um menino pequeno os guiará.
C: (7) A vaca e a ursa pastarão juntas,
B: seus filhos se deitarão juntos,
A: e o leão comerá palha como o boi.

“O lobo” e “o cordeiro” correspondem ao “leão” e ao “boi”; “se deitará” corresponde à “se deitarão juntos”; a frase “o bezerro, e o filho de leão” correspondem à frase “a vaca e a ursa”; e “um menino pequeno os guiará” é a única declaração central. O significado é que o menino pequeno guiará todos os animais mencionados no quiasma.

O quiasma forma o elemento inicial num quiasma maior que inclui os versículos 6 até 13. O quiasma dos versículos 6 e 7, que contém os nomes dos animais que representam as nações em guerras e suas vítimas, complementa o quiasma do versículo 13, que descreve o fim da hostilidade entre as nações de Judá e Efraim, bem como com outros vizinhos hostis. Esta equivalência quiasmática explica a metáfora.

O versículo 8 continua, apresentando mais contrastes literários e adicionando um significado ainda mais profundo à metáfora: “E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco”. A áspide é uma cobra venenosa da família das víboras, já um basilisco é um réptil fabuloso a que se atribuía o poder de matar através do olhar, do bafo ou do contato.[25] Note o paralelismo; “a toca da áspide” é equivalente à frase “na cova do basilisco”, e “a criança de peito” é equivalente à “desmamada”. Estas comparações reforçam ainda mais a suposição de que Isaías está falando metaforicamente—o que é conhecido como prejudicial e perigo é contrastado com inocência e vulnerabilidade.

Versículo 8 contém um quiasma reconhecido no original em hebraico, e que foi reformatado aqui para combinar com a construção hebraica.[26]

A: (8) Brincará
B: a criança de peito sobre a toca da áspide,
B: e a desmamada na cova do basilisco
A: meterá a sua mão.

Este quiasma coloca palavras que aparecem como duas declarações paralelas na versão de João Ferreira de Almeida como declarações paralelas inversas, adicionando um equilíbrio poético.

No versículo 9 o Senhor descreve as condições milenar: “Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”. É o conhecimento do Senhor que terminará com a guerra e a inveja.[27] “Monte” retoricamente significa “nação”, ou domínio político.[28] Assim, no domínio do Senhor—que incluirá toda a Terra, como mostra na frase seguinte— “não se fará mal nem dano algum”.

Dallin H. Oaks declarou:

“Hoje em dia estamos assistindo a uma explosão de conhecimento a respeito do mundo e seus povos. Mas os povos do mundo não estão obtendo uma expansão de conhecimento comparável sobre Deus e o plano dele para seus filhos. Nesse assunto, o mundo necessita não é de mais erudição e tecnologia, porém de mais retidão e revelação.
“Aguardamos o dia profetizado por Isaías no qual “a terra se encherá do conhecimento do Senhor”.[29]

No Livro de Mórmon, Néfi também cita os versículos 4 até 9 em 2 Néfi capítulo 30 com pequenas variações.[30] Néfi adiciona esta explicação interessante depois da citação:

“Portanto as coisas de todas as nações se tornarão conhecidas; sim, todas as coisas serão dadas a conhecer aos filhos dos homens.
“Nada haverá secreto que não seja revelado; não haverá obra tenebrosa que não venha à luz; nada haverá selado na face da Terra que não seja descerrado.
“Portanto todas as coisas que foram reveladas aos filhos dos homens serão reveladas naquele dia; e Satanás já não terá poder sobre o coração dos filhos dos homens, por um longo tempo….”[31]

O conhecimento da verdade, revelado aos filhos dos homens, tirará eficazmente o poder de Satanás.

Ao instruir ao Santos dos Últimos Dias, o Senhor declara: “E nesse dia [o reinado milenar do Senhor], a inimizade do homem e a inimizade das bestas, sim, a inimizade de toda carne terá fim de diante de minha face”.[32] Aqui mostra bem claro que ambos elementos, literal e metafórico, da profecia de Isaías virão a se cumprir.

