Arquivo da tag: Isaías 48:12

CAPÍTULO 48: “Escolhi-te Na Fornalha Da Aflição”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

Este capítulo trata principalmente da dispersão e subsequente coligação de Israel. Os versículos 1 até 8 contêm uma acusação para Israel devido suas iniquidades; os versículos 9 até 19 declaram o amor do Senhor para Israel, apesar de seus pecados, e descrevem como o Senhor refiná-la-ia na fornalha da aflição. Finalmente, os versículos 20 até 22 predizem a jubilosa coligação de Israel e seu regresso.

O capítulo 48 é o primeiro capítulo completo citado no Livro de Mórmon por Néfi, em 1 Néfi 20. Ao introduzir esta citação, Néfi explicou: “E li-lhes muitas coisas que estavam escritas nos livros de Moisés; mas, para melhor persuadi-los a acreditar no Senhor, seu Redentor, eu li o que foi escrito pelo profeta Isaías, pois apliquei todas as escrituras a nós, para nosso proveito e instrução”.[1]

As diferenças na redação entre o Livro de Mórmon e na versão de João Ferreira de Almeida são mostradas em itálico quando citadas. Os capítulos 48 até 54 são citados por completo, ou em parte, no Livro de Mórmon, cada um acompanhado com explicações e interpretações.[2] Para alguns dos quiasmas deste capítulo, as palavras usadas no Livro de Mórmon são essenciais para fazerem os quiasmas funcionarem.

Os versículos 1 até 8 contêm uma acusação para Israel por suas iniquidades. Os versículos 1 e 2 são falados por Isaías, com os versículos subsequentes falados pelo Senhor.

O versículo 1 começa: “Ouvi isto, casa de Jacó, que vos chamais do nome de Israel, e saístes das águas de Judá, que jurais pelo nome do SENHOR, e fazeis menção do Deus de Israel, mas não em verdade nem em justiça”. [3] O Livro de Mórmon apresenta:

“Escuta e ouve isto, ó casa de Jacó, que é chamada pelo nome de Israel, que saiu das águas de Judá, ou seja, das águas do batismo, que jura pelo nome do Senhor e que faz menção do Deus de Israel; contudo não jura nem em verdade nem em retidão”.[4]

A “casa de Jacó” como foi usado aqui significa todos aqueles que fizeram convênios com o Senhor através do batismo, em qualquer época do mundo.[5] O Livro de Mórmon provê o significado para o termo usado por Isaías, as “águas de Judá”. Pode ser que este termo tenha sido claro para a Israel antiga, mas para o leitor moderno a explicação do termo se faz necessária para se fazer a conexão. Joseph Smith, na edição de 1840 do Livro de Mórmon, adicionou a frase “ou seja, das águas do batismo”.[6]

Israel, apesar de haver feito convênios sagrados, é mentirosa e iniqua. Membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que fazem convênios mas não vivem dignamente estão sobre a mesma condenação.

O versículo 2 descreve com mais detalhes a hipocrisia de Israel: “E até da santa cidade tomam o nome e se firmam sobre o Deus de Israel; o Senhor dos Exércitos é o seu nome”. [7] O Livro de Mórmon apresenta “Não obstante, toma o nome da cidade santa, mas não se apoia no Deus de Israel, que é o Senhor dos Exércitos; sim, o Senhor dos Exércitos é seu nome”.[8] Mesmo que algumas pessoas—tanto do passado quanto de hoje—tenham a aparência de retidão elas não exercitam sua fé no Deus de Israel. Ser “da cidade santa”, ou participar nas atividades da Igreja, não é suficiente. Seu lugar como parte do Convênio Abraâmico será perdido devido suas iniquidades.

No versículo 3 o Senhor começa falando, continuando a acusação de Isaías: “As primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei; da minha boca saíram, e eu as fiz ouvir; apressuradamente as fiz, e aconteceram”. O Livro de Mórmon apresenta “Eis que anunciei as primeiras coisas desde o princípio …”.[9] As profecias pertinentes às coisas passadas, dadas através de profetas antigos, foram cumpridas.

