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CAPÍTULO 57: “Perece O Justo … É Levado Antes Do Mal”

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O capítulo 57 começa com uma descrição do estado abençoado dos justos que perecem. Eles são levados para longe do mal que está para vir, entrando em um estado de paz; os justos que permanecem são consolados, entendendo a condição espiritual dos que partiram. Logo, passa a descrever o estado dos iníquos. Aqueles que estão envolvidos em iniquidade esperam pela repreensão do Senhor. Os iníquos estão em um estado contínuo de perturbações e inquietudes, sem a influência e paz do Espírito.

Os versículos 1 e 2 descrevem o estado dos justos que perecem. O versículo 1 começa: “Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, e os homens compassivos são recolhidos, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal”. “Considere isso em seu coração” significa um luto ou sofrimento longo. O período de luto para os justos que morrem é curto, porque aqueles que sobrevivem sabem que os justos partiram deste estado onde a injustiça é prevalecente; eles entraram em um estado de paz e descanso. Outro significado para este versículo é que Isaías prevê uma geração justa, merecedora das bênçãos do Senhor, desaparecendo da face da Terra. Os julgamentos de Deus viriam, então, sobre a nova geração iníqua porque os justos teriam perecido.[1]

O versículo 2 continua: “Entrará em paz; descansarão nas suas camas, os que houverem andado na sua retidão”.[2] A palavra hebraica traduzida como “camas” neste versículo é “féretros”, [3] ou lugares de sepultamento.[4] Após a morte, os justos receberão paz e descansarão em seus túmulos, pois viverão em retidão.

Em Doutrina e Convênios o Senhor promete aos justos: “Porque os que viverem herdarão a Terra e os que morrerem descansarão de todos os seus labores e suas obras segui-los-ão; e nas mansões de meu Pai, que lhes preparei, receberão uma coroa”.[5] João registrou, semelhantemente, no Novo Testamento: “E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem”.[6] Baseando-se nestas comparações, é claro o que Isaías quis dizer.

Começando no versículo 3, o assunto muda para descrever as condições contrastantes dos iníquos. Isaías apresenta evidências, como em um litígio: “Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira, descendência adulterina, e de prostituição”. Isaías usa estas designações para repreender àqueles que estão envolvidos com más tradições; ele não acusa os filhos pelos pecados de seus pais iníquos. O sentido intencionado é que esta grande iniquidade já existe por muitas gerações. Não só o profeta descreve a iniquidade da antiga Israel; mas também usa esta iniquidade como um exemplo de corrupção pessoal e coletiva de nações dos últimos dias, que antes eram justas e abençoadas pelo Senhor.

No versículo 4, Isaías repreende os iníquos por sua insolência: “De quem fazeis o vosso passatempo? Contra quem escancarais a boca, e deitais para fora a língua? Porventura não sois filhos da transgressão, descendência da falsidade[?]” O termo “descendência da falsidade” significa “filhos mentirosos”. O comportamento de zombaria e insolência dos ímpios é evidência de seus pecados.

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

A: (3) Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira,
B: descendência adulterina, e de prostituição.
C: (4) De quem fazeis o vosso passatempo?
C: Contra quem escancarais a boca, e deitais para fora a língua?
B: Porventura não sois filhos da transgressão,
A: descendência da falsidade[?]—

Este quiasma afirma que a mensagem do profeta foi dirigida aos iníquos insolentes que zombam do Senhor e fazem pouco dos que creem Nele. Suas iniquidades têm existido por gerações. “Chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira” é equivalente à “descendência da falsidade”; os que estiverem envolvidos em tradições malignas serão desafiados a ouvirem a repreensão do profeta.

O versículo 5 continua a acusação de Isaías: “Que vos inflamais com os deuses debaixo de toda a árvore verde, e sacrificais os filhos nos ribeiros, nas fendas dos penhascos?” A versão da Bíblia de King James, em inglês, apresenta: “… sacrificais os filhos nos vales sob as fendas dos penhascos?”

Esta descrição corresponde com os pecados de Acaz e Manassés, reis injustos de Judá, usando palavras semelhantes ao relato histórico em 2 Crônicas.[7] “Debaixo de toda a árvore verde” refere-se à prática cerimonial idólatra de sexo ilícito,[8] mas o significado intencionado por Isaías para nós nos últimos dias é todo tipo de pecado sexual. “Vos inflamais” significa ficar excitado. “Nos vales” refere-se a um local—o vale de Hinom—onde crianças eram sacrificadas como ofertas. Antigamente, o sacrifício de crianças era muito comum nas práticas idólatras.[9] O equivalente moderno disto é o aborto, abuso e negligência infantil por parte dos pais devido ao egoísmo.

