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CAPÍTULO 54: “Não O Impecas; Alonga As Tuas Cordas, E Fixa Bem As Tuas Estacas”

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Este capítulo é uma profecia da coligação e restauração de Israel nos últimos dias. Isaías usa a metáfora de uma mulher desprezada e viúva para representar a posteridade de Israel, ferida e dispersa, mas que será reunida nos últimos dias e receberá grandes bênçãos. O profeta usa outra metáfora—o antigo tabernáculo israelita, o qual era um templo transportável—para representar a Sião dos últimos dias, o meio pelo qual a coligação de Israel será realizada. Os filhos mencionados são a posteridade de Israel que estará reunida em Sião, membros conversos da Igreja.

Este capítulo é o último da grande divisão no Livro de Isaías, que abrange os capítulos 40 até 54, na qual a antiga nação de Israel é descrita em exílio no mundo em geral, interagindo com as pessoas e acontecimentos.[1] Este capítulo, então, representa o final do longo período de exílio e o princípio da fase gloriosa da coligação e restauração.

Os capítulos 48 até 54 são citados por completo ou em parte no Livro de Mórmon[2] e são explicados e expandidos em detalhes. O capítulo 54 é citado por completo pelo Senhor ressuscitado aos Seus discípulos nefitas; a redação no Livro de Mórmon, em 3 Néfi capítulo 22, é quase idêntica à versão de João Ferreira de Almeida. A citação deste capítulo enfatiza a intenção de ser uma instrução para os últimos dias, já que seria propagada por todo o mundo depois da Restauração como parte do Livro de Mórmon. Depois de haver citado este capítulo, Jesus instruiu aos nefitas: “Portanto, dai ouvidos a minhas palavras; escrevei as coisas que vos disse; e conforme o tempo e a vontade do Pai, chegarão aos gentios”.[3] Tantos os gentios quanto os israelitas seriam reunidos a fim de compartilharem das bênçãos de Sião.[4]

Nos versículos 1 até 6 Isaías descreve uma mulher—estéril, desprezada e viúva—como uma metáfora para a posteridade de Israel que foi desprezada, ferida e dispersa devido suas iniquidades. O versículo 1 começa: “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR”. O Senhor ressuscitado no Livro de Mórmon inseriu “E então o que está escrito acontecerá” no começo do versículo 1, que estabelece o período nos últimos dias quando esta profecia será cumprida.[5] Aqui, o profeta prediz a coligação nos últimos dias, a retidão, e o produtividade da Israel penitente e seus prosélitos. Juntamente com os descendentes literais de Israel, os gentios aceitariam o evangelho restaurado e tornar-se-iam dignos das bênçãos de Abraão, sendo acrescentados àqueles que seriam coligados.

Isaías usou a mesma metáfora anteriormente, no capítulo 49:

“E dirás no teu coração: Quem me gerou estes? Pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara; quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?”[6]

O Apóstolo Paulo citou o versículo 1: “Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido”.[7] As palavras de Paulo variam das de Isaías.

O versículo 2 usa outra metáfora importante apresentada anteriormente:[8] “Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas”. Nesta metáfora Isaías compara a Sião predita dos últimos dias com o tabernáculo dos israelitas antigos, o qual era um templo transportável. Estacas e cordas eram usadas para estabilizar a viga central e a própria tenda.

Isaías ensina que Sião—a igreja restaurada nos últimos dias—é o instrumento pelo qual Israel seria reunida e voltaria a ser justa. Uma “estaca”, conforme foi usada aqui, é uma unidade da igreja em uma área geográfica específica, na qual todos os programas, autoridade do sacerdócio, ordenanças e bênçãos do evangelho restaurado, necessários para a exaltação, estão disponíveis aos membros—inclusive as bênçãos do templo. Uma estaca consiste de várias “alas”, que são divisões geográficas locais, na qual os membros reúnem-se em várias congregações. Uma estaca é dirigida por uma presidência, que consiste do presidente e dois conselheiros; eles são auxiliados na administração dos assuntos da estaca por um sumo conselho, consistindo de doze sumo sacerdotes. A liderança da estaca é subordinada às autoridades gerais, que têm autoridade administrativa sobre a igreja no mundo inteiro. As autoridades gerais e as organizações auxiliares tendo autoridade administrativa geral formam a estaca central de Sião, que são, por sua vez, auxiliadas pelas estacas localizadas pelo mundo todo.

A metáfora de Isaías sobre o antigo tabernáculo israelita representando a Sião nos últimos dias foi apresentada no capítulo 33 para afirmar que Sião sobreviveria: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará”.[9]

Os termos “Sião” e “Jerusalém” nesta passagem são sinônimos, ambos referindo-se ao povo justo do Senhor nos últimos dias. Sião nos últimos dias não sendo removida significa que nunca mais haveria uma apostasia geral. “Solenidades” significa repetidas celebrações ou cerimônias durante as quais ordenanças sagradas são realizadas.[10]

Morôni, descrevendo profeticamente a restauração nos últimos dias, parafraseou outra declaração de Isaías:

“E desperta e levanta-te do pó, ó Jerusalém; sim, e veste-te com teus vestidos formosos, ó filha de Sião; e fortalece tuas estacas e alarga tuas fronteiras para sempre, a fim de que já não sejas confundida, para que se cumpram os convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó casa de Israel! (Ênfase adicionada).[11]

