Arquivo da tag: assim diz o Senhor

CAPÍTULO 48: “Escolhi-te Na Fornalha Da Aflição”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

Este capítulo trata principalmente da dispersão e subsequente coligação de Israel. Os versículos 1 até 8 contêm uma acusação para Israel devido suas iniquidades; os versículos 9 até 19 declaram o amor do Senhor para Israel, apesar de seus pecados, e descrevem como o Senhor refiná-la-ia na fornalha da aflição. Finalmente, os versículos 20 até 22 predizem a jubilosa coligação de Israel e seu regresso.

O capítulo 48 é o primeiro capítulo completo citado no Livro de Mórmon por Néfi, em 1 Néfi 20. Ao introduzir esta citação, Néfi explicou: “E li-lhes muitas coisas que estavam escritas nos livros de Moisés; mas, para melhor persuadi-los a acreditar no Senhor, seu Redentor, eu li o que foi escrito pelo profeta Isaías, pois apliquei todas as escrituras a nós, para nosso proveito e instrução”.[1]

As diferenças na redação entre o Livro de Mórmon e na versão de João Ferreira de Almeida são mostradas em itálico quando citadas. Os capítulos 48 até 54 são citados por completo, ou em parte, no Livro de Mórmon, cada um acompanhado com explicações e interpretações.[2] Para alguns dos quiasmas deste capítulo, as palavras usadas no Livro de Mórmon são essenciais para fazerem os quiasmas funcionarem.

Os versículos 1 até 8 contêm uma acusação para Israel por suas iniquidades. Os versículos 1 e 2 são falados por Isaías, com os versículos subsequentes falados pelo Senhor.

O versículo 1 começa: “Ouvi isto, casa de Jacó, que vos chamais do nome de Israel, e saístes das águas de Judá, que jurais pelo nome do SENHOR, e fazeis menção do Deus de Israel, mas não em verdade nem em justiça”. [3] O Livro de Mórmon apresenta:

“Escuta e ouve isto, ó casa de Jacó, que é chamada pelo nome de Israel, que saiu das águas de Judá, ou seja, das águas do batismo, que jura pelo nome do Senhor e que faz menção do Deus de Israel; contudo não jura nem em verdade nem em retidão”.[4]

A “casa de Jacó” como foi usado aqui significa todos aqueles que fizeram convênios com o Senhor através do batismo, em qualquer época do mundo.[5] O Livro de Mórmon provê o significado para o termo usado por Isaías, as “águas de Judá”. Pode ser que este termo tenha sido claro para a Israel antiga, mas para o leitor moderno a explicação do termo se faz necessária para se fazer a conexão. Joseph Smith, na edição de 1840 do Livro de Mórmon, adicionou a frase “ou seja, das águas do batismo”.[6]

Israel, apesar de haver feito convênios sagrados, é mentirosa e iniqua. Membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que fazem convênios mas não vivem dignamente estão sobre a mesma condenação.

O versículo 2 descreve com mais detalhes a hipocrisia de Israel: “E até da santa cidade tomam o nome e se firmam sobre o Deus de Israel; o Senhor dos Exércitos é o seu nome”. [7] O Livro de Mórmon apresenta “Não obstante, toma o nome da cidade santa, mas não se apoia no Deus de Israel, que é o Senhor dos Exércitos; sim, o Senhor dos Exércitos é seu nome”.[8] Mesmo que algumas pessoas—tanto do passado quanto de hoje—tenham a aparência de retidão elas não exercitam sua fé no Deus de Israel. Ser “da cidade santa”, ou participar nas atividades da Igreja, não é suficiente. Seu lugar como parte do Convênio Abraâmico será perdido devido suas iniquidades.

No versículo 3 o Senhor começa falando, continuando a acusação de Isaías: “As primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei; da minha boca saíram, e eu as fiz ouvir; apressuradamente as fiz, e aconteceram”. O Livro de Mórmon apresenta “Eis que anunciei as primeiras coisas desde o princípio …”.[9] As profecias pertinentes às coisas passadas, dadas através de profetas antigos, foram cumpridas.

No versículo 4, o Senhor continua: “Porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze”. O Livro de Mórmon apresenta “E assim o fiz por saber que és obstinado …”. A metáfora “a tua cerviz um nervo de ferro” descreve a dura-cerviz de Israel enquanto que a metáfora “e a tua testa de bronze” descreve a falta de desejo de Israel de pensar ou ponderar as coisas do Senhor.

No versículo 5, o Senhor declara: “Por isso te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse, para que não dissesses: O meu ídolo fez estas coisas, e a minha imagem de escultura, e a minha imagem de fundição as mandou”. O Livro de Mórmon apresenta: “E desde o início tenho-te declarado; antes que acontecessem, eu tas mostrei; e mostrei-as por temor de que viesses a dizer …”.[10] Declarações proféticas de coisas passadas foram reveladas ao povo de Israel pelo Senhor em parte por causa da obstinação e dura-cerviz. As profecias dadas à idólatra Israel e registradas nas escrituras deixam-na sem desculpas, já que não podem dizer que seus falsos deuses fizeram estas coisas acontecerem. Hoje em dia, a idolatria é equivalente ao materialismo.

Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma:

A: (3) Eis que as primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei
B: da minha boca saíram,
C: e eu as fiz ouvir;
C: Mostrei-as apressuradamente, e aconteceram.
B: (4) E assim o fiz porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze.
A: (5) Por isso te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse, e mostrei-as por temor de que dissesses: O meu ídolo fez estas coisas, e a minha imagem de escultura, e a minha imagem de fundição as mandou.

Neste quiasma o Senhor declara que Ele deu à Israel informações detalhadas sobre os acontecimentos futuros, para que eles não dissessem que seus ídolos fizeram com que estas coisas acontecessem. “Desde a antiguidade as anunciei” é equivalente à frase “te anunciei desde então, e te fiz ouvir antes que acontecesse”. “Da minha boca saíram” é complementada por “e assim o fiz porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de ferro, e a tua testa de bronze”. As palavras usadas no Livro de Mórmon fazem com que estas frases complementares funcionem como elementos quiásticos.

No versículo 6, o Senhor adverte que os testemunhos dos profetas, registrados nas escrituras, testificarão contra a idólatra Israel: “Já o tens ouvido; olha bem para tudo isto; porventura não o anunciareis? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, e que nunca conheceste”.[11] O Livro de Mórmon apresenta: “Viste e ouviste tudo isto; e não o anunciarás? E que desde agora te tenho mostrado coisas novas …”.[12] Grandes tesouros de conhecimentos sagrados registrados nas escrituras ou aprendidos nos templos sagrados continuam “ocultos”—sem serem compreendidos ou discutido entre o povo devido à iniquidade. Isaías enfatiza que nós, os receptores das inspirações e revelações do Senhor, temos a responsabilidade coletiva de “anunciar” este conhecimento, ou de prestar testemunho destas coisas.

O versículo 7 declara: “Agora são criadas, e não de há muito, e antes deste dia não as ouviste, para que porventura não digas: Eis que eu já as sabia”. O Livro de Mórmon apresenta: “Elas são criadas agora e não desde o princípio; nem antes do dia em que as ouviste te foram declaradas, para que não dissesses …”. Os profetas testificaram em vão sobre estas coisas.

No versículo 8, o Senhor acusa Israel: “Nem tu as ouviste, nem tu as conheceste, nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido, porque eu sabia que procederias muito perfidamente, e que eras chamado transgressor desde o ventre”.[13] O Livro de Mórmon apresenta: “Sim, e não ouviste; sim, não conheceste; sim, tampouco desde aí foi aberto o teu ouvido …”.[14] O uso da segunda pessoa do singular indica que o Senhor está falando com cada pessoa individualmente; a responsabilidade de retidão é, em primeiro lugar, pessoal. Apesar de ter sido advertido, o povo não deu ouvidos.

Os versículos 9 até 19 declara o amor do Senhor por Israel apesar de seus pecados; o Senhor tem refinado Israel na fornalha da aflição. As palavras metafóricas de Isaías são profundamente poéticas, pois dizem muito usando poucas palavras, causando um forte impacto emocional.

No versículo 9, o Senhor explica Sua misericórdia para com Israel: “Por amor do meu nome retardarei a minha ira, e por amor do meu louvor me refrearei para contigo, para que te não venha a cortar”. O Livro de Mórmon apresenta: “Não obstante, por amor do meu nome …”.[15] Por causa dos convênios feito com Abraão, Isaque e Jacó o Senhor lidará com os descendentes rebeldes misericordiosamente.

No versículo 10 o Senhor descreve a razão das aflições de Israel: “Eis que já te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição”. O Livro de Mórmon apresenta: “Pois eis que te purifiquei …” e a frase “mas não como a prata” foi omitida.[16] Aflições são dadas com o propósito de purificação; aprendemos a obedecer quando sofremos.[17] Esta declaração descrevendo a purificação da Israel errante através da aflição é uma das grandes metáforas poéticas em toda literatura, não só na obra de Isaías.

