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CAPÍTULO 54: “Não O Impecas; Alonga As Tuas Cordas, E Fixa Bem As Tuas Estacas”

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Este capítulo é uma profecia da coligação e restauração de Israel nos últimos dias. Isaías usa a metáfora de uma mulher desprezada e viúva para representar a posteridade de Israel, ferida e dispersa, mas que será reunida nos últimos dias e receberá grandes bênçãos. O profeta usa outra metáfora—o antigo tabernáculo israelita, o qual era um templo transportável—para representar a Sião dos últimos dias, o meio pelo qual a coligação de Israel será realizada. Os filhos mencionados são a posteridade de Israel que estará reunida em Sião, membros conversos da Igreja.

Este capítulo é o último da grande divisão no Livro de Isaías, que abrange os capítulos 40 até 54, na qual a antiga nação de Israel é descrita em exílio no mundo em geral, interagindo com as pessoas e acontecimentos.[1] Este capítulo, então, representa o final do longo período de exílio e o princípio da fase gloriosa da coligação e restauração.

Os capítulos 48 até 54 são citados por completo ou em parte no Livro de Mórmon[2] e são explicados e expandidos em detalhes. O capítulo 54 é citado por completo pelo Senhor ressuscitado aos Seus discípulos nefitas; a redação no Livro de Mórmon, em 3 Néfi capítulo 22, é quase idêntica à versão de João Ferreira de Almeida. A citação deste capítulo enfatiza a intenção de ser uma instrução para os últimos dias, já que seria propagada por todo o mundo depois da Restauração como parte do Livro de Mórmon. Depois de haver citado este capítulo, Jesus instruiu aos nefitas: “Portanto, dai ouvidos a minhas palavras; escrevei as coisas que vos disse; e conforme o tempo e a vontade do Pai, chegarão aos gentios”.[3] Tantos os gentios quanto os israelitas seriam reunidos a fim de compartilharem das bênçãos de Sião.[4]

Nos versículos 1 até 6 Isaías descreve uma mulher—estéril, desprezada e viúva—como uma metáfora para a posteridade de Israel que foi desprezada, ferida e dispersa devido suas iniquidades. O versículo 1 começa: “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR”. O Senhor ressuscitado no Livro de Mórmon inseriu “E então o que está escrito acontecerá” no começo do versículo 1, que estabelece o período nos últimos dias quando esta profecia será cumprida.[5] Aqui, o profeta prediz a coligação nos últimos dias, a retidão, e o produtividade da Israel penitente e seus prosélitos. Juntamente com os descendentes literais de Israel, os gentios aceitariam o evangelho restaurado e tornar-se-iam dignos das bênçãos de Abraão, sendo acrescentados àqueles que seriam coligados.

Isaías usou a mesma metáfora anteriormente, no capítulo 49:

“E dirás no teu coração: Quem me gerou estes? Pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara; quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?”[6]

O Apóstolo Paulo citou o versículo 1: “Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido”.[7] As palavras de Paulo variam das de Isaías.

O versículo 2 usa outra metáfora importante apresentada anteriormente:[8] “Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas”. Nesta metáfora Isaías compara a Sião predita dos últimos dias com o tabernáculo dos israelitas antigos, o qual era um templo transportável. Estacas e cordas eram usadas para estabilizar a viga central e a própria tenda.

Isaías ensina que Sião—a igreja restaurada nos últimos dias—é o instrumento pelo qual Israel seria reunida e voltaria a ser justa. Uma “estaca”, conforme foi usada aqui, é uma unidade da igreja em uma área geográfica específica, na qual todos os programas, autoridade do sacerdócio, ordenanças e bênçãos do evangelho restaurado, necessários para a exaltação, estão disponíveis aos membros—inclusive as bênçãos do templo. Uma estaca consiste de várias “alas”, que são divisões geográficas locais, na qual os membros reúnem-se em várias congregações. Uma estaca é dirigida por uma presidência, que consiste do presidente e dois conselheiros; eles são auxiliados na administração dos assuntos da estaca por um sumo conselho, consistindo de doze sumo sacerdotes. A liderança da estaca é subordinada às autoridades gerais, que têm autoridade administrativa sobre a igreja no mundo inteiro. As autoridades gerais e as organizações auxiliares tendo autoridade administrativa geral formam a estaca central de Sião, que são, por sua vez, auxiliadas pelas estacas localizadas pelo mundo todo.

A metáfora de Isaías sobre o antigo tabernáculo israelita representando a Sião nos últimos dias foi apresentada no capítulo 33 para afirmar que Sião sobreviveria: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará”.[9]

Os termos “Sião” e “Jerusalém” nesta passagem são sinônimos, ambos referindo-se ao povo justo do Senhor nos últimos dias. Sião nos últimos dias não sendo removida significa que nunca mais haveria uma apostasia geral. “Solenidades” significa repetidas celebrações ou cerimônias durante as quais ordenanças sagradas são realizadas.[10]

Morôni, descrevendo profeticamente a restauração nos últimos dias, parafraseou outra declaração de Isaías:

“E desperta e levanta-te do pó, ó Jerusalém; sim, e veste-te com teus vestidos formosos, ó filha de Sião; e fortalece tuas estacas e alarga tuas fronteiras para sempre, a fim de que já não sejas confundida, para que se cumpram os convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó casa de Israel! (Ênfase adicionada).[11]

