Arquivo da tag: Isaías 49:1

CAPÍTULO 49: “Também Te Dei Para Luz Dos Gentios”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

No capítulo 49 Isaías proclama que ele foi chamado por Deus, trainado e preparado desde que nasceu para servir como um profeta. Apesar de Israel não se arrepender, foi prometido a Isaías a glória do Senhor; Deus será sua força. Foi dado a Isaías, também, a responsabilidade de servir como uma luz para os gentios; ele declararia a salvação até à extremidade da terra. Isaías também profetizou que o Messias seria uma luz para os gentios e libertaria os prisioneiros.[1] A última parte deste capítulo proclama que Israel seria coligada nos últimos dias—levada pelos gentios a conhecer o Senhor e Sua salvação.

O capítulo 49 foi citado por Néfi no Livro de Mórmon, em 1 Néfi capítulo 21. Os versículos 22 e 23 foram também citados e explicados por Jacó, o irmão de Néfi, em 2 Néfi capítulo 6, versículos 6, 7 e 13. As diferenças no uso de palavras são ressaltadas em itálico onde forem citadas. Os capítulos 48 até 54 são citados por completo ou em parte no Livro de Mórmon, cada citação acompanhada de uma explicação e interpretação.[2]

Os versículos 1 até 6 contêm um salmo de servo, o segundo de uma série de quatro salmos de servo encontrados na obra de Isaías.[3] Em um salmo de servo, as características de um servo do Senhor são apresentadas como um salmo ou cântico. Como foi determinado por Isaías nos quatro salmos de servo, Cristo é o melhor exemplo de um servo, fielmente servindo Seu Pai e obedecendo-O em todas as coisas.[4] Vários profetas, inclusive Isaías[5], também apresentaram os critérios de um servo do Senhor.[6] Outros que demonstraram qualidades como as de Cristo como servos incluem a casa de Israel quando estava sendo digna;[7] Joseph Smith, o profeta da restauração;[8] os Santos dos Últimos Dias;[9] e possivelmente outros. Nos versículos 1 até 6, o servo descrito é o próprio Isaías, com os outros representados como símbolos.

No versículo 1, Isaías proclama: “Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: O SENHOR me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome”. Isaías foi chamado desde que nasceu para ser um servo do Senhor; o Senhor reconheceu através da menção do seu nome que Isaías recebeu autoridade divina. “Ouvi-me, ilhas” pode, em parte, referir-se aos nefitas no continente Americano, que possuíam a obra de Isaías e a quem Cristo visitou depois de Sua crucificação e ressurreição. Jacó, o irmão de Néfi, testificou que estavam “em uma ilha do mar”.[10]

O Livro de Mórmon apresenta uma declaração introdutória, aparentemente parte do texto original de Isaías, que precede o versículo 1:

“E outra vez: Escutai, ó vós, casa de Israel, todos vós que fostes separados e expulsos por causa da iniquidade dos pastores de meu povo; sim, todos vós que estais separados, que estais dispersos no estrangeiro, que sois de meu povo, ó casa de Israel”.[11]

A frase “Todos vós que fostes separados” refere-se à alegoria das oliveiras boa e brava mencionada pelo profeta Zenos—registrada nas placas de latão e citada extensamente por Jacó, o irmão de Néfi[12]—e referida pelo Apóstolo Paulo no Novo Testamento.[13] A dispersão de Israel foi “por causa da iniquidade dos pastores de meu povo”.

O versículo 1 contém dois quiasmas, o primeiro da oração introdutória apresentada no Livro de Mórmon:

A: (1) E outra vez: Escutai, ó vós, casa de Israel,
B: todos vós que fostes separados e expulsos por causa da iniquidade dos pastores de meu povo;
C: sim, todos vós que estais separados,
C: que estais dispersos no estrangeiro,
B: que sois de meu povo,
A: ó casa de Israel.

As palavras de Isaías são dirigidas à Israel dispersa. “Escutai, ó vós, casa de Israel” corresponde –se com “ó casa de Israel”. “Todos vós que fostes separados e expulsos por causa da iniquidade dos pastores de meu povo” complementa “que sois de meu povo”; e “todos vós que estais separados” corresponde com “dispersos no estrangeiro”.

O segundo quiasma no versículo 1 é apresentado tanto na Bíblia quanto no Livro de Mórmon:

A: (1) Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe:
B: O SENHOR me chamou
C: desde o ventre,
C: desde as entranhas de minha mãe
B: fez menção
A: do meu nome.

Isaías, desde seu nascimento, foi chamado pelo Senhor. “Ouvi-me, ilhas …” complementa “[fez menção] do meu nome”. “O SENHOR me chamou” complementa “fez menção …”; e “desde o ventre” compara-se com “desde as entranhas de minha mãe”.

O versículo 2, simbolicamente, descreve a preparação de Isaías para servir como servo e profeta do Senhor: “E fez a minha boca como uma espada aguda, com a sombra da sua mão me cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me escondeu na sua aljava”.

O Senhor concedeu a Isaías poderes linguísticos extraordinários—como se vê na qualidade de sua obra e, sem dúvidas, de sua oratória. Seu poder linguístico é descrito na símile “fez a minha boca como uma espada aguda”. Também, como o eixo de uma flecha o Senhor tem limpado (ou polido) e protegido Isaías ao escondê-lo na Sua aljava. Além disso, o Senhor tem protegido Seu servo Isaías “na sombra da sua mão”. Estas descrições metafóricas dos atributos de Isaías como armamentos (flecha, espada) significa que seu testemunho contra o impenitente penetraria e selaria seu destino quando os julgamentos do Senhor fossem derramados. A autoridade de Isaías como um servo do Senhor para fazer tal declaração é inquestionável. Algumas destas características descrevem outros servos do Senhor que são tipificados neste salmo de servo.

No versículo 3, o Senhor fala a Isaías como o representante de Israel: “E me disse: Tu és meu servo; és Israel, aquele por quem hei de ser glorificado”. O Senhor, eventualmente, seria glorificado pelo Seu servo Israel depois que os descendentes de Israel se arrependessem de seus pecados e fossem coligados. Isaías, chamado como o profeta de Israel, serve como o representante de Israel diante do Senhor—responsável pelos pecados do povo se ele falhar em cumprir seus deveres.[14]

O versículo 4 descreve o desencorajamento de Isaías diante do Senhor: “Porém eu disse: Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus”.[15] Apesar de seu desencorajamento, devido a rebeldia de Israel, ele sabe que o Senhor julgá-lo-á favoravelmente devido seus esforços, mesmo que ele não tenha tido sucesso em trazer Israel ao arrependimento. O desencorajamento de Isaías descrito neste versículo representa o desencorajamento dos outros servos que são tipificados neste salmo de servo.

No versículo 5 o Senhor reassegurou Isaías: “E agora diz o Senhor, que me formou desde o ventre para ser seu servo, para que torne a trazer Jacó; porém Israel não se deixará ajuntar; contudo aos olhos do Senhor serei glorificado, e o meu Deus será a minha força”.[16] Mesmo que Israel haja recusado a responder ao chamado ao arrependimento, Isaías é assegurado da aceitação dos seus esforços pelo Senhor.

No versículo 6, o Senhor dá a Isaías mais instruções: “Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra”. O significado de “até à extremidade da terra” é a parte mais distante da Terra.[17] O trabalho de Isaías de restaurar Israel é julgado pelo Senhor como fácil para ele; o Senhor dá-lhe um dever adicional de servir como luz dos gentios, que quer dizer as nações da Terra em general.[18] As palavras de Isaías testemunhariam poderosamente sobre Deus e Seu Plano de Salvação, tanto aos descendentes de Israel quanto a todos os outros povos.

