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CAPÍTULO 58: “Seria Este O Jejum Que Eu Escolheria, Que O Homem Um Dia Aflija A Sua Alma?”

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Este capítulo é um sermão sacerdotal no qual o Senhor, através de Isaías, apresenta a verdadeira lei de jejum. É a dissertação mais completa sobre este assunto encontrada em qualquer parta das escrituras. A menos que nós, coletivamente, estejamos aplicando a lei de jejum corretamente, o Senhor não ouvirá nossas orações, nem reconhecerá nossos jejuns como meios de buscar as bênçãos. Este capítulo termina com uma petição para observarmos o Dia Santificado da maneira que o Senhor estipulou.

No versículo 1, o Senhor fala com Isaías: “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados”. O Senhor instrui Isaías para alertar o povo sobre os seus pecados, usando todo o poder de sua voz.[1] Esta instrução confirmou a Isaías de que a mensagem do Senhor ao povo era de grande importância. O cenário para este sermão de Isaías talvez tenha sido durante o Yom Kippur (Dia da Expiação)[2], observância do Santificado, que tradicionalmente incluía um jejum.[3]

No versículo 2, o Senhor descreve muitas coisas espirituais que o povo estava fazendo certo: “Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus”.[4] Na Bíblia de King James, em inglês “… o direito do seu Deus” é apresentado como “… a ordenança do seu Deus”. O povo buscou o Senhor em oração e deleitou-se no conhecimento dos caminhos do Senhor através do estudo das escrituras. Como nação, o povo fez coisas justas, foi fiel às ordenanças do Senhor e procuraram estabelecer a justiça. A observância espiritual da antiga Israel, descrita neste versículo, aplica-se a nós nos últimos dias. Nós também devemos prestar atenção nas instruções do Senhor que nos são dadas.

No versículo 3, o Senhor explica que o povo não tem seguido a lei de jejum corretamente. O Senhor faz perguntas retóricas, em seguida começa Sua explicação: “Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho”. O Senhor não aceita o jejum do povo, e apesar de afligirem as suas almas através do jejum, o Senhor não provê as bênçãos pertinentes. A razão disto é porque o povo busca prazer—ou seja, eles fazem coisas para se divertirem—no dia de jejum. Além disso, as pessoas trabalham, ou fazem outros trabalharem para elas no dia Santificado, quando todos deveriam haver se dedicado ao jejum e oração.

No versículo 4, o Senhor explica em mais detalhes que o povo está jejuando pelas razões erradas: “Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto”. As pessoas estavam jejuando para impressionar uns aos outros, por argumentos e por outros propósitos iníquos ao invés de por causas justas. Sem o espírito correto, o jejum resultará somente em fome, irritabilidade e contenção.[5] Como podemos jejuar com propósitos injustos? Ao provocar nossos filhos rebeldes dizendo num tom acusatório: “Estou jejuando para você.”, isto pode ser tão ofensivo quanto dar-lhes uma bofetada no rosto com nosso punho. Entretanto, se nossos jejuns que oferecemos uns para os outros forem feitos em segredo e em humildade, o Senhor responderá.

O Bispo Victor L. Brown descreveu quatro razões para jejuar: Para vencer as tentações de Satanás, como fez o Salvador; ajudar os pobres e necessitados; obter sucesso na vida; para nos humilharmos, e nos prepararmos para nos comunicar com Deus.[6]

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

A: (3) Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes?
B: Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento,
C: e requereis todo o vosso trabalho.
B: (4) Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo;
A: não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto.

“Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso?” equivale à frase “não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto”. O Senhor responde às perguntas do povo—Ele não respondeu a seus jejuns porque o povo estava fazendo jejum de maneira errada. “No dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento” é complementado por “para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo”. Estas declarações correspondentes—juntamente com o enfoque do quiasma, “e requereis todo o vosso trabalho”— completam a resposta do Senhor. Jejuando para contendas e debates, achando o nosso próprio contentamento, e trabalhando no dia de jejum anulam o nosso esforço espiritual.

