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CAPÍTULO 58: “Seria Este O Jejum Que Eu Escolheria, Que O Homem Um Dia Aflija A Sua Alma?”

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Este capítulo é um sermão sacerdotal no qual o Senhor, através de Isaías, apresenta a verdadeira lei de jejum. É a dissertação mais completa sobre este assunto encontrada em qualquer parta das escrituras. A menos que nós, coletivamente, estejamos aplicando a lei de jejum corretamente, o Senhor não ouvirá nossas orações, nem reconhecerá nossos jejuns como meios de buscar as bênçãos. Este capítulo termina com uma petição para observarmos o Dia Santificado da maneira que o Senhor estipulou.

No versículo 1, o Senhor fala com Isaías: “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados”. O Senhor instrui Isaías para alertar o povo sobre os seus pecados, usando todo o poder de sua voz.[1] Esta instrução confirmou a Isaías de que a mensagem do Senhor ao povo era de grande importância. O cenário para este sermão de Isaías talvez tenha sido durante o Yom Kippur (Dia da Expiação)[2], observância do Santificado, que tradicionalmente incluía um jejum.[3]

No versículo 2, o Senhor descreve muitas coisas espirituais que o povo estava fazendo certo: “Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus”.[4] Na Bíblia de King James, em inglês “… o direito do seu Deus” é apresentado como “… a ordenança do seu Deus”. O povo buscou o Senhor em oração e deleitou-se no conhecimento dos caminhos do Senhor através do estudo das escrituras. Como nação, o povo fez coisas justas, foi fiel às ordenanças do Senhor e procuraram estabelecer a justiça. A observância espiritual da antiga Israel, descrita neste versículo, aplica-se a nós nos últimos dias. Nós também devemos prestar atenção nas instruções do Senhor que nos são dadas.

No versículo 3, o Senhor explica que o povo não tem seguido a lei de jejum corretamente. O Senhor faz perguntas retóricas, em seguida começa Sua explicação: “Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho”. O Senhor não aceita o jejum do povo, e apesar de afligirem as suas almas através do jejum, o Senhor não provê as bênçãos pertinentes. A razão disto é porque o povo busca prazer—ou seja, eles fazem coisas para se divertirem—no dia de jejum. Além disso, as pessoas trabalham, ou fazem outros trabalharem para elas no dia Santificado, quando todos deveriam haver se dedicado ao jejum e oração.

No versículo 4, o Senhor explica em mais detalhes que o povo está jejuando pelas razões erradas: “Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto”. As pessoas estavam jejuando para impressionar uns aos outros, por argumentos e por outros propósitos iníquos ao invés de por causas justas. Sem o espírito correto, o jejum resultará somente em fome, irritabilidade e contenção.[5] Como podemos jejuar com propósitos injustos? Ao provocar nossos filhos rebeldes dizendo num tom acusatório: “Estou jejuando para você.”, isto pode ser tão ofensivo quanto dar-lhes uma bofetada no rosto com nosso punho. Entretanto, se nossos jejuns que oferecemos uns para os outros forem feitos em segredo e em humildade, o Senhor responderá.

O Bispo Victor L. Brown descreveu quatro razões para jejuar: Para vencer as tentações de Satanás, como fez o Salvador; ajudar os pobres e necessitados; obter sucesso na vida; para nos humilharmos, e nos prepararmos para nos comunicar com Deus.[6]

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

A: (3) Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes?
B: Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento,
C: e requereis todo o vosso trabalho.
B: (4) Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo;
A: não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto.

“Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso?” equivale à frase “não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto”. O Senhor responde às perguntas do povo—Ele não respondeu a seus jejuns porque o povo estava fazendo jejum de maneira errada. “No dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento” é complementado por “para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo”. Estas declarações correspondentes—juntamente com o enfoque do quiasma, “e requereis todo o vosso trabalho”— completam a resposta do Senhor. Jejuando para contendas e debates, achando o nosso próprio contentamento, e trabalhando no dia de jejum anulam o nosso esforço espiritual.

No versículo 5, o Senhor faz uma série de perguntas retóricas que contrastam a observância do povo da lei de jejum com a maneira instituída pelo Senhor: “Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?” Quando as pessoas jejuam somente para que outros os vejam jejuar, o Senhor não pode aceitar este jejum. “Incline a sua cabeça como o junco” significa aparentar sofrimento, para outros vejam e saibam que estão jejuando. Estender debaixo de si saco e cinza é uma prática antiga que mostrava ás outras pessoas que um indivíduo estava de luto.[7]

No Sermão da Montanha, Jesus mencionou os mesmos princípios:

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
“Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,
“Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”.[8]

O versículo 5 contém um quiasma:

A: (5) Seria este o jejum que eu escolheria,
B: que o homem um dia aflija a sua alma,
C: que incline a sua cabeça
C: como o junco,
B: e estenda debaixo de si saco e cinza?
A: Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?

Ter a aparência de sofrimento para que outros saibam que estamos jejuando não é aceitável ao Senhor. “Seria este o jejum que eu escolheria[?]” contrasta-se com “chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?”

No começo do versículo 6, o Senhor dá instruções sobre a maneira correta de jejuar: “Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?” “Soltar as ligaduras da impiedade” significa livrar-se da escravidão do pecado; o jejum deve ser uma parte importante no processo de arrependimento.[9] “Desfazer as ataduras do jugo”, “deixar livres os oprimidos”, e “despedaçar todo o jugo” descrevem nossos esforços ao ajudar outras pessoas ou a nós mesmos a livrar-se da escravidão do pecado e retificar os erros cometidos.

Carl B. Pratt do Quórum dos Setenta ensinou:

“Se jejuarmos e orarmos com o objetivo de arrepender-nos de nossos pecados e sobrepujarmos fraquezas pessoais, seguramente estaremos procurando ‘[soltar] as ligaduras da impiedade’ em nossa vida. Se o propósito de nosso jejum for a busca de maior eficácia para ensinar o evangelho e servir ao próximo em nossos chamados da Igreja, por certo estaremos empenhados em ‘[desfazer] as ataduras do jugo’ das pessoas. Se estivermos jejuando e orando para receber auxílio do Senhor em nosso trabalho missionário, certamente estaremos desejando ‘[deixar] livres os oprimidos’. Se a finalidade de nosso jejum for aumentar nosso amor por nosso próximo e vencer nosso egoísmo, orgulho e apego às coisas deste mundo, estaremos verdadeiramente tentando ‘[despedaçar] todo o jugo’”.[10]

Spencer J. Condie, também do Quórum dos Setenta, descreveu como o jejum pode ajudar ao indivíduo a sobrepujar comportamentos viciosos:

“Satanás quer que vocês renunciem a seu arbítrio moral em favor de várias formas de comportamento vicioso, mas um Pai Celestial amoroso prometeu-lhes, por intermédio do Seu profeta, Isaías, que por meio do jejum sincero, ao subjugar seus apetites físicos, Ele os ajudará a “[soltar] as ligaduras da impiedade”, e ‘[despedaçar] todo o jugo’.[11] Invoquem essa promessa por meio do jejum. O jejum, ou a existência de um vazio físico no nosso corpo, abrirá o espaço espiritual necessário para que recebamos a plenitude do evangelho” (ênfases adicionadas).[12]

Elder Condie também descreveu a necessidade de estudar as escrituras e orar, em combinação com o jejum, para tomar decisões importantes em nossas vidas:

“Talvez vocês estejam tomando decisões a respeito da missão, da futura carreira e, finalmente, do casamento. Ao lerem as escrituras e orarem em busca de orientação, talvez não consigam enxergar a resposta na forma de palavras impressas num papel, mas à medida que lerem, receberão fortes impressões, inspirações e, conforme a promessa, o Espírito Santo ‘vos mostrará todas as coisas que deveis fazer’”.[13], [14]

O versículo 7 fornece mais informações essenciais acerca da observância da lei de jejum: “Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?” Repartir nosso alimento com o faminto é uma parte importante do jejum, sem a qual o jejum estaria incompleto.

Podemos dar pão ao que tem fome de diversas formas. A maneira estabelecida na Igreja hoje em dia é de dar uma oferta de jejum generosa consistindo-se de, no mínimo, o valor das refeições que não comemos durante o jejum, ou muito mais se pudermos pagar.[15] Nosso jejum não é considerado completo sem o pagamento de uma oferta de jejum.

O termo “pobres abandonados” refere-se aos desabrigados. A Igreja tem programas onde as ofertas de jejum são usadas para dar assistência aos desabrigados. As ofertas de jejum e o Sistema de Bem-estar da Igreja têm o objetivo de ajudar os pobres da Igreja a não ficarem desabrigados—provendo a assistência necessária para que eles não percam suas casas.[16]

“Os nus” é um eufemismo que quer dizer sem bens materiais. Quando Jó perdeu todos seus bens materiais, ele declarou: “… Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá [para a terra]; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor”.[17]

“E não te escondas da tua carne” significa que cada um de nós temos uma obrigação especial de ajudar nossos familiares. Nossa responsabilidade para com as nossas famílias vai muito além de simplesmente prover comida, roupa e abrigo. Mesmo que nos encontremos ocupados e sobrecarregados com as tarefas diárias, certamente podemos encontrar tempo para segurar uma criancinha no colo, ler uma história para ela e expressar desta e outras formas nosso carinho, amor e compromisso que unem pais e filhos. Semelhantemente, crianças mais velhas e adolescentes precisam de cuidados e amor constantes, que a família deve prover; e até mesmo filhos adultos com suas próprias famílias dependem de seus pais e irmãos para fortalecimento e suporte emocional. Os netos terão uma conexão emocional especial com seus avós, se a responsabilidade primordial de criar e disciplinar for dos pais, fazendo com que o papel dos avós seja o de amar e aceitar incondicionalmente seus netos.

O Sistema de Bem-estar da Igreja é estabelecido sob o princípio de que cada individual tem a responsabilidade primordial de prover para si mesmo. Se o indivíduo cair em situações financeiras difíceis e for incapaz de prover para si mesmo, a responsabilidade recairá, primeiramente, sobre a família; somente quando os familiares não puderem ajudar, a Igreja oferecerá assistência financeira.[18] Por fim, é a responsabilidade do indivíduo de encontrar independência financeira, sendo capaz de prover para si mesmo novamente o mais rápido possível.

Há muitas pessoas na sociedade, entretanto, que confundem rede de segurança para obter-se ajuda temporária com uma rede para relaxar:

“Ai de vós, homens pobres, cujo coração não está quebrantado, cujo espírito não é contrito e cujo ventre não está satisfeito e cujas mãos não cessam de se apoderar de bens alheios, cujos olhos estão cheios de cobiça e que não trabalhais com as próprias mãos!”[19]

Nos versículos 8 até 14 o Senhor descreve bênçãos obtidas com a observância correta da lei de jejum. O versículo 8 começa: “Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda”.

O uso do pronome singular “tua” e “ti” indica que o Senhor está se dirigindo a cada um de nós individualmente, ao invés de a um grupo. “Romperá a tua luz como a alva” significa a luz de inspiração e revelação: Seremos guiados pelo Senhor, a inspiração dos céus estarão disponíveis a cada um de nós. “A tua cura apressadamente brotará” significa que o Senhor sustentar-nos-á com saúde e força. A frase “a tua justiça [indo] adiante de ti” significa que a retidão pessoal serve como defesa contra o mal—assim como um vanguarda em uma operação militar prover proteção ao ir na frente do exército. “A glória do Senhor [sendo] a tua retaguarda” compara-se com os olhos cuidadosos do Senhor com uma força armada protegendo na retaguarda, para evitar ataques vindo daquela direção. Assim, a proteção do Senhor para aqueles que observa corretamente a lei de jejum é comparada como sendo acompanhado por um exército durante o período de tribulações.

O versículo 8 contém um quiasma:

A: (8) Então romperá a tua luz como a alva,
B: e a tua cura apressadamente brotará,
B: e a tua justiça irá adiante de ti,
A: e a glória do Senhor será a tua retaguarda.

Quando somos protegidos pelo Senhor, somos fortalecidos e serviremos como testemunhas para outras pessoas que reconhecerão a mão do Senhor em nossas vidas devido a nossa retidão pessoal. “A tua cura”, ou bem-estar físico, é comparado com “a tua justiça”, ou bem-estar espiritual.

O versículo 9 continua descrevendo as bênçãos: “Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente”. Que grande bênção é ter o Senhor respondendo nossas orações! O Senhor estabelece alguns outros requisitos; só receberemos as bênçãos prometidas se evitarmos o mal. “Tirar do meio de ti o jugo” significa eliminar a opressão e escravidão do pecado. “O estender do dedo” significa apontar—participando em fofocas ou apontando as falhas dos outros. Em nossa sociedade hoje em dia, outro significado para este termo seria fazer um gesto vulgar e insultante com os dedos;[20] não há dúvidas que Isaías realmente viu nossos dias. “Falar iniquamente” significa falar mentiras ou ficar obcecado com as coisas do mundo que não têm nenhum valor eterno.