Juntamente com o chamado de Isaías de ser um servo do Senhor, outros que se assemelham a parte desta descrição seriam também chamados. O Apóstolo Paulo, ao citar este versículo, aceita o mandato de ser uma luz para os gentios como um dever dos primeiros cristãos: “Porque o Senhor assim no-lo mandou: eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra”.[19]

O Senhor, em Doutrina e Convênios, proclama que Seus discípulos dos últimos dias deveriam ser uma luz para os gentios: “Portanto bem-aventurados sois se continuais em minha bondade, uma luz para os gentios; e por meio deste sacerdócio, um salvador para meu povo, Israel. O Senhor disse-o”.[20] O mandamento aos servos do Senhor, de serem “uma luz para os gentios”, aplica-se ao próprio Senhor; aos profetas Israelitas antigos, através de suas palavras que foram escritas; aos primeiros discípulos cristãos; a Joseph Smith, o profeta da restauração; e aos Santos dos Últimos Dias.

Os versículos 1 até 6 contêm um quiasma:[21]

A: (1) Ouvi-me, ilhas,
B: e escutai vós, povos de longe:
C: O SENHOR me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome.
D: (2) E fez a minha boca como uma espada aguda, com a sombra da sua mão me cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me escondeu na sua aljava;
E: (3) E me disse: Tu és meu servo;
F: és Israel, aquele por quem hei de ser glorificado.
G: (4) Porém eu disse: Debalde tenho trabalhado,
G: inútil e vãmente gastei as minhas forças;
F: todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus.
E: (5) E agora diz o Senhor,
D: que me formou
C: desde o ventre para ser seu servo, para que torne a trazer Jacó; porém Israel não se deixará ajuntar; contudo aos olhos do Senhor serei glorificado, e o meu Deus será a minha força. (6) Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo,
B: para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios,
A: para seres a minha salvação até à extremidade da terra.

Este quiasma se centraliza no sentimento de desapontamento e desencorajamento de Isaías que seus esforços não resultaram em arrependimento entre os membros da casa de Israel. “Debalde tenho trabalhado” corresponde à frase “inútil e vãmente gastei as minhas forças”. Apesar de seu desencorajamento, ele se conforta em saber que seu trabalho foi inspirado e direcionado por Deus. O Senhor então, expande o chamado de Isaías à toda a Terra e seus habitantes: “Ouvi-me, ilhas” é complementado por “para seres a minha salvação até à extremidade da terra”. “Povos” é complementado por “as tribos de Jacó”, “os preservados de Israel” e “os gentios”, fornecendo um significado maior. A mensagem do Senhor a Isaías, de que seus esforços diligentes glorificariam-Lhe, está sutilmente escondida neste quiasma: “todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus” é complementada por “és Israel, aquele por quem hei [o Senhor] de ser glorificado”. O arrependimento e retidão de Israel nos últimos dias traria honra e glória tanto a Isaías quanto ao Senhor.

No versículo 7 o Senhor declara que mesmo que Isaías seja desprezado pelos homens, o Senhor o escolheu: “Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, o seu Santo, à alma desprezada, ao que a nação abomina, ao servo dos que dominam: Os reis o verão, e se levantarão, como também os príncipes, e eles diante de ti se inclinarão, por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu”.[22] O Livro de Mórmon apresenta: “… a quem as nações abominam …”.[23] O Senhor refere-se a posição de Isaías como conselheiro na corte do rei Ezequias, onde lhe foi conferido uma grande honra; sendo isto um exemplo da honra que Isaías receberia nos últimos dias através de sua obra. “O seu Santo” significa aquele a quem Isaías estima como sagrado—o Senhor, que se dirige a Isaías, nesta passagem, na terceira pessoa.

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

A: (6) Disse mais:
B: Pouco é que sejas o meu servo,
C: para restaurares as tribos de Jacó,
C: e tornares a trazer os preservados de Israel;
B: também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra.
A: (7) Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel ….

O Senhor deu a Isaías um dever a mais, o de ser uma luz aos gentios, pelo qual Israel seria restaurada. “Disse mais” complementa “Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel”. “Pouco é que sejas o meu servo” correlaciona-se com “também te dei para luz dos gentios”. Devido os quiasmas se sobreporem “assim diz o Senhor” e “por amor do Senhor, que é fiel” no versículo 7 são equivalentes à frase “Disse mais” no versículo 6, estabelecendo a referência para o verbo na terceira pessoa.

O versículo 8 declara: “Assim diz o Senhor: No tempo aceitável te ouvi e no dia da salvação te ajudei, e te guardarei, e te darei por aliança do povo, para restaurares a terra, e dar-lhes em herança as herdades assoladas”. O Livro de Mórmon apresenta: “… Na ocasião propícia vos ouvi, ó ilhas do mar, e no dia da salvação vos ajudei; e eu vos preservarei e dar-vos-ei meu servo por convênio do povo …”.[24] As palavras de Isaías serviriam como um convênio para o povo, isto é, elas restaurariam os dispersos de Israel ao conhecimento do Convênio Abraâmico. O uso do termo “meu servo” na redação do Livro de Mórmon se refere a Isaías, ao Senhor, ao profeta da restauração, e a outros descritos no salmo de servo dos versículos 1 até 6. “Para restaurares a terra” significa que os dispersos de Israel seriam restaurados às sua terras prometidas—às suas herdades assoladas.[25]

O Livro de Mórmon deixa claro que o Senhor está falando aos dispersos de Israel—representados, aqui, pela posteridade de Leí, que afirmaram que estavam vivendo em uma ilha do mar.[26] Néfi indica que havia mais grupos dispersos do que os nefitas e seus irmãos, os lamanitas: “Mas grandes são as promessas o Senhor aos que estão nas ilhas do mar; portanto, como é dito ilhas, deve haver outras além desta e elas são também habitadas por nossos irmãos”.[27]

Depois da coligação nos últimos dias, os habitantes das ilhas do mar seriam apontados “para herdarem as herdades assoladas”. Esta declaração compara-se com a declaração de Isaías em outra parte, no capítulo 54: “Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”.[28]

Paulo parafraseou parte do versículo 8: “Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável e socorri-te no dia da salvação; eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação”.[29] Agora é o dia da salvação para qualquer pessoa que está sendo ensinada o evangelho, ouvindo as boas novas pela primeira vez. “Socorri-te” através da influência do Espírito Santo, respostas às orações e outras bênçãos espirituais e temporais.

No versículo 9, o Senhor fala para Isaías que seu testemunho escrito seria instrumental na coligação de Israel: “Para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei. Eles pastarão nos caminhos, e em todos os lugares altos haverá o seu pasto”. A metáfora dos fiéis como um rebanho é usada aqui; as necessidades espirituais do penitente virão dos céus. A natureza da coligação é mencionada aqui: a libertação da escuridão e escravidão espirituais resultam devido ao conhecimento do verdadeiro evangelho. “Lugares altos” significa os templos, onde as bênçãos da exaltação são dadas. “Eles pastarão nos caminhos” significa que aqueles sendo coligados serão nutridos espiritualmente ao apegarem-se ao evangelho, ou trilharem o caminho estreito e apertado.

As tribos estão perdidas de duas maneiras: Primeiramente, o mundo em geral não conhece sua verdadeira identidade; e segundo, eles mesmos desconhecem sua identidade e herança. Eles serão coligados quando estes dois obstáculos forem sobrepujados, e isto acontecerá quando eles receberem a mensagem do evangelho restaurado. Eles aprenderão sobre sua linhagem através do estudo das escrituras e através de revelação—ao receberem suas bênçãos patriarcais.

