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CAPÍTULO 42: “Não Faltará, Nem Será Quebrantado, Até Que Ponha Na Terra a Justiça”

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A maior parte do capítulo 42 é uma profecia concernente à vinda do Messias—tanto o Seu ministério mortal quanto Sua Segunda Vinda. Os versículos 1 até 3 foram citados pelo Senhor Jesus Cristo durante Seu ministério terreno, como foi registrado por Mateus. Como parte de Seu ministério, Ele abriria os olhos dos cegos, os ouvidos dos surdos e libertaria os presos de suas prisões. O Senhor em seu estado mortal fez muitos milagres, tal como restaurar a visão e a audição—mas isto é simbólico do maior milagre espiritual da missão do Senhor, como atestado neste capítulo.

A libertação dos prisioneiros é uma parte fundamental da Expiação, trazida pelo sacrifício infinito do Senhor. Se Ele não tivesse dado as bênçãos da ressurreição para toda a família humana vicariamente, ao dar Sua própria vida, ficaríamos presos para sempre, excluídos da presença de Deus e privado das maiores bênçãos de progresso eterno proporcionadas por Deus.[1] Durante a restauração nos últimos dias, o Senhor retornaria as chaves do sacerdócio na Terra através de profetas antigos. As chaves do sacerdócio são necessárias para que ordenanças de salvação possam ser realizadas pelos mortos que não receberam as ordenanças durante suas vidas mortais. Assim, o caminho para a salvação seria aberto para todos; e os prisioneiros, tanto os vivos quanto os mortos,[2] seriam libertados da prisão.

Partes do capítulo 42 são paralelas sinonimamente com partes do capítulo 41; a comparação dessas partes permitem uma compreensão maior.[3] Este capítulo contém quiasmas que funcionam se as palavras da Tradução de Joseph Smith (TJS) forem usadas.

Este capítulo começa com a declaração de Deus, o Pai, acerca da missão de Seu Filho Jesus Cristo. Não sabemos se foi o Pai que falou diretamente com Isaías nesta narrativa; é possível que o Senhor Jeová falou usando as palavras de Seu Pai, através do princípio de investidura divina para os primeiros 7 versículos. Começando no versículo 8 o Senhor Jeová fala, descrevendo Sua própria missão. Os versículos 1 até 3, citados pelo Senhor Jesus Cristo durante Seu ministério terreno e registrados por Mateus, diferem em significantes detalhes quando comparado à versão no Velho Testamento.[4]

Nos versículos 1 até 9 Deus, o Pai, proclama o Messias como Seu servo, prenunciando a completa obediência de Cristo aos mandamentos de Seu Pai. Estes versículos são paralelos sinonimamente com os versículos 8 até 10 do capítulo 41, no qual a nação de Israel é proclamada como serva do Senhor. Os versículos 1 até 4 são também reconhecidos como o primeiro de quatro salmos de servo na obra de Isaías.[5]

Em um salmo de servo, as características de um servo do Senhor são apresentadas como um salmo. Como determinado por Isaías no quarto salmo de servo, Cristo é o melhor exemplo de um servo, servindo fielmente a Seu Pai e obedecendo-O em todas as coisas.[6] Vários profetas inclusive Isaías[7] também cumpriram os critérios de um servo do Senhor.[8] Outros que exemplificaram qualidades semelhantes a de Cristo como servos incluem toda a casa de Israel;[9] Joseph Smith, o grande profeta da restauração;[10] os Santos dos Últimos Dias;[11] e possivelmente outros.

O versículo 1 declara: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios”. A palavra hebraica traduzida como “gentios” significa “nações”.[12] A definição ampla de “gentios” aplica-se neste caso—nações da Terra. Mateus apresenta assim, com as diferenças mostradas em itálico: “Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e anunciará aos gentios o juízo”.[13]

A voz é a de Deus, o Pai, proclamando Seu Filho Jesus Cristo. “O meu servo” significa que o Senhor serviu o Pai Eterno fiel e obedientemente. A sentença “O meu amado, em quem a minha alma se compraz” reflete as palavras usadas pelo Pai para apresentar o Seu Filho em diversas ocasiões. Marcos registrou:

“… Jesus, tendo ido de Nazaré da Galileia, foi batizado por João, no Jordão.
“E, logo que saiu da água, viu os céus abertos, e o Espírito, que como pomba descia sobre ele.
“E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo.”[14]

Outras três ocorrências foram registradas nas escrituras na qual o Pai proclamou e apresentou o Seu Filho usando estas ou semelhantes palavras. Estes acontecimentos incluem a transfiguração no alto monte,[15] a aparência do Senhor ressuscitado aos nefitas no continente americano,[16] e a primeira visão de Joseph Smith na primavera de 1820.[17] Deus, o Pai, é bem comprazido com o Seu Filho, que é o Seu Filho amado; Ele foi escolhido e apoiado por Deus e enviado por Ele às nações da Terra. Outros servos com qualidades semelhantes a de Cristo cumprem estes mesmos critérios.

“Justiça”, como foi usada no versículo 1, significa “justiça social”.[18] Outros significados para “justiça” encontrados na obra de Isaías incluem equidade,[19] retribuição,[20] raciocínio são,[21] e um sistema equitativo de leis.[22]

O versículo 2 continua: “Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça”.

Mateus registrou assim, com as diferenças enfatizadas: “Não contenderá, nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz”.[23] Isto significa que Jesus Cristo como servo não seria um sedicioso ou revolucionário, ele não incitaria rebelião nem violência. Outros servos que se encaixam na descrição de Isaías também rejeitariam contendas e violência—uma chave importante para identificar quem está falando por Deus durante todas as épocas, e particularmente nos últimos dias.

O versículo 3 declara: “A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; com verdade trará justiça”. Mateus apresenta: “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo” (ênfases adicionadas).[24] O significado é que o Senhor não feriria nem mesmo o fraco e o vulnerável, reafirmando que Ele não incitaria violência até depois da época da Sua crucificação e ressurreição. Esta profecia é uma das várias citadas por escritores no Novo Testamento como tendo sido cumprida através de acontecimentos na vida de Jesus Cristo.[25] “Juízo”, como foi usado aqui, significa “raciocínio são”.[26]

Jesus citou estes três versículos de Isaías sob circunstâncias que ocorreram no início de Seu ministério. Depois de fazer curas miraculosas e de ter sido seguido por multidões de gente, Ele pediu a Seus discípulos e àqueles que haviam sido curados por Ele, para não falarem abertamente sobre o que eles haviam testemunhado. Mateus registrou:

“E os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem.
“Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanharam-no grandes multidões, e ele curou a todos.
“E recomendava-lhes rigorosamente que o não descobrissem,
“Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías ….”[27]

Então o Senhor citou os primeiros três versículos de Isaías 42, apresentados na narração de Mateus.

O versículo 4 continua as palavras de Deus, o Pai: “Não faltará, nem será quebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a sua lei”. [28] O Pai testifica que apesar dos mais injustos tratamentos, do sofrimento mais intenso e morte por meios mais dolorosos e ignominiosos conhecidos, Jesus Cristo não faltaria em Sua missão salvadora, nem tampouco seria desencorajado. A sentença “As ilhas aguardarão a sua lei” talvez esteja se referindo, em parte, aos nefitas no continente americano, a quem Cristo visitou depois de Sua crucificação e ressurreição. Néfi, citando seu irmão Jacó, registrou que eles estavam “em uma ilha do mar”.[29] Outros servos emulando a Cristo teriam semelhante coragem e perseverança ao levarem a cabo as tarefas designadas pelo Senhor; muitos dariam suas próprias vidas para selarem seus testemunhos.