O Senhor, ao direcionar a obra da restauração nos últimos dias, através de revelações a Joseph Smith, frequentemente referiu-se à organização e fortalecimento das estacas. Ao ordenar que uma estaca fosse organizada em Kirtland, Ohio, o Senhor declarou:

“Pois consagrei a terra de Kirtland, no meu próprio e devido tempo, para benefício dos santos do Altíssimo e como uma estaca de Sião.
“Pois Sião deve crescer em beleza e em santidade; suas fronteiras devem ser expandidas; suas estacas devem ser fortalecidas; sim, em verdade vos digo: Sião deve erguer-se e vestir suas formosas vestes”.[12]

Note que o Senhor parafraseou a declaração profética de Isaías, confirmando o seu significado.[13]

Merrill J. Bateman descreveu o cumprimento desta profecia nos últimos dias:

“Isaías … (fala) da tenda que representa o evangelho de Cristo. Ele declara que nos últimos dias as cordas da tenda seriam estendidas por toda a Terra e plantar-se-iam estacas em todas as terras. Literalmente, estamos vendo isso cumprir-se nos dias de hoje. Ao considerar essas passagens, fiquei pensando na imensa tarefa de ajudar as Autoridades Gerais a levar o evangelho a toda nação, tribo, língua e povo …. Devido às visões de Isaías e Daniel, imploro-vos, irmãos, que nos auxilieis com vossa fé e com vossas orações. Desejo, de todo o coração, ser um servo desses homens e do Senhor o Salvador, Jesus Cristo”.[14]

O versículo 2 contém dois quiasmas reconhecidos no original em hebraico, que foram organizados aqui para corresponder com a construção hebraica:[15]

A: Amplia
B: o lugar da tua tenda,
B: e as cortinas das tuas habitações
A: estendam-se.

A: Não o impeças; alonga
B: as tuas cordas,
B: e as tuas estacas
A: fixa bem.

“Tenda”, “cortinas”, “cordas” e “estacas” formam o enfoque deste quiasma. As palavras chaves nas declarações introdutórias e suas reflexões são todas verbos de ação: “Amplia”, “estendam-se”, “alonga” e “fixa bem”.

O versículo 3 prediz o crescimento e florescimento da Sião nos últimos dias: “Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. Como será que as cidades dos gentios—aqueles que não quiserem aceitar o evangelho restaurado—ficarão assoladas? Algumas possibilidades podem sem que elas seriam abandonadas antes dos exércitos invasores atacarem[16] ou assoladas por pestilências, radiação ou condições climáticas adversas.[17]

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

A: (1) Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria,
B: tu que não tiveste dores de parto;
C: porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR.
D: (2) Amplia o lugar da tua tenda,
E: e estendam-se as cortinas das tuas habitações;
E: não o impeças; alonga as tuas cordas,
D: e fixa bem as tuas estacas.
C: (3) Porque transbordarás para a direita e para a esquerda;
B: e a tua descendência possuirá os gentios
A: e fará que sejam habitadas as cidades assoladas.

A Israel dos últimos dias expandir-se-ia grandemente, ocupando lugares que antes eram habitados pelos gentios. Estacas serão estabelecidas e fortalecidas entre o povo reunido. “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria” é complementado por “fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. A mulher que antes era estéril, representando Israel, regozija-se porque as cidades assoladas dos gentios deverão ser habitadas por sua descendência. “Tu que não tiveste dores de parto” contrasta-se com “a tua descendência possuirá os gentios”.

No versículo 4 o Senhor consola os coligados de Israel: “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”. O Livro de Mórmon apresenta “… porque te esquecerás da vergonha da tua mocidade e não te lembrarás do opróbrio da tua juventude e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”.[18] “Tua mocidade” representa o período de iniquidade de Israel na Terra Prometida, já a “tua viuvez” representa o período quando Israel estava dispersa entre as nações da Terra, abandonada pelo Senhor.

No versículo 5, o Senhor explica a metáfora: “Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”.

O versículo 6 oferece maior explicação: “Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu Deus”. Para a palavra “desamparada”, o original em hebraico usa “rejeitada” ou “desprezada”.[19] O Senhor chama a nova Israel nos últimos dias para ser o Seu povo, apesar da rejeição anterior devido as iniquidades.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada;
B: antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade,
C: e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.
D: (5) Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome;
E: e o Santo de Israel
E: é o teu Redentor;
D: que é chamado o Deus de toda a terra.
C: (6) Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito;
B: como a mulher da mocidade,
A: que fora desprezada, diz o teu Deus.

Neste quiasma a metáfora de uma mulher desprezada é usada para explicar o amor e cuidado do Senhor para com Israel, apesar de sua iniquidade anterior. “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada” contrasta-se com “que fora desprezada, diz o teu Deus”. Mesmo que Israel tenha sido desprezada devido suas transgressões, nos últimos dias ela não será envergonhada.

O versículo 7 resume: “Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei”. Aqui, o Senhor prediz a coligação de Israel das terras para onde foi dispersa por tanto tempo.[20] O “breve momento”, o qual de acordo com o modo de calcular dos homens é mil anos, durante o qual Israel há sido desprezada, pode refletir o ponto de vista do Senhor de que qualquer iniquidade que foi cometida no passado é de pouca consequência depois do completo arrependimento.[21]

O Senhor oferece semelhante consolação ao Profeta Joseph Smith durante seu encarceramento na Cadeia de Liberty, Missouri:

“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento;
“E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos” (ênfases adicionadas).[22]

A prometida exaltação de Joseph Smith é típica da que será dada à Israel penitente nos últimos dias.

