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CAPÍTULO 35: “E O Ermo Exultará E Florescerá Como A Rosa”

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Este capítulo descreve o estabelecimento de Sião no deserto nos últimos dias, antes da Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo. Os acontecimentos deste capítulo estão sendo cumprido espiritual e fisicamente. A profecia descreve o ambiente físico para o estabelecimento do monte da casa do Senhor no cume dos montes, como predito anteriormente por Isaías no capítulo 2.[1] Esta mesma profecia também descreve a introdução das ordenanças de salvação do evangelho—a “água viva” mencionada por Cristo durante Seu ministério mortal[2]—na terra espiritualmente deserta que é o mundo. Fisicamente, o deserto começou a florescer como a rosa com a chegada dos pioneiros mórmons na Grande Bacia Hidrográfica do oeste da América do Norte, e com o estabelecimento de Sião neste lugar. Os redimidos do Senhor—os coligados de Israel das nações da Terra—têm imigrado para esta área desde a chegada dos primeiros pioneiros em 1847. O deserto espiritual do mundo continua a receber a água viva conforme os missionários levam a mensagem do evangelho e as bênçãos e ordenanças vivificadoras a todo o mundo. Conversos de muitas nações reúnem-se em Sião ou em suas estacas, que estão estabelecidas em muitos lugares do mundo, mas que são orientadas e guiadas do local central por profetas vivos. Outra forma de cumprimento desta profecia é o retorno dos judeus à terra de sua herança, que começou no princípio do século XX, e do desenvolvimento da agricultura e comércio lá. Ainda para o futuro está a Segunda Vinda do Senhor e Sua glória sendo manifestada em Sião no deserto.

O versículo 1 descreve o florescimento do deserto: “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa”. Isaías prevê tanto a transformação física do deserto em um lugar agradável quanto a introdução espiritual de bênçãos vivificadoras entre as nações que antes não sabiam sobre Jesus Cristo nem sobre Sua Expiação salvadora. As frases “se alegrarão disto” refere-se aos refugiados da opressão, reunidos das tribos dispersas de Israel, que viriam a transformar o deserto ou que apreciariam a “água viva” oferecida a eles por Cristo. A palavra hebraica de onde “rosa” foi traduzida é chabatstseleth, que significa “Açafrão Erva-ruiva”, “crocus ou croco” ou ” a flor de Narciso”.[3]

Em uma revelação recebida em março de 1831, bem antes do anúncio dos planos de imigração dos Santos dos Últimos Dias para a a cidade do Lago Salgado em Utah, o Senhor predisse o estabelecimento de Sião no deserto e o florescimento dos Lamanitas:

“Mas antes que venha o grande dia do Senhor, Jacó prosperará no deserto e os lamanitas florescerão como a rosa.
Sião florescerá nos outeiros e nas montanhas regozijar-se-á; e será reunida no lugar que designei”.[4]

Nesta revelação o Senhor parafraseia a profecia de Isaías, fornecendo uma maior explicação. Está claro que a reunião física dos santos no deserto, nos outeiros e nas montanhas—juntamente com as bênçãos espirituais do evangelho—foi predita pelo Senhor muito antes do tempo em que a perseguição forçasse os Santos dos Últimos Dias a imigrarem para o oeste dos Estados Unidos, em Utah. O nome “Jacó” refere-se aos descendentes de Jacó, ou Israel; “outeiros” e “montanhas” significam as nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[5]

A maioria dos membros pioneiros da Igreja eram da tribo de José, o décimo primeiro filho de Jacó. Os Lamanitas são descendentes de Leí, bem como da tribo de José, cuja história está registrada no Livro de Mórmon. Os descendentes modernos de Leí são os nativos das ilhas do Pacífico e os nativos americanos, juntamente com os ancestrais da mistura dos europeus e nativos americanos que caracterizam a maioria dos povos da América Latina.[6] A América Latina é atualmente um dos lugares mais bem sucedidos na pregação do evangelho—caracterizada por um rápido crescimento da Igreja, pelo estabelecimento de muitas alas e estacas e edificações de muitos templos. Tal crescimento é um cumprimento espiritual desta profecia de Isaías.

Outra perspectiva do cumprimento desta profecia é a volta dos judeus às terras de suas heranças, no princípio do século XX, e o desenvolvimento da agricultura e do comércio neste local. Para nós é importante considerar esta profecia em sua perspectiva e seu cumprimento mundial entre todos os povos com quem o Senhor fez convênios.

