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CAPÍTULO 47: “Eis Que Serão Como A Pragana, O Fogo Os Queimará”

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Este capítulo prediz a total destruição da Babilônia devido à iniquidade. A destruição da Babilônia antiga é um exemplo da destruição dos iníquos no tempo da Segunda Vinda de Cristo. Característico do estilo de Isaías, alguns destes acontecimentos neste capítulo referem-se à destruição da Babilônia antiga, outros referem-se à destruição da Babilônia moderna com sentido espiritual, e alguns referem-se à ambas.

Este sentido duplo é bem conhecido nas escrituras. João, o amado, ao descrever uma mulher que lhe foi mostrada em uma visão, que simbolizava as igrejas apóstatas dos últimos dias, disse:

“E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua fornicação;
“E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da Terra.
“E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração” (ênfases adicionadas).[1]

João também descreveu a subsequente destruição da Babilônia espiritual:

“E [o anjo] clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e coito de todo espírito imundo, e coito de toda ave imunda e odiável.
“Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua fornicação, e os reis da terra fornicaram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.
“E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas”.[2]

Em Doutrina e Convênios, o Senhor refere-se à Terra iníqua nos últimos dias como Babilônia:

“Não buscam o Senhor para estabelecer sua justiça, mas todo homem anda em seu próprio caminho e segundo a imagem de seu próprio deus, cuja imagem é à semelhança do mundo e cuja substância é a de um ídolo que envelhece e perecerá em Babilônia, sim, Babilônia, a grande, que cairá”.[3]

Os versículos 1 até 5 descrevem o quão a Babilônia orgulhosa seria completamente humilhada. O versículo 1 começa: “Desce, e assenta-te no pó, ó virgem filha de Babilônia; assenta-te no chão; já não há trono, ó filha dos caldeus, porque nunca mais serás chamada a tenra nem a delicada”. “Ó virgem filha” refere-se à cidade antiga; um uso semelhante se aplica a uma cidade antiga de Jerusalém.[4] “Ó virgem filha” é usado aqui devido a cidade nunca haver sido conquistada.[5] As frases “assenta-te no pó” e “assenta-te no chão” significam que a cidade antiga seria humilhada; não haveria nenhum trono simbólico para ela se sentar, e ela seria reduzida à escravidão. “Filha dos caldeus” é sinônimo com “filha de Babilônia”. O termo “caldeus”, às vezes, se aplica à classe instruída da Babilônia antiga.[6]

O versículo 2 descreve mais a humilhação da Babilônia: “Toma a mó, e mói a farinha; remove o teu véu, descalça os pés, descobre as pernas e passa os rios”. Moer a farinha com pedras de moinho era um trabalho feito pelos pobres ou servos, o qual foi delegado, aqui, à filha orgulhosa da Babilônia, cujos habitantes seriam levados à escravidão.[7] “Descalça os pés, descobre as pernas” e “remove o teu véu” todos estes comandos descrevem a complete humilhação da Babilônia—simbolizada, aqui, pela nudez, tal como uma rainha, uma vez poderosa, despida diante de seus súditos e levada à escravidão; e possivelmente sujeita a abusos sexuais. “Descobre as pernas” significa “despida” ou “expor-se através da remoção da saia”.[8] A nudez, como uma metáfora espiritual, significa sem preparação ou sem a proteção dos convênios sagrados. “Passa os rios” significa atravessar o rio Tigre ou Eufrates para entrar em países onde os poucos sobreviventes serviriam como escravos.

O versículo 3 continua a simbolização: “A tua vergonha se descobrirá, e ver-se-á o teu opróbrio; tomarei vingança, e não pouparei a homem algum”. “Tomarei vingança” explica o simbolismo. “Não pouparei a homem algum” significa que nenhum representante do exército conquistador tentaria fazer uma negociação; os conquistadores da Babilônia não estariam procurando um tratado ou acordo, mas sim a destruição.[9]

O versículo 4 interpõe: “O nosso redentor cujo nome é o Senhor dos Exércitos, é o Santo de Israel”. Aqui, Isaías explica que os justos—oprimidos tanto pelos líderes desumanos da Babilônia antiga quanto pelas iniquidades do seu homólogo moderno—buscam ao Senhor para sus libertação e redenção.

O versículo 5 descreve o desânimo da Babilônia: “Assenta-te calada, e entra nas trevas, ó filha dos caldeus, porque nunca mais serás chamada senhora de reinos”. Jamais serviria a Babilônia como a capital de impérios e reinos. “Entra nas trevas” significa “entrar em luto”, ou em exilo.[10] “Filha dos caldeus” refere-se à prática de feitiçaria e astrologia, pelas quais a Caldeia era conhecida.[11]

Os versículos 1 até 5 contêm um quiasma:

A: (1) Desce, e assenta-te no pó, ó virgem filha de Babilônia; assenta-te no chão; já não há trono,
B: ó filha dos caldeus,
C: porque nunca mais serás chamada a tenra nem a delicada.
D: (2) Toma a mó, e mói a farinha;
E: remove o teu véu, descalça os pés, descobre as pernas,
F: e passa os rios.
E: (3) A tua vergonha se descobrirá, e ver-se-á o teu opróbrio;
D: tomarei vingança, e não pouparei a homem algum. (4) O nosso redentor cujo nome é o Senhor dos Exércitos, é o Santo de Israel.
C: (5) Assenta-te calada, e entra nas trevas,
B: ó filha dos caldeus,
A: porque nunca mais serás chamada senhora de reinos.

A mensagem deste quiasma é que a Babilônia seria completamente humilhada militarmente. “Desce, e assenta-te no pó, ó virgem filha de Babilônia” é complementada por “porque nunca mais serás chamada senhora de reinos”. “Nunca mais serás chamada a tenra nem a delicada” corresponde-se com “assenta-te calada, e entra nas trevas”; e “descalça os pés, descobre as pernas” é complementada por “a tua vergonha se descobrirá, e ver-se-á o teu opróbrio”.