No versículo 4, o Senhor continua: “Porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze”. O Livro de Mórmon apresenta “E assim o fiz por saber que és obstinado …”. A metáfora “a tua cerviz um nervo de ferro” descreve a dura-cerviz de Israel enquanto que a metáfora “e a tua testa de bronze” descreve a falta de desejo de Israel de pensar ou ponderar as coisas do Senhor.

No versículo 5, o Senhor declara: “Por isso te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse, para que não dissesses: O meu ídolo fez estas coisas, e a minha imagem de escultura, e a minha imagem de fundição as mandou”. O Livro de Mórmon apresenta: “E desde o início tenho-te declarado; antes que acontecessem, eu tas mostrei; e mostrei-as por temor de que viesses a dizer …”.[10] Declarações proféticas de coisas passadas foram reveladas ao povo de Israel pelo Senhor em parte por causa da obstinação e dura-cerviz. As profecias dadas à idólatra Israel e registradas nas escrituras deixam-na sem desculpas, já que não podem dizer que seus falsos deuses fizeram estas coisas acontecerem. Hoje em dia, a idolatria é equivalente ao materialismo.

Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma:

A: (3) Eis que as primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei
B: da minha boca saíram,
C: e eu as fiz ouvir;
C: Mostrei-as apressuradamente, e aconteceram.
B: (4) E assim o fiz porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze.
A: (5) Por isso te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse, e mostrei-as por temor de que dissesses: O meu ídolo fez estas coisas, e a minha imagem de escultura, e a minha imagem de fundição as mandou.

Neste quiasma o Senhor declara que Ele deu à Israel informações detalhadas sobre os acontecimentos futuros, para que eles não dissessem que seus ídolos fizeram com que estas coisas acontecessem. “Desde a antiguidade as anunciei” é equivalente à frase “te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse”. “Da minha boca saíram” é complementada por “e assim o fiz porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze”. As palavras usadas no Livro de Mórmon fazem com que estas frases complementares funcionem como elementos quiásticos.

No versículo 6, o Senhor adverte que os testemunhos dos profetas, registrados nas escrituras, testificarão contra a idólatra Israel: “Já o tens ouvido; olha bem para tudo isto; porventura não o anunciareis? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, e que nunca conheceste”.[11] O Livro de Mórmon apresenta: “Viste e ouviste tudo isto; e não o anunciarás? E que desde agora te tenho mostrado coisas novas …”.[12] Grandes tesouros de conhecimentos sagrados registrados nas escrituras ou aprendidos nos templos sagrados continuam “ocultos”—sem serem compreendidos ou discutido entre o povo devido à iniquidade. Isaías enfatiza que nós, os receptores das inspirações e revelações do Senhor, temos a responsabilidade coletiva de “anunciar” este conhecimento, ou de prestar testemunho destas coisas.

O versículo 7 declara: “Agora são criadas, e não de há muito, e antes deste dia não as ouviste, para que porventura não digas: Eis que eu já as sabia”. O Livro de Mórmon apresenta: “Elas são criadas agora e não desde o princípio; nem antes do dia em que as ouviste te foram declaradas, para que não dissesses …”. Os profetas testificaram em vão sobre estas coisas.

No versículo 8, o Senhor acusa Israel: “Nem tu as ouviste, nem tu as conheceste, nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido, porque eu sabia que procederias muito perfidamente, e que eras chamado transgressor desde o ventre”.[13] O Livro de Mórmon apresenta: “Sim, e não ouviste; sim, não conheceste; sim, tampouco desde aí foi aberto o teu ouvido …”.[14] O uso da segunda pessoa do singular indica que o Senhor está falando com cada pessoa individualmente; a responsabilidade de retidão é, em primeiro lugar, pessoal. Apesar de ter sido advertido, o povo não deu ouvidos.

Os versículos 9 até 19 declara o amor do Senhor por Israel apesar de seus pecados; o Senhor tem refinado Israel na fornalha da aflição. As palavras metafóricas de Isaías são profundamente poéticas, pois dizem muito usando poucas palavras, causando um forte impacto emocional.