Os versículos 8 e 9 contêm um quiasma:

A: (8) Assim diz o Senhor:
B: No tempo aceitável te ouvi ó ilhas do mar,
C: e no dia da salvação te ajudei,
D: e te guardarei,
D: e te darei meu servo
C: por aliança do povo,
B: para restaurares a terra, e dar-lhes em herança as herdades assoladas;
A: (9) Para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei ….

Este quiasma—com o significado adicional do Livro de Mórmon—indica que os descendentes de Leí são os que herdariam as herdades assoladas mencionadas. “No tempo aceitável te ouvi ó ilhas do mar” corresponde com “para restaurares a terra, e dar-lhes em herança as herdades assoladas”. A frase “no dia da salvação te ajudei” compara-se com “por aliança do povo”; e “te guardarei” correlaciona com “te darei meu servo”.

Há registros que mostram que Brigham Young falou frequentemente que quando os Santos retornarem ao condado de Jackson, Missouri, que não haveria ali sequer um “cão amarelo balançando o rabinho”.[30] Talvez esta desolação seja o que Isaías estava se referindo no versículo 8, quando ele profetizou “… dar-lhes em herança as herdades assoladas”.

O versículo 10 descreve as grandes bênçãos e conforto espirituais a serem concedidos à Israel coligada, novamente usando a metáfora dos fiéis como um rebanho: “Nunca terão fome, nem sede, nem o calor, nem o sol os afligirá; porque o que se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos mananciais das águas”. “Mananciais das águas” significa revelação e inspiração dos céus.[31] O Senhor cuidará dos justos como o pastor cuida de suas ovelhas.

João, o Revelador, parafraseia o versículo 10, aplicando o significado espiritual àqueles que alcançarem o mais alto grau de glória no reino celestial: “Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles”.[32]

No versículo 11 o Senhor declara: “E farei de todos os meus montes um caminho; e as minhas estradas serão levantadas”. “Montes” é uma metáfora que significa “nações”;[33] “caminho” e “estradas” significam “caminho da retidão” ou o Plano de Salvação.[34] O Senhor preparará os caminhos, ou meios para a coligação e retorno da Israel dispersa.[35]

No versículo 12, o Senhor continua: “Eis que estes virão de longe, e eis que aqueles do norte, e do ocidente, e aqueles outros da terra de Sinim”. O Livro de Mórmon apresenta: “E então, ó casa de Israel, eis que estes virão de longe …”.[36] “Sinim” vem do hebraico Ciyniym, que quer dizer “China”.[37] Este significado vem originalmente do chinês ch’in, que quer dizer “homem”. A primeira dinastia chinesa foi a Dinastia Chin (ou Qin), que governou de 221 a.C. até 207 a.C.[38] Não se sabe se Isaías quis dizer literalmente que parte dos coligados de Israel viria da China, ou se ele quis dizer figurativamente “um lugar muito distante”. Entretanto, o período da Dinastia Chin (ou Quin) favorece a possibilidade que havia Israelitas na China. Os pontos cardinais do compasso, juntamente com Sinim, representam terras para onde as tribos de Israel foram levadas cativas.[39]

Os versículos 9 até 12 contêm um quiasma:

A: (9) Para dizeres aos presos: Saí;
B: e aos que estão em trevas: Aparecei.
C: Eles pastarão nos caminhos,
D: e em todos os lugares altos haverá o seu pasto.
E: (10) Nunca terão fome, nem sede, nem o calor, nem o sol os afligirá;
F: porque o que se compadece deles os guiará
F: e os levará mansamente aos mananciais das águas.
E: (11) E farei de todos os meus montes um caminho;
D: e as minhas estradas serão levantadas.
C: (12) E então, ó casa de Israel, eis que estes virão de longe,
B: e eis que aqueles do norte, e do ocidente,
A: e aqueles outros da terra de Sinim.

Os coligados de Israel viriam de diversos lugares distantes, guiados e liderados pelo Senhor. “Para dizeres aos presos: Saí” corresponde com “aqueles outros da terra de Sinim”; os presos que iriam adiante incluem alguns da terra de Sinim. “Aos que estão em trevas: Aparecei” é equivalente à frase “aqueles do norte, e do ocidente”, descrevendo o estado espiritual daqueles a serem coligados.

O versículo 13 descreve a grande alegria, tanto dos céus quanto de toda a Terra, pela coligação de Israel: “Exultai, ó céus, e alegra-te, ó terra, e vós, montes, estalai com júbilo, porque o Senhor consolou o seu povo, e dos seus aflitos se compadecerá”. [40] O Livro de Mórmon apresenta: “Cantai, ó céus; e alegra-te, ó Terra, pois estabelecer-se-ão os pés dos que estão no oriente; cantai, ó montanhas, pois eles não mais serão feridos …”.[41] “Montes” ou “montanhas”, como foi usado aqui e por todo o Livro de Isaías, significa “nações”.[42] “Estabelecer-se-ão os pés dos que estão no oriente” significa que o caminho que seus pés trilhariam—que quer dizer o caminho estreito e apertado—seria novamente estabelecido em suas vidas.

Em Doutrina e Convênios, Joseph Smith usa semelhantes palavras para descrever a grande alegria pela restauração das ordenanças de salvação para os mortos:

“Irmãos, não prosseguiremos em tão grande causa? Ide avante e não para trás. Coragem, irmãos; e avante, avante para a vitória! Regozije-se vosso coração e muito se alegre. Prorrompa a terra em canto. Entoem os mortos hinos de eterno louvor ao Rei Emanuel, que estabeleceu, antes da fundação do mundo, aquilo que nos permitiria redimi-los de sua prisão; pois os prisioneiros serão libertados” (ênfases adicionadas).[43]

Uma razão para a alegria expressada pela Israel coligada seria porque as ordenanças de salvação estariam disponíveis a eles e aos seus ancestrais.

O versículo 13 contém um quiasma:

A: (13) Exultai, ó céus, e alegra-te, ó terra,
B: pois estabelecer-se-ão os pés dos que estão no oriente;
C: e vós, montes,
C: estalai com júbilo,
B: pois eles não mais serão feridos;
A: porque o Senhor consolou o seu povo, e dos seus aflitos se compadecerá.

Isaías explicou neste quiasma o porquê os céus e a Terra regozijaram-se e cantariam. “Exultai, ó céus, e alegra-te, ó terra” corresponde com “o Senhor consolou o seu povo, e dos seus aflitos se compadecerá”. “Pois estabelecer-se-ão os pés dos que estão no oriente” correlaciona com “pois eles não mais serão feridos”; e “vós, montes” é complementado por “estalai com júbilo”.

O versículo 14 descreve o desencorajamento dos justos ao enfrentarem adversidades: “Porém Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”. O primeiro “o Senhor” neste versículo é traduzido do hebraico Yahovah,[44] enquanto que o segundo, “meu Senhor”, significa um líder político. Neste caso, os dois são equivalentes quiasmaticamente. O Livro de Mórmon apresenta: “Mas eis que Sião disse: O Senhor abandonou-me e meu Senhor esqueceu-se de mim—ele, porém, mostrará que não é assim”.[45], [46] A rejeição do Senhor das reclamações injustificadas de Sião foi explicada no Livro de Mórmon. “Sião” foi usada aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para a Jerusalém justa dos últimos dias.[47]

O versículo 15 fornece a resposta confortadora do Senhor: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”. O Livro de Mórmon apresenta: “Pois pode uma mulher esquecer o filho que está amamentando e deixar de sentir compaixão do filho de suas entranhas? Sim, pode esquecer; eu, porém, não te esquecerei, ó casa de Israel.[48] O Senhor ama e lembra dos justos de Israel mais ainda do que a mulher cuida e ama seu filho.

