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CAPÍTULO 32: “Ao Vil Nunca Mais Se Chamará Liberal”

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Este capítulo é a respeito dos governantes políticos. Começa com uma descrição do arquétipo rei justo, o Messias cujo reinado na Terra trará inauditas bênçãos, paz, e segurança. O uso desta descrição por Isaías no começo, descrevendo a corrupção dos governantes políticos, é um contraste literário—uma comparação de extremos para fazer as descrições de cada uma mais vívida.[1] Esta comparação acentua nas mentes dos leitores tanto a severidade da iniquidade prevalente como a retidão infinita do Senhor. Esta iniquidade e corrupção descrevem tanto a Israel antiga quanto a dos últimos dias, com as condições da Israel antiga servindo como exemplo das condições futuras. Este capítulo termina com uma descrição quiasmática—refletindo nos primeiros quatro versículos do capítulo—da retidão do Senhor e das condições favoráveis que prevalecerão sob Seu reinado.

O versículo 1 descreve o reinado do Senhor na Sua Segunda Vinda: “Eis que reinará um rei com justiça, e dominarão os príncipes segundo o juízo”.[2]Como foi usado aqui, “justiça” significa “honestidade, retidão”.[3] O Senhor é o arquétipo de um rei justo; governantes políticos sob Seu comando governarão em retidão.

O versículo 2 apresenta uma série de símiles que descrevem a segurança e paz que será desfrutava pelos justos sob o reinado do Senhor: “E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta”. Depois das destruições dos últimos dias o Senhor será visto pelos sobreviventes justos como um grande alívio das tribulações. “Ribeiros de águas em lugares secos” simbolizam inspirações e revelações dos céus.[4] Cada um destes símiles descreve um grande contraste entre o alívio e consolo provido pelo Senhor em Seu reinado benévolo e o caos, miséria e sofrimento sob opressão dos governantes iníquos que O precederam. Suas regras injustas foram caracterizadas neste versículo como “vento”, “tempestade”, “lugares secos” e “terra sedenta”.

O versículo 3 descreve metaforicamente os dons espirituais que abundarão entre os justos sob o reinado do Senhor: “E os olhos dos que veem não olharão para trás; e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos”.[5] “Os que veem” significa “videntes”, e aqueles com a habilidade de identificar e compreender coisas espirituais, enquanto que “os que ouvem” refere-se àqueles com habilidades de ouvir a voz do Espírito. “Estarão atentos” significa aqueles que ouvem responderão os sussurros do Espírito. Esta declaração compara-se com uma descrição de Isaías sobre a chegada do Livro de Mórmon no capítulo 29, usando as mesmas metáforas físicas para descreverem qualidades espirituais: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão”.[6]

O versículo 4 continua com outras metáforas semelhantes: “E o coração dos imprudentes entenderá o conhecimento; e a língua dos gagos estará pronta para falar distintamente”. “Os imprudentes” significam “aqueles que agem impetuosamente”[7], enquanto que “os gagos” significam “aqueles que falam inarticuladamente”.[8] Este significado contrasta-se com “assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo” usado no capítulo 28, onde descreve os representantes do Senhor falando em línguas estrangeiras.[9]

O versículo 5 descreve o fim dos valores distorcidos característicos dos últimos dias: “Ao vil nunca mais se chamará liberal; e do avarento nunca mais se dirá que é generoso”. “Vil” significa “pessoa desprezível”.[10]

Estas frases paralelas enfatizam definições corretas das duas palavras que tiveram seus significados distorcidos intencionalmente em nosso tempo. Isaías prediz um tempo quando os líderes que têm títulos de nobreza, mas que na realidade são vis, grosseiros, avarentos, mentirosos ou trapaceiros não serão mais chamados de generoso.Isaías descreve esta inversão de significados deliberada no capítulo 5: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!”[11]

No versículo 6, Isaías provê uma dica simples para reconhecer os líderes iníquos—por suas ações ao invés de por suas posições elevadas: “Porque o vil fala obscenidade, e o seu coração pratica a iniquidade, para usar hipocrisia, e para proferir mentiras contra o Senhor, para deixar vazia a alma do faminto, e fazer com que o sedento venha a ter falta de bebida”.[12], [13] A palavra hebraica traduzida como “obscenidade” significa “loucura sem sentido” ou “profanação”.[14]

O versículo 7 continua a exposição de Isaías para que saibamos distinguir um governante iníquo: “Também todas as armas do avarento são más; ele maquina invenções malignas, para destruir os mansos com palavras falsas, mesmo quando o pobre chega a falar retamente”.[15] Esta frase significa que governantes corruptos com más intenções elaboram esquemas para enganar, medindo suas palavras cuidadosamente ou mentindo.

Quão impressionante é esta descrição de Isaías dos governantes iníquos de nosso tempo! Eles fingem que estão cuidando dos carentes para acumularem poderes políticos, mas eles destroem os pobres com suas mentiras. O Senhor deu esta mesma dica para distinguir malfeitores no Sermão da Montanha: “Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”[16]

O versículo 8 provê a verdade contrastante: “Mas o liberal projeta coisas liberais, e pela liberalidade está em pé”.[17] Liberalidade é uma qualidade pessoal grandemente valorizada pelo Senhor. O verdadeiro líder, aquele que reconhece o que se espera de um líder digno, atinge as expectativas.

Os versículos 9 até 11 exortam as mulheres de Israel, e como um exemplo, as mulheres dos últimos dias. O versículo 9 começa: “Levantai-vos, mulheres, que estais sossegadas, e ouvi a minha voz; e vós, filhas, que estais tão seguras, inclinai os ouvidos às minhas palavras”. “Sossegada” significa “tranquila” atualmente, mas a palavra hebraica de onde “sossegada” foi traduzida significa “confiante” ou “segura”.[18]

O versículo 10 continua: “Porque num ano e dias vireis a ser turbadas, ó mulheres que estais tão seguras; porque a vindima se acabará, e a colheita não virá”. Apesar da facilidade e conforto que gozam no presente, muitos anos de deprivação esperam por eles no futuro.

O versículo 11 conclui: “Tremei, mulheres que estais sossegadas, e turbai-vos vós, que estais tão seguras; despi-vos, e ponde-vos nuas, e cingi com saco os vossos lombos”.[19] Isaías prediz muitos anos de dificuldades e deprivação que lhes esperam—admoestando-os a tremerem e preocuparem-se, despirem-se ou retirarem o orgulho de dentro de si, e cingirem-se ou vestirem-se em sacos, que representam a humildade e o arrependimento.[20]

O versículo 12 descreve sua melancolia por haverem perdido o ambiente agradável que antes desfrutavam: “Baterão nos peitos, pelos campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas”.

Os versículos 8 até 12 contêm um quiasma:

A: (8) Mas o liberal projeta coisas liberais, e pela liberalidade está em pé.
B: (9) Levantai-vos, mulheres, que estais sossegadas,
C: e ouvi a minha voz;
D: e vós, filhas que estais tão seguras, inclinai os ouvidos às minhas palavras.
E: (10) Porque num ano e dias vireis a ser perturbadas,
F: ó mulheres que estais tão seguras;
G: porque a vindima se acabará,
G: e a colheita não virá.
F: (11) Tremei, mulheres que estais sossegadas,
E: e turbai-vos
D: vós, que estais tão seguras;
C: despi-vos e ponde-vos nuas,
B: e cingi com saco os vossos lombos.
A: (12) Baterão nos peitos, pelos campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas.

O termo “Coisas liberais” é complementado pelos “campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas”, que nos dá uma dica do que o profeta quis dizer. “Levantai-vos, mulheres que estais sossegadas” é contrastado com “cingi com saco os vossos lombos”, admoestando os privilegiados a arrependerem-se de sua arrogância. “Ouvi a minha voz” é equivalente a “despi-vos e ponde-vos nuas”, dando-nos uma explicação com sentido espiritual para a comparação. Aqueles que derem ouvidos à voz de advertência de Isaías deixarão de ser orgulhosos, colocando em lugar do orgulho as vestimentas do verdadeiro arrependimento. Devido a sobreposição destes quiasmas, todas as frases semelhantes a frase “mulheres que estais seguras” são equivalentes.

O versículo 13 descreve tanto o abandono físico da terra depois da queda de Jerusalém quanto a negligência mundial de assuntos espirituais.: “Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e sarças, como também sobre todas as casas onde há alegria, na cidade jubilosa”. Além do sentido literal de espinheiros e sarças crescendo numa terra negligenciada, também representam doutrinas falsas que surgem quando a vinha do Senhor é negligenciada devido a iniquidade.[21]

O versículo 14 continua a descrição de uma terra abandonada pelos seus habitantes: “Porque os palácios serão abandonados, a multidão da cidade cessará; e as fortificações e as torres servirão de cavernas para sempre, para alegria dos jumentos monteses, e para pasto dos rebanhos”. Animais ferozes andarão pelos palácios e fortificações abandonados de Jerusalém.

O versículo 15 descreve as condições que trará o fim deste período de devastação, abandono e negligência de assuntos espirituais: “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque”. O renascer espiritual descrito neste versículo refere-se à restauração nos últimos dias, predita anteriormente por Isaías.[22] Estas declarações paralelas, “o deserto se tornará em campo fértil” e “o campo fértil será reputado por um bosque” , indicam que a restauração espiritual seria universal—como precursor do reinado justo do Senhor. “Bosque” refere-se ao povo, e “campo fértil” significa seus sistemas econômicos.[23] Estas frases têm quase as mesmas palavras usadas por Isaías no capítulo 29 para descrever a restauração, exceto que aqui “deserto” foi substituído por “Líbano:” “Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento, em campo fértil? E o campo fértil não se reputará por um bosque?”[24]

Os versículos 16 até 20 retornam quiasmaticamente ao reinado justo do Senhor, descrito nos versículos 1 até 4. O versículo 16 começa: “E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil”. O Senhor reinará em retidão durante Seu reinado milenar. “Juízo” significa “equidade” ou “justiça”.[25] Outros significados de “juízo” que se aplicam ao reinado do Senhor são: justiça social,[26] raciocínio são ou sensato,[27] e um sistema equitativo de leis.[28]

Os versículos 17 e 18 descrevem a paz que estará presente no reinado justo do Senhor. O versículo 17 começa: “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre”. Aqui Isaías descreve a segurança de saber que estamos vivendo de acordo com a votade de Deus.[29]

O versículo 18 continua: “E o meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso”. Não só estas condições prevalecerão durante o reinado do Senhor, é possível—pelo menos até um certo ponto, em épocas de iniquidade e tumultos mundiais—sentirmos paz em nossas próprias vidas e em nossos lares ao obedecermos com exatidão os mandamentos do Senhor.

O versículo 19 descreve a destruição que precederia o reinado justo do Senhor: “Mas, descendo ao bosque, cairá saraiva e a cidade será inteiramente abatida”. Aqui a destruição dos iníquos é caracterizada por uma tempestade de granizo, um dos elementos desta destruição predita. “Bosque” representa a nobreza, já “a cidade” neste caso, representa a humanidade em geral.

Está bem claro nas escrituras que a saraiva será um elemento de destruiçãos que ocorrerá antes da Segunda Vinda do Senhor. Anteriormente, no capítulo 28, Isaías declarou: “Eis que o Senhor tem um forte e poderoso; como tempestade de saraiva, tormenta destruidora, e como tempestade de impetuosas águas que transbordam, ele, com a mão, derrubará por terra” (ênfases adicionadas).[30] Da mesma forma: “E regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo” (ênfases adicionadas).[31]

“A linha” e “o prumo” são metáforas representando a retidão pessoal, e “a saraiva” e “as águas” representam o imponente exército assírio que devastaria Israel. “A saraiva” e “as águas” são também símbolos de incidentes literais de granizo (saraiva) e enchentes nos últimos dias. João, o Revelador, predisse uma chuva de granizo com efeitos cataclísmicos: “E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva; porque a sua praga era mui grande” (ênfases adicionadas).[32]

O versículo 20 descreve o estado abençoado dos sobreviventes justos no equivalente do Egito moderno: “Bem-aventurados vós os que semeais junto a todas as águas; e deixais livres os pés do boi e do jumento”. A queda econômica do Estados Unidos da América foi predita anteriormente por Isaías em termos das indústrias do Egito antigo, cuja agricultura era baseada em plantações ao longo do Rio Nilo.[33] Portanto, “vós os que semeais junto a todas as águas” refere-se diretamente aos Estados Unidos da América usando o Egito antigo como símbolo. Não haverá somente plantações e colheitas, mas também existirá a pecuária durante o reinado do Senhor sobre a Terra.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 53:5; 60:2; 63:7 e comentário pertinente.
[2]. O versículo 1 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Reinará/um rei//príncipes/dominarão. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[3]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 33:5; 41:1; 49:4; 53:8.
[4]. Ver Isaías 12:3; 27:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[5]. O versículo 3 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Não olharão para trás/os olhos dos que veem//os ouvidos dos que ouvem/estarão atentos. Em Parry, 2001, p. 260.
[6]. Isaías 29:18.
[7]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 4116, p. 554-555.
[8]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5926, p. 748.
[9]. Ver Isaías 28:11.
[10]. Vil Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/vil.
[11]. Isaías 5:20.
[12]. Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma: O coração dos imprudentes/falar distintamente/ao vil nunca mais se chamará liberal//do avarento nunca mais se dirá que é generoso/fala obscenidade/seu coração.
[13]. O versículo 6 contém três quiasmas reconhecidso no hebraico original: Fala obscenidade/pratica a iniquidade/ para usar hipocrisia/proferir mentiras. Fala/obscenidade//iniquidade/seu coração pratica. Deixar/faminto/o sedento/venha a ter falta de bebida. Parry, 2001, p. 261.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5039, p. 615.
[15]. Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma: Faminto/o sedento venha a ter falta de bebida/maquina invenções//malignas/destruir os mansos com palavras falsas/pobre.
[16]. Mateus 7:16.
[17]. Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma: Maquina invenções malignas/palavras falsas//falar retamente/liberal projeta coisas liberais.
[18]. Brown et al., 1996, Número de Strong 982, p. 105.
[19]. Os versículos 9 até 11 contêm um quiasma: Mulheres, que estais sossegadas/filhas, que estais tão seguras/num ano//dias/mulheres que estais tão seguras/mulheres que estais sossegadas.
[20]. Compare Alma 5:28-29.
[21]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 9:18; 10:17; 27:4 e comentário pertinente.
[22]. Isaías 2:2-4; 18:1-7; 29:11-14.
[23]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:18-19, 33-34; 14:8; 29:17; 37:24; 55:12.
[24]. Isaías 29:17.
[25]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 32:1; 33:5; 41:1; 49:4; 53:8.
[26]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 9:7; 42:1; 59:8, 14.
[27]. Ver Isaías 1:17; 28:7; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[28]. Ver Isaías 5:7; 51:4; 54:17.
[29]. Eldred G. Smith, “Peace” [Paz], Ensign, July 1972, p. 117.
[30]. Isaías 28:2.
[31]. Isaías 28:17.
[32]. Apocalipse 16:21; Ver também Apocalipse 8:7; 11:19; D&C 109:30.
[33]. Ver Isaías 19:5-10.

CAPÍTULO 31: “Assim O Senhor Dos Exércitos Descerá Para Pelejar Pelo Monte De Sião”

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Este capítulo é um resumo ou apêndice do capítulo anterior. Começa com um oráculo de pesar: “Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro”, o qual é o enfoque do capítulo 30. Este é seguido por um chamado ao arrependimento, resumindo novamente um tema importante do capítulo 30: “Convertei-vos, pois, àquele contra quem os filhos de Israel se rebelaram tão profundamente”. Este capítulo termina com um chamado para acabarem com a idolatria : “Lançará fora os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro” e “o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião”. Para nós nos últimos dias, Egito é uma palavra chave que se refere aos Estados Unidos da América, conforme foi estabelecido por Isaías nos capítulos 18 até 20.

Os versículos 1 até 3 formam um oráculo de pesar. O versículo 1 começa: “Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, e se estribam em cavalos; e têm confiança em carros, porque são muitos; e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos; e não atentam para o Santo de Israel, e não buscam ao SENHOR”. Se estribam” significa “confiam em”.[1] Aqueles que confiam no braço da carne, colocando toda sua confiança nos poderes de exércitos, cairão.

O versículo 1 contém um quiasma:

A: (1) Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro,
B: e se estribam
C: em cavalos,
D: e têm confiança
E: em carros, porque são muitos;
E: e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos;
D: e não atentam
C: para o Santo de Israel,
B: e não buscam
A: ao Senhor.

Neste quiasma, os elementos no lado ascendente contrastam-se com os elementos no lado descendente. “Egito” é contrastado com “o Senhor”; a confiança deveria ser colocada no Senhor, não na força militar do Egito. “Cavalos” é contrastado com “o Santo de Israel”, ilustrando novamente a confiança sendo mal empregada.

O versículo 2 continua o oráculo de pesar: “Todavia também ele é sábio, e fará vir o mal, e não retirará as suas palavras; e levantar-se-á contra a casa dos malfeitores, e contra a ajuda dos que praticam a iniquidade”. O Senhor é sábio, Ele trará calamidades sobre os malfeitores, e não retirará as suas palavras. A última frase, “contra a ajuda dos que praticam a iniquidade” significa que quando malfeitores forem ajudar outros malfeitores, o Senhor intervirá contra ambos.