No versículo 5, as palavras de Deus, o Pai, continuam: “Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e espraiou a terra, e a tudo quanto produz; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela”. Quem está falando é o Criador dos céus e da terra Quem dá vida aos povos da Terra, e o Pai dos espíritos dos homens.[30]

No versículo 6, o Pai fala ao Seu Filho: “Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios”. Ele enviaria o Messias, seguraria Sua mão, O protegeria, e O daria como convênio à Israel e como luz aos gentios, ou nações da Terra. Os servos do Senhor que também se encaixam na descrição de Isaías seriam chamados por Deus,[31] protegidos e inspirados quando testificassem às nações da Terra.

O Senhor esclarece ao falar ao Profeta Joseph Smith: “E assim também mandei ao mundo meu eterno convênio, para ser uma luz para o mundo, para ser um modelo para meu povo e para que os gentios o procurem; e para ser um mensageiro diante de minha face e preparar o caminho diante de mim”.[32]

Durante o ministério terreno de Cristo e logo após, o evangelho foi primeiramente pregado aos judeus[33] e depois aos os gentios.[34] Quiasmaticamente, a primeira parte da dispensação da plenitude dos tempos é chamada de “a plenitude dos gentios”,[35] depois da qual o evangelho seria pregado novamente aos judeus.[36]

As palavras de Deus, o Pai, nos versículos 5 e 6 formam um quiasma:

A: (5) Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu,
B: e espraiou a terra, e a tudo quanto produz;
C: que dá a respiração ao povo que nela está,
C: e o espírito aos
B: que andam nela.
A: (6) Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios.

A mensagem deste quiasma é que Deus, o Criador de tudo, que dá a respiração e o espírito ao povo que vive na terra, apoiaria Seu Filho Unigênito durante Seu ministério terreno.

O versículo 7 fala mais sobre a missão do Messias: “Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas”. “Abrir os olhos dos cegos” tem um sentido temporal e espiritual. Não só o Senhor restaurou miraculosamente a visão dos cegos;[37] Ele trouxe a verdade para os que estavam aprisionados em trevas espirituais. A maior parte do ministério terreno do Senhor foi ensinando as verdades do evangelho ao povo, libertando-o das trevas espirituais—que representam a falta de conhecimento do Plano de Salvação—e trazendo-os à luz da verdade. O Apóstolo Pedro resumiu: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (ênfases adicionadas).[38] Outros servos seriam chamados pelo Senhor e dado o poder de levar a luz àqueles que estão espiritualmente cegos e prover as ordenanças de salvação aos que estão na prisão espiritual.

Ao introduzir a ordenança do batismo pelos mortos aos membros da Igreja, o Profeta Joseph Smith declarou: “… Entoem os mortos hinos de eterno louvor ao Rei Emanuel, que estabeleceu, antes da fundação do mundo, aquilo que nos permitiria redimi-los de sua prisão; pois os prisioneiros serão libertados” (ênfases adicionadas).[39]

O Senhor adicionou outra dimensão para libertar os prisioneiros—a ressurreição, que ocorrerá entre os justos na época da Sua Segunda Vinda: “Pois uma vez que tendes considerado como aprisionamento o longo tempo em que vosso espírito esteve ausente de vosso corpo, mostrar-vos-ei como virá o dia da redenção e também a restauração de Israel disperso”.[40]

No versículo 8, o Senhor Jeová—o Filho do Pai Eterno—fala: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura”.[41] O Senhor se identifica como o orador desta passagem. Quiasmaticamente, “O Senhor” é o oposto de “imagens de escultura”. Esta declaração é paralela com a introdução do Senhor dos Dez Mandamentos:

“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
“Não terás outros deuses diante de mim.
“Não farás para ti imagem de escultura ….”[42]

Aquele que falou com Isaías é o mesmo que deu a Moisés os Dez Mandamentos.

Os versículos 6 até 8 contêm um quiasma:

A: (6) Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios.
B: (7) Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos,
B: e do cárcere os que jazem em trevas.
A: (8) Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.

A frase “tirar da prisão os presos” corresponde-se com “cárcere”—os que jazem em trevas, aprisionados devido à falta de conhecimento do Plano de Salvação, serão libertados pelo Senhor através da Expiação. Note que este quiasma começa e termina com “o Senhor”, simbolizando a realidade de que o Senhor Jesus Cristo é o começo e o fim, conforme foi declarado em diversas passagens das escrituras.[43] Este padrão de estruturas quiasmáticas começando e terminando com o termo “o Senhor” ocorre frequentemente no Livro de Isaías.

No versículo 9 o Senhor continua descrevendo Seu ministério: “Eis que as primeiras coisas já se cumpriram, e as novas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir”. Paulo expande: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.[44] A Lei de Moisés foi cumprida com a crucificação e ressurreição de Cristo, que predisse esta mudança. O Senhor, ao ensinar os nefitas no Continente Americano depois de Sua ressurreição, esclareceu: “Portanto essas coisas da antiguidade, que se achavam sob a lei [de Moisés], em mim foram todas cumpridas”.[45]

Os versículos 10 até 13 são paralelos sinonimamente aos versículos 11 até 16 do capítulo 41, que proclama que o povo de Israel seria apoiado pelo Senhor e dominaria seus inimigos.

Os versículos 10 até 12 contêm um cântico de salvação, que descreve o louvor que seria oferecido ao Senhor ressuscitado pelos dispersos de Israel—dispersos pelas extremidades da Terra até as ilhas do mar, pelas cidades e vilas do deserto, pelas rochas e no cume dos montes. O versículo 10 começa: “Cantai ao Senhor um cântico novo, e o seu louvor desde a extremidade da terra; vós os que navegais pelo mar, e tudo quanto há nele; vós, ilhas, e seus habitantes”. “Desde a extremidade da terra” significa “a maior distância”.[46] Como o versículo 10 sugere, uma parte dos dispersos de Israel habitaria as ilhas do mar— “os que navegais pelo mar”, quer dizer viajando de barco para uma nova terra.[47] A história deste povo navegando pelo mar encontra-se registrada no Livro de Mórmon—cuja vinda foi descrita anteriormente por Isaías, no capítulo 29.[48]

O versículo 11 continua o louvor: “Alcem a voz o deserto e as suas cidades, com as aldeias que Quedar habita; exultem os que habitam nas rochas, e clamem do cume dos montes”. “O cume dos montes”, o qual foi citado por Isaías no capítulo 2 como sendo um lugar de coligação para os justos nos últimos dias,[49] é o significado do nome “Utah” na língua Ute.[50] Estes locais são lugares onde os dispersos de Israel residem, alguns dos quais foram visitados pelo Senhor ressuscitado depois de Sua visita aos nefitas.[51] Quedar era um dos filhos de Ismael. [52]

O versículo 12 completa o cântico de salvação: “Deem a glória ao Senhor, e anunciem o seu louvor nas ilhas”. [53] Novamente, “ilhas” refere-se às terras distantes onde os dispersos de Israel habitam.[54]

O cântico de salvação nos versículos 10 até 12 é estruturado em forma de um quiasma:

A: (10) Cantai
B: ao Senhor um cântico novo,
C: e o seu louvor desde a extremidade da terra;
D: vós os que navegais pelo mar, e tudo quanto há nele;
E: vós, ilhas, e seus habitantes.
F: (11) Alcem a voz o deserto e as suas cidades,
F: com as aldeias que Quedar habita;
E: exultem os que habitam nas rochas,
D: e clamem do cume dos montes.
C: (12) Deem a glória
B: ao Senhor,
A: e anunciem o seu louvor nas ilhas.

