Arquivo da tag: Isaías 29:8

CAPÍTULO 29: “Eis Que Continuarei A Fazer … Uma Obra Maravilhosa E Um Assombro”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

O capítulo 29 contém profecias sobre a restauração do evangelho nos últimos dias. Acontecimentos preditos incluem a primeira visão, a chegada do Livro de Mórmon, e a visita de Martin Harris ao Professor Charles Anthon a fim de autenticar os caracteres das placas de ouro e sua tradução. Como foi predito por Isaías, o Professor Anthon falou: “Não posso ler um livro selado”[1], quando foi-lhe dito que uma parte das placas de ouro estava selada. Os nefitas, cuja história está contida no Livro de Mórmon,falaram como uma voz desde o pó. Aqueles que não estiverem dispostos a aceitar O Livro de Mórmon e o evangelho restaurado nos últimos dias ficarão vazios espiritualmente.

A Tradução de Joseph Smith (JST) provê uma explicação melhor.[2] O texto do capítulo 29 é grandemente expandido, fornecendo mais detalhes sobre a chegada do Livro de Mórmon do que o texto apresentado na versão de João Ferreira de Almeida. Néfi parafraseou partes do capítulo 29 onde mostra a história da chegada do Livro de Mórmon, dando ainda mais detalhes e uma explicação melhor, dando instruções específicas ao futuro tradutor de sua obra. A comparação de JST—a qual, geralmente, se corresponde bastante com O Livro de Mórmon nas partes onde Isaías está sendo diretamente citado—permite distigir o comentário de Néfi do capítulo 29, onde se dirige ao seu próprio povo.

Algumas das passagens mais conhecidas deste capítulo são quiásticas, cujas estruturas provê uma explicação mais profunda e um equilíbrio poético à mensagem do profeta.

Os versículos 1 até 6 formam um oráculo de pesar contra “Ariel”. Esta palavra é o resultado da associação de duas palavras hebraicas similares, ariyel, que significa “como um leão” ou “leão de Deus”,[3] e ‘ari’eyl, que significa “lareira, ou altar”.[4] Ariyel, por sua vez, vem da combinação de duas palavras, ariy, que significa “leão”,[5] e ‘el, que significa “de Deus”.[6] Isto é um exemplo do uso de duplo sentidos para prover uma melhor explicação, típico do estilo de Isaías. “Ariel” refere-se a um altar sacrificial do templo, ao próprio templo, e também às pessoas valorosas em diferentes lugares e épocas recebendo as bênçãos do templo. “Ariel” significa Jerusalém como provado no versículo 1, mas também significa os nefitas e os santos dos últimos dias, visto que os três grupos têm em comum as bênçãos do “altar”, ou do templo.

No versículo 1, o Senhor declara: “Ai de Ariel, Ariel, a cidade onde Davi acampou! Acrescentai ano a ano, e sucedam-se as festas”. Neste caso Ariel refere-se à Jerusalém, “a cidade onde Davi acampou!”

O versículo 2 continua com o Senhor falando: “Contudo porei a Ariel em aperto, e haverá pranto e tristeza; e ela será para mim como Ariel”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “Pois assim me disse o Senhor,ela será paraAriel”.[7] JST provê um sentido diferente da encontrada na versão de João Ferreira de Almeida, a qual mostra que Isaías lamentaria por causa do sofrimento de Ariel.

No versículo 3 o Senhor testifica: “Porque te cercarei com o meu arraial, e te sitiarei com baluartes, e levantarei trincheiras contra ti”. Néfi relaciona estas palavras de Isaías ao seu próprio povo; as diferenças da versão do Livro de Mórmon são mostradas em itálico:Depois que os meus descendentes e os descendentes de meus irmãos houverem degenerado, caindo na incredulidade, e sido afligidos pelos gentios, sim, depois que o Senhor Deus os houver cercado com o seu arraial …”.[8] A destruição de Jerusalém— “Ariel, a cidade onde Davi acampou” —seria um exemplo da destruição dos nefitas, que por sua vez seria um exemplo da destruição dos ímpios, incluindo dos apóstatas da Sião dos últimos dias, antes da Segunda Vinda do Senhor. JST apresenta “Porque a cercarei com o meu arraial, e a sitiarei com baluartes, e levantarei trincheiras contra ela[9] Um “baluarte” é um monte construído pelos agressores em um cerco para superar a vantagem da altura de uma parede ou fortificação.

O versículo 4 profetiza sobre a destruição dos nefitas, mas mostra que seus registros sagrados seriam preservados: “Então serás abatida, falarás de debaixo da terra, e a tua fala desde o pó sairá fraca, e será a tua voz debaixo da terra, como a de um que tem espírito familiar, e a tua fala assobiará desde o pó”. A palavra hebraica usada no texto Massorético[10] traduzida como “um que tem espírito familiar” no versículo 4 é ‘owb, que significa alguém que diz comunicar-se com os mortos.[11] Entretanto, uma palavra hebraica relacionada, nachash, tem dois significados— “a prática deadivinhação”e “serpente”.[12] Em algumas traduções deste versículo, “píton” é usado, ao invés de “um que tem espírito familiar”.[13]

Néfi aplica as palavras do versículo 4 a seu povo; as diferenças das palavras são mostradas em itálico:

“Depois de haverem sido lançados no pó até deixarem de existir, as palavras dos justos ainda serão escritas e as orações dos fiéis, ouvidas; e todos os que caíram na incredulidade não serão esquecidos.
“Pois os que forem destruídos
falar-lhes-ão da terra e sua fala será fraca desde o pó e a sua voz será como a de alguém que evoca espíritos; pois o Senhor Deus dar-lhe-á poder para sussurrar a respeito deles, como se fosse da terra; e sua fala sussurrará desde o pó.
“Pois assim diz o Senhor Deus: Escreverão as coisas que serão feitas no meio deles e serão escritas e seladas num livro; e os que tiverem degenerado, caindo na incredulidade, não as terão, porqueprocuram destruir as coisas de Deus”
.[14]

Néfi, quando estava se despedindo de seus leitores no final de seu registro, descreveu-se como se estivesse falando “desde o pó”: “E agora, meus amados irmãos, todos os que são da casa de Israel e todos vós, confins da Terra, falo-vos com a voz de quem clama do pó: Adeus, até que chegue aquele grande dia” (ênfases adicionadas).[15]

Os versículos 5 e 6 descrevem mais sobre as destruições de Jerusalém, dos nefitas, e dos modernos apóstatas. O versículo 5 declara: “E a multidão dos teus inimigos será como o pó miúdo, e a multidão dos tiranos como a pragana que passa, e num momento repentino isso acontecerá”. O Livro de Mórmon descreve a queda mortal e a destruição precipitada de um povo que antes era justo e de seus exércitos, o que viria em poucos anos. O cerco e a queda de Jerusalém, predita aqui por Isaías, ocorreu em uma noite. Podemos esperar semelhantes quedas e destruições repentinas dos iníquos dos dias modernos, que também foi previsto por Isaías. “Inimigos” é traduzido na versão Reina-Valera 2009 em espanhol como “impiedosos” e na versão de King James em inglês como “desconhecidos”. Estas palavras significam “gentios”;“a multidão dos tiranos” significa “soldados”.

Néfi aplica as palavras do versículo 5 a seu próprio povo:

“Portanto, como os que foram destruídos, foram destruídos rapidamente; e a multidão de seus terríveis será como o restolho que desaparece—assim, pois, diz o Senhor Deus: Será num instante, repentinamente.
“E acontecerá que os que degenerarem, caindo na incredulidade, serão afligidos pela mão dos gentios
.[16]

O versículo 6 descreve desastres naturais devastadores: “Do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões, e com terremotos, e grande ruído com tufão de vento, e tempestade, e labareda de fogo consumidor”.[17] O Livro de Mórmon descreve a inaudita violência natural, inclusive todos os elementos mencionados aqui por Isaías que, num espaço de mais ou menos três horas, causaram a morte da maioria do povo nefita—especialmente os iníquos.[18]

Néfi continua, aplicando estas palavras de Isaías a seu povo:

“E quando esse dia chegar, serão visitados pelo Senhor dos Exércitos com trovões e com terremotos e com um grande estrondo e com borrascas e com tempestades e com a chama de fogo devorador.[19]

O Senhor dá uma advertência semelhante aos Santos dos Últimos Dias:

“Não obstante, Sião escapará se procurar fazer todas as coisas que lhe ordenei.
“Mas se não procurar fazer todas as coisas que eu lhe ordenei, visitá-la-ei de acordo com todas as suas obras, com aflição dolorosa, com pestilência, com pragas, com a espada, com vingança, com fogo devorador.[20]

Néfi parafraseia as palavras de Isaías, aplicando-as particularmente aos últimos dias:

“Eis, porém, que nos últimos dias, ou seja, nos dias dos gentios—sim, eis que todas as nações dos gentios e também dos judeus, tanto os que vierem a esta terra como os que estiverem em outras terras, sim, em todas as terras do mundo, eis que estarão embriagados de iniquidade e de toda espécie de abominações—
“E quando esse dia chegar, serão visitados pelo Senhor dos Exércitos com trovões e com terremotos e com um grande estrondo e com borrascas e com tempestades e com a chama de fogo devorador”.[21]

Bem como Néfi explicou, a destruição dos nefitas é um exemplo da destruição nos últimos dias. O fogo será um elemento importante nestas destruições.[22]

Os versículos 7 e 8 descrevem o destino daqueles que lutarem contra Sião. O versículo 7 diz: E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto”. Néfi, parafraseando, iguala a Sião dos últimos dias com Ariel: “E todas as nações que lutarem contra Sião e que a mortificarem serão como o sonho de uma visão noturna …”.[23]

Os versículos 2 até 7 contêm um quiasma; a redação de JST[24] é apresentada em itálico:

A: (2) Contudo porei a Ariel em aperto, e haverá pranto e tristeza; pois assim me disse o Senhor, ela será para Ariel.
B: (3) Porque Eu, o Senhor, acercarei
C: com o meu arraial, e a sitiarei com baluartes, e levantarei trincheiras contra ela.
D: (4) Então ela será abatida
E: falará de debaixo da terra,
F:e asuafala desde o pó sairá fraca;
F: e será a suavoz debaixo da terra,como a de um que tem espírito familiar,
E: e asuafala assobiará desde o pó.
D: (5) E a multidão dos seus inimigos será como o pó miúdo, e a multidão dos tiranos como a pragana que passa,
C: e num momento repentino isso acontecerá.
B: (6) Do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões, e com terremotos, e grande ruído com tufão de vento, e tempestade, e labareda de fogo consumidor.
A: (7) E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto.