O Senhor, em Doutrina e Convênios, expandiu sobre o conceito Dele não retirar Suas palavras:

“O que eu, o Senhor, disse está dito e não me desculpo; e ainda que passem os céus e a Terra, minha palavra não passará, mas será toda cumprida, seja pela minha própria voz ou pela voz de meus servos, é o mesmo”.[2]

O versículo 3 finaliza o oráculo de pesar, descrevendo a maldição: “Porque os egípcios são homens, e não Deus; e os seus cavalos, carne, e não espírito; e quando o Senhor estender a sua mão, tanto tropeçará o auxiliador, como cairá o ajudado, e todos juntamente serão consumidos”. O significado em hebraico de “e não Deus” são “homens de podere posição”.[3] Israel deve colocar sua confiança em Deus, não no Egito. Tudo será destruído por causa de sua confiança no braço da carne.

O versículo 4 apresenta um símile que ilustra o desejo do Senhor de defender os justos: “Porque assim me disse o Senhor: Como o leão e o leãozinho rugem sobre a sua presa, ainda que se convoque contra ele uma multidão de pastores, não se espantam das suas vozes, nem se abatem pela sua multidão, assim o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião, e sobre o seu outeiro”. O Senhor será destemido e poderoso como o leão ao defender Sião.

“O monte Sião” como foi usado no versículo 4 tem vários significados—a coligação espiritual dos últimos dias, bem como a Jerusalém dos últimos dias sob condições justas. O Senhor provê uma definição: “Pois isto é Sião—o puro de coração”.[4] Outros significados também podem ser aplicados.[5]

Os versículos 2 até 4 contêm um quiasma:

A: (2) Todavia também ele é sábio, e fará vir o mal, e não retirará as suas palavras;
B: e levantar-se-á contra a casa dos malfeitores,
C:  e contra a ajuda dos que praticam a iniquidade.
D: (3) Porque os egípcios são homens, e não Deus;
D: e os seus cavalos, carne, e não espírito; e quando o Senhor estender a sua mão,
C: tanto tropeçará o auxiliador,
B: como cairá o ajudado, e todos juntamente serão consumidos.
A: (4) Porque assim me disse o Senhor….

“Suas palavras” complementam “assim me disse o Senhor”, designando de quem são as palavras que não serão retiradas. “Levantar-se-á contra a casa dos malfeitores” complementa “como cairá o ajudado, e todos juntamente serão consumidos”, que se refere à Israel que buscou a ajuda do Egito. O Senhor levantar-se-á contra aqueles que praticam o mal e colocam sua confiança na força militar do Egito, ao invés de buscarem a ajuda do Senhor.

O versículo 5 continua a descrição da proteção do Senhor aos justos, com outro símile: “Como as aves voam, assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém; ele a amparará, a livrará e, passando, a salvará”. O significado de “Jerusalém” aqui é com um sentido amplo—o povo justo do Senhor; usado por Isaías como sinônimo de “Sião” no versículo anterior. “Como as aves voam” pode indicar que Isaías testemunhou em uma visão uma guerra aérea.[6]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) … não se espantam das suas vozes, nem se abatem pela sua multidão, assim o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar
B: sobre o monte Sião,
B: e sobre o seu outeiro.
A: (5) Como as aves voam, assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém ….

“Assim o Senhor dos exércitos descerá, para pelejar” é equivalente à “assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém”; e “sobre o monte Sião” corresponde ao “seu outeiro”. Apesar do fato de que o Senhor se levantará contra a Israel apóstata, Ele promete a defender o monte Sião. A purificação e o castigo de Israel são passos necessários para o triunfo final de Sião e do povo do convênio de Israel.

No versículo 6, Isaías desafia: “Convertei-vos, pois, àquele contra quem os filhos de Israel se rebelaram tão profundamente”.[7] Esta é uma rejeição consciente—não por ignorância—da autoridade do Senhor sob Israel como nação. [8]

No versículo 7, o dia do arrependimento de Israel foi descrito assim: “Porque naquele dia cada um lançará fora os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro, que vos fabricaram as vossas mãos para pecardes”. O Senhor defenderá Israel depois que esta se arrepender e lançar fora os seus ídolos; pois fazer e adorar ídolos é um pecado muito sério.

Os versículos 8 e 9 descrevem a queda da Assíria pelas mãos do Senhor, que serve como exemplo da queda dos iníquos nos últimos dias. O versículo 8 começa: “E a Assíria cairá pela espada, não de poderoso homem; e a espada, não de homem desprezível, a consumirá; e fugirá perante a espada e os seus jovens serão tributários”.[9] “Não de poderoso homem” e “não de homem desprezível” significa que não será por homens, mas pelas mãos do Senhor. [10]

O versículo 9 conclui: “E de medo passará a sua rocha, e os seus príncipes terão pavor da bandeira, diz o Senhor, cujo fogo está em Sião e a sua fornalha em Jerusalém”. Os assírios, e seus equivalentes modernos, serão afligidos com terror quando estiverem fugindo dos poderes destrutivos do Senhor. “Sião” significa tanto um lugar de coligação espiritual nos últimos dias quanto o templo em Jerusalém.[11] “Fogo” e “fornalha” referem-se ao fogo destrutivo que espera os iníquos nos últimos dias, protegendo, assim, os justos.[12]

Os versículos 4 até 9 contêm um quiasma:

A: (4) … assim o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião, e sobre o seu outeiro. (5) Como as aves voam, assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém; ele a amparará, a livrará e, passando, a salvará.
B: (6) Convertei-vos,
C:pois, àquele contra quem os filhos de Israel
D: se rebelaram tão profundamente.
E: (7) Porque naquele dia cada um lançará fora os seus ídolos de prata,
E: e os seus ídolos de ouro, que vos fabricaram as vossas mãos
D: para pecardes,
C: (8) E a Assíria cairá pela espada, não de poderoso homem; e a espada, não de homem desprezível, a consumirá; e fugirá perante a espada e os seus jovens serão tributários. (9) E de medo passará a sua rocha, e os seus príncipes terão pavor da bandeira,
B: diz o Senhor,
A: cujo fogo está em Sião e a sua fornalha em Jerusalém.

“… Assim o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião, e sobre o seu outeiro” corresponde à frase “cujo fogo está em Sião e a sua fornalha em Jerusalém”, indicando que o Senhor destruirá os iníquos com fogo para proteger os justos. Na época da destruição da Assíria e seu equivalente moderno, todos reconhecerão as mãos do Senhor na libertação de Sião e Jerusalém, por conseguinte, lançarão fora seus ídolos de ouro e prata.

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 8172, p. 1043.
[2]. Doutrina e Convênios 1:38.
[3]. Brown et al., 1996, Número de Strong 410, p. 42.
[4]. D&C 97:21.
[5]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:9; 51:3.
[6]. Ver Isaías 7:18-19 e comentário pertinente.
[7]. Versículos 5 e 6 contêm um quiasma: O Senhor dos exércitos/ele a amparará, a livrará//passando, a salvará/ Convertei-vos.
[8]. Ver Isaías 30:9-11.
[9]. O versículo 8 contém um quiasma: A Assíria cairá pela espada/não de poderoso homem//não de homem desprezível/fugirá perante a espada.
[10]. Ver Isaías 10:34, 14:24-28 e comentário pertinente; também 2 Reis 19:32-37.
[11]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4; 51:3.
[12]. Ver 1 Néfi 22:7; 2 Néfi 30:10; Éter 4:9.

CAPÍTULO 30: “No Dia Da Grande Matança, Quando Caírem As Torres”

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No capítulo 30 Isaías declara que Israel seria dispersa por haver rejeitado os profetas. Sua confiança na força do Egito em tempos de perigo provocados pela Assíria seria sem valor. Judá e Israel seriam feridas e dispersas por causa de suas perversidades. Entretanto, esta profecia também se aplica aos últimos dias: O Senhor seria generoso aos penitentes de Israel nos últimos dias, colocando-os como um farol no alto da montanha e um estandarte no monte. Uma efusão de inspiração e bênçãos nos últimos dias seria derramada sobre muitas nações, seguida por uma grande matança, quando as torres caíssem. O Senhor viria numa época de apostasia, para julgar e destruir os ímpios.

Os versículos 1 até 5 formam um oráculo de pesar, descrevendo a rebelião da nação de Judá e declarando que seus esforços em obter assistência do Egito contra as ameaças da Assíria seriam em vão. O versículo 1 começa: “Ai dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado”. Judá estabeleceria alianças contrárias à vontade do Senhor e contrárias as advertências dos profetas. O objetivo de Israel em buscar a ajuda do Egito era para “acrescentar pecado sobre pecado”, ou para poderem continuar suas práticas licenciosas sem consequências.

O versículo 2 continua: “Que descem ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito”. O “conselho” do Senhor é um profeta que eles não consultaram. “Meu conselho” contrasta-se quiasmaticamente com “Faraó”; [1] o Senhor está descontente com as ações imprudentes de Israel.

O versículo 3 começa com uma descrição das consequências desta ação: “Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão”. A aliança que buscou com o Egito seria o resultado da vergonha e desonra de Judá.

O versículo 4 mostra o tempo da vinda destas consequências: “Porque os seus príncipes já estão em Zoã, e os seus embaixadores já chegaram a Hanes”. Isaías usa a forma verbal no passado como se estivesse contando uma visão que o Senhor lhe havia mostrado; esta afirmação prediz eventos que aconteceriam depois do tempo desta declaração de Isaías. Zoã é uma cidade grande no delta do Nilo, enquanto que Hanes é uma cidade menor na mesma região do Egito. A delegação de Jerusalém encontrar-se-ia com os egípcios neste local.

O versículo 5 continua: “Todos se envergonharão de um povo que de nada lhes servirá nem de ajuda, nem de proveito, porém de vergonha, e de opróbrio”.[2] Egito não seria capaz (ou estaria disposto) de ajudar Judá a se proteger da Assíria. Nos últimos dias, a superpotência moderna equivalente ao Egito—os Estados Unidos da América[3]—não estaria disposta a auxiliar Israel quando o equivalente moderno da Assíria ameaçar de atacar. O apelo de Judá ao Egito seria rejeitado, visto que o Egito não podia tirar nenhuma vantagem em prover auxílio e proteção para Judá.

Os versículos 6 e 7 formam uma carga de fatalidades para os representantes de Judá que viajam com animais carregados de presentes para o Egito. O versículo 6 declara: “Peso dos animais do sul. Para a terra de aflição e de angústia (de onde vêm a leoa e o leão, a víbora, e a serpente ardente, voadora) levarão às costas de jumentinhos as suas riquezas, e sobre as corcovas de camelos os seus tesouros, a um povo que de nada lhes aproveitará”. A palavra hebraica traduzida como “do sul” é negeb[4], o nome do deserto no sul de Judá. Os animais mencionados simbolizam a traição do Egito antigo e de seu análogo moderno. Eles também representam os perigos encontrados no deserto, por onde a delegação levando presentes para o Egito passaria, e por onde a antiga Israel foi levada em segurança por inspiração do Senhor sob a liderança de Moisés. O Egito não ajudaria Judá a se defender da Assíria, apesar dos tesouros que lhe foram ofertados. A descrição de Isaías de uma “terra de aflição e de angústia” não promete nada de bom para o equivalente moderno do Egito, ou seja os Estados Unidos.

Os versículos 3 até 6 contêm uma série de quiasmas interligados, no qual a declaração central de um é a declaração introdutória do próximo quiasma. [5] O enfoque da sequência inteira é “um povo que de nada lhes aproveitará”. Esta sequência é semelhante a um longo conectivo condicional “se … então”, uma declaração lógica indutiva, que conclui que o Egito não seria de proveito algum para Judá.

No versículo 7 o Senhor prediz: “Porque o Egito os ajudará em vão, e para nenhum fim; por isso clamei acerca disto: No estarem quietos será a sua força”. A frase “No estarem quietos será a sua força” significa que não deveriam tomar nenhuma ação para estabelecer uma aliança com o Egito,[6] mas confiar no Senhor como foram instruídos pelo profeta.

No versículo 8 o Senhor dá mais instruções a Isaías: “Vai, pois, agora, escreve isto numa tábua perante eles e registra-o num livro; para que fique até ao último dia, para sempre e perpetuamente”,[7] indicando que esta profecia com referência à insensatez de depender no Egito para proteção contra a Assíria aplica-se particularmente às nações equivalentes numa época futura. O Senhor ordenou-lhe que escrevesse essas coisas para que estivessem disponíveis “até ao último dia, para sempre e perpetuamente” para orientar o povo de uma época futura.

O versículo 8 é o começo de um litígio, onde Isaías é instruído a escrever, com a parte que trata da acusação compreendendo os versículos 8 até 12. Os versículos 13 até 17 apresenta a parte do castigo.

O versículo 9 continua a acusação: “Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor”.

O versículo 10 continua: “Que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e vede para nós enganos”. Ao invés da verdade que é dura para os iníquos suportarem,[8] eles buscam as mentiras e o engano. “Coisas aprazíveis” é traduzido da palavra hebraica que significa “coisaslisonjeiras”.[9]

O versículo 11 descreve em mais detalhes a natureza rebelde do povo: “Desviai-vos do caminho, apartai-vos da vereda; fazei que o Santo de Israel cesse de estar perante nós”. Isto é uma rejeição consciente—não em ignorância—da autoridade do Senhor sobre Judá e Israel como nações. Esta condição contrasta-se com o êxodo de Israel do Egito quando o Senhor “ia adiante deles, de dia numa coluna para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os alumiar”.[10] O “caminho” e a “vereda” mencionados no versículo 11 é o “caminho estreitoeapertado”.[11]

Os versículos 9 até 11 formam um quiasma:

A: (9) Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor.
B: (10) que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto;
C: dizei-nos coisas aprazíveis,
C: e vede para nós enganos.
B: (11) Desviai-vos do caminho, apartai-vos da vereda;
A: fazei que o Santo de Israel cesse de estar perante nós.

“Não profetizeis para nós o que é reto” é equivalente à frase “desviai-vos do caminho, apartai-vos da vereda”, referindo-se ao caminho estreitoeapertado. “Dizei-nos coisas aprazíveis” e “vede para nós enganos” compreendem as declarações centrais interligadas. Por outro lado, estar no “caminho” ou “vereda” sugere o povo dando ouvidos aos profetas e videntes, que veem e profetizam coisas verdadeira.

O versículo 12 sumariza a acusação: “Por isso, assim diz o Santo de Israel: porquanto rejeitais esta palavra, e confiais na opressão e perversidade, e sobre isso vos estribais”. Judá deixou de lado sua dependência nas palavras do Senhor e colocou sua confiança na opressão e perversidade.

Os versículos 13 até 17 apresentam a parte do castigo deste litígio. O versículo 13 começa: “Por isso esta maldade vos será como a brecha de um alto muro que, formando uma barriga, está prestes a cair e cuja quebra virá subitamente”. Este é um dos dois símiles usados por Isaías para ilustrar a queda repentina das nações rebeldes, Israel e Judá. A rapidez da queda é comparada a um muro alto que começa a inchar, e então cai precipitadamente.O muro simboliza a proteção do Senhor ao redor do povo, a qual seria removida subitamente.

O versículo 14 apresenta outro símile, o qual ilustra a totalidade da destruição: “E ele o quebrará como se quebra o vaso do oleiro e, quebrando-o, não se compadecerá; de modo que não se achará entre os seus pedaços um caco para tomar fogo do lar, ou tirar água da poça”.

O versículo 15 resume a acusação novamente: “Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes”. “Voltando e descansando” refere-se ao arrependimento e perdão, indicando que este é o caminho da salvação. Porém o arrependimento e o perdão são rejeitados pelas nações rebeldes, Israel e Judá.

O versículo 16 ilustra o raciocínio errôneo dos impenitentes: “Mas dizeis: Não; antes sobre cavalos fugiremos; portanto fugireis; e, sobre cavalos ligeiros cavalgaremos; por isso os vossos perseguidores também serão ligeiros”. A Israel rebelde pensa que pode escapar com cavalos ligeiros os avanços da Assíria. O Senhor mostra que isto é insensatez, pois seus perseguidores também viriam em cavalos ligeiros.

O versículo 17 forma uma transição entre o litígio dos versículos 8 até 16 e a descrição da coligação e exaltação de Israel nos últimos dias, que abrange o restante do capítulo. O versículo 17 começa: “Mil homens fugirão ao grito de um, e ao grito de cinco todos vós fugireis, até que sejais deixados como o mastro no cume do monte, e como a bandeira no outeiro”. Este versículo tem duplo sentido. Primeiro, refere-se à Israel sendo impiedosamente expulsa de um lugar para o outro, mil soldados derrotados por somente um guerreiro assírio, como consequência dos assuntos resumidos no litígio precedente. Porém também significa que eventualmente Israel seria colocada na gloriosa posição de ser “como o mastro no cume do monte”, ou “como a bandeira no outeiro”. “Monte” e “outeiro” significam “nação”.[12]

Isaías usou o mesmo simbolismo anteriormente, para descrever a coligação de Israel nos últimos dias: “E ele arvorará o estandarte para as nações de longe, e lhes assobiará para que venham desde a extremidade da terra; e eis que virão apressurada e ligeiramente”.[13]

No versículo 18 Isaías exulta a magnanimidade do Senhor para com a penitente Israel nos últimos dias: “Por isso, o Senhor esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós, porque o Senhor é um Deus de equidade; bem-aventurados todos os que nele esperam”. “Equidade” significa “justiça” como foi usada neste versículo.[14]O significado deste versículo é que o Senhor está esperando que o Seu povo se arrependa e se torne justos, antes de derramar Sua graça sobre ele.