A mensagem deste quiasma é que os dispersos de Israel renderão louvores ao Senhor, dos diversos lugares para onde foram dispersos. “Cantai” corresponde com “anunciem o seu louvor”; a sentença “os que navegais pelo mar” complementa à frase “clamem do cume dos montes”. Leí e sua família cruzarem o mar a fim de obter a terra prometida na América, onde o lugar chamado “o cume dos montes”, ou Utah, está localizado.

Os versículos 13 até 15 descrevem o comportamento do Senhor na Sua Segunda Vinda, contrastando-se grandemente com a descrição de Seu ministério mortal apresentado por Deus, o Pai, nos versículos 1 até 4. Na época de Sua Segunda Vinda Ele não ficará mais quieto nem se conterá, mas virá como um homem de guerra para conquistar Seus inimigos. O versículo 13 começa: “O Senhor sairá como poderoso, como homem de guerra despertará o zelo; clamará, e fará grande ruído, e prevalecerá contra seus inimigos”. “Zelo” vem da palavra hebraica que significa “ardor”.[55] Isaías prediz esse acontecimento no capítulo 31:

“Porque assim me disse o Senhor: Como o leão e o leãozinho rugem sobre a sua presa, ainda que se convoque contra ele uma multidão de pastores, não se espantam das suas vozes, nem se abatem pela sua multidão, assim o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião, e sobre o seu outeiro.”[56]

Os versículos 14 até 17 são paralelos sinonimamente com os versículos 17 até 20 do capítulo 41, onde declara que o Senhor proverá inspiração e revelação ao humilde, devastará os inimigos de Israel e envergonhará aqueles que adoram ídolos.

O versículo 14 continua os temas que começaram no versículo 13: “Por muito tempo me calei; estive em silêncio, e me contive; mas agora darei gritos como a que está de parto, e a todos os assolarei e juntamente devorarei”. O Senhor não ficará mais em silêncio, mas gritará e destruirá Seus inimigos.

O versículo 15 conclui: “Os montes e outeiros tornarei em deserto, e toda a sua erva farei secar, e tornarei os rios em ilhas, e as lagoas secarei”.[57], [58] “Montes e outeiros” significam as nações grandes e pequenas,[59] e os “rios” significam os exércitos que avançam.[60] Os iníquos serão destruídos na Sua Segunda Vinda, deixando nações inteiras de iníquos despovoada e seus exércitos destruídos.

O versículo 16 continua a predição do Senhor sobre Sua Segunda Vinda, descrevendo agora como Ele tratará os mansos: “E guiarei os cegos pelo caminho que nunca conheceram, fá-los-ei caminhar pelas veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz perante eles, e as coisas tortas farei direitas. Estas coisas lhes farei, e nunca os desampararei”. O termo “cegos” se refere àqueles que se encontram em escuridão espiritual devido à iniquidade e apostasia. O Senhor restaurará o verdadeiro conhecimento do caminho da salvação—o caminho estreito e apertado, o verdadeiro conhecimento que se havia perdido ou corrompido.[61] A escuridão espiritual que prevaleceu durante toda a Idade Média, ou idade das Trevas—começando com a apostasia que terminou com a era apostólica—seria dispersa através da luz da verdade, restaurada por revelação dos céus.[62] O caminho torto, que resultou da corrupção do conhecimento do caminho estreito e apertado, seria endireitado novamente.[63]

O versículo 16 contém um quiasma:

A: (16) E guiarei
B: os cegos pelo caminho que nunca conheceram, fá-los-ei
C: caminhar pelas veredas que não conheceram;
D: tornarei as trevas
D: em luz perante eles,
C: e as coisas tortas farei direitas.
B: Estas coisas lhes farei,
A: e nunca os desampararei.

A mensagem deste quiasma é que o Senhor guiará os espiritualmente cegos provendo-os a luz da inspiração, dissipando a escuridão espiritual. “Veredas que não conheceram” é complementada por “coisas tortas farei direitas”. Esta conexão confirma que o caminho estreito e apertado, que ficou torto devido a desobediência e apostasia, seria endireitado outra vez através de revelações divinas do Senhor.[64]

O versículo 17 condena os idólatras: “Tornarão atrás e confundir-se-ão de vergonha os que confiam em imagens de escultura, e dizem às imagens de fundição: Vós sois nossos deuses”. Idolatria não é somente a adoração de deuses pagãos; mas também a adoração de coisas materiais, como foi descrito no capítulo 2 por Isaías.[65] O materialismo tornar-se-ia a crença prevalente nos últimos dias antes da Segunda Vinda do Senhor; aqueles cuja crença está centralizada na idolatria materialista ficariam muito envergonhados.

O versículo 18 proclama a restauração nos últimos dias: “Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver”. Aqueles que estão cegos e surdos espiritualmente, tendo sido enganados por doutrinas falsas e corruptas durante a apostasia, teriam a oportunidade de ouvir e ver.

O versículo 19 explica como esses cegos deverão ver e os surdos ouvirão: “Quem é cego, senão o meu servo, ou surdo como o meu mensageiro, a quem envio? E quem é cego como o que é perfeito, e cego como o servo do Senhor?” Estas palavras ficaram confusas devido as “coisas claras e preciosas” terem sido tiradas da Bíblia.[66] Joseph Smith, que leu a Bíblia usando o Urim e Tumim—os mesmos instrumentos preparados divinamente os quais ele usou para traduzir O Livro de Mórmon do egípcio reformado—discerniu o significado intencionado, registrado na tradução de Joseph Smith:[67]

“Porque enviarei meu servo a vós, que sois cegos; sim, um mensageiro para abrir os olhos dos cegos e destampar os ouvidos dos surdos;
“E serão tornados perfeitos, a despeito de sua cegueira, se derem ouvidos ao mensageiro, o servo do Senhor.”[68]

Como estabelecido no versículo 1 acima, “servo” refere-se ao Senhor Jesus Cristo. Apresentado primeiro por Deus, o Pai, o Senhor falou ao jovem profeta, Joseph Smith, que começou a grande obra da restauração nos últimos dias.[69]

O versículo 20 descreve a cegueira e surdez espiritual de Israel: “Tu vês muitas coisas, mas não as guardas; ainda que tenhas os ouvidos abertos, nada ouves”. TJS apresenta, com as diferenças mostradas em itálico: “Vós sois um povo que vê muitas coisas, mas não as guarda; que abre os ouvidos para ouvir, mas não ouve”.[70] Israel foi deixada cega e surda para as coisas espirituais devido a sua apostasia. Como um símbolo, esta declaração também descreve a apostasia da era Cristã que caracterizou o período que levou à restauração nos últimos dias. Isaías foi avisado sobre estes períodos de apostasia, escrevendo seu livro de profecia em códigos para que fosse simples para o leitor com o espirito de profecia, mas incompreensível àqueles que não são dignos deste grande dom espiritual. O Senhor instruiu Isaías: “Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis”.[71]

O versículo 18 e TJS 19, 20 e 21 formam um quiasma:

A: (18) Surdos, ouvi,
B: e vós, cegos, olhai, para que possais ver.
C: (TJS 19) Porque enviarei meu servo
D: a vós, que sois cegos;
E: sim, um mensageiro para abrir os olhos dos cegos
E: e destampar os ouvidos dos surdos;
D: (TJS 20) E serão tornados perfeitos, a despeito de sua cegueira,
C: se derem ouvidos ao mensageiro, o servo do Senhor.
B: (TJS 21) Vós sois um povo que vê muitas coisas, mas não as guarda;
A: que abre os ouvidos para ouvir, mas não ouve.

