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CAPÍTULO 48: “Escolhi-te Na Fornalha Da Aflição”

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Este capítulo trata principalmente da dispersão e subsequente coligação de Israel. Os versículos 1 até 8 contêm uma acusação para Israel devido suas iniquidades; os versículos 9 até 19 declaram o amor do Senhor para Israel, apesar de seus pecados, e descrevem como o Senhor refiná-la-ia na fornalha da aflição. Finalmente, os versículos 20 até 22 predizem a jubilosa coligação de Israel e seu regresso.

O capítulo 48 é o primeiro capítulo completo citado no Livro de Mórmon por Néfi, em 1 Néfi 20. Ao introduzir esta citação, Néfi explicou: “E li-lhes muitas coisas que estavam escritas nos livros de Moisés; mas, para melhor persuadi-los a acreditar no Senhor, seu Redentor, eu li o que foi escrito pelo profeta Isaías, pois apliquei todas as escrituras a nós, para nosso proveito e instrução”.[1]

As diferenças na redação entre o Livro de Mórmon e na versão de João Ferreira de Almeida são mostradas em itálico quando citadas. Os capítulos 48 até 54 são citados por completo, ou em parte, no Livro de Mórmon, cada um acompanhado com explicações e interpretações.[2] Para alguns dos quiasmas deste capítulo, as palavras usadas no Livro de Mórmon são essenciais para fazerem os quiasmas funcionarem.

Os versículos 1 até 8 contêm uma acusação para Israel por suas iniquidades. Os versículos 1 e 2 são falados por Isaías, com os versículos subsequentes falados pelo Senhor.

O versículo 1 começa: “Ouvi isto, casa de Jacó, que vos chamais do nome de Israel, e saístes das águas de Judá, que jurais pelo nome do SENHOR, e fazeis menção do Deus de Israel, mas não em verdade nem em justiça”. [3] O Livro de Mórmon apresenta:

“Escuta e ouve isto, ó casa de Jacó, que é chamada pelo nome de Israel, que saiu das águas de Judá, ou seja, das águas do batismo, que jura pelo nome do Senhor e que faz menção do Deus de Israel; contudo não jura nem em verdade nem em retidão”.[4]

A “casa de Jacó” como foi usado aqui significa todos aqueles que fizeram convênios com o Senhor através do batismo, em qualquer época do mundo.[5] O Livro de Mórmon provê o significado para o termo usado por Isaías, as “águas de Judá”. Pode ser que este termo tenha sido claro para a Israel antiga, mas para o leitor moderno a explicação do termo se faz necessária para se fazer a conexão. Joseph Smith, na edição de 1840 do Livro de Mórmon, adicionou a frase “ou seja, das águas do batismo”.[6]

Israel, apesar de haver feito convênios sagrados, é mentirosa e iniqua. Membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que fazem convênios mas não vivem dignamente estão sobre a mesma condenação.

O versículo 2 descreve com mais detalhes a hipocrisia de Israel: “E até da santa cidade tomam o nome e se firmam sobre o Deus de Israel; o Senhor dos Exércitos é o seu nome”. [7] O Livro de Mórmon apresenta “Não obstante, toma o nome da cidade santa, mas não se apoia no Deus de Israel, que é o Senhor dos Exércitos; sim, o Senhor dos Exércitos é seu nome”.[8] Mesmo que algumas pessoas—tanto do passado quanto de hoje—tenham a aparência de retidão elas não exercitam sua fé no Deus de Israel. Ser “da cidade santa”, ou participar nas atividades da Igreja, não é suficiente. Seu lugar como parte do Convênio Abraâmico será perdido devido suas iniquidades.

No versículo 3 o Senhor começa falando, continuando a acusação de Isaías: “As primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei; da minha boca saíram, e eu as fiz ouvir; apressuradamente as fiz, e aconteceram”. O Livro de Mórmon apresenta “Eis que anunciei as primeiras coisas desde o princípio …”.[9] As profecias pertinentes às coisas passadas, dadas através de profetas antigos, foram cumpridas.