Marvin J. Ashton aplicou o conceito do versículo 10 àqueles que estão passando por adversidades:

“Deus parece possuir um amor especial por aqueles que … estão enfrentando corajosamente a adversidade. Em muitos casos parece que eles possuem um relacionamento muito especial com Ele. ‘Eis que te purifiquei … provei-te na fornalha de aflição’”.[18]“Devemos, individualmente, agradecer a Deus pelos exemplos daqueles que nos cercam, que batalham e conquistam seus desafios diários, por mais intensos, reais e contínuos que sejam. Existem algumas pessoas que, a nosso ver, parecem possuir uma dose dupla de dificuldade, mas com a ajuda de Deus elas conseguem tornar-se pessoas especiais, que não desanimam nem cedem.”[19]

O versículo 11 reflete a razão pela qual o Senhor colocou tribulações sobre Israel: “Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a outrem”.[20] O Livro de Mórmon apresenta: “Por minha causa, sim, por minha própria causa farei isto, pois não permitirei que meu nome seja profanado …”.[21] O nome do Senhor seria profanado, se Ele falhasse em cumprir o Seu convênio com Abraão, Isaque e Jacó de que suas posteridades seriam abençoadas. Dallin H. Oaks ensinou: “Os nomes de Deus, o Pai, e de seu Filho Jesus Cristo são sagrados. O profeta Isaías ensina que o Senhor não permitirá que esses nomes sejam desonrados, ‘profanados’ como dizem as escrituras”.[22]

Há uma razão maior para a benevolência de Deus para com os descendentes de Abraão; Paulo explica em sua epístola aos Romanos: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu”.[23] A presciência de Deus dos espíritos que nasceriam na linhagem de Abraão—qualificando-os, assim, para as bênçãos do Convênio Abraâmico, contingente com a retidão pessoal—faz com que tudo isto seja justo. A declaração feita por Joseph Smith que “qualquer princípio de inteligência que alcançarmos nesta vida, surgirá conosco na ressurreição”[24] é um princípio que também funciona na transição da esfera pré-mortal à mortal.

Abraão declarou a respeito da presciência de Deus:

“Ora, o Senhor mostrara a mim, Abraão, as inteligências que foram organizadas antes de o mundo existir; e entre todas essas havia muitas das nobres e grandes;
“E Deus viu que essas almas eram boas; e ele estava no meio delas e disse: A estes farei meus governantes; pois ele se encontrava entre aqueles que eram espíritos e viu que eles eram bons; e disse-me: Abraão, tu és um deles; foste escolhido antes de nasceres”.[25]

Bem como Abraão e outros presentes nesta visão exibiam nobreza e grandeza na existência pré-mortal e foram escolhidos antes de nascerem para servirem como representantes ordenados do Senhor, a posteridade de Abraão foram consideradas dignas—por razões que não nos foram reveladas—de nascer como participantes no Convênio Abraâmico. Portanto, qualquer princípio de inteligência que adquirimos na existência pré-mortal trouxemos conosco para a mortalidade—não como lembranças explícitas, mas como participações nas bênçãos prometidas pelo Senhor através da linhagem escolhida.

No versículo 12 o Senhor apela com Israel para que ouça: “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu também o último”. O Livro de Mórmon apresenta: “… eu sou também o último”.[26] O Senhor identifica-se como o autor da nossa salvação.[27] “O Primeiro e o Último” é um dos títulos para o Senhor, usado em vários lugares nas escrituras.[28] O termo equivalente no Novo Testamento, referente ao Senhor Jesus Cristo, é “… Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”.[29]

No versículo 13 o Senhor proclama que Ele é o Criador dos céus e da Terra: “Também a minha mão fundou a terra, e a minha destra mediu os céus a palmos; eu os chamarei, e aparecerão juntos”. O Livro de Mórmon apresenta: “Minha mão fundou também a Terra e minha mão direita mediu os céus. Chamo-os e juntamente aparecem”.[30] O Senhor ordena, e todo o universo obedece. O Senhor usa, simbolicamente, Sua mão direita no processo de criação; e também faz convênios com Seus filhos usando Sua mão direita.[31]

No versículo 14 o Senhor chama Jacó e Israel: “Ajuntai-vos todos vós, e ouvi”, refletindo a primeira frase no versículo 12. O Senhor, então, pergunta: “Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR o amou, e executará a sua vontade contra Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus”.[32] O Livro de Mórmon apresenta: “Reuni-vos todos e escutai: Quem, dentre eles, declarou-lhes estas coisas? O Senhor o amou; sim, e cumprirá sua palavra, a qual declarou por meio deles; e executará sua vontade em Babilônia e seu braço cairá sobre os caldeus”.[33] O Senhor pergunta retoricamente se algum dos descendentes de Israel buscaram estabelecer a vontade do Senhor, libertando Judá da Babilônia; Isaías e outros profetas do Senhor declararam fielmente Suas palavras. Além disso, as profecias do Senhor concernentes a destruição da Babilônia seriam cumpridas;[34] se não fosse por um descendente de Israel, então por outra pessoa, a quem o Senhor amaria. “Os caldeus” significa os eruditos dos iníquos, ou seja, a Babilônia. O Senhor testifica que as palavras declaradas por Seus profetas seriam cumpridas. A pessoa que faria a vontade do Senhor concernente a Babilônia—aquele que o Senhor amou —era Ciro. Aqui, Ciro é um protótipo do Messias, que viria para salvar Seu povo.[35]

No versículo 15, o Senhor sumariza seu futuro chamado a Ciro, e com as mesmas palavras atesta o chamado divino de Isaías para profetizar: “Eu, eu o tenho falado; também já o chamei, e o trarei, e farei próspero o seu caminho”. O Livro de Mórmon apresenta: “Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei; sim, eu o chamei para anunciar …”.[36] O Senhor apoiará e prosperará o caminho de Seu profeta.

No versículo 16 Isaías responde, reconhecendo o chamado do Senhor: “Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito”. O Livro de Mórmon apresenta: “… desde o tempo em que foi anunciado, eu falei …”. As frases “ouvi isto” e “eu estava ali” foram omitidas.[37] Isaías afirma que ele tem sido fiel ao declarar publicamente as palavras do Senhor.

Os versículos 15 e 16 contêm um quiasma:

A: (15) Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei:
B: também já o chamei para anunciar,
C: e o trarei, e farei próspero o seu caminho.
D: (16) Chegai-vos a mim,
D: Não falei em segredo
C: desde o princípio; desde o tempo
B: em que foi anunciado, eu falei;
A: e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.

O lado ascendente deste quiasma atesta sobre o chamado do Senhor a Isaías; o lado descendente apresenta a resposta de Isaías. “Diz também o Senhor: Eu, o Senhor, sim, eu falei” complementa “o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito”. “Também já o chamei para anunciar” corresponde com “em que foi anunciado, eu falei”. As frases do Livro de Mórmon que foram tiradas do texto Massorético faz com que este quiasma funcione.

O versículo 17 resume: “Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar”. O Livro de Mórmon apresenta: “E assim diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel: Eu o enviei, eu, o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, que te guia pelo caminho que deves seguir, fiz estas coisas”.[38] O Senhor enviou Isaías para ensinar e testificar—este significado é esclarecido com as palavras do Livro de Mórmon. O “caminho em que deves andar” significa o caminho estreito e apertado, ou os mandamentos e convênios incluídos no Plano de Salvação.[39]

Nos versículos 18 e 19, o Senhor lamenta-se com a iniquidade de Israel. O versículo 18 começa: “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar!” [40]

Compare o lamento de Leí, dirigido aos seus filhos rebeldes, Lamã e Lemuel; parece que Leí leu o versículo 18 deste capítulo:

“E quando meu pai viu que as águas do rio desaguavam na fonte do Mar Vermelho, falou a Lamã, dizendo: Oh! Tu poderias ser como este rio, continuamente correndo para a fonte de toda retidão!
“E também disse a Lemuel: Oh! Tu poderias ser como este vale, firme, constante e imutável em guardar os mandamentos do Senhor!”[41]

O versículo 19 continua o lamento do Senhor: “Também a tua descendência seria como a areia, e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos; o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim”. Esta declaração reflete a promessa dada a Abraão:

“Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
“E em tua descendência serão benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à minha voz” (ênfases adicionadas).[42]

Devido à desobediência, Israel perde as bênçãos que receberia sob o Convênio Abraâmico.

Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma:

A: (18) Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos,
B: então seria a tua paz como o rio,
C: e a tua justiça como as ondas do mar!
C: (19) Também a tua descendência seria como a areia,
B: e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos;
A: o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim.

Este quiasma apresenta o lamento do Senhor por causa da iniquidade de Israel. “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos” complementa “o seu nome nunca seria cortado nem destruído de diante de mim”. “Então seria a tua paz como o rio” reflete-se na sentença “e os que procedem das tuas entranhas como os seus grãos”, indicando que os grãos referem-se ao rio, ao invés de ao mar. “A tua justiça como as ondas do mar” compara-se com “a tua descendência seria como a areia”; a areia refere-se ao mar, complementando os grãos pertinentes ao rio.

Os versículos 20 até 22 descrevem a jubilosa coligação e retorno de Israel. O versículo 20 declara: “Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus. E anunciai com voz de júbilo, fazei ouvir isso, e levai-o até ao fim da terra; dizei: O SENHOR remiu a seu servo Jacó”. Esta frase “até ao fim da terra” significa a parte mais distante da terra.[43] A fuga da Babilônia, nos últimos dias, é espiritual; nossa “fuga” atual envolve a luta para tornarmos livres do pecado e iniquidade, através do arrependimento e perdão. Aqueles que se arrependem cantarão e sentirão uma grande alegria.

Alma testificou que o arrependimento traz alegria:

Sim, e desde aquela ocasião até agora tenho trabalhado sem cessar para conseguir trazer almas ao arrependimento; para fazer com que elas experimentem a intensa alegria que eu experimentei; para que também nasçam de Deus e encham-se do Espírito Santo.[44]

O versículo 20 contém um quiasma:

A: (20) Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus.
B: E anunciai com voz de júbilo,
C: fazei ouvir isso,
C: e levai-o até ao fim da terra;
B: dizei:
A: O SENHOR remiu a seu servo Jacó.

“Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus” complementa “o SENHOR remiu a seu servo Jacó”. A redenção de Jacó consiste-se em fugir da Babilônia antes que esta seja destruída, nos últimos dias significa a fuga da Babilônia espiritual. “Anunciai” é o mesmo que “dizei”; e “fazei ouvir isso” complementa “levai-o até ao fim da terra”. Jacó deverá declarar a alegria da redenção até o fim da terra.

O versículo 21 descreve as bênçãos espirituais dadas ao penitente: “E não tinham sede, quando os levava pelos desertos; fez-lhes correr água da rocha; fendeu a rocha, e as águas correram”. Os filhos de Israel sendo guiados pelo Senhor pelo deserto, depois de sua milagrosa libertação da escravidão no Egito[45] é um símbolo da coligação de Israel nos últimos dias. As “águas” a serem provida a Israel dos últimos dias é, metaforicamente, uma orientação espiritual — ou revelação dos céus.[46]

O versículo 22 conclui: “Mas os ímpios não têm paz, diz o Senhor”. O Livro de Mórmon provê a conexão:E apesar de haver feito tudo isso e ainda mais, não há paz para os iníquos, diz o Senhor”.[47] A “água” espiritual vivificadora—a fonte da paz—está disponível somente aos que se arrependem, que fogem de Babilônia espiritual. Os iníquos persistem em seu estado decaído, sem paz e sem conforto.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) E não tinham sede, quando os levava pelos desertos;
B: fez-lhes correr água
C: da rocha;
C: fendeu a rocha,
B: e as águas correram.
A: (22) E apesar de haver feito tudo isso e ainda mais, não há paz para os iníquos, diz o Senhor.

“Os levava pelos desertos” complementa “apesar de haver feito tudo isso e ainda mais”. “Fez-lhes correr água” é o mesmo que “as águas correram”; e “da rocha” corresponde com “fendeu a rocha”. O Senhor proveu água para os filhos errantes de Israel no deserto; semelhantemente, Ele proverá bênçãos de inspiração e orientação aos Seus discípulos nos últimos dias.

NOTAS

[1]. 1 Néfi 19:23.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. O versículo 1 contém dois quiasmas reconhecidos no hebraico original: Que vos chamais/Israel//Judá/saístes. Jurais/SENHOR/ Deus/fazeis menção. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 262.
[4]. 1 Néfi 20:1.
[5]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 416.
[6]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 401-402.
[7]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Nome/do SENHOR/Deus de Israel/não em verdade//nem em justiça/Deus de Israel/Senhor dos Exércitos/nome.
[8]. 1 Néfi 20:2.
[9]. 1 Néfi 20:3.
[10]. 1 Néfi 20:5.
[11]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Desde então/te fiz ouvir/o meu ídolo/a minha imagem de escultura//a minha imagem de fundição/as mandou/não o anunciareis?/desde agora te faço ouvir coisas novas.
[12]. 1 Néfi 20:6.
[13]. Os versículos 6 até 8 contêm um quiasma: Nunca conheceste/não as ouviste/nem tu as ouviste//nem tu as conheceste/nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido/procederias muito perfidamente.
[14]. 1 Néfi 20:8.
[15]. 1 Néfi 20:9.
[16]. 1 Néfi 20:10.
[17]. Ver Hebreus 5:8.
[18]. Isaías 48:10.
[19]. Marvin J. Ashton, “Vós e a Adversidade”, A Liahona, Março de 1981, p. 78.
[20]. Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma: Já te purifiquei/escolhi-te/por amor de mim//por amor de mim/farei isto/não permitireique seja profanado o meu nome.
[21]. 1 Néfi 20:11.
[22]. Dallin H. Oaks, “Reverente e Limpa,” A Liahona, Julho de 1986, p. 55.
[23]. Romanos 11:2.
[24]. Doutrina e Convênios 130:18; Ver versículos 18 e 19.
[25]. Abraão 3:22-23.
[26]. 1 Néfi 20:12.
[27]. Hebreus 12:2.
[28]. Ver Isaías 41:4; 44:6; 1 Néfi 20:12; Apocalipse 1:11, 17; 22:13; Alma 11:39; D&C 110:4.
[29]. Apocalipse 1:8.
[30]. 1 Néfi 20:13.
[31]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 418.
[32]. Os versículos 12 até 14 contêm um quiasma: Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel/eu sou o mesmo/eu o primeiro/eu também o último//também a minha mão/a minha destra/eu os chamarei/ajuntai-vos todos vós, e ouvi.
[33]. 1 Néfi 20:14.
[34]. Ver Isaías 47 e comentário pertinente.
[35]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaías Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 1 Néfi 20/Isaías 48, p. 346.
[36]. 1 Néfi 20:15.
[37]. 1 Néfi 20:16.
[38]. 1 Néfi 20:17.
[39]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 40:3; 49:11 e comentário pertinente.
[40]. O versículo 18 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: O rio/a tua paz//a tua justiça/ondas do mar. Parry, 2001, p. 263.
[41]. 1 Néfi 2:9-10.
[42]. Gênesis 22:17-18.
[43]. Compare Isaías 49:6.
[44]. Alma 36:24.
[45]. Ver Êxodo 17:5-6.
[46]. Ver Isaías 30:23-25; 35:1, 6-7.
[47]. 1 Néfi 20:22.

CAPÍTULO 45: “Assim Diz O Senhor Ao Seu Ungido, A Ciro”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

A primeira parte do capítulo 45 apresenta as instruções do Senhor a Ciro, que libertaria os cativos de Israel e financiaria a reconstrução do templo e da cidade de Jerusalém. O capítulo continua a profecia que começou nos últimos três versículos do capítulo 44. Os Judeus foram levados cativos pelos babilônios em 587 a.C. A Babilônia foi subsequentemente conquistada por Ciro, um persa, que divergiu as águas do Eufrates da cidade e marchou com seus exércitos no leito do rio seco sob as muralhas da cidade.[1] As palavras de Isaías—escritas há mais de 130 anos antes da época de Ciro e mesmo assim apresentando seu nome, tanto aqui quanto no capítulo anterior[2]—deve ter desempenhado um papel importante na libertação dos cativos de Judá e em convencer Ciro a fazer essas coisas. O capítulo conclui com o testemunho do Senhor de que somente Ele é Deus, o Criador dos céus e da Terra. Através dEle, o meio para a salvação seria provido para toda a humanidade. No final se dobrará todo o joelho diante dEle e jurará, ou confessará,[3] toda a língua que Ele é Deus.

Nos versículos 1 até 7 o Senhor fala a Ciro, explicando que apesar de Ciro não haver conhecido o Senhor, Ele lhe proveu grandes bênçãos. O versículo 1 proclama: “Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face”. [4] O Senhor declara que Ele tem apoiado Ciro em suas conquistas anteriores. O versículo 1 continua: “e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão”. “Seu ungido” vem do hebraico, que significa “príncipe messiânico”.[5] Assim, Ciro como um conquistador militar é um protótipo para Cristo em seu papel de destruidor dos iníquos antes de Sua Segunda Vinda. Também, quando Ciro libertou os judeus do cativeiro babilônico é um símbolo de Cristo libertando a humanidade da escravidão do pecado e morte. O termo “as portas” significa os portões protetores de uma cidade sitiada. A frase “descingir os lombos dos reis” significa que o Senhor desarmaria, ou figurativamente removeria as armas dos cintos dos reis, para facilitar Ciro na sua conquista. Esta declaração também implica “preparem-se para a batalha”. O método usado pelo Senhor para interver a favor de Ciro é revelado nesta frase.

No versículo 2, o Senhor proclama que Ele continuaria apoiando Ciro: “Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro”. O Grande Pergaminho de Isaías diz “Eu irei adiante de ti, e farei planos os montes …”.[6] As conquistas militares dos “montes”, isto é das “nações”,[7] seriam facilitadas para Ciro; o Senhor prepararia o caminho para ele.

O versículo 3 promete: “Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome”. “Tesouros escondidos” significa especificamente a Babilônia.[8] O Senhor proclamou que Ele é o Deus de Israel—um povo mantido em cativeiro por Ciro e seus antecessores, os babilônios que Ciro conquistou—e chama Ciro pelo seu nome através do profeta Isaías.

O Senhor, em uma revelação a Joseph Smith, proclama que Ele controla os destinos dos exércitos: “Pois não pertencem a mim as aves do céu e também os peixes do mar e os animais das montanhas? Não fiz eu a Terra? Não tenho em minhas mãos o destino de todos os exércitos das nações da Terra?”[9]

Em O Livro de Mórmon, o Senhor ressuscitado proclamou que Ele, Jesus Cristo, é o Deus de Israel e de todo o mundo:

“Levantai-vos e aproximai-vos de mim, para que possais meter as mãos no meu lado e também apalpar as marcas dos cravos em minhas mãos e em meus pés, a fim de que saibais que eu sou o Deus de Israel e o Deus de toda a Terra e fui morto pelos pecados do mundo” (ênfases adicionadas).[10]

Foi dada aos nefitas, para quem Cristo apareceu, uma oportunidade incomparável para saberem que Ele é o Deus de Israel, como Ele mesmo proclamou a Ciro por meio do profeta Isaías.

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

A: (1) Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face,
B: e descingir os lombos dos reis,
C: para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.
D: (2) Eu irei adiante de ti,
D: e endireitarei os caminhos tortuosos;
C: quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro.
B: (3) E dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor,
A: o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome.