Elder Marion D. Hanks explicou mais sobre o significado do versículo 18:

“Sou um dos que creem que Deus ama e nunca deixará de amar todos os seus filhos, e que não deixará de ter esperanças quanto a nós, nem deixará de nos buscar, ou de nos aguardar ….
“E ainda assim, pela terra, através dos anos, tenho encontrado alguns dos filhos mais escolhidos de Deus, que acham muito difícil crer, em seus corações, que o Senhor se refere a eles. Sabem que ele é a fonte de consolo, perdão e paz, e que devem buscá-lo, abrir-lhe a porta e aceitar seu amor; mas ainda assim, em suas circunstâncias extremas, acham difícil acreditar que suas prometidas bênçãos são para eles. Alguns ofenderam a Deus e suas próprias consciências, e encontram o caminho de regresso bloqueado por sua falta de vontade de perdoarem-se a si próprios, ou de crer que Deus lhes perdoará, ou, às vezes, por uma estranha relutância em alguns de nós, de realmente perdoar, de realmente esquecer, e de realmente regozijar-nos”.[15]

O versículo 19 descreve o estado dos que esperam pelo Senhor: “Porque o povo habitará em Sião, em Jerusalém; não chorarás mais; certamente se compadecerá de ti, à voz do teu clamor e, ouvindo-a, te responderá”. O Senhor ouve e responde às orações dos justos. “Sião” foi usada aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como a Jerusalém dos últimos dias sob condições justas.[16] A definição pode ser substituída para entendermos melhor esta passagem: “Porque o povo habitará em pureza de coração, em Jerusalém …”.

Os versículos 17 até 19 contêm um quiasma:

A: (17) Mil homens fugirão ao grito de um, e ao grito de cinco todos vós fugireis, até que sejais deixados como o mastro no cume do monte,
B: e como a bandeira no outeiro.
C: (18) Por isso, o Senhor esperará,
D: para ter misericórdia de vós;
E: e por isso se levantará, para se compadecer de vós;
E: porque o Senhor é um Deus de equidade;
D: bem-aventurados todos os
C: que nele esperam.
B: (19) Porque o povo habitará em Sião,
A: em Jerusalém; não chorarás mais ….

A declaração introdutória, “o mastro no cume do monte”, reflete-se em “Jerusalém”, fornecendo uma explicação do que Isaías quis dizer. A frase “a bandeira no outeiro” corresponde-se à “Sião”. “O Senhor esperará” é equivalente à frase “que nele esperam”; a sentença “ter misericórdia de vós” é equivalente à “bem-aventurados todos os”; e “se levantará” corresponde com “o Senhor é um Deus de equidade”. Sião nos últimos dias será como a bandeira no outeiro, enquanto que Jerusalém será como o mastro no cume do monte, ambos proclamando a verdade ao mundo.

O versículo 20 explica que os justos não estarão livres de adversidades: “Bem vos dará o Senhor pão de angústia e água de aperto, mas os teus mestres nunca mais fugirão de ti, como voando com asas; antes os teus olhos verão a todos os teus mestres”. Note como Isaías usou os pronomes no plural e no singular. Primeiro, o Senhor dá angústia e aperto coletivamente aos habitantes de Sião—mas depois cada pessoa individualmente recebe asbênçãos de mestres inspirados, indicando que o livre arbítrio desempenha um papel fundamental em como reagimos às adversidades.

Este versículo é a única ocorrência nas escrituras descrevendo o “pão de angústia” e “água de aperto”. O Senhor orientará os justos—apesar de estarem passando por adversidades e angústia—por meio de mestres inspirados.

O versículo 21 descreve a orientação do Espírito dada aos justos: “E os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda”. O Espírito Santo orientará os justos enquanto andarem pelo caminho da vida. Desviar-se para a direita nem para a esquerda significa desviar-se do caminho estreito e apertado, no qual o Espírito redireciona-nos com sua voz mansa e delicada.[17] Observe novamente como Isaías usou os pronomes no singular e no plural. O Espírito Santo interage com cada um de nós individualmente, porém Suas instruções foram dadas a todos coletivamente.

No versículo 22, os justos acabarão com a idolatria: “E terás por contaminadas as coberturas de tuas esculturas de prata, e o revestimento das tuas esculturas fundidas de ouro; e as lançarás fora como um pano imundo, e dirás a cada uma delas: Fora daqui”.[18]

Isaías, no capítulo 2, compara a idolatria com o materialismo:

E a sua terra está cheia de prata e ouro, e não têm fim os seus tesouros; também a sua terra está cheia de cavalos, e os seus carros não têm fim.
Também a sua terra está cheia de ídolos; inclinam-se perante a obra das suas mãos, diante daquilo que fabricaram os seus dedos.[19]

Sua terra está cheia de que? Três declarações paralelas e equivalentes fornecem a resposta: “prata e ouro … tesouros”; “cavalos … carros”; “ídolos … a obra das suas mãos, diante daquilo que os seus dedos fabricaram”. A forma predominante de idolatria nos últimos dias—a adoração de falsos deuses—seria o materialismo.

As bênçãos do Senhor, tanto temporais quanto espirituais, serão dadas aos justos. O versículo 23 atesta: “Então te dará chuva sobre a tua semente, com que semeares a terra, como também pão da novidade da terra; e esta será fértil e cheia; naquele dia o teu gado pastará em largos pastos”. O Senhor proverá ricas bênçãos espirituais e temporais ao Seu povo justo.

Os versículos 20 até 23 contêm um quiasma:

A:(20) Bem vos dará o Senhor pão de angústia
B: e água de aperto,
C: mas os teus mestres nunca mais fugirão de ti, como voando com asas; antes os teus olhos verão a todos os teus mestres.
D: (21) E os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele,
D: sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda.
C: (22) E terás por contaminadas as coberturas de tuas esculturas de prata, e o revestimento das tuas esculturas fundidas de ouro; e as lançarás fora como um pano imundo, e dirás a cada uma delas: Fora daqui.
B: (23) Então te dará chuva sobre a tua semente, com que semeares a terra,
A: como também pão da novidade da terra; e esta será fértil e cheia; naquele dia o teu gado pastará em largos pastos.

A declaração introdutória, “pão de angústia”, contrasta-se com “pão da novidade da terra”. “Água de aperto” contrasta-se com “chuva sobre a tua semente”; isto mostra que apesar de nossas aflições, o Senhor proverá as bênçãos. “Mas os teus mestres nunca mais fugirão de ti” compara-se com “as lançarás fora [tuas esculturas de prata]”, que significa que os mestres inspirados tomarão o lugar dos ídolos nas vidas dos justos. “Este é o caminho, andai nele” compara-se com “sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda”. Na primeira frase, o Espírito define o caminho estreito e apertado para seguirmos; a segunda frase descreve a voz mansa e delicada de advertência, ouvida quando saímos do caminho certo. A mensagem deste quiasma é que apesar de enfrentarmos adversidades e aflições nesta vida, se purificar-nos e abandonarmos a idolatria e dermos ouvidos às palavras inspiradas dos mestres, o Senhor proverá a orientação do Espírito ao caminharmos nesta vida.

O versículo 24 continua: “E os bois e os jumentinhos, que lavram a terra, comerão grão puro, que for padejado com a pá, e cirandado com a ciranda”. Bênçãos temporais e espirituais serão abundantes para os justos.

Os versículos 25 e 26 são analisados juntos para entendermos melhor, devido sua estrutura quiasmática, onde Isaías prediz os acontecimentos traumatizantes dos últimos dias. Entretanto, como se estivesse protegendo-nos das más notícias, ele envolve a profecia com as boas notícias a respeito do que aconteceria como consequência deste evento—uma grande matança quando caírem as torres:

A: (25) E em todo o monte alto, e em todo o outeiro levantado, haverá ribeiros
B: e correntes de águas,
C: no dia da grande matança,
C: quando caírem as torres.
B: (26) 26 E a luz da lua será como a luz do sol,
A: e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias, no dia em que o Senhor ligar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida.

O enfoque deste quiasma é “no dia da grande matança, quando caírem as torres”. O significado destas frases vinculadas ficou para sempre estampado na consciência mundial no dia 11 de setembro de 2001, quando as Torres Gêmeas do Centro Mundial de Comércio caíram sob ataque terrorista, resultando na grande matança onde milhares de pessoas morreram. Agora, ao referirmos às atrocidades daquele dia, adotamos quase universalmente a frase “quando caíram as torres”, não importando se sabíamos ou não sobre esta profecia de Isaías.

O versículo 26 descreve uma abundância de bênçãos espirituais que seriam derramadas devido ao acontecimento traumatizante e das guerras que seguiriam este evento. “Águas” é uma metáfora que significa inspiração e bênçãos dos céus,[20] enquanto “monte” e “outeiro” são metáforas representando as nações da Terra, tanto grande quanto pequena.[21] A interpretação é que as nações da Terra seriam abençoadas pela efusão contínua de revelação e bênçãos.

O versículo 26, usando uma metáfora diferente, descreve uma abundância de inspiração e bênçãos de Deus que estariam disponíveis às nações da Terra naquele dia. “A luz da lua” e “a luz do sol” aumentariam sete vezes mais sobre a Terra depois da queda das torres e a grande matança, que também simbolizam a efusão de revelação e bênçãos. A estrutura quiasmática mostra-nos que as metáforas dos versículos 25 e 26 são as mesmas—ambas são consequências do evento descrito no enfoque do quiasma. Portanto, Isaías prediz um tempo em que as pessoas despertarão espiritualmente. O fardo da ignorância e superstição que escravizam muitas nações da Terra serão retirados e o caminho estreito e apertado ser-lhes-á mostrado, permitindo uma outra fase de coligação dos descendentes de Israel nos últimos dias.[22] A orientação e a inspiração do Senhor também aumentarão dramaticamente sobre os justos naquele dia, curando as aflições de seu longo exílio[23] e provendo conforto para os que sofreram grandes perdas.

Uma maneira que esta grande efusão de orientação e inspiração aumentaria dramaticamente é a chegada da mensagem do evangelho através da internet e outros dispositivos eletrônicos, que ocorreu, em grande parte, desde aquele dia.

Concernente a este marcante acontecimento, o Presidente Gordon B. Hinckley falou poucas semanas depois das atrocidades ocorridas no dia 11 de setembro de 2001:

“Tenho conhecimento, assim como vocês, das declarações contidas nas revelações modernas que indicam que tempo virá em que a Terra será purificada e haverá angústia indescritível, com pranto, desolação e lamento.[24]
“Mas não quero ser alarmista. Não quero ser um mensageiro de desgraças. Eu sou um otimista. Não creio que tenhamos chegado ao dia das calamidades finais que um dia assolarão a Terra. Oro sinceramente para que não seja assim. Há muito ainda a ser feito na obra do Senhor. Nós, assim com nossos filhos que nos sucederão, precisamos realizar isto”.[25]

Esta profecia de Isaías predizendo a queda das torres, seguida por uma grande efusão de inspiração e bênçãos sobre as nações da Terra, talvez não fosse facilmente compreendida até que se cumprisse. Néfi declara: “… não obstante, nos dias em que se cumprirem as profecias de Isaías, quando elas se realizarem, os homens certamente saberão”.[26] Semelhantemente, muitas outras profecias de Isaías não serão completamente compreendidas até que se cumpram diante de nossos olhos.

Os versículos 27 e 28 descrevem a destruição que acompanhará a Segunda Vinda do Senhor. O versículo 27 começa a descrever: “Eis que o nome do Senhor vem de longe, ardendo a sua ira, sendo pesada a sua carga; os seus lábios estão cheios de indignação, e a sua língua é como um fogo consumidor”.[27], [28] “O nome do Senhor” significa “um símbolo do poder do Senhor vindo para destruir a maldade”.[29] Grandes destruições cairão sobre os ímpios, enquanto os justos estiverem sendo grandemente abençoados.

O versículo 28 continua a descrição: “E a sua respiração como o ribeiro transbordante, que chega até ao pescoço, para peneirar as nações com peneira de destruição, e um freio de fazer errar nas queixadas dos povos”. O “ribeiro transbordante” é um simbolismo usado em outras parte da obra de Isaías para representar um exército invasor.[30] O freio, ou flange, no queixo dos povos é para prevenir, ao invés de causar, que cometam erros.

O versículo 29 descreve a alegria dos sobreviventes justos naquele dia: “Um cântico haverá entre vós, como na noite em que se celebra uma festa santa; e alegria de coração, como a daquele que vai com flauta, para entrar no monte do Senhor, à Rocha de Israel”. Apesar da destruição que está acontecendo, os justos—que dão ouvidos às palavras do Senhor, pronunciadas pelo Seu profeta vivo—serão protegidos.[31] A palavra hebraica traduzida como “em que se celebra uma festa santa” significa “a santificação de um dia de festa”.[32] “Vai com flauta” quer dizer com um instrumento musical de sopro, e o “monte do Senhor” refere-se ao templo.[33]

O versículo 30 continua: “E o Senhor fará ouvir a sua voz majestosa e fará ver o abaixamento do seu braço, com indignação de ira, e labareda de fogo consumidor, raios e dilúvio e pedras de saraiva”. A vozdo Senhor será ouvida na época da destruição, semelhante aos nefitas ouvindo Sua voz quando Ele declarou a extensão da destruição no continente Americano na época da crucificação, conforme se acha escrito no Livro de Mórmon.[34] Manifestações da ira do Senhor, pelas quais a destruição acontecerá, incluem fogo,[35] dispersão, tormentas, e granizos (pedras de saraiva). Tudo isto descreve os extraordinários desastres naturais.

Os versículos 29 e 30 contêm um quiasma:

A: (29) Um cântico haverá entre vós, como na noite em que se celebra uma festa santa; e alegria de coração, como a daquele que vai com flauta, para entrar no monte do Senhor,
B: à Rocha de Israel.
B: (30)E o Senhor
A: fará ouvir a sua voz majestosa ….

O “monte do Senhor” está ligado à frase “fará ouvir a sua voz majestosa”, que quer dizer que a voz do Senhor será ouvida no templo, ou no monte do Senhor. “À Rocha de Israel” é equivalente ao “Senhor”, dando a definição da mesma.

O versículo 31 declara: “Porque com a voz do Senhor será desfeita em pedaços a Assíria, que feriu com a vara”. Através da voz do Senhor o exército invasor da Assíria será destruído, da mesma forma com que assolaram suas vítimas com a vara.

O versículo 32 continua: “E a cada pancada do bordão do juízo que o Senhor lhe der, haverá tamboris e harpas; e com combates de agitação combaterá contra eles”. A palavra hebraica traduzida como “combates de agitação” significa “com brandirde armas”.[36]

Os versículos 31 e 32 contêm um quiasma:

A: (31) Porque com a voz do Senhor
B: será desfeita em pedaços
C: a Assíria,
C: que feriu
B: com a vara.
A: (32) E a cada pancada do bordão do juízo que o Senhor lhe der, haverá tamboris e harpas; e com combates de agitação combaterá contra eles.

Neste quiasma fica claro que o Senhor travaria batalhas nos últimos dias usando Sua voz, bem como com adufes (um tipo de pandeiro) e harpas. A voz do Senhor—inclusive inspiração e orientação divina—serviria como um instrumento na destruição do equivalente da Assíria nos últimos dias, que em contraste feriu o povo com a vara. A música no reino de Deus nos últimos dias seria uma ponderosa influência para o bem.

O versículo 33 descreve o fim do rei da Assíria—e simbolicamente da destruição dos ímpios: “Porque Tofete já há muito está preparada; sim, está preparada para o rei; ele a fez profunda e larga; a sua pira é de fogo, e tem muita lenha; o assopro do Senhor como torrente de enxofre a acenderá”. Tofete eraum localno valedo filho deHinom, ao sul de Jerusalém, onde se ofereciam sacrifícios humanos a Moloque.[37] O justo rei Josias quebrou o altar idólatra.[38] Subsequentemente, este local tornou-se um lugar para a queima de lixo.