O versículo 10 descreve bênçãos que são dadas aos que jejuam: “E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia”.[21] “Abrir a nossa alma ao faminto” é o mesmo que “fartar a alma aflita”—fazemos isto quando pagamos uma oferta de jejum generosa. “Então a tua luz nascerá nas trevas” é o mesmo que “a tua escuridão será como o meio-dia”. O significado desta passagem é que a luz dos céus trazidas por meio de inspiração iluminará nossos caminhos num mundo de escuridão e tumultos, como se estivéramos andando em plena luz do sol ao meio-dia. Até em tempos de tribulações, a luz orientadora do Senhor será como o meio-dia, espiritualmente falando; apesar de estarmos rodeados de escuridão e mal.

No versículo 11, o Senhor usa a metáfora da água para representar a orientação espiritual: “E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”. Inspiração e revelação dos céus[22] guiar-nos-ão continuamente se guardarmos a lei de jejum.

Estes princípios foram apresentado nas palavras deste hino em inglês:

Através de jejum viemos a Ti,
E rogamos que Teu Espirito
Purifique nossos corações, expulse o medo
E nos alimente com Seu amor.

Que através deste pequeno sacrifício possamos lembrar
Que a força e vida que recebemos a cada dia
São bênçãos sagradas enviadas por Ti—
Encha-nos de gratidão, é o que pedimos-Te.

Que nosso jejum possa encher-nos de amor
Por todos os Seus filhos necessitados.
Que possamos compartilhar nossas abundâncias,
Para abençoar Suas ovelhas, e alimentar Seus cordeiros.[23]

Jeffrey R. Holland descreveu as bênçãos que receberemos se pagarmos nossos dízimos e ofertas:

“Devemos pagá-los [dízimos e ofertas] como expressão pessoal de amor por um Pai Celestial generoso e misericordioso. Por meio de Sua graça, Deus reparte o pão com o faminto e veste o pobre. Isso incluirá todos nós, quer temporal quanto espiritualmente, diversas vezes durante nossa vida. Para cada um de nós, o evangelho e suas bênçãos são como o amanhecer que afasta a escuridão da ignorância e do pesar, do medo e do desespero. Por todas as nações, Seus filhos O chamam e o Senhor responde. Ao espalhar Seu evangelho pelo mundo, Deus desfaz as ataduras do jugo e liberta os oprimidos. Seu amor generoso torna a vida de nossos membros, ricos ou pobres, próximos ou distantes, ‘como um jardim regado [por] um manancial, cujas águas nunca faltam’”.[24]

Joseph B. Wirthlin, ao citar os versículos 9 e 11, testificou sobre as grandes bênçãos disponíveis quando observamos a lei de jejum corretamente:

“O jejum feito com o devido espírito e à maneira do Senhor irá revigorar-nos espiritualmente, fortalecer nossa autodisciplina, encher nosso lar de paz, iluminar nosso coração com alegria, fortificar-nos contra a tentação, preparar-nos para os momentos de adversidade e abrir as janelas do céu”.[25]

Os versículos 9 até 11 contêm um quiasma:

A: (9) Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui.
B: Se tirares do meio de ti o jugo,
C: o estender do dedo,
C: e o falar iniquamente;
B: (10) E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.
A: (11) E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos ….

As bênçãos descritas neste quiasma depende de nossa decisão de ajudarmos nossos semelhantes a livrarem-se da escravidão do pecado, provendo para os famintos, evitando a fofoca, insultos e mentiras. A frase “Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui” corresponde-se com “o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos”. O Senhor ouvirá nossas orações e nos guiará continuamente, provendo revelações—tão essencial quanto a água para a alma sedenta.

O versículo 12 descreve as bênção da coligação de Israel, relacionando especialmente a nós nos últimos dias: “E os que de ti procederem edificarão as antigas ruínas; e levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar”. Aqueles que cumprem a lei de jejum terão o privilégio de participarem na coligação de Israel e no estabelecimento de Sião. “Reparador das roturas” refere-se a Neemias, que reconstruiu as muralhas ao redor de Jerusalém no final do cativeiro babilônico.[26] Sua obra foi um protótipo para os que estabeleceriam Sião nos últimos dias. Espiritualmente falando, “restaurador de veredas para morar” pode estar se referindo à restauração nos últimos dias do evangelho e da obra do Profeta Joseph Smith. Levantar “os fundamentos de geração em geração” significa o selamento de famílias através das ordenanças sagradas do templo, como uma cadeia ininterrupta no decorrer de muitas gerações.

Em um nível mais pessoal e espiritual, edificar “as antigas ruínas” pode ser que signifique ensinar às novas gerações sobre a fé e doutrina de seus ancestrais. Levantar “os fundamentos de geração em geração” pode ser que seja quando uma criancinha é ensinada a verdade, isto não somente abençoará a vida desta criança, mas como também a de seus descendentes por muitas gerações. “Reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar” pode ser que signifique ser um pacificador—aquele que ensina o altruísmo, a empatia e a evitar contendas. Estas são as tarefas das mulheres e portadores do sacerdócio justos ao ensinarem seus rebanhos.

Em uma revelação moderna, o Senhor referiu-se a esta passagem em Isaías e seu cumprimento:

“Sião não será removida de seu lugar, apesar de seus filhos estarem dispersos.
“Os que permanecerem e forem puros de coração retornarão para suas heranças, eles e seus filhos, com cânticos de eterna alegria, para edificar os lugares desolados de Sião—
“E todas estas coisas para que os profetas se cumpram” (ênfases adicionadas).[27]

O versículo 13 fala sobre a observância do Dia do Santificado, adicionando sua observância à da lei de jejum, a fim de qualificar-nos para receber as bênçãos do Senhor: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras”—O Senhor requer que guardemos o Dia Santificado fazendo e falando o que Ele deseja—não o que nós desejamos. Desviar do pé do sábado significa não seguir nossos próprios caminhos naquele dia—andando somente no caminho que o Senhor deseja que sigamos.

O versículo 14 finaliza a lista de bênçãos a serem recebidas ao obedecer a lei de jejum e guardar o Dia do Senhor: “Então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse”.[28] As bênçãos de Jacó—isto é, as bênçãos do Convênio Abraâmico—foram prometidas àqueles que guardam o Dia do Senhor e obedecem a lei de jejum. O “cavalgar sobre as alturas da terra” significa alcançar nosso potencial máximo—servindo como líderes para os outros filhos de Deus e recebendo a plenitude das bênçãos que o Senhor tem reservado para cada um de nós. Isaías termina seu discurso prestando seu testemunho acerca da fonte das doutrinas que ele tem ensinado: “porque a boca do Senhor o disse”.

O Presidente Spencer W. Kimball aconselhou:

“O dia do Senhor é um dia sagrado no qual se deve realizar coisas dignas e sagradas. A abstinência do trabalho e recreação é importante, mas insuficiente. O dia do Senhor exige pensamentos e atos construtivos, e se a pessoa permanece ociosa, nada fazendo durante esse dia, ela o está quebrando. Para observá-lo adequadamente, tem-se que se ajoelhar em oração, preparar lições, estudar o evangelho, meditar, visitar os enfermos e oprimidos, dormir, ler coisas sadias e benéficas, e frequentar, nesse dia, todas as reuniões designadas. Deixar de fazer essas coisas constitui pecado de omissão”.[29]

Para sermos guiados continuamente pela voz do Senhor devemos guardar a lei de jejum, pois assim disse o Senhor. Muitas bênçãos estão reservadas par os que observam a lei de jejum e guardam o Dia Santificado de acordo com a vontade do Senhor.

NOTAS

[1]. Ver Apocalipse 1:10; Alma 29:1-2; D&C 19:37; 29:4; 30:9; 33:2; 42:6.
[2]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: 1971, Elsevier Publishing Company, 52 Vanderbilt Avenue, New York, NY 10017, Yom Kippur, p. 838.
[3]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 482-484.
[4]. O versículo 2 contém um quiasma: Me procuram cada dia/saber os meus caminhos/justiça//a ordenança do seu Deus/direitos da justiça/têm prazer em se chegarem a Deus.
[5]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 513.
[6]. Victor L. Brown, “Uma Visão da Lei do Jejum”, A Liahona, Fevereiro de 1978, p. 110.
[7]. Ver Ester 4:1, 3; Jeremias 6:26; Daniel 9:3; Jonas 3:6; Mateus 11:21; Lucas 10:13; Mosias 11:25.
[8]. Mateus 6:16-18.
[9]. Ver Joel 2:12-13; Helamã 3:35; Morôni 6:5.
[10]. Carl B. Pratt, “As Bençãos de um Jejum Adequado”, A Liahona, Novembro de 2004, p. 47.
[11]. Isaías 58:6.
[12]. Spencer J. Condie, “Tornar-nos um Grande Benefício para Nossos Semelhantes”, A Liahona, Julho de 2002, p. 48-50.
[13]. 2 Néfi 32:5.
[14]. Spencer J. Condie, “Tornar-nos um Grande Benefício para Nossos Semelhantes”, A Liahona, Julho de 2002, p. 48-50.
[15]. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Sempre Fiéis: 2004, p. 68.
[16]. Thomas S. Monson, “Sê o Exemplo”, A Liahona, Janeiro de 1997, p. 48.
[17]. Jó 1:21.
[18]. Sempre Fiéis, 2004, p. 184-185.
[19]. Doutrina e Convênios 56:17.
[20]. Parry, et al., 1998, p. 515.
[21]. O versículo 10 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Abrires/tua alma/faminto//aflita/a alma/fartares. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[22]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 11 e comentário pertinente.
[23]. Hymns of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias], 1985, Hino número 139, “In Fasting We Approach Thee” [“Através de Jejum Viemos aTi”], estrofes 1-3.
[24]. Jeffrey R. Holland, “Como um Jardim Regado”, A Liahona, Janeiro de 2002, p. 37.
[25]. Joseph B. Wirthlin, “A lei de Jejum”, A Liahona, Julho de 2001, p. 91.
[26]. Ver Neemias 6:1; também Neemias 2:17-20; 3:4.
[27]. D&C 101:17-19.
[28]. Os versículos 11 até 14 contêm um quiasma: O Senhor te guiará/fartará a tua alma … fortificará os teus ossos/edificarão as antigas ruínas/levantarás os fundamentos/reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar/desviares o teu pé … fazeres a tua vontade no meu santo dia//chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor/nem falares as tuas próprias palavras/te deleitarás no Senhor/te farei cavalgar sobre as alturas da terra/te sustentarei com a herança de teu pai Jacó/boca do Senhor.

CAPÍTULO 57: “Perece O Justo … É Levado Antes Do Mal”

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O capítulo 57 começa com uma descrição do estado abençoado dos justos que perecem. Eles são levados para longe do mal que está para vir, entrando em um estado de paz; os justos que permanecem são consolados, entendendo a condição espiritual dos que partiram. Logo, passa a descrever o estado dos iníquos. Aqueles que estão envolvidos em iniquidade esperam pela repreensão do Senhor. Os iníquos estão em um estado contínuo de perturbações e inquietudes, sem a influência e paz do Espírito.

Os versículos 1 e 2 descrevem o estado dos justos que perecem. O versículo 1 começa: “Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, e os homens compassivos são recolhidos, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal”. “Considere isso em seu coração” significa um luto ou sofrimento longo. O período de luto para os justos que morrem é curto, porque aqueles que sobrevivem sabem que os justos partiram deste estado onde a injustiça é prevalecente; eles entraram em um estado de paz e descanso. Outro significado para este versículo é que Isaías prevê uma geração justa, merecedora das bênçãos do Senhor, desaparecendo da face da Terra. Os julgamentos de Deus viriam, então, sobre a nova geração iníqua porque os justos teriam perecido.[1]

O versículo 2 continua: “Entrará em paz; descansarão nas suas camas, os que houverem andado na sua retidão”.[2] A palavra hebraica traduzida como “camas” neste versículo é “féretros”, [3] ou lugares de sepultamento.[4] Após a morte, os justos receberão paz e descansarão em seus túmulos, pois viverão em retidão.

Em Doutrina e Convênios o Senhor promete aos justos: “Porque os que viverem herdarão a Terra e os que morrerem descansarão de todos os seus labores e suas obras segui-los-ão; e nas mansões de meu Pai, que lhes preparei, receberão uma coroa”.[5] João registrou, semelhantemente, no Novo Testamento: “E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem”.[6] Baseando-se nestas comparações, é claro o que Isaías quis dizer.

Começando no versículo 3, o assunto muda para descrever as condições contrastantes dos iníquos. Isaías apresenta evidências, como em um litígio: “Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira, descendência adulterina, e de prostituição”. Isaías usa estas designações para repreender àqueles que estão envolvidos com más tradições; ele não acusa os filhos pelos pecados de seus pais iníquos. O sentido intencionado é que esta grande iniquidade já existe por muitas gerações. Não só o profeta descreve a iniquidade da antiga Israel; mas também usa esta iniquidade como um exemplo de corrupção pessoal e coletiva de nações dos últimos dias, que antes eram justas e abençoadas pelo Senhor.