No versículo 6, o Senhor descreve o cativeiro e o castigo de Judá pelas mãos da Babilônia: “Muito me agastei contra o meu povo, profanei a minha herança, e os entreguei na tua mão; porém não usaste com eles de misericórdia, e até sobre os velhos fizeste muito pesado o teu jugo”.[12] “Profanei a minha herança” significa que o Senhor permitiu que os conquistadores entrassem na terra designada como a herança de Seu povo.[13] “Na tua mão” significa “sob Seu controle”. Os conquistadores não mostraram à Judá apóstata nenhuma misericórdia—nem mesmo aos idosos, que normalmente eram respeitados e honrados. Apesar do Senhor ter permitido com que a Babilônia antiga conquistasse Judá e levasse o seu povo cativo, Ele faria a Babilônia responsável por sua crueldade e injustiça.

No versículo 7, a Babilônia não leva a sério as advertências dadas: “E disseste: Eu serei senhora para sempre; até agora não te importaste com estas coisas, nem te lembraste do fim delas”. O “fim delas” refere-se à destruição da Babilônia—tanto da cidade antiga quanto seu homólogo moderno. “Eu serei senhora para sempre” revela que a Babilônia pensava ser autossuficiente e indica um grande prazer ao assumir o papel de senhora ou amante.[14]

Nos versículos 8 e 9, o Senhor adverte a Babilônia. O versículo 8 começa: “Agora, pois, ouve isto, tu que és dada a prazeres, que habitas tão segura, que dizes no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos”. A Babilônia ignora as consequências inevitáveis dos injustos.[15] “Que habitas tão segura” significa “viver despreocupadamente”. “Eu sou, e fora de mim não há outra” caracteriza a rejeição completa por parte da Babilônia de Deus e a negação de sua existência;[16] “eu sou” é o significado hebraico do nome “Jeová”.[17]A própria Babilônia assume o papel de Deus.

O versículo 9 continua: “Porém ambas estas coisas virão sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez; em toda a sua plenitude virão sobre ti, por causa da multidão das tuas feitiçarias, e da grande abundância dos teus muitos encantamentos”.[18] “Perda de filhos” e “viuvez” simboliza a destruição dos habitantes da Babilônia, deixando a cidade desolada. A destruição viria sobre a cidade antiga—e sobre seu homólogo moderno—repentinamente.

O versículo 10 elabora a acusação da Babilônia pelo Senhor: “Porque confiaste na tua maldade e disseste: Ninguém me pode ver; a tua sabedoria e o teu conhecimento, isso te fez desviar, e disseste no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra”. O conhecimento secular enganaria a Babilônia moderna; o existencialismo é abundante; ela até nega a existência de Deus. Suas combinações secretas, entretanto, não estarão ocultas para o Senhor.

O versículo 11 continua: “Portanto sobre ti virá o mal, sem que saibas a sua origem, e tal destruição cairá sobre ti, sem que a possas evitar; e virá sobre ti de repente desolação que não poderás conhecer”. “O mal” é traduzido da palavra hebraica que significa “miséria” ou “calamidade”.[19] Devido à iniquidade, calamidades sobreviriam a Babilônia sem que suas origens fossem conhecidas.

O livro de Doutrina e Convênios coloca estes acontecimentos preditos num contexto moderno, relacionados com a Babilônia espiritual dos últimos dias e sua destruição:

Portanto o Pai decretou que serão reunidos em um mesmo local na face desta terra, a fim de preparar-lhes o coração e para que estejam prontos em todas as coisas para o dia em que tribulações e desolações forem enviadas sobre os iníquos.[20]

O versículo 12 descreve mais abominações da Babilônia, tanto da antiga quanto da moderna: “Deixa-te estar com os teus encantamentos, e com a multidão das tuas feitiçarias, em que trabalhaste desde a tua mocidade, a ver se podes tirar proveito, ou se porventura te podes fortalecer”. O Senhor desafia os iníquos a testarem seus encantamentos e feitiçarias; isto provará sua ineficácia de protegê-los nos tempos de calamidades.

Os versículos 9 até 12 contêm um quiasma:

(9) Porém ambas estas coisas virão sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez;
A: em toda a sua plenitude virão sobre ti, por causa da multidão das tuas feitiçarias,
B: e da grande abundância dos teus muitos encantamentos.
C: (10) Porque confiaste na tua maldade
D: e disseste: Ninguém me pode ver;
E: a tua sabedoria
E: e o teu conhecimento, isso te fez desviar,
D: e disseste no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra.
C: (11) Portanto sobre ti virá o mal, sem que saibas a sua origem, e tal destruição cairá sobre ti, sem que a possas evitar; e virá sobre ti de repente desolação que não poderás conhecer.
B: (12) Deixa-te estar com os teus encantamentos,
A: e com a multidão das tuas feitiçarias, em que trabalhaste desde a tua mocidade, a ver se podes tirar proveito, ou se porventura te podes fortalecer.

Neste quiasma, as razões para a destruição da Babilônia são apresentadas. A Babilônia deleitava-se em feitiçarias e combinações secretas; a Babilônia foi pervertida pela sua sabedoria e o seu conhecimento. “Porque confiaste na tua maldade” é complementado por “portanto sobre ti virá o mal”; “disseste: Ninguém me pode ver” corresponde à “Eu sou, e fora de mim não há outra”. A Babilônia nega a existência de Deus; por conseguinte, ela pensa que suas combinações secretas e iniquidades estão ocultas.