No versículo 4, o Senhor continua: “Porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze”. O Livro de Mórmon apresenta “E assim o fiz por saber que és obstinado …”. A metáfora “a tua cerviz um nervo de ferro” descreve a dura-cerviz de Israel enquanto que a metáfora “e a tua testa de bronze” descreve a falta de desejo de Israel de pensar ou ponderar as coisas do Senhor.

No versículo 5, o Senhor declara: “Por isso te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse, para que não dissesses: O meu ídolo fez estas coisas, e a minha imagem de escultura, e a minha imagem de fundição as mandou”. O Livro de Mórmon apresenta: “E desde o início tenho-te declarado; antes que acontecessem, eu tas mostrei; e mostrei-as por temor de que viesses a dizer …”.[10] Declarações proféticas de coisas passadas foram reveladas ao povo de Israel pelo Senhor em parte por causa da obstinação e dura-cerviz. As profecias dadas à idólatra Israel e registradas nas escrituras deixam-na sem desculpas, já que não podem dizer que seus falsos deuses fizeram estas coisas acontecerem. Hoje em dia, a idolatria é equivalente ao materialismo.

Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma:

A: (3) Eis que as primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei
B: da minha boca saíram,
C: e eu as fiz ouvir;
C: Mostrei-as apressuradamente, e aconteceram.
B: (4) E assim o fiz porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze.
A: (5) Por isso te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse, e mostrei-as por temor de que dissesses: O meu ídolo fez estas coisas, e a minha imagem de escultura, e a minha imagem de fundição as mandou.

Neste quiasma o Senhor declara que Ele deu à Israel informações detalhadas sobre os acontecimentos futuros, para que eles não dissessem que seus ídolos fizeram com que estas coisas acontecessem. “Desde a antiguidade as anunciei” é equivalente à frase “te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse”. “Da minha boca saíram” é complementada por “e assim o fiz porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze”. As palavras usadas no Livro de Mórmon fazem com que estas frases complementares funcionem como elementos quiásticos.

No versículo 6, o Senhor adverte que os testemunhos dos profetas, registrados nas escrituras, testificarão contra a idólatra Israel: “Já o tens ouvido; olha bem para tudo isto; porventura não o anunciareis? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, e que nunca conheceste”.[11] O Livro de Mórmon apresenta: “Viste e ouviste tudo isto; e não o anunciarás? E que desde agora te tenho mostrado coisas novas …”.[12] Grandes tesouros de conhecimentos sagrados registrados nas escrituras ou aprendidos nos templos sagrados continuam “ocultos”—sem serem compreendidos ou discutido entre o povo devido à iniquidade. Isaías enfatiza que nós, os receptores das inspirações e revelações do Senhor, temos a responsabilidade coletiva de “anunciar” este conhecimento, ou de prestar testemunho destas coisas.

O versículo 7 declara: “Agora são criadas, e não de há muito, e antes deste dia não as ouviste, para que porventura não digas: Eis que eu já as sabia”. O Livro de Mórmon apresenta: “Elas são criadas agora e não desde o princípio; nem antes do dia em que as ouviste te foram declaradas, para que não dissesses …”. Os profetas testificaram em vão sobre estas coisas.

No versículo 8, o Senhor acusa Israel: “Nem tu as ouviste, nem tu as conheceste, nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido, porque eu sabia que procederias muito perfidamente, e que eras chamado transgressor desde o ventre”.[13] O Livro de Mórmon apresenta: “Sim, e não ouviste; sim, não conheceste; sim, tampouco desde aí foi aberto o teu ouvido …”.[14] O uso da segunda pessoa do singular indica que o Senhor está falando com cada pessoa individualmente; a responsabilidade de retidão é, em primeiro lugar, pessoal. Apesar de ter sido advertido, o povo não deu ouvidos.

Os versículos 9 até 19 declara o amor do Senhor por Israel apesar de seus pecados; o Senhor tem refinado Israel na fornalha da aflição. As palavras metafóricas de Isaías são profundamente poéticas, pois dizem muito usando poucas palavras, causando um forte impacto emocional.