NOTAS

[1]. O versículo 2 contém um quiasma: Egito/meu conselho/fortificarem//força/Faraó/Egito.
[2]. Versículos 3 até 5 contêm um quiasma: Vergonha/confusão/seus príncipes//seus embaixadores/um povo que de nada lhes servirá/vergonha.
[3]. Ver Isaías 18 e comentário pertinente.
[4]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 5045, p. 616.
[5]. Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma: Príncipes … Zoã … embaixadores … Hanes/envergonharão/de nada lhes servirá//nem de proveito/vergonha/animais do sul.
Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Povo que de nada lhes servirá/peso dos animais do sul/de aflição e de angústia//a leoa e o leão, o basilisco, a áspide e a serpente/levarão às costas de jumentinhos as suas riquezas, e sobre as corcovas de camelos/um povo que de nada lhes aproveitará.
O versículo 6 contém um quiasma: Para a terra de aflição e de angústia/a leoa e o leão/a víbora//serpente ardente, voadora/costas de jumentinhos … corcovas de camelos/um povo que de nada lhes aproveitará.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7674, p. 992.
[7]. O versículo 8 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Escreve isto/numa tábua//num livro/registra-o. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[8]. 1 Néfi 16:2.
[9]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2513, p. 325.
[10]. Ver Êxodo 13:20-22.
[11]. Ver Mateus 7:14; D&C 132:22; também Isaías 3:12; 8:11; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[12]. Ver Isaías 30:25.
[13]. Isaías 5:26.
[14]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 42:4; 59:15.
[15]. Marion D. Hanks, “Ele se Refere a Mim”, A Liahona, Outubro de 1979, p. 118-119.
[16]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 24:23; 28:16; 29:8; 31:4, 9; 51:3.
[17]. Ver Doutrina e Convênios 85:6; 1 Reis 19:12; 1 Néfi 17:45.
[18]. O versículo 22 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Terás por contaminadas/coberturas de tuas esculturas de prata//revestimento das tuas esculturas fundidas de ouro/as lançarás fora. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[19]. Ver Isaías 2:7- 8 e comentário pertinente.
[20]. Ver Isaías 12:3; 35:6-7; 55:1, 11; 58:11 e comentário pertinente.
[21]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4 e comentário pertinente.
[22]. Ver Isaías 11:15-16.
[23]. Isaías 30:26, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 26a.
[24]. Ver D&C 112:34.
[25]. Gordon B. Hinckley, “Os Tempos Em Que Vivemos”, A Liahona, Janeiro de 2002, p. 85.
[26]. 2 Néfi 25:7.
[27]. Ver Isaías 1:7, 28; 30:30, 33; 33:11-12 e comentário pertinente.
[28]. O versículo 27 contém um quiasma: Ardendo/ira/pesada a sua carga//lábios estão cheios/indignação/fogo consumidor.
[29]. Isaías 30:27, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 27a.
[30]. Ver Isaías 8:7-8; 28:2; 59:19.
[31]. Compare com Êxodo 12:21-23; ver também Isaías 10:25; 26:20 e comentário pertinente.
[32]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2282, p. 290.
[33]. Ver Isaías 2:3; 56:7; 65:11; 66:20 e comentário pertinente.
[34]. Ver 3 Néfi 9:1-22.
[35]. Ver references para o versículo 27, acima.
[36]. Brown et al., 1996, Número de Strong 8573, p. 632.
[37]. Dicionário Bíblico—Tofete.
[38]. 2 Reis 23:10.

CAPÍTULO 29: “Eis Que Continuarei A Fazer … Uma Obra Maravilhosa E Um Assombro”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 29 contém profecias sobre a restauração do evangelho nos últimos dias. Acontecimentos preditos incluem a primeira visão, a chegada do Livro de Mórmon, e a visita de Martin Harris ao Professor Charles Anthon a fim de autenticar os caracteres das placas de ouro e sua tradução. Como foi predito por Isaías, o Professor Anthon falou: “Não posso ler um livro selado”[1], quando foi-lhe dito que uma parte das placas de ouro estava selada. Os nefitas, cuja história está contida no Livro de Mórmon,falaram como uma voz desde o pó. Aqueles que não estiverem dispostos a aceitar O Livro de Mórmon e o evangelho restaurado nos últimos dias ficarão vazios espiritualmente.

A Tradução de Joseph Smith (JST) provê uma explicação melhor.[2] O texto do capítulo 29 é grandemente expandido, fornecendo mais detalhes sobre a chegada do Livro de Mórmon do que o texto apresentado na versão de João Ferreira de Almeida. Néfi parafraseou partes do capítulo 29 onde mostra a história da chegada do Livro de Mórmon, dando ainda mais detalhes e uma explicação melhor, dando instruções específicas ao futuro tradutor de sua obra. A comparação de JST—a qual, geralmente, se corresponde bastante com O Livro de Mórmon nas partes onde Isaías está sendo diretamente citado—permite distigir o comentário de Néfi do capítulo 29, onde se dirige ao seu próprio povo.

Algumas das passagens mais conhecidas deste capítulo são quiásticas, cujas estruturas provê uma explicação mais profunda e um equilíbrio poético à mensagem do profeta.

Os versículos 1 até 6 formam um oráculo de pesar contra “Ariel”. Esta palavra é o resultado da associação de duas palavras hebraicas similares, ariyel, que significa “como um leão” ou “leão de Deus”,[3] e ‘ari’eyl, que significa “lareira, ou altar”.[4] Ariyel, por sua vez, vem da combinação de duas palavras, ariy, que significa “leão”,[5] e ‘el, que significa “de Deus”.[6] Isto é um exemplo do uso de duplo sentidos para prover uma melhor explicação, típico do estilo de Isaías. “Ariel” refere-se a um altar sacrificial do templo, ao próprio templo, e também às pessoas valorosas em diferentes lugares e épocas recebendo as bênçãos do templo. “Ariel” significa Jerusalém como provado no versículo 1, mas também significa os nefitas e os santos dos últimos dias, visto que os três grupos têm em comum as bênçãos do “altar”, ou do templo.

No versículo 1, o Senhor declara: “Ai de Ariel, Ariel, a cidade onde Davi acampou! Acrescentai ano a ano, e sucedam-se as festas”. Neste caso Ariel refere-se à Jerusalém, “a cidade onde Davi acampou!”

O versículo 2 continua com o Senhor falando: “Contudo porei a Ariel em aperto, e haverá pranto e tristeza; e ela será para mim como Ariel”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “Pois assim me disse o Senhor,ela será paraAriel”.[7] JST provê um sentido diferente da encontrada na versão de João Ferreira de Almeida, a qual mostra que Isaías lamentaria por causa do sofrimento de Ariel.

No versículo 3 o Senhor testifica: “Porque te cercarei com o meu arraial, e te sitiarei com baluartes, e levantarei trincheiras contra ti”. Néfi relaciona estas palavras de Isaías ao seu próprio povo; as diferenças da versão do Livro de Mórmon são mostradas em itálico:Depois que os meus descendentes e os descendentes de meus irmãos houverem degenerado, caindo na incredulidade, e sido afligidos pelos gentios, sim, depois que o Senhor Deus os houver cercado com o seu arraial …”.[8] A destruição de Jerusalém— “Ariel, a cidade onde Davi acampou” —seria um exemplo da destruição dos nefitas, que por sua vez seria um exemplo da destruição dos ímpios, incluindo dos apóstatas da Sião dos últimos dias, antes da Segunda Vinda do Senhor. JST apresenta “Porque a cercarei com o meu arraial, e a sitiarei com baluartes, e levantarei trincheiras contra ela[9] Um “baluarte” é um monte construído pelos agressores em um cerco para superar a vantagem da altura de uma parede ou fortificação.

O versículo 4 profetiza sobre a destruição dos nefitas, mas mostra que seus registros sagrados seriam preservados: “Então serás abatida, falarás de debaixo da terra, e a tua fala desde o pó sairá fraca, e será a tua voz debaixo da terra, como a de um que tem espírito familiar, e a tua fala assobiará desde o pó”. A palavra hebraica usada no texto Massorético[10] traduzida como “um que tem espírito familiar” no versículo 4 é ‘owb, que significa alguém que diz comunicar-se com os mortos.[11] Entretanto, uma palavra hebraica relacionada, nachash, tem dois significados— “a prática deadivinhação”e “serpente”.[12] Em algumas traduções deste versículo, “píton” é usado, ao invés de “um que tem espírito familiar”.[13]

Néfi aplica as palavras do versículo 4 a seu povo; as diferenças das palavras são mostradas em itálico:

“Depois de haverem sido lançados no pó até deixarem de existir, as palavras dos justos ainda serão escritas e as orações dos fiéis, ouvidas; e todos os que caíram na incredulidade não serão esquecidos.
“Pois os que forem destruídos
falar-lhes-ão da terra e sua fala será fraca desde o pó e a sua voz será como a de alguém que evoca espíritos; pois o Senhor Deus dar-lhe-á poder para sussurrar a respeito deles, como se fosse da terra; e sua fala sussurrará desde o pó.
“Pois assim diz o Senhor Deus: Escreverão as coisas que serão feitas no meio deles e serão escritas e seladas num livro; e os que tiverem degenerado, caindo na incredulidade, não as terão, porqueprocuram destruir as coisas de Deus”
.[14]

Néfi, quando estava se despedindo de seus leitores no final de seu registro, descreveu-se como se estivesse falando “desde o pó”: “E agora, meus amados irmãos, todos os que são da casa de Israel e todos vós, confins da Terra, falo-vos com a voz de quem clama do pó: Adeus, até que chegue aquele grande dia” (ênfases adicionadas).[15]

Os versículos 5 e 6 descrevem mais sobre as destruições de Jerusalém, dos nefitas, e dos modernos apóstatas. O versículo 5 declara: “E a multidão dos teus inimigos será como o pó miúdo, e a multidão dos tiranos como a pragana que passa, e num momento repentino isso acontecerá”. O Livro de Mórmon descreve a queda mortal e a destruição precipitada de um povo que antes era justo e de seus exércitos, o que viria em poucos anos. O cerco e a queda de Jerusalém, predita aqui por Isaías, ocorreu em uma noite. Podemos esperar semelhantes quedas e destruições repentinas dos iníquos dos dias modernos, que também foi previsto por Isaías. “Inimigos” é traduzido na versão Reina-Valera 2009 em espanhol como “impiedosos” e na versão de King James em inglês como “desconhecidos”. Estas palavras significam “gentios”;“a multidão dos tiranos” significa “soldados”.

Néfi aplica as palavras do versículo 5 a seu próprio povo:

“Portanto, como os que foram destruídos, foram destruídos rapidamente; e a multidão de seus terríveis será como o restolho que desaparece—assim, pois, diz o Senhor Deus: Será num instante, repentinamente.
“E acontecerá que os que degenerarem, caindo na incredulidade, serão afligidos pela mão dos gentios
.[16]

O versículo 6 descreve desastres naturais devastadores: “Do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões, e com terremotos, e grande ruído com tufão de vento, e tempestade, e labareda de fogo consumidor”.[17] O Livro de Mórmon descreve a inaudita violência natural, inclusive todos os elementos mencionados aqui por Isaías que, num espaço de mais ou menos três horas, causaram a morte da maioria do povo nefita—especialmente os iníquos.[18]

Néfi continua, aplicando estas palavras de Isaías a seu povo:

“E quando esse dia chegar, serão visitados pelo Senhor dos Exércitos com trovões e com terremotos e com um grande estrondo e com borrascas e com tempestades e com a chama de fogo devorador.[19]

O Senhor dá uma advertência semelhante aos Santos dos Últimos Dias:

“Não obstante, Sião escapará se procurar fazer todas as coisas que lhe ordenei.
“Mas se não procurar fazer todas as coisas que eu lhe ordenei, visitá-la-ei de acordo com todas as suas obras, com aflição dolorosa, com pestilência, com pragas, com a espada, com vingança, com fogo devorador.[20]

Néfi parafraseia as palavras de Isaías, aplicando-as particularmente aos últimos dias:

“Eis, porém, que nos últimos dias, ou seja, nos dias dos gentios—sim, eis que todas as nações dos gentios e também dos judeus, tanto os que vierem a esta terra como os que estiverem em outras terras, sim, em todas as terras do mundo, eis que estarão embriagados de iniquidade e de toda espécie de abominações—
“E quando esse dia chegar, serão visitados pelo Senhor dos Exércitos com trovões e com terremotos e com um grande estrondo e com borrascas e com tempestades e com a chama de fogo devorador”.[21]

Bem como Néfi explicou, a destruição dos nefitas é um exemplo da destruição nos últimos dias. O fogo será um elemento importante nestas destruições.[22]

Os versículos 7 e 8 descrevem o destino daqueles que lutarem contra Sião. O versículo 7 diz: E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto”. Néfi, parafraseando, iguala a Sião dos últimos dias com Ariel: “E todas as nações que lutarem contra Sião e que a mortificarem serão como o sonho de uma visão noturna …”.[23]

Os versículos 2 até 7 contêm um quiasma; a redação de JST[24] é apresentada em itálico:

A: (2) Contudo porei a Ariel em aperto, e haverá pranto e tristeza; pois assim me disse o Senhor, ela será para Ariel.
B: (3) Porque Eu, o Senhor, acercarei
C: com o meu arraial, e a sitiarei com baluartes, e levantarei trincheiras contra ela.
D: (4) Então ela será abatida
E: falará de debaixo da terra,
F:e asuafala desde o pó sairá fraca;
F: e será a suavoz debaixo da terra,como a de um que tem espírito familiar,
E: e asuafala assobiará desde o pó.
D: (5) E a multidão dos seus inimigos será como o pó miúdo, e a multidão dos tiranos como a pragana que passa,
C: e num momento repentino isso acontecerá.
B: (6) Do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões, e com terremotos, e grande ruído com tufão de vento, e tempestade, e labareda de fogo consumidor.
A: (7) E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto.

Alguns elementos no lado ascendente deste quiasma obviamente correspondem com suas reflexões no lado descendente, já outros não são tão óbvios imediatamente. “Porque Eu, o Senhor, acercarei”é equivalente à frase “do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões …”, mostrando por quem Ariel será cercada. “Então ela será abatida” é equivalente ao elemento “a multidão dos seus inimigos será como o pó miúdo”, descrevendo, primeiramente, a derrota militar de Ariel e depois a dispersão de seus combatentes derrotados. O enfoque do quiasma é “e a sua fala desde o pó sairá fraca” e sua reflexão “e será a sua voz debaixo da terra,como a de um que tem espírito familiar”. As variações apresentadas na Tradução de Joseph Smith fazem com que este quiasma funcione melhor do que a versão de João Ferreira de Almeida. O Senhor cercará Ariel, derrotando-a; não obstante, um registro será preservado e mantido, o qual virá à luz como uma voz debaixo da terra, ou desde o pó.

O versículo 8 apresenta um símile a respeito de uma fome espiritual que afetaria as nações que lutarem contra Sião: “Será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião”.

Néfi provê mais informações:

“E todas as nações que lutarem contra Sião e que a mortificarem serão como o sonho de uma visão noturna; sim, acontecer-lhes-á como ao esfomeado que sonha e eis que come, mas acorda e sua alma está vazia; ou como ao sedento que sonha e eis que bebe, mas acorda e eis que está fraco e sua alma tem apetite; sim, será assim com a multidão de todas as nações que lutarem contra o Monte Sião”.[25]

Seu tormento será o fato deles serem incapazes de satisfazer sua fome ou sede de alimento espiritual —para que suas vidas tenham sentido. Eles não terão mais satisfação do que aqueles que somente sonham em comer.[26] “Sião” foi usado aqui com duplo sentido: Um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém, tanto antigo como moderno.[27] A definição de Sião pode ser substituída com um sentido ainda mais significante: será assim com a multidão de todas as nações que lutarem contra os puros de coração.[28]

Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma; a redação de Néfi está em itálico:

A: (7) E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto.
B: (8) Sim, também acontecer-lhes-á como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio;
B: ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede;
A: assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião.

“A multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel” é equivalente à frase “a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião”, que estabelece a equivalência de “Ariel” e “Sião”. A falta de alimento espiritual afetará aqueles que lutarem contra a Sião dos últimos dias.

Os versículos 9 e 10 descrevem mais os tormentos dos perseguidores de Sião. O versículo 9 começa assim: “Tardai, e maravilhai-vos, folgai, e clamai; bêbados estão, mas não de vinho, andam titubeando, mas não de bebida forte”. Néfi, novamente, fornece mais detalhes: “Pois eis que todos vós, que praticais iniquidades, detende-vos e assombrai-vos, porque gritareis e clamareis; sim, estareis ébrios, mas não de vinho, e cambaleareis, mas não com bebida forte”.[29]

Néfi elabora: “…eis que estarão embriagados de iniquidade e de toda espécie de abominações”.[30] Previamente, no capítulo 28, Isaías descreve os líderes eclesiásticos apóstatas como “a coroa de soberba dos bêbados de Efraim”.[31]

O versículo 10 continua: “Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes”. “Um espírito de profundo sono” significa que os atormentadores de Sião, devido as suas iniquidades, não reconhecerão a verdades reveladas aos videntes e profetas do Senhor trazidas à luz pela restauração dos últimos dias.

Néfi, parafraseando, deu uma explicação melhor: “Pois eis que o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono. Porque eis que haveis fechado os olhos e haveis rejeitado os profetas; e ele vendou vossos chefes e os videntes, por causa de vossa iniquidade”.[32]

Durante o período de grande escuridão e estupor espirituais descritos nos versículos 9 e 10, O Livro de Mórmon viria à luz como descrito nos versículos 11 e 12. O versículo 11 declara: “Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado”.

O versículo 12 continua: “Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler”.