No versículo 4, Isaías repreende os iníquos por sua insolência: “De quem fazeis o vosso passatempo? Contra quem escancarais a boca, e deitais para fora a língua? Porventura não sois filhos da transgressão, descendência da falsidade[?]” O termo “descendência da falsidade” significa “filhos mentirosos”. O comportamento de zombaria e insolência dos ímpios é evidência de seus pecados.

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

A: (3) Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira,
B: descendência adulterina, e de prostituição.
C: (4) De quem fazeis o vosso passatempo?
C: Contra quem escancarais a boca, e deitais para fora a língua?
B: Porventura não sois filhos da transgressão,
A: descendência da falsidade[?]—

Este quiasma afirma que a mensagem do profeta foi dirigida aos iníquos insolentes que zombam do Senhor e fazem pouco dos que creem Nele. Suas iniquidades têm existido por gerações. “Chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira” é equivalente à “descendência da falsidade”; os que estiverem envolvidos em tradições malignas serão desafiados a ouvirem a repreensão do profeta.

O versículo 5 continua a acusação de Isaías: “Que vos inflamais com os deuses debaixo de toda a árvore verde, e sacrificais os filhos nos ribeiros, nas fendas dos penhascos?” A versão da Bíblia de King James, em inglês, apresenta: “… sacrificais os filhos nos vales sob as fendas dos penhascos?”

Esta descrição corresponde com os pecados de Acaz e Manassés, reis injustos de Judá, usando palavras semelhantes ao relato histórico em 2 Crônicas.[7] “Debaixo de toda a árvore verde” refere-se à prática cerimonial idólatra de sexo ilícito,[8] mas o significado intencionado por Isaías para nós nos últimos dias é todo tipo de pecado sexual. “Vos inflamais” significa ficar excitado. “Nos vales” refere-se a um local—o vale de Hinom—onde crianças eram sacrificadas como ofertas. Antigamente, o sacrifício de crianças era muito comum nas práticas idólatras.[9] O equivalente moderno disto é o aborto, abuso e negligência infantil por parte dos pais devido ao egoísmo.

O versículo 6 apresenta uma breve menção dos castigos para esta iniquidade brutal: “Nas pedras lisas dos ribeiros está a tua parte; estas, estas são a tua sorte; sobre elas também derramaste a tua libação, e lhes ofereceste ofertas; contentar-me-ia eu com estas coisas?” O significado da última frase é “não deveria estar irado com estas coisas?” As ofertas de carne e bebidas eram designadas para a adoração apropriada ao Senhor nos templos sagrados,[10] mas não eram aceitas pelo Senhor quando oferecidas em iniquidade ou a ídolos. O iníquo sofrerá as mesmas consequências que Golias sofreu nas mãos de Davi, que matou o gigante com pedras lisas escolhidas do ribeiro.[11] Suas práticas idólatras deixar-lhes-ão vulneráveis à destruição. Apesar de serem poderosos militarmente, sem a orientação e proteção do Senhor, os iníquos serão derrotados com mínimo esforço.

O versículo 7 continua o litígio, com Isaías apresentando mais evidências: “Sobre o monte alto e levantado pões a tua cama; e lá subiste para oferecer sacrifícios”.[12] A frase “sobre o monte alto e levantado pões a tua cama” refere-se novamente à prática idólatra de sexo ilícito, praticado em bosques de árvores e em lugares altos.[13] O significado de “cama” neste versículo é “lugar de copulação”,[14] ao contrário do significado de “cama” apresentado anteriormente no versículo 2. As práticas idólatras condenadas pelo Senhor incluem o adultério e fornicação, assassinato, adoração de falsos deuses e sacrifício infantil.

O versículo 8 continua o discurso comprovatório de Isaías: “E detrás das portas, e dos umbrais puseste o teu memorial; pois te descobriste a outros que não a mim, e subiste, alargaste a tua cama, e fizeste aliança com alguns deles; amaste a sua cama, onde quer que a viste”. Isaías usa o adultério como uma metáfora para a adoração de ídolos. As coisas de maior valor para os iníquos são ações secretas cometidas a portas fechadas—inclusive adultério, tráficos e combinações secretas de assassinatos—com propósitos malignos. Suas iniquidades secretas, eventualmente, serão anunciadas em cima dos telhados.[15] A referência de Isaías aos umbrais formam um grande contraste entre os iníquos e a ordem do Senhor dada a Moisés de escrever os mandamentos “nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”.[16]

Morôni, o último profeta do Livro de Mórmon, transmite uma severa advertência aos leitores dos últimos dias:

“Portanto, ó gentios, é sabedoria de Deus que estas coisas vos sejam mostradas, a fim de que, por meio delas, vos arrependais de vossos pecados e não permitais que vos dominem essas combinações assassinas, instituídas para a obtenção de apoder e lucro—e a obra, sim, a obra de destruição vos sobrevenha; sim, a espada da justiça do Deus Eterno cairá sobre vós para vossa ruína e destruição, se permitirdes que estas coisas aconteçam.
“Portanto o Senhor vos ordena que quando virdes essas coisas surgirem entre vós, estejais conscientes de vossa terrível situação por causa desta combinação secreta que existirá entre vós; ou ai dela, em virtude do sangue daqueles que foram mortos; porque eles clamam desde o pó por vingança contra ela e contra os que a instituíram.
“Pois acontece que quem a institui visa destruir a aliberdade de todas as terras, nações e países; e causa a destruição de todos os povos, pois é instituída pelo diabo, que é o pai de todas as mentiras; o mesmo mentiroso que benganou nossos primeiros pais, sim, o mesmo mentiroso que fez com que o homem cometesse assassinatos desde o princípio; que endureceu o coração dos homens a tal ponto que mataram os profetas e apedrejaram-nos e expulsaram-nos desde o princípio”.[17]

O versículo 9 continua a metáfora do adultério: “E foste ao rei com óleo, e multiplicaste os teus perfumes e enviaste os teus embaixadores para longe, e te abateste até ao inferno”.[18] A antiga Israel apóstata—bem como o seu homólogo moderno—tem buscado pela glória e gratificações mundanas na idolatria e com os reis do mundo. “O rei” foi traduzido do nome “Moloque” no original hebraico[19]—um ídolo horrível, referido como as abominações dos filhos de Amon—cujos filhos tinham que passar pelo fogo, ou seja, serem sacrificados como ofertas.[20] Israel buscou intensamente pelos deuses pagãos a fim de adorá-los, aprofundando-se em seus pecados.

O versículo 10 descreve o resultado de Israel—juntamente com seu análogo moderno—exceder-se em iniquidades: “Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança; achaste novo vigor na tua mão; por isso não adoeceste”. “Na tua comprida viagem” significa o fardo das tarefas, tanto boas quanto más, da Israel antiga e moderna Israel;[21] o fardo seria aliviado somente se os atos justos fossem contínuos. Além disso, para evitar se cansar de fazer o que é justo, devemos manter nossa força e resolução, não correndo mais depressa do que nos permitam as nossas forças.[22]

Paulo advertiu: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”.[23] O Senhor deu uma advertência semelhante aos Seus discípulos dos últimos dias: “Portanto não vos canseis de fazer o bem, porque estais lançando o alicerce de uma grande obra. E de pequenas coisas provém aquilo que é grande”.[24]

No versículo 11, o Senhor desafiou a antiga Israel e seu homólogo moderno: “Mas de quem tiveste receio, ou temor, para que mentisses, e não te lembrasses de mim, nem no teu coração me pusesses? Não é porventura porque eu me calei, e isso há muito tempo, e não me temes?” Malfeitores antigos e modernos temem ídolos mudos ou adversários do mundo mais que a Deus, de quem eles nunca se lembram. Entretanto, Deus tem se refreado para não enviar destruição sobre eles. Temer aos homens mais que a Deus é um sério afronto ao nosso Criador e Protetor.

Como foi registrado no Novo Testamento, os governantes dos judeus—alguns dos quais acreditavam, secretamente, nos ensinamentos de Jesus Cristo—temeram mais aos homens do que a Deus:

“Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
“Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus”.[25]

No versículo 12, o Senhor proclama: “Eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão”. Mesmo as coisas boas feitas pelos malfeitores antigos e modernos—apesar de serem reconhecidas por Deus como boas—não lhes trarão proveito. Boas ações feitas com intenções errôneas não servirão de nada.

Os versículos 10 até 12 contêm um quiasma:

A: (10) Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança; achaste novo vigor na tua mão; por isso não adoeceste.
B: (11) Mas de quem tiveste receio, ou temor, para que mentisses,
C: e não te lembrasses de mim,
C: nem no teu coração me pusesses?
B: Não é porventura porque eu me calei, e isso há muito tempo, e não me temes?
A: (12) Eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão.

“Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança …” compara-se com “eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão”. Esta comparação mostra que sua “comprida viagem” incluía obras justas e injustas; então, nem mesmo seus atos justos serão reconhecidos pelo Senhor.

No versículo 13, a antiga Israel e seu homólogo moderno confiam em vão nos ídolos para proteção: “Quando clamares, livrem-te os ídolos que ajuntaste; mas o vento a todos levará, e um sopro os arrebatará; mas o que confia em mim possuirá a terra, e herdará o meu santo monte”— “Monte” significa “nação”; ou, neste caso, “minha santa nação”.[26] Somente aqueles que confiam no Senhor possuirão a Terra e receberão uma herança do Senhor; os que O rejeitarem serão levados, como pelo vento.

O versículo 14 descreve o começo do arrependimento: “E dir-se-á: Aplanai, aplanai a estrada, preparai o caminho; tirai os tropeços do caminho do meu povo”.[27] A frase “preparai o caminho” significa preparar o caminho estreito e apertado através da restauração do conhecimento do Plano de Salvação.[28] “Os tropeços” referem-se ao sistema de crenças corrompido do povo, que o impedem de reconhecer ou aceitar a verdade.

No versículo 15 Isaías apresenta o Senhor e o que Ele proferiu: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”. Os contritos e abatidos de espírito habitarão com Deus nos céus; Ele os receberá e os confortará.

Ezra Taft Benson advertiu: “Orgulho é o pecado universal, o grande vicio…. O antídoto para o orgulho é humildade―mansidão, submissão…. Deus terá um povo humilde. Podemos escolher ser humildes ou podemos ser compelidos à humildade” (ênfases adicionadas).[29] Alma disse, “Benditos são os que se humilham sem serem compelidos a ser humildes”.[30]

No versículo 16, o Senhor declara: “Porque não contenderei para sempre, nem continuamente me indignarei; porque o espírito perante a minha face se desfaleceria, e as almas que eu fiz”. Deus declara que Ele não contenderia para sempre, nem continuamente se indignaria. Caso contrário, os propósitos do Senhor em criar o homem não seriam cumpridos.

Bem como o Senhor declarou ao irmão de Jared:

“Perdoarei a ti e a teus irmãos vossos pecados; mas não pecareis mais, porque vos lembrareis de que meu Espírito não lutará para sempre com o homem; portanto, se pecardes até estardes plenamente amadurecidos, sereis afastados da presença do Senhor” (ênfases adicionadas).[31]

Em Seu prefácio das revelações dos últimos dias compreendendo Doutrina e Convênios, o Senhor declarou: “… aquele que se arrepender e cumprir os mandamentos do Senhor será perdoado;
“E aquele que não se arrepender, dele será tirada até a luz que recebeu, pois meu Espírito não contenderá sempre com o homem, diz o Senhor dos Exércitos” (ênfases adicionadas).[32] O Senhor confirma o sentido intencionado por Isaías.

Os versículos 15 e 16 contêm um quiasma:

A: (15) Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito;
B: como também com o contrito
C: e abatido
D: de espírito, para vivificar
D: o espírito
C: dos abatidos,
B: e para vivificar o coração dos contritos.
A: (16) Porque não contenderei para sempre, nem continuamente me indignarei; porque o espírito perante a minha face se desfaleceria, e as almas que eu fiz.

O Senhor declara que Ele não se indignará quando os homens tornarem-se abatidos de espírito e contritos perante Ele. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade” correlaciona-se com “Porque não contenderei para sempre, nem continuamente me indignarei”.