No versículo 9, o Senhor explica Sua misericórdia para com Israel: “Por amor do meu nome retardarei a minha ira, e por amor do meu louvor me refrearei para contigo, para que te não venha a cortar”. O Livro de Mórmon apresenta: “Não obstante, por amor do meu nome …”.[15] Por causa dos convênios feito com Abraão, Isaque e Jacó o Senhor lidará com os descendentes rebeldes misericordiosamente.

No versículo 10 o Senhor descreve a razão das aflições de Israel: “Eis que já te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição”. O Livro de Mórmon apresenta: “Pois eis que te purifiquei …” e a frase “mas não como a prata” foi omitida.[16] Aflições são dadas com o propósito de purificação; aprendemos a obedecer quando sofremos.[17] Esta declaração descrevendo a purificação da Israel errante através da aflição é uma das grandes metáforas poéticas em toda literatura, não só na obra de Isaías.

Marvin J. Ashton aplicou o conceito do versículo 10 àqueles que estão passando por adversidades:

“Deus parece possuir um amor especial por aqueles que … estão enfrentando corajosamente a adversidade. Em muitos casos parece que eles possuem um relacionamento muito especial com Ele. ‘Eis que te purifiquei … provei-te na fornalha de aflição’”.[18]“Devemos, individualmente, agradecer a Deus pelos exemplos daqueles que nos cercam, que batalham e conquistam seus desafios diários, por mais intensos, reais e contínuos que sejam. Existem algumas pessoas que, a nosso ver, parecem possuir uma dose dupla de dificuldade, mas com a ajuda de Deus elas conseguem tornar-se pessoas especiais, que não desanimam nem cedem.”[19]

O versículo 11 reflete a razão pela qual o Senhor colocou tribulações sobre Israel: “Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a outrem”.[20] O Livro de Mórmon apresenta: “Por minha causa, sim, por minha própria causa farei isto, pois não permitirei que meu nome seja profanado …”.[21] O nome do Senhor seria profanado, se Ele falhasse em cumprir o Seu convênio com Abraão, Isaque e Jacó de que suas posteridades seriam abençoadas. Dallin H. Oaks ensinou: “Os nomes de Deus, o Pai, e de seu Filho Jesus Cristo são sagrados. O profeta Isaías ensina que o Senhor não permitirá que esses nomes sejam desonrados, ‘profanados’ como dizem as escrituras”.[22]

Há uma razão maior para a benevolência de Deus para com os descendentes de Abraão; Paulo explica em sua epístola aos Romanos: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu”.[23] A presciência de Deus dos espíritos que nasceriam na linhagem de Abraão—qualificando-os, assim, para as bênçãos do Convênio Abraâmico, contingente com a retidão pessoal—faz com que tudo isto seja justo. A declaração feita por Joseph Smith que “qualquer princípio de inteligência que alcançarmos nesta vida, surgirá conosco na ressurreição”[24] é um princípio que também funciona na transição da esfera pré-mortal à mortal.

Abraão declarou a respeito da presciência de Deus:

“Ora, o Senhor mostrara a mim, Abraão, as inteligências que foram organizadas antes de o mundo existir; e entre todas essas havia muitas das nobres e grandes;
“E Deus viu que essas almas eram boas; e ele estava no meio delas e disse: A estes farei meus governantes; pois ele se encontrava entre aqueles que eram espíritos e viu que eles eram bons; e disse-me: Abraão, tu és um deles; foste escolhido antes de nasceres”.[25]

Bem como Abraão e outros presentes nesta visão exibiam nobreza e grandeza na existência pré-mortal e foram escolhidos antes de nascerem para servirem como representantes ordenados do Senhor, a posteridade de Abraão foram consideradas dignas—por razões que não nos foram reveladas—de nascer como participantes no Convênio Abraâmico. Portanto, qualquer princípio de inteligência que adquirimos na existência pré-mortal trouxemos conosco para a mortalidade—não como lembranças explícitas, mas como participações nas bênçãos prometidas pelo Senhor através da linhagem escolhida.