No versículo 16, o Senhor continua Sua explicação: “Eis que te tenho gravada nas palmas de minhas mãos; teus muros estão continuamente diante de mim”. Aqui, o Senhor prenuncia Seu sacrifício expiatório—mencionando que Ele seria crucificado, dando Sua vida pelos penitentes. Como feridas nas palmas de Suas mãos—que ficaram mesmo depois de Sua ressurreição servindo de testemunha de que Ele foi crucificado[49]—são sinais de Seu imensurável amor à toda a humanidade.

João, no Novo Testamento, registrou este evento do Senhor ressuscitado aparecendo aos apóstolos:

“Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
“Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.
“E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco.
“Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.
“E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!” (Ênfases adicionadas).[50]

O Livro de Mórmon fornece o seguinte relato sobre o Senhor ressuscitado aparecendo aos nefitas:

“E aconteceu que a multidão se adiantou e meteu as mãos no seu lado e apalpou as marcas dos cravos em suas mãos e seus pés; e isto fizeram, adiantando-se um por um, até que todos viram com os próprios olhos, apalparam com as mãos e souberam com toda a certeza, testemunhando que ele era aquele sobre quem os profetas escreveram que haveria de vir” (ênfases adicionadas).[51]

Os sinais pelos quais o povo reconheceu o Senhor foram-lhes dados pelos profetas nas escrituras—aqui no versículo 16 e em outras passagens.[52] Seus registros ou testemunhos que eles prestaram é, portanto, legalmente vinculativo, já que satisfaz os requerimentos estipulados pela antiga profecia. Dando mérito a Tomé, o incrédulo, ele parece haver reconhecido este requerimento de ver as feridas nas palmas de suas mãos.

O versículo 17 descreve a conquista de Israel de seus inimigos e a reconstrução de Jerusalém: “Os teus filhos pressurosamente virão, mas os teus destruidores e os teus assoladores sairão do meio de ti”. O Livro de Mórmon apresenta: “Teus filhos precipitar-se-ão contra os teus destruidores …”.[53] O Livro de Mórmon esclarece que “teus filhos” são aqueles que “pressurosamente virão” contra os destruidores, expulsando-os rapidamente do meio deles.[54] Para Jerusalém, esta profecia seria cumprida várias vezes.

Os versículos 14 até 17 contêm um quiasma:

A: (14) Porém eis que Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim.
B: ele, porém, mostrará que não é assim.
C: (15) Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre?
D: Mas ainda que esta se esquecesse dele,
D: contudo eu não me esquecerei de ti, ó casa de Israel.
C: (16) Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei;
B: os teus muros estão continuamente diante de mim.
A: (17) Os teus filhos pressurosamente virão contra os teus destruidores, e os teus assoladores sairão do meio de ti.

Neste quiasma, o sacrifício expiatório do Senhor serve como o maior ato de compaixão e amor altruísta. “Porém eis que Sião diz: Já me desamparou o Senhor” contrasta-se com “Os teus filhos pressurosamente virão contra os teus destruidores”. “Ele, porém, mostrará que não é assim [esquecido-se de Israel]” compara-se com “os teus muros estão continuamente diante de mim”; as frases adicionais do Livro de Mórmon fazem com que este quiasma funcione. “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre?” corresponde com “Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei”; e “mas ainda que esta se esquecesse dele” contrasta-se com “contudo eu não me esquecerei de ti, ó casa de Israel”.

Os versículos 18 até 23 descrevem a coligação de Israel nos últimos dias. No versículo 18, o Senhor fala à Sião e a Jerusalém: “Levanta os teus olhos ao redor, e olha; todos estes que se ajuntam vêm a ti; vivo eu, diz o Senhor, que de todos estes te vestirás, como de um ornamento, e te cingirás deles como noiva”. [55] O Livro de Mórmon apresenta: “… E como vivo, diz o Senhor, de todos eles te vestirás …”.[56] Bem como uma noiva coloca joias e ornamentos caros, Sião e Jerusalém receberiam aqueles coligados. A declaração “Como vivo, diz o Senhor” é o mais solene dos juramentos possível sob quaisquer circunstâncias.[57]

Os versículos 19 até 21 descrevem o grande número de pessoas que seriam coligadas. O versículo 19 começa: “Porque nos teus desertos, e nos teus lugares solitários, e na tua terra destruída, agora te verás apertada de moradores, e os que te devoravam se afastarão para longe de ti”. A terra outrora devastada e desolada ficaria cheia com os coligados de Israel.

O versículo 20 continua: “E até mesmo os filhos da tua orfandade dirão aos teus ouvidos: Muito estreito é para mim este lugar; aparta-te de mim, para que possa habitar nele”. O Livro de Mórmon apresenta: “Os filhos que tiveres, depois de haveres perdido o primeiro, dirão novamente em teus ouvidos …”.[58] Sião e Jerusalém se esforçarão em abrigar os desterrados de Israel que já foram coligados.

O versículo 21 resume: “E dirás no teu coração: Quem me gerou estes? Pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara; quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?” Sião e Jerusalém se maravilhariam com a coligação dos filhos do Convênio Abraâmico.

Os versículos 18 até 21 contêm um quiasma:

A: (18) Levanta os teus olhos ao redor, e olha;
B: todos estes que se ajuntam vêm a ti; e como vivo, diz o Senhor,
C: que de todos estes te vestirás, como de um ornamento, e te cingirás deles como noiva.
D: (19) Porque nos teus desertos, e nos teus lugares solitários,
E: e na tua terra destruída, agora te verás apertada de moradores, e os que te devoravam se afastarão para longe de ti.
F: (20) E até mesmo os filhos
F: da tua orfandade dirão aos teus ouvidos:
E: Muito estreito é para mim este lugar;
D: aparta-te de mim, para que possa habitar nele.
C: (21) E dirás no teu coração: Quem me gerou estes?
B: Pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara;
A: quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?

Este quiasma explica que os coligados de Israel seriam tão numerosos que encheriam a terra de sua herança e precisariam de outras terras para habitarem. “Levanta os teus olhos ao redor, e olha” corresponde à “quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?”. “Todos estes que se ajuntam vêm a ti” correlaciona com “pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara”; e “porque nos teus desertos, e nos teus lugares solitários” complementa “aparta-te de mim, para que possa habitar nele”.

Os versículos 22 e 23 descrevem o papel das nações dos gentios na restauração de Israel. O versículo 22 começa: “Assim diz o Senhor DEUS: Eis que levantarei a minha mão para os gentios, e ante os povos arvorarei a minha bandeira; então trarão os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros”. [59] O Senhor estabeleceria, primeiramente, Seu reino nos últimos dias entre os gentios, que também receberiam as bênçãos do Senhor, e se tornariam Seus servos, e serviriam como Seu porta-estandarte. O evangelho restaurado seria pregado por eles aos dispersos de Israel por todo o mundo, de onde forem recolhidos.

O versículo 23 continua a descrição: “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as tuas amas; diante de ti se inclinarão com o rosto em terra, e lamberão o pó dos teus pés; e saberás que eu sou o Senhor, que os que confiam em mim não serão confundidos”. Aqueles que confiam no Senhor durante as tribulações e perseguições não serão confundidos.