Os versículos 10 até 12 descrevem a coligação de Israel. Em preparação para o milênio, o Senhor levantará um estandarte e juntará Israel que foi espalhada por muitas nações. O versículo 10 refere-se a uma “raiz de Jessé”, que é um profeta mandado aos gentios nos últimos dias: “E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso”. A frase “naquele dia” significa os últimos dias, a época em que esta profecia deverá ser cumprida.[33]

O versículo 10 foi citado pelo Apóstolo Paulo, referindo-se a aceitação de Cristo pelos gentios: “Outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão”.[34] Os gentios nos últimos dias aceitariam a Cristo através da “raiz em Jessé”, proclamada por Isaías—o grande profeta da Restauração, Joseph Smith.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor deu uma maior explicação: “O que é a raiz de Jessé mencionada no versículo 10 do capítulo 11?
“Eis que assim diz o Senhor: É um descendente de Jessé, assim como de José, a quem por direito pertencem o sacerdócio e as chaves do reino, posto por estandarte e para a coligação de meu povo nos últimos dias”.[35] Estas características descrevem atributos principais da linhagem e missão profética de Joseph Smith.”[36], [37]

Joseph Smith, juntos com seus companheiros da Restauração, eram herdeiros legítimos do sacerdócio através desta linhagem. O Senhor, através de uma revelação moderna, declarou:

“Portanto assim diz o Senhor a vós, com quem o sacerdócio continuou através da linhagem de vossos pais—
“Porque sois herdeiros legais segundo a carne e fostes escondidos do mundo com Cristo, em Deus—
“Portanto vossa vida e o sacerdócio permaneceram; e é necessário que permaneçam por meio de vós e de vossa linhagem, até a restauração de todas as coisas proferidas pela boca de todos os santos profetas desde o princípio do mundo.”[38]

Foi dado a Joseph Smith, através da ministração de anjos, as chaves de vários ofícios e funções essenciais do sacerdócio como parte da Restauração. Essas ministrações angelicais incluem a ordenação ao Sacerdócio Aarônico pelas mãos de João Batista[39] e a ordenação ao Sacerdócio de Melquisedeque, inclusive ao Apostolado, pelas mãos de Pedro, Tiago e João.[40] Moisés restaurou as chaves da coligação de Israel, através de Joseph Smith numa visão gloriosa.[41] Elias restaurou o poder do selamento para unir os pais aos seus filhos de todas as gerações,[42] e Elias, o tisbita, restaurou as chaves do evangelho de Abraão pelas quais todas as futuras gerações seriam abençoadas.[43]

Joseph Smith, como o profeta de Restauração, estabeleceu um estandarte para o povo do mundo—incluindo os gentios e as tribos de Israel—onde se congregariam nos últimos dias. Numa revelação moderna, o Senhor declarou:

“Pois eis que vos digo que Sião florescerá e a glória do Senhor estará sobre ela;
“E será um estandarte para o povo e a ela virão de todas as nações debaixo do céu (ênfases adicionadas).”[44]

O profeta Leí, no Livro de Mórmon, em sua última bênção a seu filho mais novo, José, descreveu um profeta dos últimos dias que se chamaria José (Joseph).[45] Semelhantemente, Jacó—ou Israel—ao pronunciar a última bênção sobre seu filho José, profetizou sobre um profeta dos últimos dias que também se chamaria José.[46]

O versículo 11 descreve as nações de onde os remanescentes de Israel serão juntados: “E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar”. Néfi também cita a primeira parte deste versículo em 2 Néfi 25:17 e 2 Néfi 29:1.[47]