Néfi, prevendo nossa época, falou sobre as combinações secretas que abundariam na Terra:

“E há também combinações secretas, como nos tempos passados, segundo as combinações do diabo, pois ele é o fundador de todas estas coisas; sim, o fundador do homicídio e das obras de trevas; sim, e guia-os pelo pescoço com um cordel de linho, até amarrá-los para sempre com suas cordas fortes”.[21]

O versículo 13 repete o desafio: “Cansaste-te na multidão dos teus conselhos; levantem-se pois agora os agoureiros dos céus, os que contemplavam os astros, os prognosticadores das luas novas, e salvem-te do que há de vir sobre ti”. Essas práticas abomináveis não seriam de nenhuma ajuda para salvar a Babilônia da destruição, nem mesmo para dar-lhe uma advertência.

Os versículos 11 até 13 contêm um quiasma:

(11) Portanto sobre ti virá o mal, sem que saibas a sua origem, e tal destruição cairá sobre ti, sem que a possas evitar;
A: e virá sobre ti de repente desolação que não poderás conhecer.
B: (12) Deixa-te estar com os teus encantamentos,
C: e com a multidão das tuas feitiçarias,
D: em que trabalhaste desde a tua mocidade,
E: a ver se podes tirar proveito,
E: ou se porventura te podes fortalecer.
D: (13) Cansaste-te
C: na multidão dos teus conselhos;
B: levantem-se pois agora os agoureiros dos céus, os que contemplavam os astros, os prognosticadores das luas novas,
A: e salvem-te do que há de vir sobre ti.

A prática de astrologia e encantamento pela Babilônia não seria de nenhuma ajuda para ela na época de desolação. “Virá sobre ti de repente desolação” corresponde “do que há de vir sobre ti”; “deixa-te estar com os teus encantamentos” complementa “levantem-se pois agora os agoureiros dos céus, os que contemplavam os astros, os prognosticadores das luas novas”.

O versículo 14 descreve a destruição da Babilônia moderna: “Eis que serão como a pragana, o fogo os queimará; não poderão salvar a sua vida do poder das chamas; não haverá brasas, para se aquentar, nem fogo para se assentar junto dele”. “Pragana” significa “restolho; ou, prolongamento rígido de uma planta”.[22] O fogo da destruição consumirá todo o combustível disponível, deixando os poucos sobreviventes sem meios de acalentarem-se ou de terem luz. O fogo destruirá completamente os iníquos.[23]

O versículo 14 contém um quiasma:

A: (14) Eis que serão como a pragana, o fogo os queimará;
B: não poderão salvar a sua vida
C: do poder das chamas;
B: não haverá brasas, para se aquentar,
A: nem fogo para se assentar junto dele.

Os ímpios da Babilônia serão consumidos pelo fogo, enquanto que os que sobreviverem a queima serão deixados desolados e com frio. “O fogo os queimará” contrasta-se com “nem fogo para se assentar junto dele”. “Não poderão salvar a sua vida” contrasta-se com “não haverá brasas, para se aquentar”.

O versículo 15 prediz que os negociantes do mundo que fizeram negócios com a Babilônia, participando de suas iniquidades, abandoná-la-iam no tempo de sua destruição: “Assim serão para contigo aqueles com quem trabalhaste, os teus negociantes desde a tua mocidade; cada qual irá vagueando pelo seu caminho; ninguém te salvará”.[24]

NOTAS

[1]. Apocalipse 17:4-6.
[2]. Apocalipse 18:2-4.
[3]. Doutrina e Convênios 1:16.
[4]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente; também Isaías 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11.
[5]. Isaías 47:1, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 1c.
[6]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 409.
[7]. Isaías 47:2, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 2a.
[8]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2834, p. 362.
[9]. Isaías 47:3, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 3a.
[10]. Brown, et al.,1996, Número de Strong 2822, p. 365.
[11]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 395.
[12]. O versículo 6 contém um quiasma: Me agastei/profanei a minha herança//tua mão/não usaste com eles de misericórdia/o teu jugo.
[13]. Isaías 47:6, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 6a.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1404, p. 150; Ver também Isaías 47:7, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 7a.
[15]. Isaías 47:8, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 8b.
[16]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 410.
[17]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3068, p. 217-218.
[18]. Os versículos 8 e 9 contêm um quiasma: Viúva/perda de filhos/ambas estas coisas//num momento, no mesmo dia/perda de filhos/viuvez.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7451, p. 948.
[20]. D&C 29:8.
[21]. 2 Néfi 26:22.
[22]. Pragana Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/pragana.
[23]. Ver Isaías 1:7, 28; 64:1-2, 11; 66:15-16 e comentário pertinente.
[24]. O versículo 15 contém um quiasma: Assim serão para contigo/com quem trabalhaste/teus negociantes//desde a tua mocidade/cada qual irá vagueando/ninguém te salvará.

CAPÍTULO 14: “Como Já Cessou O Opressor, Como Já Cessou A Cidade Dourada!”

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O capítulo 14, que continua a predição da destruição da Babilônia, que começou no capítulo 13, contém cinco partes. A primeira, abrangendo os versículos 1 até 3, proclama a misericórdia do Senhor sobre Israel, que será reunida e desfrutará de um descanso milenar. A segunda parte, compreendendo os versículos 4 até 11, prediz a derrota e a desonra do rei da Babilônia; e a terceira parte, abrangendo os versículos 12 até 23, compara o rei da Babilônia com Lúcifer, que foi expulso dos céus por causa de sua rebelião. A quarta parte, do versículo 24 até ao versículo 27, prediz e promete que o Senhor livrará Seu povo dos agressores assírios; e a quinta parte, abrangendo os versículos 28 até 32, prediz a destruição da Palestina. Esta profecia refere-se tanto à Babilônia antiga quanto à Babilônia dos últimos dias, isto é, o mundo pecador antes da Segunda Vinda do Senhor. Néfi cita este capítulo por completo com variações em diversos versículos. Compare 2 Néfi 24.

