Arquivo mensal: maio 2014

CAPÍTULO 35: “E O Ermo Exultará E Florescerá Como A Rosa”

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Este capítulo descreve o estabelecimento de Sião no deserto nos últimos dias, antes da Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo. Os acontecimentos deste capítulo estão sendo cumprido espiritual e fisicamente. A profecia descreve o ambiente físico para o estabelecimento do monte da casa do Senhor no cume dos montes, como predito anteriormente por Isaías no capítulo 2.[1] Esta mesma profecia também descreve a introdução das ordenanças de salvação do evangelho—a “água viva” mencionada por Cristo durante Seu ministério mortal[2]—na terra espiritualmente deserta que é o mundo. Fisicamente, o deserto começou a florescer como a rosa com a chegada dos pioneiros mórmons na Grande Bacia Hidrográfica do oeste da América do Norte, e com o estabelecimento de Sião neste lugar. Os redimidos do Senhor—os coligados de Israel das nações da Terra—têm imigrado para esta área desde a chegada dos primeiros pioneiros em 1847. O deserto espiritual do mundo continua a receber a água viva conforme os missionários levam a mensagem do evangelho e as bênçãos e ordenanças vivificadoras a todo o mundo. Conversos de muitas nações reúnem-se em Sião ou em suas estacas, que estão estabelecidas em muitos lugares do mundo, mas que são orientadas e guiadas do local central por profetas vivos. Outra forma de cumprimento desta profecia é o retorno dos judeus à terra de sua herança, que começou no princípio do século XX, e do desenvolvimento da agricultura e comércio lá. Ainda para o futuro está a Segunda Vinda do Senhor e Sua glória sendo manifestada em Sião no deserto.

O versículo 1 descreve o florescimento do deserto: “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa”. Isaías prevê tanto a transformação física do deserto em um lugar agradável quanto a introdução espiritual de bênçãos vivificadoras entre as nações que antes não sabiam sobre Jesus Cristo nem sobre Sua Expiação salvadora. As frases “se alegrarão disto” refere-se aos refugiados da opressão, reunidos das tribos dispersas de Israel, que viriam a transformar o deserto ou que apreciariam a “água viva” oferecida a eles por Cristo. A palavra hebraica de onde “rosa” foi traduzida é chabatstseleth, que significa “Açafrão Erva-ruiva”, “crocus ou croco” ou ” a flor de Narciso”.[3]

Em uma revelação recebida em março de 1831, bem antes do anúncio dos planos de imigração dos Santos dos Últimos Dias para a a cidade do Lago Salgado em Utah, o Senhor predisse o estabelecimento de Sião no deserto e o florescimento dos Lamanitas:

“Mas antes que venha o grande dia do Senhor, Jacó prosperará no deserto e os lamanitas florescerão como a rosa.
Sião florescerá nos outeiros e nas montanhas regozijar-se-á; e será reunida no lugar que designei”.[4]

Nesta revelação o Senhor parafraseia a profecia de Isaías, fornecendo uma maior explicação. Está claro que a reunião física dos santos no deserto, nos outeiros e nas montanhas—juntamente com as bênçãos espirituais do evangelho—foi predita pelo Senhor muito antes do tempo em que a perseguição forçasse os Santos dos Últimos Dias a imigrarem para o oeste dos Estados Unidos, em Utah. O nome “Jacó” refere-se aos descendentes de Jacó, ou Israel; “outeiros” e “montanhas” significam as nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[5]

A maioria dos membros pioneiros da Igreja eram da tribo de José, o décimo primeiro filho de Jacó. Os Lamanitas são descendentes de Leí, bem como da tribo de José, cuja história está registrada no Livro de Mórmon. Os descendentes modernos de Leí são os nativos das ilhas do Pacífico e os nativos americanos, juntamente com os ancestrais da mistura dos europeus e nativos americanos que caracterizam a maioria dos povos da América Latina.[6] A América Latina é atualmente um dos lugares mais bem sucedidos na pregação do evangelho—caracterizada por um rápido crescimento da Igreja, pelo estabelecimento de muitas alas e estacas e edificações de muitos templos. Tal crescimento é um cumprimento espiritual desta profecia de Isaías.

Outra perspectiva do cumprimento desta profecia é a volta dos judeus às terras de suas heranças, no princípio do século XX, e o desenvolvimento da agricultura e do comércio neste local. Para nós é importante considerar esta profecia em sua perspectiva e seu cumprimento mundial entre todos os povos com quem o Senhor fez convênios.

LeGrand Richards descreveu o cumprimento desta profecia nos últimos dias e o propósito para o cumprimento da mesma:

“Somos um povo abençoado. O Senhor tem-nos abençoado. Depois que nossos pioneiros foram expulsos para longe da civilização e do transporte, a mais de 1.600 quilômetros de distância, chegaram neste deserto. Isaías viu que o Senhor faria com que o deserto florescesse como a rosa. Viu os rios fluindo no deserto, descendo de lugares altos, para tornarem a terra produtiva. E por quê? Para que os santos, quando fossem aqui reunidos, pudessem cumprir Suas promessas. Pois, se o evangelho citado por Jesus Cristo deveria ser pregado em todo o mundo, teria que ser feito por Seus filhos”.[7]

O versículo 2 continua a descrição de Sião no deserto: “Abundantemente florescerá, e também jubilará de alegria e cantará; a glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus”.[8] A música e canto têm sido parte das vidas dos Santos dos Últimos Dias para a adoração, e o famoso Coro do Tabernáculo Mórmon é uma parte importante do cumprimento desta profecia. “A glória do Líbano” e “a excelência do Carmelo” são apresentadas como típico do crescimento, florescimento e beleza de Sião no deserto. Em “Eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus” Isaías prevê a gloriosa Segunda Vinda do Senhor. “Eles” referem-se aos descendentes de José cuja obra trouxe a Sião no deserto, prevista há tanto tempo. A frase “a glória do Líbano” é usada por Isaías mais tarde, no capítulo 60, para descrever as riquezas do mundo a serem trazidas para o estabelecimento de Sião e Israel.[9]

O versículo 3 dá uma ordem à Sião para que cuide dos enfermos e espiritualmente fracos: “Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes”. Este versículo foi parafraseado em Doutrina e Convênios no contexto de prover para os desprivilegiados: “Portanto sê fiel; ocupa o cargo para o qual te designei; socorre os fracos, ergue as mãos que pendem e fortalece os joelhos enfraquecidos”.[10]

O Apóstolo Paulo parafraseia: “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado”.[11] O estabelecimento de Sião requer muito trabalho, inclusive ajudar e prover as bênçãos aos enfermos, enfraquecidos espiritualmente e desprivilegiados.

O versículo 4 começa com uma advertência para fortalecerem e confortarem os que temem: “Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais”. As palavras de conforto a serem ditas são: “Eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará”. Duas características importantes do povo de Sião são: como cuidam uns dos outros e a fé que o Senhor os defenderá e protegerá. Isto não se aplica somente aos líderes, mas também a todas as pessoas de Sião. Os projetos de serviços, reuniões sacramentais inspiradoras, visitas mensais de mestres familiares e professoras visitantes, e conferências de estaca e geral fazem parte desta ordem de fortalecer uns aos outros.