No versículo 17, o Senhor explica sua indignação: “Pela iniqüidade da sua avareza me indignei, e o feri; escondi-me, e indignei-me; contudo, rebelde, seguiu o caminho do seu coração”.[33] “O caminho do seu coração” contrasta-se com o caminho do Senhor, ou o Plano de Salvação.[34] O Senhor se indignou por causa da iniquidade e avareza da antiga Israel, juntamente com seu homólogo moderno. “Rebelde” significa apóstata, ou que voluntariamente se afastou da verdade.[35]

Em Doutrina e Convênios o Senhor declara: “Eu, o Senhor, estou irado com os iníquos; estou negando meu Espírito aos habitantes da Terra. Em minha ira jurei e decretei guerras sobre a face da Terra …”.[36]

No versículo 18, o Senhor declara: “Eu vejo os seus caminhos, e o sararei, e o guiarei, e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos seus pranteadores”. Os caminhos da antiga Israel e seu homólogo moderno, apesar de iníquos, são conhecidos pelo Senhor. Ele sem dúvidas também vê sua bondade intrínseca. “Os seus pranteadores” significa os justos que viram a iniquidade de Israel e lamentaram seu estado; o Senhor os consolará.

O versículo 19 descreve o arrependimento e perdão: “Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para o que está longe; e para o que está perto, diz o Senhor, e eu o sararei”. “Os frutos dos lábios” significa palavras de oração, louvor ou agradecimento; ou pedidos de graça ou perdão ao pecador.[37] O arrependimento traz a paz e sara (perdoa) os que estão perto ou longe.

O versículo 19 foi parafraseado pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento: “E, vindo, ele [Jesus] evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto”.[38] O Senhor Jesus Cristo pregou Seu evangelho aos que estavam perto—os que moravam em Jerusalém—e também aos que moravam em outras partes do mundo, ou seja, aos nefitas no Continente Americano, e outros da casa de Israel dispersos para lugares longínquos.[39]

Nos versículos 20 e 21, o Senhor descreve o contínuo estado perturbado dos iníquos. O versículo 20 começa: “Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo”. Como as águas revoltas do mar, os corações e mentes dos ímpios estão continuamente perturbados. O uso perito de um símile por parte de Isaías fornece uma imagem clara da situação dos iníquos.

Paulo, ao escrever aos Efésios, usou este símile de Isaías para descrever o estado do iníquo: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (ênfases adicionadas).[40] Aqueles que não são guiados pelo Espírito, devido suas iniquidades, são levados de lá para cá por todas novas ideias que aparecem. Seus corações estão constantemente inquietos e perturbados.

Tiago, ao instruir àqueles que buscam conhecimento de Deus, ofereceu uma advertência semelhante baseada nesta símile usada por Isaías: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte”.[41]

O versículo 21 resume: “Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus”.[42] Em contraste com as bênçãos descritas para os penitentes nos versículos 18 e 19, o Senhor não permitirá a influência de paz do Espírito de confortar àqueles que não merecem.

Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma:[43]

A: (20) Mas os ímpios
B: são como o mar bravo,
C: porque não se pode aquietar,
C: e as suas águas lançam de si lama e lodo.
B: (21) Não há paz
A: para os ímpios, diz o meu Deus.

O mar não se pode aquietar, lançando de si lama e lodo; este é um símile que mostra os corações dos que estão perturbados e agitados, por falta da influência de paz do Espírito. “Como o mar bravo” complementa “não há paz”. Os iníquos estão sempre inquietos, nunca estão em paz.

NOTAS

[1]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 501.
[2]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Perece o justo/os homens compassivos/o justo//entrará em paz/ descansarão/os que houverem andado na sua retidão.
[3]. Féretro, significado de: Caixão; caixa mortuária na qual é colocado o cadáver a ser enterrado; caixa de madeira utilizada para enterrar os mortos. História. Entre os antigos romanos, tipo de maca através da qual os restos mortais dos inimigos eram transportados. (Etm. do latim: feretrum.i): Dicionário online de Português, www.dicio.com.br/ feretro/
[4]
. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 4904, p. 1012.
[5]. Doutrina e Convênios 59:2.
[6]. Apocalipse 14:13.
[7]. Ver 2 Crônicas28:3-4; 33:6.
[8]. Ver 1 Reis 14:23; 2 Reis 16:4; 17:10; 2 Crônicas 28:4; Jeremias 2:20; 3:6, 13; Ezequiel 6:13; também Isaías 1:29; 17:8; 27:9 e comentário pertinente.
[9]. Ver Levítico 18:21; 2 Reis 23:10; Jeremias 32:35; Abraão 1:8; Mórmon 4:14.
[10]. Ver Levítico 23:13; 6:14-18.
[11]. Ver 1 Samuel 17:40.
[12]. Os versículos 5 até 7 contêm um quiasma: Que vos inflamais … e sacrificais os filhos/nas pedras lisas/estas são a tua sorte/derramaste a tua libação//lhes ofereceste ofertas/contentar-me-ia eu com estas coisas/sobre o monte alto e levantado/lá subiste.
[13]. Ver 1 Reis 14:15, 23; 2 Reis 17:10-11; 18:4; 23:14; 2 Crônicas 14:3; 17:6; 31:1; 33:3; Jeremias 17:2; Miquéias 5:14.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4904, p. 1012.
[15]. Ver Lucas 8:17; 12:3; 2 Néfi 27:11; Mórmon 5:8; D&C 88:108-110.
[16]. Deuteronômio 11:20.
[17]. Éter 8:23-25; ver versículos 18-25. Ver também Helamã 2:8; 3 Néfi 7:6, 9; Éter 11:15; Moisés 5:51.
[18]. Os versículos 8 e 9 contêm um quiasma: Detrás das portas, e dos umbrais puseste o teu memorial/te descobriste a outros/alargaste a tua cama/fizeste aliança//com alguns deles/amaste a sua cama/foste ao rei com óleo/te abateste até ao inferno.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4432, p. 574.
[20]. Ver Dicionário Bíblico—Moleque; Ver também Levítico 20:2-5; 2 Reis 23:10; 2 Crônicas 28:3.
[21]. Ver Spencer W. Kimball, “Não Vos Canseis pelo Caminho”, A Liahona, Março de 1981, p. 108.
[22]. D&C 10:4.
[23]. Gálatas 6:9; Ver também 2 Tessalonicenses 3:13.
[24]. D&C 64:33.
[25]. João 12:42-43; Ver também Lucas 9:26; Atos 4:19; D&C 122:9.
[26]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[27]. Os versículos 13 e 14 contêm um quiasma: Livrem-te os ídolos que ajuntaste/o vento a todos levará/possuirá a terra//herdará o meu santo monte/preparai o caminho/tirai os tropeços do caminho do meu povo.
[28]. Ver Isaías 3:12; 8:11; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[29]. Ezra Taft Benson, “Acautelei-vos do Orgulho,” A Liahona, Julho de 1989, p. 5.
[30]. Alma 32:16.
[31]. Éter 2:15.
[32]. D&C 1:32-33.
[33]. O versículo 17 contém um quiasma: Iniqüidade/me indignei/o feri//escondi-me/indignei-me/rebelde.
[34]. Ver Isaías 3:12; 8:11; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[35].Brown et al., 1996, Número de Strong 7726, p. 1000.
[36]. D&C 63:32-33.
[37]. Parry et al., 1998, p. 509.
[38]. Efésios 2:17.
[39]. Ver 3 Néfi 16:1-4. Ver também João 10:16; 3 Néfi 15:17-24; D&C 10:59.
[40]. Efésios 4:14.
[41]. Tiago 1:6.
[42]. Os versículos 18 até 21 contêm um quiasma: Eu vejo os seus caminhos/o sararei/o guiarei/lhe tornarei a dar consolação/paz//paz/o que está longe/e para o que está perto/o sararei/o mar bravo … não há paz.

CAPÍTULO 56: “Também Os Levarei Ao Meu Santo Monte, E Os Alegrarei Na Minha Casa De Oração”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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Neste capítulo o Senhor declara que nos últimos dias todos aqueles que guardam Seus mandamentos, pertencendo ou não à linhagem de Israel, serão recebidos como parte do povo do convênio—podendo participar integralmente das bênçãos e convênios do Senhor, inclusive das ordenanças do templo. Esta profecia de Isaías foi, em parte, cumprida quando foi revelado a Pedro que o evangelho deveria ser pregado aos gentios. A profecia foi cumprida ainda mais quando foi anunciado pela Primeira Presidência, em 8 de junho de 1978, que todos os homens dignos, membros da Igreja, poderiam receber o sacerdócio, inclusive as bênçãos do templo, sem acepção de raça ou cor. O capítulo termina com uma vívida descrição de ministros que abandonaram o Senhor, contrastado-os com o povo justo que não fazia parte da linhagem do convênio, mas que aceitou o Senhor.

O conceito principal deste capítulo reflete-se nas palavras do hino “Alegres Cantemos”:

Alegres cantemos, não somos estranhos,
Podemos na terra encontrar salvação;
Alegres notícias os povos recebem;
Em breve virá a final redenção (ênfases adicionadas).[1]

O versículo 1 declara: “Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar”. O Senhor adverte que o dia da salvação, quando Ele se manifestará, está prestes a vir. “Justiça”, como foi usado aqui, significa “equidade”.[2] Outros significados encontrados na obra de Isaías incluem justiça social,[3] retribuição,[4] raciocínio são,[5] e um sistema de lei equitativo.[6] O Senhor adverte a todos a fazer justiça.

No versículo 2, o Senhor declara a necessidade de guardar Seus mandamentos: “Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal”.[7] A retidão pessoal nos preparará para o dia do Senhor. “Homem” e “filho do homem” significa qualquer membro da família humana, independente de seus ancestrais ou sexo. Guardar o sábado, ou o dia do Senhor, é um convênio que fazemos com Deus que mostra nosso amor e lealdade a Ele.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo,
B: e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar.
C: (2) Bem-aventurado o homem que fizer isto,
C: e o filho do homem que lançar mão disto;
B: que se guarda de profanar o sábado,
A: e guarda a sua mão de fazer algum mal.

“Guardai o juízo” complementa “guarda a sua mão de fazer algum mal”, que define mais precisamente o significado desta frase. “Fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar” corresponde-se com “que se guarda de profanar o sábado”. Esta equidade quiasmática enfatiza a importância de guardar o dia santificado. Ao guardar o juízo e evitar o mal, juntamente com guardar o dia do Senhor, prepara o homem no caminho da retidão para salvação do Senhor, que está prestes a vir.

Nos versículos 3 até 6, o Senhor declara que aqueles que antes eram excluídos sob a Lei de Moisés seriam um dia recebidos para compartilhar de todas as bênçãos do evangelho, baseando-se somente no princípio de retidão pessoal. O versículo 3 começa: “E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca”. Os estrangeiros—ou seja, aqueles que não eram parte da casa de Israel, mas que aceitaram o evangelho apesar de não serem parte da linhagem do convênio—receberão as mesmas bênçãos que o povo do convênio receber.[8] Os eunucos, que sob a Lei de Moisés eram excluídos,[9] também serão bem-vindos a compartilharem das bênçãos e ordenanças do Senhor, baseando-se na retidão pessoal. Os estrangeiros e os eunucos também representam aqueles que, desde os tempos antigos, eram proibidos de receberem as bênçãos do sacerdócio devido suas descendências.[10]

O versículo 4 declara: “Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança”— A retidão pessoal por guardar os mandamentos seria o único requerimento para receber as bênçãos e convênios do Senhor.

No versículo 5, o Senhor promete grandes bênçãos aos eunucos que O servirem: “Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará”. [11] A palavra hebraica traduzida como “lugar” neste passagem é “família de descendentes”.[12] Aqueles que foram negados a oportunidade de terem filhos durante a vida mortal por causa de problemas físicos, receberão bênçãos ainda maiores baseando-se na retidão pessoal. “Um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará” refere-se ao nome da família sendo perpetuado através de seus descendentes, por toda a eternidade. A casa do Senhor é o lugar onde as bênçãos mencionadas serão concedidas.

No versículo 6 Isaías resume: “E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança”. Isaías declara que as bênçãos do convênio ficariam disponíveis a todos—inclusive aos justos que não fazem parte da linhagem escolhida. “O sábado” não significa somente o dia de descanso e adoração;[13] sob a Lei de Moisés, dias de celebrações importantes eram consideradas como sábados, ou dias santificados.[14] Havia também anos de sábado, ou santificado[15] e anos de júbilo, cada um com requerimentos e observâncias específicos.