No versículo 5, o Senhor faz uma série de perguntas retóricas que contrastam a observância do povo da lei de jejum com a maneira instituída pelo Senhor: “Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?” Quando as pessoas jejuam somente para que outros os vejam jejuar, o Senhor não pode aceitar este jejum. “Incline a sua cabeça como o junco” significa aparentar sofrimento, para outros vejam e saibam que estão jejuando. Estender debaixo de si saco e cinza é uma prática antiga que mostrava ás outras pessoas que um indivíduo estava de luto.[7]

No Sermão da Montanha, Jesus mencionou os mesmos princípios:

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
“Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,
“Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”.[8]

O versículo 5 contém um quiasma:

A: (5) Seria este o jejum que eu escolheria,
B: que o homem um dia aflija a sua alma,
C: que incline a sua cabeça
C: como o junco,
B: e estenda debaixo de si saco e cinza?
A: Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?

Ter a aparência de sofrimento para que outros saibam que estamos jejuando não é aceitável ao Senhor. “Seria este o jejum que eu escolheria[?]” contrasta-se com “chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?”

No começo do versículo 6, o Senhor dá instruções sobre a maneira correta de jejuar: “Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?” “Soltar as ligaduras da impiedade” significa livrar-se da escravidão do pecado; o jejum deve ser uma parte importante no processo de arrependimento.[9] “Desfazer as ataduras do jugo”, “deixar livres os oprimidos”, e “despedaçar todo o jugo” descrevem nossos esforços ao ajudar outras pessoas ou a nós mesmos a livrar-se da escravidão do pecado e retificar os erros cometidos.

Carl B. Pratt do Quórum dos Setenta ensinou:

“Se jejuarmos e orarmos com o objetivo de arrepender-nos de nossos pecados e sobrepujarmos fraquezas pessoais, seguramente estaremos procurando ‘[soltar] as ligaduras da impiedade’ em nossa vida. Se o propósito de nosso jejum for a busca de maior eficácia para ensinar o evangelho e servir ao próximo em nossos chamados da Igreja, por certo estaremos empenhados em ‘[desfazer] as ataduras do jugo’ das pessoas. Se estivermos jejuando e orando para receber auxílio do Senhor em nosso trabalho missionário, certamente estaremos desejando ‘[deixar] livres os oprimidos’. Se a finalidade de nosso jejum for aumentar nosso amor por nosso próximo e vencer nosso egoísmo, orgulho e apego às coisas deste mundo, estaremos verdadeiramente tentando ‘[despedaçar] todo o jugo’”.[10]

Spencer J. Condie, também do Quórum dos Setenta, descreveu como o jejum pode ajudar ao indivíduo a sobrepujar comportamentos viciosos:

“Satanás quer que vocês renunciem a seu arbítrio moral em favor de várias formas de comportamento vicioso, mas um Pai Celestial amoroso prometeu-lhes, por intermédio do Seu profeta, Isaías, que por meio do jejum sincero, ao subjugar seus apetites físicos, Ele os ajudará a “[soltar] as ligaduras da impiedade”, e ‘[despedaçar] todo o jugo’.[11] Invoquem essa promessa por meio do jejum. O jejum, ou a existência de um vazio físico no nosso corpo, abrirá o espaço espiritual necessário para que recebamos a plenitude do evangelho” (ênfases adicionadas).[12]

Elder Condie também descreveu a necessidade de estudar as escrituras e orar, em combinação com o jejum, para tomar decisões importantes em nossas vidas:

“Talvez vocês estejam tomando decisões a respeito da missão, da futura carreira e, finalmente, do casamento. Ao lerem as escrituras e orarem em busca de orientação, talvez não consigam enxergar a resposta na forma de palavras impressas num papel, mas à medida que lerem, receberão fortes impressões, inspirações e, conforme a promessa, o Espírito Santo ‘vos mostrará todas as coisas que deveis fazer’”.[13], [14]

O versículo 7 fornece mais informações essenciais acerca da observância da lei de jejum: “Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?” Repartir nosso alimento com o faminto é uma parte importante do jejum, sem a qual o jejum estaria incompleto.