No versículo 12 o Senhor apela com Israel para que ouça: “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu também o último”. O Livro de Mórmon apresenta: “… eu sou também o último”.[26] O Senhor identifica-se como o autor da nossa salvação.[27] “O Primeiro e o Último” é um dos títulos para o Senhor, usado em vários lugares nas escrituras.[28] O termo equivalente no Novo Testamento, referente ao Senhor Jesus Cristo, é “… Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”.[29]

No versículo 13 o Senhor proclama que Ele é o Criador dos céus e da Terra: “Também a minha mão fundou a terra, e a minha destra mediu os céus a palmos; eu os chamarei, e aparecerão juntos”. O Livro de Mórmon apresenta: “Minha mão fundou também a Terra e minha mão direita mediu os céus. Chamo-os e juntamente aparecem”.[30] O Senhor ordena, e todo o universo obedece. O Senhor usa, simbolicamente, Sua mão direita no processo de criação; e também faz convênios com Seus filhos usando Sua mão direita.[31]

No versículo 14 o Senhor chama Jacó e Israel: “Ajuntai-vos todos vós, e ouvi”, refletindo a primeira frase no versículo 12. O Senhor, então, pergunta: “Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR o amou, e executará a sua vontade contra Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus”.[32] O Livro de Mórmon apresenta: “Reuni-vos todos e escutai: Quem, dentre eles, declarou-lhes estas coisas? O Senhor o amou; sim, e cumprirá sua palavra, a qual declarou por meio deles; e executará sua vontade em Babilônia e seu braço cairá sobre os caldeus”.[33] O Senhor pergunta retoricamente se algum dos descendentes de Israel buscaram estabelecer a vontade do Senhor, libertando Judá da Babilônia; Isaías e outros profetas do Senhor declararam fielmente Suas palavras. Além disso, as profecias do Senhor concernentes a destruição da Babilônia seriam cumpridas;[34] se não fosse por um descendente de Israel, então por outra pessoa, a quem o Senhor amaria. “Os caldeus” significa os eruditos dos iníquos, ou seja, a Babilônia. O Senhor testifica que as palavras declaradas por Seus profetas seriam cumpridas. A pessoa que faria a vontade do Senhor concernente a Babilônia—aquele que o Senhor amou —era Ciro. Aqui, Ciro é um protótipo do Messias, que viria para salvar Seu povo.[35]

No versículo 15, o Senhor sumariza seu futuro chamado a Ciro, e com as mesmas palavras atesta o chamado divino de Isaías para profetizar: “Eu, eu o tenho falado; também já o chamei, e o trarei, e farei próspero o seu caminho”. O Livro de Mórmon apresenta: “Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei; sim, eu o chamei para anunciar …”.[36] O Senhor apoiará e prosperará o caminho de Seu profeta.

No versículo 16 Isaías responde, reconhecendo o chamado do Senhor: “Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito”. O Livro de Mórmon apresenta: “… desde o tempo em que foi anunciado, eu falei …”. As frases “ouvi isto” e “eu estava ali” foram omitidas.[37] Isaías afirma que ele tem sido fiel ao declarar publicamente as palavras do Senhor.

Os versículos 15 e 16 contêm um quiasma:

A: (15) Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei:
B: também já o chamei para anunciar,
C: e o trarei, e farei próspero o seu caminho.
D: (16) Chegai-vos a mim,
D: Não falei em segredo
C: desde o princípio; desde o tempo
B: em que foi anunciado, eu falei;
A: e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.

O lado ascendente deste quiasma atesta sobre o chamado do Senhor a Isaías; o lado descendente apresenta a resposta de Isaías. “Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei” complementa “o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito”. “Também já o chamei para anunciar” corresponde com “em que foi anunciado, eu falei”. As frases do Livro de Mórmon que foram tiradas do texto Massorético faz com que este quiasma funcione.