O Presidente Gordon B. Hinckley admoestou:

“Fazei com que o amor seja a estrela-guia de nossa vida ao estender a mão àqueles que necessitam de nossa força. Há muitos entre nós que padecem sozinhos. A medicina ajuda, mas palavras de amor operaram milagres. Muitos vivem em condições alarmantes, temerosos e incapazes de enfrentá-las. Temos bons bispos e líderes da Sociedade de Socorro capazes de ajudarem, mas eles não podem fazer tudo sozinhos. Todos nós podemos e devemos ocupar-nos numa boa causa”.[12]

Os versículos 5 e 6 descrevem os bons resultados destes esforços. O versículo 5 começa: “Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão”.[13] Em Seu ministério terreno o Senhor Jesus Cristo realizou muitos milagres no qual os enfermos ou deficientes foram curados com Seu toque. João descreveu um destes casos: “Untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé … Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo”.[14]

Durante Seu ministério aos nefitas, o Senhor ressuscitado realizou milagres semelhantes:

“E aconteceu que depois de haver ascendido ao céu—a segunda vez que se havia mostrado a eles e voltado ao Pai, depois de haver curado todos os seus doentes e seus coxos e aberto os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos; e feito toda sorte de curas no meio deles e levantado um homem dentre os mortos e ter demonstrado seu poder a eles e ascendido ao Pai—
“Eis que, na manhã seguinte, aconteceu que a multidão se reuniu …”.[15]

Estas curas servem como exemplos de acontecimentos que se passarão na Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo.

Esta profecia não só prediz as bênçãos temporais que Sião receberá, mas também prediz que as bênçãos espirituais serão ainda maiores. Palavras semelhantes foram usadas por Isaías anteriormente no capítulo 29, referindo-se às grandes bênçãos espirituais relacionadas à chegada do Livro de Mórmon: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão”.[16] O significado é que os espiritualmente surdos e cegos compreenderão as coisas espirituais devido ao conteúdo do livro. Grandes bênçãos, tanto físicas quanto espirituais, são dadas porque Sião espera pela Segunda Vinda do Senhor com grande fé.

O versículo 6 continua: “Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo”. Metaforicamente, os espiritualmente coxos ou deficientes serão capacitados e aos espiritualmente mudos será dado o poder de cantar. O ermo e o deserto espirituais—o mundo em geral vivendo sem Cristo ou sem as bênçãos da salvação fornecida pela Expiação—tornar-se-ão verdejantes conforme as águas vivas do evangelho fluírem pelo mundo. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “e ribeiros correrá no ermo”.[17]

A relação entre a primeira parte do versículo 6 com a última parte não é óbvia, a menos que se considere o significado espiritual. As extraordinárias bênçãos espirituais descrevem os resultados do constante fluxo de conhecimento vindo de profetas vivos da Sião no deserto, como se fosse um rio de água fluente. Compare com uma declaração feita por Isaías anteriormente, no capítulo 30, onde usou esta mesma metáfora: “E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros e correntes de águas, no dia da grande matança, quando caírem as torres”.[18]

O Senhor, durante Seu ministério terreno, citou estes versículos aos discípulos de João Batista a fim de responder a pergunta de João se Jesus era o Messias: “Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho”.[19] Sem dúvidas o Senhor sabia que João reconheceria o cumprimento da profecia messiânica de Isaías.

Os versículos 5 e 6 contêm o texto para “O Messias” de Handel, parte 1, número 19: Área para alto, “Então os olhos dos cegos serão abertos”.

O versículo 7 continua a metáfora: “E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos”. As terras secas seriam irrigadas pelas mãos cuidadosas dos refugiados que viriam para estabelecer Sião, fazendo a vegetação florescer abundantemente. O significado espiritual é que a escuridão da apostasia seria dissipada pelas doutrinas verdadeiras. Doutrinas de dragões e chacais seriam substituídas pela verdade revelada, que fluiria abundantemente como as águas vivas de Sião.[20]

Esta passagem foi parafraseada e explicada em Doutrina e Convênios:

“E nos desertos estéreis surgirão poços de água viva; e o solo ressequido já não será uma terra sedenta.
“E trarão seus ricos tesouros para os filhos de Efraim, meus servos.
“E as extremidades dos outeiros eternos estremecerão em sua presença”.[21]

Aqui está claro que as águas que viriam do deserto representam não somente a irrigação e o florescimento físicos, mas também a vinda de um fluxo ininterrupto de bênçãos espirituais. “Efraim, meus servos” significa os membros da tribo de José que estabeleceriam Sião no deserto.

Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma:

(6) Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará;
A: porque águas arrebentarão no deserto
B: e ribeiros
C: no ermo.
C: (7) E a terra seca
B: se tornará em lagos,
A: e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.

“Porque águas arrebentarão no deserto” equivale à frase “a terra sedenta [se tornará] em mananciais de águas”, significando uma abundância de revelação e inspiração. Os termos “deserto”, “terra sedenta”, “ermo” e “terra seca” são quiasmaticamente equivalentes.

O versículo 8 prediz: “E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão”. A Tradução de Joseph Smith apresenta:

“E ali haverá uma estrada; porque um caminho será aberto, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será aberto para aqueles que são puros; os caminhantes, apesar de serem contados entre os loucos, não errarão”.[22]

Anteriormente, no capítulo 11, Isaías faz uma referência semelhante a um caminho: “E haverá caminho plano para o remanescente do seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito”.[23]

O significado de caminho, em ambos os casos, é espiritual, querendo dizer o caminho estreito e apertado.[24] O caminho aberto pelo Senhor para os filhos de Israel passarem pelo Mar Vermelho é um símbolo ou exemplo físico deste caminho.[25] O meio pelo qual os remanescentes de Israel serão reunidos nos últimos dias será através da pregação do evangelho, eles se unirão à Sião e ao seu povo, sua identidade como herdeiros do Convênio Abraâmico ser-lhes-á revelada, e eles farão convênios com o Senhor como no passado. O “caminho” será tão claro que os caminhantes, que apesar de serem chamados de loucos, não terão nenhum problema para segui-lo, desde que sejam obedientes.

O versículo 9 descreve a proteção espiritual que os viajantes deste caminho receberão: “Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; porém só os remidos andarão por ele”. Estes predadores representam as tentações e os desígnios malignos dos homens e de Satanás para divergi-los do caminho estreito e apertado. Evitamos tentações quando seguimos o caminho espiritual, como descrito bem claramente pelos profetas vivos.

O versículo 10 sumariza: “E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”. Os “resgatados” são aqueles que aceitam o evangelho restaurado e seus convênios,[26] cujos pecados, depois do arrependimento, são remidos através do sacrifício infinito do Senhor Jesus Cristo. “Sião” significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto a Jerusalém dos últimos dias sob circunstâncias dignas.[27] Conforme Sião é edificada no deserto, Israel será reunida das terras para onde se dispersaram. Aqueles que retornarem se encherão de regozijo e felicidade; o sofrimento que passaram enquanto estavam no exílio—espiritualmente, sua ignorância da verdade revelada—será removido.

Em Doutrina e Convênios o Senhor prediz que a coligação de Israel virá com alegria e cânticos: “Os que permanecerem e forem puros de coração retornarão para suas heranças, eles e seus filhos, com cânticos de eterna alegria, para edificar os lugares desolados de Sião”.[28]

Os versículos 9 e 10 contêm um quiasma:

A: (9) Ali não haverá leão,
B: nem animal feroz subirá a ele,
C: nem se achará nele;
D: porém só os remidos andarão por ele.
D: (10) E os resgatados do Senhor voltarão;
C: e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças;
B: gozo e alegria alcançarão,
A: e deles fugirá a tristeza e o gemido.

“Ali não haverá leão” compara-se com “e deles fugirá a tristeza e o gemido”, e “nem animal feroz subirá a ele” compara-se com “gozo e alegria alcançarão”. A paz e alegria dos que estiverem seguindo o caminho estreito e apertado não serão afetadas por tentações e desígnios malignos de homens ou de Satanás, que foram representados aqui metaforicamente como animais predadores. O estabelecimento de Sião e o derramamento de ricas bênçãos do Senhor vencerão a tristeza e o gemido, e resultarão em gozo e alegria.

