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Capítulo 1 é um prólogo, ou uma visão global, da mensagem apresentada no livro inteiro de Isaías.[1] Podemos ver aqui evidências do estado apóstata, rebelde e corrupto de Israel, com somente uns poucos permanecendo fiéis. O Senhor rejeita o sacrifício de Israel, porque eles são praticamente indignos. Igualmente, o Senhor rejeita os sacrifícios, observâncias e ordenanças de seu povo de toda era quando oferecidos indignamente. O Senhor chama Israel ao arrependimento e a praticar obras dignas; se fizerem, o Senhor promete remissão dos pecados e perdão. Finalmente, o Senhor promete que Sião será redimida no dia da restauração, o qual será acompanhado pela destruição dos iníquos pelo fogo.
Néfi inicia sua longa citação de Isaías com o capítulo 2.[2] A razão pela qual Néfi não citou o capítulo 1 pode ter sido porque este é um prólogo; entretanto, Néfi não explica a razão de sua seleção das passagens de Isaías.
O versículo 1 atesta que Isaías teve uma visão: “Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá”. Note que a visão se referia ao que aconteceria com Judá e Jerusalém e que foi vista durante um período de muitos anos, representados pelos reinados dos quatro reis mencionados. Foi dado a Isaías instruções detalhadas, as quais ele registrou no capítulo 6, em como apresentar a visão.[3] Por causa da apostasia e iniquidade do povo, Isaías codificou suas profecias para que somente aqueles com suficiente discernimento espiritual pudesse entendê-las. Esta codificação preveniu os iníquos de receberem mais do que poderiam compreender, o que os subjugariam à uma maior condenação.[4]
Revelações modernas atestam ainda mais da veracidade da missão e obra de Isaías. Joseph F. Smith escreveu sobre uma visão que recebeu no dia 3 de outubro de 1918, na qual foi-lhe mostrado o mundo espiritual. Ele viu muitos dos “grandes e poderosos”, inclusive profetas antigos que estavam pregando o evangelho aos espíritos daqueles que viveram aqui na Terra. Ele declara: “E Isaías, que anunciou, por profecia, que o Redentor fora ungido para curar os contritos de coração, proclamar liberdade aos cativos e a abertura da prisão aos presos, também [estava] lá”.[5]
No versículo 2, Isaías proclama: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o Senhor tem falado:” Isto significa que todos os habitantes da Terra ouvirão essas palavras;[6] um testemunho disto seria registrado nos céus. “Céus e terra” é um eufemismo significando “todos”. As palavras proferidas pelo Senhor, para ser ouvida por todos, segue: “Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim”. As palavras do Senhor são litígios, incluindo versículos 2 até 4, testificando da infidelidade dos filhos de Israel.
Doutrina e Convênios Seção 76—uma grande visão na qual Joseph Smith e Sidney Rigdon, viram o mundo espiritual, a ressurreição, o julgamento e os três graus de glória a serem herdados pelos filhos de Deus—começa com palavras semelhantes às de Isaías no versículo 2: “Ouvi, ó céus, e daí ouvidos, ó Terra, e regozijai-vos, vós, seus habitantes, pois o Senhor é Deus e além dele não há Salvador algum. Grande é sua sabedoria, maravilhosos são seus caminhos e a extensão de suas obras ninguém pode descobrir”.[7] Os maiores detalhes obtidos através de revelação moderna confirmam o significado de Isaías.
Compare também o chamado do Senhor nos últimos dias para ouvir e obedecer Suas palavras, conforme está registrado no começo dos versículos de Doutrina e Convênios:
“Escutai, ó povo da minha igreja, diz a voz daquele que habita no alto e cujos olhos estão sobre todos os homens; sim, em verdade vos digo: Escutai, ó povos distantes e vós, que estais nas ilhas do mar, escutai juntamente.