O versículo 17 resume: “Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar”. O Livro de Mórmon apresenta: “E assim diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel: Eu o enviei, eu, o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, que te guia pelo caminho que deves seguir, fiz estas coisas”.[38] O Senhor enviou Isaías para ensinar e testificar—este significado é esclarecido com as palavras do Livro de Mórmon. O “caminho em que deves andar” significa o caminho estreito e apertado, ou os mandamentos e convênios incluídos no Plano de Salvação.[39]

Nos versículos 18 e 19, o Senhor lamenta-se com a iniquidade de Israel. O versículo 18 começa: “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar!” [40]

Compare o lamento de Leí, dirigido aos seus filhos rebeldes, Lamã e Lemuel; parece que Leí leu o versículo 18 deste capítulo:

“E quando meu pai viu que as águas do rio desaguavam na fonte do Mar Vermelho, falou a Lamã, dizendo: Oh! Tu poderias ser como este rio, continuamente correndo para a fonte de toda retidão!
“E também disse a Lemuel: Oh! Tu poderias ser como este vale, firme, constante e imutável em guardar os mandamentos do Senhor!”[41]

O versículo 19 continua o lamento do Senhor: “Também a tua descendência seria como a areia, e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos; o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim”. Esta declaração reflete a promessa dada a Abraão:

“Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
“E em tua descendência serão benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à minha voz” (ênfases adicionadas).[42]

Devido à desobediência, Israel perde as bênçãos que receberia sob o Convênio Abraâmico.

Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma:

A: (18) Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos,
B: então seria a tua paz como o rio,
C: e a tua justiça como as ondas do mar!
C: (19) Também a tua descendência seria como a areia,
B: e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos;
A: o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim.

Este quiasma apresenta o lamento do Senhor por causa da iniquidade de Israel. “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos” complementa “o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim”. “Então seria a tua paz como o rio” reflete-se na sentença “e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos”, indicando que os grãos referem-se ao rio, ao invés de ao mar. “A tua justiça como as ondas do mar” compara-se com “a tua descendência seria como a areia”; a areia refere-se ao mar, complementando os grãos pertinentes ao rio.

Os versículos 20 até 22 descrevem a jubilosa coligação e retorno de Israel. O versículo 20 declara: “Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus. E anunciai com voz de júbilo, fazei ouvir isso, e levai-o até ao fim da terra; dizei: O SENHOR remiu a seu servo Jacó”. Esta frase “até ao fim da terra” significa a parte mais distante da terra.[43] A fuga da Babilônia, nos últimos dias, é espiritual; nossa “fuga” atual envolve a luta para tornarmos livres do pecado e iniquidade, através do arrependimento e perdão. Aqueles que se arrependem cantarão e sentirão uma grande alegria.

Alma testificou que o arrependimento traz alegria:

Sim, e desde aquela ocasião até agora tenho trabalhado sem cessar para conseguir trazer almas ao arrependimento; para fazer com que elas experimentem a intensa alegria que eu experimentei; para que também nasçam de Deus e encham-se do Espírito Santo.[44]

O versículo 20 contém um quiasma:

A: (20) Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus.
B: E anunciai com voz de júbilo,
C: fazei ouvir isso,
C: e levai-o até ao fim da terra;
B: dizei:
A: O SENHOR remiu a seu servo Jacó.

“Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus” complementa “o SENHOR remiu a seu servo Jacó”. A redenção de Jacó consiste-se em fugir da Babilônia antes que esta seja destruída, nos últimos dias significa a fuga da Babilônia espiritual. “Anunciai” é o mesmo que “dizei”; e “fazei ouvir isso” complementa “levai-o até ao fim da terra”. Jacó deverá declarar a alegria da redenção até o fim da terra.

O versículo 21 descreve as bênçãos espirituais dadas ao penitente: “E não tinham sede, quando os levava pelos desertos; fez-lhes correr água da rocha; fendeu a rocha, e as águas correram”. Os filhos de Israel sendo guiados pelo Senhor pelo deserto, depois de sua milagrosa libertação da escravidão no Egito[45] é um símbolo da coligação de Israel nos últimos dias. As “águas” a serem provida a Israel dos últimos dias é, metaforicamente, uma orientação espiritual — ou revelação dos céus.[46]

O versículo 22 conclui: “Mas os ímpios não têm paz, diz o Senhor”. O Livro de Mórmon provê a conexão:E apesar de haver feito tudo isso e ainda mais, não há paz para os iníquos, diz o Senhor”.[47] A “água” espiritual vivificadora—a fonte da paz—está disponível somente aos que se arrependem, que fogem de Babilônia espiritual. Os iníquos persistem em seu estado decaído, sem paz e sem conforto.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) E não tinham sede, quando os levava pelos desertos;
B: fez-lhes correr água
C: da rocha;
C: fendeu a rocha,
B: e as águas correram.
A: (22) E apesar de haver feito tudo isso e ainda mais, não há paz para os iníquos, diz o Senhor.