Podemos dar pão ao que tem fome de diversas formas. A maneira estabelecida na Igreja hoje em dia é de dar uma oferta de jejum generosa consistindo-se de, no mínimo, o valor das refeições que não comemos durante o jejum, ou muito mais se pudermos pagar.[15] Nosso jejum não é considerado completo sem o pagamento de uma oferta de jejum.

O termo “pobres abandonados” refere-se aos desabrigados. A Igreja tem programas onde as ofertas de jejum são usadas para dar assistência aos desabrigados. As ofertas de jejum e o Sistema de Bem-estar da Igreja têm o objetivo de ajudar os pobres da Igreja a não ficarem desabrigados—provendo a assistência necessária para que eles não percam suas casas.[16]

“Os nus” é um eufemismo que quer dizer sem bens materiais. Quando Jó perdeu todos seus bens materiais, ele declarou: “… Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá [para a terra]; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor”.[17]

“E não te escondas da tua carne” significa que cada um de nós temos uma obrigação especial de ajudar nossos familiares. Nossa responsabilidade para com as nossas famílias vai muito além de simplesmente prover comida, roupa e abrigo. Mesmo que nos encontremos ocupados e sobrecarregados com as tarefas diárias, certamente podemos encontrar tempo para segurar uma criancinha no colo, ler uma história para ela e expressar desta e outras formas nosso carinho, amor e compromisso que unem pais e filhos. Semelhantemente, crianças mais velhas e adolescentes precisam de cuidados e amor constantes, que a família deve prover; e até mesmo filhos adultos com suas próprias famílias dependem de seus pais e irmãos para fortalecimento e suporte emocional. Os netos terão uma conexão emocional especial com seus avós, se a responsabilidade primordial de criar e disciplinar for dos pais, fazendo com que o papel dos avós seja o de amar e aceitar incondicionalmente seus netos.

O Sistema de Bem-estar da Igreja é estabelecido sob o princípio de que cada individual tem a responsabilidade primordial de prover para si mesmo. Se o indivíduo cair em situações financeiras difíceis e for incapaz de prover para si mesmo, a responsabilidade recairá, primeiramente, sobre a família; somente quando os familiares não puderem ajudar, a Igreja oferecerá assistência financeira.[18] Por fim, é a responsabilidade do indivíduo de encontrar independência financeira, sendo capaz de prover para si mesmo novamente o mais rápido possível.

Há muitas pessoas na sociedade, entretanto, que confundem rede de segurança para obter-se ajuda temporária com uma rede para relaxar:

“Ai de vós, homens pobres, cujo coração não está quebrantado, cujo espírito não é contrito e cujo ventre não está satisfeito e cujas mãos não cessam de se apoderar de bens alheios, cujos olhos estão cheios de cobiça e que não trabalhais com as próprias mãos!”[19]

Nos versículos 8 até 14 o Senhor descreve bênçãos obtidas com a observância correta da lei de jejum. O versículo 8 começa: “Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda”.

O uso do pronome singular “tua” e “ti” indica que o Senhor está se dirigindo a cada um de nós individualmente, ao invés de a um grupo. “Romperá a tua luz como a alva” significa a luz de inspiração e revelação: Seremos guiados pelo Senhor, a inspiração dos céus estarão disponíveis a cada um de nós. “A tua cura apressadamente brotará” significa que o Senhor sustentar-nos-á com saúde e força. A frase “a tua justiça [indo] adiante de ti” significa que a retidão pessoal serve como defesa contra o mal—assim como um vanguarda em uma operação militar prover proteção ao ir na frente do exército. “A glória do Senhor [sendo] a tua retaguarda” compara-se com os olhos cuidadosos do Senhor com uma força armada protegendo na retaguarda, para evitar ataques vindo daquela direção. Assim, a proteção do Senhor para aqueles que observa corretamente a lei de jejum é comparada como sendo acompanhado por um exército durante o período de tribulações.