O enfoque deste quiasma é “sim, um mensageiro para abrir os olhos dos cegos”, que combina com “e destampar os ouvidos dos surdos”, conforme foi revelado na Tradução de Joseph Smith desta passagem. “Surdos, ouvi” contrasta-se com “que abre os ouvidos para ouvir, mas não ouve”; “vós, cegos, olhai, para que possais ver” contrasta-se com “vós sois um povo que vê muitas coisas”; e “meu servo” corresponde com “o servo do Senhor”, identificando que Deus, o Pai, está falando. Surdez e cegueira, como foi usado aqui, referem-se às deficiências espirituais, ao invés de físicas. Este quiasma funciona se as palavras da Tradução de Joseph Smith, mostradas em itálico, forem usadas.

O versículo 21 declara: “O Senhor se agradava dele por amor da sua justiça; engrandeceu-o pela lei, e o fez glorioso”. A tradução de Joseph Smith apresenta este versículo como uma condenação à apostasia, com as diferenças mostradas em itálico: “O Senhor não se agrada desse povo, mas por amor de sua retidão engrandecerá a lei e honrá-la-á”.[72] A Lei de Moisés foi desonrada devido a apostasia de Israel. Apesar disto, o Senhor a faria honrável novamente durante Seu ministério terreno ao cumprir a Lei de Moisés. No Sermão da Montanha, Jesus proclamou:

“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.
“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.”[73]

O versículo 22 descreve os resultados da apostasia de Israel: “Mas este é um povo roubado e saqueado; todos estão enlaçados em cavernas, e escondidos em cárceres; são postos por presa, e ninguém há que os livre; por despojo, e ninguém diz: Restitui”. A Tradução de Joseph Smith (TJS) expande, com as diferenças ressaltadas em itálico: “Tu és um povo roubado e saqueado; teus inimigos, todos eles, enlaçaram-te em cavernas e esconderam-te em cárceres; tiraram-te por presa e ninguém há que livre; por despojo, e ninguém diz: Restitui”.[74]

O versículo 23 descreve as condições sob as quais a restauração viria: “Quem há entre vós que ouça isto, que atenda e ouça o que há de ser depois?” A Tradução de Joseph Smith apresenta: “Quem há entre eles que ouça ”.[75] Ao dar ouvidos às palavras do Senhor e às profecias acerca do futuro, o povo estará preparado para as bênçãos da restauração.

O versículo 24 delineia a causa do sofrimento de Israel: “Quem entregou a Jacó por despojo, e a Israel aos roubadores? Porventura não foi o Senhor, aquele contra quem pecamos, e nos caminhos do qual não queriam andar, não dando ouvidos à sua lei?”. Isaías faz uma pergunta retórica, e depois responde com outra. Finalmente, ele declara que foi a falta de não querer receber as ordenanças de salvação e de obedecer às leis do Senhor que causou o reino de Israel a ser levado em cativeiro.[76]

O versículo 25 explica mais: “Por isso derramou sobre eles a indignação da sua ira, e a força da guerra, e lhes pôs labaredas em redor; porém nisso não atentaram; e os queimou, mas não puseram nisso o coração”. TJS apresenta: “… porém eles nisso não atentaram …”.[77] Esta profecia se refere à queimação que acontecerá na Segunda Vinda.[78] Israel tem recebido a ira do Senhor, manifestada em forma de batalhas assoladoras e fogos devastadores. Apesar destas exortações Jacó não compreende, ou não aceita de coração, a razão principal para os castigos do Senhor.

Os versículos 22 e 23 da TJS e os versículos 23 até 25 da tradução de João Ferreira de Almeida formam um quiasma:

A: (TJS 22) O Senhor não se agrada desse povo, mas por amor de sua retidão
B: engrandecerá a lei e honrá-la-á.
C: (TJS 23) Tu és um povo roubado
D: e saqueado; teus inimigos, todos eles, enlaçaram-te em cavernas e escondreram-te em cárceres; tiraram-te por presa e ninguém há que livre; por despojo, e ninguém diz: Restitui.
E: (23) Quem há entre eles que ouça isto,
E: que atenda e ouça o que há de ser depois?
D: (24) Quem entregou a Jacó por despojo,
C: e a Israel aos roubadores?
B: Porventura não foi o Senhor, aquele contra quem pecamos, e nos caminhos do qual não queriam andar, não dando ouvidos à sua lei?
A: (25) Por isso derramou sobre eles a indignação da sua ira, e a força da guerra, e lhes pôs labaredas em redor; porém eles nisso não atentaram; e os queimou, mas não puseram nisso o coração.

Os elementos deste quiasma são também evidentes na versão de João Ferreira de Almeida, mas os significados estão menos claros. A frase “Quem há entre eles que ouça isto” e sua reflexão “que atenda e ouça o que há de ser depois?” descrevem as condições sob as quais a coligação de Israel começará a se cumprir. O lado ascendente do quiasma descreve o efeito da falta de “ouvir” e “atender e ouvir” da casa de Israel, enquanto que a causa para suas tribulações é delineada no lado descendente.