LeGrand Richards descreveu o cumprimento desta profecia nos últimos dias e o propósito para o cumprimento da mesma:

“Somos um povo abençoado. O Senhor tem-nos abençoado. Depois que nossos pioneiros foram expulsos para longe da civilização e do transporte, a mais de 1.600 quilômetros de distância, chegaram neste deserto. Isaías viu que o Senhor faria com que o deserto florescesse como a rosa. Viu os rios fluindo no deserto, descendo de lugares altos, para tornarem a terra produtiva. E por quê? Para que os santos, quando fossem aqui reunidos, pudessem cumprir Suas promessas. Pois, se o evangelho citado por Jesus Cristo deveria ser pregado em todo o mundo, teria que ser feito por Seus filhos”.[7]

O versículo 2 continua a descrição de Sião no deserto: “Abundantemente florescerá, e também jubilará de alegria e cantará; a glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus”.[8] A música e canto têm sido parte das vidas dos Santos dos Últimos Dias para a adoração, e o famoso Coro do Tabernáculo Mórmon é uma parte importante do cumprimento desta profecia. “A glória do Líbano” e “a excelência do Carmelo” são apresentadas como típico do crescimento, florescimento e beleza de Sião no deserto. Em “Eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus” Isaías prevê a gloriosa Segunda Vinda do Senhor. “Eles” referem-se aos descendentes de José cuja obra trouxe a Sião no deserto, prevista há tanto tempo. A frase “a glória do Líbano” é usada por Isaías mais tarde, no capítulo 60, para descrever as riquezas do mundo a serem trazidas para o estabelecimento de Sião e Israel.[9]

O versículo 3 dá uma ordem à Sião para que cuide dos enfermos e espiritualmente fracos: “Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes”. Este versículo foi parafraseado em Doutrina e Convênios no contexto de prover para os desprivilegiados: “Portanto sê fiel; ocupa o cargo para o qual te designei; socorre os fracos, ergue as mãos que pendem e fortalece os joelhos enfraquecidos”.[10]

O Apóstolo Paulo parafraseia: “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado”.[11] O estabelecimento de Sião requer muito trabalho, inclusive ajudar e prover as bênçãos aos enfermos, enfraquecidos espiritualmente e desprivilegiados.

O versículo 4 começa com uma advertência para fortalecerem e confortarem os que temem: “Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais”. As palavras de conforto a serem ditas são: “Eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará”. Duas características importantes do povo de Sião são: como cuidam uns dos outros e a fé que o Senhor os defenderá e protegerá. Isto não se aplica somente aos líderes, mas também a todas as pessoas de Sião. Os projetos de serviços, reuniões sacramentais inspiradoras, visitas mensais de mestres familiares e professoras visitantes, e conferências de estaca e geral fazem parte desta ordem de fortalecer uns aos outros.

O Presidente Gordon B. Hinckley admoestou:

“Fazei com que o amor seja a estrela-guia de nossa vida ao estender a mão àqueles que necessitam de nossa força. Há muitos entre nós que padecem sozinhos. A medicina ajuda, mas palavras de amor operaram milagres. Muitos vivem em condições alarmantes, temerosos e incapazes de enfrentá-las. Temos bons bispos e líderes da Sociedade de Socorro capazes de ajudarem, mas eles não podem fazer tudo sozinhos. Todos nós podemos e devemos ocupar-nos numa boa causa”.[12]

Os versículos 5 e 6 descrevem os bons resultados destes esforços. O versículo 5 começa: “Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão”.[13] Em Seu ministério terreno o Senhor Jesus Cristo realizou muitos milagres no qual os enfermos ou deficientes foram curados com Seu toque. João descreveu um destes casos: “Untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé … Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo”.[14]

Durante Seu ministério aos nefitas, o Senhor ressuscitado realizou milagres semelhantes:

“E aconteceu que depois de haver ascendido ao céu—a segunda vez que se havia mostrado a eles e voltado ao Pai, depois de haver curado todos os seus doentes e seus coxos e aberto os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos; e feito toda sorte de curas no meio deles e levantado um homem dentre os mortos e ter demonstrado seu poder a eles e ascendido ao Pai—
“Eis que, na manhã seguinte, aconteceu que a multidão se reuniu …”.[15]

Estas curas servem como exemplos de acontecimentos que se passarão na Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo.