Nos versículos 1 até 3 Isaías proclama a misericórdia do Senhor sobre Israel, que será reunida e desfrutará de um descanso milenar. O versículo 1 declara: “Porque o SENHOR se compadecerá de Jacó, e ainda escolherá a Israel e os porá na sua própria terra; e ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros, e se achegarão à casa de Jacó”. “Estrangeiros” é traduzida de uma palavra hebraica que significa “peregrinos”.[1] Os prosélitos que não faziam parte do Convênio Abraâmico, mas que receberiam a religião verdadeira nos últimos dias, também ajudarão a cumprir o Convênio Abraâmico.[2]

O versículo 2 começa: “E os povos os receberão, e os levarão aos seus lugares” ― O Livro de Mórmon adiciona uma frase aqui: Sim, desde os confins da Terra; e voltarão para suas terras de promissão”.[3] A versão de João Ferreira de Almeida continua: “e a casa de Israel os possuirá por servos, e por servas, na terra do Senhor; e cativarão aqueles que os cativaram, e dominarão sobre os seus opressores”. Este versículo prediz a coligação dos remanescentes de Israel nos últimos dias; eles nunca mais seriam oprimidos, mas reinariam sobre os seus opressores.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Porque o SENHOR se compadecerá de Jacó,
B: e ainda escolherá a Israel e os porá na sua própria terra;
C: e ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros,
D: e se achegarão à casa de Jacó.
E: (2) E os povos os receberão,
E: e os levarão aos seus lugares; Sim, desde os confins da Terra; e voltarão para suas terras de promissão.
D: e a casa de Israel
C: os possuirá
B: por servos e por servas, na terra do Senhor; e cativarão aqueles que os cativaram,
A: e dominarão sobre os seus opressores.

“O Senhor se compadecerá de Jacó” é complementado por “dominarão os seus opressores”, isto é, através da compaixão do Senhor Jacó dominará os seus opressores. “Os porá na sua própria terra” compara-se com “na terra do Senhor”. A terra prometida aos filhos de Israel é mencionada como sendo a terra do Senhor. “E ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros” complementa “os possuirá”, mostrando que seus antigos opressores serão servos dos filhos de Israel. “A casa de Jacó” é equivalente à “casa de Israel”; “os receberão” corresponde à frase “os levarão aos seus lugares”. Israel voltará à sua própria terra, tendo ganho a vitória sobre seus opressores. Os antigos opressores de Israel, que se uniriam à casa de Jacó, tornar-se-iam seus servos.

O versículo 3 continua: “E acontecerá que no dia em que o Senhor vier a dar-te descanso do teu sofrimento, e do teu pavor, e da dura servidão com que te fizeram servir” —[4] O versículo seguinte continua a sentença, mas o assunto muda.

Os versículos 4 até 11 predizem a derrota e desonra do rei da Babilônia. O versículo 4 continua a sentença iniciada no versículo 3: “Então proferirás este provérbio contra o rei da Babilônia, e dirás: Como já cessou o opressor, como já cessou a cidade dourada!” “Provérbio” significa “sentença moral” ou “poema”.[5] O Livro de Mórmon adiciona: “E acontecerá naquele dia”, no começo deste versículo,[6] indicando que pelo menos algumas das profecias seriam cumpridas nos últimos dias. O “provérbio” ou “poema” abrange os versículos 4 até 21.

O versículo 5 declara, “Já quebrantou o Senhor o bastão dos ímpios e o cetro dos dominadores”. O Livro de Mórmon usa “os cetros dos governantes”.[7] O paralelismo nesta sentença leva-nos à conclusão de que os governantes derrotados, tornaram-se tão iníquo, que o Senhor destruiu seus regimes corruptos.

O versículo 6 continua: “Aquele que feria aos povos com furor, com golpes incessantes, e que com ira dominava sobre as nações agora é perseguido, sem que alguém o possa impedir”. “Com golpes incessantes” significa que este governante iníquo infligiria continuamente dores e lesões sobre o povo. Esta declaração descreve a iniquidade tanto do rei da Babilônia antiga quanto de seu equivalente moderno.

O versículo 7 descreve as condições depois da derrota do tirano: “Já descansa, já está sossegada toda a terra; rompem cantando”. O Livro de Mórmon apresenta: “…eles rompem em cânticos”. Ninguém lamenta a perda deste tirano.

O versículo 8 usa uma metáfora com árvores[8] para descrever o grande alívio dos governantes das nações menores: “Até as faias se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano, dizendo: Desde que tu caíste ninguém sobe contra nós para nos cortar”. O Livro de Mórmon apresenta: “…e também os cedros do Líbano, dizendo: Desde que tu caíste, nenhum lenhador subiu contra nós”.[9] “Faias” é traduzida de uma palavra hebraica que significa “cipreste”, “zimbro”, “abeto” ou “pinheiro”.[10]

Esta metáfora foi usada antes por Isaías, no capítulo 2:

“Porque o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido;
“E contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã.”[11]

Note que a primeira sentença provê a interpretação da metáfora.

O versículo 9 continua a retórica dos líderes das nações menores: “O inferno desde o profundo se turbou por ti, para te sair ao encontro na tua vinda; despertou por ti os mortos, e todos os chefes da terra, e fez levantar dos seus tronos a todos os reis das nações”.

“Inferno” foi traduzido da palavra hebraica sheol, que significa o mundo dos espíritos que partiram.[12] O significado original desta palavra não tinha uma conotação de punição.

No versículo 10, os príncipes da terra continuam a zombar do rei da Babilônia: “Estes todos responderão, e te dirão: Tu também adoeceste como nós, e foste semelhante a nós”.