NOTAS

[1]. Ver Mosias 16:6-8.
[2]. Ver D&C 110:13-16.
[3]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 349-356.
[4]. Ver Mateus 12:18-20.
[5]. Ludlow, 1982, p. 358-360. Os quatro Salmos de servos se encontram em Isaías 42:1-4, 49:1-6; 50:4-9 e 52:13 até 53:12.
[6]. Ver João 6:38.
[7]. Ver Isaías 49:5; Amós 3:7; Apocalipse 10:7.
[8]. Ludlow, 1982, p. 358-360.
[9]. Ver Isaías 41:8-10 e comentário pertinente.
[10]. Ver Doutrina e Convênios 1:17, 29; 19:13; 28:2; 35:17-18.
[11]. Ver D&C 1:6; 42:63; 44:1; 68:5-6; 133:30, 32.
[12]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1471, p. 156.
[13]. Mateus 12:18.
[14]. Marcos 1:9-11. Ver também Mateus 3:17; Lucas 3:21-22.
[15]. Mateus 17:1-5.
[16]. 3 Néfi 11:7.
[17]. Joseph Smith—História 1:17.
[18]. Ver Isaías 5:7; 28:6; 59:8, 15.
[19]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 32:1; 33:5; 41:1; 49:4; 53:8.
[20]. Ver Isaías 1:17; 3:14; 4:4; 34:5.
[21]. Ver Isaías 1:17; 28:7; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[22]. Ver Isaías 51:4; 54:17.
[23]. Mateus 12:19.
[24]. Mateus 12:20.
[25]. Ver Mateus 12:17; Ver também Isaías 6:10, comentário pertinente e endnote.
[26]. Ver Isaías 1:17; 28:7; 40:14, 27; 59:8.
[27]. Mateus 12:14-21.
[28]. O versículo 4 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Ponha/terra/justiça//sua lei/ilhas/aguardarão. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 262.
[29]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 24:15; 42:10-12; 49:1; 51:5; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[30]. Ver Isaías 40:28; 41:20; 44:24; 45:12; Moisés 1:33; 4:2.
[31]. Ver Regras de Fé 5; Hebreus 5:4.
[32]. D&C 45:9.
[33]. Ver Mateus 10:6; 15:24.
[34]. Ver Atos 10:9-48.
[35]. Ver Romanos 11:25.
[36]. Ver 1 Néfi 13:42. Ver também Mateus 19:30; 20:16; Marcos 10:31; Jacó 5:63; Éter 13:12; D&C 29:30.
[37]. Ver Mateus 11:4-6; Salmos 146:8.
[38]. 1 Pedro 2:9.
[39]. D&C 128:22. Ver também Isaías 24:22; 49:9; 61:1; Hebreus 11:40; 1 Pedro 3:18-20; D&C 76:73-74; 138:11-34.
[40]. D&C 45:17.
[41]. O versículo 8 contém um quiasma: Eu sou o Senhor/minha glória/não darei//nem/meu louvor/imagens de escultura.
[42]. Êxodo 20:2-4.
[43]. Ver Apocalipse 21:6; 22:13; Isaías 46:10; Hebreus 7:3; Alma 11:39; 13:7-8; 3 Néfi 9:18; D&C 19:1; 29:33; 35:1, 38:1; 45:7; 49:12; 54:1; 61:1; 78:16; 84:17, 120; 95:7; Moisés 1:3; 2:1; 6:7, 67; Abraão 2:8.
[44]. 2 Coríntios 5:17.
[45]. 3 Néfi 12:46.
[46]. Ver Isaías 40:28; 41:5, 9; 43:6.
[47]. Ver 1 Néfi capítulos 17 e 18. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 24:15; 42:4; 49:1; 51:5; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[48]. Ver Isaías 29:11-14.
[49]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[50]. Ver Isaías 2:2 e comentário pertinente. Ver também McConkie, Joseph Fielding, Gospel Symbolism (Simbolismo do Evangelho): Bookcraft, Inc. Salt Lake City, UT, pp. 129-130, e “The Mountain of the Lord” (O Monte do Senhor) (videotape), The Church of Jesus Christ of Latter-Day Saints (A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), 1993.
[51]. Ver 3 Néfi 15:15-24 e 3 Néfi 16:1-3.
[52]. Ver Gênesis 25:13.
[53]. O versículo 12 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Deem a glória/ao Senhor//seu louvor/anunciem. Parry, 2001, p. 262.
[54]. Ver Isaías 11:11; 24:15; 42:4, 10-12; 49:1; 51:5; 60:9 e comentário pertinente. Ver também 1 Néfi 19:10, 12, 16; 22:4; 2 Néfi 10:21; 29:7, 11; D&C 1:1.
[55]. Brown, et al., 1996, Número de Strong 7068, p. 888.
[56]. Isaías 31:4.
[57]. Os versículos 13 até 15 contêm um quiasma: O Senhor sairá como poderoso/despertará o zelo/clamará, e fará grande ruído/por muito tempo/me calei//estive em silêncio/mas agora/darei gritos/assolarei e juntamente devorarei/tornarei em deserto.
[58]. O versículo 15 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Tornarei em deserto/montes e outeiros// erva/farei secar. Parry, 2001, p. 262.
[59]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[60]. Ver Isaías 8:7; 18:1, 7; 43:12 e comentário pertinente.
[61]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 40:3; 43:16, 19 e comentário pertinente.
[62]. Ver Isaías 9:2; 2 Néfi 3:5; D&C 95:6.
[63]. Ver Isaías 40:4 e comentário pertinente.
[64]. Ver Isaías 40:4 e comentário pertinente.
[65]. Ver Isaías 2:7-8 e comentário pertinente.
[66]. Ver 1 Néfi 13:28.
[67]. Gordon B. Hinckley, Our Heritage (Nossa Herança): a brief history of The Church of Jesus Christ of Latter-Day Saints ( uma breve história dA Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias): Published by The Church of Jesus Christ of Latter-Day Saints (Publicado por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), Salt Lake City, Utah, 1996, p. 24. Ver TJS Isaías 42:19-23.
[68]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 207.
[69]. Ver Joseph Smith—História 1:17-20.
[70]. TJS, 1970, p. 207.
[71]. Isaías 6:9-10.
[72]. TJS, 1970, p. 207.
[73]. Mateus 5:17-18.
[74]. TJS, 1970, p. 208.
[75]. TJS, 1970, p. 208.
[76]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 43:6; 49:12; 54:7.
[77]. TJS, 1970, p. 208.
[78]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.

CAPÍTULO 8: “Porquanto Este Povo Desprezou As Águas De Siloé”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 8 começa com uma profecia da destruição que logo viria pelas mãos dos assírios, abrangendo os versículos 1 até 10. Esta profecia continua a mensagem de Isaías para Acaz, que começou no capítulo 7. A profecia é seguida por um sermão sacerdotal, abrangendo os versículos 11 até 18, onde Isaías declara que Cristo servirá de pedra de tropeço, e de rocha de escândalo, às duas casas de Israel, devido suas iniquidades. A parte final, que abrange os versículos 19 até 22, é uma condenação das iniquidades de Israel, por confiarem em médios e adivinhos para orientação espiritual, e as consequências por haverem feito isto.

Néfi citou este capítulo por completo com algumas modificações; diferenças na redação são mostradas em itálicos onde for citado. Compare 2 Néfi 18.

Isaías e seus filhos foram dados a Israel por sinais e por maravilhas do Senhor, como foi declarado no versículo 18.[1] Um exemplo foi dado no versículo 1, no qual o Senhor instrui Isaías: “Disse-me também o SENHOR: Toma um grande rolo, e escreve nele com caneta de homem: Apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa”. A frase “Apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa” é a tradução do nome hebraico do filho de Isaías, Maer-Salal-Has-Baz.

No versículo 2, Isaías declara: “Então tomei comigo fiéis testemunhas, a Urias sacerdote, e a Zacarias, filho de Jeberequias”. Na Lei de Moisés era requerido duas ou três testemunhas para se estabelecer qualquer assunto.[2]

O versículo 3 declara: “E fui ter com a profetisa, e ela concebeu, e deu à luz um filho; e o Senhor me disse: Põe-lhe o nome de Maer-Salal-Has-Baz”. O termo “a profetisa”, como foi usado neste versículo por Isaías refere-se à sua esposa, provavelmente refletindo sua sensibilidade espiritual.  O longo nome dado a seu filho, que em hebraico significa “apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa”,[3] como foi apresentado no versículo 1, é uma predição da destruição e cativeiro de Judá.[4]

As circunstancias da concepção e nascimento do filho mais velho de Isaías foram designadas pelo Senhor e realizadas expressamente por Isaías; o nome deste filho seria um sinal de um acontecimento futuro.

