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O capítulo 27 começa com a descrição da conquista do Senhor sobre o mal usando uma criatura mitológica, o leviatã, que representa as forças caóticas que se opuseram à criação, que personifica o mal. Depois da coligação, Israel florescerá e brotará, e encherá a face da Terra com as bênçãos do evangelho. Israel será coligada um por um, e a influência do Espirito Santo estará sobre cada indivíduo.
A derrota do leviatã pelo Senhor virá depois do aviso da Páscoa, predito no capítulo anterior, “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.[1]
No versículo 1, o profeta prediz o triunfo do Senhor sobre o mal: “Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar”. A “dura espada, grande e forte” do Senhor representa Sua onipotência e Seu grande poder sobre Satanás. O significado original em hebraico para a palavra “dura” é “grave” ou “aguda”.[2] “Serpente veloz” significa que Satanás fugirá do poderoso ataque do Senhor. “Leviatã” vem do hebraico livyathan, que significa “monstro marinho” ou “dragão”;[3] A repetição de Isaías de “leviatã, serpente veloz” e de “leviatã, a serpente tortuosa” nas frases paralelas serve para dar ênfases, para aumentar o impacto emocional.
Satanás, a personificação do mal, é caracterizado por todas as escrituras como serpente ou dragão. Compare esta descrição de acontecimentos no Jardim do Éden:
“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?…
“Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (ênfases adicionadas).[4]
“O leviatã, serpente veloz” e o “leviatã, a serpente tortuosa” podem também estar se referindo à Assíria e à Babilônia, respectivamente, como é típico de Isaías de dar múltiplos significados. “O dragão, que está no mar” pode estar representando a maldição sobre as águas nos últimos dias.[5]
Os versículos 2 até 6 formam um salmo, ou uma canção da vinha do Senhor. O salmo fala a respeito de Israel, predizendo o cumprimento final de seu destino depois da derrota do mal. No versículo 2, o Senhor invoca: “Naquele dia haverá uma vinha de vinho tinto; cantai-lhe”. A vinha é o mundo; o vinho da “vinha de vinho tinto” representa as bênçãos da salvação que encherá a Terra com o comprimento do destino de Israel; compare com o simbolismo do vinho sacramental.[6] “Naquele dia” significa os últimos dias—o tempo em que a profecia seria cumprida.[7]
No versículo 3, o Senhor continua: “Eu, o Senhor, a guardo, e cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia a guardarei”. O Senhor em Sua benevolência protegerá e cuidará de Sua vinha continuamente. “A cada momento a regarei” significa que Ele proverá ao seu povo inspiração e revelação, continuamente.[8]
No versículo 4, o Senhor atesta: “Não há indignação em mim. Quem me poria sarças e espinheiros diante de mim na guerra? Eu iria contra eles e juntamente os queimaria”. Aqui, como em outras partes em Isaías, “sarças e espinheiros” representam as doutrinas falsas que apareceriam na vinha do Senhor, ou no mundo.[9] O Senhor aplacaria Sua ira contra Israel na época prevista da coligação e queimaria e destruiria as doutrinas falsas, juntamente com aqueles que as propagaram. A batalha descrita aqui seria entre o bem e o mal, como já foi estabelecido no versículo 1.
O versículo 5 continua o discurso do Senhor: “Ou que se apodere da minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo”.[10] O malvado é dirigido pelo Senhor a fazer paz―o mesmo que mandaria as “sarças e espinheiros” contra o Senhor no versículo 4. O malvado, se tivesse sabedoria, faria as pazes com o Senhor, devido Sua força e poder.
O versículo 6 conclui o salmo, com o profeta falando desta vez: “Dias virão em que Jacó lançará raízes, e florescerá e brotará Israel, e encherão de fruto a face do mundo”. Este versículo é traduzido na versão Reina-Valera 2009 em espanhol e na versão King James em Inglês como: “Ele fará com que quem vem de Jacó lançará raízes…”. O fruto representa as bênçãos do evangelho, levadas ao mundo pelos servos do Senhor.