A mensagem deste quiasma é que Ciro seria privilegiado em conquistar muitas nações e tomar posse de suas riquezas. “Ciro, a quem tomo pela mão direita” complementa “que te chama pelo teu nome”; a frase “descingir os lombos dos reis” é complementada por “E dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas”, provendo uma explicação do significado. “Eu irei adiante de ti” compara-se com “endireitarei os caminhos tortuosos”.

No versículo 4, o Senhor proclama a razão pela qual Ele chamou Ciro por nome: “Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses”. Ciro foi nomeado para realizar um assunto de grande importância para os servos do senhor, os descendentes de Israel.

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

(3) Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas,
A: para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel,
B: que te chama pelo teu nome.
C: (4) Por amor de meu servo Jacó,
C: e de Israel, meu eleito,
B: eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome,
A: ainda que não me conhecesses.

Este quiasma explica porque o Senhor revelou a Isaías o nome de Ciro muitos anos antes de seu tempo. “Para que saibas que eu sou o Senhor” contrasta-se com “ainda que não me conhecesses”; e “que te chama pelo teu nome” corresponde-se à “eu te chamei pelo teu nome”. O Senhor revelou o nome de Ciro a Isaías para que Ciro soubesse que o Senhor apontou-lhe para libertar os cativos de Israel. Devido este quiasma sobrepor o quiasma dos versículos 1 até 3, estas frases “que te chama pelo teu nome” e “eu te chamei pelo teu nome” são equivalentes a “Ciro” no versículo 1.

Nos versículos 5 e 6 o Senhor proclama que Ele é Deus e que não há outros deuses. O versículo 5 começa: “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças”.[11] “Eu te cingirei” significa “eu te prepararei”; o Senhor preparou Ciro para a batalha.[12] O Senhor fez isto apesar de Ciro não conhecê-Lo ou saber do Plano de Salvação.

No versículo 6, o Senhor explica que Ele seria glorificado por toda a Terra devido os feitos de Ciro: “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro”.[13] O Deus de Israel é o único Deus verdadeiro.

No versículo 7, o Senhor proclama que Ele é o Criador: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Em “crio as trevas”, o Senhor está se referindo a quando Ele separou a luz das trevas: “E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas”.[14]

Em “crio o mal”, o Senhor está se referindo a quando Ele deu a escolha entre o bem e o mal. Morôni explicou: “Pois eis que, meus irmãos, dado vos é julgar, a fim de que possais distinguir o bem do mal; e a maneira de julgar, para que tenhais um conhecimento perfeito, é tão clara como a luz do dia comparada com as trevas da noite” (ênfases adicionadas).[15]

No versículo 8, o Senhor prediz a restauração do evangelho e a chegada do Livro de Mórmon: “Destilai, ó céus, dessas alturas, e as nuvens chovam justiça; abra-se a terra, e produza a salvação, e ao mesmo tempo frutifique a justiça; eu, o Senhor, as criei”. O Senhor declara a Ciro que como parte de Seu papel como Criador, Ele estabeleceu e restabeleceu a verdade e a retidão na Terra.

“Destilai, ó céus, dessas alturas” significa que mensageiros celestiais viria para restaurar conhecimento e poder divinos à Terra. Compare a profecia sobre a restauração de João, o Revelador:

“E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo,
“Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.”[16]

“Abra-se a terra, e produza a salvação, e ao mesmo tempo frutifique a justiça” no versículo 8 refere-se à chegada do Livro de Mórmon. Compare as palavras de Isaías predizendo este acontecimento:

“Então serás abatida [Ariel, ou os nefitas], falarás de debaixo da terra, e a tua fala desde o pó sairá fraca, e será a tua voz debaixo da terra, como a de um que tem espírito familiar, e a tua fala assobiará desde o pó” (ênfases adicionadas).[17]

O registro dos nefitas, escondido na terra no passado por Morôni, saiu de debaixo da terra como a voz dos que já morreram há muito tempo atrás.

Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma:

A: (7) Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
B: (8) Destilai, ó céus, dessas alturas, e as nuvens chovam justiça;
C: abra-se a terra,
C: e produza a salvação,
B: e ao mesmo tempo frutifique a justiça;
A: eu, o Senhor, as criei.

Neste quiasma o Senhor proclama que Ele é o Criador e a fonte de toda retidão. “Eu, o Senhor, faço todas estas coisas” é equivalente à “eu, o Senhor, as criei”; “abra-se a terra” corresponde à frase “e produza a salvação”. O Livro de Mórmon, como se estivesse falando do pó da terra, traria o conhecimento da salvação.

O versículo 9 decreta sofrimento para os que se rebelam contra Deus: “Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?” O Grande Pergaminho de Isaías diz “… a tua obra: Não tens mãos humanas?”[18] Acaso nós, como criação de Deus, negamos Sua existência e clamamos que não há Criador? Até os cacos de um vaso de barro fornecem evidências a respeito de civilizações, ou mãos humanas, que os criaram. Tanto quanto os cacos dos vasos podem discutir entre eles se foram mãos humanas que os criaram, nós, seres humanos, discutimos futilmente se foi um Criador divino que nos criou.

O versículo 10 provê uma marcante comparação: “Ai daquele que diz ao pai: Que é o que geras? E à mulher: Que dás tu à luz?” Questionar se Deus nos criou é o mesmo que questionar os nossos pais biológicos se eles realmente são nossos pais.

O versículo 11 descreve a onisciência do Senhor, dirigindo-se novamente a Ciro: “Assim diz o Senhor, o Santo de Israel, aquele que o formou: Perguntai-me as coisas futuras; demandai-me acerca de meus filhos, e acerca da obra das minhas mãos”. O Senhor sabe tudo sobre Suas criações; aqui Ele desafia Ciro—quem Ele criou—a perguntar-Lhe sobre qualquer coisa para certificar-se de que o Senhor é o Criador de todas as coisas, inclusive da família humana.

O versículo 12 explica mais: “Eu fiz a terra, e criei nela o homem; eu o fiz; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens”.[19] O Senhor é o Criador dos céus e a Terra. O Senhor reitera isto numa revelação moderna: “Eu, o Senhor, estendi os céus e formei a Terra, obra de minhas mãos; e todas as coisas que neles há são minhas”.[20] A Terra e tudo que nela há pertencem ao Senhor porque Ele é o Criador. Temos o dever de cuidar das criações do Senhor como seus servos, ao invés de assumirmos que somos os donos delas. Anteriormente, no capítulo 42, Isaías proclamou: “Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e espraiou a Terra, e a tudo quanto produz; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela”.[21]

O versículo 13 declara a missão de Ciro, com o Senhor mudando para a terceira pessoa do singular: “Eu o despertei [Ciro] em justiça, e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por preço nem por presente, diz o Senhor dos Exércitos”. Ciro é comandado pelo Senhor a libertar os Israelitas cativos e edificar a sua cidade, sem esperar ganhos financeiros. Prisioneiros ou escravos eram considerados um bem financeiro e eram normalmente trocados ou libertados por um preço ou benefícios; aqui, Ciro é instruído pelo Senhor a não buscar recompensas financeiras.

No versículo 14 o Senhor continua Suas instruções a Ciro, voltando a usar a segunda pessoa singular: “Assim diz o SENHOR: O trabalho do Egito, e o comércio dos etíopes e dos sabeus, homens de alta estatura, passarão para ti, e serão teus; irão atrás de ti, virão em grilhões, e diante de ti se prostrarão; far-te-ão as suas súplicas, dizendo: Deveras Deus está em ti, e não há nenhum outro deus”. O Egito, a Etiópia, e uma tribo árabe chamada Sabeus [22] proveria a mão de obra e os materiais a Ciro. Todos reconheceriam que o Senhor estaria com Ciro. Eles vindo “em grilhões” significa que o Senhor substituiria as condições involuntárias dos judeus pelas condições das nações ou tribos mencionadas, assim, compensando a contrapartida financeira.

Os versículos 12 até 14 contêm um quiasma:

A: (12) Eu fiz a terra, e criei nela o homem; eu o fiz; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens. (13) Eu o despertei em justiça, e todos os seus caminhos endireitarei;
B: ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos,
C: não por preço nem por presente,
D: diz o Senhor dos Exércitos.
D: (14) Assim diz o SENHOR:
C: O trabalho do Egito, e o comércio dos etíopes e dos sabeus, homens de alta estatura, passarão para ti, e serão teus; irão atrás de ti,
B: virão em grilhões, e diante de ti se prostrarão; far-te-ão as suas súplicas, dizendo:
A: Deveras Deus está em ti, e não há nenhum outro deus.

Neste quiasma o Senhor promete a Ciro “o trabalho do Egito, e o comércio dos etíopes” se ele libertar Judá. “Eu fiz a terra, e criei nela o homem” complementa “deveras Deus está em ti, e não há nenhum outro deus”. “Os meus cativos” corresponde com “virão em grilhões, e diante de ti se prostrarão”, designando que outros tomariam o lugar dos judeus que Ciro libertaria; e “não por preço nem por presente” corresponde com “o trabalho do Egito, e o comércio dos etíopes e dos sabeus”, mostrando como o Senhor recompensaria Ciro por ele haver libertado os judeus.

No versículo 15, o profeta Isaías exulta: “Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador”. A benevolência do Senhor ao prover a chance de Jerusalém ser restabelecida, conforme as circunstâncias descritas nos versículos anteriores, é a razão dos louvores de Isaías. Aqui, Isaías também refere-se ao Senhor como “o Deus de Israel, o Salvador”, predizendo o papel principal do Senhor na Expiação. O Senhor oculta-se do mundo em general, manifestando-se somente aos que lhe buscam em fé e retidão.