Os versículos 8 até 10 contêm um quiasma:

A: (8) Até as faias se alegram sobre ti,
B: e os cedros do Líbano, dizendo:
C: Desde que tu caíste nenhum lenhador sobe contra nós para nos cortar.
D: (9) O inferno desde o profundo se turbou por ti,
E: para sair ao teu encontro
E: na tua vinda;
D: despertou por ti os mortos, e todos os chefes da terra,
C: e fez levantar dos seus tronos
B: a todos os reis das nações.
A: (10) Estes todos responderão, e te dirão: Tu também adoeceste como nós, e foste semelhante a nós.

“Até as faias se alegram sobre ti” corresponde à “Estes todos [os reis] responderão, e te dirão”. A frase “Os cedros do Líbano” é equivalente à frase “reis das nações”; observe a chave dada aqui por Isaías para se entender o simbolismo das árvores, que representam os reis das nações. “Desde que tu caíste” contrasta-se com “fez levantar”; “o inferno desde o profundo se turbou por ti” complementa “despertou por ti os mortos”; e “sair ao teu encontro na tua vinda” forma o enfoque do quiasma. Os governantes das nações, que estavam sendo ameaçados pelo o rei da Babilônia, se alegraram com sua morte.

A zombaria dos príncipes contra o rei da Babilônia, continua no versículo 11: “Já foi derrubada na sepultura a tua soberba com o som das tuas violas; os vermes debaixo de ti se estenderão, e os bichos te cobrirão”. O Livro de Mórmon apresenta “o som dos teus alaúdes não é ouvido”.[13]

Os versículos 12 até 23 comparam o rei da Babilônia a Lúcifer, que foi expulso dos céus por sua rebelião. Esta profecia não só se refere ao antigo rei da Babilônia; haverá um equivalente moderno que ainda não foi manifestado. Este equivalente moderno estará determinado a avançar os propósitos de Satanás, tanto quanto o antigo rei da Babilônia.

O versículo 12 é um lamento profético: “Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!” O rei da Babilônia foi comparado aqui a Lúcifer, o filho da manhã decaído. “Lúcifer” vem de uma palavra hebraica que significa “portador da luz” ou “estrela da manhã”;[14] portanto o nome “Lúcifer” descreve a alta posição no mundo pré-mortal de onde ele caiu por rebeldia, para chegar a ser Satanás. A morte de Lúcifer foi espiritual, já a do rei da Babilônia foi física.

Foi mostrado numa grande visão a Joseph Smith e a Sidney Rigdon o decaído Lúcifer e a origem de Satanás:

“E isto também vimos e testificamos: Que um anjo de Deus, que possuía autoridade na presença de Deus, que se rebelou contra o Filho Unigênito, a quem o Pai amava e que estava no seio do Pai, foi expulso da presença de Deus e do Filho,
“E foi chamado Perdição, porque os céus prantearam por ele—ele era Lúcifer, um filho da manhã.
“E olhamos, e eis que ele caiu! Caiu, ele, um filho da manhã![15]

Os versículos 11 e 12 contêm um quiasma:

A: (11) Já foi derrubada
B: na sepultura a tua soberba com o som das tuas violas não é ouvido;
C: os vermes debaixo de ti se estenderão,
C: e os bichos te cobrirão.
B: (12) Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva!
A: Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!

Neste quiasma a expulsão de Lúcifer dos céus é um símbolo da morte do rei da Babilônia. “Já foi derrubada” é equivalente a “foste cortado por terra”; “na sepultura a tua soberba” corresponde à “como caíste desde o céu”; e a frase “os vermes debaixo de ti se estenderão” corresponde-se à frase “os bichos te cobrirão”. Como já foi mencionado, a morte de Lúcifer foi espiritual; a do rei da Babilônia foi física.

O versículo 12 contém um quiasma:

A: (12) Como caíste desde o céu,
B: ó Lúcifer,
B: filho da alva!
A: Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!

“Como caíste desde o céu” é equivalente à “como foste cortado por terra”; note que a primeira frase refere-se a Lúcifer, mas a frase equivalente refere-se ao rei da Babilônia. “Lúcifer” é um sinônimo para “filho da alva!”, dando a definição do nome.  Lúcifer era um dos filhos espirituais mais velhos do Pai Celestial, e desfrutava de grande honra e poder no mundo pré-mortal, antes da sua queda ignominiosa. Da mesma maneira, o rei da Babilônia desfrutou de grande glória e honra antes de sua morte.

Os versículos 13 e 14 continua o “provérbio”, ou uma expressão com fundo moral, descrevendo a arrogância e rebelião de Lúcifer. O versículo 13 declara: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte”. De acordo com as crenças Babilônicas, o norte era o lugar onde habitavam os deuses.[16] A ambição cega de Lúcifer é um símbolo para a do rei da Babilônia.

O versículo 14 continua: “Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”. Tanto Lúcifer quanto o rei da Babilônia procuraram exaltar a si mesmos, e serem como Deus.

Foi mostrado também a Joseph Smith e a Sidney Rigdon a rebelião e a hostilidade de Satanás para com os santos de Deus: “…vimos Satanás, aquela antiga serpente, sim, o diabo, que se rebelou contra Deus e procurou tomar o reino de nosso Deus e seu Cristo—Portanto ele faz guerra aos santos de Deus e cerca-os”.[17]

O Senhor explica com mais detalhes:

“Mas eis que em verdade vos digo: Antes que passe a Terra, Miguel, meu arcanjo, soará sua trombeta e então todos os mortos despertarão, pois suas sepulturas serão abertas e eles surgirão—sim, todos.
“E os justos serão reunidos a minha direita para a vida eterna; e os iníquos a minha esquerda, envergonhar-me-ei de reivindicar perante o Pai;
“Portanto eu lhes direi: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.
“E agora, eis que vos digo que nunca, em tempo algum, declarei de minha própria boca que eles voltariam, pois onde eu estou eles não podem vir, porque não têm poder.
“Lembrai-vos, porém, de que aos homens não são dados todos os meus juízos; e assim como as palavras saíram de minha boca, assim serão cumpridas, para que os primeiros sejam os últimos e para que os últimos sejam os primeiros em todas as coisas que eu criei pela palavra de meu poder, que é o poder de meu Espírito.”[18]

Os versículos 13 e 14 contêm um quiasma:

A: (13) E tu dizias no teu coração: Eu subirei
B: ao céu;
C: acima das estrelas de Deus
D: exaltarei
D: o meu trono,
C: e no monte da congregação me assentarei,
B: aos lados do norte.
A: (14) Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.