Estes nomes de países do tempo de Isaías representam lugares para onde Israel foi originalmente dispersa. Seus equivalentes no mundo atual não são estritamente relacionados às localidades mencionadas.  Por exemplo, parece que “as ilhas do mar” referem-se ao Arquipélago Grego por causa da estrutura quiasmática deste e de outros versículos, descrita abaixo. Entretanto, esta frase também refere-se às Américas, a herança dos filhos de Leí.[48]

O “estandarte”, como foi usado no versículo 10, significa uma bandeira militar, que era usada para denotar condições no campo de batalha e enviar mensagem aos combatentes.[49] Neste caso a mensagem é para se juntarem, como mostrado no versículo 12: “E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra”.[50] A palavra hebraica traduzida como “confins”, na frase final, significa “extremidades” ou “bordas”.[51]

Concernente aos versículos 11 e 12, LeGrande Richards ensinou:

“O Anjo Morôni repetiu essa mensagem ao Profeta Joseph Smith, quando este tinha apenas dezoito anos de idade, na ocasião em que o visitou três vezes em seguida, durante a noite e pela manhã, indicando que essa obra deveria ser realizada.
“Pensem na responsabilidade do Profeta Joseph naquela ocasião. Ele estabeleceu um estandarte para todas as nações e nenhuma outra igreja do mundo está fazendo pelos seus membros o que esta Igreja está fazendo, ajudando-os a progredir e, ao mesmo tempo, estabelecendo um estandarte para o mundo. Indivíduos nos procuram para saber como estamos conseguindo fazer tais coisas.”[52]

A coligação de Israel, descrita nestes versículos, seria o maior milagre feito pelo Senhor nos últimos dias, como foi testificado por Jeremias:

“Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito.
“Mas: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais.[53]

Este grande milagre é parte da obra missionária dos últimos dias, um meio pelo qual Israel será coligada.[54]

Como descrito no versículos 13 e 14, antes da Segunda Vinda do Senhor, Israel—unidas como uma só nação, ao invés de dois reinos diferentes—dominará seus vizinhos que antes eram hostis. O versículo 13 proclama: “E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim”. O Livro de Mórmon apresenta “Cessará também a inveja de Efraim”.[55]

Os versículos 6 até 13 formam um elegante quiasma:

A: (6) E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. (7) A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. (8) E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco.
B: (9) Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.
D: (10) E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé,
E: a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso. (11) E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado,
F: da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia
F: de Elão, de Sinar, de Hamate, e das ilhas de mar.
E: (12) E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel,
D: e os dispersos de Judá congregará
C: desde os quatro confins
B: da terra.
A: (13) E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim.

A declaração introdutória deste elegante quiasma se encontra nos versículos 6 e 7, que por si mesmos formam um quiasma completo e foi descrito anteriormente. Sua reflexão complementar se encontra no versículo 13, que também é outro quiasma completo. As declarações centrais são dois conjuntos de locais geográficos, dados no versículo 11. Quando os locais são colocados num mapa,[56] o padrão que Isaías tentou descrever aparece: Cada conjunto forma uma linha mais o menos reta, as duas linhas se cruzam para formar um “X”—a letra Grega chi, como na palavra “quiasma”.

O padrão planejado por Isaías é evidente quando estes oito locais geográficos são considerados em ordem. Assíria ficava ao norte da Babilônia no vale do Rio Tigre; sua capital era Nínive. Egito fica aos dois lados do Rio Nilo e seu delta fica no sudoeste da Assíria. Patros é parte do Alto Egito, localizado ao longo do Rio Nilo para o sudoeste, e Etiópia é mais ainda para o sudoeste do Egito onde viviam um povo de pele escura. Estes quatro locais formam uma linha que começa inclinando-se na direção sudoeste, mas muda para a direção mais para o sul. A segunda linha começa em Elão, que é a parte sudeste da Pérsia, ou Iran, ao sudoeste da Assíria. Sinar é a Babilônia, que fica na parte mais baixa da planície dos rios Tigre e Eufrates, ao noroeste de Elão. Hamate ainda é uma cidade importante na Síria, localizada mais ainda ao noroeste das linhas descritas. Esta cidade foi nomeada como o limite setentrional da terra prometida da Palestina.[57] As “ilhas do mar” refere-se ao Arquipélago Grego, que forma o fim da segunda linha ao noroeste.