Esta profecia não só prediz as bênçãos temporais que Sião receberá, mas também prediz que as bênçãos espirituais serão ainda maiores. Palavras semelhantes foram usadas por Isaías anteriormente no capítulo 29, referindo-se às grandes bênçãos espirituais relacionadas à chegada do Livro de Mórmon: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão”.[16] O significado é que os espiritualmente surdos e cegos compreenderão as coisas espirituais devido ao conteúdo do livro. Grandes bênçãos, tanto físicas quanto espirituais, são dadas porque Sião espera pela Segunda Vinda do Senhor com grande fé.

O versículo 6 continua: “Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo”. Metaforicamente, os espiritualmente coxos ou deficientes serão capacitados e aos espiritualmente mudos será dado o poder de cantar. O ermo e o deserto espirituais—o mundo em geral vivendo sem Cristo ou sem as bênçãos da salvação fornecida pela Expiação—tornar-se-ão verdejantes conforme as águas vivas do evangelho fluírem pelo mundo. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “e ribeiros correrá no ermo”.[17]

A relação entre a primeira parte do versículo 6 com a última parte não é óbvia, a menos que se considere o significado espiritual. As extraordinárias bênçãos espirituais descrevem os resultados do constante fluxo de conhecimento vindo de profetas vivos da Sião no deserto, como se fosse um rio de água fluente. Compare com uma declaração feita por Isaías anteriormente, no capítulo 30, onde usou esta mesma metáfora: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[18]

O Senhor, durante Seu ministério terreno, citou estes versículos aos discípulos de João Batista a fim de responder a pergunta de João se Jesus era o Messias: “Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho”.[19] Sem dúvidas o Senhor sabia que João reconheceria o cumprimento da profecia messiânica de Isaías.

Os versículos 5 e 6 contêm o texto para “O Messias” de Handel, parte 1, número 19: Área para alto, “Então os olhos dos cegos serão abertos”.

O versículo 7 continua a metáfora: “E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos”. As terras secas seriam irrigadas pelas mãos cuidadosas dos refugiados que viriam para estabelecer Sião, fazendo a vegetação florescer abundantemente. O significado espiritual é que a escuridão da apostasia seria dissipada pelas doutrinas verdadeiras. Doutrinas de dragões e chacais seriam substituídas pela verdade revelada, que fluiria abundantemente como as águas vivas de Sião.[20]

Esta passagem foi parafraseada e explicada em Doutrina e Convênios:

“E nos desertos estéreis surgirão poços de água viva; e o solo ressequido já não será uma terra sedenta.
“E trarão seus ricos tesouros para os filhos de Efraim, meus servos.
“E as extremidades dos outeiros eternos estremecerão em sua presença”.[21]

Aqui está claro que as águas que viriam do deserto representam não somente a irrigação e o florescimento físicos, mas também a vinda de um fluxo ininterrupto de bênçãos espirituais. “Efraim, meus servos” significa os membros da tribo de José que estabeleceriam Sião no deserto.

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

(6) Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará;
A: porque águas arrebentarão no deserto
B: e ribeiros
C: no ermo.
C: (7) E a terra seca
B: se tornará em lagos,
A: e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.

“Porque águas arrebentarão no deserto” equivale à frase “a terra sedenta [se tornará] em mananciais de águas”, significando uma abundância de revelação e inspiração. Os termos “deserto”, “terra sedenta”, “ermo” e “terra seca” são quiasmaticamente equivalentes.

O versículo 8 prediz: “E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão”. A Tradução de Joseph Smith apresenta:

“E ali haverá uma estrada; porque um caminho será aberto, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será aberto para aqueles que são puros; os caminhantes, apesar de serem contados entre os loucos, não errarão”.[22]

Anteriormente, no capítulo 11, Isaías faz uma referência semelhante a um caminho: “E haverá caminho plano para o remanescente do seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito”.[23]

O significado de caminho, em ambos os casos, é espiritual, querendo dizer o caminho estreito e apertado.[24] O caminho aberto pelo Senhor para os filhos de Israel passarem pelo Mar Vermelho é um símbolo ou exemplo físico deste caminho.[25] O meio pelo qual os remanescentes de Israel serão reunidos nos últimos dias será através da pregação do evangelho, eles se unirão à Sião e ao seu povo, sua identidade como herdeiros do Convênio Abraâmico ser-lhes-á revelada, e eles farão convênios com o Senhor como no passado. O “caminho” será tão claro que os caminhantes, que apesar de serem chamados de loucos, não terão nenhum problema para segui-lo, desde que sejam obedientes.