O Senhor continua Seu consolo à moderna Israel no versículo 8: “Com um pouco de ira escondi a minha face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor”. O Senhor explicou a Ezequiel a razão pela qual Ele escondeu Sua face de Israel: “Conforme a sua imundícia e conforme as suas transgressões me houve com eles, e escondi deles a minha face”.[23]

No versículo 9 o Senhor declara: “Porque isto será para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não passariam mais sobre a terra; assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei”.[24] O Livro de Mórmon omite a última frase, “nem te repreenderei”.[25] O Senhor compara Seu convênio com Noé—que não haveria mais dilúvios que cobririam toda a Terra[26]—com o convênio que fez com os penitentes de Israel, de que não se irará mais contra a casa de Israel.

O versículo 10 declara: “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti”. As promessas do Senhor são mais duradouras e imutáveis do que os montes e os outeiros. Além de representarem características topográficas, “montes” e “outeiros” também significam nações, grandes e pequenas.[27] Os convênios do Senhor com Israel—feitos com seu pai, Abraão, e seus herdeiros[28]—ainda estão em efeito, mesmo que as grandes e pequenas nações possam surgir e cair.

O versículo 11 descreve mais sobre o convênio do Senhor com Israel: “Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada, eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras”. Estas pedras preciosas são símbolos da fundação das verdades eternas que são inestimáveis. Safiras são pedras preciosas azuis compostas de coríndon, ou óxido de alumínio. “Safira” vem da palavra hebraica sappir.[29]

Ao citar o versículo 11, Aileen H. Clyde da Presidência Geral da Sociedade de Socorro descreveu o simbolismo destas pedras preciosas:

“Neste mundo atribulado, os alicerces em que confio assentam-se em meus convênios com o Senhor. São realmente como safiras e tesouros inestimáveis. Por meio deles, estou eternamente ligada a meus entes queridos e a Deus. Refiro-me aos princípios e ordenanças restaurados do evangelho de Jesus Cristo, aos quais todo homem e mulher justos podem ter acesso por meio do poder do santo sacerdócio de Deus, que incluem: o batismo, o dom do Espírito Santo, o sacramento e os convênios do templo. São esses os meios que nos foram oferecidos, os quais somos livres para aceitar a fim de garantirmos nossa vida eterna”.[30]

O versículo 12 continua o simbolismo, descrevendo melhor o convênio do Senhor: “E farei os teus vitrais de rubis, e as tuas portas de carbúnculos, e todos os teus termos de pedras aprazíveis”. O Livro de Mórmon apresenta: “E as tuas janelas farei de ágata e as tuas portas, de rubis …”

As janelas do Templo SUD de San Antonio, Texas, foram decoradas com ágatas tiradas do mesmo outeiro do Templo em reconhecimento a esta passagem nas escrituras. Não só o Senhor abençoará à Israel penitente com grande abundância; mas como também colocará verdades preciosas e eternas como sua fundação e adorno. Ágata é uma variedade de calcedônia, uma sílica microcristalina que apresenta camadas de partes claras e escuras; carbúnculo é uma variedade de granada vermelha preciosa. A palavra “aprazíveis” no hebraico é “deleitável”.[31]

O versículo 13 proclama: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”.[32] Observe a causa e consequência: Os filhos sendo ensinados do Senhor resulta na paz abundante que eles terão; reciprocamente, a paz abundante dos filhos vem devido os filhos sendo ensinados do Senhor. Não há outra fonte no mundo onde podemos encontrar a duradoura paz.

Spencer W. Kimball explicou o versículo 13:

“E que grandioso legado para nossos filhos Isaías prometeu: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Certamente todos bons pais gostariam que seus filhos tivessem essa paz, que vem através da vida simples do verdadeiro Santo dos Últimos Dias quando ele faz o melhor no seu lar e em sua família”.[33]

Jesus citou o versículo 13 durante Seu ministério mortal: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”.[34]

Os versículos 11 até 13 contêm um quiasma:

A: (11) Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada,
B: eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras.
C: (12) E farei os teus vitrais de ágata,
C: e as tuas portas de rubis,
B: e todos os teus termos de pedras aprazíveis.
A: (13) E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante.

“Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada” contrasta-se com “e todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Apesar de Israel ter sofrido muito, seus filhos—se forem ensinado sobre o Senhor e Suas doutrinas—desfrutarão da paz abundante. A paz a ser desfrutada pelos filhos dependerá se eles estarão alicerçados nas verdadeiras doutrinas, que foi representadas aqui pelas pedras preciosas ou semipreciosas. A paz deverá ser ensinada e aprendida—não acontecerá espontaneamente.

O versículo 14 promete: “Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão, porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”. Através da retidão, o Senhor promete liberdade da opressão, do medo e do temor.

No versículo 15 o Senhor promete defender Seu povo do convênio contra os opressores: “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. O Livro de Mórmon apresenta: “Eis que certamente se ajuntarão contra ti …”.[35]

Jesus, ao mencionar a parábola do trigo e do joio, descreveu a ordem em que os iníquos e os justos serão reunidos: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”.[36] A reunião de grandes exércitos acontecerá primeiro, seguido pela coligação dos justos em Sião. Mesmo que sua intensão era a de lutar contra o povo do convênio do Senhor, o resultado será a sua destruição, cumprindo, assim, os propósitos do Senhor. Sua destruição seria seguida pela coligação dos justos de Sião, onde encontrarão segurança.