O Senhor, ao direcionar a obra da restauração nos últimos dias, através de revelações a Joseph Smith, frequentemente referiu-se à organização e fortalecimento das estacas. Ao ordenar que uma estaca fosse organizada em Kirtland, Ohio, o Senhor declarou:

“Pois consagrei a terra de Kirtland, no meu próprio e devido tempo, para benefício dos santos do Altíssimo e como uma estaca de Sião.
“Pois Sião deve crescer em beleza e em santidade; suas fronteiras devem ser expandidas; suas estacas devem ser fortalecidas; sim, em verdade vos digo: Sião deve erguer-se e vestir suas formosas vestes”.[12]

Note que o Senhor parafraseou a declaração profética de Isaías, confirmando o seu significado.[13]

Merrill J. Bateman descreveu o cumprimento desta profecia nos últimos dias:

“Isaías … (fala) da tenda que representa o evangelho de Cristo. Ele declara que nos últimos dias as cordas da tenda seriam estendidas por toda a Terra e plantar-se-iam estacas em todas as terras. Literalmente, estamos vendo isso cumprir-se nos dias de hoje. Ao considerar essas passagens, fiquei pensando na imensa tarefa de ajudar as Autoridades Gerais a levar o evangelho a toda nação, tribo, língua e povo …. Devido às visões de Isaías e Daniel, imploro-vos, irmãos, que nos auxilieis com vossa fé e com vossas orações. Desejo, de todo o coração, ser um servo desses homens e do Senhor o Salvador, Jesus Cristo”.[14]

O versículo 2 contém dois quiasmas reconhecidos no original em hebraico, que foram organizados aqui para corresponder com a construção hebraica:[15]

A: Amplia
B: o lugar da tua tenda,
B: e as cortinas das tuas habitações
A: estendam-se.

A: Não o impeças; alonga
B: as tuas cordas,
B: e as tuas estacas
A: fixa bem.

“Tenda”, “cortinas”, “cordas” e “estacas” formam o enfoque deste quiasma. As palavras chaves nas declarações introdutórias e suas reflexões são todas verbos de ação: “Amplia”, “estendam-se”, “alonga” e “fixa bem”.

O versículo 3 prediz o crescimento e florescimento da Sião nos últimos dias: “Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. Como será que as cidades dos gentios—aqueles que não quiserem aceitar o evangelho restaurado—ficarão assoladas? Algumas possibilidades podem sem que elas seriam abandonadas antes dos exércitos invasores atacarem[16] ou assoladas por pestilências, radiação ou condições climáticas adversas.[17]

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

A: (1) Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria,
B: tu que não tiveste dores de parto;
C: porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR.
D: (2) Amplia o lugar da tua tenda,
E: e estendam-se as cortinas das tuas habitações;
E: não o impeças; alonga as tuas cordas,
D: e fixa bem as tuas estacas.
C: (3) Porque transbordarás para a direita e para a esquerda;
B: e a tua descendência possuirá os gentios
A: e fará que sejam habitadas as cidades assoladas.

A Israel dos últimos dias expandir-se-ia grandemente, ocupando lugares que antes eram habitados pelos gentios. Estacas serão estabelecidas e fortalecidas entre o povo reunido. “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria” é complementado por “fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. A mulher que antes era estéril, representando Israel, regozija-se porque as cidades assoladas dos gentios deverão ser habitadas por sua descendência. “Tu que não tiveste dores de parto” contrasta-se com “a tua descendência possuirá os gentios”.

No versículo 4 o Senhor consola os coligados de Israel: “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”. O Livro de Mórmon apresenta “… porque te esquecerás da vergonha da tua mocidade e não te lembrarás do opróbrio da tua juventude e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”.[18] “Tua mocidade” representa o período de iniquidade de Israel na Terra Prometida, já a “tua viuvez” representa o período quando Israel estava dispersa entre as nações da Terra, abandonada pelo Senhor.

No versículo 5, o Senhor explica a metáfora: “Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”.

O versículo 6 oferece maior explicação: “Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu Deus”. Para a palavra “desamparada”, o original em hebraico usa “rejeitada” ou “desprezada”.[19] O Senhor chama a nova Israel nos últimos dias para ser o Seu povo, apesar da rejeição anterior devido as iniquidades.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada;
B: antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade,
C: e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.
D: (5) Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome;
E: e o Santo de Israel
E: é o teu Redentor;
D: que é chamado o Deus de toda a terra.
C: (6) Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito;
B: como a mulher da mocidade,
A: que fora desprezada, diz o teu Deus.

Neste quiasma a metáfora de uma mulher desprezada é usada para explicar o amor e cuidado do Senhor para com Israel, apesar de sua iniquidade anterior. “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada” contrasta-se com “que fora desprezada, diz o teu Deus”. Mesmo que Israel tenha sido desprezada devido suas transgressões, nos últimos dias ela não será envergonhada.