O versículo 9 descreve a proteção espiritual que os viajantes deste caminho receberão: “Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; porém só os remidos andarão por ele”. Estes predadores representam as tentações e os desígnios malignos dos homens e de Satanás para divergi-los do caminho estreito e apertado. Evitamos tentações quando seguimos o caminho espiritual, como descrito bem claramente pelos profetas vivos.

O versículo 10 sumariza: “E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”. Os “resgatados” são aqueles que aceitam o evangelho restaurado e seus convênios,[26] cujos pecados, depois do arrependimento, são remidos através do sacrifício infinito do Senhor Jesus Cristo. “Sião” significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto a Jerusalém dos últimos dias sob circunstâncias dignas.[27] Conforme Sião é edificada no deserto, Israel será reunida das terras para onde se dispersaram. Aqueles que retornarem se encherão de regozijo e felicidade; o sofrimento que passaram enquanto estavam no exílio—espiritualmente, sua ignorância da verdade revelada—será removido.

Em Doutrina e Convênios o Senhor prediz que a coligação de Israel virá com alegria e cânticos: “Os que permanecerem e forem puros de coração retornarão para suas heranças, eles e seus filhos, com cânticos de eterna alegria, para edificar os lugares desolados de Sião”.[28]

Os versículos 9 e 10 contêm um quiasma:

A: (9) Ali não haverá leão,
B: nem animal feroz subirá a ele,
C: nem se achará nele;
D: porém só os remidos andarão por ele.
D: (10) E os resgatados do Senhor voltarão;
C: e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças;
B: gozo e alegria alcançarão,
A: e deles fugirá a tristeza e o gemido.

“Ali não haverá leão” compara-se com “e deles fugirá a tristeza e o gemido”, e “nem animal feroz subirá a ele” compara-se com “gozo e alegria alcançarão”. A paz e alegria dos que estiverem seguindo o caminho estreito e apertado não serão afetadas por tentações e desígnios malignos de homens ou de Satanás, que foram representados aqui metaforicamente como animais predadores. O estabelecimento de Sião e o derramamento de ricas bênçãos do Senhor vencerão a tristeza e o gemido, e resultarão em gozo e alegria.

NOTAS

[1]. Isaías 2:2-3.
[2]. João 4:10-11; Ver também Jeremias 17:13; Zacarias 14:8.
[3]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2261, p. 287.
[4]. Doutrina e Convênios 49:24-25.
[5]. Ver Isaías 2:2 e comentário pertinente.
[6]. Ver 1 Néfi 5:14.
[7]. LeGrand Richards, “A Segunda Vinda de Cristo”, A Liahona, Outubro de 1978, p. 125.
[8]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: O deserto e o lugar solitário/se alegrarão disto/exultará/florescerá//florescerá/jubilará/alegria e cantará/verão a glória do Senhor.
[9]. Ver Isaías 60:13 e comentário pertinente.
[10]. D&C 81:5.
[11]. Hebreus 12:12-13.
[12]. Gordon B. Hinckley, “Que O Amor Seja a Estrela-Guía de Vossa Vida”, A Liahona, Julho de 1989, p. 72-73.
[13]. Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma: Mãos fracas/joelhos trementes/sede fortes, não temais/Deus virá com vingança//com recompensa de Deus/ele virá, e vos salvará/olhos dos cegos serão abertos/ouvidos dos surdos se abrirão.
[14]. João 9:6-7.
[15]. 3 Néfi 26:15-16.
[16]. Isaías 29:18.
[17]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 145.
[18]. Isaías 30:25; Ver também Isaías 12:3; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[19]. Mateus 11:5; Ver também Lucas 7:22.
[20]. Ver Isaías 12:3; 27:3; 55:11; 58:11.
[21]. D&C 133:29-31.
[22]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 206.
[23]. Isaías 11:16.
[24]. Ver Isaías 11:16; 19:23; 40:14; 49:11 e comentário pertinente.
[25]. Ver Êxodo 14:21-31.
[26]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 319.
[27]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente. Ver também Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 1:27; 2:3; 4:5; 14:32; 24:23; 28:16; 31:9; 46:13; 51:16; 52:7, 8; 59:20.
[28]. D&C 101:18; Ver também D&C 45:71; 66:11; 109:39;133:33.