No versículo 9, o Senhor explica Sua misericórdia para com Israel: “Por amor do meu nome retardarei a minha ira, e por amor do meu louvor me refrearei para contigo, para que te não venha a cortar”. O Livro de Mórmon apresenta: “Não obstante, por amor do meu nome …”.[15] Por causa dos convênios feito com Abraão, Isaque e Jacó o Senhor lidará com os descendentes rebeldes misericordiosamente.

No versículo 10 o Senhor descreve a razão das aflições de Israel: “Eis que já te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição”. O Livro de Mórmon apresenta: “Pois eis que te purifiquei …” e a frase “mas não como a prata” foi omitida.[16] Aflições são dadas com o propósito de purificação; aprendemos a obedecer quando sofremos.[17] Esta declaração descrevendo a purificação da Israel errante através da aflição é uma das grandes metáforas poéticas em toda literatura, não só na obra de Isaías.

Marvin J. Ashton aplicou o conceito do versículo 10 àqueles que estão passando por adversidades:

“Deus parece possuir um amor especial por aqueles que … estão enfrentando corajosamente a adversidade. Em muitos casos parece que eles possuem um relacionamento muito especial com Ele. ‘Eis que te purifiquei … provei-te na fornalha de aflição’”.[18]“Devemos, individualmente, agradecer a Deus pelos exemplos daqueles que nos cercam, que batalham e conquistam seus desafios diários, por mais intensos, reais e contínuos que sejam. Existem algumas pessoas que, a nosso ver, parecem possuir uma dose dupla de dificuldade, mas com a ajuda de Deus elas conseguem tornar-se pessoas especiais, que não desanimam nem cedem.”[19]

O versículo 11 reflete a razão pela qual o Senhor colocou tribulações sobre Israel: “Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a outrem”.[20] O Livro de Mórmon apresenta: “Por minha causa, sim, por minha própria causa farei isto, pois não permitirei que meu nome seja profanado …”.[21] O nome do Senhor seria profanado, se Ele falhasse em cumprir o Seu convênio com Abraão, Isaque e Jacó de que suas posteridades seriam abençoadas. Dallin H. Oaks ensinou: “Os nomes de Deus, o Pai, e de seu Filho Jesus Cristo são sagrados. O profeta Isaías ensina que o Senhor não permitirá que esses nomes sejam desonrados, ‘profanados’ como dizem as escrituras”.[22]

Há uma razão maior para a benevolência de Deus para com os descendentes de Abraão; Paulo explica em sua epístola aos Romanos: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu”.[23] A presciência de Deus dos espíritos que nasceriam na linhagem de Abraão—qualificando-os, assim, para as bênçãos do Convênio Abraâmico, contingente com a retidão pessoal—faz com que tudo isto seja justo. A declaração feita por Joseph Smith que “qualquer princípio de inteligência que alcançarmos nesta vida, surgirá conosco na ressurreição”[24] é um princípio que também funciona na transição da esfera pré-mortal à mortal.

Abraão declarou a respeito da presciência de Deus:

“Ora, o Senhor mostrara a mim, Abraão, as inteligências que foram organizadas antes de o mundo existir; e entre todas essas havia muitas das nobres e grandes;
“E Deus viu que essas almas eram boas; e ele estava no meio delas e disse: A estes farei meus governantes; pois ele se encontrava entre aqueles que eram espíritos e viu que eles eram bons; e disse-me: Abraão, tu és um deles; foste escolhido antes de nasceres”.[25]

Bem como Abraão e outros presentes nesta visão exibiam nobreza e grandeza na existência pré-mortal e foram escolhidos antes de nascerem para servirem como representantes ordenados do Senhor, a posteridade de Abraão foram consideradas dignas—por razões que não nos foram reveladas—de nascer como participantes no Convênio Abraâmico. Portanto, qualquer princípio de inteligência que adquirimos na existência pré-mortal trouxemos conosco para a mortalidade—não como lembranças explícitas, mas como participações nas bênçãos prometidas pelo Senhor através da linhagem escolhida.