Durante Seu ministério terreno o Senhor Jesus Cristo profetizou que o evangelho e as bênçãos do sacerdócio seriam concedidos aos membros da casa de Israel primeiro, e por último aos outros; mas nos últimos dias a ordem seria invertida: “Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.[16]

Néfi predisse estas mesmas coisas acerca das dispensações do evangelho que viria depois dele:

“E chegará o tempo em que ele se manifestará à todas as nações, tanto aos judeus como aos gentios; e depois de haver-se manifestado aos judeus e também aos gentios, ele manifestar-se-á aos gentios e também aos judeus; e os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.[17]

O evangelho seria dado aos gentios, porque os judeus rejeitariam o Messias durante Seu ministério terreno. Na dispensação da plenitude dos tempos, os gentios e outros receberiam as bênçãos do evangelho antes que o povo judeu tivessem a oportunidade de recebê-las.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Porque assim diz o Senhor
B: a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:
C: (5) Também lhes
D: darei na minha casa e dentro dos meus muros
E: um lugar e um nome, melhor do que o de filhos
E: e filhas;
D: um nome eterno darei a cada um deles,
C: que nunca se apagará.
B: (6) E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem,
A: e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança—

A mensagem deste quiasma é que os que foram excluídos de receber as bênçãos do Senhor sob a Lei de Moisés—os que não faziam parte da linhagem do convênio e aqueles incapazes de terem progenitura devido à problemas físicos—serão bem-vindos nos últimos dias a compartilharem de todas as bênçãos do Senhor, baseando-se só na retidão pessoal. “Assim diz o Senhor” corresponde-se com “para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança”. Se amamos o Senhor, daremos ouvidos às Suas palavras. “A respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança” complementa “e aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem”.

O versículo 7 prediz a disponibilidade mundial das ordenanças do templo: “Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios [ou seja, convênios] serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. O Senhor receberia todos os povos, mesmo os que não faziam parte do povo do convênio, no templo e aceitaria suas ordenanças e ofertas. O “meu santo monte” significa o templo e suas sagradas ordenanças e convênios.[18]

Jesus citou parte do versículo 7 quando expulsou os comenciantes e cambistas do templo: “E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.[19]

Desde o tempo de Isaías, esta profecia predizendo que os que não eram da linhagem do convênio receberiam a mensagem, bênçãos e ordenanças do evangelho foi cumprida devido dois acontecimentos.

Primeiro, o Apóstolo Pedro—depois de ter-lhe sido mostrado num sonho que o evangelho seria pregado aos gentios—declarou: “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo”.[20] Depois disto o evangelho foi pregado extensivamente entre os gentios, como é evidente no Novo Testamento nas inúmeras epístolas às congregações de crentes gentios.

Segundo, no dia 8 de junho de 1978 o Presidente Spencer W. Kimball anunciou à Igreja e ao mundo que o tempo havia chegado quando todo homem digno, membro da Igreja, de qualquer raça poderia ser ordenado ao sacerdócio e compartilhar das bênçãos que dele provém, inclusive as bênçãos do templo:

“Ao testemunharmos a expansão da obra do Senhor na Terra, sentimo-nos gratos por terem os povos de muitas nações aceitado a mensagem do evangelho restaurado, filiando-se à Igreja em número cada vez maior. Isso despertou em nós o desejo de conceder a todos os membros dignos da Igreja todos os privilégios e bênçãos que o evangelho proporciona.
“Cônscios das promessas feitas pelos profetas e presidentes da Igreja que nos precederam, de que, a um dado momento no plano eterno de Deus, todos os nossos irmãos dignos receberiam o sacerdócio; e testemunhando a fidelidade daqueles que haviam sido impedidos de recebê-lo, imploramos longa e fervorosamente por esses nossos fiéis irmãos, passando muitas horas na Sala Superior do Templo, a suplicar a orientação divina do Senhor.
“Ele ouviu nossas orações e, por revelação, confirmou que era chegado o dia, há muito prometido, em que todo homem da Igreja fiel e digno poderia receber o santo sacerdócio, com o poder para exercer sua autoridade divina e usufruir, com seus entes queridos, todas as bênçãos que dele provém, incluindo-se as bênçãos do templo. Portanto todos os homens dignos da Igreja podem ser ordenados ao sacerdócio, independentemente de sua raça ou cor. Instruímos os líderes do sacerdócio a seguirem a diretriz de, cuidadosamente, entrevistar todos os candidatos à ordenação, seja ao Sacerdócio Aarônico ou ao de Melquisedeque, para verificar se atendem aos padrões de dignidade estabelecidos.
“Declaramos solenemente que o Senhor deu agora a conhecer sua vontade para bênção de todos os seus filhos, em toda a Terra, que atenderem à voz de seus servos autorizados e se prepararem para receber todas as bênçãos do evangelho”.[21]

A construção de mais de 140 templos também é de grande significância em trazer as bênçãos do evangelho a todo o mundo, tornando disponível as mais altas ordenanças e convênios à muitas nações, sob inspiração dos Presidentes Gordon B. Hinckley e Thomas S. Monson.[22], [23]

O versículo 7 contém um quiasma:

A: (7) Também os levarei ao meu santo monte,
B: e os alegrarei na minha casa de oração;
C: os seus holocaustos
C: e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar;
B: porque a minha casa será chamada casa de oração
A: para todos os povos.

Este quiasma prediz que nos últimos dias o Senhor convidará a todos, independentemente de raça ou descendência, a participarem integralmente das ordenanças e bênçãos do evangelho. “Os levarei ao meu santo monte” corresponde-se com “todos os povos”.

O versículo 8 proclama: “Assim diz o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram”.[24] Outros que não são da linhagem do convênio serão coligados, juntamente com Israel, nos últimos dias.

Os versículos 1 até 8 contêm um quiasma de grande escala:[25]

A: (1) Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar.
B: (2) Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto;
C: que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal.
D: (3) E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo;
E: nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca.
F: (4) Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados,
F: e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:
E: (5) Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará.
D: (6) E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos,
C: todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança,
B: (7) Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.
A: (8) Assim diz o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram.

O enfoque deste quiasma é “porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança”, mostrando que a retidão pessoal é de importância primordial para o indivíduo receber as bênçãos do Senhor —independentemente de linhagem ou condições físicas. “A minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar” complementa “o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel”, identificando a época como sendo a da coligação de Israel quando o Senhor autorizará oferecer as bênçãos do sacerdócio e as bênçãos do templo a todos, basendo-se somente na retidão pessoal. “Que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal” é equivalente a “todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança”, ressaltando a importância da observância do dia santificado como um componente da retidão pessoal.

Nos versículos 9 até 12, Isaías condena a negligência dos líderes e ministros apóstatas de Israel que abandonaram o Senhor—um contraste marcante com os fiéis que não fazem parte do povo do convênio, cujo potencial para as bênçãos é descrito nos versículos anteriores neste capítulo. O povo foi deixado desprotegido dos perigos que virão, devido a grande negligência de seus líderes.

No versículo 9, Isaías prediz o avanço das nações gentias, descrevendo-os metaforicamente como predadores ferozes que atacariam o desprevinido povo do convênio: “Vós, todos os animais do campo, todos os animais dos bosques, vinde comer”. Como leões vorazes, as nações gentías devorariam e dispersariam o rebanho desprotegido.

Os versículos 10 até 12 descrevem ministros e líderes gananciosos da antiga Israel—comparando-os com cães de guarda que não ladram—cujo desamparo resultou em Israel sendo levada cativa e dispersa. Esta mesma descrição corresponde com os potentados e ministros na época de Cristo, cuja rejeição do Messias resultou em Israel sendo, novamente, ferida e dispersa. A descrição de Isaías também corresponde-se aos ministros dos últimos dias que negam a Restauração, não reconhecendo a mão do Senhor na preparação para a Sua Segunda Vinda.

Primeiro, Isaías descreve os líderes e ministros negligentes como atalaias cegos; depois ele compara-os com cães mudos e gananciosos; finalmente, ele os descreve como pastores que não compreendem nada. O versículo 10 começa: “Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono”. “Os seus atalaias” refere-se àqueles que têm a responsabilidade de fornecer orientação moral, que professam ter autoridade sacerdotal e discernimento profético. Isaías apresentou o símile de “atalaias” antes, no capítulo 21.[26]

O versículo 11 continua: “11E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte”. “Todos eles se tornam para o seu caminho” contrasta-se com o caminho do Senhor, ou o Plano de Salvação.[27] A ganância toma o lugar do amor e interesse por aqueles por quem têm responsabilidade eclesiástica.

Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma:

A: (10) Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem;
B: todos são cães mudos, não podem ladrar;
C: andam adormecidos,
C: estão deitados, e gostam do sono.
B: (11) E estes cães são gulosos, não se podem fartar;
A: e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte.

“Atalaias” e “pastores” são equivalentes, ambos significando ministros ou líderes que deveriam ter sido fiéis ao Senhor. Estes ministros preguiçosos são gulosos (gananciosos) e egoístas, preocupados somente com seus próprios ganhos. Como se estivessem adormecidos, eles são incapazes de dar advertências a tempo.

O versículo 12 conclui a descrição dos ministros negligentes: “Vinde, dizem, trarei vinho, e beberemos bebida forte; e o dia de amanhã será como este, e ainda muito mais abundante”. O Grande Pergaminho de Isaías diz “vinde, dizem, traiamos nós vinho …”.[28] Os ministros são gananciosos e buscam seus próprios interesses; eles abandonaram o Senhor e Seus caminhos.

Anteriormente, no capítulo 28, Isaías atesta sobre a falta de inspiração desses ministros: “Mas também estes erram por causa do vinho, e com a bebida forte se desencaminham …”.[29] Esta sentença significa que suas artimanhas sacerdotais, orgulho e busca das riquezas e honra do mundo deixaram-nos destituídos das coisas espirituais, que são obtidas somente através de revelação de Deus. “Até o sacerdote e o profeta” que professam ter autoridade sacerdotal e discernimento profético “erram por causa da bebida forte; são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo”.[30] Devido aqueles que assumem autoridade eclesiástica terem-se entregue aos apetites mundanos e suas gratificações, suas visões e julgamentos são incorretos e eles não são inspirados pelo Senhor. Esta descrição também caracteriza a decadência espiritual e moral, muito comum nas predominantes religiões de nossos dias.

NOTAS

[1]. Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990, Hino número 3, “Alegres Cantemos”, estrofe 1.
[2]. Ver Isaías 1:21; 53:8; 59:9, 11, 14, 15; 61:8.
[3]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 9:7; 42:1; 59:8.
[4]. Ver Isaías 1:17; 3:14; 4:4; 34:5.
[5]. Ver Isaías 1:17; 28:7; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[6]. Ver Isaías 51:4; 54:17.
[7]. Este quiasma dos versículos 1 e 2 tem outra forma alternativa: Guardai o juízo/fazei justiça/salvação está prestes a vir//minha justiça, para se manifestar/o homem que fizer isto/que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal.
[8]. Ver Deuteronômio 23:3.
[9]. Ver Deuteronômio 23:1.
[10]. Ver Moisés 7:22; Abraão 1:26-27.
[11]. O versículo 5 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Lhes darei/um nome//um nome/darei a cada um deles. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[12]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1004, p. 108.
[13]. Ver Êxodo 20:10-11; Deuteronômio 5:15.
[14]. Ver Levítico 23:24-32, 39-43.
[15]. Ver Levítico 25:2-7.
[16]. Mateus 20:16; Ver também Marcos 10:31 e Lucas 13:30.
[17]. 1 Néfi 13:42; Ver também Éter 13:12.
[18]. Ver Isaías 2:3; 30:29; 65:11; 66:20 e comentário pertinente.
[19]. Mateus 21:13; Ver também Marcos 11:17; Lucas 19:46.
[20]. Atos 10:34-35.
[21]. Doutrina e Convênios, Declaração Oficial 2.
[22]. Gordon B. Hinckley, “A Igreja se Fortalece”, A Liahona, Maio de 2004, p. 4-5.
[23]. Brook P. Hales, “Relatório Estatístico de 2013”, A Liahona, Maio de 2014, p. 4-5.
[24]. O versículo 8 contém um quiasma: O Senhor DEUS, que congrega/os dispersos/outros//aos/que já se/lhe ajuntaram.
[25]. Compare com Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 470-471.
[26]. Ver Isaías 21:6; 52:8; 62:6 e comentário pertinente.
[27]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 35:8; 40:3; 49:11; 51:10; 62:10 e comentário pertinente.
[28]. Parry, 2001, p. 220.
[29]. Isaías 28:7.
[30]. Isaías 28:7.

CAPÍTULO 54: “Não O Impecas; Alonga As Tuas Cordas, E Fixa Bem As Tuas Estacas”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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Este capítulo é uma profecia da coligação e restauração de Israel nos últimos dias. Isaías usa a metáfora de uma mulher desprezada e viúva para representar a posteridade de Israel, ferida e dispersa, mas que será reunida nos últimos dias e receberá grandes bênçãos. O profeta usa outra metáfora—o antigo tabernáculo israelita, o qual era um templo transportável—para representar a Sião dos últimos dias, o meio pelo qual a coligação de Israel será realizada. Os filhos mencionados são a posteridade de Israel que estará reunida em Sião, membros conversos da Igreja.

Este capítulo é o último da grande divisão no Livro de Isaías, que abrange os capítulos 40 até 54, na qual a antiga nação de Israel é descrita em exílio no mundo em geral, interagindo com as pessoas e acontecimentos.[1] Este capítulo, então, representa o final do longo período de exílio e o princípio da fase gloriosa da coligação e restauração.