Alguns elementos no lado ascendente deste quiasma obviamente correspondem com suas reflexões no lado descendente, já outros não são tão óbvios imediatamente. “Porque Eu, o Senhor, acercarei”é equivalente à frase “do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões …”, mostrando por quem Ariel será cercada. “Então ela será abatida” é equivalente ao elemento “a multidão dos seus inimigos será como o pó miúdo”, descrevendo, primeiramente, a derrota militar de Ariel e depois a dispersão de seus combatentes derrotados. O enfoque do quiasma é “e a sua fala desde o pó sairá fraca” e sua reflexão “e será a sua voz debaixo da terra,como a de um que tem espírito familiar”. As variações apresentadas na Tradução de Joseph Smith fazem com que este quiasma funcione melhor do que a versão de João Ferreira de Almeida. O Senhor cercará Ariel, derrotando-a; não obstante, um registro será preservado e mantido, o qual virá à luz como uma voz debaixo da terra, ou desde o pó.

O versículo 8 apresenta um símile a respeito de uma fome espiritual que afetaria as nações que lutarem contra Sião: “Será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião”.

Néfi provê mais informações:

“E todas as nações que lutarem contra Sião e que a mortificarem serão como o sonho de uma visão noturna; sim, acontecer-lhes-á como ao esfomeado que sonha e eis que come, mas acorda e sua alma está vazia; ou como ao sedento que sonha e eis que bebe, mas acorda e eis que está fraco e sua alma tem apetite; sim, será assim com a multidão de todas as nações que lutarem contra o Monte Sião”.[25]

Seu tormento será o fato deles serem incapazes de satisfazer sua fome ou sede de alimento espiritual —para que suas vidas tenham sentido. Eles não terão mais satisfação do que aqueles que somente sonham em comer.[26] “Sião” foi usado aqui com duplo sentido: Um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém, tanto antigo como moderno.[27] A definição de Sião pode ser substituída com um sentido ainda mais significante: será assim com a multidão de todas as nações que lutarem contra os puros de coração.[28]

Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma; a redação de Néfi está em itálico:

A: (7) E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto.
B: (8) Sim, também acontecer-lhes-á como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio;
B: ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede;
A: assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião.

“A multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel” é equivalente à frase “a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião”, que estabelece a equivalência de “Ariel” e “Sião”. A falta de alimento espiritual afetará aqueles que lutarem contra a Sião dos últimos dias.

Os versículos 9 e 10 descrevem mais os tormentos dos perseguidores de Sião. O versículo 9 começa assim: “Tardai, e maravilhai-vos, folgai, e clamai; bêbados estão, mas não de vinho, andam titubeando, mas não de bebida forte”. Néfi, novamente, fornece mais detalhes: “Pois eis que todos vós, que praticais iniquidades, detende-vos e assombrai-vos, porque gritareis e clamareis; sim, estareis ébrios, mas não de vinho, e cambaleareis, mas não com bebida forte”.[29]

Néfi elabora: “…eis que estarão embriagados de iniquidade e de toda espécie de abominações”.[30] Previamente, no capítulo 28, Isaías descreve os líderes eclesiásticos apóstatas como “a coroa de soberba dos bêbados de Efraim”.[31]

O versículo 10 continua: “Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes”. “Um espírito de profundo sono” significa que os atormentadores de Sião, devido as suas iniquidades, não reconhecerão a verdades reveladas aos videntes e profetas do Senhor trazidas à luz pela restauração dos últimos dias.

Néfi, parafraseando, deu uma explicação melhor: “Pois eis que o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono. Porque eis que haveis fechado os olhos e haveis rejeitado os profetas; e ele vendou vossos chefes e os videntes, por causa de vossa iniquidade”.[32]

Durante o período de grande escuridão e estupor espirituais descritos nos versículos 9 e 10, O Livro de Mórmon viria à luz como descrito nos versículos 11 e 12. O versículo 11 declara: “Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado”.

O versículo 12 continua: “Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler”.

Néfi explicou estes versículos centenas de anos antes da época de Joseph Smith:

“E acontecerá que o Senhor Deus vos revelará as palavras de um livro e serão as palavras dos que adormeceram.
“E eis que o livro estará selado; e no livro haverá uma revelação de Deus, desde o princípio até o fim do mundo.
“Portanto, por causa das coisas que estão seladas, as coisas que estão seladas não serão entregues no dia da iniquidade e das abominações do povo. Portanto o livro não lhes será revelado.
“O livro, porém, será entregue a um homem e ele entregará as palavras do livro, que são as palavras dos que adormeceram no pó; e ele entregá-las-á a um outro”.[33]

O homem mencionado aqui por Néfi é Joseph Smith.[34]

Néfi continua sua explicação:

“O livro, porém, será entregue a um homem e ele entregará as palavras do livro, que são as palavras dos que adormeceram no pó; e ele entregá-las-á a um outro;
“Mas não entregará as palavras que estão seladas nem entregará o livro. Porque o livro será selado pelo poder de Deus e a revelação que foi selada será guardada no livro até o devido tempo do Senhor, quando virão à luz; pois eis que revelam todas as coisas, desde a fundação do mundo até o seu fim.
“E dia virá em que as palavras do livro, que estavam seladas, serão lidas nos telhados das casas; e serão lidas pelo poder de Cristo; e serão reveladas aos filhos dos homens todas as coisas que ocorreram aos filhos dos homens e que ocorrerão até o fim da Terra”.[35]

A parte selada das placas de ouro contém uma revelação, originalmente escrita pelo irmão de Jared e traduzida da língua Jaredita por Morôni,[36] cujo maravilhoso conteúdo foi descrito aqui por Néfi.

Néfi continua, provendo mais detalhes de como esta profecia seria cumprida:

“Portanto, no dia em que o livro for entregue ao homem de quem falei, o livro será escondido dos olhos do mundo para que ninguém o veja, exceto três testemunhas, além daquele a quem o livro será entregue; e vê-lo-ão pelo poder de Deus; e eles testificarão a veracidade do livro e das coisas que ele contém.
“E ninguém mais o verá, senão uns poucos, de acordo com a vontade de Deus, para dar testemunho de suas palavras aos filhos dos homens, pois o Senhor Deus disse que as palavras dos fiéis falariam como se viessem dos mortos.
“Portanto o Senhor Deus revelará as palavras do livro e, pela boca de tantas testemunhas quantas achar necessário, estabelecerá a sua palavra; e ai do que rejeitar a palavra de Deus!
“Mas eis que acontecerá que o Senhor Deus dirá àquele a quem entregar o livro: Toma estas palavras que não estão seladas e entrega-as a um outro, para que ele as possa mostrar ao instruído, dizendo: Lê isto, suplico-te. E o instruído dirá: Traze-me o livro para que eu o leia.
“E dirão isto por causa da glória do mundo e para obter lucro, e não para a glória de Deus.
“E o homem dirá: Não posso trazer o livro, porque está selado.
“O instruído então dirá: Não o posso ler”.[37]

Em seguida, o Senhor através de Néfi dá instruções específicas para o futuro tradutor da obra:

“Acontecerá portanto que o Senhor Deus tornará a entregar o livro e as suas palavras ao que não é instruído; e o homem que não é instruído dirá: Não sou instruído.
“Então lhe dirá o Senhor Deus: Os instruídos não as lerão, porque as rejeitaram, e eu posso fazer minha própria obra; lerás portanto as palavras que te darei.
“Não toques nas coisas que estão seladas, pois manifestá-las-ei em meu devido tempo; pois mostrarei aos filhos dos homens que posso executar minha própria obra.
“Portanto, quando tiveres lido as palavras que te ordenei e obtido as testemunhas que te prometi, selarás novamente o livro e escondê-lo-ás para mim, a fim de que eu preserve as palavras que não leste, até que, em minha própria sabedoria, julgue oportuno revelar todas as coisas aos filhos dos homens.
“Porque eis que eu sou Deus; e sou um Deus de milagres; e mostrarei ao mundo que sou o mesmo ontem, hoje e para sempre; e não trabalho com os filhos dos homens a não ser de acordo com sua fé”.[38]

Joseph Smith registrou o cumprimento literal desta profecia em fevereiro de 1828:

“Nesse mesmo mês de fevereiro, o já mencionado Sr. Martin Harris veio a nossa casa, tomou os caracteres que eu havia copiado das placas e partiu com eles para a cidade de Nova York. Quanto ao que aconteceu em relação a ele e aos caracteres, refiro-me ao seu próprio relato dos acontecimentos, como me contou quando de seu regresso, e que é o seguinte:
“‘Fui à cidade de Nova York e apresentei os caracteres que tinham sido traduzidos, assim como sua tradução, ao professor Charles Anthon, famoso por seus conhecimentos literários. O professor Anthon declarou que a tradução estava correta, muito mais que qualquer tradução do egípcio que já vira. Mostrei-lhe então os que ainda não haviam sido traduzidos e ele disse-me serem egípcios, caldeus, assírios e arábicos; e acrescentou que eram caracteres autênticos. Deu-me uma declaração, atestando ao povo de Palmira que eram autênticos e que a tradução, como fora feita, também estava correta. Peguei a declaração e coloquei-a no bolso; estava saindo da casa quando o Sr. Anthon me chamou e perguntou-me como soubera o jovem que havia placas de ouro no lugar onde ele as encontrara. Respondi-lhe que um anjo de Deus lho revelara.
“‘Disse-me então: “Deixe-me ver essa declaração”. Tirei-a do bolso e entreguei-a a ele, que a pegou e rasgou em pedacinhos, dizendo que já não existiam coisas como ministério de anjos e que, se eu lhe desse as placas, ele as traduziria. Informei-o de que parte das placas estava selada e que me era proibido levá-las. Ele respondeu: “Não posso ler um livro selado”. Saí de lá e procurei o Dr. Mitchell, que confirmou tudo o que o Sr. Anthon dissera a respeito dos caracteres e da tradução’”.[39]

Joseph Smith proclamou o cumprimento desta profecia de Isaías e Néfi: “E também, o que ouvimos? Alegres novas de Cumora! Morôni, um anjo do céu, anunciando o cumprimento dos profetas—o livro a ser revelado”.[40]

Esta profecia de Isaías acerca do livro selado não seria facilmente compreendida até que fosse cumprida, registrado por Joseph Smith. Da mesma maneira, muitas outras profecias de Isaías não serão completamente compreendidas até que sejam cumpridas.

O Senhor aparentemente viu que era importante para os leitores do Livro de Mórmon nos últimos dias compreenderem os detalhes do cumprimento desta profecia de Isaías. Esta informação—provida por Néfi—já havia sido cumprida na época que foi traduzida das placas de ouro, e portanto, não serviu como uma orientação para o profeta Joseph enviar Martin Harris ao Professor Anthon. As placas menores de Néfi, que contêm esta profecia de Néfi, foram traduzidas por último na sequência de seções do Livro de Mórmon, provavelmente no fim do ano de 1829.[41] Martin Harris foi enviado ao Professor Anthon em fevereiro de 1828.[42]

Os versículos 13 e 14 descrevem o começo da restauração. As palavras do versículo 13 foram proferidas pelo Salvador a Joseph Smith na primavera de 1820, quando Joseph tinha 14 anos de idade, em resposta a sua fervorosa oração para saber qual Igreja era verdadeira: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído”.[43], [44]

Néfi elabora:

“E acontecerá outra vez que o Senhor dirá àquele que há de ler as palavras que lhe serão entregues:
“Pois que este povo se aproxima de mim com a boca e com os lábios me honra, mas afastou de mim o coração e seu temor a mim é ensinado segundo os preceitos dos homens.[45]

O versículo 13 foi citado por Jesus durante Seu ministério mortal:

“Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:
“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.
“Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.[46]

A declaração não é somente verdadeira com respeito aos Judeus na época de Jesus; mas também certa para os cristãos sectários da época de Joseph Smith, bem como para o nosso tempo. Múltiplos níveis de profecia e cumprimento caracterizam a obra de Isaías, como foi ilustrado neste versículo.

O versículo 14 continua: “Portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá”. [47] A palavra hebraica que significa “incomparável” ou “extraordinária” foi traduzida como “uma obra maravilhosa”, e a palavra hebraica que significa “incomum” ou “extraordinário” foi traduzido como “um assombro”,[48] mostrando que são quase sinônimas. Neal A. Maxwell ensinou o significado hebraico da frase redundante “um milagre milagroso”.[49]

Néfi apresenta este versículo com pequenas mudanças: “Portanto farei uma obra maravilhosa no meio deste povo, sim, uma obra maravilhosa e um assombro, pois a sabedoria de seus sábios e instruídos perecerá e o entendimento dos seus prudentes será escondido”.[50]

O apóstolo Paulo parafraseou o versículo 14:

“Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
“Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?”[51]

O Senhor, falando em fevereiro de 1829 a Joseph Smith, proclamou o cumprimento iminente desta profecia: “Agora eis que uma obra maravilhosa está para iniciar-se entre os filhos dos homens”.[52] A “obra maravilhosa” mencionada aqui é a vinda do Livro de Mórmon e da restauração do evangelho—o tempo de refrigério mencionado por Isaías[53] e por Pedro.[54] Isto causaria o desvanecimento da sabedoria dos sábios e esconderia o conhecimento dos prudentes, porque restauraria a verdade para tomar o lugar do erro ensinado pelos que se diziam sábios e prudentes. Seria feito por um que não fosse estudado e instruído, como descrito no capítulo 28 por Isaías.[55] Néfi prediz a restauração: “E o Senhor estenderá a mão pela segunda vez, a fim de resgatar seu povo de seu estado decaído e de perdição. Portanto fará uma obra maravilhosa e um assombro no meio dos filhos dos homens”.[56]

Néfi descreve outra dimensão da “obra maravilhosa e um assombro”:

“Pois vem o tempo, diz o Cordeiro de Deus, em que farei uma obra grande e maravilhosa entre os filhos dos homens, uma obra que será eterna, seja para um fim ou para outro—seja para convertê-los à paz e à vida eterna ou para entregá-los à dureza de seu coração e à cegueira de sua mente, até serem levados ao cativeiro e também à destruição, tanto física como espiritual, segundo o cativeiro do diabo do qual tenho falado”.[57]

Grande e maravilhosa será esta obra porque, como o Senhor atestou, proverá para toda a humanidade uma escolha bem clara—entre escolher a paz e vida eterna, ou escolher a dureza de seu coração e a cegueira de sua mente, que leva ao cativeiro temporal e espiritual sob a influência do diabo.

O começo desta obra—como Néfi profetizou—ocorreria entre os gentios no continente Americano, onde ele e seu povo viveriam:

“E significa que tempo virá em que, depois de toda a casa de Israel haver sido dispersa e confundida, o Senhor Deus levantará entre os gentios uma nação poderosa, sim, sobre a face desta terra; e nossos descendentes serão por eles dispersos.
“E depois de nossos descendentes haverem sido dispersos, o Senhor Deus fará uma obra maravilhosa entre os gentios, que será de grande valor para nossos descendentes; é como se fossem, portanto, alimentados pelos gentios e carregados em seus braços e sobre seus ombros”.[58]

O Senhor, ao descrever as bênçãos dos fiéis Santos dos Últimos Dias, usou algumas das mesmas palavras:

“Eu, o Senhor, sou misericordioso e benigno para com aqueles que me temem e deleito-me em honrar aqueles que me servem em retidão e em verdade até o fim ….
“E sua sabedoria será grande e seu entendimento alcançará os céus; e diante deles a sabedoria dos sábios perecerá e o entendimento dos prudentes se desvanecerá”.[59]

O Presidente Gordon B. Hinckley descreveu a continuação do trabalho de espalhar o evangelho através dos esforços dos missionários:

“Eles [missionários] edificam o reino no mundo todo. Afetam para o bem eterno a vida de todos com quem trabalham, e gerações vindouras serão afetadas pelo que eles fazem hoje. Eles estão cumprindo as declarações de profetas antigos que falavam em nome do Senhor a respeito de “uma obra maravilhosa e um assombro” que haveria de acontecer na dispensação da plenitude dos tempos”.[60]

O Presidente Spencer W. Kimball descreve um aspecto da sabedoria mundana e do entendimento do mundo que deverão perecer:

“Estarrece-nos o empenho consciente de muitos neste mundo que, presuntivamente, assumem a responsabilidade de mudar os padrões de conduta social estabelecidos pelo Senhor, particularmente no tocante ao casamento, vida sexual, vida familiar. Temos que dizer: ‘…a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá’”.[61]

Em nossos dias—o dia predito tão vividamente por Isaías e Néfi—há somente dois tipos de igrejas. Primeiro, há igrejas baseadas nas tradições, que tentam manter vivas nas mentes e vidas das pessoas, as lembranças de revelações recebidas no passado. Há igrejas que baseiam suas doutrinas nas escrituras antigas e o que eles interpretam das escrituras intelectualmente. Eles professam que revelações, como uma influência principal nas vidas das pessoas, é coisa do passado e não da época atual. Eles rejeitam qualquer coisa que alguém professa ser escritura ou revelação além do que se encontra preservado na Bíblia. Eles zombam e perseguem qualquer pessoa que professa receber revelações.

Segundo, tem a viva e vibrante Igreja liderada pelo Filho de Deus através de profetas vivos, que andam na Terra em nossa época atual. Esta Igreja verdadeira—a “obra maravilhosa” mencionada por Isaías—está fundada sob o princípio de contínua revelação de Deus. É caracterizada pelos dons do Espírito inclusive o testemunho de muitos que a luz dos céus lhes iluminou as almas, testificando da verdade das palavras de profetas modernos. Esta Igreja não coloca de lado as doutrinas contidas nas escrituras antigas, pois nós ouvimos e obedecemos cada palavra que tenha saído da boca de Deus. Usamos escrituras antigas para autenticar as palavras do Senhor dadas aos profetas em tempos modernos. Esta Igreja moderna é bem diferente em sua doutrina comparada com as do resto do mundo, porque o evangelho foi restaurado em sua plenitude e porque há novas revelações e escrituras que foram reservadas para os últimos dias, como predito pelos profetas antigos.