Os versículos 22 e 23 foram citados por Jacó, o irmão de Néfi, sem nenhuma variação da narração de João Ferreira de Almeida.[60] Depois, foi explicada por Jacó:

“Portanto os que lutarem contra Sião e contra o povo do convênio do Senhor lamberão o pó de seus pés; e o povo do Senhor não se envergonhará, pois o povo do Senhor são aqueles que o aguardam, pois ainda esperam a vinda do Messias”.[61]

Os inimigos do povo do convênio e de Sião são aqueles que, figurativamente, lamberão o pó de seus pés, enquanto que os reis dos gentios e as suas rainhas nutrirão os coligados.

Néfi explicou o significado desta passagem:

“E depois de nossos descendentes haverem sido dispersos, o Senhor Deus fará uma obra maravilhosa entre os gentios, que será de grande valor para nossos descendentes; é como se fossem, portanto, alimentados pelos gentios e carregados em seus braços e sobre seus ombros”.[62]

A “obra maravilhosa” que Néfi mencionou é a restauração do evangelho e a chegada do Livro de Mórmon nos últimos dias.[63]

Os versículos 22 e 23 contêm um quiasma:

A: (22) Assim diz o Senhor DEUS:
B: Eis que levantarei a minha mão para os gentios,
C: e ante os povos arvorarei a minha bandeira;
D: então trarão
E: os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros.
E: (23) E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as tuas amas;
D: diante de ti se inclinarão
C: com o rosto em terra, e lamberão o pó dos teus pés;
B: e saberás
A: que eu sou o Senhor, que os que confiam em mim não serão confundidos.

Este quiasma prevê que a coligação de Israel seria grandemente facilitada pelos gentios, de quem os coligados de Israel receberiam o evangelho e suas bênçãos. “Levantarei a minha mão para os gentios” é complementado por “saberás”, indicando que os filhos de Israel viriam a conhecer o Senhor através do ministério dos gentios. “Então trarão” compara-se com “diante de ti se inclinarão”; e “os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros” complementa “os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as tuas amas”.

Os versículos 24 até 26 descrevem a destruição dos ímpios e a derrota dos opressores do povo do Senhor. O versículo 24 começa: “Porventura tirar-se-ia a presa ao poderoso, ou escapariam os legalmente presos?” Nesta pergunta retórica Isaías apresenta um cenário bem improvável.

O versículo 25 descreve a intervenção do Senhor: “Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao poderoso, e a presa do tirano escapará; porque eu contenderei com os que contendem contigo, e os teus filhos eu remirei”. A Tradução de Joseph Smith apresenta:

“Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao poderoso, e a presa do tirano escapará; porque o Deus Todo Poderoso livrará seu povo do convênio. Porque assim diz o Senhor, porque eu contenderei com os que contendem contigo, e os teus filhos eu salvarei”.[64]

O Senhor lutará as batalhas dos justos que serão protegidos e vindicados, não importa o quão temível seja o inimigo.

O Senhor dá uma maior explicação aos Seus discípulos nos últimos dias:

“Porque eis que não exijo de suas mãos que lutem as batalhas de Sião; porque, como disse num mandamento anterior, assim também farei—lutarei vossas batalhas.
“Eis que enviei o destruidor para destruir e assolar meus inimigos; e em poucos anos já não existirão para profanar minha herança e blasfemar meu nome nas terras que consagrei para a reunião de meus santos”.[65]

O versículo 26 elabora: “E sustentarei os teus opressores com a sua própria carne, e com o seu próprio sangue se embriagarão, como com mosto; e toda a carne saberá que eu sou o Senhor, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Forte de Jacó”. O Senhor proclama neste versículo que os ímpios seriam destruídos pelos ímpios, através de guerras entre eles.[66] Os títulos “Salvador” e “Redentor” refletem a missão do Senhor de prover a salvação da morte através da ressurreição e das bênçãos da redenção de nossos pecados.[67] A frase “e toda a carne saberá que eu sou o Senhor, o teu Salvador, e o teu Redentor” reflete o significado das sentenças “diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua”.[68] Longe de ser uma promessa de salvação universal para todos que confessarem o nome do Senhor, isto serve para condenar ainda mais o pecador, como foi descrito por Alma, o filho:

“Sim, mesmo no último dia, quando todos os homens se apresentarem para serem julgados por ele, confessarão que ele é Deus; então os que vivem sem Deus no mundo confessarão que o julgamento de um castigo eterno sobre eles é justo …”.[69]

O Senhor descreve o assunto aos Seus discípulos dos últimos dias:

“Portanto em verdade eu digo: Que os iníquos prestem atenção e que os rebeldes temam e estremeçam; e que os incrédulos fechem os lábios, pois o dia da ira cairá sobre eles como um furacão; e toda carne saberá que eu sou Deus” (ênfases adicionadas).[70]

Os versículos 25 e 26 contêm um quiasma:

A: (25) Mas assim diz o Senhor:
B: Por certo que os presos se tirarão ao poderoso,
C: e a presa do tirano escapará;
D: porque eu contenderei com
D: os que contendem contigo,
C: e os teus filhos eu remirei.
B: (26) E sustentarei os teus opressores com a sua própria carne, e com o seu próprio sangue se embriagarão, como com mosto;
A: e toda a carne saberá que eu sou o Senhor, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Forte de Jacó.

O Senhor lutará as batalhas de Seus discípulos; os coligados de Israel serão salvos e protegidos, enquanto que os iníquos serão destruídos. “Mas assim diz o Senhor” complementa “toda a carne saberá que eu sou o Senhor, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Forte de Jacó”. “Por certo que os presos se tirarão ao poderoso” complementa “e sustentarei os teus opressores com a sua própria carne, e com o seu próprio sangue se embriagarão, como com mosto”; e “a presa do tirano escapará” iguala-se à frase “os teus filhos eu remirei”, indicando que a presa do tirano são os filhos de Israel em seu estado disperso.
NOTAS