No versículo 12 o Senhor apela com Israel para que ouça: “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu também o último”. O Livro de Mórmon apresenta: “… eu sou também o último”.[26] O Senhor identifica-se como o autor da nossa salvação.[27] “O Primeiro e o Último” é um dos títulos para o Senhor, usado em vários lugares nas escrituras.[28] O termo equivalente no Novo Testamento, referente ao Senhor Jesus Cristo, é “… Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”.[29]

No versículo 13 o Senhor proclama que Ele é o Criador dos céus e da Terra: “Também a minha mão fundou a terra, e a minha destra mediu os céus a palmos; eu os chamarei, e aparecerão juntos”. O Livro de Mórmon apresenta: “Minha mão fundou também a Terra e minha mão direita mediu os céus. Chamo-os e juntamente aparecem”.[30] O Senhor ordena, e todo o universo obedece. O Senhor usa, simbolicamente, Sua mão direita no processo de criação; e também faz convênios com Seus filhos usando Sua mão direita.[31]

No versículo 14 o Senhor chama Jacó e Israel: “Ajuntai-vos todos vós, e ouvi”, refletindo a primeira frase no versículo 12. O Senhor, então, pergunta: “Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR o amou, e executará a sua vontade contra Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus”.[32] O Livro de Mórmon apresenta: “Reuni-vos todos e escutai: Quem, dentre eles, declarou-lhes estas coisas? O Senhor o amou; sim, e cumprirá sua palavra, a qual declarou por meio deles; e executará sua vontade em Babilônia e seu braço cairá sobre os caldeus”.[33] O Senhor pergunta retoricamente se algum dos descendentes de Israel buscaram estabelecer a vontade do Senhor, libertando Judá da Babilônia; Isaías e outros profetas do Senhor declararam fielmente Suas palavras. Além disso, as profecias do Senhor concernentes a destruição da Babilônia seriam cumpridas;[34] se não fosse por um descendente de Israel, então por outra pessoa, a quem o Senhor amaria. “Os caldeus” significa os eruditos dos iníquos, ou seja, a Babilônia. O Senhor testifica que as palavras declaradas por Seus profetas seriam cumpridas. A pessoa que faria a vontade do Senhor concernente a Babilônia—aquele que o Senhor amou —era Ciro. Aqui, Ciro é um protótipo do Messias, que viria para salvar Seu povo.[35]

No versículo 15, o Senhor sumariza seu futuro chamado a Ciro, e com as mesmas palavras atesta o chamado divino de Isaías para profetizar: “Eu, eu o tenho falado; também já o chamei, e o trarei, e farei próspero o seu caminho”. O Livro de Mórmon apresenta: “Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei; sim, eu o chamei para anunciar …”.[36] O Senhor apoiará e prosperará o caminho de Seu profeta.

No versículo 16 Isaías responde, reconhecendo o chamado do Senhor: “Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito”. O Livro de Mórmon apresenta: “… desde o tempo em que foi anunciado, eu falei …”. As frases “ouvi isto” e “eu estava ali” foram omitidas.[37] Isaías afirma que ele tem sido fiel ao declarar publicamente as palavras do Senhor.

Os versículos 15 e 16 contêm um quiasma:

A: (15) Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei:
B: também já o chamei para anunciar,
C: e o trarei, e farei próspero o seu caminho.
D: (16) Chegai-vos a mim,
D: Não falei em segredo
C: desde o princípio; desde o tempo
B: em que foi anunciado, eu falei;
A: e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.

O lado ascendente deste quiasma atesta sobre o chamado do Senhor a Isaías; o lado descendente apresenta a resposta de Isaías. “Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei” complementa “o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito”. “Também já o chamei para anunciar” corresponde com “em que foi anunciado, eu falei”. As frases do Livro de Mórmon que foram tiradas do texto Massorético faz com que este quiasma funcione.