O versículo 6 apresenta uma breve menção dos castigos para esta iniquidade brutal: “Nas pedras lisas dos ribeiros está a tua parte; estas, estas são a tua sorte; sobre elas também derramaste a tua libação, e lhes ofereceste ofertas; contentar-me-ia eu com estas coisas?” O significado da última frase é “não deveria estar irado com estas coisas?” As ofertas de carne e bebidas eram designadas para a adoração apropriada ao Senhor nos templos sagrados,[10] mas não eram aceitas pelo Senhor quando oferecidas em iniquidade ou a ídolos. O iníquo sofrerá as mesmas consequências que Golias sofreu nas mãos de Davi, que matou o gigante com pedras lisas escolhidas do ribeiro.[11] Suas práticas idólatras deixar-lhes-ão vulneráveis à destruição. Apesar de serem poderosos militarmente, sem a orientação e proteção do Senhor, os iníquos serão derrotados com mínimo esforço.

O versículo 7 continua o litígio, com Isaías apresentando mais evidências: “Sobre o monte alto e levantado pões a tua cama; e lá subiste para oferecer sacrifícios”.[12] A frase “sobre o monte alto e levantado pões a tua cama” refere-se novamente à prática idólatra de sexo ilícito, praticado em bosques de árvores e em lugares altos.[13] O significado de “cama” neste versículo é “lugar de copulação”,[14] ao contrário do significado de “cama” apresentado anteriormente no versículo 2. As práticas idólatras condenadas pelo Senhor incluem o adultério e fornicação, assassinato, adoração de falsos deuses e sacrifício infantil.

O versículo 8 continua o discurso comprovatório de Isaías: “E detrás das portas, e dos umbrais puseste o teu memorial; pois te descobriste a outros que não a mim, e subiste, alargaste a tua cama, e fizeste aliança com alguns deles; amaste a sua cama, onde quer que a viste”. Isaías usa o adultério como uma metáfora para a adoração de ídolos. As coisas de maior valor para os iníquos são ações secretas cometidas a portas fechadas—inclusive adultério, tráficos e combinações secretas de assassinatos—com propósitos malignos. Suas iniquidades secretas, eventualmente, serão anunciadas em cima dos telhados.[15] A referência de Isaías aos umbrais formam um grande contraste entre os iníquos e a ordem do Senhor dada a Moisés de escrever os mandamentos “nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”.[16]

Morôni, o último profeta do Livro de Mórmon, transmite uma severa advertência aos leitores dos últimos dias:

“Portanto, ó gentios, é sabedoria de Deus que estas coisas vos sejam mostradas, a fim de que, por meio delas, vos arrependais de vossos pecados e não permitais que vos dominem essas combinações assassinas, instituídas para a obtenção de apoder e lucro—e a obra, sim, a obra de destruição vos sobrevenha; sim, a espada da justiça do Deus Eterno cairá sobre vós para vossa ruína e destruição, se permitirdes que estas coisas aconteçam.
“Portanto o Senhor vos ordena que quando virdes essas coisas surgirem entre vós, estejais conscientes de vossa terrível situação por causa desta combinação secreta que existirá entre vós; ou ai dela, em virtude do sangue daqueles que foram mortos; porque eles clamam desde o pó por vingança contra ela e contra os que a instituíram.
“Pois acontece que quem a institui visa destruir a aliberdade de todas as terras, nações e países; e causa a destruição de todos os povos, pois é instituída pelo diabo, que é o pai de todas as mentiras; o mesmo mentiroso que benganou nossos primeiros pais, sim, o mesmo mentiroso que fez com que o homem cometesse assassinatos desde o princípio; que endureceu o coração dos homens a tal ponto que mataram os profetas e apedrejaram-nos e expulsaram-nos desde o princípio”.[17]

O versículo 9 continua a metáfora do adultério: “E foste ao rei com óleo, e multiplicaste os teus perfumes e enviaste os teus embaixadores para longe, e te abateste até ao inferno”.[18] A antiga Israel apóstata—bem como o seu homólogo moderno—tem buscado pela glória e gratificações mundanas na idolatria e com os reis do mundo. “O rei” foi traduzido do nome “Moloque” no original hebraico[19]—um ídolo horrível, referido como as abominações dos filhos de Amon—cujos filhos tinham que passar pelo fogo, ou seja, serem sacrificados como ofertas.[20] Israel buscou intensamente pelos deuses pagãos a fim de adorá-los, aprofundando-se em seus pecados.