O versículo 16 condena aqueles que adoram a falsos deuses: “Envergonhar-se-ão, e também se confundirão todos; cairão juntamente na afronta os que fabricam imagens”.

No versículo 17, o profeta prediz salvação para a penitente Israel: “Porém Israel é salvo pelo Senhor, com uma eterna salvação; por isso não sereis envergonhados nem confundidos em toda a eternidade”. O Senhor descreve a salvação de Israel numa revelação moderna: “E de lá os que eu desejar irão a todas as nações e ser-lhes-á dito o que fazer; eis que tenho uma grande obra reservada, pois Israel será salvo e guiá-lo-ei para onde eu desejar; e nenhum poder deterá minha mão”.[23]

A frase “para todo o sempre” é usada por Paulo no Novo Testamento[24] e uma vez em Doutrina e Convênios.[25] Ambas têm o mesmo sentido de “em toda a eternidade”, como aqui no versículo 17. A frase refere-se à obra Deus, o Pai,―incessante por toda a eternidade―de criar e habitar mundos incontáveis, como foi descrito a Moisés:

“E mundos incontáveis criei; e também os criei para meu próprio intento; e criei-os por meio do Filho, o qual é meu Unigênito ….”
“Mas far-te-ei um relato apenas sobre esta Terra e seus habitantes. Pois eis que há muitos mundos que pela palavra de meu poder passaram. E há muitos que agora permanecem e são inumeráveis para o homem; mas todas as coisas são enumeráveis para mim, pois são minhas e eu conheço-as.”[26]

O versículo 18 proclama: “Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o Senhor e não há outro”. O Senhor, o Criador dos céus e da Terra, é o único Deus. Sua criação da Terra tem um propósito específico—para ser habitada por Seus filhos.

Néfi parafraseou o versículo 18: “Eis que o Senhor criou a Terra para que fosse habitada; e criou seus filhos para que a habitassem”.[27]

Os versículos 15 até 18 contêm um quiasma:

A: (15) Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador.
B: (16) Envergonhar-se-ão, e também se confundirão todos; cairão juntamente na afronta os que fabricam imagens.
C: (17) Porém Israel é salvo
D: pelo Senhor,
C: com uma eterna salvação;
B: por isso não sereis envergonhados nem confundidos em toda a eternidade.
A: (18) Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus ….

Neste quiasma Isaías identifica Jeová como o mesmo que viria e salvaria Seu povo. “Tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador” corresponde “Porque assim diz o Senhor [Jeová, no hebraico] que tem criado os céus”. A frase “Eu sou o Senhor e não há outro” no versículo 18, é também equivalente quiasmaticamente.[28]

No versículo 19, o Senhor proclama: “Não falei em segredo, nem em lugar algum escuro da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em vão; eu sou o Senhor, que falo a justiça, e anuncio coisas retas”.[29] O Senhor não fala em segredo; ao contrário, Ele se manifesta a Seus profetas durante todas as eras.[30] Tampouco os descendentes de Jacó buscam o Senhor em vão; o Senhor trabalha somente em verdade e retidão. No prefácio de Doutrina e Convênios, o Senhor declarou: “E também em verdade vos digo, ó habitantes da Terra: Eu, o Senhor, estou disposto a tornar conhecidas estas coisas a toda carne; Porque não faço acepção de pessoas e desejo que todos os homens saibam …”.[31]

Os versículos 20 até 25 proclamam que Israel seria coligada e salva pela Expiação de Cristo. O versículo 20 declara: “Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar”. “Congregai-vos, e vinde” é o chamado do Senhor à toda Israel nos últimos dias. Os que escaparam das nações significa aqueles que abandonaram o mal e crenças do mundo, buscando espiritualmente a coligação em Sião. Os idólatras não têm nenhum conhecimento.

O versículo 21 continua: “Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde então o anunciou? Porventura não sou eu, o Senhor? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim”.[32] O Senhor declarou estas coisas desde os tempos antigos; Ele é justo e proverá o meio para a salvação. Não há outro Deus além Dele.

No versículo 22 o Senhor proclama que a salvação vem somente por meio Dele: “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro”. A frase “todos os termos da terra” significa os povos de todas as partes da Terra.[33]

No versículo 23, o Senhor atesta: “Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua”. Paulo cita este versículo no Novo Testamento: “Porque está escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, E toda a língua confessará a Deus”.[34]

A palavra “genuflectir” vem do latim, como representado neste versículo, Genu significa “joelho”, e flectere significa “dobrar”.[35] A declaração do Senhor “por mim mesmo tenho jurado” é o mais solene juramento possível em qualquer situação.[36]

Alma, o filho, depois de sua milagrosa conversão, explicou esta passagem de Isaías. Longe de ser uma promessa de salvação universal a todos os que confessam o nome do Senhor, é uma forma de condenar ainda mais o pecador:

“Sim, todo joelho se dobrará e toda língua confessará diante dele. Sim, mesmo no último dia, quando todos os homens se apresentarem para serem julgados por ele, confessarão que ele é Deus; então os que vivem sem Deus no mundo confessarão que o julgamento de um castigo eterno sobre eles é justo; e estremecerão e tremerão e encolher-se-ão sob seu olhar que tudo penetra” (ênfases adicionadas).[37]

O reconhecimento dos iníquos de que o Senhor é Deus não implica arrependimento, perdão ou discipulado.

Os versículos 24 e 25 são um resumo, o versículo 24 declara: “De mim se dirá: Deveras no Senhor há justiça e força; até ele virão, mas serão envergonhados todos os que se indignarem contra ele”. No Senhor, cada um de nós pode encontrar justiça e força; mas todos aqueles que estão indignados com o Senhor ficarão envergonhados. Néfi explicou sobre estes princípios:

“E assim vemos que os mandamentos de Deus devem ser cumpridos. E se os filhos dos homens guardam os mandamentos de Deus, ele alimenta-os e fortalece-os e dá-lhes meios pelos quais poderão cumprir as coisas que lhes ordenou …”.[38]

O versículo 25 conclui: “Mas no Senhor será justificada, e se gloriará toda a descendência de Israel”. “Justificada” significa tendo sido julgado e encontrado digno das bênçãos e exaltação do Senhor.

Os versículos 22 até 25 contêm um quiasma:[39]

A: (22) Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra;
B: porque eu sou Deus, e não há outro.
C: (23) Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás;
D: que diante de mim se dobrará todo o joelho,
D: e por mim jurará toda a língua.
C: (24) De mim se dirá: Deveras no Senhor há justiça e força;
B: até ele virão, mas serão envergonhados todos os que se indignarem contra ele.
A: (25) Mas no Senhor será justificada, e se gloriará toda a descendência de Israel.

A mensagem deste quiasma é que através do Salvador, todos os povos da Terra podem ser salvos e todos reconhecerão que Ele é Deus. “Sereis salvos” é o mesmo que “será justificada”; “todos os termos da terra” amplifica “toda a descendência de Israel”; “Por mim mesmo tenho jurado” é combinada com “de mim se dirá”; e “a palavra de justiça” combina com “no Senhor há justiça e força”. “Se dobrará todo o joelho” corresponde “jurará toda a língua”.
NOTAS

[1]. Pat Alexander (Editor Organizador), The Lion Encyclopedia of the Bible (Enciclopédia da Bíblia Leão): Lion Publishing Co., 1987 ed., p. 296. Ver também Franklin L. West, Discovering the Old Testament (Descobrindo o Velho Testamento): Deseret Publishing Co., Salt Lake City, Utah, 1959, p. 442.
[2]. Ver Isaías 44:28.
[3]. Ver Romanos 14:11; Felipenses 3:10; Mosias 27:31; D&C 88:104.
[4]. O versículo 1 contém um quiasma: Diante de sua face/descingir//para abrir/diante dele. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 262.
[5]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 4899, p. 603.
[6]. Compare Parry, 2001, p. 182.
[7]. Ver Isaías 2:2, 14 e comentário pertinente; Ver também 2 Néfi 12:14.
[8]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2822, p. 365; Ver também Isaías 45:3, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 3a.
[9]. Doutrina e Convênios 117:6.
[10]. 3 Néfi 11:14.
[11]. Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma: Ainda que não me conhecesses/o Senhor/não há outro//fora de mim/não há Deus/ainda que tu não me conheças.
[12]. Ver versículo 1 e comentário pertinente.
[13]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Eu sou o Senhor, e não há outro/fora de mim não há Deus/desde o nascente do sol//desde o poente/fora de mim não há outro/eu sou o Senhor, e não há outro.
[14]. Gênesis 1:4.
[15]. Morôni 7:15.
[16]. Apocalipse 14:6-7.
[17]. Isaías 29:4.
[18]. Parry, 2001, p. 183.
[19]. Os versículos 11 e 12 contêm um quiasma: O Senhor, o Santo de Israel, aquele que o formou/Perguntai-me as coisas futuras//demandai-me acerca de meus filhos/eu fiz a terra, e criei nela o homem.
[20]. D&C 104:14.
[21]. Isaías 42:5; Ver Isaías 40:28; 41:20; 42:5; 44:24; Moisés 1:33; 4:2.
[22]. Dicionário Bíblico—Sabeus.
[23]. D&C 38:33.
[24]. Ver Efésios 3:21.
[25]. Ver D&C 76:112.
[26]. Moisés 1:33, 35.
[27]. 1 Néfi 17:36.
[28]. O versículo 18 contém um quiasmaque sobrepõe o quiasma dos versículos 15 até 18: Porque assim diz O Senhor que tem criado os céus/formou a terra/ele a confirmou//não a criou vazia/a formou para que fosse habitada/eu sou o Senhor.
[29]. O versículo 19 contém um quiasma: Não falei em segredo/não disse/Buscai-me//o Senhor/falo/anuncio coisas retas.
[30]. Ver Amós 3:7.
[31]. D&C 1:34-35.
[32]. Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Congregai-vos/vinde/os que escapastes/conduzem em procissão as suas imagens de escultura//rogam a um deus que não pode salvar/anunciai/chegai-vos/tomai conselho todos juntos.
[33]. Ver Isaías 42:10; 43:6; 52:10.
[34]. Romanos 14:11.
[35]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 308.
[36]. Ver Isaías 49:18 e comentário pertinente.
[37]. Mosias 27:31.
[38]. 1 Néfi 17:3.
[39]. Compare Parry, 2001, p. 262.