NOTAS

[1]. Isaías 2:2-3.
[2]. João 4:10-11; Ver também Jeremias 17:13; Zacarias 14:8.
[3]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2261, p. 287.
[4]. Doutrina e Convênios 49:24-25.
[5]. Ver Isaías 2:2 e comentário pertinente.
[6]. Ver 1 Néfi 5:14.
[7]. LeGrand Richards, “A Segunda Vinda de Cristo”, A Liahona, Outubro de 1978, p. 125.
[8]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: O deserto e o lugar solitário/se alegrarão disto/exultará/florescerá//florescerá/jubilará/alegria e cantará/verão a glória do Senhor.
[9]. Ver Isaías 60:13 e comentário pertinente.
[10]. D&C 81:5.
[11]. Hebreus 12:12-13.
[12]. Gordon B. Hinckley, “Que O Amor Seja a Estrela-Guía de Vossa Vida”, A Liahona, Julho de 1989, p. 72-73.
[13]. Os versículos 3 até 5 contêm um quiasma: Mãos fracas/joelhos trementes/sede fortes, não temais/Deus virá com vingança//com recompensa de Deus/ele virá, e vos salvará/olhos dos cegos serão abertos/ouvidos dos surdos se abrirão.
[14]. João 9:6-7.
[15]. 3 Néfi 26:15-16.
[16]. Isaías 29:18.
[17]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 145.
[18]. Isaías 30:25; Ver também Isaías 12:3; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[19]. Mateus 11:5; Ver também Lucas 7:22.
[20]. Ver Isaías 12:3; 27:3; 55:11; 58:11.
[21]. D&C 133:29-31.
[22]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 206.
[23]. Isaías 11:16.
[24]. Ver Isaías 11:16; 19:23; 40:14; 49:11 e comentário pertinente.
[25]. Ver Êxodo 14:21-31.
[26]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 319.
[27]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente. Ver também Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 1:27; 2:3; 4:5; 14:32; 24:23; 28:16; 31:9; 46:13; 51:16; 52:7, 8; 59:20.
[28]. D&C 101:18; Ver também D&C 45:71; 66:11; 109:39;133:33.

CAPÍTULO 34: “E Os Seus Mortos Serão Arremessados, E Dos Seus Cadáveres Subirá O Mau Cheiro”

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O capítulo 34 descreve a destruição em apocalipse precedendo a Segunda Vinda do Senhor que recairá sobre as nações da Terra que se opuseram ao Senhor e a Seu povo. Os exércitos do mundo serão destruídos, o mau cheiro dos cadáveres dos mortos subirá, e as montanhas derreterá com seu sangue. As nações que se opuserem a Sião e a seus estabelecimentos serão deixadas desabitadas, e somente os animais selvagens restarão para herdarem a terra. Uma dica importante para se compreender este capítulo é comparar passagens semelhantes em Doutrina e Convênios. Um propósito essencial para este volume de escrituras modernas é descrever acontecimentos que ocorrerão nos últimos dias: “Portanto temei e tremei, ó povos, porque o que eu, o Senhor, neles decretei, neles [revelações contidas em Doutrina e Convênios] será cumprido”.[1]

No versículo 1, Isaías clama a todos a ouvirem suas palavras: “Chegai-vos, nações, para ouvir, e vós povos, escutai; ouça a terra, e a sua plenitude, o mundo, e tudo quanto produz”.[2] A advertência de Isaías, de extrema importância, é para o mundo todo ouvir; as nações da Terra são convocadas a ouvirem. Compare a convocação introdutória do Senhor em Doutrina e Convênios:

“Escutai, ó povo da minha igreja, diz a voz daquele que habita no alto e cujos olhos estão sobre todos os homens; sim, em verdade vos digo: Escutai, ó povos distantes e vós, que estais nas ilhas do mar, escutai juntamente.
“Pois em verdade a voz do Senhor dirige-se a todos os homens e ninguém há de escapar; e não haverá olho que não veja nem ouvido que não ouça nem coração que não seja penetrado.[3]

O versículo 2 começa a mensagem de Isaías às nações do mundo: “Porque a indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o seu furor sobre todo o exército delas; ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança”. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “e entregou-as à matança”.[4]

O Senhor provê mais explicação em Doutrina e Convênios: “Eu, o Senhor, estou irado com os iníquos; estou negando meu Espírito aos habitantes da Terra. Em minha ira jurei e decretei guerras sobre a face da Terra; e o iníquo matará o iníquo e temor virá sobre todo homem”.[5]

O Senhor explica ainda melhor:

“E assim, pela espada e por derramamento de sangue, os habitantes da Terra lamentar-se-ão; e com fome e pragas e terremotos e também com o trovão do céu e o violento e vívido relâmpago, os habitantes da Terra sentirão a ira, a indignação e a mão castigadora de um Deus Todo-Poderoso, até que a destruição decretada ponha um fim total a todas as nações.”[6]

O versículo 3 descreve o horror da matança: “E os seus mortos serão arremessados e dos seus cadáveres subirá o seu mau cheiro; e os montes se derreterão com o seu sangue”. Esta descrição provê uma imagem de um imenso derramamento de sangue sobre a Terra—tão grande que o sangue serviria como um agente para erosão. O uso de “os montes” por Isaías implica que esta destruição envolveria muitas nações.[7] O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “… e os montes se derreterão com o seu sangue; os vales serão divididos”.[8]

Este horror compara-se com as últimas cenas de destruição da nação Jaredita, descrita por Morôni em sua tradução dos registros de Éter:

“E tão grande e duradoura foi a guerra e tão longo o derramamento de sangue e a carnificina, que toda a face da terra foi coberta com os corpos dos mortos.
“E tão rápida e acelerada foi a guerra, que não restou quem enterrasse os mortos, mas iam de derramamento de sangue a derramamento de sangue, deixando os corpos dos homens, mulheres e crianças espalhados sobre a face da terra, para tornarem-se presas dos vermes da carne.
“E o seu cheiro espalhava-se pela face da terra; sim, por toda a face da terra; de modo que o povo era molestado dia e noite pelo seu odor.”[9]

Cenas como essas esperam os habitantes da Terra nos últimos dias.

O versículo 4 descreve a extensão da matança: “E todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um livro; e todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e como cai o figo da figueira”.[10] A palavra hebraica traduzida como “cai o figo” significa “fruta verde, que não está madura”.[11] Estes símiles descrevem a queda de indivíduos num vasto exército.

“Todo o exército dos céus” significa “todos os exércitos da Terra” baseando-se no contexto e equivalência quiasmática. O mesmo significado para “céus” é evidente em revelações modernas: “Sim, em verdade torno a dizer-vos que chegada é a hora em que a voz do Senhor se dirige a vós: Deixai Babilônia; reuni-vos dentre as nações, dos quatro ventos, de um extremo do céu até o outro” (ênfases adicionadas).[12] Compare as palavras de Isaías ao descrever o avanço dos assírios: “Já vem de uma terra remota, desde a extremidade do céu, o Senhor, e os instrumentos da sua indignação, para destruir toda aquela terra” (ênfases adicionadas).[13]

Os céus enrolando-se como um livro não é algo fácil de se imaginar no contexto temporal; entretanto, há várias referências nas escrituras concernente a isto, além deste exemplo no versículo 4. João, o Revelador, prevendo um acontecimento nos últimos dias, declarou: “E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares”.[14] O Senhor, em uma revelação a Joseph Smith, refere-se à “cortina do céu” sendo desenrolada, “como um rolo que se desenrola depois de ter sido enrolado”.[15] Em contraste, Mórmon e Morôni referiram-se à Terra sendo “enrolada como um pergaminho” durante a devastação dos últimos dias.[16]

Os versículos 2 até 4 contêm um quiasma:

A: (2) Porque a indignação do Senhor está sobre todas as nações,
B: e o seu furor sobre todo o exército delas;
C: ele as destruiu totalmente,
C: entregou-as à matança.
B: (3) E os seus mortos serão arremessados e dos seus cadáveres subirá o seu mau cheiro; e os montes se derreterão com o seu sangue.
A: (4) E todo o exército dos céus se dissolverá ….