O versículo 8 contém um quiasma:

A: (8) Então romperá a tua luz como a alva,
B: e a tua cura apressadamente brotará,
B: e a tua justiça irá adiante de ti,
A: e a glória do Senhor será a tua retaguarda.

Quando somos protegidos pelo Senhor, somos fortalecidos e serviremos como testemunhas para outras pessoas que reconhecerão a mão do Senhor em nossas vidas devido a nossa retidão pessoal. “A tua cura”, ou bem-estar físico, é comparado com “a tua justiça”, ou bem-estar espiritual.

O versículo 9 continua descrevendo as bênçãos: “Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente”. Que grande bênção é ter o Senhor respondendo nossas orações! O Senhor estabelece alguns outros requisitos; só receberemos as bênçãos prometidas se evitarmos o mal. “Tirar do meio de ti o jugo” significa eliminar a opressão e escravidão do pecado. “O estender do dedo” significa apontar—participando em fofocas ou apontando as falhas dos outros. Em nossa sociedade hoje em dia, outro significado para este termo seria fazer um gesto vulgar e insultante com os dedos;[20] não há dúvidas que Isaías realmente viu nossos dias. “Falar iniquamente” significa falar mentiras ou ficar obcecado com as coisas do mundo que não têm nenhum valor eterno.

O versículo 10 descreve bênçãos que são dadas aos que jejuam: “E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia”.[21] “Abrir a nossa alma ao faminto” é o mesmo que “fartar a alma aflita”—fazemos isto quando pagamos uma oferta de jejum generosa. “Então a tua luz nascerá nas trevas” é o mesmo que “a tua escuridão será como o meio-dia”. O significado desta passagem é que a luz dos céus trazidas por meio de inspiração iluminará nossos caminhos num mundo de escuridão e tumultos, como se estivéramos andando em plena luz do sol ao meio-dia. Até em tempos de tribulações, a luz orientadora do Senhor será como o meio-dia, espiritualmente falando; apesar de estarmos rodeados de escuridão e mal.

No versículo 11, o Senhor usa a metáfora da água para representar a orientação espiritual: “E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”. Inspiração e revelação dos céus[22] guiar-nos-ão continuamente se guardarmos a lei de jejum.

Estes princípios foram apresentado nas palavras deste hino em inglês:

Através de jejum viemos a Ti,
E rogamos que Teu Espirito
Purifique nossos corações, expulse o medo
E nos alimente com Seu amor.

Que através deste pequeno sacrifício possamos lembrar
Que a força e vida que recebemos a cada dia
São bênçãos sagradas enviadas por Ti—
Encha-nos de gratidão, é o que pedimos-Te.

Que nosso jejum possa encher-nos de amor
Por todos os Seus filhos necessitados.
Que possamos compartilhar nossas abundâncias,
Para abençoar Suas ovelhas, e alimentar Seus cordeiros.[23]

Jeffrey R. Holland descreveu as bênçãos que receberemos se pagarmos nossos dízimos e ofertas:

“Devemos pagá-los [dízimos e ofertas] como expressão pessoal de amor por um Pai Celestial generoso e misericordioso. Por meio de Sua graça, Deus reparte o pão com o faminto e veste o pobre. Isso incluirá todos nós, quer temporal quanto espiritualmente, diversas vezes durante nossa vida. Para cada um de nós, o evangelho e suas bênçãos são como o amanhecer que afasta a escuridão da ignorância e do pesar, do medo e do desespero. Por todas as nações, Seus filhos O chamam e o Senhor responde. Ao espalhar Seu evangelho pelo mundo, Deus desfaz as ataduras do jugo e liberta os oprimidos. Seu amor generoso torna a vida de nossos membros, ricos ou pobres, próximos ou distantes, ‘como um jardim regado [por] um manancial, cujas águas nunca faltam’”.[24]

Joseph B. Wirthlin, ao citar os versículos 9 e 11, testificou sobre as grandes bênçãos disponíveis quando observamos a lei de jejum corretamente:

“O jejum feito com o devido espírito e à maneira do Senhor irá revigorar-nos espiritualmente, fortalecer nossa autodisciplina, encher nosso lar de paz, iluminar nosso coração com alegria, fortificar-nos contra a tentação, preparar-nos para os momentos de adversidade e abrir as janelas do céu”.[25]

Os versículos 9 até 11 contêm um quiasma:

A: (9) Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui.
B: Se tirares do meio de ti o jugo,
C: o estender do dedo,
C: e o falar iniquamente;
B: (10) E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.
A: (11) E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos ….