O versículo 10 descreve o resultado de Israel—juntamente com seu análogo moderno—exceder-se em iniquidades: “Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança; achaste novo vigor na tua mão; por isso não adoeceste”. “Na tua comprida viagem” significa o fardo das tarefas, tanto boas quanto más, da Israel antiga e moderna Israel;[21] o fardo seria aliviado somente se os atos justos fossem contínuos. Além disso, para evitar se cansar de fazer o que é justo, devemos manter nossa força e resolução, não correndo mais depressa do que nos permitam as nossas forças.[22]

Paulo advertiu: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”.[23] O Senhor deu uma advertência semelhante aos Seus discípulos dos últimos dias: “Portanto não vos canseis de fazer o bem, porque estais lançando o alicerce de uma grande obra. E de pequenas coisas provém aquilo que é grande”.[24]

No versículo 11, o Senhor desafiou a antiga Israel e seu homólogo moderno: “Mas de quem tiveste receio, ou temor, para que mentisses, e não te lembrasses de mim, nem no teu coração me pusesses? Não é porventura porque eu me calei, e isso há muito tempo, e não me temes?” Malfeitores antigos e modernos temem ídolos mudos ou adversários do mundo mais que a Deus, de quem eles nunca se lembram. Entretanto, Deus tem se refreado para não enviar destruição sobre eles. Temer aos homens mais que a Deus é um sério afronto ao nosso Criador e Protetor.

Como foi registrado no Novo Testamento, os governantes dos judeus—alguns dos quais acreditavam, secretamente, nos ensinamentos de Jesus Cristo—temeram mais aos homens do que a Deus:

“Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
“Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus”.[25]

No versículo 12, o Senhor proclama: “Eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão”. Mesmo as coisas boas feitas pelos malfeitores antigos e modernos—apesar de serem reconhecidas por Deus como boas—não lhes trarão proveito. Boas ações feitas com intenções errôneas não servirão de nada.

Os versículos 10 até 12 contêm um quiasma:

A: (10) Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança; achaste novo vigor na tua mão; por isso não adoeceste.
B: (11) Mas de quem tiveste receio, ou temor, para que mentisses,
C: e não te lembrasses de mim,
C: nem no teu coração me pusesses?
B: Não é porventura porque eu me calei, e isso há muito tempo, e não me temes?
A: (12) Eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão.

“Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança …” compara-se com “eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão”. Esta comparação mostra que sua “comprida viagem” incluía obras justas e injustas; então, nem mesmo seus atos justos serão reconhecidos pelo Senhor.

No versículo 13, a antiga Israel e seu homólogo moderno confiam em vão nos ídolos para proteção: “Quando clamares, livrem-te os ídolos que ajuntaste; mas o vento a todos levará, e um sopro os arrebatará; mas o que confia em mim possuirá a terra, e herdará o meu santo monte”— “Monte” significa “nação”; ou, neste caso, “minha santa nação”.[26] Somente aqueles que confiam no Senhor possuirão a Terra e receberão uma herança do Senhor; os que O rejeitarem serão levados, como pelo vento.

O versículo 14 descreve o começo do arrependimento: “E dir-se-á: Aplanai, aplanai a estrada, preparai o caminho; tirai os tropeços do caminho do meu povo”.[27] A frase “preparai o caminho” significa preparar o caminho estreito e apertado através da restauração do conhecimento do Plano de Salvação.[28] “Os tropeços” referem-se ao sistema de crenças corrompido do povo, que o impedem de reconhecer ou aceitar a verdade.

No versículo 15 Isaías apresenta o Senhor e o que Ele proferiu: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”. Os contritos e abatidos de espírito habitarão com Deus nos céus; Ele os receberá e os confortará.

Ezra Taft Benson advertiu: “Orgulho é o pecado universal, o grande vicio…. O antídoto para o orgulho é humildade―mansidão, submissão…. Deus terá um povo humilde. Podemos escolher ser humildes ou podemos ser compelidos à humildade” (ênfases adicionadas).[29] Alma disse, “Benditos são os que se humilham sem serem compelidos a ser humildes”.[30]

No versículo 16, o Senhor declara: “Porque não contenderei para sempre, nem continuamente me indignarei; porque o espírito perante a minha face se desfaleceria, e as almas que eu fiz”. Deus declara que Ele não contenderia para sempre, nem continuamente se indignaria. Caso contrário, os propósitos do Senhor em criar o homem não seriam cumpridos.