CAPÍTULO 12: “Ainda Que Te Iraste Contra Mim, A Tua Ira Se retirou”

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O capítulo 12 será melhor compreendido se o considerarmos como um apêndice do capítulo 11, onde condições antes e durante o Milênio foram descritas com maiores detalhes. Condições nos últimos dias, tal como foram apresentadas no capítulo 11, incluem a obra de Joseph Smith, o profeta da restauração; a coligação de Israel; o estabelecimento da paz entre todas as nações; e as mudanças geográficas—possivelmente metáforas, representando grandes mudanças política e sociais—que incluem um vento poderoso no rio Eufrates, o que permitiria com que os homens atravessassem com sapatos secos, e a destruição do mar do Egito. O capítulo 12 consiste-se de duas canções ou salmos de salvação que serão cantada no princípio do Milênio pelos justos em louvor ao Senhor, que habitaria entre eles. Os quiasmas no capítulo 12 permitem a delineação de dois salmos. Cada versículo do primeiro salmo—que se consta dos versículos 1 até 3—é um quiasma diferente, enquanto que o segundo salmo—versículos 4 até 6—consiste-se de um só quiasma.

Néfi citou este capítulo por completo, com algumas variações; compare 2 Néfi 22. As diferenças do Livro de Mórmon aparecem em itálico, quando forem citadas.

No versículo 1 o homem penitente de Israel é instruído por Isaías: “E dirás naquele dia: Graças te dou, ó SENHOR, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas”. O penitente—observe a forma singular imperativa, “dirás”, usada neste versículo—reconhece a ira do Senhor nos dias de sua iniquidade, bem como sua culpa na apostasia do povo, mas também reconhece o espirito consolador que veio depois do arrependimento. Isto acontece com todos os que se arrependem, independente da época ou circunstancias.

O versículo 1 contém um quiasma:

A: (1) E dirás naquele dia: Graças te dou, ó SENHOR,
B: porque, ainda que te iraste contra mim,
B: a tua ira se retirou,
A: e tu me consolas.

Os elementos do lado descendente são opostos aos do lado ascendente. Ainda que o Senhor esteja irado com o pecador, sua ira se aparta do penitente. “Graças te dou” complementa “tu me consolas”. A declaração central é: “porque, ainda que te iraste contra mim” contrastada com “tu me consolas”.

No versículo 2, o penitente continua seu louvor ao Senhor: “Eis que Deus é a minha salvação; nele confiarei, e não temerei, porque o SENHOR DEUS é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação”. A confiança no Senhor não é um sinal de fraqueza, mas de poder. O penitente reconhece que é através do sacrifício expiatório de Cristo que a salvação e o poder espiritual são restaurados. O Livro de Mórmon apresenta “…porque o Senhor JEOVÁ é a minha força e o meu cântico…”.[1]

O hino, “Jesus, minha luz”, expressa palavras e ideias mencionadas no versículo 2:

Jesus, minha luz, eu não temerei;
Tu és meu amor, consolo terei!
Tu és meu escudo, no mal e na dor,
E assim segurança me dá o Senhor.[2]

O nome “o Senhor JEOVÁ”, usado no Livro de Mórmon no versículo 2, é o nome do Senhor Jesus Cristo em Seu estado pré-mortal na época do Velho Testamento. E foi traduzido do hebraico Yahh[3], que é uma contração do nome “Yahovah”.  Este nome sagrado, traduzido do hebraico, significa “o que existe”, ou o Deus que realmente existe.[4] Este nome foi usado aqui por Isaías para diferenciar o Senhor Jesus Cristo no seu estado pré-mortal, quem nos trará a salvação, de “Eloím”, ou Deus o Pai. A palavra hebraica Elohiym é traduzida como “Deus”, no Velho Testamento, o mesmo acontece com “Yahh” ou “YahovahElohiym é uma forma plural, com um significado singular.[5] Uma forma do nome Eloím—Eloi—foi usada quando Jesus, em agonia sobre a cruz, chamou Seu Pai.[6]

O versículo 2 contém um quiasma:

A: (2) Eis que Deus é a minha salvação;
B: nele confiarei, e não temerei,
C: porque o Senhor
C: JEOVÁ
B: é a minha força e o meu cântico;
A: e se tornou a minha salvação.

“Deus é a minha salvação” é equivalente à “e se tornou a minha salvação”. “Nele confiarei, e não temerei” complementa “a minha força e o meu cântico”, ilustrando que a confiança no Senhor não é um sinal de fraqueza, mas de poder, que nos traz grande felicidade. “O Senhor” corresponde a “JEOVÁ”; Jeová do Velho Testamento é quem virá para trazer as bênçãos da salvação.