O versículo 7 resume: “Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei”. Aqui, o Senhor prediz a coligação de Israel das terras para onde foi dispersa por tanto tempo.[20] O “breve momento”, o qual de acordo com o modo de calcular dos homens é mil anos, durante o qual Israel há sido desprezada, pode refletir o ponto de vista do Senhor de que qualquer iniquidade que foi cometida no passado é de pouca consequência depois do completo arrependimento.[21]

O Senhor oferece semelhante consolação ao Profeta Joseph Smith durante seu encarceramento na Cadeia de Liberty, Missouri:

“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento;
“E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos” (ênfases adicionadas).[22]

A prometida exaltação de Joseph Smith é típica da que será dada à Israel penitente nos últimos dias.

O Senhor continua Seu consolo à moderna Israel no versículo 8: “Com um pouco de ira escondi a minha face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor”. O Senhor explicou a Ezequiel a razão pela qual Ele escondeu Sua face de Israel: “Conforme a sua imundícia e conforme as suas transgressões me houve com eles, e escondi deles a minha face”.[23]

No versículo 9 o Senhor declara: “Porque isto será para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não passariam mais sobre a terra; assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei”.[24] O Livro de Mórmon omite a última frase, “nem te repreenderei”.[25] O Senhor compara Seu convênio com Noé—que não haveria mais dilúvios que cobririam toda a Terra[26]—com o convênio que fez com os penitentes de Israel, de que não se irará mais contra a casa de Israel.

O versículo 10 declara: “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti”. As promessas do Senhor são mais duradouras e imutáveis do que os montes e os outeiros. Além de representarem características topográficas, “montes” e “outeiros” também significam nações, grandes e pequenas.[27] Os convênios do Senhor com Israel—feitos com seu pai, Abraão, e seus herdeiros[28]—ainda estão em efeito, mesmo que as grandes e pequenas nações possam surgir e cair.

O versículo 11 descreve mais sobre o convênio do Senhor com Israel: “Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada, eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras”. Estas pedras preciosas são símbolos da fundação das verdades eternas que são inestimáveis. Safiras são pedras preciosas azuis compostas de coríndon, ou óxido de alumínio. “Safira” vem da palavra hebraica sappir.[29]

Ao citar o versículo 11, Aileen H. Clyde da Presidência Geral da Sociedade de Socorro descreveu o simbolismo destas pedras preciosas:

“Neste mundo atribulado, os alicerces em que confio assentam-se em meus convênios com o Senhor. São realmente como safiras e tesouros inestimáveis. Por meio deles, estou eternamente ligada a meus entes queridos e a Deus. Refiro-me aos princípios e ordenanças restaurados do evangelho de Jesus Cristo, aos quais todo homem e mulher justos podem ter acesso por meio do poder do santo sacerdócio de Deus, que incluem: o batismo, o dom do Espírito Santo, o sacramento e os convênios do templo. São esses os meios que nos foram oferecidos, os quais somos livres para aceitar a fim de garantirmos nossa vida eterna”.[30]

O versículo 12 continua o simbolismo, descrevendo melhor o convênio do Senhor: “E farei os teus vitrais de rubis, e as tuas portas de carbúnculos, e todos os teus termos de pedras aprazíveis”. O Livro de Mórmon apresenta: “E as tuas janelas farei de ágata e as tuas portas, de rubis …”

As janelas do Templo SUD de San Antonio, Texas, foram decoradas com ágatas tiradas do mesmo outeiro do Templo em reconhecimento a esta passagem nas escrituras. Não só o Senhor abençoará à Israel penitente com grande abundância; mas como também colocará verdades preciosas e eternas como sua fundação e adorno. Ágata é uma variedade de calcedônia, uma sílica microcristalina que apresenta camadas de partes claras e escuras; carbúnculo é uma variedade de granada vermelha preciosa. A palavra “aprazíveis” no hebraico é “deleitável”.[31]

O versículo 13 proclama: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”.[32] Observe a causa e consequência: Os filhos sendo ensinados do Senhor resulta na paz abundante que eles terão; reciprocamente, a paz abundante dos filhos vem devido os filhos sendo ensinados do Senhor. Não há outra fonte no mundo onde podemos encontrar a duradoura paz.

Spencer W. Kimball explicou o versículo 13:

“E que grandioso legado para nossos filhos Isaías prometeu: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Certamente todos bons pais gostariam que seus filhos tivessem essa paz, que vem através da vida simples do verdadeiro Santo dos Últimos Dias quando ele faz o melhor no seu lar e em sua família”.[33]

Jesus citou o versículo 13 durante Seu ministério mortal: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”.[34]

Os versículos 11 até 13 contêm um quiasma:

A: (11) Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada,
B: eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras.
C: (12) E farei os teus vitrais de ágata,
C: e as tuas portas de rubis,
B: e todos os teus termos de pedras aprazíveis.
A: (13) E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante.

“Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada” contrasta-se com “e todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Apesar de Israel ter sofrido muito, seus filhos—se forem ensinado sobre o Senhor e Suas doutrinas—desfrutarão da paz abundante. A paz a ser desfrutada pelos filhos dependerá se eles estarão alicerçados nas verdadeiras doutrinas, que foi representadas aqui pelas pedras preciosas ou semipreciosas. A paz deverá ser ensinada e aprendida—não acontecerá espontaneamente.