“Pois em verdade a voz do Senhor dirige-se a todos os homens e ninguém há de escapar; e não haverá olho que não veja nem ouvido que não ouça nem coração que não seja penetrado”.[8]
A voz do Senhor, dada aos profetas em todas as eras do mundo, é para todos os membros da família humana em todos os lugares. Eventualmente, todos terão a oportunidade de ouvir; todos serão responsáveis em obedecer ao Senhor.
Na versão da Bíblia de João Ferreira de Almeida, o nome em hebraico Yahovah,[9] ou YHWH, que significa “Jeová”, é traduzido “o Senhor” para evitar o uso frequente do nome da Deidade;[10] “senhor”, com a conotação humana ao invés do divino, vem do hebraico adonay,[11] que significa “senhor” ou “mestre”.
O versículo 3 contém dois pares de declarações paralelas: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende”. O primeiro par nos mostra que até os animais domésticos demonstram lealdade ao seu mestre, ao contrário do povo escolhido do Senhor. No segundo par, “Israel” é equivalente ao termo “meu povo”, e “não tem conhecimento” é equivalente à “não entende”. A palavra “manjedoura” dá uma noção importante da identidade do Mestre—Ele seria “deitado em uma manjedoura”.[12]
O versículo 3 ilustra a profunda diferença entre o pecar ignorantemente e o degenerar em incredulidade. Apesar de Israel ser o povo do convênio do Senhor, quando o povo não ponderar, estudar e obedecer as leis (ou o evangelho, o termo usado no Novo Testamento), até o conhecimento que lhe foi dado será retirado. O Espírito se retira, deixando o povo espiritualmente morto. O seu título de filhos do convênio não é uma proteção contra as consequências de seus pecados. João Batista exortou os Fariseus e Saduceus: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão”.[13]
O versículo 4 descreve o estado pecador e corrupto de Israel, tanto individualmente quanto como nação: “Ai, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao Senhor, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás”. Sua corrupção persiste por várias gerações; o Senhor está irado com eles e retira Suas bênçãos.
Os versículos 5 e 6 descrevem uma doença espiritual, usando metaforicamente as enfermidades físicas. O versículo 5 começa: “Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco”. Os pensamentos e emoções do povo, denotados pela cabeça e coração, estão completamente voltados à iniquidade. Mateus no Novo Testamento cita esta passagem e explica que já se cumpriu com os acontecimentos ocorridos durante a vida de Jesus Cristo;[14] as pessoas a quem Cristo administrou estavam espiritualmente enfermos, coincidindo com a descrição de Isaías.
O versículo 6 continua a metáfora: “Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo”. A enfermidade é séria, está afetando todo o corpo. Nenhum tratamento—metaforicamente se referindo à Expiação—foi usado para curar.
O versículo 7 descreve as consequências recebidas por uma nação quando os seus habitantes são corruptos, rejeitando as bênçãos e a proteção do Senhor: “A vossa terra está assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença; e está como devastada, numa subversão de estranhos”. Por causa da iniquidade, a proteção do Senhor é retirada, seguido por uma rápida destruição. Cidades são queimadas pelo fogo; as safras e recursos naturais são apreendidos e consumidos pelos invasores.[15]
No versículos 8 e 9, somente um pequeno número de dignos resta entre o povo. O versículo 8 começa: “E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como uma cidade sitiada”. Os habitantes de Jerusalém foram decimados; são poucos os sobreviventes, semelhante em número dos ocupantes de uma cabana na vinha, usadas pelos ceifeiros na época da colheita.
O versículo 8 contém um quiasma:
A: (8) E a filha de Sião
B: é deixada como a cabana na vinha,
B: como a choupana no pepinal,
A: como cidade sitiada.
No quiasma Isaías estabelece que “a filha de Sião” é um sinônimo poético para Jerusalém, ou a “cidade sitiada”, o qual é repetido várias vezes em sua obra.[16] Os sobreviventes desta destruição são poucos, comparados com o número de ocupantes de uma cabana na vinha.