As bênçãos descritas neste quiasma depende de nossa decisão de ajudarmos nossos semelhantes a livrarem-se da escravidão do pecado, provendo para os famintos, evitando a fofoca, insultos e mentiras. A frase “Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui” corresponde-se com “o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos”. O Senhor ouvirá nossas orações e nos guiará continuamente, provendo revelações—tão essencial quanto a água para a alma sedenta.

O versículo 12 descreve as bênção da coligação de Israel, relacionando especialmente a nós nos últimos dias: “E os que de ti procederem edificarão as antigas ruínas; e levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar”. Aqueles que cumprem a lei de jejum terão o privilégio de participarem na coligação de Israel e no estabelecimento de Sião. “Reparador das roturas” refere-se a Neemias, que reconstruiu as muralhas ao redor de Jerusalém no final do cativeiro babilônico.[26] Sua obra foi um protótipo para os que estabeleceriam Sião nos últimos dias. Espiritualmente falando, “restaurador de veredas para morar” pode estar se referindo à restauração nos últimos dias do evangelho e da obra do Profeta Joseph Smith. Levantar “os fundamentos de geração em geração” significa o selamento de famílias através das ordenanças sagradas do templo, como uma cadeia ininterrupta no decorrer de muitas gerações.

Em um nível mais pessoal e espiritual, edificar “as antigas ruínas” pode ser que signifique ensinar às novas gerações sobre a fé e doutrina de seus ancestrais. Levantar “os fundamentos de geração em geração” pode ser que seja quando uma criancinha é ensinada a verdade, isto não somente abençoará a vida desta criança, mas como também a de seus descendentes por muitas gerações. “Reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar” pode ser que signifique ser um pacificador—aquele que ensina o altruísmo, a empatia e a evitar contendas. Estas são as tarefas das mulheres e portadores do sacerdócio justos ao ensinarem seus rebanhos.

Em uma revelação moderna, o Senhor referiu-se a esta passagem em Isaías e seu cumprimento:

“Sião não será removida de seu lugar, apesar de seus filhos estarem dispersos.
“Os que permanecerem e forem puros de coração retornarão para suas heranças, eles e seus filhos, com cânticos de eterna alegria, para edificar os lugares desolados de Sião—
“E todas estas coisas para que os profetas se cumpram” (ênfases adicionadas).[27]

O versículo 13 fala sobre a observância do Dia do Santificado, adicionando sua observância à da lei de jejum, a fim de qualificar-nos para receber as bênçãos do Senhor: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras”—O Senhor requer que guardemos o Dia Santificado fazendo e falando o que Ele deseja—não o que nós desejamos. Desviar do pé do sábado significa não seguir nossos próprios caminhos naquele dia—andando somente no caminho que o Senhor deseja que sigamos.

O versículo 14 finaliza a lista de bênçãos a serem recebidas ao obedecer a lei de jejum e guardar o Dia do Senhor: “Então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse”.[28] As bênçãos de Jacó—isto é, as bênçãos do Convênio Abraâmico—foram prometidas àqueles que guardam o Dia do Senhor e obedecem a lei de jejum. O “cavalgar sobre as alturas da terra” significa alcançar nosso potencial máximo—servindo como líderes para os outros filhos de Deus e recebendo a plenitude das bênçãos que o Senhor tem reservado para cada um de nós. Isaías termina seu discurso prestando seu testemunho acerca da fonte das doutrinas que ele tem ensinado: “porque a boca do Senhor o disse”.