Néfi explicou estes versículos centenas de anos antes da época de Joseph Smith:

“E acontecerá que o Senhor Deus vos revelará as palavras de um livro e serão as palavras dos que adormeceram.
“E eis que o livro estará selado; e no livro haverá uma revelação de Deus, desde o princípio até o fim do mundo.
“Portanto, por causa das coisas que estão seladas, as coisas que estão seladas não serão entregues no dia da iniquidade e das abominações do povo. Portanto o livro não lhes será revelado.
“O livro, porém, será entregue a um homem e ele entregará as palavras do livro, que são as palavras dos que adormeceram no pó; e ele entregá-las-á a um outro”.[33]

O homem mencionado aqui por Néfi é Joseph Smith.[34]

Néfi continua sua explicação:

“O livro, porém, será entregue a um homem e ele entregará as palavras do livro, que são as palavras dos que adormeceram no pó; e ele entregá-las-á a um outro;
“Mas não entregará as palavras que estão seladas nem entregará o livro. Porque o livro será selado pelo poder de Deus e a revelação que foi selada será guardada no livro até o devido tempo do Senhor, quando virão à luz; pois eis que revelam todas as coisas, desde a fundação do mundo até o seu fim.
“E dia virá em que as palavras do livro, que estavam seladas, serão lidas nos telhados das casas; e serão lidas pelo poder de Cristo; e serão reveladas aos filhos dos homens todas as coisas que ocorreram aos filhos dos homens e que ocorrerão até o fim da Terra”.[35]

A parte selada das placas de ouro contém uma revelação, originalmente escrita pelo irmão de Jared e traduzida da língua Jaredita por Morôni,[36] cujo maravilhoso conteúdo foi descrito aqui por Néfi.

Néfi continua, provendo mais detalhes de como esta profecia seria cumprida:

“Portanto, no dia em que o livro for entregue ao homem de quem falei, o livro será escondido dos olhos do mundo para que ninguém o veja, exceto três testemunhas, além daquele a quem o livro será entregue; e vê-lo-ão pelo poder de Deus; e eles testificarão a veracidade do livro e das coisas que ele contém.
“E ninguém mais o verá, senão uns poucos, de acordo com a vontade de Deus, para dar testemunho de suas palavras aos filhos dos homens, pois o Senhor Deus disse que as palavras dos fiéis falariam como se viessem dos mortos.
“Portanto o Senhor Deus revelará as palavras do livro e, pela boca de tantas testemunhas quantas achar necessário, estabelecerá a sua palavra; e ai do que rejeitar a palavra de Deus!
“Mas eis que acontecerá que o Senhor Deus dirá àquele a quem entregar o livro: Toma estas palavras que não estão seladas e entrega-as a um outro, para que ele as possa mostrar ao instruído, dizendo: Lê isto, suplico-te. E o instruído dirá: Traze-me o livro para que eu o leia.
“E dirão isto por causa da glória do mundo e para obter lucro, e não para a glória de Deus.
“E o homem dirá: Não posso trazer o livro, porque está selado.
“O instruído então dirá: Não o posso ler”.[37]

Em seguida, o Senhor através de Néfi dá instruções específicas para o futuro tradutor da obra:

“Acontecerá portanto que o Senhor Deus tornará a entregar o livro e as suas palavras ao que não é instruído; e o homem que não é instruído dirá: Não sou instruído.
“Então lhe dirá o Senhor Deus: Os instruídos não as lerão, porque as rejeitaram, e eu posso fazer minha própria obra; lerás portanto as palavras que te darei.
“Não toques nas coisas que estão seladas, pois manifestá-las-ei em meu devido tempo; pois mostrarei aos filhos dos homens que posso executar minha própria obra.
“Portanto, quando tiveres lido as palavras que te ordenei e obtido as testemunhas que te prometi, selarás novamente o livro e escondê-lo-ás para mim, a fim de que eu preserve as palavras que não leste, até que, em minha própria sabedoria, julgue oportuno revelar todas as coisas aos filhos dos homens.
“Porque eis que eu sou Deus; e sou um Deus de milagres; e mostrarei ao mundo que sou o mesmo ontem, hoje e para sempre; e não trabalho com os filhos dos homens a não ser de acordo com sua fé”.[38]

Joseph Smith registrou o cumprimento literal desta profecia em fevereiro de 1828:

“Nesse mesmo mês de fevereiro, o já mencionado Sr. Martin Harris veio a nossa casa, tomou os caracteres que eu havia copiado das placas e partiu com eles para a cidade de Nova York. Quanto ao que aconteceu em relação a ele e aos caracteres, refiro-me ao seu próprio relato dos acontecimentos, como me contou quando de seu regresso, e que é o seguinte:
“‘Fui à cidade de Nova York e apresentei os caracteres que tinham sido traduzidos, assim como sua tradução, ao professor Charles Anthon, famoso por seus conhecimentos literários. O professor Anthon declarou que a tradução estava correta, muito mais que qualquer tradução do egípcio que já vira. Mostrei-lhe então os que ainda não haviam sido traduzidos e ele disse-me serem egípcios, caldeus, assírios e arábicos; e acrescentou que eram caracteres autênticos. Deu-me uma declaração, atestando ao povo de Palmira que eram autênticos e que a tradução, como fora feita, também estava correta. Peguei a declaração e coloquei-a no bolso; estava saindo da casa quando o Sr. Anthon me chamou e perguntou-me como soubera o jovem que havia placas de ouro no lugar onde ele as encontrara. Respondi-lhe que um anjo de Deus lho revelara.
“‘Disse-me então: “Deixe-me ver essa declaração”. Tirei-a do bolso e entreguei-a a ele, que a pegou e rasgou em pedacinhos, dizendo que já não existiam coisas como ministério de anjos e que, se eu lhe desse as placas, ele as traduziria. Informei-o de que parte das placas estava selada e que me era proibido levá-las. Ele respondeu: “Não posso ler um livro selado”. Saí de lá e procurei o Dr. Mitchell, que confirmou tudo o que o Sr. Anthon dissera a respeito dos caracteres e da tradução’”.[39]

Joseph Smith proclamou o cumprimento desta profecia de Isaías e Néfi: “E também, o que ouvimos? Alegres novas de Cumora! Morôni, um anjo do céu, anunciando o cumprimento dos profetas—o livro a ser revelado”.[40]

Esta profecia de Isaías acerca do livro selado não seria facilmente compreendida até que fosse cumprida, registrado por Joseph Smith. Da mesma maneira, muitas outras profecias de Isaías não serão completamente compreendidas até que sejam cumpridas.

O Senhor aparentemente viu que era importante para os leitores do Livro de Mórmon nos últimos dias compreenderem os detalhes do cumprimento desta profecia de Isaías. Esta informação—provida por Néfi—já havia sido cumprida na época que foi traduzida das placas de ouro, e portanto, não serviu como uma orientação para o profeta Joseph enviar Martin Harris ao Professor Anthon. As placas menores de Néfi, que contêm esta profecia de Néfi, foram traduzidas por último na sequência de seções do Livro de Mórmon, provavelmente no fim do ano de 1829.[41] Martin Harris foi enviado ao Professor Anthon em fevereiro de 1828.[42]

Os versículos 13 e 14 descrevem o começo da restauração. As palavras do versículo 13 foram proferidas pelo Salvador a Joseph Smith na primavera de 1820, quando Joseph tinha 14 anos de idade, em resposta a sua fervorosa oração para saber qual Igreja era verdadeira: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído”.[43], [44]

Néfi elabora:

“E acontecerá outra vez que o Senhor dirá àquele que há de ler as palavras que lhe serão entregues:
“Pois que este povo se aproxima de mim com a boca e com os lábios me honra, mas afastou de mim o coração e seu temor a mim é ensinado segundo os preceitos dos homens.[45]

O versículo 13 foi citado por Jesus durante Seu ministério mortal:

“Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:
“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.
“Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.[46]

A declaração não é somente verdadeira com respeito aos Judeus na época de Jesus; mas também certa para os cristãos sectários da época de Joseph Smith, bem como para o nosso tempo. Múltiplos níveis de profecia e cumprimento caracterizam a obra de Isaías, como foi ilustrado neste versículo.

O versículo 14 continua: “Portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá”. [47] A palavra hebraica que significa “incomparável” ou “extraordinária” foi traduzida como “uma obra maravilhosa”, e a palavra hebraica que significa “incomum” ou “extraordinário” foi traduzido como “um assombro”,[48] mostrando que são quase sinônimas. Neal A. Maxwell ensinou o significado hebraico da frase redundante “um milagre milagroso”.[49]

Néfi apresenta este versículo com pequenas mudanças: “Portanto farei uma obra maravilhosa no meio deste povo, sim, uma obra maravilhosa e um assombro, pois a sabedoria de seus sábios e instruídos perecerá e o entendimento dos seus prudentes será escondido”.[50]

O apóstolo Paulo parafraseou o versículo 14:

“Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
“Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?”[51]

O Senhor, falando em fevereiro de 1829 a Joseph Smith, proclamou o cumprimento iminente desta profecia: “Agora eis que uma obra maravilhosa está para iniciar-se entre os filhos dos homens”.[52] A “obra maravilhosa” mencionada aqui é a vinda do Livro de Mórmon e da restauração do evangelho—o tempo de refrigério mencionado por Isaías[53] e por Pedro.[54] Isto causaria o desvanecimento da sabedoria dos sábios e esconderia o conhecimento dos prudentes, porque restauraria a verdade para tomar o lugar do erro ensinado pelos que se diziam sábios e prudentes. Seria feito por um que não fosse estudado e instruído, como descrito no capítulo 28 por Isaías.[55] Néfi prediz a restauração: “E o Senhor estenderá a mão pela segunda vez, a fim de resgatar seu povo de seu estado decaído e de perdição. Portanto fará uma obra maravilhosa e um assombro no meio dos filhos dos homens”.[56]

Néfi descreve outra dimensão da “obra maravilhosa e um assombro”:

“Pois vem o tempo, diz o Cordeiro de Deus, em que farei uma obra grande e maravilhosa entre os filhos dos homens, uma obra que será eterna, seja para um fim ou para outro—seja para convertê-los à paz e à vida eterna ou para entregá-los à dureza de seu coração e à cegueira de sua mente, até serem levados ao cativeiro e também à destruição, tanto física como espiritual, segundo o cativeiro do diabo do qual tenho falado”.[57]

Grande e maravilhosa será esta obra porque, como o Senhor atestou, proverá para toda a humanidade uma escolha bem clara—entre escolher a paz e vida eterna, ou escolher a dureza de seu coração e a cegueira de sua mente, que leva ao cativeiro temporal e espiritual sob a influência do diabo.

O começo desta obra—como Néfi profetizou—ocorreria entre os gentios no continente Americano, onde ele e seu povo viveriam:

“E significa que tempo virá em que, depois de toda a casa de Israel haver sido dispersa e confundida, o Senhor Deus levantará entre os gentios uma nação poderosa, sim, sobre a face desta terra; e nossos descendentes serão por eles dispersos.
“E depois de nossos descendentes haverem sido dispersos, o Senhor Deus fará uma obra maravilhosa entre os gentios, que será de grande valor para nossos descendentes; é como se fossem, portanto, alimentados pelos gentios e carregados em seus braços e sobre seus ombros”.[58]

O Senhor, ao descrever as bênçãos dos fiéis Santos dos Últimos Dias, usou algumas das mesmas palavras:

“Eu, o Senhor, sou misericordioso e benigno para com aqueles que me temem e deleito-me em honrar aqueles que me servem em retidão e em verdade até o fim ….
“E sua sabedoria será grande e seu entendimento alcançará os céus; e diante deles a sabedoria dos sábios perecerá e o entendimento dos prudentes se desvanecerá”.[59]

O Presidente Gordon B. Hinckley descreveu a continuação do trabalho de espalhar o evangelho através dos esforços dos missionários:

“Eles [missionários] edificam o reino no mundo todo. Afetam para o bem eterno a vida de todos com quem trabalham, e gerações vindouras serão afetadas pelo que eles fazem hoje. Eles estão cumprindo as declarações de profetas antigos que falavam em nome do Senhor a respeito de “uma obra maravilhosa e um assombro” que haveria de acontecer na dispensação da plenitude dos tempos”.[60]

O Presidente Spencer W. Kimball descreve um aspecto da sabedoria mundana e do entendimento do mundo que deverão perecer:

“Estarrece-nos o empenho consciente de muitos neste mundo que, presuntivamente, assumem a responsabilidade de mudar os padrões de conduta social estabelecidos pelo Senhor, particularmente no tocante ao casamento, vida sexual, vida familiar. Temos que dizer: ‘…a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá’”.[61]

Em nossos dias—o dia predito tão vividamente por Isaías e Néfi—há somente dois tipos de igrejas. Primeiro, há igrejas baseadas nas tradições, que tentam manter vivas nas mentes e vidas das pessoas, as lembranças de revelações recebidas no passado. Há igrejas que baseiam suas doutrinas nas escrituras antigas e o que eles interpretam das escrituras intelectualmente. Eles professam que revelações, como uma influência principal nas vidas das pessoas, é coisa do passado e não da época atual. Eles rejeitam qualquer coisa que alguém professa ser escritura ou revelação além do que se encontra preservado na Bíblia. Eles zombam e perseguem qualquer pessoa que professa receber revelações.

Segundo, tem a viva e vibrante Igreja liderada pelo Filho de Deus através de profetas vivos, que andam na Terra em nossa época atual. Esta Igreja verdadeira—a “obra maravilhosa” mencionada por Isaías—está fundada sob o princípio de contínua revelação de Deus. É caracterizada pelos dons do Espírito inclusive o testemunho de muitos que a luz dos céus lhes iluminou as almas, testificando da verdade das palavras de profetas modernos. Esta Igreja não coloca de lado as doutrinas contidas nas escrituras antigas, pois nós ouvimos e obedecemos cada palavra que tenha saído da boca de Deus. Usamos escrituras antigas para autenticar as palavras do Senhor dadas aos profetas em tempos modernos. Esta Igreja moderna é bem diferente em sua doutrina comparada com as do resto do mundo, porque o evangelho foi restaurado em sua plenitude e porque há novas revelações e escrituras que foram reservadas para os últimos dias, como predito pelos profetas antigos.

Os versículos 10 até 14 contêm um quiasma:

A: (10) Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes.
B: (11) Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado.
C: (12) Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler.
D: (13) Porque o Senhor disse:
E: Pois que este povo
F: se aproxima de mim,
G: e com a sua boca, e com os seus lábios me honra,
G: mas o seu coração
F: se afasta para longe de mim
E: e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;
D: (14) Portanto eis que continuarei a fazer
C: uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro;
B: porque a sabedoria dos seus sábios perecerá,
A: e o entendimento dos seus entendidos se esconderá.

“Fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes” equivale ao “o entendimento dos seus entendidos se esconderá”, dando uma descrição complementar dos encarregados de tomarem decisões na época prevista. “Entendidos” cuja sabedoria seria escondida ou elipsada pelo conteúdo do livro, incluem aqueles que fingem ser profetas e principais videntes. “Ao que sabe ler” é comparável ao “entendimento dos seus prudentes”, esclarecendo que os homens entendidos cujos entendimentos se esconderia incluem os estudiosos ou instruídos. “Ou dá-se o livro” complementa “uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro”, mostrando o significado de Isaías de que O Livro de Mórmon seria uma parte significante da “obra maravilhosa” mencionada. “Se aproxima de mim” se contrasta com “mas tem afastado para longe de mim”, e “com a sua boca e com os seus lábios me honra”se contrasta com“o seu coração”, ilustrando o caráter superficial das crenças do povo. A restauração, inclusive a chegada do Livro de Mórmon, viria num tempo de corações duros e mentes fechadas, quando os homens honrariam ao Senhor com seus lábios, mas não o honrariam em espírito.

Os versículos 15 e 16 formam um oráculo de pesar, direcionado àqueles que cometem atos secretos de iniquidades. O versículo 15 começa: “Ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras às escuras, e dizem: Quem nos vê? E quem nos conhece?” Néfi apresenta este versículo com pequenas variações. [62]

Néfi explica mais sobre o significado do versículo 15: “Sim, e haverá muitos que ensinarão desta maneira doutrinas falsas, vãs e tolas; e encherão o coração de orgulho e procurarão esconder profundamente do Senhor os seus desígnios secretos; e farão as suas obras às escuras”.[63]

O versículo 16 continua: “Vós tudo perverteis, como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Não me fez; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: Nada sabe”. Néfi esclarece quem está falando: E também dizem: Certamente a inversão que fazeis das coisas …”.[64] O hebraico apresenta “Ó sua perversidade! Acaso o oleiro pode ser considerado como barro?”[65] A pergunta retórica ilustra o absurdo da posição destes obreiros de escuridão secreta ao assumirem que suas obras—perseguir os santos e tentar descreditar o trabalho de restauração do Senhor—não seriam vistas pelo Ele. Outras duas perguntas retóricas mostram o erro de assumir que o Senhor não teria conhecimento desses atos secretos. A frase “certamente a inversão que fazeis das coisas” reflete a total revolução em pensamentos religiosos que eventualmente seria trazido pelo Livro de Mórmon e pela restauração do evangelho.

O versículo 17 prevê que o estado atual da vida espiritual e política mudaria dramaticamente: “Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento, em campo fértil? E o campo fértil não se reputará por um bosque?” Néfi apresenta: Mas eis que diz o Senhor dos Exércitos: Eu mostrarei aos filhos dos homens que dentro em breve o Líbano se converterá em um campo fértil …”.[66] “Bosque” significa os nobres ou líderes do povo, e “campo fértil” significa um novo instrumento econômico[67] desenvolvido pela produtividade do povo do convênio; naquele dia os campos férteis serão estimados tanto quanto os bosques foram no passado. Mudanças físicas descritas aqui são símbolos das mudanças previstas dos valores e percepções entre os seres humanos.[68]

Isaías, no capítulo 32, usa uma frase semelhante para descrever a restauração, mas substitui “deserto” por “Líbano:” “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque”.[69] A substituição da palavra “deserto” para “Líbano” dá uma melhor explicação para o significado intencionado por Isaías para a palavra “Líbano”—o deserto espiritual, que é o resultado da apostasia mundial.