Bem como o Senhor declarou ao irmão de Jared:

“Perdoarei a ti e a teus irmãos vossos pecados; mas não pecareis mais, porque vos lembrareis de que meu Espírito não lutará para sempre com o homem; portanto, se pecardes até estardes plenamente amadurecidos, sereis afastados da presença do Senhor” (ênfases adicionadas).[31]

Em Seu prefácio das revelações dos últimos dias compreendendo Doutrina e Convênios, o Senhor declarou: “… aquele que se arrepender e cumprir os mandamentos do Senhor será perdoado;
“E aquele que não se arrepender, dele será tirada até a luz que recebeu, pois meu Espírito não contenderá sempre com o homem, diz o Senhor dos Exércitos” (ênfases adicionadas).[32] O Senhor confirma o sentido intencionado por Isaías.

Os versículos 15 e 16 contêm um quiasma:

A: (15) Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito;
B: como também com o contrito
C: e abatido
D: de espírito, para vivificar
D: o espírito
C: dos abatidos,
B: e para vivificar o coração dos contritos.
A: (16) Porque não contenderei para sempre, nem continuamente me indignarei; porque o espírito perante a minha face se desfaleceria, e as almas que eu fiz.

O Senhor declara que Ele não se indignará quando os homens tornarem-se abatidos de espírito e contritos perante Ele. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade” correlaciona-se com “Porque não contenderei para sempre, nem continuamente me indignarei”.

No versículo 17, o Senhor explica sua indignação: “Pela iniqüidade da sua avareza me indignei, e o feri; escondi-me, e indignei-me; contudo, rebelde, seguiu o caminho do seu coração”.[33] “O caminho do seu coração” contrasta-se com o caminho do Senhor, ou o Plano de Salvação.[34] O Senhor se indignou por causa da iniquidade e avareza da antiga Israel, juntamente com seu homólogo moderno. “Rebelde” significa apóstata, ou que voluntariamente se afastou da verdade.[35]

Em Doutrina e Convênios o Senhor declara: “Eu, o Senhor, estou irado com os iníquos; estou negando meu Espírito aos habitantes da Terra. Em minha ira jurei e decretei guerras sobre a face da Terra …”.[36]

No versículo 18, o Senhor declara: “Eu vejo os seus caminhos, e o sararei, e o guiarei, e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos seus pranteadores”. Os caminhos da antiga Israel e seu homólogo moderno, apesar de iníquos, são conhecidos pelo Senhor. Ele sem dúvidas também vê sua bondade intrínseca. “Os seus pranteadores” significa os justos que viram a iniquidade de Israel e lamentaram seu estado; o Senhor os consolará.

O versículo 19 descreve o arrependimento e perdão: “Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para o que está longe; e para o que está perto, diz o Senhor, e eu o sararei”. “Os frutos dos lábios” significa palavras de oração, louvor ou agradecimento; ou pedidos de graça ou perdão ao pecador.[37] O arrependimento traz a paz e sara (perdoa) os que estão perto ou longe.

O versículo 19 foi parafraseado pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento: “E, vindo, ele [Jesus] evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto”.[38] O Senhor Jesus Cristo pregou Seu evangelho aos que estavam perto—os que moravam em Jerusalém—e também aos que moravam em outras partes do mundo, ou seja, aos nefitas no Continente Americano, e outros da casa de Israel dispersos para lugares longínquos.[39]

Nos versículos 20 e 21, o Senhor descreve o contínuo estado perturbado dos iníquos. O versículo 20 começa: “Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo”. Como as águas revoltas do mar, os corações e mentes dos ímpios estão continuamente perturbados. O uso perito de um símile por parte de Isaías fornece uma imagem clara da situação dos iníquos.

Paulo, ao escrever aos Efésios, usou este símile de Isaías para descrever o estado do iníquo: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (ênfases adicionadas).[40] Aqueles que não são guiados pelo Espírito, devido suas iniquidades, são levados de lá para cá por todas novas ideias que aparecem. Seus corações estão constantemente inquietos e perturbados.

Tiago, ao instruir àqueles que buscam conhecimento de Deus, ofereceu uma advertência semelhante baseada nesta símile usada por Isaías: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte”.[41]

O versículo 21 resume: “Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus”.[42] Em contraste com as bênçãos descritas para os penitentes nos versículos 18 e 19, o Senhor não permitirá a influência de paz do Espírito de confortar àqueles que não merecem.

Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma:[43]

A: (20) Mas os ímpios
B: são como o mar bravo,
C: porque não se pode aquietar,
C: e as suas águas lançam de si lama e lodo.
B: (21) Não há paz
A: para os ímpios, diz o meu Deus.

O mar não se pode aquietar, lançando de si lama e lodo; este é um símile que mostra os corações dos que estão perturbados e agitados, por falta da influência de paz do Espírito. “Como o mar bravo” complementa “não há paz”. Os iníquos estão sempre inquietos, nunca estão em paz.