Elder Bruce R. McConkie proclamou o seguinte aos membros da Igreja no Peru acerca da coligação de Sião:
“Isaías profetizou que o Senhor fará com que ‘[quem vem de] Jacó lançará raízes, e florescerá e brotará Israel, e encherão de fruto a face do mundo’. A promessa do Senhor é: ‘e vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um’.[11]
“Isto é—Israel será reunida um por um, família por família, nas estacas de Sião estabelecidas em todas as partes do mundo, para que toda a Terra seja abençoada com os frutos do evangelho.
“Portanto, este é o conselho das autoridades gerais: Edifique Sião, mas edifique no lugar onde Deus te deixou nascer e que é o lugar de tua nacionalidade. Edifique-a onde Ele te deu cidadania, família e amigos. Sião é aqui na América do Sul e os santos, que compõem esta parte de Sião, são e devem ser uma influência para o bem em todas as nações. E saiba que: Deus abençoará a nação, que conduz suas vidas de maneira a levar avante Sua obra.”[12]
Os versículos 2 até 6 contêm um quiasma:
A: (2) Naquele dia haverá uma vinha de vinho tinto; cantai-lhe.
B: (3) Eu, o Senhor, a guardo, e cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia a guardarei.
C: (4) Não há indignação em mim.
D: Quem me poria sarças e espinheiros diante de mim na guerra?
E: Eu iria contra eles
E: e juntamente os queimaria.
D: (5) Ou que se apodere da minha força, e faça paz comigo;
C: sim, que faça paz comigo.
B: (6) Ele fará com que quem vem de Jacó lançará raízes, e florescerá e brotará Israel,
A: e encherão de fruto a face do mundo.
Este quiasma ensina que o Senhor protegerá Seus seguidores, proverá inspiração, encherá o mundo com as bênçãos do evangelho e removerá as falsas doutrinas. “Uma vinha de vinho tinto” é equivalente a “encherão de fruto a face do mundo”. Estas frases correspondentes proveem a interpretação da metáfora da vinha do Senhor, que representa o mundo. “Eu, o Senhor, a guardo” equivale à frase “Ele fará com que quem vem de Jacó lançará raízes, e florescerá e brotará Israel”; o cuidado do Senhor faz com que Israel floresça. “Quem me poria sarças e espinheiros diante de mim na guerra?” complementa “ou que se apodere da minha força, e faça paz comigo”, significa que quem experenciar a força militar do Senhor ficará motivado a fazer as pazes; e “eu iria contra eles” é equivalente à “e juntamente os queimaria”, que quer dizer que o Senhor destruirá as doutrinas falsas.
O versículo 7 começa: “Feriu-o como feriu aos que o feriram? Ou matou-o, assim como matou aos que foram mortos por ele?” Estas duas perguntas retóricas têm significados paralelos, descrevendo o grande poder do Senhor de ferir e abater os inimigos de Israel, mas refreia-se de usar este poder contra Israel durante o predito tempo da coligação.
O versículo 8 continua: “Com medida contendeste com ela, quando a rejeitaste, quando a tirou com o seu vento forte, no tempo do vento leste”. O Senhor permitirá que Satanás e seus anjos perturbem aqueles que aceitarem o evangelho; entretanto, o Senhor controlará “o vento leste” para o benefício destes “brotos tenros”, até que fiquem fortes suficientes para resistir por si mesmos. Na Palestina o vento do leste é quente e seco, vindo das terras desertas do leste, o que causa rapidamente a seca das colheitas, o que traz a fome e a necessidade.[13]
O versículo 9 declara: “Por isso se expiará a iniquidade de Jacó, e este será todo o fruto de se haver tirado seu pecado; quando ele fizer a todas as pedras do altar como pedras de cal feitas em pedaços, então os bosques e as imagens não poderão ficar em pé”. O fruto, ou bênçãos do evangelho, removerá os pecados de Jacó ao superar a iniquidade—os pecados são representados aqui pelos bosques e as imagens. As pedras do altar, fracas como as pedras de cal, que rapidamente se deterioram, e os bosques e as imagens não poderão ficar em pé, simbolizando o desaparecimento da idolatria através da propagação da verdade e a pregação do evangelho por todo o mundo. Compare com a declaração de Isaías feita anteriormente, no capítulo 1: “Porque vos envergonhareis pelos carvalhos que cobiçastes, e sereis confundidos pelos jardins que escolhestes”.[14] “Os jardins” é um eufemismo bíblico que descreve as práticas idólatras de cerimoniais de sexo ilícito.[15] Estes eram jardins com árvores de sombras, preparados como um ambiente agradável para os atos carnais. As referências feitas neste versículo são ligadas ao pecado sexual, sendo ou não partes de cerimoniais idólatras.