No versículo 4 encontramos o significado de “sinais e maravilhas”[5]: “Porque antes que o menino saiba dizer meu pai, ou minha mãe, se levarão as riquezas de Damasco, e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria”. O Livro de Mórmon apresenta esta passagem com pequenas mudanças: “Pois eis que antes que o menino saiba dizer meu pai e minha mãe, serão levadas as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria ao rei da Assíria”.[6] Isto testifica do pouco tempo antes destes acontecimentos começarem, Síria e Israel seriam derrotados e suas riquezas levadas para o rei da Assíria.[7], [8]

No versículos 5 e 6, Isaías declara: “E continuou o Senhor a falar ainda comigo, dizendo:
Porquanto este povo desprezou as águas de Siloé que correm brandamente, e alegrou-se com Rezim e com o filho de Remalias” ― Aqui o Senhor menciona as razões da destruição prestes a acontecer.

“Siloé”, traduzido da palavra hebraica Shiloach, significa “o Enviado”.[9] Como apresentado por algumas traduções Bíblicas, este é o nome dado a um manancial ao sudoeste de Jerusalém, que provia água potável para esta cidade antiga.[10], [11]  O termo “As águas de Siloé” metaforicamente, significa o evangelho de Jesus Cristo; porém antes de Seu ministério mortal, significava a Lei de Moisés. Nesta metáfora a fonte de água potável para a cidade de Jerusalém é comparada à fonte divina da água viva—o Salvador, que provê a salvação eterna.[12]

“Siloé” no versículo 6 é equivalente, quiasmaticamente, ao “Senhor” no versículo 7, revelando o significado intencionado por Isaías. A frase “As águas de Siloé que correm brandamente” significa que o evangelho é mais fácil de ser praticado do que suportar a opção oposta—caos, iniquidades, dissensão e destruição pelas mãos do exército Assírio. Compare as palavras do Redentor: “Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.[13] Em contraste, “Rezim e…o filho de Remalias” representam os líderes iníquos da Síria e do Reino Setentrional de Israel, junto com suas típicas características mundanas.

“Siló”, traduzido da palavra hebraica Shiyloh em alguns casos[14], significa “aquele a quem pertence”[15], e é pronunciado semelhante a palavra hebraica Shiloach. Assim, a palavra “Siloé”, usada no versículo 6, descreve o papel do Senhor como o Criador e dono supremo da Terra e seus recursos, para quem prestamos conta de nossa mordomia. No fim da longa vida do patriarca Jacó, ele abençoou a cada um de seus doze filhos; sobre os descendentes de Judá ele conferiu o direito a realeza: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló (significando “aquele a quem pertence”) e a ele se congregarão os povos”.[16] Davi e seus descendentes, inclusive Jesus Cristo, eram descendentes de Judá e tinham parte nesta bênção.

“Siló” é usado pelo profeta Joseph Smith em sua tradução inspirada de uma parte de Gênesis:

“E disse José a seus irmãos: Eu morro e vou para meus pais; e desço à sepultura com alegria. O Deus de meu pai Jacó esteja convosco, para livrar-vos da aflição nos dias de vosso cativeiro; pois o Senhor visitou-me e obtive do Senhor uma promessa de que, do fruto dos meus lombos, o Senhor suscitará um ramo justo de meus lombos; e a ti, a quem meu pai Jacó chamou Israel, um profeta; (não o Messias que é chamado Siló;) e esse profeta libertará meu povo do Egito nos dias da tua escravidão.”[17]

Obviamente, “Siloé” ou “Siló” significa Jesus Cristo, o Messias que viria—o Criador, e portanto o Dono, da Terra e seus recursos. Como foi usado aqui por Isaías, também refere-se ao que deu a lei: Aquele cujo dedo escreveu sobre as placas de pedra no Monte Sinai. Esta verdade essencial deve ser evidente a todos os leitores das escrituras. Jeová—apresentado como “o Senhor” na verão da Bíblia de João Ferreira de Almeida, no Velho Testamento—e Jesus Cristo são o mesmo.

O nome Siló, pronunciado semelhante a “Siloé”, foi dado a um local da herança dos descendentes de Efraim, um dos filhos de José.[18] Quando as Doze Tribos, liderada por Josué, entraram na terra de Canaã, o Tabernáculo—incluindo a arca do Convênio—foi primeiramente colocado em Siló.[19] Quando Israel, consistindo das dez tribos do norte ou setentrional, separaram-se de Judá, que se consistia das duas tribos do sul ou meridional, Siló tornou-se um centro religioso equivalente a Jerusalém, incluindo a edificação e estabelecimento de um templo. A Arca do Convênio ficou lá por muitos anos.[20] Depois da conquista e cativeiro das dez tribos, Siló tornou-se parte de Samaria.

Nos versículos 7 e 8 Isaías descreve os exércitos invasores Assírios metaforicamente, como se fossem uma enchente inundando a terra. O versículo 7 começa: “Portanto eis que o Senhor fará subir sobre eles as águas do rio, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; e subirá sobre todos os seus leitos, e transbordará por todas as suas ribanceiras”.  A palavra “glória”, como foi usada neste caso, significa forças armadas.[21] Nesta declaração Isaías dá a interpretação da metáfora, que foi aplicada em vários outros lugares em sua obra. A frase “as águas do Rio” significa o rio Eufrates, o que é um símbolo para rei da Assíria.[22] O uso de “o Senhor” neste caso, enfatiza Seu papel como comandante militar, usando o rei da Assíria como representante. O Grande Pergaminho de Isaías usa neste caso “Jeová e “o Senhor”.[23]

Os versículos 4 até 7 contêm um quiasma:

A: (4) Porque antes que o menino saiba dizer meu pai, ou minha mãe, se levarão as riquezas de Damasco, e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria.
B: (5) E continuou o Senhor a falar ainda comigo, dizendo: (6) Porquanto este povo desprezou as águas
C: de Siloé que correm brandamente,
D: e alegrou-se com Rezim
D: e com o filho de Remalias,
C: (7) Portanto eis que Jeová o Senhor fará subir sobre eles
B: as águas do Rio, fortes e impetuosas,
A: isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; e subirá sobre todos os seus leitos, e transbordará por todas as suas ribanceiras.

“Rei da Assíria” no versículos 4 e 7 engloba o elemento introdutório e suas reflexões. “Águas [de Siloé]” é o oposto de “as águas do Rio”, contrastando a paz e segurança da obediência ao evangelho com a destruição pelo exército invasor da Assíria—caracterizado metaforicamente como uma enchente furiosa. “Siloé” é equivalente ao “Senhor”, identificando claramente o comandante militar. Alegrar-se com Rezim e com o filho de Remalias, ao invés de com o Senhor, é a razão desta destruição predita.

Versículo 8 continua: “E passará a Judá, inundando-o, e irá passando por ele e chegará até ao pescoço; e a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra, ó Emanuel”. “Tua terra, ó Emanuel” refere-se à terra prometida pelo Senhor—o Salvador que viria—ao Seu povo.

Versículos 7 e 8 contêm um quiasma:

A: (7) Portanto eis que Jeová o Senhor fará subir sobre eles
B: as águas do Rio, fortes e impetuosas,
C: isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória;
D: e subirá sobre todos os seus leitos,
D: e transbordará por todas as suas ribanceiras.
C: (8) E passará a Judá, inundando-o, e irá passando por ele e chegará até o pescoço;
B: e a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra,
A: ó Emanuel.