Versículo 9 continua o lamento: “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra”. Exceto por um número pequeno de dignos que sobreviveriam, a destruição seria total, como foi a de Sodoma e Gomorra,duas cidades que foram totalmente destruídas por causa de suas iniquidades.
Paulo citou o versículo 9: “E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, Teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra”.[17] “Descendência” refere-se ao pequeno número de sobreviventes do qual viria uma grande nação novamente, depois de muitas gerações.
No versículo 10, Isaías refere-se sarcasticamente aos governantes da iníquo Jerusalém como os poderosos de Sodoma, e seus habitantes iníquos como o povo de Gomorra: “Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra”. Sodoma e Gomorra são tipos de iniquidades e total destruição a serem recorrentemente cumpridas.
Os versículos 11 até 20 são litígios clássicos. No versículo 11, o Senhor condena rituais praticados pelo povo de Jerusalém, porque são praticados indignamente e sua hipocrisia é repugnante para Ele: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes”.
Versículo 12 continua o litígio: “Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?” Entrar no templo sagrado do Senhor— “pisar os meus átrios” —é um sério pecado.
No versículo 13, o Senhor exige: “Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene”. “Não posso suportar” vem da palavra hebraica que significa “aguentar”.[18]
O versículo 14 continua: “As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer”. Por causa da hipocrisia, o Senhor rejeita as assembleias e reunião solenes de Seu povo e não concederá mais o perdão. Da mesma forma, o Senhor rejeita as ofertas e observância de Seu povo de todas as eras quando são feitas indignamente.
Os versículos 13 e 14 contêm um quiasma:
A: (13) Não continueis a trazer ofertas vãs;
B: o incenso é para mim abominação.
C: As luas novas, os sábados,
D: e a convocação de assembleias; não posso suportar
D: iniquidade, nem mesmo a reunião solene.
C: (14) As vossas luas novas, e as vossas solenidades,
B: a minha alma as odeia;
A: já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer.
O Senhor rejeita as ofertas, assembleias, e reunião solenes de Israel por causa das iniquidades do povo, que fazem essas observâncias abomináveis aos Seus olhos. A exigência do Senhor “não continueis a trazer ofertas vãs” é complementada por “já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer”.
No versículo 15 o Senhor declara que Ele não ouvirá suas orações: “Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”. O Grande Pergaminho de Isaías—um dos Pergaminhos do Mar Morto—adiciona uma frase paralela no final deste versículo: “seus dedos com iniquidades”.[19] “Sangue” refere-se aos efeitos do pecado nas vidas das pessoas, enfatizando aqui o pecado mais sério, o de derramar sangue inocente.[20]
Versículo 15 contém um quiasma:
A: (15) Por isso, quando estendeis as vossas mãos,
B: escondo de vós os meus olhos;
B: e ainda que multipliqueis as vossas orações,
A: porque as vossas mãos estão cheias de sangue, seus dedos com iniquidades.
Por causa de seus pecados abomináveis, o Senhor não ouvirá as orações de seu povo, tampouco olhará para ele com misericórdia.
No versículos 16 e 17 o Senhor estende a oportunidade de arrependimento e perdão. O versículo 16 começa: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal”. Por mais que o picador deseje que seus pecados fiquem em segredo, todos os nossos atos são vistos pelo Senhor, nada é ocultado. Estas quatro declarações paralelas, todas com significados semelhantes, são dadas para ênfases—visualize Isaías ressaltando a mesma coisa quatro vezes. “Lavai-vos, purificai-vos” significa a ordenança do batismo.[21]
Os versículos 15 e 16 contêm um quiasma que se sobrepõe ao do versículo 15:
(15) Por isso, quando estendeis as vossas mãos,
A: escondo de vós os meus olhos;
B: e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
C: (16) Lavai-vos,
C: purificai-vos,
B: tirai a maldade de vossos atos
A: de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal.