O versículo 14 promete: “Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão, porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”. Através da retidão, o Senhor promete liberdade da opressão, do medo e do temor.

No versículo 15 o Senhor promete defender Seu povo do convênio contra os opressores: “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. O Livro de Mórmon apresenta: “Eis que certamente se ajuntarão contra ti …”.[35]

Jesus, ao mencionar a parábola do trigo e do joio, descreveu a ordem em que os iníquos e os justos serão reunidos: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”.[36] A reunião de grandes exércitos acontecerá primeiro, seguido pela coligação dos justos em Sião. Mesmo que sua intensão era a de lutar contra o povo do convênio do Senhor, o resultado será a sua destruição, cumprindo, assim, os propósitos do Senhor. Sua destruição seria seguida pela coligação dos justos de Sião, onde encontrarão segurança.

No versículo 16 o Senhor descreve Seu propósito ao levantar exércitos com intenção de destruir os justos: “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também criei o assolador, para destruir”.

O versículo 17 resume, declarando que a segurança é a herança dos que servem ao Senhor: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. O termo “juízo”, como foi usado aqui, significa “litígio”; bem como “um sistema de lei”.[37] O significado é que aqueles que formarem exércitos ou levantarem ações legais contra os justos serão desafiados, derrotados e condenados.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor repete a promessa aos Seus discípulos dos últimos dias:“Em verdade, assim vos diz o Senhor: Arma alguma que se forme contra vós prosperará;
“E se contra vós algum homem erguer a voz, em meu próprio e devido tempo será confundido”.[38]

Nesta inspirada oração dedicatória para o Templo de Kirtland, o Profeta Joseph Smith parafraseia o versículo 17 e outras partes do capítulo 54, confirmando seus significados:

“Rogamos-te, Pai Santo, que estabeleças o povo que adorará e honrosamente terá um nome e uma posição nesta tua casa por todas as gerações e pela eternidade;
“Que arma alguma formada contra eles prospere; que o que cavar uma cova para eles, nela caia ele mesmo;
“Que nenhuma combinação iníqua tenha poder para levantar-se e prevalecer contra teu povo, sobre quem se colocará teu nome nesta casa;
“E se algum povo se erguer contra este povo, que tua ira se acenda contra ele”.[39]

Os versículos 14 até 17 contêm um quiasma:

A: (14) Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão,
B: porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti.
C: (15) Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti.
D: (16) Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra;
D: também criei o assolador, para destruir.
C: (17) Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás;
B: esta é a herança dos servos do Senhor,
A: e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor.

Elementos deste quiasma são complementários; o quiasma pode ser lido em ordem refectiva para ser melhor compreendido: “Com justiça serás estabelecida;”; “a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. “Já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”; “esta é a herança dos servos do Senhor”. “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás”. “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra”; “também criei o assolador, para destruir”. A Israel moderna—depois de coligada e restaurada—será estabelecida, ou fundada, sobre os princípios de retidão do Senhor; liberdade do terror é também parte da herança dos servos do Senhor. Apesar do Senhor levantar exércitos destruidores a fim de levar a cabo Seus propósitos, eles são limitados e controlados pelo Senhor e não terão sucesso contra a Israel justa.
NOTAS

[1]. Os capítulos 2 até 39 descrevem Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; os capítulos 40 até 54 descrevem Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e os capítulos 55 até 66 descrevem o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. 3 Néfi 23:4.
[4]. Victor L. Ludlow, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 3 Néfi 22/Isaías 54”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 397.
[5]. 3 Néfi 22:1.
[6]. Isaías 49:21.
[7]. Gálatas 4:27.
[8]. Ver Isaías 33:20.
[9]. Isaías 33:20.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2282, p. 290.
[11]. Morôni 10:31; compare Isaías 52:1-2.
[12]. Doutrina e Convênios 82:13-14. Ver também D&C 68:26; 94:1; 96:1; 104:48; 109:59; 133:9.
[13]. Isaías 52:1-2.
[14]. Merrill J. Bateman, “Estender as Cordas da Tenda”, A Liahona, Julho de 1994, p. 72.
[15]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[16]. Ver Isaías 7:17-25; 8:7-8.
[17]. Ver D&C 45:31; 5:19; também Daniel 9:27; 11:31; D&C 84:96-97; 88:85.
[18]. 3 Néfi 22:4.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3988, p. 549; Ver também Isaías 54:6, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 6d.
[20]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12.
[21]. Ver Hebreus 8:12; 10:16-17; D&C 58:42.
[22]. D&C 121:7-8.
[23]. Ezequiel 39:24.
[24]. Os versículos 7 até 9 contêm um quiasma: Te deixei/um pouco de ira/mas com benignidade eterna/o Senhor//o teu Redentor/as águas de Noé/assim jurei/não me irarei mais contra ti.
[25]. 3 Néfi 22:9.
[26]. Ver Gênesis 9:13-16.
[27]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[28]. Ver Gênesis 12:1-3; 17:1-2, 21; 21:12.
[29]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 705; Ver também Brown et al., 1996, Número de Strong 5601, p. 705.
[30]. Aileen H. Clyde, “Convênio de Amor”, A Liahona, Julho de 1995, p. 29.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2656, p. 343.
[32]. O versículo 13 contém um quiasma: Todos os teus filhos/ensinados//do Senhor/a paz/teus filhos.
[33]. Spencer W. Kimball, “The Family Influence” [A influência da Família], Ensign, Julho 1973, p. 15.
[34]. Ver João 6:45; também Mateus 26:56.
[35]. 3 Néfi 22:15.
[36]. Mateus 13:30.
[37]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 51:4.
[38]. D&C 71:9-10.
[39]. D&C 109:24-27.