“Porque a indignação do Senhor está sobre todas as nações” complementa “todo o exército dos céus se dissolverá”. A comparação destas duas frases esclarece mais o significado de “os céus” no versículo 4. “Seu furor sobre todo o exército delas” complementa “os seus mortos serão arremessados”; e “ele as destruiu totalmente” é equivalente à frase “entregou-as à matança”. O Senhor destruirá os exércitos da Terra.

O versículo 5 continua, com o Senhor falando, agora, na primeira pessoa: “Porque a minha espada se embriagou nos céus; eis que sobre Edom descerá, e sobre o povo do meu anátema para exercer juízo”. “Juízo”, como foi usado aqui, significa “retribuição”.[17] O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “Porque a minha espada se aparece nos céus”.[18] Compare a declaração do Senhor em Doutrina e Convênios, onde fala na terceira pessoa: “E a ira do Senhor está acesa e sua espada está lavada nos céus e sobre os habitantes da Terra cairá” (ênfases adicionadas).[19]

Esta frase estranha, “porque a minha espada se embriagou nos céus” merece ser analisada. A palavra hebraica traduzida como “embriagou” significa,figurativamente, “saturou” ou “saciou”;[20] algumas traduções dizem “embriagado”. Isto significa que a espada do Senhor está prestes a ser usada abundantemente para o derramamento de sangue. Antigamente, mergulhava-se as espadas e os escudos em óleo em preparação para a batalha; o óleo lubrificava as lâminas, ajudando na eficácia da ferramenta cortante.[21] A frase indica que a espada do Senhor seria preparada para cair com grande fúria sobre os habitantes da Terra.

“O povo do meu anátema” refere-se especialmente a Edom, baseando-se em frases paralelas neste versículo. Entretanto, também significa os povos do mundo que se voltariam contra o Senhor e seu povo, não tendo nenhum respeito pelos Seus mandamentos. A maldição de Edom, que era Esaú, um dos filhos de Isaque e irmão gêmeo de Jacó, foi o resultado da iniquidade pessoal.[22] O Senhor provê o sentido amplo de Iduméia, ou Edom, em Doutrina e Convênios: “E também o Senhor terá poder sobre seus santos e reinará em seu meio e descerá para julgar Iduméia, ou seja, o mundo”.[23]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) E todo o exército dos céus se dissolverá,
B: e os céus se enrolarão como um livro; e todo o seu exército cairá,
C: como cai a folha da vide
C: e como cai o figo da figueira.
B: (5) Porque a minha espada se embriagou nos céus;
A: eis que sobre Edom descerá, e sobre o povo do meu anátema para exercer juízo.

O julgamento do Senhor cairá sobre o mundo e seus exércitos. “Todo o exército dos céus se dissolverá” complementa “eis que sobre Edom descerá [a espada do Senhor], e sobre o povo do meu anátema para exercer juízo”. “Todo o exército dos céus”, portanto, significa os exércitos do mundo.

O versículo 6 apresenta uma descrição paralela, ajudando na interpretação desta passagem: “A espada do Senhor está cheia de sangue, está engordurada da gordura do sangue de cordeiros e de bodes, da gordura dos rins de carneiros; porque o Senhor tem sacrifício em Bozra, e grande matança na terra de Edom”.[24] “Grande matança” é equivalente quiasmaticamente à palavra “juízo” no versículo 5, provendo um significado mais preciso. “Cheia” de sangue foi traduzido da mesma palavra hebraica apresentada no versículo 5 como “embriagou”.[25] Bozra era a capital de Edom, ao sudeste do Mar Morto. Bozra significa “fortaleza” ou “redil”.[26] O nome é o mesmo de outra cidade em Moabe e de uma cidade moderna, Basra, no Iraque. A matança e o sacrifício tomam o lugar dos sacrifícios e obediência que não foram oferecidos pelos habitantes da Terra. Cordeiros, bodes e carneiros eram oferecidos como sacrifícios sob a lei de Moisés. Aqui estes animais são metafóricos; o próprio povo tomaria o lugar dos sacrifícios que não foram oferecidos e do sacrifício infinito do Senhor rejeitado pelo povo.

Ao descrever a vinda do Senhor depois destes acontecimentos, Isaías pergunta no capítulo 63: “Quem é este, que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas; este que é glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força?” O Senhor responde: “Eu, que falo em justiça, poderoso para salvar”.[27]

O versículo 7 continua a metáfora dos animais a serem sacrificados: “E os bois selvagens cairão com eles, e os bezerros com os touros; e a sua terra embriagar-se-á de sangue até se fartar, e o seu pó se engrossará com a gordura”.[28] A matança do povo é comparada com os sacrifícios de animais que, devido a iniquidade do povo, não foram oferecidos ao Senhor. O boi selvagem é provavelmente Bos primigenius, extinto atualmente, mas que existia na Síria.

O versículo 8 resume: “Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela contenda de Sião”. Um aspecto da “contenda de Sião”, sem dúvidas, é a animosidade entre Judeus e Árabes, os descendentes modernos de Esaú. Outros aspectos da controvérsia podem estar relacionados com a fundação de Sião e suas estacas pela posteridade de José. “Sião” como foi usada aqui tem duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, e Jerusalém, tanto a moderna quanto a antiga, inclusive o monte do templo.[29]

Os versículos 5 até 8 contêm um quiasma:[30]

A: (5) Porque a minha espada se embriagou nos céus; eis que sobre Edom descerá, e sobre o povo do meu anátema
B: para exercer juízo.
C: (6) A espada do Senhor está cheia de sangue, está engordurada da gordura
D: do sangue de cordeiros e de bodes, da gordura dos rins de carneiros;
E: porque o Senhor tem sacrifício em Bozra,
E: e grande matança na terra de Edom.
D: (7) E os bois selvagens cairão com eles, e os bezerros com os touros;
C: e a sua terra embriagar-se-á de sangue até se fartar, e o seu pó se engrossará com a gordura.
B: (8) Porque será o dia da vingança do Senhor,
A: ano de retribuições pela contenda de Sião.

“Porque a minha espada se embriagou nos céus; eis que sobre Edom descerá, e sobre o povo do meu anátema” é complementado por “ano de retribuições pela contenda de Sião”; o significado é que a razão que a espada do Senhor está sendo embriagada nos céus, e está caindo sobre o povo de Edom, ou o povo anatemizado (amaldiçoado) pelo Senhor, é em retribuição pela sua contenda com Sião, ou o povo abençoado do Senhor. “Juízo” é equivalente ao “dia da vingança do Senhor”, fornecendo a definição. A equivalência das frases “o Senhor tem sacrifício em Bozra” e “grande matança na terra de Edom” estabelece que o povo sendo massacrado tornara-se o sacrifício—tomando o lugar dos sacrifícios que não foram oferecidos voluntariamente ao Senhor.

Os versículos 9 e 10 descrevem as sequelas da guerra. O versículo 9 começa: “E os seus ribeiros se tornarão em pez, e o seu pó em enxofre, e a sua terra em pez ardente”. “Pez” significa alcatrão asfalto, ou petróleo;[31] “enxofre” é súlfur,[32] que queima para formar uma fumaça acre e corrosiva que destrói os tecidos pulmonares quando inalado. Fogo é um elemento importante na destruição.[33]

O versículo 10 continua a descrição: “Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração em geração será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela”.[34] Acontecimentos semelhante aos descritos ocorreram em 1991 no fim da Guerra do Golfo Pérsico em Kuwait e foram testemunhados mundialmente através de noticiários na televisão. Ao retroceder, o exército iraquiano, com intensão de infligir grandes danos econômicos ao seu vizinho, incendiou e explodiu centenas de poços de petróleo. Fumaça e chamas subiram; óleo queimado fluiu pelo deserto e pelos leitos. Para extinguir este fogo em centenas de poços de petróleo foi um trabalho meticuloso e perigoso, executado por equipes qualificadas e demorou muitos meses. Nuvens de fumaça podiam ser vistas nitidamente nas fotografias de satélites. Milhões de minas explosivas, dispersa pelo deserto, tanto pelo exército iraquiano quanto pelos seus oponentes, impediam o livre acesso anos depois. A remoção dos explosivos mortais pode levar gerações. Podemos esperar que esta profecia continua se cumprindo ao surgir mais conflitos no rico Oriente Médio.