Os versículos 10 até 14 contêm um quiasma:

A: (10) Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes.
B: (11) Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado.
C: (12) Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler.
D: (13) Porque o Senhor disse:
E: Pois que este povo
F: se aproxima de mim,
G: e com a sua boca, e com os seus lábios me honra,
G: mas o seu coração
F: se afasta para longe de mim
E: e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;
D: (14) Portanto eis que continuarei a fazer
C: uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro;
B: porque a sabedoria dos seus sábios perecerá,
A: e o entendimento dos seus entendidos se esconderá.

“Fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes” equivale ao “o entendimento dos seus entendidos se esconderá”, dando uma descrição complementar dos encarregados de tomarem decisões na época prevista. “Entendidos” cuja sabedoria seria escondida ou elipsada pelo conteúdo do livro, incluem aqueles que fingem ser profetas e principais videntes. “Ao que sabe ler” é comparável ao “entendimento dos seus prudentes”, esclarecendo que os homens entendidos cujos entendimentos se esconderia incluem os estudiosos ou instruídos. “Ou dá-se o livro” complementa “uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro”, mostrando o significado de Isaías de que O Livro de Mórmon seria uma parte significante da “obra maravilhosa” mencionada. “Se aproxima de mim” se contrasta com “mas tem afastado para longe de mim”, e “com a sua boca e com os seus lábios me honra”se contrasta com“o seu coração”, ilustrando o caráter superficial das crenças do povo. A restauração, inclusive a chegada do Livro de Mórmon, viria num tempo de corações duros e mentes fechadas, quando os homens honrariam ao Senhor com seus lábios, mas não o honrariam em espírito.

Os versículos 15 e 16 formam um oráculo de pesar, direcionado àqueles que cometem atos secretos de iniquidades. O versículo 15 começa: “Ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras às escuras, e dizem: Quem nos vê? E quem nos conhece?” Néfi apresenta este versículo com pequenas variações. [62]

Néfi explica mais sobre o significado do versículo 15: “Sim, e haverá muitos que ensinarão desta maneira doutrinas falsas, vãs e tolas; e encherão o coração de orgulho e procurarão esconder profundamente do Senhor os seus desígnios secretos; e farão as suas obras às escuras”.[63]

O versículo 16 continua: “Vós tudo perverteis, como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Não me fez; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: Nada sabe”. Néfi esclarece quem está falando: E também dizem: Certamente a inversão que fazeis das coisas …”.[64] O hebraico apresenta “Ó sua perversidade! Acaso o oleiro pode ser considerado como barro?”[65] A pergunta retórica ilustra o absurdo da posição destes obreiros de escuridão secreta ao assumirem que suas obras—perseguir os santos e tentar descreditar o trabalho de restauração do Senhor—não seriam vistas pelo Ele. Outras duas perguntas retóricas mostram o erro de assumir que o Senhor não teria conhecimento desses atos secretos. A frase “certamente a inversão que fazeis das coisas” reflete a total revolução em pensamentos religiosos que eventualmente seria trazido pelo Livro de Mórmon e pela restauração do evangelho.

O versículo 17 prevê que o estado atual da vida espiritual e política mudaria dramaticamente: “Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento, em campo fértil? E o campo fértil não se reputará por um bosque?” Néfi apresenta: Mas eis que diz o Senhor dos Exércitos: Eu mostrarei aos filhos dos homens que dentro em breve o Líbano se converterá em um campo fértil …”.[66] “Bosque” significa os nobres ou líderes do povo, e “campo fértil” significa um novo instrumento econômico[67] desenvolvido pela produtividade do povo do convênio; naquele dia os campos férteis serão estimados tanto quanto os bosques foram no passado. Mudanças físicas descritas aqui são símbolos das mudanças previstas dos valores e percepções entre os seres humanos.[68]

Isaías, no capítulo 32, usa uma frase semelhante para descrever a restauração, mas substitui “deserto” por “Líbano:” “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque”.[69] A substituição da palavra “deserto” para “Líbano” dá uma melhor explicação para o significado intencionado por Isaías para a palavra “Líbano”—o deserto espiritual, que é o resultado da apostasia mundial.

O versículo 17 contém um quiasma reconhecido no original em hebraico, que foi aqui reconstruído para corresponder com a construção hebraica:[70]

(17) Porventura,num breve momento,
A: não se converterá
B: o Líbano
C: em campo fértil?
C: E o campo fértil
B: por um bosque
A: não se reputará?

“Não seconverterá” compare-se com “não se reputará”, revelando que o Líbano sendo transformado num campo fértil é figurativo, ao invés de literal.

O versículo 18 descreve as bênçãos espirituais que seriam derramadas quando O Livro de Mórmon viesse à luz: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão”. Aqueles que são espiritualmente surdos e cegos serão capazes de compreender assuntos espirituais devido o conteúdo deste livro.

Os elementos do versículos 17 e 18 formam um quiasma:

A: (17) Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento,
B: em campo fértil?
B: E o campo fértil
A: não se reputará por um bosque? (18) E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão.

Estes dois versículos correlacionam-se, como mostrado pela estrutura quiasmática, mesmo que à primeira vista não seja evidente. “Se converterá o Líbano, num breve momento” compara-se com “não se reputará por um bosque? E naquele dia os surdos ouvirão …”. A mensagem de Isaías nestas duas declarações é que pouco tempo depois do livro ter vindo à luz, aconteceria uma revolução em crenças religiosas, possibilitando aqueles que estavam cegos e surdos espiritualmente a compreenderem os assuntos espirituais.

O versículo 19 descreve algumas das grandes bênçãos trazidas pelo Livro de Mórmon: “E os mansos terão gozo sobre gozo no Senhor; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel”. Néfi apresenta: E os mansos também florescerão e seu gozo estará no Senhor; e os pobres regozijar-se-ão no Santo de Israel …”.[71] Compare com as declarações feitas no sermão das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”; e “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”.[72] O Livro de Mórmon contém a plenitude do evangelho, como foi ensinada por Cristo durante Seu ministério terreno. Os ensinamentos de Cristo—tanto na Bíblia quanto no Livro de Mórmon—forneceriam bênçãos aos pobres e mansos da terra que crerem.

O Senhor, em Doutrina e Convênios, dá maiores detalhes sobre as bênçãos concedidas ao viver a plenitude do evangelho:

“Pois aqueles que são prudentes e tiverem recebido a verdade e tomado o Santo Espírito por seu guia e não tiverem sido enganados—em verdade vos digo que não serão cortados e lançados no fogo, mas suportarão o dia.
“E a Terra ser-lhes-á dada por herança e multiplicar-se-ão e tornar-se-ão fortes; e seus filhos crescerão sem pecado para a salvação.[73]
“E suas gerações herdarão a Terra de geração em geração, para todo o sempre …”.[74]

O versículo 20 descreve o destino dos que criticarem O Livro de Mórmon, a obra da restauração dos últimos dias e a edificação de Sião: “Porque o tirano é reduzido a nada, e se consome o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade são desarraigados”. Néfi adicionou: Porque tão certo como o Senhor vive, eles verão que o temível será reduzido a nada …”.[75]

O Senhor, em Doutrina e Convênios, fornece uma explicação adicional: “Amaldiçoados são todos os que levantarem o calcanhar contra meus ungidos, diz o Senhor; e proclamarem terem eles pecado quando não pecaram perante mim, diz o Senhor, mas fizeram o que era agradável a meus olhos e que eu lhes ordenara”.[76]

O Senhor testifica que Ele destruirá aqueles que buscam a iniquidade: “E calamidade cobrirá o desdenhador e o escarnecedor será consumido; e os que tiverem procurado a iniquidade serão cortados e lançados no fogo”.[77]

Os versículos 17 até 20 contêm um quiasma que sobrepõe o quiasma dos versículos 17 e 18. Elementos em comum nestes dois quiasmas proveem um significado maior:

A: (17) Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento, em campo fértil?
B: (18) E naquele dia os surdos
C: ouvirão as palavras do livro,
D: e dentre a escuridão
D: e dentre as trevas
C: os olhos dos cegos as verão.
B: (19) E os mansos terão gozo sobre gozo no Senhor; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel.
A: (20) Porque o tirano é reduzido a nada, e se consome o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade são desarraigados.

Num breve momento depois da chegada do Livro de Mórmon os surdos e os cegos, que estavam cegos e surdos espiritualmente, serão levados á compreender a mensagem do livro e terão gozo sobre gozo no Senhor. Por causa deste livro os líderes do povo prosperarão, o tirano será reduzido a nada, se consumirá o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade serão desarraigados.

Devido as relações no quiasma dos versículos 17 e 18, as seguintes frases são equivalentes: “Se converterá o Líbano … em campo fértil”, “o tirano é reduzido a nada”, “os surdos ouvirão as palavras do livro” e “osmansos terão gozo sobre gozo no Senhor”. O significado é que a chegada do Livro de Mórmon revolucionará pensamentos religiosos, incluindo os benefícios descritos.

O versículo 21 provê uma maior descrição dos perseguidores e escarnecedores: “Os que fazem culpado ao homem por uma palavra, e armam laços ao que repreende na porta, e os que sem motivo põem de parte o justo”. Néfi apresenta este versículo com pequenas modificações.[78] A “porta” significa um lugar de transações públicas, onde os profetas geralmente pregavam ou exortam.

Neal A. Maxwell elaborou:

“Assim se desvenda o processo de provação, censura e desenvolvimento, que não deve ofender nem surpreender. Enquanto isso, a desigualdade no desenvolvimento espiritual do povo significa desleixo na história, e não devemos culpar um indivíduo por causa de uma palavra, como se uma única passagem pudesse invalidar tudo mais que ele possa ter transmitido ou defendido!”[79]

Os versículos 22 e 23 continuam a delinear os resultados benéficos da chegada do Livro de Mórmon. O versículo 22 declara: “Portanto assim diz o Senhor, que remiu a Abraão, acerca da casa de Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face”. A chegada do Livro de Mórmon levaria à coligação e redenção dos descendentes de Jacó, restaurando-os como povo e retirando sua vergonha por estarem dispersos por tanto tempo devido suas iniquidades—não tendo seu próprio lugar, sendo invejados, sendo discriminados por serem diferentes.