O versículo 17 resume: “Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar”. O Livro de Mórmon apresenta: “E assim diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel: Eu o enviei, eu, o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, que te guia pelo caminho que deves seguir, fiz estas coisas”.[38] O Senhor enviou Isaías para ensinar e testificar—este significado é esclarecido com as palavras do Livro de Mórmon. O “caminho em que deves andar” significa o caminho estreito e apertado, ou os mandamentos e convênios incluídos no Plano de Salvação.[39]

Nos versículos 18 e 19, o Senhor lamenta-se com a iniquidade de Israel. O versículo 18 começa: “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar!” [40]

Compare o lamento de Leí, dirigido aos seus filhos rebeldes, Lamã e Lemuel; parece que Leí leu o versículo 18 deste capítulo:

“E quando meu pai viu que as águas do rio desaguavam na fonte do Mar Vermelho, falou a Lamã, dizendo: Oh! Tu poderias ser como este rio, continuamente correndo para a fonte de toda retidão!
“E também disse a Lemuel: Oh! Tu poderias ser como este vale, firme, constante e imutável em guardar os mandamentos do Senhor!”[41]

O versículo 19 continua o lamento do Senhor: “Também a tua descendência seria como a areia, e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos; o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim”. Esta declaração reflete a promessa dada a Abraão:

“Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
“E em tua descendência serão benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à minha voz” (ênfases adicionadas).[42]

Devido à desobediência, Israel perde as bênçãos que receberia sob o Convênio Abraâmico.

Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma:

A: (18) Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos,
B: então seria a tua paz como o rio,
C: e a tua justiça como as ondas do mar!
C: (19) Também a tua descendência seria como a areia,
B: e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos;
A: o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim.

Este quiasma apresenta o lamento do Senhor por causa da iniquidade de Israel. “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos” complementa “o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim”. “Então seria a tua paz como o rio” reflete-se na sentença “e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos”, indicando que os grãos referem-se ao rio, ao invés de ao mar. “A tua justiça como as ondas do mar” compara-se com “a tua descendência seria como a areia”; a areia refere-se ao mar, complementando os grãos pertinentes ao rio.

Os versículos 20 até 22 descrevem a jubilosa coligação e retorno de Israel. O versículo 20 declara: “Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus. E anunciai com voz de júbilo, fazei ouvir isso, e levai-o até ao fim da terra; dizei: O SENHOR remiu a seu servo Jacó”. Esta frase “até ao fim da terra” significa a parte mais distante da terra.[43] A fuga da Babilônia, nos últimos dias, é espiritual; nossa “fuga” atual envolve a luta para tornarmos livres do pecado e iniquidade, através do arrependimento e perdão. Aqueles que se arrependem cantarão e sentirão uma grande alegria.

Alma testificou que o arrependimento traz alegria:

Sim, e desde aquela ocasião até agora tenho trabalhado sem cessar para conseguir trazer almas ao arrependimento; para fazer com que elas experimentem a intensa alegria que eu experimentei; para que também nasçam de Deus e encham-se do Espírito Santo.[44]

O versículo 20 contém um quiasma:

A: (20) Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus.
B: E anunciai com voz de júbilo,
C: fazei ouvir isso,
C: e levai-o até ao fim da terra;
B: dizei:
A: O SENHOR remiu a seu servo Jacó.

“Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus” complementa “o SENHOR remiu a seu servo Jacó”. A redenção de Jacó consiste-se em fugir da Babilônia antes que esta seja destruída, nos últimos dias significa a fuga da Babilônia espiritual. “Anunciai” é o mesmo que “dizei”; e “fazei ouvir isso” complementa “levai-o até ao fim da terra”. Jacó deverá declarar a alegria da redenção até o fim da terra.

O versículo 21 descreve as bênçãos espirituais dadas ao penitente: “E não tinham sede, quando os levava pelos desertos; fez-lhes correr água da rocha; fendeu a rocha, e as águas correram”. Os filhos de Israel sendo guiados pelo Senhor pelo deserto, depois de sua milagrosa libertação da escravidão no Egito[45] é um símbolo da coligação de Israel nos últimos dias. As “águas” a serem provida a Israel dos últimos dias é, metaforicamente, uma orientação espiritual — ou revelação dos céus.[46]

O versículo 22 conclui: “Mas os ímpios não têm paz, diz o Senhor”. O Livro de Mórmon provê a conexão:E apesar de haver feito tudo isso e ainda mais, não há paz para os iníquos, diz o Senhor”.[47] A “água” espiritual vivificadora—a fonte da paz—está disponível somente aos que se arrependem, que fogem de Babilônia espiritual. Os iníquos persistem em seu estado decaído, sem paz e sem conforto.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) E não tinham sede, quando os levava pelos desertos;
B: fez-lhes correr água
C: da rocha;
C: fendeu a rocha,
B: e as águas correram.
A: (22) E apesar de haver feito tudo isso e ainda mais, não há paz para os iníquos, diz o Senhor.