Jeová o Senhor” é quiasmaticamente equivalente a “Emanuel”, que significa “Deus conosco”, novamente identificando Jeová como o Senhor—o comandante militar representado aqui pela Assíria—como o Messias que viria. As duas metáforas “as águas do Rio” e “asas” descrevem o avanço dos exércitos da Assíria e como se espalhariam sobre a terra. “Assíria” contrasta-se com “Judá”, denotando sua relação conflituosa. “Subirá sobre todos os seus leitos” é equivalente a “transbordará por todas as suas ribanceiras”, que, como ponto central do quiasma, descreve metaforicamente as invasões do exército Assírio.

Os versículos 9 e 10 contêm ameaças e advertências, que foram profeticamente preditas por Isaías, que seriam feitas pelo rei da Assíria. O versículo 9 começa: “Ajuntai-vos, ó povos, e sereis quebrantados; dai ouvidos, todos os que sois de terras longínquas; cingi-vos e sereis feitos em pedaços, cingi-vos e sereis feitos em pedaços”. O significado desta passagem é que não seria de nenhum proveito para Jerusalém ser coligada, nem para os seus defensores serem cingidos com armaduras e armas, pois seriam todos feitos em pedaços. A repetição dupla destas frases finais enfatiza a seriedade da ameaça.

O rei da Assíria continua no versículo 10: “Tomai juntamente conselho, e ele será frustrado; dizei uma palavra, e ela não subsistirá, porque Deus é conosco”. Por causa da iniquidade dos Israelitas, Deus traria seu grande exército sobre eles para destruí-los e levá-los cativos. Não daria em nada o fato de juntarem-se em conselho. A frase pronunciada pelo rei da Assíria, “Deus é conosco”, se tornou realidade; o rei da Assíria agiria como instrumento na mão de Deus.

Versículos 8 até 10 contêm um quiasma:

A: (8) …ó Emanuel.
B: (9) Ajuntai-vos, ó povos, e sereis quebrantados; dai ouvidos, todos os que sois de terras longínquas;
C: cingi-vos e sereis feitos em pedaços,
C: cingi-vos e sereis feitos em pedaços.
B: (10) Tomai juntamente conselho, e ele será frustrado; dizei uma palavra, e ela não subsistirá,
A: porque Deus é conosco.

“Emanuel” é equivalente quiasmaticamente a “Deus é conosco”, mostrando a definição hebraica deste nome.[24] “Ajuntai-vos, ó povos” é equivalente a “tomai juntamente conselho”, provendo o sentido intencionado. Duas repetições da frase “cingi-vos e sereis feitos em pedaços” enfatizam a seriedade das ameaças do rei da Assíria.

Note que o quiasma dos versículos 7 e 8 se transpassa com quiasma dos versículos 8 até 10, com as declarações introdutórias de ambos quiasmas sendo equivalentes. “Jeová, o Senhor”, “Emanuel” e “Deus é conosco” são todos equivalentes, denotando que o Deus do Velho Testamento é o mesmo que nasceu de uma virgem.[25] Ele é um ser diferente e distinto de Deus, o Pai, que se chama Eloím em hebraico, cujas palavras foram registradas por Isaías mais tarde, na primeira parte do capítulo 42.[26]

Os versículos 11 até 18 contêm um sermão sacerdotal. O versículo 11 começa: “Porque assim o Senhor me disse com mão forte, e me ensinou que não andasse pelo caminho deste povo, dizendo” — “Com mão forte” significa Seu forte aperto de mão, ou com poder.[27] Esta declaração descreve um relacionamento pessoal entre o Senhor e Seu profeta. O “caminho deste povo” geralmente significa o conhecimento do Plano de Salvação, porém entre o povo que Isaías pregava, este termo foi grandemente corrompido.[28]

O versículo 12 continua a sentença do versículo 11: “Não chameis conjuração, a tudo quanto este povo chama conjuração; e não temais o que ele teme, nem tampouco vos assombreis”. O sentido intencionado por Isaías é “não concorde com aqueles que querem formar uma aliança para a defesa, e livra-se de seus medos sem fé”.

No versículo 13, Isaías declara que o povo deve mudar seus caminhos: “Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro”, o profeta admoestou.

Os versículos 12 e 13 foram parafraseados pelo apóstolo Pedro:

Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis;
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós (ênfases adicionadas).[29]

O povo de Judá, entretanto, não ouviu os conselhos de Isaías. Somos informados em 2 Reis que Acaz, rei de Judá:

“…enviou mensageiros a Tiglate-Pileser, rei da Assíria, dizendo: Eu sou teu servo e teu filho; sobe, e livra-me das mãos do rei da Síria, e das mãos do rei de Israel, que se levantam contra mim.
“E tomou Acaz a prata e o ouro que se achou na casa do Senhor, e nos tesouros da casa do rei, e mandou um presente ao rei da Assíria.
“E o rei da Assíria lhe deu ouvidos; pois o rei da Assíria subiu contra Damasco, e tomou-a e levou cativo o povo para Quir, e matou a Rezim.”[30]

No versículo 14 o sermão de Isaías continua: “Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém”. Para os justos os mandamentos do Senhor servem como um santuário dos problemas da vida. Os ensinamentos do Senhor abrem o caminho para recebermos orientação espiritual, conforto e segurança nesta vida e na vida eterna no mundo vindeiro.[31] Para os que recusam os Seus mandamentos, Ele servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo.

O versículo 14 foi citado por Pedro e Paulo no Novo Testamento. Paulo diz: “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido”.[32]

O versículo 15 descreve o resultado da obstinação dos iníquos: “E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos”. Tropeçando e caindo são consequências espirituais por não dar atenção à verdade, ou por dar ouvidos às falsas doutrinas, enquanto sendo quebrantados, enlaçados, e levados em cativeiro são consequências temporais, preditas aqui por Isaías.

No versículo 16 diz: “Liga o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos”. Apesar da interpretação desta passagem apresentar alguns desafios, é apresentada da mesma forma no Livro de Mórmon[33] e no Grande Pergaminho de Isaías,[34] indicando que este é o significado do original em hebraico. A palavra hebraica traduzida como “lei” significa “ensinamentos” ou “doutrina”.[35]

O versículo 16 contém duas frases paralelas, “liga o testemunho” e “sela a lei”. Devido serem frases paralelas, “liga” e “sela” são sinônimos, e “testemunho” e “lei” são sinônimos também. Note que estas palavras são combinadas em ordem inversa no versículo 20, no lado descendente do quiasma.

A sinonímia apresenta-se em duas passagens de Doutrina e Convênios onde são intercambiadas. Numa passagem aparece como “ligar a lei e selar o testemunho”,[36] enquanto na outra como “que selem a lei e liguem o testemunho”.[37] O sentido permanece o mesmo em ambas passagens.

A “lei”, refere-se a lei de Moisés, ou a lei do evangelho, depois do ministério de Cristo, com referências especiais às escrituras. No Novo Testamento, a frase “a lei e os profetas” é usada para designar o cânon judaico de escrituras.[38] Então a lei ou o evangelho, como foi registrado nas escrituras, é o que será selado nas mentes e corações dos discípulos.

“Ligar o testemunho” e “selar a lei entre os meus discípulos” tem sido a tarefa principal dos profetas e líderes eclesiásticos durante todas as eras, ordenada pelo Senhor; e pais devem aceitar semelhante responsabilidade concernente a criação de seus filhos. No versículo 16 esta tarefa é dada pelo Senhor a Isaías.