CAPÍTULO 43: “Eis Que Porei Um Caminho No Deserto, E Rios No Ermo”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

O capítulo 43 prediz o arrependimento final de Israel e a restauração nos últimos dias. Na primeira parte deste capítulo o Senhor proclama que Ele é Deus e que Israel, que recebeu muitas bênçãos pelas mãos do Senhor durante sua existência, é testemunha de Sua divindade. Depois apresenta profecias sobre a coligação da Israel penitente e das grandes destruições entre os iníquos; estas destruições são para a proteção do povo do Senhor. O capítulo conclui com o Senhor declarando que a Israel impenitente esqueceu Suas leis, trazendo para si grandes maldições.

O capítulo 43 contém quiasmas que fornecem informações interpretativas úteis e que proveem divisões lógicas no texto.

Os versículos 1 até 7 predizem a coligação de Israel; Isaías apresenta a profecia poeticamente como três quiasmas. No versículo 1 o Senhor declara que apesar dos pecados de Israel Ele proveu o meio para a redenção: “Mas agora, assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu”. “O Senhor” significa “Jeová”, que é Jesus Cristo. Ele é tanto o Criador quanto o Redentor.

O papel de Jesus Cristo como Criador foi apresentado pelo apóstolo João:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
“Ele estava no princípio com Deus.
“Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
“E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”[1]

“O Verbo” como foi usado aqui por João significa que Jeová—o Senhor Jesus Cristo—é o Porta-voz de Deus, o Pai.[2] Na sarça ardente, o Senhor revelou Seu nome a Moisés e explicou o que o Seu nome significa:

“Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?
“E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.”[3]

O nome “Jeová” vem do hebraico YHWH, que é relacionado ao verbo “ser” ou “eu sou”. O significado é “O que existe”.[4]

Jesus Cristo, em seu ministério mortal, ao dirigir-se aos judeus no templo, afirmou que Ele era o mesmo Jeová:

“Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se.
“Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?
“Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
“Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.”[5]

Os judeus pensaram que esta declaração de Jesus não era verdade, interpretando-a como uma solene blasfêmia sob a lei de Moisés. Por esta razão os judeus procuraram apedrejá-lo até a morte. Sem dúvidas eles lembraram desta declaração na ocasião de Sua acusação e crucificação.

O versículo 1 contém um quiasma:

A: (1) Mas agora, assim diz o SENHOR que te criou,
B: ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas,
C: porque eu te remi;
C: chamei-te
B: pelo teu nome,
A: tu és meu.

Neste quiasma o Senhor atesta que Ele é o Criador de Israel; portanto Israel é Seu povo. Ele redimiu e chamou Israel para que ela pudesse cumprir o Convênio Abraâmico, tornando-se uma bênção para o mundo.[6]

Nos versículos 2 até 4, o Senhor lembra Israel da milagrosa travessia do Mar Vermelho e da destruição dos exércitos de Faraó, prometendo semelhante intervenção no futuro. O versículo 2 começa: “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti”. “Quando passares pelas águas” lembra a divisão do Mar Vermelho.[7] “Rios” também significa “exércitos invasores,[8] e “fogo” refere-se à destruição pelo fogo que acontecerá na Segunda Vinda do Senhor.[9] O Senhor promete defender e preservar os justos na Sua Vinda, assim como Ele libertou os filhos de Israel do cativeiro no Egito e preservou-os.

Típico das destruições pelo fogo predita na Segunda Vinda do Senhor, cada um de nós passamos por provas de fogo, ou provações, durante a jornada de nossas próprias vidas. O Senhor promete que essas tribulações servirão para nos aperfeiçoar e não para nos destruir—removendo a escória do pecado e imperfeições e refinando o ouro em cada um de nós.

O versículo 3 continua: “Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por teu resgate, a Etiópia e a Seba em teu lugar”. Os exércitos do Egito, que se afogaram no Mar Vermelho, são um resgate para Israel; o Senhor destruiu outras nações para proteger Seus discípulos justos e fará novamente no futuro.

O versículo 4 fornece uma maior explicação: “Visto que foste precioso aos meus olhos, também foste honrado, e eu te amei, assim dei os homens por ti, e os povos pela tua vida”. O Senhor declarou em Doutrina e Convênios: “Lembrai-vos de que o valor das almas é grande à vista de Deus”,[10] expressando conceitos similares.

O propósito do Senhor em destruir os iníquos é de proteger os justos, e o afogamento dos egípcios no Mar Vermelho serve como um símbolo disto. Este conceito é elaborado pelo profeta Zenos, citado por Jacó no Livro de Mórmon:[11]

“Portanto cavai ao redor delas [oliveiras] e podai-as e adubai-as novamente, pela última vez, porque o fim se aproxima. E se estes últimos enxertos se desenvolverem e produzirem o fruto natural, então preparareis o caminho para eles, a fim de que cresçam.
“E à medida que começarem a crescer, tirareis os ramos que produzirem frutos amargos, segundo a força e o tamanho dos bons; e não tirareis os maus todos de uma vez, para que as raízes não se tornem fortes demais para o enxerto e o seu enxerto morra e eu perca as árvores de minha vinha” (ênfases adicionadas).[12]

Nesta alegoria das oliveiras, “os ramos que produzirem frutos amargos” são os iníquos, que seriam destruídos para dar lugar para os justos de Israel ao serem coligados.

No versículo 5 o Senhor conforta os justos de Israel: “Não temas, pois, porque estou contigo; trarei a tua descendência desde o oriente, e te ajuntarei desde o ocidente”. O Senhor protegerá e acompanhará aqueles que estão sendo coligados nos últimos dias.

As palavras dos versículos 2 até 5 encontram-se no texto do hino, “Que Firme Alicerce”.[13]

Os versículos 2 até 5 contêm um quiasma:

A: (2) Quando passares pelas águas estarei contigo,
B: e quando pelos rios,
C: eles não te submergirão;
D: quando passares pelo fogo, não te queimarás,
E: nem a chama arderá em ti.
F: (3) Porque eu sou o Senhor teu Deus,
F: o Santo de Israel, o teu Salvador;
E: dei o Egito por teu resgate, a Etiópia e a Seba em teu lugar.
D: (4) Visto que foste precioso aos meus olhos, também foste honrado,
C: e eu te amei, assim dei os homens por ti,
B: e os povos pela tua vida.

A: (5) Não temas, pois, porque estou contigo; trarei a tua descendência desde o oriente, e te ajuntarei desde o ocidente.

“Rios” compara-se com “os homens … e os povos”, refletindo o significado simbólico de “rios” como exércitos invasores. “Eles não te submergirão” complementa “eu te amei, assim dei os homens por ti”, refletindo novamente o simbolismo de rios. “Não te queimarás” corresponde com “foste precioso aos meus olhos”, indicando que a penitente Israel seria contada entre os justos e não seria queimada na Segunda Vinda do Senhor. “Nem a chama arderá em ti” reflete em “dei o Egito por teu resgate”, recordando a destruição dos exércitos egípcios ao atravessarem o Mar Vermelho[14] e reiterando a proteção que Israel receberá antes da Segunda Vinda.

O versículo 6 continua a descrição do Senhor da coligação de Israel nos últimos dias: “Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas; trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra”. Os pontos cardinais do compasso, usado nos versículos 5 e 6, representam as terras para onde as dez tribos foram levadas em cativeiro.[15] “Das extremidades da terra” significa dos pontos mais distantes da Terra.[16]

Os versículos 5 e 6 foram parafraseados pelo Senhor ressuscitado no Livro de Mórmon. Falando sobre a época “quando as palavras de Isaías se cumpram”, Ele disse:

“E então os remanescentes que estiverem dispersos pela face da Terra serão reunidos do leste e do oeste, do sul e do norte; e terão conhecimento do Senhor seu Deus que os redimiu”.[17]

O versículo 7 declara: “A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para a minha glória: eu os formei, e também eu os fiz”. O Senhor deu uma explicação mais detalhada sobre esse assunto aos nefitas durante Seu ministério pós-mortal:

“Não leram as escrituras, que dizem que deveis tomar sobre vós o nome de Cristo, que é o meu nome? Porque por esse nome sereis chamados no último dia.
E todo aquele que tomar sobre si o meu nome e perseverar até o fim, será salvo no último dia”.[18]

A passagem das escrituras que possivelmente Jesus esteja se referindo aqui é 2 Crônicas:

“E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”.[19]

Em várias outras passagens, definitivamente ou provavelmente na posse dos nefitas,[20] referências são feitas ao povo sendo chamado pelo nome do Senhor.[21] A oração sacramental inclui a declaração “que desejam tomar sobre si o nome de teu Filho”.[22] Hoje, isto significa ser reconhecido como membro da Igreja que tem o Seu nome.