O versículo 9 foi parafraseado por Paulo no Novo Testamento: “E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades” (ênfases adicionadas).[16] Esta paráfrase de Paulo esclarece o significado de Isaías.
O versículo 10 descreve a destruição trazida pelo Senhor contra os membros da casa de Israel que se recusarem a ser reunidos: “Porque a cidade fortificada ficará solitária, será uma habitação rejeitada e abandonada como um deserto; ali pastarão os bezerros, e ali se deitarão, e devorarão os seus ramos”. A fortaleza, ou cidade fortificada, proveria pouca resistência contra o Senhor, que deixaria a cidade desolada, sem habitantes, como um deserto. Portanto, só seria adequado para pastagens.
O versículo 11 descreve o processo de amadurecimento da iniquidade entre o povo de Israel que rejeitaria o evangelho: “Quando os seus ramos se secarem, serão quebrados, e vindo as mulheres, os acenderão, porque este povo não é povo de entendimento, assim aquele que o fez não se compadecerá dele, e aquele que o formou não lhe mostrará nenhum favor”.[17] , [18] Como os ramos da árvore, amadurecidos em iniquidade, eles murcharão e secarão; e então serão cortados e lançados no fogo.[19] Apesar de haver sido o povo do convênio, o Senhor não terá misericórdia sobre ele, porque o povo pecou contra um maior conhecimento da verdade.
Os versículos 12 e 13 descrevem a coligação de Israel nos últimos dias. O versículo 12 prediz: “E será naquele dia que o Senhor debulhará seus cereais desde as correntes do rio, até ao rio do Egito; e vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um”. “As correntes do rio” referem-se à Assíria, e o rio é o Eufrates.[20] Israel será reunida da Assíria ao Egito, ou de todas as terras para onde foi dispersa. A frase “o Senhor debulhará seus cereais desde as correntes do rio, até ao rio do Egito” refere-se ao processo da colheita. Um maço ou feixe de trigo é batido no solo ou outra superfície dura para separar o trigo da palha. Porém a colheita não será feita precipitadamente—o trabalho dos missionários e o testemunho do Espirito Santo trarão cada pessoa, uma por uma, à conversão. Cada pessoa precisa saber por si mesmo.
Os filhos dispersos de Israel estão perdidos em duas maneiras diferentes: Em primeiro lugar, o mundo em geral não os podem identificar; e em segundo, eles mesmos não sabem quem são. O processo da coligação, que acontecerá individualmente, consiste em suas conversões ao verdadeiro evangelho e na revelação de suas linhagens através de bênçãos patriarcais. Compare uma declaração anterior de Isaías, no capítulo 18:
“Naquele tempo trará um presente ao Senhor dos Exércitos um povo de elevada estatura e de pele lisa, e um povo terrível desde o seu princípio; uma nação forte e esmagadora, cuja terra os rios dividem; ao lugar do nome do Senhor dos Exércitos, ao monte Sião”.[21]
Israel será reunida em Sião, o fruto do trabalho dos mensageiros que saíram para agregá-la.