Este quiasma gira em torno de um apelo para o povo arrepender-se e purificar-se diante do Senhor. Até que isto aconteça, o Senhor não olhará para o povo com compaixão, nem ouvirá suas orações. Devido a sobreposição dos quiasmas nestes versículos, tanto “as vossas mãos” quanto “as vossas mãos estão cheias de sangue” no versículo 15 são equivalentes à frase “a maldade de vossos atos” no versículo 16.
O versículo 17 continua: “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”. Note aqui a extensão em que o Senhor define a retidão como justiça social e o quanto Ele desdenha as cerimônias e ritual como substitutos da verdadeira retidão. “Justiça”, como foi usada aqui, significa justiça social.[22]
O cuidado com os órfãos e viúvas é mandamento muito importante dado pelo Senhor em todas as eras. Ele declarou a Moisés: “Que [o Senhor] faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa”. Tiago atesta: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.[23]
No versículo 18 o Senhor afirma o propósito da Expiação numa das passagens do Velho Testamento mais marcante e frequentemente citada: “Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã”. A cor escarlata—vermelho ou carmesim— aqui simboliza o pecado mais sério, o de derramar sangue inocente.
A cor branca, representada neste versículo pela neve ou lã, simboliza a pureza. O Senhor, através da Expiação, “proveu um modo através do qual nossas enfermidades espirituais podem ser curadas”.[24] Palavras do hino “Entoai a Deus Louvor” expressa palavras e o significado do versículo 18: “…pois concedeu ao contrito pecador Sua graça e perdão”.[25]
O Presidente Gordon B. Hinckley declarou:
“O arrependimento é um dos primeiros princípios do evangelho. O perdão é uma característica da divindade. Há esperança para vocês. Vocês têm uma vida pela frente, que pode ser cheia de felicidade, mesmo que o passado tenha sido manchado com o pecado. Nosso trabalho é salvar pessoas, ajudando-as a resolverem seus problemas. Esse é o propósito do evangelho”.[26]
Há duas formas de retidão pelas quais somos responsáveis, abas delineadas repetidamente por Isaías. Uma é a retidão pessoal; e a outra a coletiva ou nacional. Estamos familiarizados como obtemos a retidão pessoal: Fé no Senhor Jesus Cristo; arrependimento; batismo por imersão para remissão de pecados; e imposição de mãos para o dom do Espírito Santo.[27] O arrependimento e a purificação, no entanto, não são atos que fazemos somente uma vez em nossas vidas. Temos que passar por este processo de quatro passos continuamente, substituindo com a ordenança do Sacramento, pela qual renovamos nossos convênios batismais, e depois convidando o Espírito Santo de volta em nossas vidas. Depois disto, devemos fazer todo o possível para promover o bem ao nosso redor, isto inclui guardar os mandamentos do Senhor, cuidando apropriadamente, criando e ensinando nossos filhos, e cumprindo bem os deveres e chamados que nos forem dados pelas autoridades do Senhor. A retidão nacional se estende à maioria serem pessoalmente retos, juntamente com líderes que estimam a verdade e a retidão.
No versículo 19 o Senhor promete os frutos do arrependimento e subsequente retidão: “Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra”. As bênçãos do Senhor, incluindo prosperidade e segurança nacional, são contingentes à retidão individual e nacional.
Elder Boyd K. Packer explicou que a dádiva de perdão do Senhor requer nossa obediência:
“O evangelho ensina que se obtém o alivio do tormento e da culpa por meio do arrependimento. Exceto para poucos que decidem o caminho da perdição depois de conhecerem a plenitude, não há hábito, vicio, rebelião, transgressão nem ofensa que não se inclua na promessa de total perdão”.[28]
No versículo 20 o Senhor promete o resultado inescapável de continua iniquidade: “Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do Senhor o disse”. Guerras e destruição esperam as nações que rejeitam o Senhor.