Os versículos 5 até 7 contêm um quiasma:

A: (5) Não temas, pois, porque estou contigo;
B: trarei a tua descendência desde o oriente, e te ajuntarei desde o ocidente.
C: (6) Direi ao norte: Dá;
C: e ao sul: Não retenhas;
B: trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra,
A: (7) A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para a minha glória: eu os formei, e também eu os fiz.

“Porque estou contigo” complementa “A todos os que são chamados pelo meu nome”. “Trarei a tua descendência desde o oriente, e te ajuntarei desde o ocidente” corresponde a “trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra”. Todas as declarações compreendendo este quiasma estão relacionadas com a coligação de Israel nos últimos dias.

Os versículos 8 até 13 compreendem um litígio no qual as nações da Terra irão testificar da bondade do Senhor para com Israel. No versículo 8, o Senhor ordena: “Trazei o povo cego, que tem olhos; e os surdos, que têm ouvidos”. Isto significa os cegos e surdos espiritualmente; o Senhor dá um desafio aos que são capazes de compreender as coisas espirituais para que vejam e ouçam. Compare as palavras de Moisés a Israel antes de sua entrada na Terra Prometida:

“Porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje”.[23]

Moisés reconheceu a falta de sensibilidade espiritual e o desejo de receber orientação do Senhor entre os filhos de Israel. Durante Seu ministério mortal, Jesus frequentemente afirmou “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, que significa “se você é capaz, compreenda o significado espiritual destas coisas”.[24]

No versículo 9 o Senhor continua: “Todas as nações se congreguem, e os povos se reúnam; quem dentre eles pode anunciar isto, e fazer-nos ouvir as coisas antigas? Apresentem as suas testemunhas, para que se justifiquem, e se ouça, e se diga: Verdade é”. O significado da pergunta retórica é “Entre todas as nações do mundo, há alguma que recebeu profecias e conhecimento das coisas espirituais quanto esta nação?”

No versículo 10, o Senhor ordena Israel a reconhecer que Ele é seu Deus: “Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá”. Ele diz, “Vós [Israel] sois as minhas testemunhas” que o Senhor é Deus por causa de todas as bênçãos espirituais que eles receberam. Compare o versículo 12 abaixo, que é equivalente quiasmaticamente.

O versículo 11 continua a afirmação do Senhor: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador”. Compare com as palavras de Néfi:

“E agora, meus irmãos, falei com clareza, de modo que não podeis errar. E como vive o Senhor Deus que tirou Israel da terra do Egito e deu a Moisés poder para curar as nações depois de haverem sido mordidas por serpentes venenosas, [25] se olhassem para uma serpente que ele levantou diante delas; [26] e também lhe deu poder para golpear a rocha, a fim de que jorrasse água; [27] sim, eis que vos digo que, assim como estas coisas são verdadeiras e como o Senhor Deus vive, não há outro nome dado debaixo do céu mediante o qual o homem possa ser salvo, a não ser o deste Jesus Cristo do qual falei” (ênfases adicionadas).[28]

O mesmo Ser que era conhecido pelo povo antigo como Jeová viria à Terra, seria conhecido como Jesus Cristo, e expiaria pelos pecados da humanidade dando a Sua própria vida.

O versículo 12 resume: “Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus”. O Senhor “anunciou … salvou, e … o fez ouvir” que Ele é Deus, exceto quando a idolatria estava prevalente entre o povo.

Os versículos 10 até 12 contêm um quiasma:

A: (10) Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor,
B: e meu servo, a quem escolhi;
C: para que o saibais, e me creiais, e entendais
D: que eu sou o mesmo,
E: e que antes de mim deus nenhum se formou,
E: e depois de mim nenhum haverá.
D: (11) Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador.
C: (12) Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir,
B: e deus estranho não houve entre vós,
A: pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus.

Este quiasma descreve o Senhor como Deus, todas as Suas ações têm sido para afirmar isto na mente de Seu povo e que Ele considera o povo responsável por seu conhecimento como testemunhas. “Meu servo, a quem escolhi” complementa “e deus estranho não houve entre vós”, estipulando a condição sob a qual Israel é considerada o servo do Senhor.

O versículo 13 declara: “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” Antes do primeiro dia da criação, o Senhor já existia. Estas declarações fazem-nos lembrar a afirmação de Jesus no templo: “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”.[29]

Os versículos 14 até 21 testificam sobre as bênçãos a serem derramadas sobre Israel no futuro. O versículo 14 prediz o fim miraculoso do cativeiro Babilônico: “Assim diz o SENHOR, vosso Redentor, o Santo de Israel: Por amor de vós enviei a Babilônia, e a todos fiz descer como fugitivos, os caldeus, nos navios com que se vangloriavam”. A palavra “Redentor” vem de “redenção”, do latim “redemptore”. “Redimir” é pagar o resgate para libertar da escravidão. Cristo é simultaneamente o nosso Redentor e o preço do nosso resgate.[30] A palavra “Redentor” define a missão de Jesus Cristo, que pagou o preço de nossos pecados. Ele seria quem destruiria os babilônios e os caldeus, para proteger e abençoar os justos.

O versículo 15 resume: “Eu sou o Senhor, vosso Santo, o Criador de Israel, vosso Rei”. Estruturalmente este versículo consiste de cinco declarações paralelas, repetidas para dar ênfases. As últimas duas declarações são equivalentes quiasmaticamente a “Redentor” no versículo 14, atestando que quem falou é o mesmo que seria conhecido como Jesus Cristo, o Redentor.

O versículo 16 declara: “Assim diz o Senhor, o que preparou no mar um caminho, e nas águas impetuosas uma vereda”. O Senhor lembrou o povo quem estava falando—o mesmo Deus que dividiu o Mar Vermelho para fornecer um escape miraculoso para os filhos de Israel dos exércitos dos egípcios que os estavam perseguindo.[31]

Os versículos 14 até 16 contêm um quiasma:

A: (14) Assim diz o SENHOR,
B: vosso Redentor,
C: o Santo de Israel:
D: Por amor de vós enviei
E: a Babilônia, e a todos fiz descer como fugitivos,
E: os caldeus, nos navios com que se vangloriavam.
D: (15) Eu sou o Senhor,
C: vosso Santo,
B: o Criador de Israel, vosso Rei.
A: (16) Assim diz o Senhor, o que preparou no mar um caminho, e nas águas impetuosas uma vereda.

“Assim diz o SENHOR” reflete-se em “Assim diz o Senhor, o que preparou no mar um caminho, e nas águas impetuosas uma vereda”, atestando que o Senhor que está falando é o mesmo que resgatou Israel quando dividiu o Mar Vermelho. O Senhor destruiria a Babilônia e os caldeus a fim de proteger Israel. Como seu Redentor, o Criador resgatá-los-ia dando a sua própria vida.

O versículo 17 continua a revisão do Senhor dos acontecimentos envolvendo a miraculosa travessia do Mar Vermelho: “O que fez sair o carro e o cavalo, o exército e a força; eles juntamente se deitaram, e nunca se levantarão; estão extintos; como um pavio se apagaram”. Estes acontecimentos são um protótipo ou símbolo que se repetirá no futuro, antes da Segunda Vinda. “Como um pavio se apagaram” descreve o afogamento dos exércitos egípcios no mar.

O versículo 18 prediz a vinda de Cristo e como Ele cumpriria a Lei de Moisés: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas”. O Cristo ressuscitado declarou aos nefitas: “Portanto essas coisas da antiguidade, que se achavam sob a lei, em mim foram todas cumpridas. As coisas antigas são passadas e todas as coisas foram renovadas”.[32]

O versículo 18 contém um quiasma reconhecido no original hebraico, que foi estruturado aqui para corresponder com a estrutura hebraica:[33]

A: (18) Não vos lembreis
B: das coisas passadas,
B: nem as antigas
A: considereis.

O enfoque deste quiasma é “coisas passadas” e nas “antigas”, que quer dizer a lei de Moisés. A Israel dos últimos dias é exortada: “Não vos lembreis”, nem “considereis” as “antigas” que fazem parte da lei que já foi cumprida com o grandioso e último sacrifício do Messias.