“Eu subirei” corresponde à frase “subirei sobre as alturas das nuvens”; “ao céu” comparara-se com a frase “aos lados do norte”; e “acima das estrelas de Deus” reflete-se “no monte da congregação”. O enfoque e sua reflexão são “exaltarei” e “o meu trono”. Os desejos de Lúcifer de “subir ao céu” e exaltar o seu trono “acima das estrelas de Deus” é semelhante ao desejo do rei da Babilônia de assentar-se “no monte da congregação” “nas extremidades do norte”. Para ambos, o maior desejo era o de subir “acima das alturas das nuvens”, e ser “semelhante ao Altíssimo”. Para cada um deles, o que lhes motivavam grandemente era a obtenção de um poder incomparável.

Revelações modernas proveem detalhes adicionais a respeito da queda de Lúcifer:

“E Eu, o Senhor Deus, falei a Moisés, dizendo: Aquele Satanás a quem tu deste ordem em nome de meu Unigênito é o mesmo que existiu desde o princípio; e ele apresentou-se perante mim, dizendo: Eis-me aqui, envia-me; serei teu filho e redimirei a humanidade toda, de modo que nenhuma alma se perca; e sem dúvida eu o farei; portanto dá-me a tua honra.
“Mas eis que meu Filho Amado, que foi meu Amado e meu Escolhido desde o princípio, disse-me: Pai, faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre.
“Portanto, por ter Satanás se rebelado contra mim e procurado destruir o arbítrio do homem, o qual eu, o Senhor Deus, lhe dera; e também por querer que eu lhe desse meu próprio poder, fiz com que ele fosse expulso pelo poder do meu Unigênito.
“E ele tornou-se Satanás, sim, o próprio diabo, o pai de todas as mentiras, para enganar e cegar os homens e levá-los cativos segundo sua vontade, sim, todos os que não derem ouvidos a minha voz.[19]

Elder Joseph Anderson explicou esta passagem:

“Dá à entender que visto que na existência pré-mortal, naquele estado espiritual, os espíritos tiveram seu livre arbítrio, havia diferentes graus de obediência lá, diversos graus de retidão. Lúcifer exerceu seu livre arbítrio quando rebelou-se contra o Pai, mas teve que pagar as consequências de sua rebelião e ainda está pagando, bem como aqueles espíritos que o seguiram. Foi-lhes negado o privilégio de tomarem sobre si a mortalidade, e isto tem sido uma grande maldição e desapontamento para eles.”[20]

Continuando com o versículo 15, o rei da Babilônia e seu equivalente moderno são ainda mais menosprezados: “E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo”.

Os versículos 13 até 15 contêm um quiasma:

(13) E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação
A: me assentarei, aos lados do norte.
B: (14) Subirei sobre as alturas das nuvens,
C: e serei semelhante ao Altíssimo.
C: (15) E contudo levado
B: serás [levado] ao inferno
A: [levado] ao mais profundo do abismo.

Os elementos emparelhados deste quiasma formam uma série de contrastes literários. “Aos lados do norte” contrasta-se com “ao mais profundo do abismo”. “Subirei sobre as alturas das nuvens” é o oposto de “serás [levado] ao inferno”, e “serei semelhante ao Altíssimo” contradiz “contudo levado”. O lado ascendente do quiasma descreve as ambições altivas, mas malévolas que caracterizavam tanto a Lúcifer quanto ao rei da Babilônia; o lado descendente revela o resultado ignominioso.

Os versículos 16 e 17 apresentam uma pergunta retórica. O versículo 16 declara: “Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos?” Esta declaração refere-se ao decaído rei da Babilônia e seu equivalente moderno. “Contemplarão” foi traduzido de uma palavra hebraica que significa “olhar atentamente”.[21]

O versículo 17 completa a pergunta retórica que começou no versículo 16: “Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos?” Este tirano destruiu cidades, tomou cativos, e despovoou muitas terras. Temor, ou terror, foi a influência preeminente exercida pelo déspota destronado.

Os versículos 18 e 19 contrastam o tratamento do derrotado rei da Babilônia com os sepultamentos dos reis. O versículo 18 começa: “Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada”. O Livro de Mórmon substitui “…sim, todos eles…”.[22] “Sua morada” significa “a sepultura de sua família”.[23]

O versículo 19 continua a comparação: “Porém tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada, como os que descem ao covil de pedras, como um cadáver pisado”. O Livro de Mórmon apresenta “…como um ramo abominável…”.[24] “Ramo abominável” significa “um ramo rejeitado, podado e desprezado”.[25]

O versículo 20 revela a razão para tal desonra: “Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada”.

Os versículos 17 até 20 contêm um quiasma:

A: (17) Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos? (18) Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada.
B: (19) Porém tu és lançado da tua sepultura,
C: como um renovo abominável,
D: como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada,
D: como os que descem ao covil de pedras,
C: como um cadáver pisado.
B: (20) Com eles não te reunirás na sepultura;
A: porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada.

“Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades?” complementa “destruíste a tua terra e mataste o teu povo”; “tu és lançado da tua sepultura” é esclarecido pela frase “com eles não te reunirás na sepultura”. “Como um renovo abominável” é o mesmo que “como um cadáver pisado”; e a frase “como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada” complementa “como os que descem ao covil de pedras”, que forma o enfoque do quiasma.