Os capítulos 48 até 54 são citados por completo ou em parte no Livro de Mórmon[2] e são explicados e expandidos em detalhes. O capítulo 54 é citado por completo pelo Senhor ressuscitado aos Seus discípulos nefitas; a redação no Livro de Mórmon, em 3 Néfi capítulo 22, é quase idêntica à versão de João Ferreira de Almeida. A citação deste capítulo enfatiza a intenção de ser uma instrução para os últimos dias, já que seria propagada por todo o mundo depois da Restauração como parte do Livro de Mórmon. Depois de haver citado este capítulo, Jesus instruiu aos nefitas: “Portanto, dai ouvidos a minhas palavras; escrevei as coisas que vos disse; e conforme o tempo e a vontade do Pai, chegarão aos gentios”.[3] Tantos os gentios quanto os israelitas seriam reunidos a fim de compartilharem das bênçãos de Sião.[4]

Nos versículos 1 até 6 Isaías descreve uma mulher—estéril, desprezada e viúva—como uma metáfora para a posteridade de Israel que foi desprezada, ferida e dispersa devido suas iniquidades. O versículo 1 começa: “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR”. O Senhor ressuscitado no Livro de Mórmon inseriu “E então o que está escrito acontecerá” no começo do versículo 1, que estabelece o período nos últimos dias quando esta profecia será cumprida.[5] Aqui, o profeta prediz a coligação nos últimos dias, a retidão, e o produtividade da Israel penitente e seus prosélitos. Juntamente com os descendentes literais de Israel, os gentios aceitariam o evangelho restaurado e tornar-se-iam dignos das bênçãos de Abraão, sendo acrescentados àqueles que seriam coligados.

Isaías usou a mesma metáfora anteriormente, no capítulo 49:

“E dirás no teu coração: Quem me gerou estes? Pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara; quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?”[6]

O Apóstolo Paulo citou o versículo 1: “Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido”.[7] As palavras de Paulo variam das de Isaías.

O versículo 2 usa outra metáfora importante apresentada anteriormente:[8] “Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas”. Nesta metáfora Isaías compara a Sião predita dos últimos dias com o tabernáculo dos israelitas antigos, o qual era um templo transportável. Estacas e cordas eram usadas para estabilizar a viga central e a própria tenda.

Isaías ensina que Sião—a igreja restaurada nos últimos dias—é o instrumento pelo qual Israel seria reunida e voltaria a ser justa. Uma “estaca”, conforme foi usada aqui, é uma unidade da igreja em uma área geográfica específica, na qual todos os programas, autoridade do sacerdócio, ordenanças e bênçãos do evangelho restaurado, necessários para a exaltação, estão disponíveis aos membros—inclusive as bênçãos do templo. Uma estaca consiste de várias “alas”, que são divisões geográficas locais, na qual os membros reúnem-se em várias congregações. Uma estaca é dirigida por uma presidência, que consiste do presidente e dois conselheiros; eles são auxiliados na administração dos assuntos da estaca por um sumo conselho, consistindo de doze sumo sacerdotes. A liderança da estaca é subordinada às autoridades gerais, que têm autoridade administrativa sobre a igreja no mundo inteiro. As autoridades gerais e as organizações auxiliares tendo autoridade administrativa geral formam a estaca central de Sião, que são, por sua vez, auxiliadas pelas estacas localizadas pelo mundo todo.

A metáfora de Isaías sobre o antigo tabernáculo israelita representando a Sião nos últimos dias foi apresentada no capítulo 33 para afirmar que Sião sobreviveria: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará”.[9]

Os termos “Sião” e “Jerusalém” nesta passagem são sinônimos, ambos referindo-se ao povo justo do Senhor nos últimos dias. Sião nos últimos dias não sendo removida significa que nunca mais haveria uma apostasia geral. “Solenidades” significa repetidas celebrações ou cerimônias durante as quais ordenanças sagradas são realizadas.[10]

Morôni, descrevendo profeticamente a restauração nos últimos dias, parafraseou outra declaração de Isaías:

“E desperta e levanta-te do pó, ó Jerusalém; sim, e veste-te com teus vestidos formosos, ó filha de Sião; e fortalece tuas estacas e alarga tuas fronteiras para sempre, a fim de que já não sejas confundida, para que se cumpram os convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó casa de Israel! (Ênfase adicionada).[11]

O Senhor, ao direcionar a obra da restauração nos últimos dias, através de revelações a Joseph Smith, frequentemente referiu-se à organização e fortalecimento das estacas. Ao ordenar que uma estaca fosse organizada em Kirtland, Ohio, o Senhor declarou:

“Pois consagrei a terra de Kirtland, no meu próprio e devido tempo, para benefício dos santos do Altíssimo e como uma estaca de Sião.
“Pois Sião deve crescer em beleza e em santidade; suas fronteiras devem ser expandidas; suas estacas devem ser fortalecidas; sim, em verdade vos digo: Sião deve erguer-se e vestir suas formosas vestes”.[12]

Note que o Senhor parafraseou a declaração profética de Isaías, confirmando o seu significado.[13]

Merrill J. Bateman descreveu o cumprimento desta profecia nos últimos dias:

“Isaías … (fala) da tenda que representa o evangelho de Cristo. Ele declara que nos últimos dias as cordas da tenda seriam estendidas por toda a Terra e plantar-se-iam estacas em todas as terras. Literalmente, estamos vendo isso cumprir-se nos dias de hoje. Ao considerar essas passagens, fiquei pensando na imensa tarefa de ajudar as Autoridades Gerais a levar o evangelho a toda nação, tribo, língua e povo …. Devido às visões de Isaías e Daniel, imploro-vos, irmãos, que nos auxilieis com vossa fé e com vossas orações. Desejo, de todo o coração, ser um servo desses homens e do Senhor o Salvador, Jesus Cristo”.[14]

O versículo 2 contém dois quiasmas reconhecidos no original em hebraico, que foram organizados aqui para corresponder com a construção hebraica:[15]

A: Amplia
B: o lugar da tua tenda,
B: e as cortinas das tuas habitações
A: estendam-se.

A: Não o impeças; alonga
B: as tuas cordas,
B: e as tuas estacas
A: fixa bem.

“Tenda”, “cortinas”, “cordas” e “estacas” formam o enfoque deste quiasma. As palavras chaves nas declarações introdutórias e suas reflexões são todas verbos de ação: “Amplia”, “estendam-se”, “alonga” e “fixa bem”.

O versículo 3 prediz o crescimento e florescimento da Sião nos últimos dias: “Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. Como será que as cidades dos gentios—aqueles que não quiserem aceitar o evangelho restaurado—ficarão assoladas? Algumas possibilidades podem sem que elas seriam abandonadas antes dos exércitos invasores atacarem[16] ou assoladas por pestilências, radiação ou condições climáticas adversas.[17]

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

A: (1) Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria,
B: tu que não tiveste dores de parto;
C: porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR.
D: (2) Amplia o lugar da tua tenda,
E: e estendam-se as cortinas das tuas habitações;
E: não o impeças; alonga as tuas cordas,
D: e fixa bem as tuas estacas.
C: (3) Porque transbordarás para a direita e para a esquerda;
B: e a tua descendência possuirá os gentios
A: e fará que sejam habitadas as cidades assoladas.

A Israel dos últimos dias expandir-se-ia grandemente, ocupando lugares que antes eram habitados pelos gentios. Estacas serão estabelecidas e fortalecidas entre o povo reunido. “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria” é complementado por “fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. A mulher que antes era estéril, representando Israel, regozija-se porque as cidades assoladas dos gentios deverão ser habitadas por sua descendência. “Tu que não tiveste dores de parto” contrasta-se com “a tua descendência possuirá os gentios”.

No versículo 4 o Senhor consola os coligados de Israel: “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”. O Livro de Mórmon apresenta “… porque te esquecerás da vergonha da tua mocidade e não te lembrarás do opróbrio da tua juventude e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”.[18] “Tua mocidade” representa o período de iniquidade de Israel na Terra Prometida, já a “tua viuvez” representa o período quando Israel estava dispersa entre as nações da Terra, abandonada pelo Senhor.

No versículo 5, o Senhor explica a metáfora: “Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”.

O versículo 6 oferece maior explicação: “Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu Deus”. Para a palavra “desamparada”, o original em hebraico usa “rejeitada” ou “desprezada”.[19] O Senhor chama a nova Israel nos últimos dias para ser o Seu povo, apesar da rejeição anterior devido as iniquidades.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada;
B: antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade,
C: e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.
D: (5) Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome;
E: e o Santo de Israel
E: é o teu Redentor;
D: que é chamado o Deus de toda a terra.
C: (6) Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito;
B: como a mulher da mocidade,
A: que fora desprezada, diz o teu Deus.

Neste quiasma a metáfora de uma mulher desprezada é usada para explicar o amor e cuidado do Senhor para com Israel, apesar de sua iniquidade anterior. “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada” contrasta-se com “que fora desprezada, diz o teu Deus”. Mesmo que Israel tenha sido desprezada devido suas transgressões, nos últimos dias ela não será envergonhada.

O versículo 7 resume: “Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei”. Aqui, o Senhor prediz a coligação de Israel das terras para onde foi dispersa por tanto tempo.[20] O “breve momento”, o qual de acordo com o modo de calcular dos homens é mil anos, durante o qual Israel há sido desprezada, pode refletir o ponto de vista do Senhor de que qualquer iniquidade que foi cometida no passado é de pouca consequência depois do completo arrependimento.[21]

O Senhor oferece semelhante consolação ao Profeta Joseph Smith durante seu encarceramento na Cadeia de Liberty, Missouri:

“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento;
“E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos” (ênfases adicionadas).[22]

A prometida exaltação de Joseph Smith é típica da que será dada à Israel penitente nos últimos dias.

O Senhor continua Seu consolo à moderna Israel no versículo 8: “Com um pouco de ira escondi a minha face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor”. O Senhor explicou a Ezequiel a razão pela qual Ele escondeu Sua face de Israel: “Conforme a sua imundícia e conforme as suas transgressões me houve com eles, e escondi deles a minha face”.[23]

No versículo 9 o Senhor declara: “Porque isto será para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não passariam mais sobre a terra; assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei”.[24] O Livro de Mórmon omite a última frase, “nem te repreenderei”.[25] O Senhor compara Seu convênio com Noé—que não haveria mais dilúvios que cobririam toda a Terra[26]—com o convênio que fez com os penitentes de Israel, de que não se irará mais contra a casa de Israel.

O versículo 10 declara: “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti”. As promessas do Senhor são mais duradouras e imutáveis do que os montes e os outeiros. Além de representarem características topográficas, “montes” e “outeiros” também significam nações, grandes e pequenas.[27] Os convênios do Senhor com Israel—feitos com seu pai, Abraão, e seus herdeiros[28]—ainda estão em efeito, mesmo que as grandes e pequenas nações possam surgir e cair.

O versículo 11 descreve mais sobre o convênio do Senhor com Israel: “Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada, eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras”. Estas pedras preciosas são símbolos da fundação das verdades eternas que são inestimáveis. Safiras são pedras preciosas azuis compostas de coríndon, ou óxido de alumínio. “Safira” vem da palavra hebraica sappir.[29]

Ao citar o versículo 11, Aileen H. Clyde da Presidência Geral da Sociedade de Socorro descreveu o simbolismo destas pedras preciosas:

“Neste mundo atribulado, os alicerces em que confio assentam-se em meus convênios com o Senhor. São realmente como safiras e tesouros inestimáveis. Por meio deles, estou eternamente ligada a meus entes queridos e a Deus. Refiro-me aos princípios e ordenanças restaurados do evangelho de Jesus Cristo, aos quais todo homem e mulher justos podem ter acesso por meio do poder do santo sacerdócio de Deus, que incluem: o batismo, o dom do Espírito Santo, o sacramento e os convênios do templo. São esses os meios que nos foram oferecidos, os quais somos livres para aceitar a fim de garantirmos nossa vida eterna”.[30]

O versículo 12 continua o simbolismo, descrevendo melhor o convênio do Senhor: “E farei os teus vitrais de rubis, e as tuas portas de carbúnculos, e todos os teus termos de pedras aprazíveis”. O Livro de Mórmon apresenta: “E as tuas janelas farei de ágata e as tuas portas, de rubis …”

As janelas do Templo SUD de San Antonio, Texas, foram decoradas com ágatas tiradas do mesmo outeiro do Templo em reconhecimento a esta passagem nas escrituras. Não só o Senhor abençoará à Israel penitente com grande abundância; mas como também colocará verdades preciosas e eternas como sua fundação e adorno. Ágata é uma variedade de calcedônia, uma sílica microcristalina que apresenta camadas de partes claras e escuras; carbúnculo é uma variedade de granada vermelha preciosa. A palavra “aprazíveis” no hebraico é “deleitável”.[31]

O versículo 13 proclama: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”.[32] Observe a causa e consequência: Os filhos sendo ensinados do Senhor resulta na paz abundante que eles terão; reciprocamente, a paz abundante dos filhos vem devido os filhos sendo ensinados do Senhor. Não há outra fonte no mundo onde podemos encontrar a duradoura paz.