INTRODUÇÃO 3: Recursos Literários Usados Por Isaías

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As palavras de Isaías são poéticas porque são belas. Sua eloquência, sua habilidade de incorporar tantos significados em poucas palavras, e o uso extensivo de recursos literários e estruturais para alcançar os seus propósitos literários revelam uma perícia literária que requereriam muitos anos para desenvolver. Na verdade, o nível de perícia literária de Isaías é inalcançável exceto por poucos que já viveram sobre a Terra.

O que é poesia? Poesia não é simplesmente uma forma literária caracterizada por ritmo e rima, é uma forma artística complexa na qual beleza é um objetivo importante intencionado pelo escritor. Toda arte, seja música, pintura, dança, desenho, escultura, drama, poesia e prosa, tem elementos em comum que consideramos beleza. Estes elementos incluem ritmo, cores, humor, variedade dentro da unidade, padrão, repetição, contraste e movimento ou ação, os quais influenciam emoções humanas. As escrituras de Isaías são poesias e são belas porque elas causam um profundo impacto emocional, dado aos leitores através do uso perito desses elementos.

Surpreendentemente, os ritmos e padrões de Isaías são de ideias, ao invés de sons das palavras ou rimas. Portanto, sua expressão poética geralmente não se perde quando traduzida; a beleza das palavras de Isaías está presente em qualquer língua.

O aspecto espiritual das palavras de Isaías é perfeitamente unido com sua extraordinária expressão artística. O impacto emocional transmitido pela sua perícia artística é amplificado por sua percepção espiritual inabalável e discernimento profético do passado, presente e futuro. O leitor, quando guiado pelo Espírito Santo, compreende coisas espiritualmente como também responde emocionalmente. Assim, a pura luz da revelação é manifesta nas palavras de Isaías de uma forma extraordinária.

As chaves dadas por Bruce R. McConkie para compreender as palavras de Isaías,[1] apresentadas no capítulo anterior, são as mesmas usadas por Néfi no Livro de Mórmon. O resultado é uma interpretação geral, descrevendo claramente os significados das palavras de Isaías, porém não interpretando palavra-por-palavra nem sentença-por-sentença. A oitava chave apresentada por McConkie, “Aprenda a maneira de profetizar usada entre os Judeus no tempo de Isaías”, tem sido um obstáculo para os Santos dos Últimos Dias por gerações.  A falta de conhecimento faz com que os leitores pulem a parte de Isaías do Livro de Mórmon—tão rica em beleza e significados! Néfi explicou suas razões:

“Agora eu, Néfi, digo algo sobre as palavras que escrevi, que foram proferidas pela boca de Isaías. Pois eis que Isaías disse muitas coisas que, para muitos de meu povo, eram de difícil compreensão; porque não conhecem o modo de profetizar dos judeus.
“Porque eu, Néfi, não lhes ensinei muitas coisas sobre os costumes dos judeus; porque suas obras eram obras de trevas e seus feitos eram abominações.”[2]

Não precisamos temer que ao aprender tais métodos seremos levados às mesmas abominações dos Judeus antigos; ao contrário, os Judeus que Néfi se referiu não tinha o espírito de profecia, talvez mais automaticamente, eles se concentravam nos aspectos mecânicos das palavras de Isaías. Néfi já foi ao outro extremo, se concentrando no contexto espiritual e ignorando o mecânico. Podemos evitar esta dificuldade enfrentada pelos Judeus antigos aplicando as dez chaves apresentadas por McConkie, especialmente a nona: “Tenha o espírito de profecia”.

Na época que McConkie escreveu seu livro não havia muita informação ou orientação disponível sobre a maneira de profetizar entre os Judeus. Quinze anos depois, em 1988, um trabalho seminal por Avraham Gileadi apresentou chaves interpretativas muito úteis.[3]

De acordo com Gileadi, a maneira de aprender entre os Judeus não mudou desde o tempo dos profetas. Nas escolas rabínicas de hoje,

“Os Judeus dependem de recursos interpretativos como símbolos e figuras, linguagem alegórica, padrão literário, estruturas básicas, paralelismos, significado duplo, palavras chaves, codinomes, e outros instrumentos mecânicos…. Sua abordagem é completamente mecânica. Em seus enormes livros, um pequeno quadrado no centro de cada página contém o versículo ou passagem que está sendo estudado…. Lembro levando um mês inteiro da minha vida na escola rabínica discutindo só um versículo, explorando-o por todos os ângulos…. Os Judeus, exclusivamente, usam este método.”[4]

Mesmo as análises simples apresentadas neste comentário se diferem grandemente da abordagem dogmática predominante nas religiões de hoje, onde a passagem tem somente uma interpretação que é aceita. Uma abordagem superficial dogmática elimina a possibilidade de vários níveis de interpretações intencionadas, o que é uma característica importante nas escrituras de Isaías.