O versículo 21 continua: “Preparai a matança para os seus filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e nem possuam a terra, e encham a face do mundo de cidades”.[26] O Livro de Mórmon apresenta “…por causa da iniquidade de seus pais…”.[27] Não só seria destruído o rei da Babilônia e seu corpo profanado, mas seus filhos seriam abatidos também, para evitar que outra geração subisse ao poder e continuassem esse regime injusto.[28] O tratamento divinamente mandatados para este tirano e seus herdeiros é de exterminação, para prevenir a ascensão de outra dinastia injusta.

O Senhor está envolvido nesta atrocidade aparentemente cruel, como foi explicado no versículo 22: “Porque me levantarei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos, e extirparei da Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o SENHOR”.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) Preparai a matança para os seus filhos
B: por causa da maldade de seus pais,
C: para que não se levantem,
D: e nem possuam a terra,
D: e [nem] encham a face do mundo de cidades.
C: (22) Porque me levantarei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos,
B: e extirparei da Babilônia
A: o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o SENHOR.

“Os seus filhos” complementa “o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto”, provendo uma explicação mais ampla. “Maldade de seus pais” compara-se com “Babilônia”. Este significado simbólico é bem conhecido, mas aqui Isaías estabelece a conotação através da estrutura do quiasma. “Para que não se levantem” contrasta-se com “me levantarei contra eles”, que descreve o propósito do Senhor para a destruição decretada. “Nem possuam a terra” contrasta-se com “encham a face do mundo de cidades”, que forma o enfoque do quiasma e descreve a mensagem intencionada.

O versículo 23 relembra-nos de que a Babilônia nunca mais seria habitada: “E farei dela uma possessão de ouriços e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos”.[29] “Ouriço” é o fruto da castanha, constituído por uma cápsula espinhosa com uma semente dentro.[30]  “Ouriço” foi traduzido de uma palavra hebraica que significa “porco-espinho”.[31]

A quarta parte deste capítulo, abrangendo os versículos 24 até 27, representa uma mudança brusca de assunto. Predizendo e prometendo que o Senhor livrará Seu povo dos agressores assírios. Isaías predisse este acontecimento antes, no capítulo 10.[32] O antigo cumprimento desta profecia está registrado em 2 Reis 18 e 19 e em Isaías 36 e 37.

Os versículos 24 e 25 descrevem a destruição dos assírios. O versículo 24 começa: “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará”. O Senhor jura que será como Ele pensou e planejou, que Ele derrotaria os exércitos dos assírios.

O versículo 25 continua: “Quebrantarei a Assíria na minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros”.[33] O Livro de Mórmon substitui “quebrantarei” por trarei.[34] “Na minha terra, e nas minhas montanhas” significa que isto aconteceria em Judá;[35] além disso, este acontecimento terminaria com a subordinação de Judá à Assíria.

O cumprimento desta profecia ocorreu quando 185.000 homens dos exércitos assírios foram destruídos durante a noite por um anjo do Senhor, enquanto eles estavam sitiando a cidade de Jerusalém:

“Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram cadáveres.
“Então Senaqueribe, rei da Assíria, partiu, e se foi, e voltou e ficou em Nínive.
“E sucedeu que, estando ele prostrado na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada; porém eles escaparam para a terra de Ararate; e Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar.”[36]

O versículo 26: “Este é o propósito que foi determinado sobre toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações”. “O propósito” é que, eventualmente, todas as nações do mundo serão derrotadas desta forma.[37] Este acontecimento, apesar de haver sido cumprido no passado, é também um símbolo para acontecimentos semelhantes nos últimos dias.

O versículo 27 reafirma a vontade do Senhor mencionada no versículo 24: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?”[38] O Livro de Mórmon omite “o” e diz: “…e quem invalidará?”[39]

A parte final deste capítulo, abrangendo os versículos 28 até 32, prediz a destruição da Palestina. O versículo 28 afirma: “No ano em que morreu o rei Acaz, foi dada esta sentença”. Uma sentença, como foi traduzido do hebraico, é uma mensagem de condenação para o povo.[40] O ano em que morreu o rei Acaz foi mais ou menos em 730 a.C.[41]

Durante um certo período de tempo os filisteus estavam subjugados por Judá; entretanto, no versículo 29, os filisteus são advertidos à não se regozijarem na derrota prevista de Judá: “Não te alegres, tu, toda a Filístia, por estar quebrada a vara que te feria” ― O Livro de Mórmon diz: “Não te alegres tu, Palestina toda” …[42] “Palestina” vem de uma palavra hebraica que significa “terra dos filisteus” ou “terra dos estrangeiros”.[43] Continuando: “porque da raiz da cobra sairá um basilisco, e o seu fruto será uma serpente ardente, voadora”, que significa que apesar do fato de que Judá seria subjugada e eventualmente destruída, os subsequentes opressores da Filístia tornar-se-iam progressivamente piores, resultando finalmente em sua destruição. Portanto, a Filístia não teria nenhuma razão para regozijar-se com a destruição de Judá.

O versículo 30 continua: “E os primogênitos dos pobres serão apascentados, e os necessitados se deitarão seguros; porém farei morrer de fome a tua raiz, e ele matará os teus sobreviventes”.[44] Apesar da predita destruição de Judá pelas mãos do rei da Babilônia, ela seria novamente estabelecida; seus pobres e necessitados seriam cuidados por bons governantes. Por outro lado, a iníqua Palestina será aniquilada: “morrer de fome a tua raiz, e ele matará os teus sobreviventes”. “Raiz” significa ancestrais; “sobreviventes” significa descendentes. Quem está falando aqui é Jeová; os exércitos invasores agiriam como representantes para cumprir a vontade do Senhor.