Spencer W. Kimball explicou o versículo 13:

“E que grandioso legado para nossos filhos Isaías prometeu: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Certamente todos bons pais gostariam que seus filhos tivessem essa paz, que vem através da vida simples do verdadeiro Santo dos Últimos Dias quando ele faz o melhor no seu lar e em sua família”.[33]

Jesus citou o versículo 13 durante Seu ministério mortal: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”.[34]

Os versículos 11 até 13 contêm um quiasma:

A: (11) Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada,
B: eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras.
C: (12) E farei os teus vitrais de ágata,
C: e as tuas portas de rubis,
B: e todos os teus termos de pedras aprazíveis.
A: (13) E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante.

“Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada” contrasta-se com “e todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Apesar de Israel ter sofrido muito, seus filhos—se forem ensinado sobre o Senhor e Suas doutrinas—desfrutarão da paz abundante. A paz a ser desfrutada pelos filhos dependerá se eles estarão alicerçados nas verdadeiras doutrinas, que foi representadas aqui pelas pedras preciosas ou semipreciosas. A paz deverá ser ensinada e aprendida—não acontecerá espontaneamente.

O versículo 14 promete: “Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão, porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”. Através da retidão, o Senhor promete liberdade da opressão, do medo e do temor.

No versículo 15 o Senhor promete defender Seu povo do convênio contra os opressores: “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. O Livro de Mórmon apresenta: “Eis que certamente se ajuntarão contra ti …”.[35]

Jesus, ao mencionar a parábola do trigo e do joio, descreveu a ordem em que os iníquos e os justos serão reunidos: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”.[36] A reunião de grandes exércitos acontecerá primeiro, seguido pela coligação dos justos em Sião. Mesmo que sua intensão era a de lutar contra o povo do convênio do Senhor, o resultado será a sua destruição, cumprindo, assim, os propósitos do Senhor. Sua destruição seria seguida pela coligação dos justos de Sião, onde encontrarão segurança.

No versículo 16 o Senhor descreve Seu propósito ao levantar exércitos com intenção de destruir os justos: “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também criei o assolador, para destruir”.

O versículo 17 resume, declarando que a segurança é a herança dos que servem ao Senhor: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. O termo “juízo”, como foi usado aqui, significa “litígio”; bem como “um sistema de lei”.[37] O significado é que aqueles que formarem exércitos ou levantarem ações legais contra os justos serão desafiados, derrotados e condenados.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor repete a promessa aos Seus discípulos dos últimos dias:“Em verdade, assim vos diz o Senhor: Arma alguma que se forme contra vós prosperará;
“E se contra vós algum homem erguer a voz, em meu próprio e devido tempo será confundido”.[38]

Nesta inspirada oração dedicatória para o Templo de Kirtland, o Profeta Joseph Smith parafraseia o versículo 17 e outras partes do capítulo 54, confirmando seus significados:

“Rogamos-te, Pai Santo, que estabeleças o povo que adorará e honrosamente terá um nome e uma posição nesta tua casa por todas as gerações e pela eternidade;
“Que arma alguma formada contra eles prospere; que o que cavar uma cova para eles, nela caia ele mesmo;
“Que nenhuma combinação iníqua tenha poder para levantar-se e prevalecer contra teu povo, sobre quem se colocará teu nome nesta casa;
“E se algum povo se erguer contra este povo, que tua ira se acenda contra ele”.[39]

Os versículos 14 até 17 contêm um quiasma:

A: (14) Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão,
B: porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti.
C: (15) Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti.
D: (16) Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra;
D: também criei o assolador, para destruir.
C: (17) Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás;
B: esta é a herança dos servos do Senhor,
A: e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor.

Elementos deste quiasma são complementários; o quiasma pode ser lido em ordem refectiva para ser melhor compreendido: “Com justiça serás estabelecida;”; “a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. “Já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”; “esta é a herança dos servos do Senhor”. “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás”. “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra”; “também criei o assolador, para destruir”. A Israel moderna—depois de coligada e restaurada—será estabelecida, ou fundada, sobre os princípios de retidão do Senhor; liberdade do terror é também parte da herança dos servos do Senhor. Apesar do Senhor levantar exércitos destruidores a fim de levar a cabo Seus propósitos, eles são limitados e controlados pelo Senhor e não terão sucesso contra a Israel justa.
NOTAS

[1]. Os capítulos 2 até 39 descrevem Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; os capítulos 40 até 54 descrevem Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e os capítulos 55 até 66 descrevem o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. 3 Néfi 23:4.
[4]. Victor L. Ludlow, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 3 Néfi 22/Isaías 54”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 397.
[5]. 3 Néfi 22:1.
[6]. Isaías 49:21.
[7]. Gálatas 4:27.
[8]. Ver Isaías 33:20.
[9]. Isaías 33:20.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2282, p. 290.
[11]. Morôni 10:31; compare Isaías 52:1-2.
[12]. Doutrina e Convênios 82:13-14. Ver também D&C 68:26; 94:1; 96:1; 104:48; 109:59; 133:9.
[13]. Isaías 52:1-2.
[14]. Merrill J. Bateman, “Estender as Cordas da Tenda”, A Liahona, Julho de 1994, p. 72.
[15]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[16]. Ver Isaías 7:17-25; 8:7-8.
[17]. Ver D&C 45:31; 5:19; também Daniel 9:27; 11:31; D&C 84:96-97; 88:85.
[18]. 3 Néfi 22:4.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3988, p. 549; Ver também Isaías 54:6, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 6d.
[20]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12.
[21]. Ver Hebreus 8:12; 10:16-17; D&C 58:42.
[22]. D&C 121:7-8.
[23]. Ezequiel 39:24.
[24]. Os versículos 7 até 9 contêm um quiasma: Te deixei/um pouco de ira/mas com benignidade eterna/o Senhor//o teu Redentor/as águas de Noé/assim jurei/não me irarei mais contra ti.
[25]. 3 Néfi 22:9.
[26]. Ver Gênesis 9:13-16.
[27]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[28]. Ver Gênesis 12:1-3; 17:1-2, 21; 21:12.
[29]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 705; Ver também Brown et al., 1996, Número de Strong 5601, p. 705.
[30]. Aileen H. Clyde, “Convênio de Amor”, A Liahona, Julho de 1995, p. 29.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2656, p. 343.
[32]. O versículo 13 contém um quiasma: Todos os teus filhos/ensinados//do Senhor/a paz/teus filhos.
[33]. Spencer W. Kimball, “The Family Influence” [A influência da Família], Ensign, Julho 1973, p. 15.
[34]. Ver João 6:45; também Mateus 26:56.
[35]. 3 Néfi 22:15.
[36]. Mateus 13:30.
[37]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 51:4.
[38]. D&C 71:9-10.
[39]. D&C 109:24-27.

CAPÍTULO 24: “Porquanto Têm Transgredido as Leis, Mudado os Estatutos, e Quebrado a Aliança Eterna”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 24 descreve a destruição dos iníquos nos últimos dias antes da Segunda Vinda do Senhor. Este capítulo serve como uma introdução para os quatro capítulos consecutivos—24 até 27—que falam sobre a destruição dos iníquos, a Segunda Vinda do Senhor, e o começo de Seu reinado glorioso. Primeiro, Isaías declara que os homens transgrediram as leis, mudaram as ordenanças e quebraram o convênio eterno; devido a iniquidade prevalente, a Terra seria profanada por seus habitantes. Os remanescentes justos, entretanto, regozijariam. Na Segunda Vinda os ímpios serão queimados, a Terra balancearia como um embriagado, e a lua e o sol não dariam suas luzes. Depois destes eventos, o Senhor reinará gloriosamente em Sião e Jerusalém.

O versículo 1 começa a descrever a devastação: “Eis que o SENHOR esvazia a terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores”. O significado desta passagem é que a Terra ficaria devastada e desolada,[1] e a face da Terra seria transformada. Esta descrição refere-se aos desastres naturais de extrema magnitude.

Outros julgamentos estão preditos em Doutrina e Convênios:

“E haverá homens nessa geração que não passarão até que vejam uma praga terrível; pois uma doença desoladora cobrirá a terra.
“Mas os meus discípulos permanecerão em lugares santos e não serão movidos; mas, entre os iníquos, homens levantarão a voz e amaldiçoarão a Deus e morrerão.”[2]

O Senhor provê um meio de escape para Seus seguidores fiéis—permanecerão em lugares santos.

Em outras partes de Doutrina e Convênios o Senhor descreve o flagelo:

“Porque haverá um flagelo assolador entre os habitantes da Terra e continuará a derramar-se de tempos em tempos, se eles não se arrependerem, até que a Terra fique vazia e seus habitantes sejam consumidos e totalmente destruídos pelo resplendor da minha vinda.”[3]

O Senhor indica que Ele usa símbolos em Suas advertências a Seu povo, concernente ao futuro, assim como fez ao revelar Suas palavras a Isaías: “Eis que te digo estas coisas, assim como também falei ao povo acerca da destruição de Jerusalém; e minha palavra será confirmada agora, como tem sido confirmada até aqui”.[4] As mesmas palavras são usadas pelo Senhor em épocas diferentes—uma vez referindo-se à destruição de Jerusalém e a outra vez referindo-se à destruição dos iníquos antes da Sua Segunda Vinda.

O versículo 2 descreve a extensão da destruição entre o povo: “E o que suceder ao povo, assim sucederá ao sacerdote; ao servo, como ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao que empresta, como ao que toma emprestado; ao que dá usura, como ao que paga usura”. As posições sociais mencionadas são honoráveis; o propósito de Isaías é o de incluir nesta comparação todos os níveis sociais.

O versículo 3 explica mais: “De todo se esvaziará a terra, e de todo será saqueada, porque o Senhor pronunciou esta palavra”.[5] “Saqueada” significa “roubada” ou “pilhada”.[6]

O versículo 4 declara: “A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra”. A Terra, agindo como um ser vivo, lamenta quando a iniquidade prevalece.[7]  Os verbos “Se murcha” e “enfraquece” significam tornar-se “débil” ou “fraco”.[8] Isto pode ser equivalente à praga terrível ou doença desoladora, mencionadas acima.

O versículo 5 descreve a corrupção da Terra: “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Além da quebra dos convênios, este versículo descreve corrupção de leis religiosas e possivelmente civis. O Senhor reflete este versículo em Doutrina e Convênios: “Pois desviaram-se de minhas ordenanças e quebraram meu convênio eterno”.[9]

O Presidente Spencer W. Kimball declarou:

“Certamente, alguma culpa [de espalhar o pecado e a maldade] pode ser atribuída às vozes vinda das salas de aulas, departamentos editoriais, ou redes de transmissão, até mesmo do púlpito.
“Essas vozes terão que responder pela perpetuação de mentiras e por sua incapacidade de oferecer uma verdadeira liderança para combater o mal. [O] que suceder ao povo, sucederá ao sacerdote…”.[10] O termo sacerdote é usado aqui para denotar todos os líderes religiosos de qualquer religião. Isaías disse: “a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Dentre as vozes discordantes, ficamos chocados com os conselhos de muitos sacerdotes, ou líderes religiosos, que encorajam a profanação dos homens e aceitam as tendências corrosivas que negam a omnisciência de Deus. Certamente, esses homens deveriam ser inabaláveis, porém alguns estão cedendo aos clamores populares.”[11]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) A terra pranteia e se murcha;
B: o mundo
C: enfraquece e se murcha;
C: enfraquecem
B: os mais altos do povo da terra.
A: (5) Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores….

“O mundo” é complementado por “os mais altos do povo da terra”, provendo a definição para a palavra “mundo”. A Terra se comporta como um ser vivo, lamentando quando a maldade prevalece.

O versículo 6 descreve as consequências: “Por isso a maldição tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados; por isso são queimados os moradores da terra, e poucos homens restam”. Temos aqui duas frases paralelas, ou declarações sinônimas. As frases que vêm depois das duas ocorrências de “por isso” complementam-se: A maldição que tem consumido a terra se consistirá da queima dos moradores da terra;[12] e a desolação dos que restaram tem o mesmo significado de poucos homens restam depois da destruição.[13]

O Senhor, ao apresentar o livro de Doutrina e Convênios aos leitores dos últimos dias, disse: “Portanto eu, o Senhor, conhecendo as calamidades que adviriam aos habitantes da Terra…”.[14]

O versículo 7 declara: “Pranteia o mosto, enfraquece a vide; e suspiram todos os alegres de coração”. O significado desta passagem é que os novos vinhos—o produto da presente estação—resultariam em calamidades;[15] a videira ficaria “débil” ou “enfraquecida”, possivelmente até com doenças;[16] e a alegria cessaria sob o peso da maldição devoradora.