O versículo 17 contém um quiasma reconhecido no original em hebraico, que foi aqui reconstruído para corresponder com a construção hebraica:[70]

(17) Porventura,num breve momento,
A: não se converterá
B: o Líbano
C: em campo fértil?
C: E o campo fértil
B: por um bosque
A: não se reputará?

“Não seconverterá” compare-se com “não se reputará”, revelando que o Líbano sendo transformado num campo fértil é figurativo, ao invés de literal.

O versículo 18 descreve as bênçãos espirituais que seriam derramadas quando O Livro de Mórmon viesse à luz: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão”. Aqueles que são espiritualmente surdos e cegos serão capazes de compreender assuntos espirituais devido o conteúdo deste livro.

Os elementos do versículos 17 e 18 formam um quiasma:

A: (17) Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento,
B: em campo fértil?
B: E o campo fértil
A: não se reputará por um bosque? (18) E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão.

Estes dois versículos correlacionam-se, como mostrado pela estrutura quiasmática, mesmo que à primeira vista não seja evidente. “Se converterá o Líbano, num breve momento” compara-se com “não se reputará por um bosque? E naquele dia os surdos ouvirão …”. A mensagem de Isaías nestas duas declarações é que pouco tempo depois do livro ter vindo à luz, aconteceria uma revolução em crenças religiosas, possibilitando aqueles que estavam cegos e surdos espiritualmente a compreenderem os assuntos espirituais.

O versículo 19 descreve algumas das grandes bênçãos trazidas pelo Livro de Mórmon: “E os mansos terão gozo sobre gozo no Senhor; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel”. Néfi apresenta: E os mansos também florescerão e seu gozo estará no Senhor; e os pobres regozijar-se-ão no Santo de Israel …”.[71] Compare com as declarações feitas no sermão das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”; e “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”.[72] O Livro de Mórmon contém a plenitude do evangelho, como foi ensinada por Cristo durante Seu ministério terreno. Os ensinamentos de Cristo—tanto na Bíblia quanto no Livro de Mórmon—forneceriam bênçãos aos pobres e mansos da terra que crerem.

O Senhor, em Doutrina e Convênios, dá maiores detalhes sobre as bênçãos concedidas ao viver a plenitude do evangelho:

“Pois aqueles que são prudentes e tiverem recebido a verdade e tomado o Santo Espírito por seu guia e não tiverem sido enganados—em verdade vos digo que não serão cortados e lançados no fogo, mas suportarão o dia.
“E a Terra ser-lhes-á dada por herança e multiplicar-se-ão e tornar-se-ão fortes; e seus filhos crescerão sem pecado para a salvação.[73]
“E suas gerações herdarão a Terra de geração em geração, para todo o sempre …”.[74]

O versículo 20 descreve o destino dos que criticarem O Livro de Mórmon, a obra da restauração dos últimos dias e a edificação de Sião: “Porque o tirano é reduzido a nada, e se consome o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade são desarraigados”. Néfi adicionou: Porque tão certo como o Senhor vive, eles verão que o temível será reduzido a nada …”.[75]

O Senhor, em Doutrina e Convênios, fornece uma explicação adicional: “Amaldiçoados são todos os que levantarem o calcanhar contra meus ungidos, diz o Senhor; e proclamarem terem eles pecado quando não pecaram perante mim, diz o Senhor, mas fizeram o que era agradável a meus olhos e que eu lhes ordenara”.[76]

O Senhor testifica que Ele destruirá aqueles que buscam a iniquidade: “E calamidade cobrirá o desdenhador e o escarnecedor será consumido; e os que tiverem procurado a iniquidade serão cortados e lançados no fogo”.[77]

Os versículos 17 até 20 contêm um quiasma que sobrepõe o quiasma dos versículos 17 e 18. Elementos em comum nestes dois quiasmas proveem um significado maior:

A: (17) Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento, em campo fértil?
B: (18) E naquele dia os surdos
C: ouvirão as palavras do livro,
D: e dentre a escuridão
D: e dentre as trevas
C: os olhos dos cegos as verão.
B: (19) E os mansos terão gozo sobre gozo no Senhor; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel.
A: (20) Porque o tirano é reduzido a nada, e se consome o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade são desarraigados.

Num breve momento depois da chegada do Livro de Mórmon os surdos e os cegos, que estavam cegos e surdos espiritualmente, serão levados á compreender a mensagem do livro e terão gozo sobre gozo no Senhor. Por causa deste livro os líderes do povo prosperarão, o tirano será reduzido a nada, se consumirá o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade serão desarraigados.

Devido as relações no quiasma dos versículos 17 e 18, as seguintes frases são equivalentes: “Se converterá o Líbano … em campo fértil”, “o tirano é reduzido a nada”, “os surdos ouvirão as palavras do livro” e “osmansos terão gozo sobre gozo no Senhor”. O significado é que a chegada do Livro de Mórmon revolucionará pensamentos religiosos, incluindo os benefícios descritos.

O versículo 21 provê uma maior descrição dos perseguidores e escarnecedores: “Os que fazem culpado ao homem por uma palavra, e armam laços ao que repreende na porta, e os que sem motivo põem de parte o justo”. Néfi apresenta este versículo com pequenas modificações.[78] A “porta” significa um lugar de transações públicas, onde os profetas geralmente pregavam ou exortam.

Neal A. Maxwell elaborou:

“Assim se desvenda o processo de provação, censura e desenvolvimento, que não deve ofender nem surpreender. Enquanto isso, a desigualdade no desenvolvimento espiritual do povo significa desleixo na história, e não devemos culpar um indivíduo por causa de uma palavra, como se uma única passagem pudesse invalidar tudo mais que ele possa ter transmitido ou defendido!”[79]

Os versículos 22 e 23 continuam a delinear os resultados benéficos da chegada do Livro de Mórmon. O versículo 22 declara: “Portanto assim diz o Senhor, que remiu a Abraão, acerca da casa de Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face”. A chegada do Livro de Mórmon levaria à coligação e redenção dos descendentes de Jacó, restaurando-os como povo e retirando sua vergonha por estarem dispersos por tanto tempo devido suas iniquidades—não tendo seu próprio lugar, sendo invejados, sendo discriminados por serem diferentes.

O versículo 23 continua: “Mas quando ele vir seus filhos, obra das minhas mãos no meio dele, santificarão o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel”. A frase “temerão ao Deus de Israel” significa “adorarão ao Deus de Israel”.

Os versículos 22 e 23 formam a quiasma:

A: (22) Portanto assim diz o Senhor,
B: que remiu a Abraão,
C: acerca da casa de Jacó:
D: Jacó não será agora envergonhado,
D: nem agora se descorará a sua face.
C: (23) Mas quando ele vir seus filhos,
B: obra das minhas mãos no meio dele,
A: santificarão o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel.

“O Senhor” é equivalente a “meu nome”, “Santo de Jacó” e “Deus de Israel”, que são os diversos nomes do Senhor. “Que remiu a Abraão” compara-se com “obra das minhas mãos”, que significa que a promessa feita a Abraão foi cumprida através dos descendentes de Jacó, que são a obra das mãos do Senhor. O Senhor, através do conteúdo do Livro de Mórmon, daria muito consolo a Jacó e a seus herdeiros.

O versículo 24 explica que O Livro de Mórmon seria um instrumento para corrigir falsas doutrinas: “E os errados de espírito virão a ter entendimento, e os murmuradores aprenderão doutrina”. “Murmurar” significa reclamar a respeito da maneira que o Senhor lida com a humanidade, como por exemplo a morte de um ente querido. Ao explicar a última frase deste versículo, Neal A. Maxwell explicou que o único remédio para o analfabetismo doutrinal será “os murmuradores aprenderão doutrina”.[80]

Verdadeiramente O Livro de Mórmon tem um papel importantíssimo na restauração do evangelho de Jesus Cristo nos últimos dias, funcionando figurativamente como “a pedra angular de nossa religião”.[81]

NOTAS

[1]. Joseph Smith―História 1:65.
[2]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, 523 p. Ver também JST Isaías 29:1-8.
[3]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 740, p. 72 (Ari’el); Número de Strong 739, p. 72 (ari’yel).
[4]. Brown et al., 1996, Número de Strong 741, p. 72; Ver também Isaías 29:1, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 1b.
[5]. Brown et al., 1996, Número de Strong 738, p. 71.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 410, p. 41.
[7]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 201; JST Isaías 29:2.
[8]. 2 Néfi 26:15.
[9]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 201; JST Isaías 29:2.
[10]. O texto Massorético hebraico do Velho Testamento é o que é normalmente usado hoje, de onde foi traduzida a versão da Bíblia de João Ferreira de Almeida e todas as demais traduções modernas do Velho Testamento em outras línguas. “Massorético” significa o sumário das tradições concernentes a escrita e a leitura correta das Escrituras Sagradas, tal como foram transmitidas pelos antepassados dos judeus modernos. (Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]:Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 448).
[11]. Brown et al., 1996, Número de Strong 178, p. 15.
[12]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5175, p. 638.
[13]. Em particular, a tradução do Latin Vulgta de Jerome e a tradução em espanhol Reina-Valera (1909, 1960) apresentam como “píton.” Traduções da Bíblia usadas para comparação neste comentário podem ser acessadas como “The Bible Database” no site http://bibledatabase.org/.
[14]. 2 Néfi 26:15-17.
[15]. 2 Néfi 33:13.
[16]. 2 Néfi 26:18-19.
[17]. Ver Isaías 1:7, 28; 5:24; 9:5, 18-19; 10:16-18; 24:6; 27:11; 30:27, 30, 33; 33:11-12, 14; 34:9; 42:25; 43:2; 47:14; 64:1-2, 11; 66:15-16 e comentário pertinente.
[18]. Ver 3 Néfi 8:5-18.
[19]. 2 Néfi 27:2.
[20]. Doutrina e Convênios 97:25-26.
[21]. 2 Néfi 27:1-2.
[22]. Ver referências e comentário para o versículo 6.
[23]. 2 Néfi 27:3.
[24]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 201; JST Isaías 29:2.
[25]. 2 Néfi 27:3.
[26]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 263.
[27]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 24:23; 28:16; 30:19; 31:4, 9; 51:3.
[28]. Ver D&C 97:21.
[29]. 2 Néfi 27:4.
[30]. 2 Néfi 27:1.
[31]. Isaías 28:1-3.
[32]. 2 Néfi 27:5.
[33]. 2 Néfi 27:6-9.
[34]. Monte S. Nyman, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 26:6; 27/Isaías 29”, Book of Mormon Reference Companion: [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon] Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 388-392.
[35]. 2 Néfi 27:9-11.
[36]. Ver Éter 4:5-7.
[37]. 2 Néfi 27:12-18.
[38]. 2 Néfi 27:19-23.
[39]. Joseph Smith—História 1:63-65.
[40]. D&C 128:20.
[41]. Joseph Smith—História 1:66-68.
[42]. Ver Joseph Smith—História 1:62-63.
[43]. Ver Joseph Smith—História 1:19.
[44]. O versículo 13 contém um quiasma: Este povo/se aproxima de mim/boca … lábios//coração/para longe de mim/seu temor.
[45]. 2 Néfi 27:24-25.
[46]. Mateus 15:7-9. Ver também Marcos 7:6-7.
[47]. O versículo 14 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Perecerá/a sabedoria dos seus sábios//o entendimento dos seus entendidos/se esconderá. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[48]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6381, p. 810 (pala’, marvellous work [uma obra maravilhosa]); Número de Strong 6382, p. 810 (pele’, wonder [assombro]).
[49]. Neal A. Maxwell, “Meu Servo Joseph”, A Liahona, Julho de 1992, p. 40.
[50]. 2 Néfi 27:26.
[51]. 1 Coríntios 1:19-20.
[52]. D&C 4:1; Ver também D&C 6:1; 11:1; 12:1; 18:44.
[53]. Ver Isaías 28:12.
[54]. Ver Atos 3:19.
[55]. Ver Isaías 28:9; também Isaías 29:12.
[56]. 2 Néfi 25:17.
[57]. 1 Néfi 14:7.
[58]. 1 Néfi 22:7-8; Ver também Isaías 49:22.
[59]. D&C 76:5, 9.
[60]. Gordon B. Hinckley, “Um Estandarte Para a Nação”, A Liahona, Janeiro de 1990, p. 64.
[61]. Spencer W. Kimball, “Por Que Me Chamáis Senhor, Senhor, e Não Fazeís o Que Eu Digo?” A Liahona, Agosto de 1975, p. 44.
[62]. 2 Néfi 27:27.
[63]. 2 Néfi 28:9.
[64]. 2 Néfi 27:27.
[65]. J. R. Dummelow, The One volume Bible Comentary [Comentário Bíblico de um Volume]: Macmillan Publishing Company, 866 Third Avenue, New York, NY 10022, 1908-1909, p. 435; Ver também Brown et al., 1996, Número de Strong 2017, p. 246.
[66]. 2 Néfi 27:28.
[67]. Ver Isaías 2:13; 10:18-19, 33-34; 14:8; 32:15; 37:24; 55:12.
[68]. Monte S. Nyman, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Néfi 26:6; 27/Isaías 29”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 388-392.
[69]. Isaías 32:15.
[70]. Parry, 2001, p. 260.
[71]. 2 Néfi 27:30.
[72]. Mateus 5:3, 5.
[73]. D&C 45:57-58.
[74]. D&C 56:20.
[75]. 2 Néfi 27:31.
[76]. D&C 121:16.
[77]. D&C 45:50.
[78]. 2 Néfi 27:32.
[79]. Neal A. Maxwell, “Fora da Obscuridade”, A Liahona, Janeiro de 1985, p. 11.
[80]. Neal A. Maxwell, “Vida Pré-Mortal, Uma Gloriosa Realidade”, A Liahona, Janeiro de 1986, p. 15.
[81]. Ver Livro de Mórmon—Introdução.

CAPÍTULO 28: “Ai Da Coroa De Soberba Dos Bêbados De Efraim”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 28 lida com a corrupção e subsequente destruição que precederão a Segunda Vinda. Com os consecutivos capítulos sobre este mesmo tema, temos uma outra perspectiva destes acontecimentos, com maiores detalhes e explicação. Aqui o profeta fala de corrupção eclesiástica; um banquete espiritual é retratado como uma solene zombaria, com as mesas que estão cheias de vômitos e imundícia. Riquezas, orgulho e autoindulgência entre os líderes eclesiásticos são retratados como embriaguez; por isso, “Ai … dos bêbados de Efraim”.

A revelação apresentada no capítulo 28 foi dada a Isaías numa época quando a Assíria dominava Efraim—isto é, o reino de Israel do norte consistindo-se das dez tribos—exceto pela cidade capital, Samaria, e pelas áreas arredores.[1] Na antiguidade, Efraim era a tribo líder do reino do norte, que seria depois levada em cativeiro pela Assíria em 722 a.C. pouco tempo depois destas predições de Isaías.[2] O cumprimento recorrente desta profecia envolve atores dos últimos dias no palco de Isaías. O Efraim dos tempos modernos inclui as nações da Europa e da América do Norte, cujos habitantes—apesar de serem geralmente considerados gentios—são uma mistura da tribo de Efraim. O contexto histórico fornece um exemplo para os acontecimentos e condições nos últimos.

Este capítulo começa concentrando-se na corrupção de Efraim—tanto Efraim da antiguidade antes do cativeiro pela Assíria, quanto os descendentes de Efraim dos últimos dias. Como é típico do estilo de Isaías, alguns elementos deste capítulo referem-se a Efraim da antiguidade, outros referem-se aos seus descendentes nos últimos dias, e outros aos dois. Este capítulo serve como uma advertência aos descendentes modernos de Efraim contra uma fraqueza inerente—uma área na qual onde eles poderão estar sujeitos às tentações.

Somos ensinados que a revelação vem linha por linha e preceito por preceito, mas os sacerdotes bêbados e os profetas da decadente Efraim não são capazes de compreender as obras do Espírito. Na Sua vinda, Cristo—nosso firme alicerce—arrebatará estes indivíduos com um flagelo tão intenso que as pessoas ficarão chocadas só em ouvirem sobre o mesmo.

Os versículos 1 até 4 formam um oráculo de pesar estruturado como um quiasma. O versículo 1 começa: “Ai da coroa de soberba dos bêbados de Efraim, cujo glorioso ornamento é como a flor que cai, que está sobre a cabeça do fértil vale dos vencidos do vinho”. A coroa, ou os líderes, são os sacerdotes e profetas de Efraim, antigos e modernos, que estão bêbados com as riqueza e orgulho. Um “glorioso ornamento é como a flor que cai” descreve o colapso moral da Efraim dos tempos modernos—a dependência em acontecimentos e vitórias do passado, ao invés de na presente integridade ou futuras aspirações nobres.

O versículo 2 declara: “Eis que o Senhor tem um forte e poderoso; como tempestade de saraiva, tormenta destruidora, e como tempestade de impetuosas águas que transbordam, ele, com a mão, derrubará por terra”. O Senhor derrotará o forte e poderoso rei da Assíria ou seu homólogo moderno. “Um forte e poderoso” refere-se ao rei da Assíria agindo como um representante do Senhor em destruir Efraim. Observe o simbolismo, que nos é familiar: Uma “tempestade de impetuosas águas que transbordam” é uma metáfora para um exército invasor.