O versículo 23 continua: “Mas quando ele vir seus filhos, obra das minhas mãos no meio dele, santificarão o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel”. A frase “temerão ao Deus de Israel” significa “adorarão ao Deus de Israel”.

Os versículos 22 e 23 formam a quiasma:

A: (22) Portanto assim diz o Senhor,
B: que remiu a Abraão,
C: acerca da casa de Jacó:
D: Jacó não será agora envergonhado,
D: nem agora se descorará a sua face.
C: (23) Mas quando ele vir seus filhos,
B: obra das minhas mãos no meio dele,
A: santificarão o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel.

“O Senhor” é equivalente a “meu nome”, “Santo de Jacó” e “Deus de Israel”, que são os diversos nomes do Senhor. “Que remiu a Abraão” compara-se com “obra das minhas mãos”, que significa que a promessa feita a Abraão foi cumprida através dos descendentes de Jacó, que são a obra das mãos do Senhor. O Senhor, através do conteúdo do Livro de Mórmon, daria muito consolo a Jacó e a seus herdeiros.

O versículo 24 explica que O Livro de Mórmon seria um instrumento para corrigir falsas doutrinas: “E os errados de espírito virão a ter entendimento, e os murmuradores aprenderão doutrina”. “Murmurar” significa reclamar a respeito da maneira que o Senhor lida com a humanidade, como por exemplo a morte de um ente querido. Ao explicar a última frase deste versículo, Neal A. Maxwell explicou que o único remédio para o analfabetismo doutrinal será “os murmuradores aprenderão doutrina”.[80]

Verdadeiramente O Livro de Mórmon tem um papel importantíssimo na restauração do evangelho de Jesus Cristo nos últimos dias, funcionando figurativamente como “a pedra angular de nossa religião”.[81]

NOTAS

[1]. Joseph Smith―História 1:65.
[2]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, 523 p. Ver também JST Isaías 29:1-8.
[3]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 740, p. 72 (Ari’el); Número de Strong 739, p. 72 (ari’yel).
[4]. Brown et al., 1996, Número de Strong 741, p. 72; Ver também Isaías 29:1, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 1b.
[5]. Brown et al., 1996, Número de Strong 738, p. 71.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 410, p. 41.
[7]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 201; JST Isaías 29:2.
[8]. 2 Néfi 26:15.
[9]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 201; JST Isaías 29:2.
[10]. O texto Massorético hebraico do Velho Testamento é o que é normalmente usado hoje, de onde foi traduzida a versão da Bíblia de João Ferreira de Almeida e todas as demais traduções modernas do Velho Testamento em outras línguas. “Massorético” significa o sumário das tradições concernentes a escrita e a leitura correta das Escrituras Sagradas, tal como foram transmitidas pelos antepassados dos judeus modernos. (Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]:Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 448).
[11]. Brown et al., 1996, Número de Strong 178, p. 15.
[12]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5175, p. 638.
[13]. Em particular, a tradução do Latin Vulgta de Jerome e a tradução em espanhol Reina-Valera (1909, 1960) apresentam como “píton.” Traduções da Bíblia usadas para comparação neste comentário podem ser acessadas como “The Bible Database” no site http://bibledatabase.org/.
[14]. 2 Néfi 26:15-17.
[15]. 2 Néfi 33:13.
[16]. 2 Néfi 26:18-19.
[17]. Ver Isaías 1:7, 28; 5:24; 9:5, 18-19; 10:16-18; 24:6; 27:11; 30:27, 30, 33; 33:11-12, 14; 34:9; 42:25; 43:2; 47:14; 64:1-2, 11; 66:15-16 e comentário pertinente.
[18]. Ver 3 Néfi 8:5-18.
[19]. 2 Néfi 27:2.
[20]. Doutrina e Convênios 97:25-26.
[21]. 2 Néfi 27:1-2.
[22]. Ver referências e comentário para o versículo 6.
[23]. 2 Néfi 27:3.
[24]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 201; JST Isaías 29:2.
[25]. 2 Néfi 27:3.
[26]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 263.
[27]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 24:23; 28:16; 30:19; 31:4, 9; 51:3.
[28]. Ver D&C 97:21.
[29]. 2 Néfi 27:4.
[30]. 2 Néfi 27:1.
[31]. Isaías 28:1-3.
[32]. 2 Néfi 27:5.
[33]. 2 Néfi 27:6-9.
[34]. Monte S. Nyman, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 26:6; 27/Isaías 29”, Book of Mormon Reference Companion: [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon] Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 388-392.
[35]. 2 Néfi 27:9-11.
[36]. Ver Éter 4:5-7.
[37]. 2 Néfi 27:12-18.
[38]. 2 Néfi 27:19-23.
[39]. Joseph Smith—História 1:63-65.
[40]. D&C 128:20.
[41]. Joseph Smith—História 1:66-68.
[42]. Ver Joseph Smith—História 1:62-63.
[43]. Ver Joseph Smith—História 1:19.
[44]. O versículo 13 contém um quiasma: Este povo/se aproxima de mim/boca … lábios//coração/para longe de mim/seu temor.
[45]. 2 Néfi 27:24-25.
[46]. Mateus 15:7-9. Ver também Marcos 7:6-7.
[47]. O versículo 14 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Perecerá/a sabedoria dos seus sábios//o entendimento dos seus entendidos/se esconderá. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[48]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6381, p. 810 (pala’, marvellous work [uma obra maravilhosa]); Número de Strong 6382, p. 810 (pele’, wonder [assombro]).
[49]. Neal A. Maxwell, “Meu Servo Joseph”, A Liahona, Julho de 1992, p. 40.
[50]. 2 Néfi 27:26.
[51]. 1 Coríntios 1:19-20.
[52]. D&C 4:1; Ver também D&C 6:1; 11:1; 12:1; 18:44.
[53]. Ver Isaías 28:12.
[54]. Ver Atos 3:19.
[55]. Ver Isaías 28:9; também Isaías 29:12.
[56]. 2 Néfi 25:17.
[57]. 1 Néfi 14:7.
[58]. 1 Néfi 22:7-8; Ver também Isaías 49:22.
[59]. D&C 76:5, 9.
[60]. Gordon B. Hinckley, “Um Estandarte Para a Nação”, A Liahona, Janeiro de 1990, p. 64.
[61]. Spencer W. Kimball, “Por Que Me Chamáis Senhor, Senhor, e Não Fazeís o Que Eu Digo?” A Liahona, Agosto de 1975, p. 44.
[62]. 2 Néfi 27:27.
[63]. 2 Néfi 28:9.
[64]. 2 Néfi 27:27.
[65]. J. R. Dummelow, The One volume Bible Comentary [Comentário Bíblico de um Volume]: Macmillan Publishing Company, 866 Third Avenue, New York, NY 10022, 1908-1909, p. 435; Ver também Brown et al., 1996, Número de Strong 2017, p. 246.
[66]. 2 Néfi 27:28.
[67]. Ver Isaías 2:13; 10:18-19, 33-34; 14:8; 32:15; 37:24; 55:12.
[68]. Monte S. Nyman, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 26:6; 27/Isaías 29”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 388-392.
[69]. Isaías 32:15.
[70]. Parry, 2001, p. 260.
[71]. 2 Néfi 27:30.
[72]. Mateus 5:3, 5.
[73]. D&C 45:57-58.
[74]. D&C 56:20.
[75]. 2 Néfi 27:31.
[76]. D&C 121:16.
[77]. D&C 45:50.
[78]. 2 Néfi 27:32.
[79]. Neal A. Maxwell, “Fora da Obscuridade”, A Liahona, Janeiro de 1985, p. 11.
[80]. Neal A. Maxwell, “Vida Pré-Mortal, Uma Gloriosa Realidade”, A Liahona, Janeiro de 1986, p. 15.
[81]. Ver Livro de Mórmon—Introdução.

CAPÍTULO 24: “Porquanto Têm Transgredido as Leis, Mudado os Estatutos, e Quebrado a Aliança Eterna”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

O capítulo 24 descreve a destruição dos iníquos nos últimos dias antes da Segunda Vinda do Senhor. Este capítulo serve como uma introdução para os quatro capítulos consecutivos—24 até 27—que falam sobre a destruição dos iníquos, a Segunda Vinda do Senhor, e o começo de Seu reinado glorioso. Primeiro, Isaías declara que os homens transgrediram as leis, mudaram as ordenanças e quebraram o convênio eterno; devido a iniquidade prevalente, a Terra seria profanada por seus habitantes. Os remanescentes justos, entretanto, regozijariam. Na Segunda Vinda os ímpios serão queimados, a Terra balancearia como um embriagado, e a lua e o sol não dariam suas luzes. Depois destes eventos, o Senhor reinará gloriosamente em Sião e Jerusalém.

O versículo 1 começa a descrever a devastação: “Eis que o SENHOR esvazia a terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores”. O significado desta passagem é que a Terra ficaria devastada e desolada,[1] e a face da Terra seria transformada. Esta descrição refere-se aos desastres naturais de extrema magnitude.