O versículo 8 elabora: “Cessa o folguedo dos tamboris, acaba o ruído dos que exultam, e cessa a alegria da harpa”.

O versículo 9 descreve uma significante mudança social: “Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem”. Os que beberem farão para esquecer—um temporário escape da angústia—ao invés de para celebrar.

O versículo 10 descreve a interrupção de atividades sociais normais: “Demolida está a cidade vazia, todas as casas fecharam, ninguém pode entrar”. “Demolida” significa que sua maldade e seu orgulho foram quebrados ou destruídos.[17] Terremotos, outros desastres naturais e guerra podem ter contribuído para esta destruição.

O versículo 11 sumariza os temas dos versículos 7, 8 e 9: “Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho; toda a alegria se escureceu, desterrou-se o gozo da terra”.

Os versículos 8 até 11 contêm um quiasma:

A: (8) Cessa o folguedo dos tamboris,
B: acaba o ruído dos que exultam, e cessa a alegria da harpa.
C: (9) Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem.
D: (10) Demolida está a cidade vazia,
D: todas as casas fecharam, ninguém pode entrar.
C: (11) Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho;
B: toda a alegria se escureceu,
A: desterrou-se o gozo da terra.

As frases “Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem” correspondem-se à frase “Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho”. O uso do vinho para o consolo substitui seu uso para a celebração; as pessoas vagariam pelas ruas clamando por vinho para entorpecer seu sofrimento. As ruas das cidades, antes movimentadas, tornar-se-iam silenciosas; as manifestações de alegria cessariam, substituídas pelo lamento e choro.

O versículo 12 consiste de duas frases paralelas: “Na cidade só ficou a desolação, a porta ficou reduzida a ruínas”. Não somente a população reduziria, a infraestrutura seria destruída.

O versículo 13 compara os poucos sobreviventes às poucas azeitonas deixadas nas oliveiras depois da colheita, e logo às poucas uvas deixadas nas videiras: “Porque assim será no interior da terra, e no meio destes povos, como a sacudidura da oliveira, e como os rabiscos, quando está acabada a vindima”. Isaías usou esta alegoria antes, no capítulo 17, para descrever os que restariam depois da destruição das antigas cidades de Efraim e Damasco: “Porém ainda ficarão nele [nas videiras] alguns rabiscos, como no sacudir da oliveira: duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos, e quatro ou cinco nos seus ramos mais frutíferos…”.[18] Restariam poucos sobreviventes.

Nos versículos 14 até 16 Isaías começa a falar sobre os poucos sobreviventes dispersos. O versículo 14 declara: “Estes alçarão a sua voz, e cantarão com alegria; e por causa da glória do Senhor exultarão desde o mar”. “Desde o mar” significa que os sobreviventes seriam carregados para outras terras do outro lado do mar.

O versículo 15 continua: “Por isso glorificai ao Senhor no oriente, e nas ilhas do mar, ao nome do Senhor Deus de Israel.” “No Oriente” vem de uma palavra hebraica que significa “região de luz”,[19] ou um lugar onde habitam os justos. O termo “ilhas do mar” pode estar se referindo aos nefitas do continente americano, a quem Cristo visitou depois de Sua crucificação e ressurreição. Néfi cita seu irmão Jacó, falando que eles estavam “em uma ilha do mar”.[20]

O versículo 16 contrasta o canto dos sobreviventes com o profundo pesar de Isaías pelos iniquidades dos que foram destruídos: “Dos confins da terra ouvimos cantar: Glória ao justo. Mas eu disse: Emagreço, emagreço, ai de mim! Os pérfidos têm tratado perfidamente; sim, os pérfidos têm tratado perfidamente”. “Os pérfidos” significa “o que age de má fé” ou “enganosamente”[21] —cujas ações trariam a predita destruição.  “Emagreço” vem da palavra hebraica que significa “Eu definho!”[22] “Dos confins da terra” refere-se, novamente, aos ramos dispersos de Israel, que foram levados para partes remotas da Terra, onde a retidão prevaleceria, pelo menos por um tempo.

Os versículos 17 até 20 descrevem terremotos cataclísmicos e seus efeitos destrutivos. O versículo 17 descreve o terror dos injustos quando deparados com a morte: “O temor, e a cova, e o laço vêm sobre ti, ó morador da terra”. “Cova” significa “calamidade” ou “cilada”;[23] “laço” significa “armadilha” ou “engodo”,[24] ou tentação.

Os versículos 16 e 17 contêm um quiasma:

A: (16) Dos confins da terra ouvimos cantar: Glória ao Justo.
B: Mas eu digo: Emagreço, emagreço,
C: ai de mim!
D: Os pérfidos têm tratado perfidamente;
D: sim, os pérfidos têm tratado perfidamente.
C: (17) O temor,
B: e a cova, e o laço vêm sobre ti,
A: ó morador da terra.

O lamento de Isaías no lado ascendente do quiasma é complementado pelo terror dos habitantes da Terra no lado descendente. “Emagreço, emagreço” correlaciona-se com “a cova, e o laço vêm sobre ti”; a expressão “ai de mim!” corresponde-se com “o temor”.

O versículo 18 descreve a futilidade de tentar escapar: “E será que aquele que fugir da voz de temor cairá na cova, e o que subir da cova o laço o prenderá; porque as janelas do alto estão abertas, e os fundamentos da terra tremem”. A “voz do temor” possivelmente refere-se aos barulhos tumultuosos que acompanham os grandes terremotos.[25] “Janelas do alto estão abertas” pode significar condições climáticas extremas. Palavras semelhantes foram usadas para descrever a origem da inundação que resultou no dilúvio de Noé: Se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram…”[26] A frase “os fundamentos da terra tremem”, obviamente refere-se aos grandes terremotos que sacudiriam os fundamentos a Terra.

O versículo 19 resume a devastação: “De todo está quebrantada a terra, de todo está rompida a terra, e de todo é movida a terra”. A palavra “quebrantada” foi traduzida do hebraico que significa “desintegrada” ou “despedaçada”.[27] Isaías descreve a vasta destruição que resultou por causa do terremoto.

Lembremos da descrição da destruição causada pelo terremoto no Livro de Mórmon:

“Mas eis que houve uma destruição muito maior e mais terrível na terra do norte; pois eis que toda a face da terra foi mudada por causa da tempestade e dos furacões e dos trovões e relâmpagos e dos violentos tremores de toda a terra.
“E romperam-se os caminhos, desnivelaram-se as estradas e muitos lugares planos tornaram-se acidentados.
“E muitas cidades grandes e importantes foram tragadas e muitas se incendiaram e muitas foram sacudidas até que seus edifícios ruíram; e seus habitantes foram mortos e os lugares ficaram devastados.”[28]

A destruição apresentada no Livro de Mórmon é um exemplo da destruição que precederá à Segunda Vinda, a qual Isaías descreve aqui.

O versículo 20 descreve, com mais detalhes, os extremos terremotos: “De todo cambaleará a terra como o ébrio, e será movida e removida como a choça de noite; e a sua transgressão se agravará sobre ela, e cairá, e nunca mais se levantará”. “Cambaleará a terra como o ébrio” significa mover-se erraticamente de um lado para o outro, fora de seu movimento normal. O terremoto viria porque “a sua transgressão se agravará sobre ela [a Terra]”. As tamanhas maldades e iniquidades, juntamente com a necessidade de purificar a Terra, serão a causa do terremoto. A frase “e cairá, e nunca mais se levantará” refere-se à sociedade iníqua que domina a Terra. O livro de Doutrina e Convênios contém diversas passagens que incluem alguns ou todos os elementos deste versículo.[29]

Versículos 19 e 20 contêm um quiasma:

A: (19) De todo está quebrantada a terra,
B: de todo está rompida a terra,
C: e de todo é movida a terra.
D: (20) De todo cambaleará a terra como o ébrio,
D: e será movida e removida como a choça de noite;
C: e a sua transgressão se agravará sobre ela,
B: e cairá,
A: e nunca mais se levantará.

Elementos no lado descendente do quiasma completam a ideia apresentada nos elementos no lado ascendente. A sentença “De todo está quebrantada a terra” é complementada pela frase “e nunca mais se levantará”; depois dos devastadores terremotos, as iniquidades da sociedade jamais retornarão. A frase “De todo está rompida a terra” é complementada com “e cairá”; a sentença “e de todo é movida a terra” é complementada com a frase “a sua transgressão se agravará sobre ela”; e “de todo cambaleará a terra como o ébrio” é complementada por “e será movida e removida como a choça de noite”. O enfoque do quiasma aponta os grandes terremotos como a causa; as declarações auxiliares descrevem as consequências.

Os versículos 21 e 22 descrevem o castigo do Senhor, depois da destruição, aos arrogantes e aos orgulhosos, e para os reis e nobres da Terra. O versículo 21 começa: “E será que naquele dia o Senhor castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra”. Isaías usou semelhantes palavras no capítulo 13: “…para pôr a terra em assolação, e dela destruir os pecadores”.[30]

O versículo 22 continua: “E serão ajuntados como presos numa masmorra, e serão encerrados num cárcere; e outra vez serão visitados depois de muitos dias”. A introdução “serão ajuntados” refere-se aos exércitos do alto nas alturas, mencionado no versículo 21. Os altivos, depois da morte, serão mandados à prisão espiritual.  A frase “serão visitados depois de muitos dias” refere-se aos missionários que pregarão o evangelho aos que estão na prisão espiritual.[31]

O versículo 23 descreve sinais e maravilhas dos céus que acompanharão a Segunda Vinda do Senhor: “E a lua se envergonhará, e o sol se confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em Jerusalém, e perante os seus anciãos gloriosamente”. “Monte Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém e para o templo.[32]

Isaías também descreve estes eventos no capítulo 13: “Porque as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não resplandecerá com a sua luz”.[33] Durante Seu ministério mortal o Senhor descreveu estes eventos numa linguagem semelhante a esta:

E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.[34]

Esses sinais e maravilhas foram descritos em maiores detalhes em Doutrina e Convênios:

“E tão grandiosa será a glória de sua presença, que o sol esconderá a face de vergonha e a lua reterá sua luz e as estrelas serão arremessadas de seus lugares.
“E ouvir-se-á sua voz: Eu sozinho pisei no lagar e sobre todos os povos trouxe julgamento; e ninguém estava comigo;
“E esmaguei-os no meu furor e pisei-os em minha ira….”[35]

Não nos foi dito o que causaria estes sinais e maravilhas, a não ser a poderosa presença do Senhor. O testemunho de Néfi a respeito do cumprimento das profecias de Isaías aplica-se muito bem neste caso: “Não obstante, nos dias em que se cumprirem as profecias de Isaías, quando elas se realizarem, os homens certamente saberão”. O que é importante para nós sabermos agora é que o Senhor virá, bem como Ele disse e como os profetas testificaram.

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1238, p. 132.
[2]. Doutrina e Convênios 45:31-32.
[3]. D&C 5:19.
[4]. D&C 5:20.
[5]. Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma: O Senhor esvazia a terra e a desola, transtorna a sua superfície/dispersa os seus moradores//o povo//sacerdote … servo … senhor … serva … senhora … comprador … vendedor … empresta … ao que toma emprestado … ao que dá usura … ao que paga usura/se esvaziará a terra … será saqueada/o Senhor.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 962, p. 102.
[7]. Ver Moisés 7:48-49; Jeremias 4:28.
[8]. Brown et al., 1996, Número de Strong 535, p. 51.
[9]. D&C 1:15.
[10]. Isaías 24:2.
[11]. Spencer W. Kimball, “Voices of the Past, of the Present, of the Future”, Ensign, June 1971, p. 16. [ “Vozes do Passado, do Presente e do Futuro”, Ensign, Junho 1971, p. 16]
[12]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[13]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: A terra está contaminada por causa dos seus moradores/têm transgredido as leis//mudado os estatutos//quebrado a aliança eterna/a maldição tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados.
[14]. D&C 1:17.
[15].  Brown et al., 1996, Número de Strong 56, p. 5.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 535, p. 51.
[17]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7665, p. 990-991.
[18]. Isaías 17:6.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 217, p. 22.
[20]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 42:4, 10; 49:1; 51:5; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[21]. Brown et al., 1996, Número de Strong 898, p. 93.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7334, p. 931.
[23]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6354, p. 809.
[24]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6341, p. 809.
[25]. Ver 3 Néfi 10:9.
[26]. Ver Gênesis 7:11.
[27]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6565, p. 830.
[28]. 3 Néfi 8:12-14.
[29]. Ver D&C 49:23; 88:87; e 45:28.
[30]. Isaías 13:9.
[31]. Ver D&C 138:30-34.
[32]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 51:3.
[33]. Isaías 13:10.
[34]. Mateus 24:29-30.
[35]. D&C 133:49-51.