O versículo 11 descreve a desolação destas terras devastadas pela guerra: “Mas o pelicano e a coruja a possuirão, e o bufo e o corvo habitarão nela; e ele estenderá sobre ela o cordel de confusão e nível de vaidade”. O cordel de confusão e o nível de vaidade podem estar descrevendo cordéis e marcadores de áreas que ainda têm minas, o que faz viajar naquela região muito perigoso.

O versículo 12 descreve a devastação dos reinos políticos: “Eles chamarão ao reino os seus nobres, mas nenhum haverá; e todos os seus príncipes não serão coisa alguma”. “Não serão coisa alguma” significa tornar-se “inútil” ou “inexistente”.[35]

O versículo 13 continua: “E nos seus palácios crescerão espinhos, urtigas e cardos nas suas fortalezas; e será uma habitação de chacais, e sítio para avestruzes”. Espinhos, urtigas e cardos crescendo em palácios e fortalezas inabitados sugere a representação de “espinheiros e sarças” como doutrinas falsas.[36] Entretanto, espinhos, urtigas e cardos podem ter um sentido literal aqui, descrevendo os efeitos colateraisdaaniquilação. “Chacais” vem da palavra hebraica que significa “serpentes”, “dragões” ou “monstros marinhos”.[37] Avestruzes habitando as ruínas simbolizam luto.[38]

Os versículos 12 e 13 contêm um quiasma:

A: (12) Eles chamarão ao reino os seus nobres, mas nenhum haverá; e todos os seus príncipes não serão coisa alguma.
B: (13) E nos seus palácios crescerão espinhos,
C: urtigas
C: e cardos
B: nas suas fortalezas;
A: e será uma habitação de chacais, e sítio para avestruzes.

A estrutura do quiasma apoia uma interpretação mais literal de espinhos, urtigas e cardos ao invés de figurativa, com “urtigas” e “cardos” como o enfoque do quiasma. O significado aqui é devastação literal—ao invés de apostasia e o surgimento de doutrinas falsas.

O versículo 14 descreve melhor os animais selvagens vagando livremente no país assolado: “As feras do deserto se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e acharão lugar de repouso para si”. “Sátiro” é traduzido da palavra hebraica que significa “peludo”, ou “um demônio com a forma de um bode”.[39]

O versículo 15 declara: “Ali se aninhará a coruja e porá os seus ovos, e tirará os seus filhotes, e os recolherá debaixo da sua sombra; também ali os abutres se ajuntarão uns com os outros”. “Coruja” vem da mesma palavra hebraica usada no versículo 11, que quer dizer “coruja-águia” do Egito.[40] Esta ave de hábitos noturnos simboliza conhecimento e sabedoria para muitos povos; porém os povos do Egito e da Índia consideravam a coruja como a ave dos mortos.[41]

No versículo 16 o Senhor declara que tudo está de acordo com a profecia bíblica e ordena que as escrituras sejam lidas: “Buscai no livro do Senhor, e lede; nenhuma destas coisas faltará, ninguém faltará com a sua companheira; porque a minha boca tem ordenado, e o seu espírito mesmo as tem ajuntado”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “Buscai no livro do Senhor, e lede os nomes escritos nele …”.[42] Isto quer dizer que nenhum dos justos—aqueles cujos nomes estão escritos no livro do Senhor—ficarão sem seus esposos ou esposas por toda a eternidade.[43] Esta realidade deve conceder grande conforto aos que foram privados de seus cônjuges nesta vida, ou que nunca se casaram durante esta vida mortal—que na eternidade nenhum dos justos ficarão sem cônjuges. Este versículo ensina que o Senhor ordenou que as profecias de destruição deveriam ser escritas e cumpridas, porém Ele promete aos justos que eles poderão ter filhos por toda a eternidade.

No versículo 17, Isaías declara: “Porque ele mesmo lançou as sortes por elas, e sua mão lhas tens repartido com o cordel; para sempre a possuirão, de geração em geração habitarão nela”. A Tradução de Joseph Smith apresenta: “E eu tenho lançado as sortes por elas, e eu lhas tenho repartido com o cordel …”.[44] O Senhor dividirá a terra entre os justos e dar-lhes-á como herança perpetua. “Com o cordel” refere-se à corrente ou corda de medição do inspetor. Como foi apresentada na versão de João Ferreira de Almeida, esta divisão de heranças seria entre os animais selvagens habitando as áreas despovoadas do mundo.

Os versículos 15 até 17 contêm um quiasma:

A: (15) Ali se aninhará a coruja
B: e porá os seus ovos, e tirará os seus filhotes, e os recolherá debaixo da sua sombra;
C: também ali os abutres se ajuntarão
D: uns com os outros.
E: (16) Buscai no livro do Senhor, e lede os nomes escritos nele;
D: nenhuma destas coisas faltará, ninguém faltará com a sua companheira;
C: porque a minha boca tem ordenado, e o seu espírito mesmo as tem ajuntado.
B: (17) Porque ele mesmo lançou as sortes por elas, e sua mão lhas tens repartido com o cordel; para sempre a possuirão,
A: de geração em geração habitarão nela.

As profecias registradas nas escrituras predizem a devastação das terras de Edom, que foram desoladas por causa das guerras e grande matança. O enfoque, “Buscai no livro do Senhor, e lede os nomes escritos nele”, testifica que os justos—juntamente com seus cônjuges—herdarão a terra para sempre, tal como as aves citadas herdaram a terra depois de seu despovoamento.

NOTAS

[1]. Doutrina e Convênios 1:7.
[2]. O versículo 1 contém um quiasma: Chegai-vos/nações/ouvir/povos/escutai//ouça/terra/plenitude/tudo/quanto produz.
[3]. D&C 1:1-2.
[4]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 141.
[5]. D&C 63:32-33.
[6]. D&C 87:6.
[7]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[8]. Parry, 2001, p. 142.
[9]. Éter 14:21 -23.
[10]. O versículo 4 contém um quiasma: Exército/dos céus//os céus/exército. Parry, 2001, p. 261.
[11]. Isaías 34:4, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 4c.
[12]. D&C 133:7.
[13]. Isaías 13:5.
[14]. Apocalipse 6:14.
[15]. D&C 88:95.
[16]. Mórmon 5:23; 9:2.
[17]. Ver Isaías 1:17; 3:14; 4:4; 28:6.
[18]. Parry, 2001, p. 142.
[19]. D&C 1:13.
[20]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 7301, p. 924.
[21]. Ver Isaías 21:5.
[22]. Ver Gênesis 25:30-34; 27:34-38; Hebreus 12:16-17.
[23]. D&C 1:36.
[24]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Edom/juízo/espada do Senhor/sangue/engordurada//gordura/sangue/ Bozra/grande matança/Edom.
[25]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7301, p. 924.
[26]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1224, p. 131.
[27]. Isaías 63:1; Ver também D&C 133:46-47.
[28]. Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma: Engordurada da gordura/sangue/cordeiros e de bodes … carneiros/ sacrifício//matança/bezerros … touros/sangue/se engrossará com a gordura.
[29]. Ver Isaías 3:16; 33:5, 14, 20; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[30]. Parry, 2001, p. 261.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2203, p. 278.
[32]. Infopédia, Enciclopédia e Dicionários Porto Editora [em linha]: http://www.Infopedia.pt/lingua-portuguesa/enxofre
[33]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[34]. Os versículos 8 até 10 contêm um quiasma: Dia … ano/pez/pó em enxofre//terra em pez ardente/sua fumaça/geração em geração.
[35]. Brown et al., 1996, Número de Strong 657, p. 67.
[36]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 9:18; 10:17; 27:4; 32:13 e comentário pertinente.
[37]. Brown et al., 1996, Número de Strong 8577, p. 1072.
[38]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3284, p. 419.
[39]. Brown et al., 1996, Número de Strong 8163, p. 972.
[40]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3244, p. 676.
[41]. Valter Cichini Jr., “Coruja”, Simbologia, Nossa Vida é Cercada de Símbolos”: Em Linha, http://www.simbologia.com.br/simbologia/index.php/coruja/.
[42]. JST, 1970, p. 205.
[43]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 313.
[44]. JST, 1970, p. 206.