Versículo 13 contém um quiasma:[58]

(13) E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados;
A: Efraim
B: não invejará
C: a Judá
C: e Judá
B: não oprimirá
A: a Efraim.

Este quiasma reflete a declaração introdutória do quiasma dos versículos 6 até 13. Sua relação complementar confirma que os animais nos versículos 6 e 7 são metáforas representando nações guerreiras agressoras e suas vítimas perenes. A primeira menção de “Efraim” é equivalente à segunda no final do versículo; “não invejará” é equivalente a “não oprimirá”; e “Judá” corresponde a “Judá”.

O versículo 14 descreve as vitórias da Israel unida: “Antes voarão sobre os ombros dos filisteus ao ocidente; juntos despojarão aos do oriente; em Edom e Moabe porão as suas mãos, e os filhos de Amom lhes obedecerão”. Estes vizinhos adversários do tempo de Isaías teriam outros nomes hoje.

O versículo 15 descreve mudanças que ocorrerão antes ou durante a parte inicial do Milênio: “E o Senhor destruirá totalmente a língua do mar do Egito, e moverá a sua mão contra o rio com a força do seu vento e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete correntes e fará que por ele passem com sapatos secos”. Estas mudanças—descritas por Isaías em termos geográficos—podem ser parcialmente ou totalmente metafóricas, representando mudanças políticas e sociais que facilitariam a coligação de Israel. A divisão das águas do Mar Vermelho na época de Moisés, para permitir aos Israelitas a escaparem dos exércitos egípcios, é um símbolo para o caminho estreito e apertado, no sentido espiritual. “A língua do mar do Egito” provavelmente significa o Golfo de Suez—a língua ao noroeste do Mar Vermelho, localizada entre o Egito e a Península do Sinai—que foi dividida na época de Moisés.[59] Ventos poderosos também se manifestariam, tal como nos tempos da divisão do Mar Vermelho.[60] “O rio” provavelmente significa os rios Tigre e Eufrates juntos;[61] fortes ventos ferirão os sete afluentes destes rios[62] permitindo que os homens atravessem-nos “com sapatos secos”.

Será que os ventos poderosos representam as mudanças políticas rápidas que acontecerão na terra por causa dos rios Tigre e Eufrates e seus afluentes, estabelecendo liberdade política e religiosa, e permitindo com que os homens e as mulheres daquelas nações obtenham o conhecimento verdadeiro do Plano de Salvação? Se assim for, o significado metafórico de Isaías é de que esses acontecimentos são tão importantes nos últimos dias como foi a divisão das águas do Mar Vermelho nos tempos antigos.

A destruição da língua do mar do Egito coincidirá com a coligação, como foi sugerido no versículo 16: “E haverá caminho plano para o remanescente do seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito”.[63] Outra referência semelhante a um caminho ou estrada foi feita  por Isaías, no capítulo 35, indicando que o significado é espiritual ao invés de temporal:

“E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para os remidos. Os caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão.”[64]

O “caminho” é o caminho estreito e apertado.[65] A maneira pela qual os remanescentes de Israel serão juntados nos últimos dias é com o evangelho sendo pregado a eles; eles se unirão com Sião e seu povo, e seguirão o caminho estreito e apertado. Sua identidade como herdeiros do Convênio Abraâmico ser-lhes-á revelada, e eles farão convênios com o Senhor como em tempos passados.