No versículo 3 o Senhor responde; o uso da forma plural significa que Suas palavras são para o povo coletivamente: “E vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação”. Durante Seu ministério mortal Jesus fez menção do simbolismo estabelecido aqui por Isaías. Ao falar com a mulher no poço em Samaria, Jesus referiu-se à “água viva”, que significa a salvação através da Expiação;[7] e também significa revelação dos céus.[8] Devido sua falta de conhecimento das escrituras, ela não compreendeu o simbolismo.[9] Também relacionado com a água simbolicamente tirada do poço é a ordenança do batismo.

Versículo 3 contém um quiasma:

A: (3) E vós com alegria
B: tirareis águas
B: das fontes
A: da salvação.

Neste quiasma “E vós com alegria” é equivalente à “salvação”; é com grande alegria que o verdadeiro penitente entra nas águas do batismo e recebe as bênçãos da salvação.  A frase “tirareis águas” complementa “das fontes”, formando o enfoque central.

No versículos 4, 5 e 6, Isaías apresenta outro salmo. O versículo 4 começa: “E direis naquele dia: Dai graças ao Senhor, invocai o seu nome, fazei notório os seus feitos entre os povos, contai quão excelso é o seu nome”. Lia, ao dar à luz a seu quarto filho, exclamou: “Esta vez louvarei ao Senhor”.[10] Por isso lhe chamou “Judá”, que significa “louvado”.[11]

O versículo 5 continua: “Cantai ao Senhor, porque fez coisas grandiosas; saiba-se isto em toda a terra”. O conhecimento das “coisas grandiosas” feitas pelo Senhor espalhou-se por toda a Terra, depois das pragas enviadas ao Egito e da divisão do Mar Vermelho.[12]

No versículo 6 Isaías dirigiu novamente as palavras finais deste salmo para cada pessoa, individualmente, o que é evidente pelo uso da forma singular: “Exulta e jubila, ó habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti”. Esta frase testifica que Jesus Cristo, o Santo de Israel, habitará “no meio de” seu povo na Terra durante o Milênio. “Sião” foi usada aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém, o lugar da coligação física nos últimos dias dos descendentes justos de Israel.[13]

Foi afirmado numa revelação moderna que o Senhor reinará pessoalmente entre o justo:

Pois ele desnudará o santo braço aos olhos de todas as nações e todos os confins da Terra verão a salvação de seu Deus.… E o Senhor, sim, o Salvador, permanecerá no meio de seu povo e reinará sobre toda a carne.[14]

Os versículos 4 até 6 formam um quiasma:

A: (4) E direis naquele dia: Dai graças ao Senhor,
B: invocai o seu nome,
C: fazei notório os seus feitos entre os povos,
D: proclamai quão excelso é o seu nome.
D: (5) Cantai ao Senhor;
C: porque fez coisas grandiosas; saiba-se isto em toda a terra.
B: (6) Exulta e jubila, ó habitante de Sião,
A: porque grande é o Santo de Israel no meio de ti.

“Ao Senhor” [no hebraico Yahovah[15]] é equivalente ao “Santo de Israel”. Isaías estabeleceu que Jeová do Velho Testamento é o Santo de Israel—Aquele que viria, trazendo as bênçãos da salvação. A frase “invocai o seu nome” é comparada com “Exulta e jubila, ó habitante de Sião”; a frase “fazei notório os seus feitos entre os povos” complementa “porque fez coisas grandiosas”; e “excelso é o seu nome” reflete-se em “Senhor”. O povo é exortado a invocar e a louvar ao Senhor, porque ele fez coisas grandiosas.

NOTAS

[1]. 2 Néfi 22:2.
[2]. Hinos da  Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990, Hino número 44, “Jesus, Minha Luz”, estrofe 1.
[3]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 3050, p. 219.
[4]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3068, p. 217.
[5]. Brown et al., 1996, Número de Strong 430, p. 43.
[6]. Ver Marcos 15:34.
[7]. Ver João 4:6-13.
[8]. Ver Isaías 27:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[9]. Ver João 4:10-11.
[10]. Gênesis 29:35.
[11]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3063, p. 397.
[12]. Ver Êxodo 9:14, 16; Josué 4:23-24.
[13]. Ver Isaías 1:27; 3:16; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 51:3.
[14]. Doutrina e Convênios 133:3, 25.
[15]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3068, p. 217.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.