“Os levava pelos desertos” complementa “apesar de haver feito tudo isso e ainda mais”. “Fez-lhes correr água” é o mesmo que “as águas correram”; e “da rocha” corresponde com “fendeu a rocha”. O Senhor proveu água para os filhos errantes de Israel no deserto; semelhantemente, Ele proverá bênçãos de inspiração e orientação aos Seus discípulos nos últimos dias.

NOTAS

[1]. 1 Néfi 19:23.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. O versículo 1 contém dois quiasmas reconhecidos no hebraico original: Que vos chamais/Israel//Judá/saístes. Jurais/SENHOR/ Deus/fazeis menção. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 262.
[4]. 1 Néfi 20:1.
[5]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 416.
[6]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 401-402.
[7]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Nome/do SENHOR/Deus de Israel/não em verdade//nem em justiça/Deus de Israel/Senhor dos Exércitos/nome.
[8]. 1 Néfi 20:2.
[9]. 1 Néfi 20:3.
[10]. 1 Néfi 20:5.
[11]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Desde então/te fiz ouvir/o meu ídolo/a minha imagem de escultura//a minha imagem de fundição/as mandou/não o anunciareis?/desde agora te faço ouvir coisas novas.
[12]. 1 Néfi 20:6.
[13]. Os versículos 6 até 8 contêm um quiasma: Nunca conheceste/não as ouviste/nem tu as ouviste//nem tu as conheceste/nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido/procederias muito perfidamente.
[14]. 1 Néfi 20:8.
[15]. 1 Néfi 20:9.
[16]. 1 Néfi 20:10.
[17]. Ver Hebreus 5:8.
[18]. Isaías 48:10.
[19]. Marvin J. Ashton, “Vós e a Adversidade”, A Liahona, Março de 1981, p. 78.
[20]. Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma: Já te purifiquei/escolhi-te/por amor de mim//por amor de mim/farei isto/não permitireique seja profanado o meu nome.
[21]. 1 Néfi 20:11.
[22]. Dallin H. Oaks, “Reverente e Limpa,” A Liahona, Julho de 1986, p. 55.
[23]. Romanos 11:2.
[24]. Doutrina e Convênios 130:18; Ver versículos 18 e 19.
[25]. Abraão 3:22-23.
[26]. 1 Néfi 20:12.
[27]. Hebreus 12:2.
[28]. Ver Isaías 41:4; 44:6; 1 Néfi 20:12; Apocalipse 1:11, 17; 22:13; Alma 11:39; D&C 110:4.
[29]. Apocalipse 1:8.
[30]. 1 Néfi 20:13.
[31]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 418.
[32]. Os versículos 12 até 14 contêm um quiasma: Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel/eu sou o mesmo/eu o primeiro/eu também o último//também a minha mão/a minha destra/eu os chamarei/ajuntai-vos todos vós, e ouvi.
[33]. 1 Néfi 20:14.
[34]. Ver Isaías 47 e comentário pertinente.
[35]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaías Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 1 Néfi 20/Isaías 48, p. 346.
[36]. 1 Néfi 20:15.
[37]. 1 Néfi 20:16.
[38]. 1 Néfi 20:17.
[39]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 40:3; 49:11 e comentário pertinente.
[40]. O versículo 18 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: O rio/a tua paz//a tua justiça/ondas do mar. Parry, 2001, p. 263.
[41]. 1 Néfi 2:9-10.
[42]. Gênesis 22:17-18.
[43]. Compare Isaías 49:6.
[44]. Alma 36:24.
[45]. Ver Êxodo 17:5-6.
[46]. Ver Isaías 30:23-25; 35:1, 6-7.
[47]. 1 Néfi 20:22.