Gileadi apresenta uma variedade de recursos literários usados por Isaías, alguns dos mais usados estão resumidos aqui.[5]

Formas de Linguagem

Isaías utiliza muitos pequenos padrões literário, chamados por Gileadi[6] de “formas de linguagem”. Incluindo os seguintes:

Litígio.—Uma só passagem que pode incluir vários versículos de escrituras na qual o Senhor acusa Israel como se estivera numa corte. A sentença é geralmente condicional, concedendo um período de tempo para um possível arrependimento.

Discurso por um Mensageiro.—Aqui o profeta funciona como emissário do Senhor. Ele transmite a mensagem do Senhor para o povo ou seu rei, descrevendo como ele foi chamado e enviado pelo Senhor, apresenta uma lista de pecados cometidos pelo povo e anuncia o subsequente castigo.

Oráculo de Pesar.—Uma série de maldições que o Senhor profere sobre Israel por haver quebrado o convênio. Tomando um formato específico, estes sempre incluem citações de específicas transgressões, estabelecendo, assim, causa e consequências.

Lamento Profético.—Lamentando uma calamidade ou uma desgraça, um lamento profético começa com a palavra “Como” e expressa o pesar pelo estado decaído do povo.

Sermão Sacerdotal.—o profeta assume o papel de sacerdote ou mestre explicando doutrinas, instando o arrependimento e exortando o povo a seguir o caminho correto.

Parábolas.—Uma história na qual uma coisa é comparada à outra alegoricamente, para retratar uma sequência de causas e consequências.

Cânticos da Salvação.—Israel, ou seu porta-voz profético, canta louvores ao Senhor reconhecendo Sua intervenção que resultou em seu resgate.

Metáforas

Gileadi[7] mostra que Isaías usa “mar” e “rio” como metáforas para o rei da Assíria e seus exércitos invasores. O rei da Assíria representa poderes do mal e caos em qualquer tempo e lugar da história humana.

Há vários outros termos metafóricos usados por Isaías que, se soubermos que são metáforas, enriquecerão a nossa compreensão. Considere a seguinte passagem em Isaías 30, que contém várias metáforas: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[8]

“Água”, como se usa aqui, é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[9] enquanto que “monte” e “outeiro” são metáforas que significam nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[10]  Esta profecia foi em parte cumprida com a grande matança de milhares de pessoas que morreram em um dia, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio em Nova Iorque caíram sobre ataque terrorista no dia 11 de setembro de 2011. De alguma maneira, este acontecimento terrível dará lugar para que as bênçãos e inspirações dos céus se tornarem disponíveis para muitas nações da Terra.[11]

O próximo versículo descreve, usando uma metáfora diferente, uma abundância de inspiração e revelação de Deus que se tornaria disponível para as nações da Terra naquele dia: “E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias…”.[12] A luz da lua e do sol, ampliada como foi descrita, é uma metáfora muito conhecida que significa inspiração e revelação.

A primeira parte deste versículo é equivalente quiasmaticamente à primeira parte do versículo anterior, de modo que o significado idêntico das duas metáforas seja claro. Além disso, o enfoque da estrutura dos dois versículos é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado é que este traumatizante, catastrófico acontecimento e o subsequente conflito é o ponto culminante para o surgimento das maiores inspirações e bênçãos espirituais que serão derramadas sobre as nações da Terra. Mais a respeito de quiasmas e outras estruturas poéticas serão apresentadas em maiores detalhes no próximo capítulo introdutório.

A frase final do versículo é “…no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida”.[13] Isto significa que a grande orientação e inspiração descritas resultarão numa cura para a aflição do povo e conforto para os que sofreram grande perda.

O Hebraico

Como em outras línguas, é difícil traduzir do Hebraico e transmitir com precisão a mesma coisa. Isto acontece especialmente em casos de palavras com definições duplas. Gileadi[14] cita caso do chamado profético de Isaías, descrito em Isaías 6:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”[15]

Gileadi explica:

“Em Hebraico, a palavra serafim literalmente significa ‘um ser ardente ou abrasador…’.  O uso de ‘ser ardente’ por Isaías para descrever anjos que rodeiam o Senhor, ao invés de usar o termo comum para anjos (‘mensageiros’) enfatizam a natureza da visão de Isaías—aqui os anjos não servem como mensageiros, mas exemplificam um estado de purificação.”

Cada serafim possui seis asas. O termo “asas” em hebraico…também significa “véus”.

Assim traduz Gileadi: “Com duas podiam ocultar sua presença, com duas esconder sua localização, e com as outras duas voarem”.  Então, ao invés de descreverem características físicas, estas descrições são das capacidades ou qualidades dos serafins. Um conhecimento do Hebraico auxilia grandemente na compreensão do significado desta passagem.