Os versículos 21 até 23 são lamentos proféticos. O versículo 21 começa: “Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava nela, mas agora homicidas”. Isaías está pesaroso com a iniquidade de Jerusalém. “Justiça” como foi usada aqui significa “equidade”.[29]
O versículo 22 continua o lamento: “A tua prata tornou-se em escórias, o teu vinho se misturou com água”. “Escória” significa resíduo deixado pela fusão de metais. Metaforicamente, substituir escória por prata e adicionar água no vinho simbolizam engano, desonestidade e corrupção.
O versículo 23 resume a acusação: “Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás das recompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva”. “Recompensas” vem do hebraico que significa “suborno”.[30] Os líderes do povo cometem um grande pecado ao mentir, subordinar, se associar com ladrões e ignorar a situação das viúvas e órfãos.
Os versículos 17 até 23 contêm um quiasma:
A: (17) Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. (18) Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.
B: (19) Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra:
C: (20) Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do Senhor o disse.
D: (21) Como se fez prostituta a cidade fiel!
E: Ela que estava cheia de retidão!
E: A justiça habitava nela,
D: mas agora homicidas. (22) A tua prata tornou-se em escórias, o teu vinho se misturou com água.
C: (23) Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões;
B: cada um deles ama as peitas, e anda atrás das recompensas;
A: não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva.
As declarações introdutórias, “aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” no versículo 17 e “não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva” no versículo 23 são antitéticas nas quais Isaías contrasta o comportamento do povo com a conduta que o Senhor aprovaria. As recompensas—que significam subornos—que os príncipes recebiam é o oposto deles serem obedientes e fazerem a vontade do Senhor. O enfoque deste quiasma estabelece a retidão de Israel no passado como uma meta a ser atingida, ao passo que as declarações introdutórias e auxiliar descrevem os obstáculos que devem ser sobrepujados para atingir esta meta.
No versículo 24, o Senhor declara: “Portanto diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos, o Forte de Israel: Ah! tomarei satisfações dos meus adversários, e vingar-me-ei dos meus inimigos”. “Senhor” significa “mestre, dono ou governante; aquele que tem domínio” ao passo que “Deus” veio do hebraico Yahovah ou YHWH, que significa “Jeová”.[31] O Senhor Jeová, o Forte de Israel, se vingará de Seus adversários e inimigos, especialmente daqueles que cometeram injustiça contra Seu povo.
O versículo 25 declara: “E voltarei contra ti a minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza”. Metalurgia, a refinação de metais, é usada aqui como metáfora para a purificação de pecados explícitos e ocultos. O estanho adicionado ao ouro como uma liga na fusão de metais desvaloriza o ouro, ou seu valor em quilates, sem significantemente mudar sua aparência. O calor do fogo refinador —para continuar a metáfora—representa provações, tribulações e destruições impostas pelo Senhor com o propósito de purificação.[32] “Voltarei contra ti a minha mão” é traduzido de uma palavra hebraica que significa “retornar repetidamente”.[33]
No versículo 26, quando Israel for restaurada nos últimos dias, o Senhor declara: “E te restituirei os teus juízes, como foram dantes; e os teus conselheiros, como antigamente; e então te chamarão cidade de justiça, cidade fiel”. Compare com as palavras do hino, “Tal Como um Facho”:
Estende, o Pai, sobre nós tua benção,
Restituindo juízes como dantes no poder
Que teus missionários os povos convençam
E o véu da descrença consigam romper![34]
O versículo 27 proclama: “Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela com justiça”. Só através de retidão pessoal e coletiva que Sião será redimida. O significado principal de “Sião” aqui é o lugar de coligação espiritual; outros significados em outras maneiras de interpretar podem ser discernidos.[35] “Juízo”, como foi usado aqui significa “equidade” ou “justiça”.[36]
O versículo 28 continua: “Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o Senhor serão consumidos”. Esta declaração prediz as grandes destruições pelo fogo que espera os iníquos nos últimos dias, antes da Segunda Vinda do Senhor.[37]
Os versículos 20 até 28 contêm um quiasma:
A: (20) Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do Senhor o disse
B: (21) Como se fez prostituta a cidade fiel!