“Os levava pelos desertos” complementa “apesar de haver feito tudo isso e ainda mais”. “Fez-lhes correr água” é o mesmo que “as águas correram”; e “da rocha” corresponde com “fendeu a rocha”. O Senhor proveu água para os filhos errantes de Israel no deserto; semelhantemente, Ele proverá bênçãos de inspiração e orientação aos Seus discípulos nos últimos dias.

NOTAS

[1]. 1 Néfi 19:23.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. O versículo 1 contém dois quiasmas reconhecidos no hebraico original: Que vos chamais/Israel//Judá/saístes. Jurais/SENHOR/ Deus/fazeis menção. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 262.
[4]. 1 Néfi 20:1.
[5]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 416.
[6]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 401-402.
[7]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Nome/do SENHOR/Deus de Israel/não em verdade//nem em justiça/Deus de Israel/Senhor dos Exércitos/nome.
[8]. 1 Néfi 20:2.
[9]. 1 Néfi 20:3.
[10]. 1 Néfi 20:5.
[11]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Desde então/te fiz ouvir/o meu ídolo/a minha imagem de escultura//a minha imagem de fundição/as mandou/não o anunciareis?/desde agora te faço ouvir coisas novas.
[12]. 1 Néfi 20:6.
[13]. Os versículos 6 até 8 contêm um quiasma: Nunca conheceste/não as ouviste/nem tu as ouviste//nem tu as conheceste/nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido/procederias muito perfidamente.
[14]. 1 Néfi 20:8.
[15]. 1 Néfi 20:9.
[16]. 1 Néfi 20:10.
[17]. Ver Hebreus 5:8.
[18]. Isaías 48:10.
[19]. Marvin J. Ashton, “Vós e a Adversidade”, A Liahona, Março de 1981, p. 78.
[20]. Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma: Já te purifiquei/escolhi-te/por amor de mim//por amor de mim/farei isto/não permitireique seja profanado o meu nome.
[21]. 1 Néfi 20:11.
[22]. Dallin H. Oaks, “Reverente e Limpa,” A Liahona, Julho de 1986, p. 55.
[23]. Romanos 11:2.
[24]. Doutrina e Convênios 130:18; Ver versículos 18 e 19.
[25]. Abraão 3:22-23.
[26]. 1 Néfi 20:12.
[27]. Hebreus 12:2.
[28]. Ver Isaías 41:4; 44:6; 1 Néfi 20:12; Apocalipse 1:11, 17; 22:13; Alma 11:39; D&C 110:4.
[29]. Apocalipse 1:8.
[30]. 1 Néfi 20:13.
[31]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 418.
[32]. Os versículos 12 até 14 contêm um quiasma: Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel/eu sou o mesmo/eu o primeiro/eu também o último//também a minha mão/a minha destra/eu os chamarei/ajuntai-vos todos vós, e ouvi.
[33]. 1 Néfi 20:14.
[34]. Ver Isaías 47 e comentário pertinente.
[35]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaías Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 1 Néfi 20/Isaías 48, p. 346.
[36]. 1 Néfi 20:15.
[37]. 1 Néfi 20:16.
[38]. 1 Néfi 20:17.
[39]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 40:3; 49:11 e comentário pertinente.
[40]. O versículo 18 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: O rio/a tua paz//a tua justiça/ondas do mar. Parry, 2001, p. 263.
[41]. 1 Néfi 2:9-10.
[42]. Gênesis 22:17-18.
[43]. Compare Isaías 49:6.
[44]. Alma 36:24.
[45]. Ver Êxodo 17:5-6.
[46]. Ver Isaías 30:23-25; 35:1, 6-7.
[47]. 1 Néfi 20:22.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.