O significado da passagem é aparente na suplicação de Joseph Smith na oração dedicatória do Templo de Kirtland: “Portanto, ó Senhor, livra teu povo da calamidade dos iníquos; permite a teus servos que selem a lei e liguem o testemunho, a fim de que estejam preparados para o dia da queima” (ênfases adicionadas).[39]

O mesmo sentido foi apresentado pelo Apóstolo Paulo: “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo”.[40]

Um significado literal para o versículo 16 pode ser que Isaías levou o pergaminho onde escreveu estas profecias, enrolou-o e amarrou-o com uma corda de couro, e depois selou-o com um selo de argila, como símbolo de que as profecias estavam cumpridas. Isaías, então, deu as profecias para seus discípulos para futuras referências. Quando suas profecias viessem a se cumprir no futuro, isto seria um testemunho de que ele era um verdadeiro profeta.[41]

No versículo 17 Isaías testifica que ele aceitou a incumbência dada pelo Senhor no versículo 16: “E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei”. O Senhor esconde seu rosto da casa de Jacó por causa das iniquidades.

Além disso, no versículo 18, o profeta oferece a si mesmo e seus filhos como instrumentos ao Senhor: “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião”. Um exemplo disto são os nomes que Isaías deu a seus filhos: Maer-Salal-Has-Baz, que significa “apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa”[42] e Sear-Jasube, que significa “um resto voltará”.[43] O nome Isaías significa “Jeová salva”.[44] O “Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião” denota que seria Jeová quem viria habitar na Terra nos últimos dias. “Monte de Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém, especialmente o templo em Jerusalém.[45]

Nos versículos 19 e 20 o Senhor adverte contra a feitiçaria. O versículo 19 declara: “Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?” O Livro de Mórmon apresenta: “para que os vivos ouçam os mortos?”[46] Esta pergunta retórica revela a tolice que é confiar em adivinhos. “Chilreiam” significa fazer sons repetidos sem sentido.

O versículo 20 afirma: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles”. Aqui, “a lei e ao testemunho” referem-se às escrituras escritas e aos convênios contidos nelas, para onde o povo deve retornar.

Nos versículos 21 e 22 Isaías descreve o que sobrecairia aos que não tivessem nenhuma luz dentro de si. O versículo 21 começa: “E passarão pela terra duramente oprimidos e famintos; e será que, tendo fome, e enfurecendo-se, então amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus, olhando para cima”. A palavra “oprimido” significa “que sofre opressão” ou “reprimido”.[47] “Oprimido” implica ser desabrigado.

Os versículos 14 até 21 contêm um quiasma:

A: (14) Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém. (15) E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos.
B: (16) Liga o testemunho,
C: sela a lei entre os meus discípulos.
D: (17) E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei.
E: (18) Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião.
E: (19) Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram:
D: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?
C: (20) À lei
B: e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.
A: (21) E passarão pela terra duramente oprimidos e famintos; e será que, tendo fome, e enfurecendo-se, então amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus, olhando para cima.

“Pedra de tropeço e de rocha de escândalo” é igual a “amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus”, descrevendo como os ímpios tropeçarão. “Testemunho” e “lei” refletem-se em “lei” e “testemunho” em ordem inversa; e “esperarei ao Senhor” contrasta-se com “não consultará um povo a seu Deus?” “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas” é o oposto de “Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram”. A tolice de procurar adivinhos que chilreiam é contrastado com o ato de receber orientação e inspiração do Senhor.

O versículo 22 conclui: “E, olhando para a terra, eis que haverá angústia e escuridão, e sombras de ansiedade, e serão empurrados para as trevas”. Esta descrição do estado dos iníquos é semelhante às descrições usadas em outros lugares por Isaías para descrever as terras onde os eleitos deverão juntar-se nos últimos dias: “E bramarão contra eles naquele dia, como o bramido do mar; então olharão para a terra, e eis que só verão trevas e ânsia, e a luz se escurecerá nos céus”.[48]  Trevas e ânsia, e escuridão espiritual—condições predominantes dos iníquos—caracterizam as terras onde Israel será coligada nos últimos dias.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 8:18.
[2]. Deuteronômio 19:15.
[3]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4122, p. 555; ver Isaías 10:6.
[4]. Versículos 1 até 3 contêm um quiasma: Disse-me/o SENHOR/toma/Urias//Zacarias/E fui/o Senhor/me disse.
[5]. Ver Isaías 8:18.
[6]. 2 Néfi 18:4.
[7]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12; 54:7.
[8]. Versículos 3 e 4 contêm um quiasma: E fui ter com a profetisa/filho/nome//Maer-Salal-Has-Baz/menino/ pai…mãe.
[9]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7975, p. 1019.
[10]. Neemías 3:15; ver a tradução da Biblia Reina-Valera (SUD, 2009) em espanhol, a tradução King James (SUD, 1979) em Inglês, e outras. Na versão de João Ferreira de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, o nome do manancial foi traduzido como Hasselá.
11]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet: [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta] Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 148.
[12]. Compare João 4:10-14.
[13]. Mateus 11:30.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7886, p. 1010.
[15]. Gênesis 49:10; Ver Dicionário Bíblico—Shiloh.
[16]. Gênesis 49:10.
[17]. Seleções da Tradução de Joseph Smith da Bíblia (em Inglês), TJS, Gênesis 50:24; Ver também Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p.114-116.
[18]. Ver Josué 18:1; 1 Samuel 3:21.
[19]. Ver Josué 18:1.
[20]. Ver 1 Samuel 4:4.
[21]. Ver Isaías 10:18; 16:14; 17:3-4; 20:5; 21:16-17; 22:18; 66:12.
[22]. Isaías 17:12-13; 28:2, 17; 43:2.
[23]. Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research and Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University, [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young]:  Provo, Utah, 2001, pages 60 e 270.
[24]. Ver Mateus 1:23.
[25]. Ver Isaías 7:14.
[26]. Ver Isaías 42:1-7 e comentário pertinente.
[27]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías] Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 86.
[28]. Ver Isaías 3:12; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[29]. 1 Pedro 3:14-15.
[30]. 2 Reis 16:7-9.
[31]. Ver D&C 59:23.
[32]. Romanos 9:33; Ver também 1 Pedro 2:8.
[33]. 2 Néfi 18:16.
[34]. Parry,  Harmonizing Isaiah [Harmonizando Isaías]: 2001, p. 62.
[35]. Brown et al., 1996, Número de Strong 8451, p. 435.
[36]. Doutrina e Convênios 88:84.
[37]. D&C 109:46.
[38]. Ver Mateus 7:12; 22:40; Lucas 16:16; 24:44; João 1:45; Atos 13:15; 24:14; 28:23; Romanos 3:21.
[39]. D&C 109:46.
[40]. Hebreus 8:10. Ver também Isaías 51:7, Jeremias 31:33, e Provérbios 3:3.
[41]. David Rolph Seely, “Isaiah Chapter Review [Revisão do Cap]: 2 Néfi 18/Isaías 8”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial para o Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 373.
[42]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4122, p. 555.
[43]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7610, p. 984.
[44]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3470, p. 447.
[45]. Ver Isaías 1:27; 3:16; 4:3-4; 10:12, 24; 12:6; 51:3.
[46]. 2 Néfi 18:19.
[47]. Oprimido em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/oprimido.
[48]. Isaías 5:30.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.