Continuando no versículo 31: “Dá uivos, ó porta, grita, ó cidade; tu, ó Filístia, estás toda derretida; porque do norte vem uma fumaça, e não haverá quem fique sozinho nas suas convocações”. O Livro de Mórmon apresenta: “…ninguém ficará solitário no tempo que lhe foi designado”. A última frase neste versículo, “não haverá quem fique sozinho nas suas convocações”, revela que esta “fumaça” é um exército bem disciplinado, que avançará do norte.

Os versículos 29 até 31 contêm um quiasma:

A: (29) Não te alegres, tu, toda a Filístia, por estar quebrada a vara que te feria;
B: porque da raiz da cobra sairá um basilisco, e o seu fruto será uma serpente ardente, voadora.
C: (30) E os primogênitos dos pobres serão apascentados,
C: e os necessitados se deitarão seguros;
B: porém farei morrer de fome a tua raiz, e ele matará os teus sobreviventes.
A: (31) Dá uivos, ó porta, grita, ó cidade; tu, ó Filístia, estás toda derretida; porque do norte vem uma fumaça, e não haverá quem fique sozinho nas suas convocações.

“Não te alegres, tu, toda a Filístia” corresponde à “Dá uivos, ó porta, grita, ó cidade; tu, ó Filístia, estás toda derretida”, que prediz a destruição da Filístia (Palestina). “Da raiz da cobra” complementa “farei morrer de fome a tua raiz”, indicando que a destruição total da Filístia, pelas mãos da Assíria, ocorreria sob um governante tirano, que seria pior do que os outros dois anteriores. A frase “Os primogênitos dos pobres” corresponde à frase “os necessitados se deitarão seguros”, que forma o enfoque do quiasma. Apesar da Palestina ter sido destruída pelo exército invasor, Judá seria eventualmente restaurada, e teria o Senhor cuidando de seus pobres e necessitados.

O versículo 32 reforçar o significado do versículo 30: “Que se responderá, pois, aos mensageiros da nação? Que o Senhor fundou a Sião, para que os opressos do seu povo nela encontrem refúgio”. O Livro de Mórmon apresenta “Que responderão pois os mensageiros das nações?…”.[45] Isto é, “O que vai relatar os emissários de várias nações sobre a destruição da Palestina?” A resposta se encontra na sentença final: “Que o Senhor fundou a Sião, e que nela acharão refúgio os aflitos do seu povo”. O Senhor apoiará Seu povo justo em seu tempo de necessidade; a retidão pessoal é a chave para a sobrevivência. O significado de “Sião” aqui é Jerusalém sob um governo justo; como também um lugar de coligação espiritual nos últimos dias.[46]

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1616, p. 158.
[2]. Ver Gênesis 22:15-18.
[3]. 2 Néfi 24:2.
[4]. Os versículos 2 e 3 contêm um quiasma: Por servos e por servas/aqueles que os cativaram/sofrimento//pavor/dura servidão/servir.
[5]. Brown et al., 1996, 1996, Número de Strong 4912, p. 605.
[6]. 2 Néfi 24:4.
[7]. 2 Néfi 24:5.
[8]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:18-19, 33-34; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[9]. 2 Néfi 24:8.
[10]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1265, p. 141.
[11]. Isaías 2:12-13. Também ver Isaías 9:18; 10:18-19, 33-34; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[12]. Isaías 14:11, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 11a; Ver Dicionário Bíblico—Inferno.
[13]. 2 Néfi 24:11.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1966, p. 237.
[15]. D&C 76:25-27.
[16]. Ver Isaías 14:13, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 13e.
[17]. Doutrina e Convênios 76:28-29.
[18]. D&C 29:36-39.
[19]. Moisés 4:1-4.
[20]. Joseph Anderson, “A Testimony of Christ” [Um Testemunho de Cristo], Ensign, Nov. 1974, p. 101.
[21]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7200, p. 906; Ver também Isaías 14:16, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 16b.
[22]. 2 Néfi 24:18.
[23]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1004, p. 108.
[24]. 2 Néfi 24:19.
[25]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5432, p. 666; Ver também Isaías 14:19, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 19a.
[26]. Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Porque destruíste a tua terra/a descendência dos malignos//a matança para os seus filhos/para que não se levantem, e nem possuam a terra.
[27]. 2 Néfi 24:21.
[28]. Ver Isaías 14:21, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 21a.
[29]. Ver Isaías 13:19-22; Ver também Isaías 34:11-15.
[30]. Ouriço Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ouriço.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7090, p. 891.
[32]. Isaías 10:24-34.
[33]. O versículo 25 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Deles/jugo se apartará/a sua carga/se desvie dos seus ombros. Em Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 259.
[34]. 2 Néfi 24:25.
[35]. “Montanha” significa “nação”; Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[36]. 2 Reis 19:35-37. Ver também Isaías 10:33-34 e pertinent discussion.
[37]. Ver Isaías 14:26, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 26b.
[38]. Os versículos 24 até 27 contêm um quiasma: Como pensei, assim sucederá/quebrantarei a Assíria na minha terra/nas minhas montanhas o pisarei/seu jugo se aparte//sua carga se desvie/este é o propósito que foi determinado sobre toda a terra/esta é a mão que está estendida sobre todas as nações/o Senhor dos exércitos o determinou; quem o invalidará?
[39]. 2 Néfi 24:24.
[40]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4853, p. 672.
[41]. Ver Dicionário Bíblico—Cronologia.
[42]. 2 Néfi 24:29.
[43]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6429, p. 814.
[44]. O versículo 30 contém dois quiasmas reconhecido no hebraico original: Serão apascentados/pobres//necessitados/ se deitarão seguros. Tua raiz/ele matará//será destruído/ os teus sobreviventes. Em Parry,  Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías], 2001, p. 259.
[45]. 2 Néfi 24:32.
[46]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente. Ver também Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 1:27; 2:3; 4:5; 24:23; 28:16; 31:9; 35:10; 46:13; 51:16; 52:7, 8; 59:20.