CAPÍTULO 33: “Cujas Estacas [de Sião] Nunca Serão Arrancadas”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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Este capítulo fala sobre a apostasia, violência e traição que precederão a Segunda Vinda. Os justos em Sião orarão pela proteção do Senhor durante esta época. Quando o Senhor vier em Sua glória, os ímpios serão destruídos com fogo consumidor. Apesar das tribulações, Sião e suas estacas nunca serão removidas e o Senhor reinará como Legislador, Juiz, e Rei.

Para entender este capítulo é fundamental que se observe cuidadosamente quem está falando e de quem Isaías está falando, pois muda muitas vezes, o que pode deixar o leitor confuso. O uso de diversos sujeitos e formas verbais fornece uma dica para notarmos estas mudanças.

O versículo 1 consiste de um oráculo de pesar contra aqueles que despojam, ou roubam através de violência e traição: “Ai de ti, despojador, que não foste despojado, e que procedes perfidamente contra os que não procederam perfidamente contra ti! Acabando tu de despojar, serás despojado; e, acabando tu de tratar perfidamente, perfidamente te tratarão”.[1] O oráculo de pesar descreve predadores que roubam os inocentes e os indefesos. Muitos estudiosos acreditam que este predador é Senaqueribe, rei da Assíria, que invadiria e saquearia Jerusalém em 701 a.C.[2] Para os últimos dias, este versículo descreve um estado de anarquia violenta e terror, onde saqueadores vagueiam por todo lado, buscando vítimas para poderem ferir, saquear e roubar. Doutrina e Convênios descreve as mesmas ou semelhantes condições: “E acontecerá entre os iníquos que todo homem que não tomar sua espada contra seu próximo terá que fugir para Sião, por segurança”.[3]

No versículo 2, os justos oram fervorosamente pedindo proteção: “Senhor, tem misericórdia de nós, por ti temos esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação no tempo da tribulação”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “sua salvação no tempo da tribulação”.[4] “Sê tu o nosso braço” é o apelo de Isaías ao Senhor, que quer dizer “defenda-nos dos que nos querem ferir”.

Os versículos 3 e 4 descrevem a vinda do Senhor. O versículo 3 começa: “Ao ruído do tumulto fugirão os povos; à tua exaltação as nações serão dispersas”. “À tua exaltação” significa “em Teu raiar ou ascensão”, como o raiar do sol—para ser visto pelo mundo inteiro, pronto para a batalha. Observe o uso da segunda pessoa do singular “tua”; aqui Isaías está dirigindo-se ao Senhor.

No versículo 4 a narração de Isaías muda, dirigindo-se às nações que serão dispersas na vinda do Senhor: “Então ajuntar-se-á o vosso despojo como se ajunta a lagarta; como os gafanhotos saltam, assim ele saltará sobre eles”. Estes símiles usados por Isaías, de insetos devorando seus alimentos, ajudam aos leitores a imaginarem os saqueadores destruindo as nações.

O versículo 5 descreve o estado bendito dos habitantes de Sião durante este tempo de grande destruição. A declaração de Isaías aqui é dirigida ao leitor: “O Senhor está exaltado, pois habita nas alturas; encheu a Sião de juízo e justiça”.[5] “Justiça” significa “equidade”.[6] A palavra hebraica traduzida como “retidão” significa “eticamente correto”.[7]

“Sião” neste versículo significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto Jerusalém, especialmente a Jerusalém dos últimos dias sob circunstâncias justas.[8] “Sião” é usado em outros dois lugares neste capítulo com os mesmos significados. A definição de “Sião” dada em Doutrina e Convênios é o puro de coração, que significa que Sião é onde os justos habitam—não necessariamente um lugar específico.[9]

Em Doutrina e Convênios, a frase que segue a definição de Sião talvez refira-se a acontecimentos descritos por Isaías no capítulo 33: “Portanto, que Sião se regozije enquanto se lamentam todos os iníquos”.[10]

O Senhor revela os Seus desígnios ao nomear os lugares de coligação:

“E eis que não há outro lugar designado além daquele que designei; nem haverá outro lugar designado além daquele que designei para a reunião de meus santos
“Até chegar o dia em que não haja mais lugar para eles; e então lhes designarei outros lugares que tenho e serão chamados estacas, para as cortinas ou a força de Sião” (ênfases adicionadas).[11]

No versículo 6, Isaías muda para a segunda pessoa do singular para falar com Sião: “E haverá estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; e o temor do Senhor será o seu tesouro”. O maior tesouro do Senhor é a retidão de Seu povo. Os justos de Israel nos últimos dias serão poupados das tribulações, invasões e pilhagem por causa de sua sabedoria, conhecimento e temor ao Senhor.

No versículo 7 Isaías continua falando à Sião, descrevendo agora a angústia daqueles que não foram permitidos entrar: “Eis que os seus embaixadores estão clamando de fora; e os mensageiros de paz estão chorando amargamente”. Um significado alternativo no hebraico original, traduzido na versão de João Ferreira de Almeida como “os seus embaixadores”, é Ariel, que significa “a lareira de Deus” ou “o leão de Deus”,[12] usado anteriormente no capítulo 29.[13] Ariel refere-se ao povo do convênio—especialmente ao povo dos últimos dias, que teria os convênios e as bênçãos do templo. Ariel não sendo permitida a desfrutar da proteção temporal de Sião quer dizer um grupo—à parte de Sião e suas Estacas—que não está vivendo os convênios que lhe traria proteção e bênçãos de Sião. Este grupo representa a Israel apóstata; mas pode ser que se refira a outros grupos.

No versículo 8 Isaías continua dirigindo seus comentários à Sião. Ele descreve a destruição que precederá a Segunda Vinda, em seguida dá a razão pela qual Ariel foi excluída da proteção de Sião: “As estradas estão desoladas, cessou o que passava pela vereda”. Violência, anarquia e possivelmente desastres naturais destruiriam as estradas a tal ponto que nenhum viajante podería prosseguir. “Ele rompeu a aliança, desprezou as cidades, e já não faz caso dos homens”.

Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma:

A: (7) Eis que os seus embaixadores estão clamando de fora;
B: e os mensageiros de paz estão chorando amargamente.
C: (8) As estradas estão desoladas, cessou o que passava pela vereda,
C: ele rompeu a aliança,
B: desprezou as cidades,
A: enão se faz caso dos homens.

O lado ascendente do quiasma descreve o remorso e desapontamento de Ariel, o povo do convênio da antiguidade, ao encontrar-se indigno da proteção do Senhor nos últimos dias. No lado descendente, descreve o porquê a proteção foi negada. Não foi permitido a Ariel entrar na cidade de Sião, portanto não terá sua proteção.