O Presidente Spencer W. Kimball aconselhou:

“O dia do Senhor é um dia sagrado no qual se deve realizar coisas dignas e sagradas. A abstinência do trabalho e recreação é importante, mas insuficiente. O dia do Senhor exige pensamentos e atos construtivos, e se a pessoa permanece ociosa, nada fazendo durante esse dia, ela o está quebrando. Para observá-lo adequadamente, tem-se que se ajoelhar em oração, preparar lições, estudar o evangelho, meditar, visitar os enfermos e oprimidos, dormir, ler coisas sadias e benéficas, e frequentar, nesse dia, todas as reuniões designadas. Deixar de fazer essas coisas constitui pecado de omissão”.[29]

Para sermos guiados continuamente pela voz do Senhor devemos guardar a lei de jejum, pois assim disse o Senhor. Muitas bênçãos estão reservadas par os que observam a lei de jejum e guardam o Dia Santificado de acordo com a vontade do Senhor.

NOTAS

[1]. Ver Apocalipse 1:10; Alma 29:1-2; D&C 19:37; 29:4; 30:9; 33:2; 42:6.
[2]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: 1971, Elsevier Publishing Company, 52 Vanderbilt Avenue, New York, NY 10017, Yom Kippur, p. 838.
[3]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 482-484.
[4]. O versículo 2 contém um quiasma: Me procuram cada dia/saber os meus caminhos/justiça//a ordenança do seu Deus/direitos da justiça/têm prazer em se chegarem a Deus.
[5]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 513.
[6]. Victor L. Brown, “Uma Visão da Lei do Jejum”, A Liahona, Fevereiro de 1978, p. 110.
[7]. Ver Ester 4:1, 3; Jeremias 6:26; Daniel 9:3; Jonas 3:6; Mateus 11:21; Lucas 10:13; Mosias 11:25.
[8]. Mateus 6:16-18.
[9]. Ver Joel 2:12-13; Helamã 3:35; Morôni 6:5.
[10]. Carl B. Pratt, “As Bençãos de um Jejum Adequado”, A Liahona, Novembro de 2004, p. 47.
[11]. Isaías 58:6.
[12]. Spencer J. Condie, “Tornar-nos um Grande Benefício para Nossos Semelhantes”, A Liahona, Julho de 2002, p. 48-50.
[13]. 2 Néfi 32:5.
[14]. Spencer J. Condie, “Tornar-nos um Grande Benefício para Nossos Semelhantes”, A Liahona, Julho de 2002, p. 48-50.
[15]. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Sempre Fiéis: 2004, p. 68.
[16]. Thomas S. Monson, “Sê o Exemplo”, A Liahona, Janeiro de 1997, p. 48.
[17]. Jó 1:21.
[18]. Sempre Fiéis, 2004, p. 184-185.
[19]. Doutrina e Convênios 56:17.
[20]. Parry, et al., 1998, p. 515.
[21]. O versículo 10 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Abrires/tua alma/faminto//aflita/a alma/fartares. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[22]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1, 11 e comentário pertinente.
[23]. Hymns of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias], 1985, Hino número 139, “In Fasting We Approach Thee” [“Através de Jejum Viemos aTi”], estrofes 1-3.
[24]. Jeffrey R. Holland, “Como um Jardim Regado”, A Liahona, Janeiro de 2002, p. 37.
[25]. Joseph B. Wirthlin, “A lei de Jejum”, A Liahona, Julho de 2001, p. 91.
[26]. Ver Neemias 6:1; também Neemias 2:17-20; 3:4.
[27]. D&C 101:17-19.
[28]. Os versículos 11 até 14 contêm um quiasma: O Senhor te guiará/fartará a tua alma … fortificará os teus ossos/edificarão as antigas ruínas/levantarás os fundamentos/reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar/desviares o teu pé … fazeres a tua vontade no meu santo dia//chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor/nem falares as tuas próprias palavras/te deleitarás no Senhor/te farei cavalgar sobre as alturas da terra/te sustentarei com a herança de teu pai Jacó/boca do Senhor.