No versículo 16 o Senhor descreve Seu propósito ao levantar exércitos com intenção de destruir os justos: “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também criei o assolador, para destruir”.

O versículo 17 resume, declarando que a segurança é a herança dos que servem ao Senhor: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. O termo “juízo”, como foi usado aqui, significa “litígio”; bem como “um sistema de lei”.[37] O significado é que aqueles que formarem exércitos ou levantarem ações legais contra os justos serão desafiados, derrotados e condenados.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor repete a promessa aos Seus discípulos dos últimos dias:“Em verdade, assim vos diz o Senhor: Arma alguma que se forme contra vós prosperará;
“E se contra vós algum homem erguer a voz, em meu próprio e devido tempo será confundido”.[38]

Nesta inspirada oração dedicatória para o Templo de Kirtland, o Profeta Joseph Smith parafraseia o versículo 17 e outras partes do capítulo 54, confirmando seus significados:

“Rogamos-te, Pai Santo, que estabeleças o povo que adorará e honrosamente terá um nome e uma posição nesta tua casa por todas as gerações e pela eternidade;
“Que arma alguma formada contra eles prospere; que o que cavar uma cova para eles, nela caia ele mesmo;
“Que nenhuma combinação iníqua tenha poder para levantar-se e prevalecer contra teu povo, sobre quem se colocará teu nome nesta casa;
“E se algum povo se erguer contra este povo, que tua ira se acenda contra ele”.[39]

Os versículos 14 até 17 contêm um quiasma:

A: (14) Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão,
B: porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti.
C: (15) Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti.
D: (16) Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra;
D: também criei o assolador, para destruir.
C: (17) Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás;
B: esta é a herança dos servos do Senhor,
A: e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor.

Elementos deste quiasma são complementários; o quiasma pode ser lido em ordem refectiva para ser melhor compreendido: “Com justiça serás estabelecida;”; “a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. “Já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”; “esta é a herança dos servos do Senhor”. “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás”. “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra”; “também criei o assolador, para destruir”. A Israel moderna—depois de coligada e restaurada—será estabelecida, ou fundada, sobre os princípios de retidão do Senhor; liberdade do terror é também parte da herança dos servos do Senhor. Apesar do Senhor levantar exércitos destruidores a fim de levar a cabo Seus propósitos, eles são limitados e controlados pelo Senhor e não terão sucesso contra a Israel justa.
NOTAS

[1]. Os capítulos 2 até 39 descrevem Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; os capítulos 40 até 54 descrevem Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e os capítulos 55 até 66 descrevem o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. 3 Néfi 23:4.
[4]. Victor L. Ludlow, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 3 Néfi 22/Isaías 54”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 397.
[5]. 3 Néfi 22:1.
[6]. Isaías 49:21.
[7]. Gálatas 4:27.
[8]. Ver Isaías 33:20.
[9]. Isaías 33:20.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2282, p. 290.
[11]. Morôni 10:31; compare Isaías 52:1-2.
[12]. Doutrina e Convênios 82:13-14. Ver também D&C 68:26; 94:1; 96:1; 104:48; 109:59; 133:9.
[13]. Isaías 52:1-2.
[14]. Merrill J. Bateman, “Estender as Cordas da Tenda”, A Liahona, Julho de 1994, p. 72.
[15]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[16]. Ver Isaías 7:17-25; 8:7-8.
[17]. Ver D&C 45:31; 5:19; também Daniel 9:27; 11:31; D&C 84:96-97; 88:85.
[18]. 3 Néfi 22:4.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3988, p. 549; Ver também Isaías 54:6, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 6d.
[20]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12.
[21]. Ver Hebreus 8:12; 10:16-17; D&C 58:42.
[22]. D&C 121:7-8.
[23]. Ezequiel 39:24.
[24]. Os versículos 7 até 9 contêm um quiasma: Te deixei/um pouco de ira/mas com benignidade eterna/o Senhor//o teu Redentor/as águas de Noé/assim jurei/não me irarei mais contra ti.
[25]. 3 Néfi 22:9.
[26]. Ver Gênesis 9:13-16.
[27]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[28]. Ver Gênesis 12:1-3; 17:1-2, 21; 21:12.
[29]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 705; Ver também Brown et al., 1996, Número de Strong 5601, p. 705.
[30]. Aileen H. Clyde, “Convênio de Amor”, A Liahona, Julho de 1995, p. 29.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2656, p. 343.
[32]. O versículo 13 contém um quiasma: Todos os teus filhos/ensinados//do Senhor/a paz/teus filhos.
[33]. Spencer W. Kimball, “The Family Influence” [A influência da Família], Ensign, Julho 1973, p. 15.
[34]. Ver João 6:45; também Mateus 26:56.
[35]. 3 Néfi 22:15.
[36]. Mateus 13:30.
[37]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 51:4.
[38]. D&C 71:9-10.
[39]. D&C 109:24-27.

CAPÍTULO 33: “Cujas Estacas [de Sião] Nunca Serão Arrancadas”

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Este capítulo fala sobre a apostasia, violência e traição que precederão a Segunda Vinda. Os justos em Sião orarão pela proteção do Senhor durante esta época. Quando o Senhor vier em Sua glória, os ímpios serão destruídos com fogo consumidor. Apesar das tribulações, Sião e suas estacas nunca serão removidas e o Senhor reinará como Legislador, Juiz, e Rei.