Outros julgamentos estão preditos em Doutrina e Convênios:

“E haverá homens nessa geração que não passarão até que vejam uma praga terrível; pois uma doença desoladora cobrirá a terra.
“Mas os meus discípulos permanecerão em lugares santos e não serão movidos; mas, entre os iníquos, homens levantarão a voz e amaldiçoarão a Deus e morrerão.”[2]

O Senhor provê um meio de escape para Seus seguidores fiéis—permanecerão em lugares santos.

Em outras partes de Doutrina e Convênios o Senhor descreve o flagelo:

“Porque haverá um flagelo assolador entre os habitantes da Terra e continuará a derramar-se de tempos em tempos, se eles não se arrependerem, até que a Terra fique vazia e seus habitantes sejam consumidos e totalmente destruídos pelo resplendor da minha vinda.”[3]

O Senhor indica que Ele usa símbolos em Suas advertências a Seu povo, concernente ao futuro, assim como fez ao revelar Suas palavras a Isaías: “Eis que te digo estas coisas, assim como também falei ao povo acerca da destruição de Jerusalém; e minha palavra será confirmada agora, como tem sido confirmada até aqui”.[4] As mesmas palavras são usadas pelo Senhor em épocas diferentes—uma vez referindo-se à destruição de Jerusalém e a outra vez referindo-se à destruição dos iníquos antes da Sua Segunda Vinda.

O versículo 2 descreve a extensão da destruição entre o povo: “E o que suceder ao povo, assim sucederá ao sacerdote; ao servo, como ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao que empresta, como ao que toma emprestado; ao que dá usura, como ao que paga usura”. As posições sociais mencionadas são honoráveis; o propósito de Isaías é o de incluir nesta comparação todos os níveis sociais.

O versículo 3 explica mais: “De todo se esvaziará a terra, e de todo será saqueada, porque o Senhor pronunciou esta palavra”.[5] “Saqueada” significa “roubada” ou “pilhada”.[6]

O versículo 4 declara: “A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra”. A Terra, agindo como um ser vivo, lamenta quando a iniquidade prevalece.[7]  Os verbos “Se murcha” e “enfraquece” significam tornar-se “débil” ou “fraco”.[8] Isto pode ser equivalente à praga terrível ou doença desoladora, mencionadas acima.

O versículo 5 descreve a corrupção da Terra: “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Além da quebra dos convênios, este versículo descreve corrupção de leis religiosas e possivelmente civis. O Senhor reflete este versículo em Doutrina e Convênios: “Pois desviaram-se de minhas ordenanças e quebraram meu convênio eterno”.[9]

O Presidente Spencer W. Kimball declarou:

“Certamente, alguma culpa [de espalhar o pecado e a maldade] pode ser atribuída às vozes vinda das salas de aulas, departamentos editoriais, ou redes de transmissão, até mesmo do púlpito.
“Essas vozes terão que responder pela perpetuação de mentiras e por sua incapacidade de oferecer uma verdadeira liderança para combater o mal. [O] que suceder ao povo, sucederá ao sacerdote…”.[10] O termo sacerdote é usado aqui para denotar todos os líderes religiosos de qualquer religião. Isaías disse: “a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Dentre as vozes discordantes, ficamos chocados com os conselhos de muitos sacerdotes, ou líderes religiosos, que encorajam a profanação dos homens e aceitam as tendências corrosivas que negam a omnisciência de Deus. Certamente, esses homens deveriam ser inabaláveis, porém alguns estão cedendo aos clamores populares.”[11]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) A terra pranteia e se murcha;
B: o mundo
C: enfraquece e se murcha;
C: enfraquecem
B: os mais altos do povo da terra.
A: (5) Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores….

“O mundo” é complementado por “os mais altos do povo da terra”, provendo a definição para a palavra “mundo”. A Terra se comporta como um ser vivo, lamentando quando a maldade prevalece.

O versículo 6 descreve as consequências: “Por isso a maldição tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados; por isso são queimados os moradores da terra, e poucos homens restam”. Temos aqui duas frases paralelas, ou declarações sinônimas. As frases que vêm depois das duas ocorrências de “por isso” complementam-se: A maldição que tem consumido a terra se consistirá da queima dos moradores da terra;[12] e a desolação dos que restaram tem o mesmo significado de poucos homens restam depois da destruição.[13]

O Senhor, ao apresentar o livro de Doutrina e Convênios aos leitores dos últimos dias, disse: “Portanto eu, o Senhor, conhecendo as calamidades que adviriam aos habitantes da Terra…”.[14]

O versículo 7 declara: “Pranteia o mosto, enfraquece a vide; e suspiram todos os alegres de coração”. O significado desta passagem é que os novos vinhos—o produto da presente estação—resultariam em calamidades;[15] a videira ficaria “débil” ou “enfraquecida”, possivelmente até com doenças;[16] e a alegria cessaria sob o peso da maldição devoradora.

O versículo 8 elabora: “Cessa o folguedo dos tamboris, acaba o ruído dos que exultam, e cessa a alegria da harpa”.

O versículo 9 descreve uma significante mudança social: “Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem”. Os que beberem farão para esquecer—um temporário escape da angústia—ao invés de para celebrar.

O versículo 10 descreve a interrupção de atividades sociais normais: “Demolida está a cidade vazia, todas as casas fecharam, ninguém pode entrar”. “Demolida” significa que sua maldade e seu orgulho foram quebrados ou destruídos.[17] Terremotos, outros desastres naturais e guerra podem ter contribuído para esta destruição.

O versículo 11 sumariza os temas dos versículos 7, 8 e 9: “Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho; toda a alegria se escureceu, desterrou-se o gozo da terra”.

Os versículos 8 até 11 contêm um quiasma:

A: (8) Cessa o folguedo dos tamboris,
B: acaba o ruído dos que exultam, e cessa a alegria da harpa.
C: (9) Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem.
D: (10) Demolida está a cidade vazia,
D: todas as casas fecharam, ninguém pode entrar.
C: (11) Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho;
B: toda a alegria se escureceu,
A: desterrou-se o gozo da terra.

As frases “Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem” correspondem-se à frase “Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho”. O uso do vinho para o consolo substitui seu uso para a celebração; as pessoas vagariam pelas ruas clamando por vinho para entorpecer seu sofrimento. As ruas das cidades, antes movimentadas, tornar-se-iam silenciosas; as manifestações de alegria cessariam, substituídas pelo lamento e choro.

O versículo 12 consiste de duas frases paralelas: “Na cidade só ficou a desolação, a porta ficou reduzida a ruínas”. Não somente a população reduziria, a infraestrutura seria destruída.

O versículo 13 compara os poucos sobreviventes às poucas azeitonas deixadas nas oliveiras depois da colheita, e logo às poucas uvas deixadas nas videiras: “Porque assim será no interior da terra, e no meio destes povos, como a sacudidura da oliveira, e como os rabiscos, quando está acabada a vindima”. Isaías usou esta alegoria antes, no capítulo 17, para descrever os que restariam depois da destruição das antigas cidades de Efraim e Damasco: “Porém ainda ficarão nele [nas videiras] alguns rabiscos, como no sacudir da oliveira: duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos, e quatro ou cinco nos seus ramos mais frutíferos…”.[18] Restariam poucos sobreviventes.

Nos versículos 14 até 16 Isaías começa a falar sobre os poucos sobreviventes dispersos. O versículo 14 declara: “Estes alçarão a sua voz, e cantarão com alegria; e por causa da glória do Senhor exultarão desde o mar”. “Desde o mar” significa que os sobreviventes seriam carregados para outras terras do outro lado do mar.

O versículo 15 continua: “Por isso glorificai ao Senhor no oriente, e nas ilhas do mar, ao nome do Senhor Deus de Israel.” “No Oriente” vem de uma palavra hebraica que significa “região de luz”,[19] ou um lugar onde habitam os justos. O termo “ilhas do mar” pode estar se referindo aos nefitas do continente americano, a quem Cristo visitou depois de Sua crucificação e ressurreição. Néfi cita seu irmão Jacó, falando que eles estavam “em uma ilha do mar”.[20]

O versículo 16 contrasta o canto dos sobreviventes com o profundo pesar de Isaías pelos iniquidades dos que foram destruídos: “Dos confins da terra ouvimos cantar: Glória ao justo. Mas eu disse: Emagreço, emagreço, ai de mim! Os pérfidos têm tratado perfidamente; sim, os pérfidos têm tratado perfidamente”. “Os pérfidos” significa “o que age de má fé” ou “enganosamente”[21] —cujas ações trariam a predita destruição.  “Emagreço” vem da palavra hebraica que significa “Eu definho!”[22] “Dos confins da terra” refere-se, novamente, aos ramos dispersos de Israel, que foram levados para partes remotas da Terra, onde a retidão prevaleceria, pelo menos por um tempo.

Os versículos 17 até 20 descrevem terremotos cataclísmicos e seus efeitos destrutivos. O versículo 17 descreve o terror dos injustos quando deparados com a morte: “O temor, e a cova, e o laço vêm sobre ti, ó morador da terra”. “Cova” significa “calamidade” ou “cilada”;[23] “laço” significa “armadilha” ou “engodo”,[24] ou tentação.

Os versículos 16 e 17 contêm um quiasma:

A: (16) Dos confins da terra ouvimos cantar: Glória ao Justo.
B: Mas eu digo: Emagreço, emagreço,
C: ai de mim!
D: Os pérfidos têm tratado perfidamente;
D: sim, os pérfidos têm tratado perfidamente.
C: (17) O temor,
B: e a cova, e o laço vêm sobre ti,
A: ó morador da terra.

O lamento de Isaías no lado ascendente do quiasma é complementado pelo terror dos habitantes da Terra no lado descendente. “Emagreço, emagreço” correlaciona-se com “a cova, e o laço vêm sobre ti”; a expressão “ai de mim!” corresponde-se com “o temor”.