O versículo 9 descreve o efeito de haver quebrado os convênios: “A terra geme e pranteia, o Líbano se envergonha e se murcha; Sarom se tornou como um deserto; e Basã e Carmelo foram sacudidos”. O sacudir de Basã e Carmelo pode ser resultado de terremotos; ou que esses lugares tenham sido despojados. Também pode representar frutos caindo da vinha antes de estarem maduros.[14] “Líbano” refere-se aos “orgulhosos líderes e nobres”, como foi descrito anteriormente por Isaías no capítulo 2.[15]

Os versículos 10 até 12 descrevem a vinda do Senhor. O versículo 10 começa: “Agora, pois, me levantarei, diz o Senhor; agora me erguerei. Agora serei exaltado”. Ser “exaltado” ou ser “levantado” significa que o Senhor Jeová seria reconhecido pelo mundo.

No versículo 11, o Senhor fala aos injustos: “Concebestes palha, dareis à luz restolho; e o vosso espírito vos devorará como o fogo”. “Palha” e “restolho” enfatizam que os frutos temporais das obras diárias dos iníquos não seriam duradouras e seriam queimadas como um campo de grão depois da colheita. Os esforços mais importantes de suas vidas serão de pouca importância; os assuntos espirituais importantes foram deixados de lado, quando deveriam ter prestado mais atenção neles.

O versículo 12 descreve a queima: “E os povos serão como as queimas de cal; como espinhos cortados arderão no fogo”.[16] “As queimas de cal” trazem em mente cenas horríveis de corpos sendo consumidos pelo fogo, deixando as cinzas dos ossos como um acúmulo de cal.[17] Quiasmaticamente, a causa para serem queimados no fogo é porque o povo concebeu palha.

Tal como indicado no versículo 13, a grandeza, o poder e a majestade do Senhor serão reconhecidos no mundo todo: “Ouvi, vós os que estais longe, o que tenho feito; e vós que estais vizinhos, conhecei o meu poder”. O Senhor falará com os povos que estão perto e com os que estão distantes.

O versículo 14 fala dos indignos que estão entre o povo do convênio em Sião: “Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” Apesar de terem tido muitas oportunidades, eles não se prepararam para o dia quando o Senhor viria. Por estarem vivendo com pecados escondidos, eles perguntam temerosamente: “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?”[18]

Dois tipos de fogo foram descritos aqui: “Fogo consumidor” é aquele que destruirá os iníquos, enquanto que “labaredas eternas” significa a glória eterna característica da presença de Deus. O Profeta Joseph Smith descreveu esta glória:

“Vi a incomparável beleza da porta por onde entrarão os herdeiros desse reino, que se assemelhava a chamas de fogo circulantes;
“Também o refulgente trono de Deus, no qual estavam sentados o Pai e o Filho”.[19]

A retidão pessoal é um requerimento para sobreviver a queimação destruidora na vinda do Senhor e é essencial para suportar a glória de Sua presença.[20] Quando não existir a retidão pessoal entre eles, os injustos e hipócritas olharão com grande temor para a glória resplandecente do Senhor. “Sião”, como foi usada aqui, significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto a Jerusalém justa dos últimos dias. Outros significados também podem ser aplicados.[21]

Bruce R. McConkie explicou:

“… Quem na Igreja alcançará uma herança no reino celestial? Quem irá habitar onde Deus e Cristo e os seres santos estão? —Aqueles que sobrepujarem o mundo, fizerem obras justas, e perseverarem em fé e devoção até o fim, ouvirão a prometida bênção: ‘Vinde, e possuí por herança o reino de meu Pai’”.[22]

No versículo 15, o profeta responde às perguntas retóricas feitas pelos indignos hipócritas do versículo 14: “O que anda em justiça, e o que fala com retidão; o que rejeita o ganho da opressão, o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seus olhos para não ver o mal”.[23] “Ouvir falar do derramamento de sangue” significa “não ouvir falar de violências”.[24] Estas qualidades dos justos lhes permitirão aguardar a vinda do Senhor e a herdar a vida eterna no reino celestial.

Que pecados os hipócritas do versículo 14 cometeram? A resposta está no versículo 15: Eles andam injustamente; e falam enganosamente—o que quer dizer que eles mentem, não são honestos; eles se aproveitam com a opressão de outros—isto é, cometeram extorsão; aceitaram subornos; eles “ouviram”, ou aprovaram a violência ou o derramamento de sangue; e aprovaram coisas perversas. Em nossos dias, fechar os olhos para as coisas más incluem evitar mídia cujos propósitos são de promulgar o mal, como a pornografia ou programas ofensivos na televisão ou nos filmes.

O salmista falou sobre este princípio: “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente”.[25]

No versículo 16 fala sobre as bênçãos a serem obtidas por aquele “que anda em justiça”, evitando as armadilhas descritas no versículo 15: “Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas”. As “Fortalezas das rochas” proporcionarão uma segurança temporal maior. O Senhor defenderá Seus seguidores justos; Ele proverá para eles o pão e água—sustento temporal como também espiritual[26]—durante este tempo de destruição e tumulto.

Maiores bênçãos para os justos são mencionadas por Isaías na segunda pessoa do singular, e são descritas nos versículos 17 até 20. O versículo 17 declara: “Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe”. A primeira frase reflete o significado da frase bem conhecida das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”.[27] “Formosura” significa a glória resplendente do Senhor mencionada no versículo 14. Na segunda frase deste versículo, Isaías descreve o que mais os olhos dos justos verão: “Verão a terra que está longe”, que significa o reino celestial de Deus.

O versículo 17 contém um quiasma reconhecido no hebraico original, reconstruído aqui para corresponder com a construção hebraica:[28]

A: (17) O rei na sua formosura,
B: Os teus olhos
B: verão
A: e verão a terra que está longe.

“O rei na sua formosura” é complementado por “e verão a terra que está longe”, indicando que a terra mencionada é a morada do rei, ou do Messias. O enfoque do quiasma é “Os teus olhos verão” e “verão”.

Os versículos 18 e 19 descrevem a proteção contra os invasores a ser desfrutada pelos justos. O versículo 18 declara: “O teu coração considerará o assombro dizendo: Onde está o escrivão? Onde está o que pesou o tributo? Onde está o que conta as torres?” O escrivão, o que pesou o tributo e o que conta as torres são os que gerenciam os despojos das guerras; os justos não precisam se preocupar com eles ou com suas delegações.

O Apóstolo Paulo parafraseou o versículo 18 no Novo Testamento: “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?”[29]

O versículo 19 continua: “Não verás mais aquele povo atrevido, povo de fala obscura, que não se pode compreender e de língua tão estranha que não se pode entender”. Os justos não verão os temerosos exércitos invasores que falam uma língua incompreensível. “Fala obscura” refere-se aos efeitos no ouvido de uma língua incompreensível falada rapidamente. Este versículo ajuda a esclarecer o significado de uma passagem anterior no capítulo 28: “Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará [o Senhor] a este povo”.[30] Neste outro versículo Isaías descreve missionários ou mensageiros, enviados pelo Senhor, tentando aprender outra língua; porém neste versículo que estamos analisando agora, o povo de fala obscura são os exércitos invasores—enviados para destruirem aqueles que não derem ouvidos à mensagem dos primeiros que falaram com lábios gaguejantes.

No versículo 20 Isaías continua seu discurso aos justos, admoestando-os: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará”.[31] “Sião” e “Jerusalém”, aqui, são sinônimos, referindo-se ao povo justo do Senhor.[32] A analogia da Sião dos últimos dias e suas estacas com a tenda da Israel antiga, suportadas por cordas e estacas, é melhor explicada no capítulo 54 por Isaías:

“Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas.
“Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”.[33]

A declaração de Isaías no versículo 20 é citada pelo Senhor ressuscitado aos nefitas[34] e mencionada em vários lugares em Doutrina e Convênios.[35] A promessa do Senhor que as “estacas nunca serão arrancadas, e das suas cordas nenhuma se quebrará” é um grande conforto e consolo para os Santos dos Últimos Dias. A profecia de Isaías descrevendo a destruição dos iníquos—deixando as cidades gentias desabitadas—serve como advertência para todos os que derem ouvidos.