Para entender este capítulo é fundamental que se observe cuidadosamente quem está falando e de quem Isaías está falando, pois muda muitas vezes, o que pode deixar o leitor confuso. O uso de diversos sujeitos e formas verbais fornece uma dica para notarmos estas mudanças.

O versículo 1 consiste de um oráculo de pesar contra aqueles que despojam, ou roubam através de violência e traição: “Ai de ti, despojador, que não foste despojado, e que procedes perfidamente contra os que não procederam perfidamente contra ti! Acabando tu de despojar, serás despojado; e, acabando tu de tratar perfidamente, perfidamente te tratarão”.[1] O oráculo de pesar descreve predadores que roubam os inocentes e os indefesos. Muitos estudiosos acreditam que este predador é Senaqueribe, rei da Assíria, que invadiria e saquearia Jerusalém em 701 a.C.[2] Para os últimos dias, este versículo descreve um estado de anarquia violenta e terror, onde saqueadores vagueiam por todo lado, buscando vítimas para poderem ferir, saquear e roubar. Doutrina e Convênios descreve as mesmas ou semelhantes condições: “E acontecerá entre os iníquos que todo homem que não tomar sua espada contra seu próximo terá que fugir para Sião, por segurança”.[3]

No versículo 2, os justos oram fervorosamente pedindo proteção: “Senhor, tem misericórdia de nós, por ti temos esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação no tempo da tribulação”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “sua salvação no tempo da tribulação”.[4] “Sê tu o nosso braço” é o apelo de Isaías ao Senhor, que quer dizer “defenda-nos dos que nos querem ferir”.

Os versículos 3 e 4 descrevem a vinda do Senhor. O versículo 3 começa: “Ao ruído do tumulto fugirão os povos; à tua exaltação as nações serão dispersas”. “À tua exaltação” significa “em Teu raiar ou ascensão”, como o raiar do sol—para ser visto pelo mundo inteiro, pronto para a batalha. Observe o uso da segunda pessoa do singular “tua”; aqui Isaías está dirigindo-se ao Senhor.

No versículo 4 a narração de Isaías muda, dirigindo-se às nações que serão dispersas na vinda do Senhor: “Então ajuntar-se-á o vosso despojo como se ajunta a lagarta; como os gafanhotos saltam, assim ele saltará sobre eles”. Estes símiles usados por Isaías, de insetos devorando seus alimentos, ajudam aos leitores a imaginarem os saqueadores destruindo as nações.

O versículo 5 descreve o estado bendito dos habitantes de Sião durante este tempo de grande destruição. A declaração de Isaías aqui é dirigida ao leitor: “O Senhor está exaltado, pois habita nas alturas; encheu a Sião de juízo e justiça”.[5] “Justiça” significa “equidade”.[6] A palavra hebraica traduzida como “retidão” significa “eticamente correto”.[7]

“Sião” neste versículo significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto Jerusalém, especialmente a Jerusalém dos últimos dias sob circunstâncias justas.[8] “Sião” é usado em outros dois lugares neste capítulo com os mesmos significados. A definição de “Sião” dada em Doutrina e Convênios é o puro de coração, que significa que Sião é onde os justos habitam—não necessariamente um lugar específico.[9]

Em Doutrina e Convênios, a frase que segue a definição de Sião talvez refira-se a acontecimentos descritos por Isaías no capítulo 33: “Portanto, que Sião se regozije enquanto se lamentam todos os iníquos”.[10]

O Senhor revela os Seus desígnios ao nomear os lugares de coligação:

“E eis que não há outro lugar designado além daquele que designei; nem haverá outro lugar designado além daquele que designei para a reunião de meus santos
“Até chegar o dia em que não haja mais lugar para eles; e então lhes designarei outros lugares que tenho e serão chamados estacas, para as cortinas ou a força de Sião” (ênfases adicionadas).[11]

No versículo 6, Isaías muda para a segunda pessoa do singular para falar com Sião: “E haverá estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; e o temor do Senhor será o seu tesouro”. O maior tesouro do Senhor é a retidão de Seu povo. Os justos de Israel nos últimos dias serão poupados das tribulações, invasões e pilhagem por causa de sua sabedoria, conhecimento e temor ao Senhor.

No versículo 7 Isaías continua falando à Sião, descrevendo agora a angústia daqueles que não foram permitidos entrar: “Eis que os seus embaixadores estão clamando de fora; e os mensageiros de paz estão chorando amargamente”. Um significado alternativo no hebraico original, traduzido na versão de João Ferreira de Almeida como “os seus embaixadores”, é Ariel, que significa “a lareira de Deus” ou “o leão de Deus”,[12] usado anteriormente no capítulo 29.[13] Ariel refere-se ao povo do convênio—especialmente ao povo dos últimos dias, que teria os convênios e as bênçãos do templo. Ariel não sendo permitida a desfrutar da proteção temporal de Sião quer dizer um grupo—à parte de Sião e suas Estacas—que não está vivendo os convênios que lhe traria proteção e bênçãos de Sião. Este grupo representa a Israel apóstata; mas pode ser que se refira a outros grupos.

No versículo 8 Isaías continua dirigindo seus comentários à Sião. Ele descreve a destruição que precederá a Segunda Vinda, em seguida dá a razão pela qual Ariel foi excluída da proteção de Sião: “As estradas estão desoladas, cessou o que passava pela vereda”. Violência, anarquia e possivelmente desastres naturais destruiriam as estradas a tal ponto que nenhum viajante podería prosseguir. “Ele rompeu a aliança, desprezou as cidades, e já não faz caso dos homens”.

Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma:

A: (7) Eis que os seus embaixadores estão clamando de fora;
B: e os mensageiros de paz estão chorando amargamente.
C: (8) As estradas estão desoladas, cessou o que passava pela vereda,
C: ele rompeu a aliança,
B: desprezou as cidades,
A: enão se faz caso dos homens.

O lado ascendente do quiasma descreve o remorso e desapontamento de Ariel, o povo do convênio da antiguidade, ao encontrar-se indigno da proteção do Senhor nos últimos dias. No lado descendente, descreve o porquê a proteção foi negada. Não foi permitido a Ariel entrar na cidade de Sião, portanto não terá sua proteção.

O versículo 9 descreve o efeito de haver quebrado os convênios: “A terra geme e pranteia, o Líbano se envergonha e se murcha; Sarom se tornou como um deserto; e Basã e Carmelo foram sacudidos”. O sacudir de Basã e Carmelo pode ser resultado de terremotos; ou que esses lugares tenham sido despojados. Também pode representar frutos caindo da vinha antes de estarem maduros.[14] “Líbano” refere-se aos “orgulhosos líderes e nobres”, como foi descrito anteriormente por Isaías no capítulo 2.[15]

Os versículos 10 até 12 descrevem a vinda do Senhor. O versículo 10 começa: “Agora, pois, me levantarei, diz o Senhor; agora me erguerei. Agora serei exaltado”. Ser “exaltado” ou ser “levantado” significa que o Senhor Jeová seria reconhecido pelo mundo.

No versículo 11, o Senhor fala aos injustos: “Concebestes palha, dareis à luz restolho; e o vosso espírito vos devorará como o fogo”. “Palha” e “restolho” enfatizam que os frutos temporais das obras diárias dos iníquos não seriam duradouras e seriam queimadas como um campo de grão depois da colheita. Os esforços mais importantes de suas vidas serão de pouca importância; os assuntos espirituais importantes foram deixados de lado, quando deveriam ter prestado mais atenção neles.

O versículo 12 descreve a queima: “E os povos serão como as queimas de cal; como espinhos cortados arderão no fogo”.[16] “As queimas de cal” trazem em mente cenas horríveis de corpos sendo consumidos pelo fogo, deixando as cinzas dos ossos como um acúmulo de cal.[17] Quiasmaticamente, a causa para serem queimados no fogo é porque o povo concebeu palha.

Tal como indicado no versículo 13, a grandeza, o poder e a majestade do Senhor serão reconhecidos no mundo todo: “Ouvi, vós os que estais longe, o que tenho feito; e vós que estais vizinhos, conhecei o meu poder”. O Senhor falará com os povos que estão perto e com os que estão distantes.

O versículo 14 fala dos indignos que estão entre o povo do convênio em Sião: “Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” Apesar de terem tido muitas oportunidades, eles não se prepararam para o dia quando o Senhor viria. Por estarem vivendo com pecados escondidos, eles perguntam temerosamente: “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?”[18]

Dois tipos de fogo foram descritos aqui: “Fogo consumidor” é aquele que destruirá os iníquos, enquanto que “labaredas eternas” significa a glória eterna característica da presença de Deus. O Profeta Joseph Smith descreveu esta glória:

“Vi a incomparável beleza da porta por onde entrarão os herdeiros desse reino, que se assemelhava a chamas de fogo circulantes;
“Também o refulgente trono de Deus, no qual estavam sentados o Pai e o Filho”.[19]

A retidão pessoal é um requerimento para sobreviver a queimação destruidora na vinda do Senhor e é essencial para suportar a glória de Sua presença.[20] Quando não existir a retidão pessoal entre eles, os injustos e hipócritas olharão com grande temor para a glória resplandecente do Senhor. “Sião”, como foi usada aqui, significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto a Jerusalém justa dos últimos dias. Outros significados também podem ser aplicados.[21]

Bruce R. McConkie explicou:

“… Quem na Igreja alcançará uma herança no reino celestial? Quem irá habitar onde Deus e Cristo e os seres santos estão? —Aqueles que sobrepujarem o mundo, fizerem obras justas, e perseverarem em fé e devoção até o fim, ouvirão a prometida bênção: ‘Vinde, e possuí por herança o reino de meu Pai’”.[22]

No versículo 15, o profeta responde às perguntas retóricas feitas pelos indignos hipócritas do versículo 14: “O que anda em justiça, e o que fala com retidão; o que rejeita o ganho da opressão, o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seus olhos para não ver o mal”.[23] “Ouvir falar do derramamento de sangue” significa “não ouvir falar de violências”.[24] Estas qualidades dos justos lhes permitirão aguardar a vinda do Senhor e a herdar a vida eterna no reino celestial.

Que pecados os hipócritas do versículo 14 cometeram? A resposta está no versículo 15: Eles andam injustamente; e falam enganosamente—o que quer dizer que eles mentem, não são honestos; eles se aproveitam com a opressão de outros—isto é, cometeram extorsão; aceitaram subornos; eles “ouviram”, ou aprovaram a violência ou o derramamento de sangue; e aprovaram coisas perversas. Em nossos dias, fechar os olhos para as coisas más incluem evitar mídia cujos propósitos são de promulgar o mal, como a pornografia ou programas ofensivos na televisão ou nos filmes.