Isaías descreve um acontecimento semelhante no capítulo 8: “Portanto eis que o Senhor fará subir sobre eles as águas do rio, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; e subirá sobre todos os seus leitos, e transbordará por todas as suas ribanceiras”.[3] Este simbolismo surge porque a Assíria, de onde vem o exército invasor, ficava na Mesopotâmia, a terra entre os rios Tigre e Eufrates.[4] O nome “Mesopotâmia” vem do grego, meso- significa “entre”, e potamos, significa “rios”.[5]

O versículo 3 prediz: “A coroa de soberba dos bêbados de Efraim” —que significa os sacerdotes e os profetas que estão bêbados de autoindulgência—” será pisada aos pés”. “Aos pés” refere-se aos pés do exército invasor.

O versículo 4 sumariza: “E a flor caída do seu glorioso ornamento, que está sobre a cabeça do fértil vale, será como o fruto temporão antes do verão, que, vendo-o alguém, e tendo-o ainda na mão, o engole”. O exército invasor, como revelado neste símile, pisará tudo e todos que estiverem em seu caminho.

Os versículos 1 até 4 contêm um quiasma:

A: (1) Ai da coroa de soberba dos bêbados de Efraim, cujo glorioso ornamento é como a flor que cai, que está sobre a cabeça do fértil vale
B: dos vencidos do vinho.
C: (2) Eis que o Senhor tem um forte e poderoso;
D:como tempestade de saraiva, tormenta destruidora,
D: e como tempestade de impetuosas águas que transbordam,
C: ele, com a mão, derrubará por terra.
B: (3) A coroa de soberba dos bêbados de Efraim será pisada aos pés.
A: (4) E a flor caída do seu glorioso ornamento, que está sobre a cabeça do fértil vale, será como o fruto temporão antes do verão, que, vendo-o alguém, e tendo-o ainda na mão, o engole.

A frase “dos vencidos do vinho” é equivalente à frase “dos bêbados de Efraim”, identificando quem é o vencido; “o Senhor tem um forte e poderoso” complementa “ele, com a mão, derrubará por terra”; e “tempestade de saraiva, tormenta destruidora” compara-se com “tempestade de impetuosas águas que transbordam” usando duas metáforas para descrever a devastação a ser trazida pelos invasores em retribuição ao estado embriagado e imoral de Efraim.

No versículo 5 o contexto muda, agora referindo-se especificamente a Efraim dos últimos dias numa época depois da dispersão de Israel—durante o tempo da preparação para a Segunda Vinda do Senhor: “Naquele dia o Senhor dos Exércitos será por coroa gloriosa, e por diadema formosa, para os restantes de seu povo”. Isaías usa “naquele dia” para referir-se aos últimos dias; como atestado anteriormente por Isaías no capítulo 2, “só o Senhor será exaltado naquele dia”.[6] “Os restantes de seu povo” são aqueles que restaram depois da devastação.

O versículo 6 continua: “E por espírito de juízo, para o que se assenta a julgar, e por fortaleza para os que fazem recuar a peleja até à porta”. A glória do Senhor, descrita no versículo 5, será por um espirito de julgamento justo, ou inspiração, sobre os líderes dos remanescentes justos do povo do Efraim moderno, e será para a fortificação de um pequeno exército dos justos efraimitas, que expulsarão o exército invasor mencionado nos versículos 3 e 4, levando-o à porta da cidade de Sião. “Espírito de juízo”, como foi usado aqui, significa “um espírito de justiça” ou de fazer o que é justo.[7] Outros significados de “juízo” que se encontram na obra de Isaías incluem justiça social,[8] retribuição,[9] raciocínio são,[10] e um sistema de lei equitativo.[11]

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) E a flor caída do seu glorioso ornamento, que está sobre a cabeça do fértil vale, será como o fruto temporão antes do verão, que, vendo-o alguém, e tendo-o ainda na mão, o engole.
B: (5) Naquele dia o Senhor dos Exércitos será
C: por coroa gloriosa,
C: e por diadema formosa,
B: para os restantes de seu povo.
A: (6) E por espírito de juízo, para o que se assenta a julgar, e por fortaleza para os que fazem recuar a peleja até à porta.

“Seu glorioso ornamento” corresponde à frase “por espírito de juízo para o que se assenta a julgar, e por fortaleza para os que fazem recuar a peleja até a porta”. O Senhor proverá fortaleza aos que julgarem em retidão ou defenderem o Seu povo, que enfrenta os saqueadores com intenção de consumir a beleza gloriosa, porém desgasta, da cidade de Efraim moderna. “O Senhor dos Exércitos” corresponde-se ao “seu povo”, identificando a quem pertence o povo; e “coroa gloriosa” é o mesmo que “diadema formosa”. A antiga coroa de glória de Efraim—a justiça do “que se assenta a julgar”—será manifesta no futuro e proverá fortaleza para “os que fazem recuar a peleja até a porta”.

Os versículos 7 e 8 proveem uma maior explicação no estado decadente dos líderes religiosos do povo antigo e do moderno de Efraim antes da predita conquista pelo exército invasor. O versículo 7 atesta a falta de inspiração destes líderes religiosos: “Mas também estes erram por causa do vinho, e com a bebida forte se desencaminham; até o sacerdote e o profeta erram por causa da bebida forte; são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo”. “Estes erram por causa do vinho” significa que as artimanhas sacerdotais, o orgulho e a busca de riquezas e honra do mundo têm destruído os líderes religiosos em relação às coisas espirituais, que são obtidas somente através de revelação de Deus. Eles perderam a visão do caminho estreito e apertado.[12] “O sacerdote e o profeta” referem-se aos que têm o dever prover orientação moral, e quem professa ter autoridade sacerdotal e explicação profética. “Juízo”, como foi usado aqui, significa “raciocínio são”.[13] Devido aqueles que assumiram autoridade eclesiástica haverem se entregado aos prazeres mundanos e suas gratificações, sua visão e seu juízo são errôneos, eles não são inspirados pelo Senhor.

O versículo 7 contém um quiasma:

A: (7) Mas também estes cambaleiam por causa do vinho,
B: e com a bebida forte se desencaminham;
C: até o sacerdote
C: e o profeta
B: erram por causa da bebida forte;
A: são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo.

“Também estes cambaleiam por causa do vinho” corresponde à “são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte;andam errados na visão e tropeçam no juízo”, o vinho metafórico explicado nas duas últimas frases. Devido ao abuso da bebida forte—metaforicamente, gratificação dos apetites e paixões mundanos—o sacerdote e o profeta têm errado muito e estão fora do caminho estreito e apertado.[14]

O versículo 8 descreve um banquete espiritual, apresentado como uma bebedeira pelos sacerdotes e profetas sem inspiração: “Porque todas as suas mesas estão cheias de vômitos e imundícia, e não há lugar limpo”. No lugar de pura doutrina, os sacerdotes e profetas corruptos apresentam um banquete de vômitos de doutrinas falsas, iniquidades, e hipocrisia. Nenhum lugar será deixado limpo, ou nenhuma doutrina será deixada sem falsificação. Até mesmo as escrituras sob a qual as leis estão gravadas estão pervertidas completamente. Este banquete corrupto é uma zombaria solene perante o Senhor; aquilo que era sagrado foi profanado. Contraste o banquete de dons espirituais dado pelo Senhor, descrito por Isaías anteriormente.[15]

No versículo 9, Isaías pondera: “A quem, pois, se ensinaria o conhecimento?” O Senhor ensina o conhecimento através de revelação. “E a quem se daria a entender doutrina?” Isaías responde com outra pergunta retórica: “Ao desmamado do leite, e ao arrancado dos seios?”[16] Aqueles que são inocentes e puros, como uma criancinha, são os que receberão orientação e inspiração do Senhor.

Com respeito à inocência e pureza de Seus apóstolos, Jesus disse: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”.[17] Da mesma forma Deus, o Pai, e Seu Filho, Jesus Cristo, apareceram a Joseph Smith quando o jovem profeta da restauração tinha somente catorze anos de idade, em resposta a sua oração perguntando qual igreja era verdadeira.[18] O Senhor, em revelação moderna, descreveu a inocência, mas a falta de maturidade espiritual dos primeiros conversos usando termos semelhantes: “Porque agora não podem tolerar carne, devem receber leite; portanto não deverão conhecer estas coisas, para que não pereçam”.[19]

O versículo 10, respondendo a última pergunta retórica do versículo 9, descreve a maneira pela qual o Senhor revela a verdade através de revelações: “Porque é preceito sobre preceito, preceito e mais preceito, regra sobre regra, regra e mais regra: um pouco aqui, um pouco ali”.[20] O Senhor dá ao Seu povo aquilo que pode compreender, um pouco de cada vez, para que assimile em suas vidas. Depois Ele dá mais, baseando-se no novo nível de entendimento e obediência aos preceitos recebidos anteriormente. O Senhor explicou em Doutrina e Convênios:

“E Eu vos dou o mandamento, de que renuncieis a todo o mal e vos apegueis a todo o bem, e que vivais por toda palavra que sai da boca de Deus.
“Pois Ele dará ao fiel linha sobre linha, preceito sobre preceito; e com isso vos experimentarei e provarei” (Ênfases adicionadas).[21]

Novamente, este significado está claro em outras revelações modernas:

“E também, a voz de Deus no quarto do velho Pai Whitmer, em Fayette, Condado de Sêneca; e em várias ocasiões e em lugares diversos, durante todas as viagens e tribulações desta Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias! E a voz de Miguel, o arcanjo, e a voz de Gabriel e de Rafael e de diversos anjos, de Miguel, ou seja, Adão, até o tempo atual, todos anunciando sua dispensação, seus direitos, suas chaves, suas honras, sua majestade e glória e o poder de seu sacerdócio; dando linha sobre linha, preceito sobre preceito; um pouco aqui, um pouco ali; dando-nos consolação pela proclamação do que está para vir, confirmando nossa esperança!” (Ênfases adicionadas).[22]

O Senhor sumariza: “Aquilo que é de Deus é luz; e aquele que recebe luz e persevera em Deus recebe mais luz; e essa luz se torna mais e mais brilhante, até o dia perfeito”.[23]

O versículo 11 descreve a grande falta de eloquência e oratória que caracteriza os humildes servos do Senhor: “Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo”. Os missionários saem, lutando e gaguejando para aprender uma nova língua, buscando pelos descendentes modernos de Efraim e outros das tribos perdidas. “Este povo” refere-se à Israel moderna em seu estado disperso, procurada e reunida pelos “embaixadores” e “mensageiros velozes”, ou os missionários dos tempos modernos.[24]

Em revelações modernas o Senhor prevê a pregação do evangelho em todas as línguas maternas dos homens:

“Pois acontecerá nesse dia que todo homem ouvirá a plenitude do evangelho em sua própria língua e em seu próprio idioma, por meio daqueles que são ordenados com este poder, pela administração do Consolador que se derrama sobre eles para revelar Jesus Cristo.”[25]

O versículo 11 é parafraseado por Paulo no Novo Testamento: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor”.[26]

O Senhor afirmou isto nos últimos dias: “Para que a plenitude do meu evangelho seja proclamada pelos fracos e pelos simples aos confins da Terra e perante reis e governantes”.[27]

Aqueles que não derem ouvidos às advertências do Senhor, transmitidas pelos mensageiros gaguejantes, lutando para aprender a língua estrangeira, serão varridos pelo homólogo moderno dos exércitos invasores assírios. A Assíria antiga falava uma língua que os Israelitas antigos não compreendiam; assim será a língua do exército invasor moderno descrito nos versículos 2 e 3 acima, que varrerá e saqueará os bêbados de Efraim.

O versículo 12 continua descrevendo a mensagem do Senhor, transmitida pelos mensageiros gaguejantes à Israel dispersa: “Ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; porém não quiseram ouvir”. “O descanso ao cansado” transmitido pelos mensageiros, significa as doutrinas de salvação. “Este é o refrigério” refere-se à restauração nos últimos dias—os tempos do refrigério que Pedro se referiu: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (ênfases adicionadas).[28] A frase “porém não quiseram ouvir” significa que muitos a quem a mensagem de refrigério, ou da restauração, fosse dada não dariam ouvidos à advertência. Àqueles que se recusarem a ouvir, o Senhor falará em outra língua—o equivalente moderno do exército assírio. Parry et al. identifica “descanso” e “refrigério” como observância ao mandamento de guardar o Dia do Senhor.[29]

O versículo 13 sumariza, refletindo o versículo 10: “Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será preceito sobre preceito, preceito sobre preceito, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem e se enlacem, e sejam presos”.[30] Apesar das instruções do Senhor a eles através de profetas antigos e modernos e do exército de missionários modernos lutando para transmitir a mensagem do Senhor em línguas estrangeiras, muitos rejeitariam a mensagem.

Néfi, fornecendo maior explicação, parafraseia os versículos 10 e 13:

“Pois eis que assim diz o Senhor Deus: Darei aos filhos dos homens linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali; e abençoados os que dão ouvidos aos meus preceitos e escutam os meus conselhos, porque obterão sabedoria; pois a quem recebe darei mais; e dos que disserem: Temos o suficiente, destes será tirado até mesmo o que tiverem”.[31]

Os versículos 10 até 13 contêm um quiasma:

A: (10) Porque é preceito sobre preceito, preceito sobre preceito, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali.
B: (11) Assim por lábios gaguejantes, e por língua estrangeira, falará o Senhor a este povo.
C: (12) ao qual disse:
D: Este é o descanso,
E:dai descanso
E:ao cansado;
D: e este é o refrigério;
C: porémnão quiseram ouvir.
B: (13) Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será
A: preceito sobre preceito, preceito sobre preceito, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem e se enlacem, e sejam presos.

O Senhor dá revelação e orientação ao Seu pouco a pouco. “Por lábios gaguejantes, e por língua estrangeira, falará a este povo” corresponde a “assim, pois, a palavra do Senhor lhes será dada [preceito sobre preceito]”. Embora a palavra do Senhor estar sendo transmitida por mensageiros que se esforçam em falar uma língua estrangeira, muitos da linhagem do convênio não aceitariam a mensagem da restauração.

Nos versículos 14 até 22 Isaías dirige-se a Jerusalém e a seus líderes escarnecedores. O versículo 14 declara: “Ouvi, pois, a palavra do Senhor, homens escarnecedores, que dominais este povo que está em Jerusalém”. Isaías atesta que a advertência dada à antiga nação de Efraim aplica-se igualmente à Judá. Os líderes escarnecedores e bêbados de Jerusalém são advertidos a darem ouvidos ao que o Senhor está falando ao povo de Efraim. Para nós em nosso tempo, referências à “Jerusalém” significa, num sentido geral, centros eclesiásticos dos tempos atuais.

O versículo 15 explica a falsa segurança destes líderes desdenhosos: “Porquanto dizeis: Fizemos aliança com a morte, e com o inferno fizemos acordo; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós, porque pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos”. Eles assumem erroneamente que seu convênio com Satanás—ou com o exército invasor—baseado em suas falsidades e mentiras que se passavam por crenças, salvar-lhes-ão do açoite, ou praga, destrutivo.

Este açoite ou flagelo foi descrito numa revelação moderna:

“Porque haverá um flagelo assolador entre os habitantes da Terra e continuará a derramar-se de tempos em tempos, se eles não se arrependerem, até que a Terra fique vazia e seus habitantes sejam consumidos e totalmente destruídos pelo resplendor da minha vinda”.[32]

Desde o tempo de Cain, Satanás tem tentado fazer alianças com os homens. Porém, quando as consequências inevitáveis de suas ações tornarem-se evidentes, apesar da aliança que fizeram com Satanás, o maligno rirá deles. A confiança das decadentes cidades de Efraim e Judá no braço da carne e na aliança com Satanás traz somente remorso, o que agrada a Satanás.

Em revelação moderna o Senhor descreve o açoite, ou a praga, de uma doença desoladora:

“E haverá homens nessa geração que não passarão até que vejam uma praga terrível; pois uma doença desoladora cobrirá a terra.
“Mas os meus discípulos permanecerão em lugares santos e não serão movidos; mas, entre os iníquos, homens levantarão a voz e amaldiçoarão a Deus e morrerão”.[33]

O Senhor fornece uma explicação aos seus discípulos modernos:

“Pois eis que a vingança vem rapidamente sobre os ímpios, como um furacão; e quem dela escapará?
“O açoite do Senhor passará de noite e de dia e seu rumor afligirá todos os povos; sim, não cessará até que venha o Senhor.
“Porque a indignação do Senhor está acesa contra as abominações deles e todas as suas obras iníquas”.[34]

O versículo 16 descreve a única fonte de segurança segura: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse”. A frase final significa “aquele que crer não devefugir em pânico”. Esta profecia é citada no Novo Testamento, em relação ao ministério mortal da Segunda Vinda de Jesus Cristo,[35] que metaforicamente é a pedra angular para um alicerce seguro.