[1]. Ver Doutrina e Convênios 128:22.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 358-360. Os quatro salmos de servos encontram-se em Isaías 42:1-4, 49:1-6; 50:4-9 e 52:13 até 53:12.
[4]. Ver João 6:38.
[5]. Ver Isaías 49:5; Amós 3:7; Apocalipse 10:7.
[6]. Ludlow, 1982, p. 358-360.
[7]. Ver Isaías 41:8-10 e comentário pertinente.
[8]. Ver D&C 1:17, 29; 19:13; 28:2; 35:17-18.
[9]. Ver D&C 1:6; 42:63; 44:1; 68:5-6; 133:30, 32.
[10]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 24:15; 42:4, 10; 51:5; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[11]. 1 Néfi 21:1.
[12]. Ver Jacó 5:1-77.
[13]. Ver Romanos 11:16-25.
[14]. Ver Jacó 1:19.
[15]. Os versículos 2 até 4 contêm um quiasma: A minha boca como uma espada aguda/me escondeu/me disse/tu és meu servo//és Israel, aquele por quem hei de ser glorificado/eu disse/debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças/o meu galardão perante o meu Deus.
[16]. Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma: Debalde tenho trabalhado/todavia o meu direito está perante o Senhor/meu galardão/meu Deus/o Senhor//para ser seu servo, para que torne a trazer Jacó/contudo aos olhos do Senhor serei glorificado/o meu Deus será a minha força.
[17]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Strong’s Number (Número de Strong)7097, p. 892.
[18]. Brown et al., 1996, Strong’s Number (Número de Strong)1471, p. 156.
[19]. Atos 13:47.
[20]. D&C 86:11.
[21]. Compare Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[22]. O versículo 7 contém um quiasma sobreposto: O Senhor/Redentor de Israel/seu Santo/alma desprezada//que a nação abomina/os reis o verão, e se levantarão/também os príncipes, e eles diante de ti se inclinarão/do Senhor.
[23]. 1 Néfi 21:7.
[24]. 1 Néfi 21:8.
[25]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 429.
[26]. 2 Néfi 10:20.
[27]. 2 Néfi 10:21.
[28]. Isaías 54:3.
[29]. 2 Coríntios 6:2.
[30]. J. Golden Kimball, Conference Report [Relatório da Conferência], Outubro de 1930, p. 59.
[31]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:10-11; 58:11.
[32]. Apocalipse 7:16.
[33]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[34]. Ver Isaías 11:16; 19:23; 35:8; 40:14 e comentário pertinente.
[35]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaiah Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 1 Néfi 21/Isaías 49, p. 351.
[36]. 1 Néfi 21:12.
[37]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5515, p. 692; Ver também Dicionário Bíblico—Sinim.
[38]. “China dos Qin e dos Han (250-220 a. C.)”—Infopédia, Enciclopédia e Dicionários Porto Editora (em linha, http://www.infopedia.pt/$china-dos-qin-e-dos-han-%28250-220-a.-c.%29) .
[39]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 42:24; 43:5, 6; 54:7.
[40]. O versículo 13 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Consolou/o seu povo//dos seus aflitos/se compadecerá. Em Parry, 2001, p. 263.
[41]. 1 Néfi 21:13.
[42]. Ver versículo 11 e comentário pertinente.
[43]. D&C 128:22.
[44]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 3068, p. 217-218.
[45]. 1 Néfi 21:14.
[46]. O versículo 14 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Me desamparou/o Senhor//meu Senhor/se esqueceu de mim. Parry, 2001, p. 263.
[47]. Ver Isaías 3:16; 51:3, 11; 52:1; 60:14; 61:3; 66:8.
[48]. 1 Néfi 21:15.
[49]. Ver Zacarias 13:6; D&C 45:51-52.
[50]. João 20:24-28.
[51]. 3 Néfi 11:15.
[52]. Ver Isaías 22:23-25 e comentário pertinente.
[53]. 1 Néfi 21:17.
[54]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaiah Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 1 Néfi 21/Isaías 49, p. 350.
[55]. O versículo 18 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Como de um ornamento/te vestirás//te cingirás deles/como noiva.Parry, 2001, p. 263.
[56]. 1 Néfi 21:18.
[57]. Ver Isaías 45:23 e comentário pertinente.
[58]. 1 Néfi 21:20.
[59]. O versículo 22 contêm dois quiasmas reconhecidos no hebraico original: Levantarei a minha mão/para os gentios/povos/arvorarei a minha bandeira//trarão//teus filhos nos braços/as tuas filhas/sobre os ombros/serão levadas. Parry, 2001, p. 263.
[60]. 2 Néfi 6:6-7.
[61]. 2 Néfi 6:13.
[62]. 1 Néfi 22:8.
[63]. Ver Isaías 29:14 e comentário pertinente.
[64]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 208-209.
[65]. D&C 105:14-15.
[66]. Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion: Isaiah Chapter Review [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon: Revisão dos Capítulos de Isaías], 1 Néfi 21/Isaías 49, p. 352.
[67]. Parry et al., 1998, p. 437.
[68]. Isaías 45:23.
[69]. Mosias 27:31.
[70]. D&C 63:6.

CAPÍTULO 24: “Porquanto Têm Transgredido as Leis, Mudado os Estatutos, e Quebrado a Aliança Eterna”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

O capítulo 24 descreve a destruição dos iníquos nos últimos dias antes da Segunda Vinda do Senhor. Este capítulo serve como uma introdução para os quatro capítulos consecutivos—24 até 27—que falam sobre a destruição dos iníquos, a Segunda Vinda do Senhor, e o começo de Seu reinado glorioso. Primeiro, Isaías declara que os homens transgrediram as leis, mudaram as ordenanças e quebraram o convênio eterno; devido a iniquidade prevalente, a Terra seria profanada por seus habitantes. Os remanescentes justos, entretanto, regozijariam. Na Segunda Vinda os ímpios serão queimados, a Terra balancearia como um embriagado, e a lua e o sol não dariam suas luzes. Depois destes eventos, o Senhor reinará gloriosamente em Sião e Jerusalém.

O versículo 1 começa a descrever a devastação: “Eis que o SENHOR esvazia a terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores”. O significado desta passagem é que a Terra ficaria devastada e desolada,[1] e a face da Terra seria transformada. Esta descrição refere-se aos desastres naturais de extrema magnitude.

Outros julgamentos estão preditos em Doutrina e Convênios:

“E haverá homens nessa geração que não passarão até que vejam uma praga terrível; pois uma doença desoladora cobrirá a terra.
“Mas os meus discípulos permanecerão em lugares santos e não serão movidos; mas, entre os iníquos, homens levantarão a voz e amaldiçoarão a Deus e morrerão.”[2]

O Senhor provê um meio de escape para Seus seguidores fiéis—permanecerão em lugares santos.

Em outras partes de Doutrina e Convênios o Senhor descreve o flagelo:

“Porque haverá um flagelo assolador entre os habitantes da Terra e continuará a derramar-se de tempos em tempos, se eles não se arrependerem, até que a Terra fique vazia e seus habitantes sejam consumidos e totalmente destruídos pelo resplendor da minha vinda.”[3]

O Senhor indica que Ele usa símbolos em Suas advertências a Seu povo, concernente ao futuro, assim como fez ao revelar Suas palavras a Isaías: “Eis que te digo estas coisas, assim como também falei ao povo acerca da destruição de Jerusalém; e minha palavra será confirmada agora, como tem sido confirmada até aqui”.[4] As mesmas palavras são usadas pelo Senhor em épocas diferentes—uma vez referindo-se à destruição de Jerusalém e a outra vez referindo-se à destruição dos iníquos antes da Sua Segunda Vinda.

O versículo 2 descreve a extensão da destruição entre o povo: “E o que suceder ao povo, assim sucederá ao sacerdote; ao servo, como ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao que empresta, como ao que toma emprestado; ao que dá usura, como ao que paga usura”. As posições sociais mencionadas são honoráveis; o propósito de Isaías é o de incluir nesta comparação todos os níveis sociais.

O versículo 3 explica mais: “De todo se esvaziará a terra, e de todo será saqueada, porque o Senhor pronunciou esta palavra”.[5] “Saqueada” significa “roubada” ou “pilhada”.[6]

O versículo 4 declara: “A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra”. A Terra, agindo como um ser vivo, lamenta quando a iniquidade prevalece.[7]  Os verbos “Se murcha” e “enfraquece” significam tornar-se “débil” ou “fraco”.[8] Isto pode ser equivalente à praga terrível ou doença desoladora, mencionadas acima.