C: Ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava nela, mas agora homicidas.
D: (22) A tua prata tornou-se em escórias, o teu vinho se misturou com água.
E: (23) Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás das recompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva.
F: (24) Portanto diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos,
F: o Forte de Israel:
E: Ah! tomarei satisfações dos meus adversários, e vingar-me-ei dos meus inimigos.
D: (25) E voltarei contra ti a minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza.
C: (26) E te restituirei os teus juízes, como foram dantes; e os teus conselheiros, como antigamente;
B: e então te chamarão cidade de justiça, cidade fiel. (27) Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela com justiça
A: (28) Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o Senhor serão consumidos.
O Senhor dos Exércitos—o ponto de enfoque deste quiasma—destruirá, purificará e vingará como descrito nas declarações auxiliares. Note que os príncipes rebeldes sã quiasmaticamente identificados como os adversários e inimigos do Senhor. Diluir o vinho com água é equivalente a misturar ouro com estanho; ambos simbolizam os pecados escondidos. A redenção de Sião envolverá a restauração de juízes e conselheiros “como foram dantes”, antes de Israel começar a adotar os caminhos e crenças de seus vizinhos idólatra.
Por causa que o quiasma dos versículos 17 até 23 sobrepõe o quiasma dos versículos 20 até 28, “fazei justiça ao órfão”, “não fazem justiça ao órfão” e “livrar-me-ei dos meus adversários, e vingar-me-ei dos meus inimigos” nos versículos 17, 23 e 24 todos são estruturalmente comparáveis. Semelhantemente, “Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada”, “Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões” e “Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos” no versículos 20, 23 e 28 também são comparáveis. Esses quiasmas juntos descrevem a iniquidade disseminada e suas consequências inevitáveis.
O versículo 29 declara: “Porque vos envergonhareis pelos carvalhos que cobiçastes, e sereis confundidos pelos jardins que escolhestes”. Esta declaração se refere às práticas idólatras da apóstata Israel, adotas de seus vizinhos pagãos. “Carvalhos” e “jardins” usados aqui se referem a adoração de ídolos;o carvalho é uma linda árvore de sombra de crescimento lento, que tem madeira dura. A forma de idolatria mencionada neste versículo envolve o cerimonial de sexo ilícito. Em outras partes do Velho Testamento esta prática idólatra é referida como adoração a Baal e Aserá (a deusa da árvore ou árvore sagrada), onde se encontram jardins com árvores de sombra preparadas como um prazeroso local para atos carnais.[38] O Senhor aqui condena todo tipo de pecado sexual, sendo parte ou não de adoração idólatras.
No versículo 30, a profundidade da vergonha sentida por aqueles pego em pecado de impureza sexual é comparado com a árvore cujas folhas secaram ou um jardim que não recebeu água: “Porque sereis como o carvalho, ao qual caem as folhas, e como o jardim que não tem água”. A água vivificante simboliza o poder redentor da Expiação.
Porém no versículo 31, as folhas secas do poderoso carvalho e os jardins sem água servem somente para acelerar a insaciável queima destrutiva: “E o forte se tornará em estopa, e a sua obra em faísca; e ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague”. “Estopa” significa fibra grossa ou cânhamo, um perfeito combustível para um fogo destrutivo. A destruição predita acontecerá na época da Segunda Vinda do Senhor, porém é típica da destruição de nações iníquas de todas as eras.
Ao descrever o martírio de Joseph e Hyrum Smith, John Taylor—que foi seriamente ferido pela multidão assassina—se referiu a esta destruição pelo fogo: “[S]e o fogo consegue queimar uma árvore verdejante para a glória de Deus, quão facilmente não queimará as árvores secas para purificar a vinha de corrupção!”[39]
Versículos 28 até 31 contêm um quiasma:
A: (28) Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o Senhor serão consumidos.