NOTAS

[1]. Joseph Smith—História 1:40.
[2]. Versículos 1-5, 10.
[3]. Isaías 6:13.
[4]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1503, p. 160.
[5]. Ver Mateus 1:1-16.
[6]. Ver também Isaías 7:14; 9:6; 25:9; 53:5.
[7]. Doutrina e Convênios 113:1-2.
[8]. D&C 113:3-4.
[9]. Donald W. Parry, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 21//Isaías 11”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon], Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 379-380.
[10]. Jeremias 23:5-6.
[11]. Jeremias 23:5.
[12]. Ver Ezequiel  37:21-28 e Oséias 3:4-5.
[13]. História da Igreja, v. 6, p. 253.
[14]. Bruce R. McConkie, The Promised Messiah [O Messías Prometido]: Deseret Book Co., Salt Lake City UT, 1978,  p. 192.
[15]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3198, p. 406-407.
[17]. 2 Tessalonicenses 2:8.
[18]. D&C 19:15.
[19]. D&C 63:33-34.
[20]. 2 Néfi 30:9-10.
[21]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2504, p. 323.
[23]. D&C 63:36-37.
[24]. Versículo 6 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Morará/o lobo com o cordeiro//o leopardo com o cabrito/se deitará. Em Parry, 2001, p. 259.
[25]. Basilisco Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/basilisco. Ver também Isaías 14:29; 59:5 e comentário pertinente.
[26]. Parry, Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[27]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[28]. “Monte” é retoricamente correlacionado com “nação”. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[29]. Dallin H. Oaks, “Vozes Alternativas”, A Liahona, Julho de 1989, pág. 29.
[30]. 2 Néfi 30:9, 11-15.
[31]. 2 Néfi 30:16.
[32]. D&C 101:26.
[33]. Compare Isaías 27:2.
[34]. Romanos 15:12.
[35]. D&C 113:5-6.
[36]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 172-174.
[37]. D&C 135:3.
[38]. D&C 86:8-10.
[39]. Joseph Smith—História 1:72; D&C 13:1.
[40]. Joseph Smith—História 1:72; D&C 27:12.
[41]. D&C 110:11.
[42]. D&C 110:13-16.
[43]. D&C 110:12.
[44]. D&C 64:41-42.
[45]. Ver 2 Néfi 3:6-22.
[46]. Ver Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 114-116; também JST de Gênesis 50:24-38.
[47]. Victor L. Ludlow, “Isaiah in The Book of Mormon”[ “Isaías no Livro de Mórmon”], Book of Mormon Reference Companion [Companheiro de Referências do Livro de Mórmon], Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 344.
[48]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 18:1-2 e comentário pertinente.
[49]. Ver também D&C 113:6, D&C 64:41-42 e Isaías 5:26.
[50]. Ver Isaías 5:26 e comentário pertinente.
[51]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3671, p. 489.
[52]. LeGrande Richards, “Profetas e Profecias”, A Liahona, Fevereiro de 1976, p. 43.
[53]. Jeremias 16:14-15.
[54]. Ver Isaías 18.
[55]. 2 Néfi 21:13.
[56]. Ver Mapa Bíblico 2.
[57]. Ver Números 34:8; Josué 13:5.
[58]. Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[59]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3956, p. 546; Ver Map 3, Bíblia SUD em inglês.
[60]. Ver Êxodo 14:21-22.
[61]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson interpretam “o rio” como sendo o Eufrates. Em Parry et al., Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 124-125.
[62]. Possivelmente Grande Zab, Pequeno Zab, Diyala, e Adhaim (afluentes do rio Tigre); Kara, Murat, e Khabur (afluentes do rio Eufrates).
[63]. Ver Êxodo 14:21-31 e Isaías 51:10.
[64]. Isaías 35:8. Ver Isaías 19:23; 40:14; 49:11 e comentário pertinente.
[65]. Ver 1 Néfi 8:20; Mateus 7:14 e 3 Néfi 14:14; compare 2 Néfi 9:41, 31:18, 33:9; Jacó 6:11, Helamã 3:29, 3 Néfi 27:33, e D&C 132:22.