O versículo 5 descreve a corrupção da Terra: “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Além da quebra dos convênios, este versículo descreve corrupção de leis religiosas e possivelmente civis. O Senhor reflete este versículo em Doutrina e Convênios: “Pois desviaram-se de minhas ordenanças e quebraram meu convênio eterno”.[9]

O Presidente Spencer W. Kimball declarou:

“Certamente, alguma culpa [de espalhar o pecado e a maldade] pode ser atribuída às vozes vinda das salas de aulas, departamentos editoriais, ou redes de transmissão, até mesmo do púlpito.
“Essas vozes terão que responder pela perpetuação de mentiras e por sua incapacidade de oferecer uma verdadeira liderança para combater o mal. [O] que suceder ao povo, sucederá ao sacerdote…”.[10] O termo sacerdote é usado aqui para denotar todos os líderes religiosos de qualquer religião. Isaías disse: “a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Dentre as vozes discordantes, ficamos chocados com os conselhos de muitos sacerdotes, ou líderes religiosos, que encorajam a profanação dos homens e aceitam as tendências corrosivas que negam a omnisciência de Deus. Certamente, esses homens deveriam ser inabaláveis, porém alguns estão cedendo aos clamores populares.”[11]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) A terra pranteia e se murcha;
B: o mundo
C: enfraquece e se murcha;
C: enfraquecem
B: os mais altos do povo da terra.
A: (5) Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores….

“O mundo” é complementado por “os mais altos do povo da terra”, provendo a definição para a palavra “mundo”. A Terra se comporta como um ser vivo, lamentando quando a maldade prevalece.

O versículo 6 descreve as consequências: “Por isso a maldição tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados; por isso são queimados os moradores da terra, e poucos homens restam”. Temos aqui duas frases paralelas, ou declarações sinônimas. As frases que vêm depois das duas ocorrências de “por isso” complementam-se: A maldição que tem consumido a terra se consistirá da queima dos moradores da terra;[12] e a desolação dos que restaram tem o mesmo significado de poucos homens restam depois da destruição.[13]

O Senhor, ao apresentar o livro de Doutrina e Convênios aos leitores dos últimos dias, disse: “Portanto eu, o Senhor, conhecendo as calamidades que adviriam aos habitantes da Terra…”.[14]

O versículo 7 declara: “Pranteia o mosto, enfraquece a vide; e suspiram todos os alegres de coração”. O significado desta passagem é que os novos vinhos—o produto da presente estação—resultariam em calamidades;[15] a videira ficaria “débil” ou “enfraquecida”, possivelmente até com doenças;[16] e a alegria cessaria sob o peso da maldição devoradora.

O versículo 8 elabora: “Cessa o folguedo dos tamboris, acaba o ruído dos que exultam, e cessa a alegria da harpa”.

O versículo 9 descreve uma significante mudança social: “Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem”. Os que beberem farão para esquecer—um temporário escape da angústia—ao invés de para celebrar.

O versículo 10 descreve a interrupção de atividades sociais normais: “Demolida está a cidade vazia, todas as casas fecharam, ninguém pode entrar”. “Demolida” significa que sua maldade e seu orgulho foram quebrados ou destruídos.[17] Terremotos, outros desastres naturais e guerra podem ter contribuído para esta destruição.

O versículo 11 sumariza os temas dos versículos 7, 8 e 9: “Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho; toda a alegria se escureceu, desterrou-se o gozo da terra”.

Os versículos 8 até 11 contêm um quiasma:

A: (8) Cessa o folguedo dos tamboris,
B: acaba o ruído dos que exultam, e cessa a alegria da harpa.
C: (9) Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem.
D: (10) Demolida está a cidade vazia,
D: todas as casas fecharam, ninguém pode entrar.
C: (11) Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho;
B: toda a alegria se escureceu,
A: desterrou-se o gozo da terra.

As frases “Com canções não beberão vinho; a bebida forte será amarga para os que a beberem” correspondem-se à frase “Há lastimoso clamor nas ruas por falta do vinho”. O uso do vinho para o consolo substitui seu uso para a celebração; as pessoas vagariam pelas ruas clamando por vinho para entorpecer seu sofrimento. As ruas das cidades, antes movimentadas, tornar-se-iam silenciosas; as manifestações de alegria cessariam, substituídas pelo lamento e choro.

O versículo 12 consiste de duas frases paralelas: “Na cidade só ficou a desolação, a porta ficou reduzida a ruínas”. Não somente a população reduziria, a infraestrutura seria destruída.

O versículo 13 compara os poucos sobreviventes às poucas azeitonas deixadas nas oliveiras depois da colheita, e logo às poucas uvas deixadas nas videiras: “Porque assim será no interior da terra, e no meio destes povos, como a sacudidura da oliveira, e como os rabiscos, quando está acabada a vindima”. Isaías usou esta alegoria antes, no capítulo 17, para descrever os que restariam depois da destruição das antigas cidades de Efraim e Damasco: “Porém ainda ficarão nele [nas videiras] alguns rabiscos, como no sacudir da oliveira: duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos, e quatro ou cinco nos seus ramos mais frutíferos…”.[18] Restariam poucos sobreviventes.

Nos versículos 14 até 16 Isaías começa a falar sobre os poucos sobreviventes dispersos. O versículo 14 declara: “Estes alçarão a sua voz, e cantarão com alegria; e por causa da glória do Senhor exultarão desde o mar”. “Desde o mar” significa que os sobreviventes seriam carregados para outras terras do outro lado do mar.

O versículo 15 continua: “Por isso glorificai ao Senhor no oriente, e nas ilhas do mar, ao nome do Senhor Deus de Israel.” “No Oriente” vem de uma palavra hebraica que significa “região de luz”,[19] ou um lugar onde habitam os justos. O termo “ilhas do mar” pode estar se referindo aos nefitas do continente americano, a quem Cristo visitou depois de Sua crucificação e ressurreição. Néfi cita seu irmão Jacó, falando que eles estavam “em uma ilha do mar”.[20]

O versículo 16 contrasta o canto dos sobreviventes com o profundo pesar de Isaías pelos iniquidades dos que foram destruídos: “Dos confins da terra ouvimos cantar: Glória ao justo. Mas eu disse: Emagreço, emagreço, ai de mim! Os pérfidos têm tratado perfidamente; sim, os pérfidos têm tratado perfidamente”. “Os pérfidos” significa “o que age de má fé” ou “enganosamente”[21] —cujas ações trariam a predita destruição.  “Emagreço” vem da palavra hebraica que significa “Eu definho!”[22] “Dos confins da terra” refere-se, novamente, aos ramos dispersos de Israel, que foram levados para partes remotas da Terra, onde a retidão prevaleceria, pelo menos por um tempo.

Os versículos 17 até 20 descrevem terremotos cataclísmicos e seus efeitos destrutivos. O versículo 17 descreve o terror dos injustos quando deparados com a morte: “O temor, e a cova, e o laço vêm sobre ti, ó morador da terra”. “Cova” significa “calamidade” ou “cilada”;[23] “laço” significa “armadilha” ou “engodo”,[24] ou tentação.

Os versículos 16 e 17 contêm um quiasma:

A: (16) Dos confins da terra ouvimos cantar: Glória ao Justo.
B: Mas eu digo: Emagreço, emagreço,
C: ai de mim!
D: Os pérfidos têm tratado perfidamente;
D: sim, os pérfidos têm tratado perfidamente.
C: (17) O temor,
B: e a cova, e o laço vêm sobre ti,
A: ó morador da terra.

O lamento de Isaías no lado ascendente do quiasma é complementado pelo terror dos habitantes da Terra no lado descendente. “Emagreço, emagreço” correlaciona-se com “a cova, e o laço vêm sobre ti”; a expressão “ai de mim!” corresponde-se com “o temor”.

O versículo 18 descreve a futilidade de tentar escapar: “E será que aquele que fugir da voz de temor cairá na cova, e o que subir da cova o laço o prenderá; porque as janelas do alto estão abertas, e os fundamentos da terra tremem”. A “voz do temor” possivelmente refere-se aos barulhos tumultuosos que acompanham os grandes terremotos.[25] “Janelas do alto estão abertas” pode significar condições climáticas extremas. Palavras semelhantes foram usadas para descrever a origem da inundação que resultou no dilúvio de Noé: Se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram…”[26] A frase “os fundamentos da terra tremem”, obviamente refere-se aos grandes terremotos que sacudiriam os fundamentos a Terra.