O versículo 13 descreve o acontecimento culminante, a coligação de Israel: “E será naquele dia que se tocará uma grande trombeta, e os que andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito, tornarão a vir, e adorarão ao Senhor no monte santo em Jerusalém”. “Egito” e “Assíria” são codinomes para as duas superpotências nos últimos dias.[22] “Uma grande trombeta” vem do hebraico showphar, que é um chifre de carneiro usado como trombeta cerimonial.[23] “O monte santo” em Jerusalém é um templo, onde os agregados adorariam ao Senhor e fariam convênios sagrados.
Os versículos 12 e 13 contêm um quiasma:
A: (12) E será naquele dia que o Senhor
B: debulhará seus cereais desde as correntes do rio, até ao rio do Egito;
C: e vós, ó filhos de Israel,
C: sereis colhidos um a um. (13) E será naquele dia que se tocará uma grande trombeta,
B: e os que andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito,
A: tornarão a vir, e adorarão ao Senhor no monte santo em Jerusalém.
“Debulhará seus cereais desde as correntes do rio, até ao rio do Egito” é o mesmo que “os que andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito”; e a frase “correntes do Rio” equivale à “terra da Assíria”. Estas duas frases descrevem o processo de recolher e coligar do Senhor. “Vós, ó filhos de Israel” é complementado por “sereis colhidos um a um”. O processo de coligação será feito de um a um, como os feixes são batidos no solo para soltarem os grãos do trigo. Todos os que estiverem reunidos receberão as bênçãos do evangelho, inclusive as bênçãos do templo.
NOTAS
[1]. Isaías 26:20.
[2]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2389, p. 305.
[3]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3882, p. 531.
[4]. Gênesis 3:1, 4-5. Ver também Gênesis 3:13-14; Jó 26:13; Isaías 51:9 (2 Néfi 8:9); Apocalipse 12:3-4, 7-9; 13:2-4; 20:2; 2 Néfi 2:18; Mosias 16:3; D&C 76:28; 88:110; Moisés 4:5-10, 19-20.
[5]. Ver Doutrina e Convênios 61: Introdução; 4-5.
[6]. Ver Mateus 26:27-28; Marcos 14:23-24.
[7]. Compare Isaías 11:10-11.
[8]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[9]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 9:18; 10:17; 32:13 e comentário pertinente.
[10]. O versículo 5 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Comigo/faça/paz/paz/faça/comigo. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[11]. Isaías 27:6, 12.
[12]. Bruce R. McConkie, “Come: Let Israel Build Zion” [Venha: Deixai Israel Construir Sião], Ensign, Maio 1977, p. 115.
[13]. Ver Ezequiel 17:10.
[14]. Isaías 1:29; Ver também Isaías 57:5 e comentário pertinente.
[15]. Ver Êxodo 34:13; Deuteronômio 7:5; 12:3; Juízes 3:7; 1 Reis 14:15, 23; 2 Reis 17:10-11; 18:4; 23:14; 2 Crônicas14:3; 17:6; 19:3; 24:18; 31:1; 33:3, 19; 34:3-4, 7; Jeremias 17:2; Miquéias 5:14.
[16]. Romanos 11:26.
[17]. Versículos 7 até 11 contêm um quiasma: Feriu-o/feriu aos que o feriram/matou-o, assim como matou/que foram mortos/quando a tirou com o seu vento forte//no tempo do vento leste//se expiará a iniquidade de Jacó/se haver tirado seu pecado/os bosques e as imagens não poderão ficar em pé/os acenderão/aquele…não lhe mostrará nenhum favor.
[18]. O versículo 11 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Não se compadecerá dele/aquele que o fez//aquele que o formou/não lhe mostrará nenhum favor. Em Parry, Harmonizing Isaiah [Harmonizando Isaías], 2001, p. 260.
[19]. Ver Jacó 5:9; Ver também Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[20]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5104, p. 625.
[21]. Isaías 18:7.
[22]. Ver Gileadi, pp. 72-73.
[23]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7782, p. 1051.