O salmista falou sobre este princípio: “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente”.[25]

No versículo 16 fala sobre as bênçãos a serem obtidas por aquele “que anda em justiça”, evitando as armadilhas descritas no versículo 15: “Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas”. As “Fortalezas das rochas” proporcionarão uma segurança temporal maior. O Senhor defenderá Seus seguidores justos; Ele proverá para eles o pão e água—sustento temporal como também espiritual[26]—durante este tempo de destruição e tumulto.

Maiores bênçãos para os justos são mencionadas por Isaías na segunda pessoa do singular, e são descritas nos versículos 17 até 20. O versículo 17 declara: “Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe”. A primeira frase reflete o significado da frase bem conhecida das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”.[27] “Formosura” significa a glória resplendente do Senhor mencionada no versículo 14. Na segunda frase deste versículo, Isaías descreve o que mais os olhos dos justos verão: “Verão a terra que está longe”, que significa o reino celestial de Deus.

O versículo 17 contém um quiasma reconhecido no hebraico original, reconstruído aqui para corresponder com a construção hebraica:[28]

A: (17) O rei na sua formosura,
B: Os teus olhos
B: verão
A: e verão a terra que está longe.

“O rei na sua formosura” é complementado por “e verão a terra que está longe”, indicando que a terra mencionada é a morada do rei, ou do Messias. O enfoque do quiasma é “Os teus olhos verão” e “verão”.

Os versículos 18 e 19 descrevem a proteção contra os invasores a ser desfrutada pelos justos. O versículo 18 declara: “O teu coração considerará o assombro dizendo: Onde está o escrivão? Onde está o que pesou o tributo? Onde está o que conta as torres?” O escrivão, o que pesou o tributo e o que conta as torres são os que gerenciam os despojos das guerras; os justos não precisam se preocupar com eles ou com suas delegações.

O Apóstolo Paulo parafraseou o versículo 18 no Novo Testamento: “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?”[29]

O versículo 19 continua: “Não verás mais aquele povo atrevido, povo de fala obscura, que não se pode compreender e de língua tão estranha que não se pode entender”. Os justos não verão os temerosos exércitos invasores que falam uma língua incompreensível. “Fala obscura” refere-se aos efeitos no ouvido de uma língua incompreensível falada rapidamente. Este versículo ajuda a esclarecer o significado de uma passagem anterior no capítulo 28: “Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará [o Senhor] a este povo”.[30] Neste outro versículo Isaías descreve missionários ou mensageiros, enviados pelo Senhor, tentando aprender outra língua; porém neste versículo que estamos analisando agora, o povo de fala obscura são os exércitos invasores—enviados para destruirem aqueles que não derem ouvidos à mensagem dos primeiros que falaram com lábios gaguejantes.

No versículo 20 Isaías continua seu discurso aos justos, admoestando-os: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará”.[31] “Sião” e “Jerusalém”, aqui, são sinônimos, referindo-se ao povo justo do Senhor.[32] A analogia da Sião dos últimos dias e suas estacas com a tenda da Israel antiga, suportadas por cordas e estacas, é melhor explicada no capítulo 54 por Isaías:

“Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas.
“Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”.[33]

A declaração de Isaías no versículo 20 é citada pelo Senhor ressuscitado aos nefitas[34] e mencionada em vários lugares em Doutrina e Convênios.[35] A promessa do Senhor que as “estacas nunca serão arrancadas, e das suas cordas nenhuma se quebrará” é um grande conforto e consolo para os Santos dos Últimos Dias. A profecia de Isaías descrevendo a destruição dos iníquos—deixando as cidades gentias desabitadas—serve como advertência para todos os que derem ouvidos.

Uma estaca é uma organização eclesiástica constituída de várias alas, ou congregações, e é presidida por um presidente de estaca, o qual dirige as obras da Igreja nas alas e fornece orientação, direção e liderança aos bispos que presidem nas alas. O presidente da estaca, por sua vez, recebe direção das autoridades gerais e de área que reportam ao presidente da Igreja. Inerente à organização da estaca é a disponibilidade dos programas da Igreja, incluindo as ordenanças do sacerdócio, necessárias para os membros da estaca obterem a exaltação eterna. “Solenidades”, usada na primeira linha do versículo 20, vem do Latim sollemnis que significa “aquilo que acontece a cada ano”,[36] isto é, celebrações e cerimônias religiosas.

Os versículos 17 até 20 contêm um quiasma:

A: (17) Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe.
B: (18) O teu coração considerará o assombro dizendo:
C: Onde está o escrivão?
D: onde está o que pesou o tributo?
E: onde está o que conta as torres?
E: (19) Não verás mais
D: aquele povo atrevido,
C: povo de fala obscura, que não se pode compreender
B: e de língua tão estranha que não se pode entender.
A: (20) Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta ….

“Os teus olhos verão o rei na sua formosura” corresponde “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades”, mostrando que Sião deverá ser o lugar onde o Senhor habitará e quem reinará sobre a Terra. O lado ascendente deste quiasma apresenta perguntas retóricas que preveem a proteção contra os invasores proporcionada aos justos de Sião e Jerusalém; as declarações no lado descendente descrevem os invasores que assolariam os ímpios durante as destruições precedentes a Segunda Vinda, mas das quais Sião e Jerusalém seriam poupadas. Os justos em Sião e Jerusalém não serão invadidos pelos exércitos que falam em língua estranha.