O versículo 19 resume a devastação: “De todo está quebrantada a terra, de todo está rompida a terra, e de todo é movida a terra”. A palavra “quebrantada” foi traduzida do hebraico que significa “desintegrada” ou “despedaçada”.[27] Isaías descreve a vasta destruição que resultou por causa do terremoto.

Lembremos da descrição da destruição causada pelo terremoto no Livro de Mórmon:

“Mas eis que houve uma destruição muito maior e mais terrível na terra do norte; pois eis que toda a face da terra foi mudada por causa da tempestade e dos furacões e dos trovões e relâmpagos e dos violentos tremores de toda a terra.
“E romperam-se os caminhos, desnivelaram-se as estradas e muitos lugares planos tornaram-se acidentados.
“E muitas cidades grandes e importantes foram tragadas e muitas se incendiaram e muitas foram sacudidas até que seus edifícios ruíram; e seus habitantes foram mortos e os lugares ficaram devastados.”[28]

A destruição apresentada no Livro de Mórmon é um exemplo da destruição que precederá à Segunda Vinda, a qual Isaías descreve aqui.

O versículo 20 descreve, com mais detalhes, os extremos terremotos: “De todo cambaleará a terra como o ébrio, e será movida e removida como a choça de noite; e a sua transgressão se agravará sobre ela, e cairá, e nunca mais se levantará”. “Cambaleará a terra como o ébrio” significa mover-se erraticamente de um lado para o outro, fora de seu movimento normal. O terremoto viria porque “a sua transgressão se agravará sobre ela [a Terra]”. As tamanhas maldades e iniquidades, juntamente com a necessidade de purificar a Terra, serão a causa do terremoto. A frase “e cairá, e nunca mais se levantará” refere-se à sociedade iníqua que domina a Terra. O livro de Doutrina e Convênios contém diversas passagens que incluem alguns ou todos os elementos deste versículo.[29]

Versículos 19 e 20 contêm um quiasma:

A: (19) De todo está quebrantada a terra,
B: de todo está rompida a terra,
C: e de todo é movida a terra.
D: (20) De todo cambaleará a terra como o ébrio,
D: e será movida e removida como a choça de noite;
C: e a sua transgressão se agravará sobre ela,
B: e cairá,
A: e nunca mais se levantará.

Elementos no lado descendente do quiasma completam a ideia apresentada nos elementos no lado ascendente. A sentença “De todo está quebrantada a terra” é complementada pela frase “e nunca mais se levantará”; depois dos devastadores terremotos, as iniquidades da sociedade jamais retornarão. A frase “De todo está rompida a terra” é complementada com “e cairá”; a sentença “e de todo é movida a terra” é complementada com a frase “a sua transgressão se agravará sobre ela”; e “de todo cambaleará a terra como o ébrio” é complementada por “e será movida e removida como a choça de noite”. O enfoque do quiasma aponta os grandes terremotos como a causa; as declarações auxiliares descrevem as consequências.

Os versículos 21 e 22 descrevem o castigo do Senhor, depois da destruição, aos arrogantes e aos orgulhosos, e para os reis e nobres da Terra. O versículo 21 começa: “E será que naquele dia o Senhor castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra”. Isaías usou semelhantes palavras no capítulo 13: “…para pôr a terra em assolação, e dela destruir os pecadores”.[30]

O versículo 22 continua: “E serão ajuntados como presos numa masmorra, e serão encerrados num cárcere; e outra vez serão visitados depois de muitos dias”. A introdução “serão ajuntados” refere-se aos exércitos do alto nas alturas, mencionado no versículo 21. Os altivos, depois da morte, serão mandados à prisão espiritual.  A frase “serão visitados depois de muitos dias” refere-se aos missionários que pregarão o evangelho aos que estão na prisão espiritual.[31]

O versículo 23 descreve sinais e maravilhas dos céus que acompanharão a Segunda Vinda do Senhor: “E a lua se envergonhará, e o sol se confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em Jerusalém, e perante os seus anciãos gloriosamente”. “Monte Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém e para o templo.[32]

Isaías também descreve estes eventos no capítulo 13: “Porque as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não resplandecerá com a sua luz”.[33] Durante Seu ministério mortal o Senhor descreveu estes eventos numa linguagem semelhante a esta:

E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.[34]

Esses sinais e maravilhas foram descritos em maiores detalhes em Doutrina e Convênios:

“E tão grandiosa será a glória de sua presença, que o sol esconderá a face de vergonha e a lua reterá sua luz e as estrelas serão arremessadas de seus lugares.
“E ouvir-se-á sua voz: Eu sozinho pisei no lagar e sobre todos os povos trouxe julgamento; e ninguém estava comigo;
“E esmaguei-os no meu furor e pisei-os em minha ira….”[35]

Não nos foi dito o que causaria estes sinais e maravilhas, a não ser a poderosa presença do Senhor. O testemunho de Néfi a respeito do cumprimento das profecias de Isaías aplica-se muito bem neste caso: “Não obstante, nos dias em que se cumprirem as profecias de Isaías, quando elas se realizarem, os homens certamente saberão”. O que é importante para nós sabermos agora é que o Senhor virá, bem como Ele disse e como os profetas testificaram.

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1238, p. 132.
[2]. Doutrina e Convênios 45:31-32.
[3]. D&C 5:19.
[4]. D&C 5:20.
[5]. Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma: O Senhor esvazia a terra e a desola, transtorna a sua superfície/dispersa os seus moradores//o povo//sacerdote … servo … senhor … serva … senhora … comprador … vendedor … empresta … ao que toma emprestado … ao que dá usura … ao que paga usura/se esvaziará a terra … será saqueada/o Senhor.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 962, p. 102.
[7]. Ver Moisés 7:48-49; Jeremias 4:28.
[8]. Brown et al., 1996, Número de Strong 535, p. 51.
[9]. D&C 1:15.
[10]. Isaías 24:2.
[11]. Spencer W. Kimball, “Voices of the Past, of the Present, of the Future”, Ensign, June 1971, p. 16. [ “Vozes do Passado, do Presente e do Futuro”, Ensign, Junho 1971, p. 16]
[12]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[13]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: A terra está contaminada por causa dos seus moradores/têm transgredido as leis//mudado os estatutos//quebrado a aliança eterna/a maldição tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados.
[14]. D&C 1:17.
[15].  Brown et al., 1996, Número de Strong 56, p. 5.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 535, p. 51.
[17]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7665, p. 990-991.
[18]. Isaías 17:6.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 217, p. 22.
[20]. Ver 2 Néfi 10:20; Ver também Isaías 42:4, 10; 49:1; 51:5; 60:6, 9 e comentário pertinente.
[21]. Brown et al., 1996, Número de Strong 898, p. 93.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7334, p. 931.
[23]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6354, p. 809.
[24]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6341, p. 809.
[25]. Ver 3 Néfi 10:9.
[26]. Ver Gênesis 7:11.
[27]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6565, p. 830.
[28]. 3 Néfi 8:12-14.
[29]. Ver D&C 49:23; 88:87; e 45:28.
[30]. Isaías 13:9.
[31]. Ver D&C 138:30-34.
[32]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 51:3.
[33]. Isaías 13:10.
[34]. Mateus 24:29-30.
[35]. D&C 133:49-51.