O versículo 18 descreve a futilidade de tentar escapar: “E será que aquele que fugir da voz de temor cairá na cova, e o que subir da cova o laço o prenderá; porque as janelas do alto estão abertas, e os fundamentos da terra tremem”. A “voz do temor” possivelmente refere-se aos barulhos tumultuosos que acompanham os grandes terremotos.[25] “Janelas do alto estão abertas” pode significar condições climáticas extremas. Palavras semelhantes foram usadas para descrever a origem da inundação que resultou no dilúvio de Noé: Se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram…”[26] A frase “os fundamentos da terra tremem”, obviamente refere-se aos grandes terremotos que sacudiriam os fundamentos a Terra.

O versículo 19 resume a devastação: “De todo está quebrantada a terra, de todo está rompida a terra, e de todo é movida a terra”. A palavra “quebrantada” foi traduzida do hebraico que significa “desintegrada” ou “despedaçada”.[27] Isaías descreve a vasta destruição que resultou por causa do terremoto.

Lembremos da descrição da destruição causada pelo terremoto no Livro de Mórmon:

“Mas eis que houve uma destruição muito maior e mais terrível na terra do norte; pois eis que toda a face da terra foi mudada por causa da tempestade e dos furacões e dos trovões e relâmpagos e dos violentos tremores de toda a terra.
“E romperam-se os caminhos, desnivelaram-se as estradas e muitos lugares planos tornaram-se acidentados.
“E muitas cidades grandes e importantes foram tragadas e muitas se incendiaram e muitas foram sacudidas até que seus edifícios ruíram; e seus habitantes foram mortos e os lugares ficaram devastados.”[28]

A destruição apresentada no Livro de Mórmon é um exemplo da destruição que precederá à Segunda Vinda, a qual Isaías descreve aqui.

O versículo 20 descreve, com mais detalhes, os extremos terremotos: “De todo cambaleará a terra como o ébrio, e será movida e removida como a choça de noite; e a sua transgressão se agravará sobre ela, e cairá, e nunca mais se levantará”. “Cambaleará a terra como o ébrio” significa mover-se erraticamente de um lado para o outro, fora de seu movimento normal. O terremoto viria porque “a sua transgressão se agravará sobre ela [a Terra]”. As tamanhas maldades e iniquidades, juntamente com a necessidade de purificar a Terra, serão a causa do terremoto. A frase “e cairá, e nunca mais se levantará” refere-se à sociedade iníqua que domina a Terra. O livro de Doutrina e Convênios contém diversas passagens que incluem alguns ou todos os elementos deste versículo.[29]

Versículos 19 e 20 contêm um quiasma:

A: (19) De todo está quebrantada a terra,
B: de todo está rompida a terra,
C: e de todo é movida a terra.
D: (20) De todo cambaleará a terra como o ébrio,
D: e será movida e removida como a choça de noite;
C: e a sua transgressão se agravará sobre ela,
B: e cairá,
A: e nunca mais se levantará.

Elementos no lado descendente do quiasma completam a ideia apresentada nos elementos no lado ascendente. A sentença “De todo está quebrantada a terra” é complementada pela frase “e nunca mais se levantará”; depois dos devastadores terremotos, as iniquidades da sociedade jamais retornarão. A frase “De todo está rompida a terra” é complementada com “e cairá”; a sentença “e de todo é movida a terra” é complementada com a frase “a sua transgressão se agravará sobre ela”; e “de todo cambaleará a terra como o ébrio” é complementada por “e será movida e removida como a choça de noite”. O enfoque do quiasma aponta os grandes terremotos como a causa; as declarações auxiliares descrevem as consequências.

Os versículos 21 e 22 descrevem o castigo do Senhor, depois da destruição, aos arrogantes e aos orgulhosos, e para os reis e nobres da Terra. O versículo 21 começa: “E será que naquele dia o Senhor castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra”. Isaías usou semelhantes palavras no capítulo 13: “…para pôr a terra em assolação, e dela destruir os pecadores”.[30]

O versículo 22 continua: “E serão ajuntados como presos numa masmorra, e serão encerrados num cárcere; e outra vez serão visitados depois de muitos dias”. A introdução “serão ajuntados” refere-se aos exércitos do alto nas alturas, mencionado no versículo 21. Os altivos, depois da morte, serão mandados à prisão espiritual.  A frase “serão visitados depois de muitos dias” refere-se aos missionários que pregarão o evangelho aos que estão na prisão espiritual.[31]

O versículo 23 descreve sinais e maravilhas dos céus que acompanharão a Segunda Vinda do Senhor: “E a lua se envergonhará, e o sol se confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em Jerusalém, e perante os seus anciãos gloriosamente”. “Monte Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém e para o templo.[32]

Isaías também descreve estes eventos no capítulo 13: “Porque as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não resplandecerá com a sua luz”.[33] Durante Seu ministério mortal o Senhor descreveu estes eventos numa linguagem semelhante a esta:

E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.[34]

Esses sinais e maravilhas foram descritos em maiores detalhes em Doutrina e Convênios:

“E tão grandiosa será a glória de sua presença, que o sol esconderá a face de vergonha e a lua reterá sua luz e as estrelas serão arremessadas de seus lugares.
“E ouvir-se-á sua voz: Eu sozinho pisei no lagar e sobre todos os povos trouxe julgamento; e ninguém estava comigo;
“E esmaguei-os no meu furor e pisei-os em minha ira….”[35]

Não nos foi dito o que causaria estes sinais e maravilhas, a não ser a poderosa presença do Senhor. O testemunho de Néfi a respeito do cumprimento das profecias de Isaías aplica-se muito bem neste caso: “Não obstante, nos dias em que se cumprirem as profecias de Isaías, quando elas se realizarem, os homens certamente saberão”. O que é importante para nós sabermos agora é que o Senhor virá, bem como Ele disse e como os profetas testificaram.

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1238, p. 132.
[2]. Doutrina e Convênios 45:31-32.
[3]. D&C 5:19.
[4]. D&C 5:20.
[5]. Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma: O Senhor esvazia a terra e a desola, transtorna a sua superfície/dispersa os seus moradores//o povo//sacerdote … servo … senhor … serva … senhora … comprador … vendedor … empresta … ao que toma emprestado … ao que dá usura … ao que paga usura/se esvaziará a terra … será saqueada/o Senhor.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 962, p. 102.
[7]. Ver Moisés 7:48-49; Jeremias 4:28.
[8]. Brown et al., 1996, Número de Strong 535, p. 51.
[9]. D&C 1:15.
[10]. Isaías 24:2.
[11]. Spencer W. Kimball, “Voices of the Past, of the Present, of the Future”, Ensign, June 1971, p. 16. [ “Vozes do Passado, do Presente e do Futuro”, Ensign, Junho 1971, p. 16]
[12]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[13]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: A terra está contaminada por causa dos seus moradores/têm transgredido as leis//mudado os estatutos//quebrado a aliança eterna/a maldição tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados.
[14]. D&C 1:17.
[15].  Brown et al., 1996, Número de Strong 56, p. 5.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 535, p. 51.
[17]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7665, p. 990-991.
[18]. Isaías 17:6.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 217, p. 22.
[20]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 42:4, 10; 49:1; 51:5; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[21]. Brown et al., 1996, Número de Strong 898, p. 93.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7334, p. 931.
[23]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6354, p. 809.
[24]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6341, p. 809.
[25]. Ver 3 Néfi 10:9.
[26]. Ver Gênesis 7:11.
[27]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6565, p. 830.
[28]. 3 Néfi 8:12-14.
[29]. Ver D&C 49:23; 88:87; e 45:28.
[30]. Isaías 13:9.
[31]. Ver D&C 138:30-34.
[32]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 51:3.
[33]. Isaías 13:10.
[34]. Mateus 24:29-30.
[35]. D&C 133:49-51.

CAPÍTULO 18: “… Em Navios De Junco Sobre As Águas”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

Este capítulo está repleto de simbolismo, o que à primeira vista, pareça difícil de se compreender. Entretanto, com as conexões retóricas e as interpretações de simbolismos dos capítulos anteriores, é mais fácil entender a mensagem: O Senhor levantará o estardarte do evangelho, enviará mensageiros de terras distantes para seu povo disperso, e reuni-lo-á no monte Sião.

Os versículos 1 e 2 não são um oráculo de pesar, embora pareça ser. A palavra “ai” aqui foi traduzida da palavra hebraica  howy, que é uma forma de saudação.[1] Seria equivalente ao “oi” em português.

No versículo 1, Isaías descreve uma terra distante: “Ai [ou, oi] da terra que ensombreia com as suas asas, que está além dos rios da Etiópia”. “Etiópia” é traduzida da palavra hebraica Cuse, uma terra que fica ao sul do Egito. A terra de Cuse tem o mesmo nome do filho de Cão e neto de Noah, cujo nome significa “preto”.[2], [3] É obvio que aqui Isaías quis dizer simplesmente uma terra distante. “Que ensombreia com as suas asas” talvez refira-se a uma terra protegida pelo Senhor, figurativamente, coberta por Suas asas. Outra possibilidade é que significa asas de pássaros ou de avião, ou talvez descrevem o formato do mapa dos continentes Norte e Sul Americanos.[4] A terra distante está além dos “rios”, ou do corpo de água.