Uma fonte valiosa de significados hebraicos se encontra nas notas de rodapé da edição SUD da Bíblia Sagrada em Inglês (1979 versão de King James) e também em Espanhol (2009 versão Reina-Valera), publicadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esses significados nos fornecem mais discernimentos e mostram onde essas traduções modernas diferenciam do original em hebraico. E ainda, os léxicos estão disponíveis para auxiliarem na compreensão mais precisa de palavras específicas baseando-se nos seus significados e contexto hebraicos.[16]

Símbolos

Ao admoestar os nefitas para que buscassem diligentemente as palavras de Isaías, o ressuscitado Senhor Jesus Cristo disse “…grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (ênfases adicionadas).[17]

Como que algo dito por Isaías possa se referir eficazmente ao future e ao presente ao mesmo tempo? Simplesmente falando, Isaías usa eventos antigos como modelos ou símbolos do que acontecerá. Gileadi[18] relata que mais de 30 acontecimentos aparecem no livro de Isaías, os quais estabelecem um precedente antigo e anunciam uma série de acontecimentos para os últimos dias. Isaías não era um historiador; ele nunca mencionou a dispersão das Dez Tribos, o que foi um evento histórico de suma importância que aconteceu em seu tempo, apesar de haver profetizado que este evento iria acontecer. Portanto, referências a acontecimentos históricos não são com propósitos simplesmente históricos. Suas profecias englobam o passado, presente e future, com cumprimento recorrente em diferente dispensação. Assíria e Egito, as superpotências dos tempos de Isaías, são codinomes para superpotências semelhantes nos últimos dias. Nossa dificuldade e desafio são o de reconhecer os atores de hoje no palco de Isaías.

 Significados Múltiplos de Palavras

Algumas das palavras chaves usadas nas escrituras têm diferentes significados. Ao entender qual significado está implícito numa determinada passagem nos levará a entender o significado intencionado pelo autor. Quando múltiplos significados são intencionados, cada um representa uma distinta camada de significado para a passagem.  Por exemplo, a palavra hebraica “Sião” significa, literalmente, “lugar seco”.[19] Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[20] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[21] O monte onde fica o templo em Jerusalém era conhecido também como Monte de Sião,[22] enquanto que Sião, ou filha de Sião, é usado por muitos escritores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[23] Sião também se refere a coligação espiritual nos últimos dias— a restauração da plenitude do evangelho e estabelecimento de um povo que iria respeitar seus princípios.[24] Sião, então, é um grupo dos justos—os puros de coração—vivendo em paz e harmonia, independentemente de onde se encontrem.[25] Em algumas passagens espirituais Sião tem duplo significados—a coligação espiritual dos últimos dias, como também funciona como um sinônimo para a antiga ou Jerusalém dos últimos dias, o lugar para a coligação física.[26] Jerusalém é designada como um lugar de coligação das tribos de Israel retornadas, seja no local original de Jerusalém ou em outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de certas das tribos perdidas seria estabelecida no continente Americano.[28]

Considere esta afirmação de Isaías “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[29] “Sião” neste caso significa o povo ou um lugar que seria estabelecido nos últimos dias para a coligação espiritual do povo do convênio do Senhor.[30] Se “Jerusalém” for considerada a cidade antiga, o significado da passagem é que, tal como a antiga Jerusalém, haveria profetas na Sião moderna de onde a palavra do Senhor sairia. Se, por outro lado “Jerusalém” for considerada a coligação moderna dos descendentes justos de Israel, a passagem significa que haveria dois lugares de onde a palavra inspirada do Senhor emanaria pelo mundo inteiro, tanto de Jerusalém como de Sião.  É possível que Isaías intencionou ambos significados.

Sinônimos para Jesus Cristo

Isaías usa diversos sinônimos para o Senhor Jesus Cristo. Cada um tem seu propósito específico, enfatizando um aspecto específico da missão ou papel do Senhor. A incapacidade de reconhecer os títulos do Senhor pode causar má interpretação do significado das palavras de Isaías. Quarenta e três títulos são estudados neste comentário.[31] Eles são, em ordem alfabética: A Rocha de Israel;[32]  Conselheiro;[33] Criador;[34] Criador de Israel;[35] Criador dos fins da terra;[36] Deus de toda a terra;[37] Deus da tua salvação;[38] Deus da verdade;[39] Deus de Davi;[40] Deus de Israel;[41] Deus de Jacó;[42] Deus Forte;[43] Deus, o Senhor;[44] Emanuel;[45] eterno Deus;[46] Excelso;[47] Maravilhoso;[48] o Alto;[49] o Deus vivo;[50] o eterno Deus;[51] o Forte de Israel;[52] o Forte de Jacó;[53] o primeiro…o último;[54] o Rei;[55] o Rei de Jacó;[56] o Sublime;[57] o teu Redentor;[58] o teu Salvador;[59] Pai da Eternidade;[60] Poderoso de Jacó;[61] Príncipe da Paz;[62] Redentor;[63] Redentor de Israel;[64] Rei de Israel;[65] Rei de Jacó;[66] Salvador;[67] Santo;[68] Santo de Israel;[69] Santo de Jacó;[70] Senhor Deus;[71] Senhor Deus de Israel;[72] Senhor Deus dos Exércitos;[73] Senhor Deus nosso;[74] Senhor dos Exércitos;[75] Senhor teu Deus;[76] seu Santo;[77] Siloé;[78] tronco de Jessé;[79] vosso Rei;[80] vosso Santo.[81]