No versículo 19, o Senhor muda o enfoque para as bênçãos que Ele derramaria sob Israel nos últimos dias: “Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo agora sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo”. O Grande Pergaminho de Isaías diz “Eis que faço uma coisa nova, e portanto sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e veredas no ermo”.[34] O “caminho no deserto” significa o caminho estreito e apertado ao longo do deserto espiritual em nossa época, do qual o caminho para atravessar o Mar Vermelho é um protótipo; assim, o antigo é um protótipo para a “coisa nova” que o Senhor faria. “Rios no ermo” é uma metáfora que significa que o Senhor faria com que a mensagem do evangelho viesse através de revelação dos céus nos últimos dias.[35] A frase alternada “veredas no ermo” significa que o caminho estreito e apertado será estabelecido no mundo, ou no deserto espiritual. Esta declaração—interpretada de uma forma ou de outra—também prediz o estabelecimento de Sião nos vales das montanhas e a presença de profetas vivos entre o povo do Senhor. Este acontecimento é o mesmo que o predito por Isaías anteriormente, no capítulo 41.[36]

“Faço uma coisa nova” também reflete o Senhor estabelecendo o novo e eterno convênio. O Senhor, falando através do Profeta Joseph Smith, explicou:

“Pois todos os que receberem uma bênção de minhas mãos obedecerão à lei que foi designada para essa bênção e suas condições, como instituídas desde antes da fundação do mundo.
“E quanto ao novo e eterno convênio, foi instituído para a plenitude de minha glória; e aquele que recebe sua plenitude deve cumprir a lei e cumpri-la-á; caso contrário, será condenado, diz o Senhor Deus” (ênfases adicionadas).[37]

O versículo 20 continua a descrição do predito acontecimento: “Os animais do campo me honrarão, os chacais, e os avestruzes; porque porei águas no deserto, e rios no ermo, para dar de beber ao meu povo, ao meu eleito”. Os chacais e os avestruzes metaforicamente representam povos que não fazem parte do convênio que devem receber as bênçãos do evangelho nos últimos dias.[38] “Águas” e “rios” em lugares secos significa inspiração e revelações dos céus no que antes era um deserto espiritual.[39] O estabelecimento de Sião no deserto representa o cumprimento temporal nos últimos dias.[40]

O versículo 21 continua a descrição do Senhor da Sião dos últimos dias: “A esse povo que formei para mim; o meu louvor relatarão”.[41] A obra do Senhor nos últimos dias seria manifestada no estabelecimento de Sião no deserto, sobre a qual Ele derramaria revelações e bênçãos. Por sua vez, aqueles que fizerem parte da Sião dos últimos dias serão requeridos a render louvores ao Senhor pelas bênçãos recebidas.

Os versículos 19 até 21 contêm um quiasma:

A: (19) Eis que faço uma coisa nova,
B: e portanto sairá à luz; porventura não a percebeis?
C: Eis que porei um caminho no deserto, e rios (veredas) no ermo.
D: (20) Os animais do campo me honrarão,
D: os chacais, e os avestruzes;
C: porque porei águas no deserto, e rios no ermo,
B: para dar de beber ao meu povo, ao meu eleito.
A: (21) A esse povo que formei para mim; o meu louvor relatarão.

“Faço uma coisa nova” corresponde-se com “A esse povo que formei para mim; o meu louvor relatarão”. Estas frases paralelas descrevem o novo e eterno convênio a ser estabelecido entre à Israel nos últimos dias. “Portanto sairá à luz” corresponde com “para dar de beber ao meu povo”, atestando que o povo descrito seria nutrido com constante revelações; “um caminho no deserto, e rios (veredas) no ermo” corresponde com “águas no deserto, e rios no ermo”, que significa que o caminho no deserto, ou o caminho estreito e apertado, seria estabelecido por revelações a este povo do novo convênio que viveria no deserto, ou no deserto espiritual e temporal. “Os animais do campo” e “os chacais, e os avestruzes” indicam que mesmo os que não são parte do convênio serão beneficiados com o estabelecimento do povo do convênio no deserto.

Os versículos 22 até 28 preveem que na época das restaurações nos últimos dias, alguns da casa de Israel persistiriam em apostasia. Isaías apresenta a acusação do Senhor da apóstata Israel como um litígio, apresentado poeticamente como dois quiasmas. O versículo 22 começa: “Contudo tu não me invocaste a mim, ó Jacó, mas te cansaste de mim, ó Israel”. Eles não oraram ao Senhor e não O serviram.

O versículo 23 continua a acusação: “Não me trouxeste o gado miúdo dos teus holocaustos, nem me honraste com os teus sacrifícios; não te fiz servir com ofertas, nem te fatiguei com incenso”. A palavra hebraica de onde “o gado miúdo” foi traduzido significa “cordeiros” ou “cabritos”.[42] Os apóstatas da casa de Israel não guardaram as leis nem observaram as ordenanças.

O versículo 24 resume: “Não me compraste por dinheiro cana aromática, nem com a gordura dos teus sacrifícios me satisfizeste, mas me deste trabalho com os teus pecados, e me cansaste com as tuas iniquidades”.[43] “Cana aromática” refere-se aos aromas para o óleo de unção usados em cerimônias no templo. Israel não ofereceu sacrifícios aceitáveis ao Senhor por causa das iniquidades. Ao invés de desejar retamente servir ao Senhor, Israel queria que o Senhor lhe servisse enquanto eles continuavam em iniquidade.

No versículo 25, o Senhor oferece o perdão através do arrependimento: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro”. O arrependimento é oferecido à Israel apóstata através da Expiação do Senhor Jesus Cristo. Como falou Joseph Smith: “Cremos que, por meio da Expiação de Cristo, toda a humanidade pode ser salva por obediência às leis e ordenanças do Evangelho”.[44] O Senhor falou aos Seus discípulos nos últimos dias, confirmando o significado intencionado por Isaías: “Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro”.[45]

No versículo 26 o Senhor implora que a desviada Israel arrependa-se: “Faze-me lembrar; entremos juntos em juízo; conta tu as tuas razões, para que te possas justificar”. “Conta tu as tuas razões” significa “confesse seus pecados”.

No versículo 27, o Senhor reconhece a queda de Adão e seu impacto na humanidade, e o efeito de líderes corruptos políticos e eclesiásticos: “Teu primeiro pai pecou, e os teus intérpretes prevaricaram contra mim”. “Prevaricar” significa perverter ou revoltar-se contra Deus.[46]

O versículo 28 descreve sérias consequências para os pecados do povo de Israel: “Por isso profanei os príncipes do santuário; e entreguei Jacó ao anátema, e Israel ao opróbrio”.[47] O Senhor cessaria de aceitar as ordenanças do “santuário”, que quer dizer do templo. O Senhor tendo profanado “os príncipes do santuário” significa que Ele tirou a honra dos ministros e sacerdotes do templo, parando de aceitar suas autoridades sacerdotais devido a extrema apostasia de Israel. Como foi predito aqui por Isaías, o Senhor cessou de aceitar as ordenanças do templo na época da crucificação, simbolizado pelo véu do templo sendo rompido de cima a baixo.[48]

NOTAS

[1]. João 1:1-5.
[2]. Ver Mateus 17:5; Marcos 9:7; Lucas 9:35; 3 Néfi 11:7; JS-História 1:17.
[3]. Êxodo 3:13-14.
[4]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 3068, p. 217-218.
[5]. João 8:56-59.
[6]. Ver Gênesis 22:16-18.
[7]. Ver Êxodo 14:21-31.
[8]. Isaías 8:7; 17:12-13; 28:2, 17.
[9]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[10]. Doutrina e Convênios 18:10.
[11]. Ver Jacó 5.
[12]. Jacó 5:64-65.
[13]. Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990, Hino número 42, “Que Firme Alicerce”, estrofes 2-5.
[14]. Ver Êxodo 14:26-28.
[15]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 42:24; 49:12; 54:7.
[16]. Ver Isaías 41:5, 9; 42:10; 45:22.
[17]. 3 Néfi 20:13; Ver versículos 11-13 .
[18]. 3 Néfi 27:5-6.
[19]. 2 Crônicas 7:14.
[20]. Ver 1 Néfi 5:13.
[21]. Ver Isaías 45:4; 65:1; Jeremias 7:10-11, 14, 30; 25:29,34; 34:15.
[22]. Morôni 4:3.
[23]. Deuteronômio 29:4.
[24]. Ver Mateus 11:15; 13:9, 43; Marcos 4:9, 23; 7:16; Lucas 8:8; 14:35.
[25]. Números 21:6.
[26]. Números 21:8-9.
[27]. Ver Êxodo 17:6.
[28]. 2 Néfi 25:20.
[29]. João 8:58.
[30]. Diccionario informal, redentor. Em linha: http://www.dicionarioinformal.com.br/redentor/
[31]
. Ver Êxodo 14:21-31.
[32]. 3 Néfi 12:46-47.
[33]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 262.
[34]. Parry, 2001, p. 175.
[35]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 10-11; 58:11 e comentário pertinente.
[36]. Ver Isaías 41:17-20 e comentário pertinente.
[37]. D&C 132:5-6. Ver também D&C 131:2; 132:19, 26-27, 41-42.
[38]. Ver Isaías 56:9 e comentário pertinente.
[39]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:10-11; 58:11.
[40]. Ver Isaías 35:1-2 e comentário pertinente.
[41]. Os versículos 1 até 21 formam um quiasma de grande escala: O Senhor que te criou/águas … rios/fogo, não te queimarás/eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador/o Egito por teu resgate, a Etiópia e a Seba em teu lugar/dei os homens por ti, e os povos pela tua vida/vós sois as minhas testemunhas/eu, eu sou o Senhor//fora de mim não há Salvador/vós sois as minhas testemunhas/agindo eu, quem o impedirá?/Babilônia, e a todos fiz descer como fugitivos, os caldeus/Eu sou o Senhor, vosso Santo, o Criador de Israel, vosso Rei/como um pavio se apagaram/águas … rios/a esse povo que formei para mim.
[42]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7716, p. 961.
[43]. Os versículos 22 até 24 contêm um quiasma: Te cansaste de mim, ó Israel/sacrifícios/ofertas/incenso//cana aromática/gordura/sacrifícios/me cansaste.
[44]. Regras de Fé 1:3.
[45]. D&C 58:42.
[46]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6586, p. 833.
[47]. Os versículos 25 até 28 contêm um quiasma: Eu … sou o que apago/transgressões/por amor de mim/não me lembro//faze-me lembrar/te possas justificar/prevaricaram contra mim/profanei os príncipes do santuário.
[48]. Ver Mateus 27:51; Marcos 15:38; Lucas 23:45.