O versículo 21 continua a descrição de Isaías da Sião dos últimos dias, que virá a ser o lugar onde o Senhor habitará durante Seu glorioso reinado sobre a Terra: “Mas ali o glorioso Senhor será para nós um lugar de rios e correntes largas; barco nenhum de remo passará por ele, nem navio grande navegará por ele”. Sião será um lugar de refúgio, protegida pelo Senhor contra os invasores. Esta descrição de Sião como um lugar de “rios e correntes largas” caracteriza o local designado pelo Senhor, através do Profeta Joseph Smith, como a Nova Jerusalém nos Estados Unidos da América—no condado de Jackson, Missouri.[37]

O versículo 22 descreve a razão para a grande paz e proteção desfrutada por Sião: “Porque o Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso legislador; o Senhor é o nosso rei, ele nos salvará”. A salvação, neste caso, significa proteção temporal contra inimigos terrenos, bem como exaltação eterna na presença de Deus. A Expiação, que fornece o caminho para sermos purificados de nossos pecados e abre o caminho para obtermos exaltação eterna, é provida pelo Senhor Jesus Cristo.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) Mas ali o glorioso Senhor será para nós
B: um lugar de rios
C: e correntes largas;
C: barco nenhum de remo passará por ele,
B: nem navio grande navegará por ele.
A: (22) Porque o Senhor é o nosso juiz; o Senhor é nosso legislador; o Senhor é o nosso rei; ele nos salvará.

“Um lugar de rios” compara-se com “navio grande”; o termo “correntes largas” compara-se com “barco … de remo”. Note que os objetos maiores, “rios” e “navio grande”, e os elementos menores, “correntes” e “barco de remo”, são quiasmaticamente paralelos.

O versículo 23 volta ao tema apresentado no versículo 21, no qual nenhum navio chegaria perto de Sião. Primeiro Isaías refere-se ao navio na segunda pessoa do singular, descrevendo sua inabilidade de navegar: “As tuas cordas se afrouxaram”; depois, Isaías muda sua atenção para os homens conduzindo o navio: “não puderam ter firme o seu mastro, e nem desfraldar a vela”. Devido a inabilidade de navegar, o navio está vulnerável aos ataques, mesmo pelos fracos: “então a presa de abundantes despojos se repartirá; e até os coxos dividirão a presa”. Os despojos serão divididos entre os conquistadores, que incluem, até mesmo, os deficientes físicos. Este navio é um símbolo para qualquer pessoa que procura invadir ou conquistar Sião. No capítulo 54 o Senhor promete a Seus seguidores justos: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”.[38]

O versículo 24 descreve a força espiritual dos habitantes de Sião: “E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da iniquidade”. O Senhor, através da Expiação, proveu o caminho para cada pessoa ser purificada de seus pecados, ou enfermidades espirituais; a fim de qualificar para esta bênção de habitar em Sião, cada pessoa deve se arrepender de seus pecados e ser perdoada, de acordo com as leis do Senhor.

NOTAS

[1]. O versículo 1 contém um quiasma: Ai de ti, despojador, que não foste despojado/procedes perfidamente/os que não procederam perfidamente contra ti!//acabando tu de tratar perfidamente/perfidamente te tratarão.
[2]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 294.
[3]. Doutrina e Convênios 45:68.
[4]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíbliapor Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 205.
[5]. Versículos 2 até 5 contêm um quiasma: Tem misericórdia de nós/fugirão os povos; à tua exaltação/O Senhor//pois habita nas alturas/encheu a Sião de juízo/justiça.
[6]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 32:1; 41:1; 49:4; 53:8.
[7]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996; Número de Strong 6666, p. 842.
[8]. Ver Isaías 3:16; 33:14, 20; 34:8; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[9]. D&C 97:21.
[10]. D&C 97:21.
[11]. D&C 101:20-21.
[12]. Brown et al., 1996, Número de Strong 691, p. 72.
[13]. Ver Isaías 29:1-2, 7 e comentário pertinente.
[14]. Ver Malaquias 3:11.
[15]. Ver Isaías 2:13 e comentário pertinente; Ver também Isaías 10:34 e 14:8.
[16]. Versículos 11 e 12 contêm um quiasma: Palha/restolho/vosso espírito//fogo/queimas/arderão no fogo.
[17]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[18]. O versículo 14 contém um quiasma: Pecadores de Sião/se assombraram//tremor/hipócritas.
[19]. D&C 137:2-3.
[20]. D&C 130:7.
[21]. Ver Isaías 3:16; 33:5, 20; 34:8; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[22]. Bruce R. McConkie, “Think on These Things” [Pensem Sobre Estas Coisas], Ensign, Jan. 1974, p. 45.
[23]. O versículo 15 contém um quiasma: Anda em justiça/fala com retidão/rejeita o ganho da opressão//sacode das suas mãos todo o presente/tapa os seus ouvidos para não ouvir/fecha os seus olhos para não ver o mal.
[24]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1818, p. 196.
[25]. Salmo 24:3-4.
[26]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11 e comentário pertinente.
[27]. Mateus 5:8.
[28]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 261.
[29]. 1 Coríntios 1:20.
[30]. Isaías 28:11.
[31]. O versículo 20 contém um quiasma: Não será removida/estacas//cordas/nenhuma se quebrará.
[32]. Ver Isaías 3:16; 33:5, 14; 34:8; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[33]. Isaías 54:2-3.
[34]. 3 Néfi 22:2-3.
[35]. D&C 68:25-26; 82:14; 101:21; 107:36-37; 115:6, 18; 133:9.
[36]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 696.
[37]. D&C 57:1-2.
[38]. Isaías 54:17.