Notas

[1]. Bruce R. McConkie, Ten keys to Understanding Isaiah [Dez Chavez para Compreender Isaías]: Ensign, Oct. 1973, p. 78.
[2]. 2 Néfi 25:1-2.
[3]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon:[O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon] Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, 250 p.
[4]. Gileadi, 1988, p. 4‑5.
[5]. Gileadi, 1988, p. 1-90.
[6]. Gileadi, 1988, p. 18-20.
[7]. Gileadi, 1988, p. 23.
[8]. Isaías 30:25.
[9]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[10]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:17, 25-26; 34:3 e comentário pertinente.
[11]. Ver Isaías 30:25 e comentário pertinente.
[12]. Isaías 30:26.
[13]. Isaías 30:26.
[14]. Gileadi, 1988, p. 35.
[15]. Isaías 6:1-2.
[16]. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [O Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1185 p.
[17]. 3 Néfi 23:1‑3.
[18]. Gileadi, 1988, p. 69‑70.
[19]. Brown et al., 1996, Strong- Número 6726; p. 851.
[20]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[21]. Ver 1 Reis 8:1.
[22]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; 37:22, 32; Doutrina e Convênios  133:18, 56.
[23]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 1:8; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; 64:10.
[24]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 2:3; 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[25]. Ver D. e C. 97:21.
[26]. Ver Isaías 1:27; 3:16-17; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 33:5, 14, 20; 34: 8; 37:32; 40:9; 41:27; 49:14; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[27]. Ver Isaías 2:3; 4:3; 24:23; 27:13; 30:19; 31:5, 9; 33:20; 40:2, 9; 41:27; 52:1-2, 9; 62:6-7; 65:18-19; 66:10, 13, 20.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Isaías 2:3.
[30]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 4:5; 14:32; 46:13; 51:16; 52:7-8; 59:20.
[31]. Gary W. Hamon, Strathmore, Alberta, Canada; comunicação pessoal, 2003.
[32]. Isaías 30:29.
[33]. Isaías 9:6.
[34]. Isaías 17:7; 40:28; 45:9; 54:5.
[35]. Isaías 43:15.
[36]. Isaías 40:28.
[37]. Isaías 54:5.
[38]. Isaías 17:10.
[39]. Isaías 65:16.
[40]. Isaías 38:5.
[41]. Isaías 17:6; 21:10, 17; 24:15; 29:23; 37:16, 21; 41:17; 45:3, 15; 48:1, 2; 52:12.
[42]. Isaías 2:3.
[43]. Isaías 9:6; 10:21.
[44]. Isaías 40:28; 42:5.
[45]. Isaías 7:14; 8:8.
[46]. Isaías 40:28.
[47]. Isaías 12:4.
[48]. Isaías 9:6.
[49]. Isaías 57:15.
[50]. Isaías 37:4, 17.
[51]. Isaías 40:28.
[52]. Isaías 1:24.
[53]. Isaías 49:26.
[54]. Isaías 44:6; 48:12.
[55]. Isaías 6:5; 33:17, 22.
[56]. Isaías 41:21.
[57]. Isaías 57:15.
[58]. Isaías 41:14; 48:17; 49:26; 54:5, 8; 60:16.
[59]. Isaías 43:3; 49:26; 60:16.
[60]. Isaías 9:6.
[61]. Isaías 60:16.
[62]. Isaías 9:6.
[63]. Isaías 43:14; 44:16, 24; 47:4; 59:20; 63:16.
[64]. Isaías 49:7.
[65]. Isaías 44:6.
[66]. Isaías 41:21.
[67]. Isaías 45:15, 21; 63:8.
[68]. Isaías 5:16; 6:3; 10:17; 40:25; 43:15; 49:7; 57:15.
[69]. Isaías 1:4; 5:19, 24; 10:20; 12:6; 17:7; 29:19; 30:11, 12, 15; 31:1; 37:23; 41:14, 16, 20; 43:3, 14; 45:11; 47:4; 48:17; 49:7; 54:5; 55:5; 60:9, 14.
[70]. Isaías 29:23.
[71]. Isaías 7:7; 12:2; 25:8; 26:4, 13; 28:16; 30:15; 40:10; 48:16; 49:22; 50:4, 5, 7, 9; 52:4; 56:8; 61:1, 11; 65:13, 15.
[72]. Isaías 17:6; 21:17; 24:15; 37:21.
[73]. Isaías 3:15; 10:23, 24; 22:5, 12, 14, 15; 28:22.
[74]. Isaías 26:13.
[75]. Isaías 1:9, 24; 2:12; 3:1; 5:7, 9, 15, 24; 6:3, 5; 8:13, 18; 9:7, 19; 10:16, 26, 33; 13:4, 13; 14:22, 23, 24, 27; 17:3; 18:7; 19:4, 12, 16, 17, 18, 20, 25; 21:10; 22:14, 25; 23:9; 24:23; 25:6; 28:5, 29; 29:6; 31:4, 5; 37:16, 32; 39:5; 44:6; 45:13; 47:4; 48:2; 51:15; 54:5.
[76]. Isaías 7:10; 37:4; 41:13; 43:3; 48:17; 51:15; 55:5; 60:9.
[77]. Isaías 10:17; 49:7.
[78]. Isaías 8:6.
[79]. Isaías 11:1.
[80]. Isaías 43:15.
[81]. Isaías 43:15.