B: (29) Porque vos envergonhareis pelos carvalhos que cobiçastes, e sereis
confundidos pelos jardins que escolhestes.
B: (30) Porque sereis como o carvalho, ao qual caem as folhas, e como o jardim que não tem água.
A: (31) E o forte se tornará em estopa, e a sua obra em faísca; e ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague.
Por causa de idolatria que o povo preferiu ao invés de devoção ao Senhor, eles serão destruídos pelo fogo.
Notas
[1]. Capítulos 2 até 39 descreve Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; capítulos 40 até 54 descreve Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e capítulos 55 até 66 descreve o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[2]. 2 Néfi capítulos 12 até 24.
[4]. Ver Doutrina e Convênios 82:3 e Lucas 12:48.
[6]. William Grant Bangerter, “A voz do Senhor se dirige a todos os (povos)”,
A Liahona, Março de 1980, p. 13.
[9]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs,
The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon: [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs] Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 3068, p. 217-218.
[11]. Brown
et al., 1996, Número de Strong 136, p. 10.
[12]. Ver Lucas 2:7, 12, 16.
[15]. Ver Isaías 1:28; 5:24; 9:5, 18-19 e comentário pertinente.
[16]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11.
[18]. Brown
et al., 1996, Número de Strong 3201, p. 407.
[19]. Donald W. Parry,
Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University, Provo, Utah, 2001, p. 40.
[20]. Ver Isaías 59:3 e comentário pertinente.
[21]. Victor L. Ludlow,
Isaiah: Prophet, Seer, and Poet:[Isaías: Profeta, Vidente e Poeta] Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 77.
[22]. Ver Isaías 1:17, nota de rodapé 17c na Bíblia SUD em inglês; Ver Isaías 5:7; 42:4; 59:8; 59:15.
[24]. Vaughn J. Featherstone, “Pai, Perdoa-lhes”,
Liahona, Febrero de 1981, página 56.
[25].
Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990 (Português), Hino número 100, “Entoai a Deus Louvor”, verso 4.
[26]. Gordon B. Hinckley, “Permaneçam leais e fiéis”,
A Liahona, Julho de 1996, p. 98.
[27]. Ver Regras de Fé 1:4.
[28]. Boyd K. Packer, “A Radiante Manhã do Perdão”,
A Liahona, Janeiro de 1996, p. 20
[29]. Ver Isaías 1:21, 27; 5:16; 10:2; 16:3, 5; 28:6, 17; 30:18.
[30]. Brown
et al., 1996, Número de Strong 7810, p. 1005.
[31]. Brown
et al., 1996, Número de Strong 3068, p. 217-218.
[32]. Ver Malaquias 3:2-3; D. e C. 128:24.
[33]. Ver Isaías 1:25, nota de rodapé 25a na Bíblia SUD em inglês.
[34].
Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990 Portugués, Hino número 2, “Tal Como um Facho”, estrofe 2. O sengundo verso desta estrofe foi traduzido diretamente do original em inglês “Restoring their judges and all as at first”.
[35]. Ver Isaías 3:16; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 51:3.
[36]. Ver Isaías 1:27, nota de rodapé 27b na Bíblia SUD em inglês. Para referências de outros significados de “julgamento”, Ver versículo 17.
[37]. Ver Isaías 1:7, 4:4; 5:24; 9:5, 18-19; 10:16-18; 13:6-9; 24:6; 26:11; 27:11; 29:6; 30:27, 30, 33; 33:11-12; 34:9; 42:25; 43:2; 47:14; 64:1-2, 11; 66:15-16 e comentário pertinente.
[38]. Ver 1 Reis 14:23; 2 Reis 16:4; 17:10; 2 Crônicas 28:4; Jeremias 2:20; 3:6, 13; Ezequiel 6:13; também Isaías 17:8; 27:9; 57:5 e comentário pertinente.