Por que será que Isaías usou “Cuse”, ao invés de ser mais claro em sua descrição? Considere a declaração de Leí a respeito da terra da promissão que ele obteve do Senhor: “E eis que é prudente que esta terra não chegue ainda ao conhecimento de outras nações; pois eis que muitas nações ocupariam totalmente a terra, de modo que não haveria lugar para uma herança”.[5]

No versículo 2, a identidade desta terra distante torna-se evidente: “Que envia embaixadores por mar em navios de junco sobre as águas, dizendo: Ide, mensageiros velozes, a um povo de elevada estatura e de pele lisa; a um povo terrível desde o seu princípio; a uma nação forte e esmagadora, cuja terra os rios dividem”. “Rios”, como foi usado aqui, é uma metáfora para exércitos invasores—especialmente, os da Assíria e da Babilônia. A tradução da Bíblia Reina-Valera 2009, em espanhol, diz: “…a uma nação dispersa e desolada…”.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Ai[oi] da terra que ensombreia com as suas asas, que está além dos rios da Etiópia. (2) Que envia embaixadores por mar em navios de junco sobre as águas, dizendo:
B: Ide, mensageiros velozes, a um povo de elevada estatura e de pele lisa [a uma nação dispersa e desolada];
C: a um povo
C: terrível desde o seu princípio,
B: a uma nação forte e esmagadora,
A: cuja terra os rios dividem.

“Rios da Etiópia” contrasta-se com “cuja terra os rios dividem”. Na primeira frase “rios” significa corpos de água, já na segunda frase “rios” significa exércitos invasores. “Um povo de elevada estatura e de pele lisa [uma nação dispersa e desolada]” é equivalente a “uma nação forte e esmagadora”. Isto denota o potencial de Israel de tornar-se uma nação forte e esmagadora ao purificar-se e renovar seus convênios com Deus. “Povo” complementa “terrível desde o seu princípio”, para formar o enfoque do quiasma.

Três elementos no versículo 2 merecem mais explicação: primeiro, a terra distante envia embaixadores; depois, estes embaixadores viajam em navios de junco sobre as águas; e terceiro, eles levam uma mensagem para uma nação dividida, uma nação com o potencial de tornar-se forte e esmagadora.

Qual outra nação, além dos Estados Unidos, envia embaixadores aos remanescentes de Israel que estão dispersos? Primeiramente, eles viajavam de navios; porém hoje em dia, eles geralmente viajam de avião—referido como “asas” no versículo 1. Este lugar seria o mesmo onde o estandarte seria levantado para todas as nações, mencionado anteriormente por Isaías no capítulo 5,[6] e no versículo 3 abaixo.

Qual é o significado de “navios de junco”? Existe somente alguns lugares no mundo onde barcos são feitos de junco: um é o Egito; o outro é o Lago Titicaca, nas fronteiras entre Peru e Bolivia. O estilo destes barcos de junco, em ambos locais, é surpreendentemente semelhante, sugerindo—para a consternação dos antropólogos, que não conseguem explicar isto—uma origem em comum.

Esta referência aos barcos de junco por Isaías não é literal; “embaixadores” modernos (missionários) não viajam pelo Oceano Atlântico em navios de junco. Mas isto é um indício cultural: a tribo de José, dividida em duas entre seus dois filhos, Efraim e Manassés,[7] exibiu a cultura egípcia—incluindo as línguas faladas e escritas—bem depois que as doze tribos estabeleceram-se na Terra Prometida. Estas escrituras foram escritas em egípcio, em placas de latão, que mais tarde serviram como modelo para as escrituras dos nefita. Mórmon atesta:

“Porque não teria sido possível a nosso pai, Leí, lembrar-se de todas estas coisas para ensiná-las a seus filhos, se não fosse pelo auxílio destas placas; pois tendo ele sido instruído no idioma dos egípcios podia, portanto, ler estas gravações e ensiná-las a seus filhos, para que assim eles pudessem ensiná-las a seus filhos…”.[8]

Quando os irmãos de José, buscando trigo no Egito, veio diante dele depois que José foi promovido a uma posição alta no governo de Faraó, ele fingiu não entender a língua hebraica que estavam falando, e falou com eles através de um intérprete.[9] Seus descendentes, por muitas gerações, continuaram a usar o egípcio como sua língua materna, apesar de falarem o hebraico com sotaque. Os efraimitas eram facilmente distinguidos por sua inabilidade de pronunciar a palavra hebraica  shibboleth.[10] Os nefitas, que eram descendentes de José, continuaram a usar uma forma do egípcio, mesmo depois de milhares de anos, para escreverem as escrituras.[11] Os missionários, que saírem para recolher Israel nos últimos dias, serão, em sua maioria, membros da tribo de José. Eles levam com eles O Livro de Mórmon—um relato dos remanescentes da tribo de José, traduzido dos textos escritos no egípcio reformado.

Na última frase do versículo 2, “cuja terra os rios dividem”, “rios” simbolizam os exércitos invasores, como foi usado por Isaías anteriormente no capítulo 8.[12]

O versículo 3 apresenta uma advertência: “Vós, todos os habitantes do mundo, e vós os moradores da terra, quando se arvorar a bandeira nos montes, o vereis; e quando se tocar a trombeta, o ouvireis”. O Senhor arvorará a bandeira,  versículo 4; “montes” significa “nações”.[13]

O versículo 3 contém um quiasma:

A: (3) Vós, todos os habitantes do mundo, e vós os moradores da terra
B: quando se arvorar a bandeira
C: nos montes,
C:  o vereis;
B: e quando se tocar a trombeta,
A: o ouvireis.

O Senhor adverte os habitantes das nações do mundo para verem e ouvirem quando Ele levantar o estandarte ou bandeira e soar a trombeta, que significa a pregação do evangelho e a coligação de Israel nos últimos dias. O enfoque deste quiasma  é  “nos montes, o vereis”, que se refere às nações da terra.

Com respeito ao capítulo 18, Joseph Fielding Smith disse:

“Este capítulo é obviamente uma referência aos missionários sendo enviados às nações da Terra, para reunir novamente este povo, que está disperso por toda a Terra. O estandarte foi levantado nas montanhas, e a obra de coligação já está acontecendo há mais de cem anos. Ninguém compreende este capítulo, com exceção dos Santos dos Últimos Dias, e podemos ver como esta profecia está sendo cumprida.”[14]

Os versículos 4 e 5 descrevem o futuro daqueles que não deram ouvidos às advertências que foram transmitidas pelos embaçadores, simbolizado pelo estandarte (bandeira) e pela trombeta. O versículo 4 declara: “Porque assim me disse o Senhor: Estarei quieto, olhando desde a minha morada, como o ardor do sol resplandecente depois da chuva, como a nuvem do orvalho no calor da sega”. “Olhando desde a minha morada” significa que o Senhor estará observando do céu durante estes acontecimentos. Como o brilhante sol produzindo calor depois da chuva, e como um vapor de humidade no calor do verão, a ira do Senhor acumular-se-á contra aqueles que ignorarem Sua mensagem.

Continuando no versículo 5, a destruição é descrita simbolicamente: “Porque antes da sega, quando já o fruto está perfeito e, passada a flor, as uvas verdes amadurecerem, então, com foice podará os sarmentos e tirará os ramos e os lançará fora”. Antes da colheita, ou sega, dos dispersos de Israel terminar, o Senhor “podará os sarmentos e tirará os ramos e os lançará fora”, ou seja, aqueles que não ouvirem as advertências do Senhor serão eliminados. Néfi predisse este mesmo acontecimento, usando palavras semelhante à estas.[15] Esta poda é análoga à poda das parreiras de uvas antes do fruto está maduro, para remover galhos improdutivos e permitir espaço para as uvas crescerem.[16]

O versículo 6 declara: “Serão deixados juntos às aves dos montes e aos animais da terra; e sobre eles veranearão as aves de rapina, e todos os animais da terra invernarão sobre eles”.[17] Os corpos das pessoas que foram assassinadas—demasiado para serem enterrados—serão deixados como galhos podados para apodrecerem e decomporem–se no solo.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor descreve o future dos iníquos em semelhantes, porém mais gráficos, termos:

“Portanto eu, o Senhor Deus, mandarei moscas sobre a face da Terra, as quais se apoderarão de seus habitantes, comer-lhes-ão a carne e farão com que neles se criem bicheiras;
“E a língua deles será refreada para que não falem contra mim; e sua carne desprender-se-á dos ossos e seus olhos cairão das órbitas;
“E acontecerá que as bestas da floresta e as aves do céu os devorarão.”[18]

O versículo 7 descreve o acontecimento culminante previsto: “Naquele tempo trará um presente ao Senhor dos Exércitos um povo de elevada estatura e de pele lisa, e um povo terrível desde o seu princípio; uma nação forte e esmagadora, cuja terra os rios dividem; ao lugar do nome do Senhor dos Exércitos, ao monte Sião”. O “monte Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para a Jerusalém dos últimos dias.[19] O mesmo povo disperso, mencionado no versículo 2, será reunido em Sião, os frutos da obra dos mensageiros que saíram para juntá-lo. E lá eles serão dados ao Senhor como oferta.

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1945, p. 222.
[2]. Dicionário Bíblico—Cush (Cuse).
[3]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3568, p. 468.
[4].  Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 172.
[5]. 2 Néfi 1:8.
[6]. Ver Isaías 5:26.
[7]. Ver Gênesis 48:5-6.
[8]. Ver Mosias 1:4.
[9]. Ver Gênesis 42:23.
[10]. Ver Juízes 12:5-6.
[11]. Ver Mórmon 9:32.
[12]. Ver Isaías 8:7-8 e comentário pertinente.
[13]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[14]. Joseph Fielding Smith, Signs of the Times [Sinais dos Tempos]: Deseret Book Co., Salt Lake City, Utah, 1974, p. 54-55.
[15]. Ver 1 Néfi 22:20-21.
[16]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 208-209.
[17]. O versículo 6 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Veranearão/aves//animais/invernarão. Em Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 259.
[18]. Doutrina e Convênios 29:18-20.
[19]. Ver Isaías 3:16; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 51:3.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.