NOTAS

[1]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 501.
[2]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Perece o justo/os homens compassivos/o justo//entrará em paz/ descansarão/os que houverem andado na sua retidão.
[3]. Féretro, significado de: Caixão; caixa mortuária na qual é colocado o cadáver a ser enterrado; caixa de madeira utilizada para enterrar os mortos. História. Entre os antigos romanos, tipo de maca através da qual os restos mortais dos inimigos eram transportados. (Etm. do latim: feretrum.i): Dicionário online de Português, www.dicio.com.br/ feretro/
[4]
. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 4904, p. 1012.
[5]. Doutrina e Convênios 59:2.
[6]. Apocalipse 14:13.
[7]. Ver 2 Crônicas28:3-4; 33:6.
[8]. Ver 1 Reis 14:23; 2 Reis 16:4; 17:10; 2 Crônicas 28:4; Jeremias 2:20; 3:6, 13; Ezequiel 6:13; também Isaías 1:29; 17:8; 27:9 e comentário pertinente.
[9]. Ver Levítico 18:21; 2 Reis 23:10; Jeremias 32:35; Abraão 1:8; Mórmon 4:14.
[10]. Ver Levítico 23:13; 6:14-18.
[11]. Ver 1 Samuel 17:40.
[12]. Os versículos 5 até 7 contêm um quiasma: Que vos inflamais … e sacrificais os filhos/nas pedras lisas/estas são a tua sorte/derramaste a tua libação//lhes ofereceste ofertas/contentar-me-ia eu com estas coisas/sobre o monte alto e levantado/lá subiste.
[13]. Ver 1 Reis 14:15, 23; 2 Reis 17:10-11; 18:4; 23:14; 2 Crônicas 14:3; 17:6; 31:1; 33:3; Jeremias 17:2; Miquéias 5:14.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4904, p. 1012.
[15]. Ver Lucas 8:17; 12:3; 2 Néfi 27:11; Mórmon 5:8; D&C 88:108-110.
[16]. Deuteronômio 11:20.
[17]. Éter 8:23-25; ver versículos 18-25. Ver também Helamã 2:8; 3 Néfi 7:6, 9; Éter 11:15; Moisés 5:51.
[18]. Os versículos 8 e 9 contêm um quiasma: Detrás das portas, e dos umbrais puseste o teu memorial/te descobriste a outros/alargaste a tua cama/fizeste aliança//com alguns deles/amaste a sua cama/foste ao rei com óleo/te abateste até ao inferno.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4432, p. 574.
[20]. Ver Dicionário Bíblico—Moleque; Ver também Levítico 20:2-5; 2 Reis 23:10; 2 Crônicas 28:3.
[21]. Ver Spencer W. Kimball, “Não Vos Canseis pelo Caminho”, A Liahona, Março de 1981, p. 108.
[22]. D&C 10:4.
[23]. Gálatas 6:9; Ver também 2 Tessalonicenses 3:13.
[24]. D&C 64:33.
[25]. João 12:42-43; Ver também Lucas 9:26; Atos 4:19; D&C 122:9.
[26]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[27]. Os versículos 13 e 14 contêm um quiasma: Livrem-te os ídolos que ajuntaste/o vento a todos levará/possuirá a terra//herdará o meu santo monte/preparai o caminho/tirai os tropeços do caminho do meu povo.
[28]. Ver Isaías 3:12; 8:11; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[29]. Ezra Taft Benson, “Acautelei-vos do Orgulho,” A Liahona, Julho de 1989, p. 5.
[30]. Alma 32:16.
[31]. Éter 2:15.
[32]. D&C 1:32-33.
[33]. O versículo 17 contém um quiasma: Iniqüidade/me indignei/o feri//escondi-me/indignei-me/rebelde.
[34]. Ver Isaías 3:12; 8:11; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[35].Brown et al., 1996, Número de Strong 7726, p. 1000.
[36]. D&C 63:32-33.
[37]. Parry et al., 1998, p. 509.
[38]. Efésios 2:17.
[39]. Ver 3 Néfi 16:1-4. Ver também João 10:16; 3 Néfi 15:17-24; D&C 10:59.
[40]. Efésios 4:14.
[41]. Tiago 1:6.
[42]. Os versículos 18 até 21 contêm um quiasma: Eu vejo os seus caminhos/o sararei/o guiarei/lhe tornarei a dar consolação/paz//paz/o que está longe/e para o que está perto/o sararei/o mar bravo … não há paz.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

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As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.