Uma estaca é uma organização eclesiástica constituída de várias alas, ou congregações, e é presidida por um presidente de estaca, o qual dirige as obras da Igreja nas alas e fornece orientação, direção e liderança aos bispos que presidem nas alas. O presidente da estaca, por sua vez, recebe direção das autoridades gerais e de área que reportam ao presidente da Igreja. Inerente à organização da estaca é a disponibilidade dos programas da Igreja, incluindo as ordenanças do sacerdócio, necessárias para os membros da estaca obterem a exaltação eterna. “Solenidades”, usada na primeira linha do versículo 20, vem do Latim sollemnis que significa “aquilo que acontece a cada ano”,[36] isto é, celebrações e cerimônias religiosas.

Os versículos 17 até 20 contêm um quiasma:

A: (17) Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe.
B: (18) O teu coração considerará o assombro dizendo:
C: Onde está o escrivão?
D: onde está o que pesou o tributo?
E: onde está o que conta as torres?
E: (19) Não verás mais
D: aquele povo atrevido,
C: povo de fala obscura, que não se pode compreender
B: e de língua tão estranha que não se pode entender.
A: (20) Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta ….

“Os teus olhos verão o rei na sua formosura” corresponde “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades”, mostrando que Sião deverá ser o lugar onde o Senhor habitará e quem reinará sobre a Terra. O lado ascendente deste quiasma apresenta perguntas retóricas que preveem a proteção contra os invasores proporcionada aos justos de Sião e Jerusalém; as declarações no lado descendente descrevem os invasores que assolariam os ímpios durante as destruições precedentes a Segunda Vinda, mas das quais Sião e Jerusalém seriam poupadas. Os justos em Sião e Jerusalém não serão invadidos pelos exércitos que falam em língua estranha.

O versículo 21 continua a descrição de Isaías da Sião dos últimos dias, que virá a ser o lugar onde o Senhor habitará durante Seu glorioso reinado sobre a Terra: “Mas ali o glorioso Senhor será para nós um lugar de rios e correntes largas; barco nenhum de remo passará por ele, nem navio grande navegará por ele”. Sião será um lugar de refúgio, protegida pelo Senhor contra os invasores. Esta descrição de Sião como um lugar de “rios e correntes largas” caracteriza o local designado pelo Senhor, através do Profeta Joseph Smith, como a Nova Jerusalém nos Estados Unidos da América—no condado de Jackson, Missouri.[37]

O versículo 22 descreve a razão para a grande paz e proteção desfrutada por Sião: “Porque o Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso legislador; o Senhor é o nosso rei, ele nos salvará”. A salvação, neste caso, significa proteção temporal contra inimigos terrenos, bem como exaltação eterna na presença de Deus. A Expiação, que fornece o caminho para sermos purificados de nossos pecados e abre o caminho para obtermos exaltação eterna, é provida pelo Senhor Jesus Cristo.

Os versículos 21 e 22 contêm um quiasma:

A: (21) Mas ali o glorioso Senhor será para nós
B: um lugar de rios
C: e correntes largas;
C: barco nenhum de remo passará por ele,
B: nem navio grande navegará por ele.
A: (22) Porque o Senhor é o nosso juiz; o Senhor é nosso legislador; o Senhor é o nosso rei; ele nos salvará.

“Um lugar de rios” compara-se com “navio grande”; o termo “correntes largas” compara-se com “barco … de remo”. Note que os objetos maiores, “rios” e “navio grande”, e os elementos menores, “correntes” e “barco de remo”, são quiasmaticamente paralelos.

O versículo 23 volta ao tema apresentado no versículo 21, no qual nenhum navio chegaria perto de Sião. Primeiro Isaías refere-se ao navio na segunda pessoa do singular, descrevendo sua inabilidade de navegar: “As tuas cordas se afrouxaram”; depois, Isaías muda sua atenção para os homens conduzindo o navio: “não puderam ter firme o seu mastro, e nem desfraldar a vela”. Devido a inabilidade de navegar, o navio está vulnerável aos ataques, mesmo pelos fracos: “então a presa de abundantes despojos se repartirá; e até os coxos dividirão a presa”. Os despojos serão divididos entre os conquistadores, que incluem, até mesmo, os deficientes físicos. Este navio é um símbolo para qualquer pessoa que procura invadir ou conquistar Sião. No capítulo 54 o Senhor promete a Seus seguidores justos: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”.[38]

O versículo 24 descreve a força espiritual dos habitantes de Sião: “E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da iniquidade”. O Senhor, através da Expiação, proveu o caminho para cada pessoa ser purificada de seus pecados, ou enfermidades espirituais; a fim de qualificar para esta bênção de habitar em Sião, cada pessoa deve se arrepender de seus pecados e ser perdoada, de acordo com as leis do Senhor.

NOTAS

[1]. O versículo 1 contém um quiasma: Ai de ti, despojador, que não foste despojado/procedes perfidamente/os que não procederam perfidamente contra ti!//acabando tu de tratar perfidamente/perfidamente te tratarão.
[2]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 294.
[3]. Doutrina e Convênios 45:68.
[4]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíbliapor Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 205.
[5]. Versículos 2 até 5 contêm um quiasma: Tem misericórdia de nós/fugirão os povos; à tua exaltação/O Senhor//pois habita nas alturas/encheu a Sião de juízo/justiça.
[6]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 32:1; 41:1; 49:4; 53:8.
[7]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996; Número de Strong 6666, p. 842.
[8]. Ver Isaías 3:16; 33:14, 20; 34:8; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[9]. D&C 97:21.
[10]. D&C 97:21.
[11]. D&C 101:20-21.
[12]. Brown et al., 1996, Número de Strong 691, p. 72.
[13]. Ver Isaías 29:1-2, 7 e comentário pertinente.
[14]. Ver Malaquias 3:11.
[15]. Ver Isaías 2:13 e comentário pertinente; Ver também Isaías 10:34 e 14:8.
[16]. Versículos 11 e 12 contêm um quiasma: Palha/restolho/vosso espírito//fogo/queimas/arderão no fogo.
[17]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:27, 30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[18]. O versículo 14 contém um quiasma: Pecadores de Sião/se assombraram//tremor/hipócritas.
[19]. D&C 137:2-3.
[20]. D&C 130:7.
[21]. Ver Isaías 3:16; 33:5, 20; 34:8; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[22]. Bruce R. McConkie, “Think on These Things” [Pensem Sobre Estas Coisas], Ensign, Jan. 1974, p. 45.
[23]. O versículo 15 contém um quiasma: Anda em justiça/fala com retidão/rejeita o ganho da opressão//sacode das suas mãos todo o presente/tapa os seus ouvidos para não ouvir/fecha os seus olhos para não ver o mal.
[24]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1818, p. 196.
[25]. Salmo 24:3-4.
[26]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:11; 58:11 e comentário pertinente.
[27]. Mateus 5:8.
[28]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 261.
[29]. 1 Coríntios 1:20.
[30]. Isaías 28:11.
[31]. O versículo 20 contém um quiasma: Não será removida/estacas//cordas/nenhuma se quebrará.
[32]. Ver Isaías 3:16; 33:5, 14; 34:8; 37:32; 40:9; 41:27; 51:3.
[33]. Isaías 54:2-3.
[34]. 3 Néfi 22:2-3.
[35]. D&C 68:25-26; 82:14; 101:21; 107:36-37; 115:6, 18; 133:9.
[36]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 696.
[37]. D&C 57:1-2.
[38]. Isaías 54:17.