Jacó, o irmão de Néfi no Livro de Mórmon, explica:

“E agora eu, Jacó, sou guiado pelo Espírito a profetizar, pois percebo, pela orientação do Espírito que está em mim, que, por causa dos tropeços dos judeus, eles rejeitarão a pedra sobre a qual poderiam edificar e ter fundamento seguro.
“Mas eis que, de acordo com as escrituras, essa pedra virá a ser o grande e o último e o único fundamento seguro sobre o qual os judeus poderão edificar”.[36]

Jacó explica que os judeus rejeitariam o Salvador durante Seu ministério terreno. “Sião” foi usada no versículo 16 com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para a antiga Jerusalém no tempo do ministério de Cristo.[37]

O simbolismo do versículo 16 nos é familiar. Paulo escreve:

“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus;
“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;
“No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (ênfases adicionadas).[38]

“A principal pedra da esquina” refere-se simultaneamente a Jesus Cristo e ao princípio de revelação, já “o fundamento dos apóstolos e dos profetas” é a crença nas doutrinas de salvação ensinadas pelos apóstolos e profetas, recebidas do Senhor Altíssimo.

Os versículos 14 até 16 contêm um quiasma:

A: (14) Ouvi, pois, a palavra do Senhor, homens escarnecedores, que dominais este povo que está em Jerusalém.
B: (15) Porquanto dizeis: Fizemos aliança com a morte,
C: e com o inferno fizemos acordo;
D: quando passar o dilúvio do açoite,
D: não chegará a nós;
C: porque pusemos a mentira por nosso refúgio,
B: e debaixo da falsidade nos escondemos.
A: (16) Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse.

Ao ler este quiasma em forma reflexiva—começando pela declaração introdutória e sua reflexão e continuando desta maneira à declaração central e sua reflexão—entendemo-lo melhor: “Ouvi, pois, a palavra do Senhor, homens escarnecedores, que dominais este povo que está em Jerusalém”. A palavra do Senhor aos líderes escarnecedores é: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse”. Porém, os líderes de Jerusalém respondem: “Fizemos aliança com a morte; debaixo da falsidade nos escondemos; com o inferno fizemos acordo; pusemos a mentira por nosso refúgio; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós”. Líderes iníquos não dão ouvidos às palavras do Senhor, por meio da qual recebemos a salvação; e fazem exatamente o oposto, contam com mentiras, doutrinas falsas e acordos com Satanás para protegerem-se do dilúvio do açoite.

O versículo 17 estabelece a base fundamental para a sobrevivência, em contraste às mentiras dos líderes bêbados e escarnecedor de Efraim e Jerusalém: “E regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo”. “Justiça” e “juízo” neste versículo significam “equidade”.[39] Para se fazer um julgamento apropriado é necessário a orientação do Espírito Santo. “A linha” refere-se à linha de nível usada em construções—essencial na obtenção de alicerces e paredes retos—e “prumo” refere-se a outra ferramenta de alvenaria e carpintaria, o fio de prumo, é usado para se obter uma linha vertical precisa. “Prumo” e “fio de prumo” têm a mesma raiz latina, plumbum, que significa “plúmbeo” ou chumbo, uma substância pesada da qual são feitas essas ferramentas.[40] Estas metáforas referem-se à retidão pessoal. Aqueles cujo refúgio são as mentiras e as falsidades seu esconderijo serão assolados pelo exército invasor, caracterizado aqui pela tempestade de granizo que varrerá as mentiras e uma enchente de águas que inundará o esconderijo.[41]

O versículo 18 apresenta o resultado da aliança com Satanás feita pelos líderes escarnecedores, tanto em Jerusalém quanto em Efraim: “E a vossa aliança com a morte se anulará; e o vosso acordo com o inferno não subsistirá; e, quando o dilúvio do açoite passar, então sereis por ele pisados”. Como sempre, a aliança de Satanás com esses líderes iníquos não servirá para nada e o açoite arrasador varrerá tudo, pisoteando-os.

Os versículos 15 até 18 contêm um quiasma que verifica o sentido intencionado por Isaías:

A: (15) Porquanto dizeis: Fizemos aliança com a morte, e com o inferno fizemos acordo; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós,
B: porque pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos.
C: (16) Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei
D: em Sião
E: uma pedra,
F:   uma pedra já provada,
G: pedra preciosa
G: de esquina,
F:   que está bem firme
E: e fundada;
D: aquele que crer não se apresse.
C: (17) E regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo,
B: e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo.
A: (18) E a vossa aliança com a morte se anulará; e o vosso acordo com o inferno não subsistirá; e, quando o dilúvio do açoite passar, então sereis por ele pisados.

“Fizemos aliança com a morte” é complementada pela frase “a vossa aliança com a morte se anulará; e o vosso acordo com o inferno não subsistirá”, descrevendo a desaprovação do Senhor com respeito a aliança com o mal. A frase “porque pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos” contrasta-se com “a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo”, descrevendo a futilidade de confiar em iniquidades. “Sião” equivale à “aquele que crer”, dando-nos uma definição da palavra Sião. Compare com a definição dada pelo Senhor em uma revelação moderna: “Pois isto é Sião—o puro de coração”.[42]

O versículo 19 descreve os horrores deste exuberante açoite: “Desde que comece a passar, vos arrebatará, porque manhã após manhã passará, de dia e de noite; e será que somente o ouvir tal notícia causará grande turbação”. As pessoas ficariam emocionadas somente em ouvir sobre a destruição trazidas pelo exército invasor.[43]

O versículo 20 simbolicamente descreve o desconforto dos sobreviventes: “Porque a cama será tão curta que ninguém se poderá estender nela; e o cobertor tão estreito que ninguém se poderá cobrir com ele”. O povo ficará desconfortável e destituído, quando antes desfrutava de grandes riquezas e conforto.

O versículo 21 atesta que o Senhor trará destruição sob o exército invasor: “Porque o Senhor se levantará como no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeão, para fazer a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu ato, o seu estranho ato”. Estes casos do Senhor destruir os exércitos invasores são uma reflexão das ocorrências no Velho Testamento nas quais Israel foi defendida contra os filisteus—a quem o Senhor entregou nas mãos do rei Davi e suas forças militares[44]—e contra os Amoritas, mandando cair grandes pedras dos céus.[45] O Senhor defenderá  os justos dos últimos dias contra o exuberante flagelo, bem como Ele defendeu Seus seguidores na antiguidade.

A frase final do versículo 21, “para fazer a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu ato, o seu estranho ato” compara-se com as palavras do Senhor dadas a Joseph Smith, a qual nos dá uma explicação:

“O que vos disse precisa acontecer, para que homem algum tenha desculpa;
“Para que homens prudentes e governantes ouçam e compreendam o que nunca haviam considerado;
“Para que eu execute o meu ato, o meu estranho ato, e execute a minha obra, a minha estranha obra, para que os homens discirnam os retos dos iníquos, diz vosso Deus” (Ênfases adicionadas).[46]

No versículo 22, Isaías admoestou a audiência dos últimos dias: “Agora, pois, não mais escarneçais, para que vossos grilhões não se façam mais fortes; porque já ao Senhor DEUS dos Exércitos ouvi falar de uma destruição, e essa já está determinada sobre toda a terra”. O profeta desafia o povo a ouvir os profetas escolhidos do Senhor—e não zombar deles—a fim de receberem revelações para escaparem da servidão e destruição preditas.

Os versículos 18 até 22 contêm um quiasma:

A: (18) E a vossa aliança com a morte se anulará; e o vosso acordo com o inferno não subsistirá; e, quando o dilúvio do açoite passar, então sereis por ele pisados. (19) Desde que comece a passar, vos arrebatará, porque manhã após manhã passará, de dia e de noite;
B: e será que somente o ouvir tal notícia causará grande turbação.
C: (20) Porque a cama será tão curta que ninguém se poderá estender nela; e o cobertor tão estreito que ninguém se poderá cobrir com ele. (21) Porque o Senhor se levantará como no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeão,
D: para fazer a sua obra, a sua estranha obra
D: e para executar o seu ato, o seu estranho ato.
C: (22) Agora, pois, não mais escarneçais, para que vossos grilhões não se façam mais fortes;
B: porque já ao Senhor DEUS dos Exércitos ouvi
A: falar de uma destruição, e essa já está determinada sobre toda a terra.

“O dilúvio do açoite” corresponde à “uma destruição, e essa já está determinada sobre toda a terra”, fornecendo uma explicação maior. “Será que somente o ouvir tal notícia causará grande turbação” complementa “já ao Senhor DEUS dos Exércitos ouvi”, que mostra a fonte de informações de Isaías. Aqueles que sobreviverem o decreto de destruição serão deixados em situações precárias; no entanto o Senhor protegê-los-á quando se humilharem.

Nos versículos 23 até 29, Isaías apresenta a Parábola do Agricultor para ilustrar os métodos imutáveis do Senhor para levar Sua palavra às nações e aos povos da Terra. O processo descrito metaforicamente na parábola inclui três fases—arar, semear e colher. Arar representa os meios pelos quais uma nação ou povo é compelido a preparar-se para ouvir o evangelho—uma nação pode estar sujeita à tirania, servidão, guerra, desastres naturais, ou desastres econômicos. Em seu estado humilde a nação fica mais receptiva às boas novas do evangelho, semeado entre eles pelas pessoas retas que vivem os princípios de sua religião. Primeiramente, a semeação vem de um bom exemplo; subsequentemente, de um ensinamento mais formal. Depois da semeação vem a conversão, crescimento espiritual e a salvação de almas que viveram suas vidas em retidão e estão preparados a encontrarem-se com Deus. Dependendo da natureza e caráter das pessoas—representados pelas várias plantações mencionadas—o Senhor formulou métodos específicos, tanto para plantação quanto para colheita.

O versículo 23 implora: “Inclinai os ouvidos, e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso”. Isaías implora seus ouvintes e seus leitores modernos a darem ouvidos às suas palavras.

O versículo 24 inicia a parábola: “Porventura lavra todo o dia o lavrador, para semear? Ou abre e desterroa todo o dia a sua terra?” Isaías estabelece a premissa usando umas perguntas retóricas. Preparar o campo é um pré-requisito essencial, mas o tempo dado para este passo é limitado.

O versículo 25 continua: “Não é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície, então espalha nela ervilhaca, e semeia cominho; ou lança nela do melhor trigo, ou cevada escolhida, ou centeio, cada qual no seu lugar? ” “Ervilhaca” é um tipo de fixação de nitrogênio das leguminosas que servem para enriquecer o solo, e “cominho” é uma erva usada como condimento. Várias plantações são feitas em lugares específicos; algumas sementes são “lançadas” indiscriminadamente, já outras são plantadas com mais cuidado. O “trigo” é o mais valioso, que é semeado com mais cuidado.

O versículo 26 continua: “O seu Deus o ensina, e o instrui acerca do que há de fazer”. O significado desta passagem é que Deus instrui Seu povo e líderes através de revelação. Conforme o período de tempo termina, outro se inicia com diferentes desafios, diferentes propósitos, diferentes instruções do Senhor. As instruções de Deus a Adão seriam suficientes para Noé? As palavras de Deus a Abraão era tudo que Moisés necessitava? Assim é conosco: Ao invés de memorizar infinitas perguntas e respostas (catecismo) ou preces, somos orientados com revelações contínuas. Nossa tarefa é a de treinar-nos a ouvir e obedecer “preceito sobre preceito, regra sobre regra”. Assim também, conforme o Senhor traz as destruições, época da semeação, e colheita nos últimos dias, Suas instruções específicas vêm para aqueles que reconhecem Sua voz e Seu método de transmissão de instruções—através de profetas vivos e de inspiração pessoal.

Os versículos 27 até 29 ilustra o cuidado do Senhor na colheita e debulhamento. O versículo 27 começa: “Porque a ervilhaca não se trilha com trilho, nem sobre o cominho passa roda de carro; mas com uma vara se sacode a ervilhaca, e o cominho com um pau”.

O versículo 28 continua: “O trigo é esmiuçado, mas não se trilha continuamente, nem se esmiúça com as rodas do seu carro, nem se quebra com os seus cavaleiros”. Há um método correto de debulhar cada tipo de grão ou semente; a duração do processo de debulhamento é cuidadosamente limitado a fim de não danificar o precioso grão. Portanto, provações e tribulações são dadas cuidadosamente de acordo com as necessidades, circunstancias e o caráter do indivíduo ou grupo.

Malaquias descreve o processo de refinamento, usando a purificação da prata como uma metáfora descritiva:

“Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros.
“E assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao Senhor trarão oferta em justiça”.[47]

Somente aqueles que passaram pelo fogo purificador e foram purificados e aperfeiçoados com suas experiências serão capazes de ficar na presença do Senhor quando Ele voltara na Sua Segunda Vinda.

O versículo 29 conclui: “Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é maravilhoso em conselho e grande em obra”. Aqueles que seguem as instruções contínuas do Senhor não serão feridos, apesar da colheita e debulhamento severas, ainda que sejam organizados.

Guerras devastadoras que temos testemunhados em nossos tempos, resultam no evangelho sendo pregado entre as nações afetadas. Depois de uma guerra, durante os esforços de reorganização e reconstrução, os cidadãos das terras devastadas têm a oportunidade de observar os bons exemplos dos membros da Igreja. O evangelho seria ensinado aos povos, primeiramente devagar, mas conforme o tempo fosse passando, mais e mais pessoas aceitariam ser ensinados e aceitariam a Igreja. O resultado final será uma nação, que antes era hostil, ou menos receptível, sendo ensinada o evangelho; templos por toda a Terra e os cidadãos recebendo as mesmas oportunidades e bênçãos como os membros da Igreja em terras onde a Igreja foi estabelecida há muitas gerações atrás.

Os versículos 23 até 29 contêm um quiasma:

A: (23) Inclinai os ouvidos, e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.
B: (24) Porventura lavra todo o dia o lavrador, para semear? Ou abre e desterroa todo o dia a sua terra?
C: (25) Não é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície, então espalha nela ervilhaca, e semeia cominho; ou lança nela do melhor trigo, ou cevada escolhida, ou centeio, cada qual no seu lugar?
D: (26) O seu Deus o ensina,
D: De o instrui acerca do que há de fazer.
C: (27) Porque a ervilhaca não se trilha com trilho, nem sobre o cominho passa roda de carro; mas com uma vara se sacode a ervilhaca, e o cominho com um pau.
B: (28) O trigo é esmiuçado, mas não se trilha continuamente, nem se esmiúça com as rodas do seu carro, nem se quebra com os seus cavaleiros.
A: (29) Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é maravilhoso em conselho e grande em obra.

“Inclinai os ouvidos, e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso” compara-se com “Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é maravilhoso em conselho e grande em obra”, que descreve a fonte divina de informação de Isaías. O lado ascendente do quiasma descreve métodos de preparação do solo e semeação, já o lado descendente descreve métodos de colheita e debulhamento. As nações são cuidadosamente preparadas para receber o evangelho; a semeação e a colheita são feitas de acordo com o plano detalhado do Senhor. Profetas, por meio de orientação e instruções do Senhor, recebem informações apropriadas para suas devidas épocas, aqui comparado metaforicamente ao conhecimento e implementação da agricultura.

NOTAS

[1]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 258-259.
[2]. Isaías 28:1, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 1b.
[3]. Isaías 8:7; 17:12-13; 28:17; 43:2.
[4]. Ver Mapa 2, Bíblia SUD em inglês.
[5]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]:1971, Elsevier Publishing Company, 52 Vanderbilt Avenue, New York, NY 10017, “Mesopotamia”, p. 459-460.
[6]. Isaías 2:10-12.
[7]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 42:4; 59:15.
[8]. Ver Isaías 5:7; 42:1; 59:8, 15.
[9]. Ver Isaías 1:17; 3:14; 4:4; 34:5.
[10]. Ver Isaías 1:17; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[11]. Ver Isaías 51:4; 54:17.
[12]. Ver Mateus 7:13-14; Ver também Isaías 3:12; 8:11; 26:7-8; 40:3 e comentário pertinente.
[13]. Ver Isaías 1:17; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[14]. Umquiasma sobreposto é também apresentado no versículo 7: Vinho/bebida forte/desencaminham/sacerdote//profeta/erram/bebida forte/vinho.
[15]. Ver Isaías 25:6-8.
[16]. O versículo 9 contém um quiasma: Ensinará ele o conhecimento/entender doutrina//desmamado/arrancado dos seios.
[17]. Mateus 11:25.
[18]. Ver Joseph Smith—História 1:15-17.
[19]. Doutrina e Convênios 19:22.
[20]. Da Versão Almeida Revisada Imprensa Bíblica. Esta versão foi utilizada devido combinar melhor com as palavras usadas em Doutrina e Convênios e no Livro de Mórmon.
[21]. D&C 98:11-12.
[22]. D&C 128:21; Ver também D&C 98:12.
[23]. D&C 50:24.
[24]. Isaías 18:2.
[25]. D&C 90:11.
[26]. 1 Coríntios 14:21; Ver também 1 Coríntios 1:26-27.
[27]. D&C 1:23.
[28]. Atos 3:19.
[29]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 251.
[30]. Da Versão Almeida Revisada Imprensa Bíblica. Esta versão foi utilizada devido combinar melhor com as palavras usadas em Doutrina e Convênios e no Livro de Mórmon.
[31]. 2 Néfi 28:30.
[32]. D&C 5:19.
[33]. D&C 45:31-32.
[34]. D&C 97:22-24.
[35]. Ver Isaías 6:10; 7:14; 11:1; 25:9; 53:5.
[36]. Jacó 4:15-16.
[37]. Ver Isaías 3:16; 18:7; 24:23; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 51:3.
[38]. Efésios 2:19-21.
[39]. Para referências de outros significados da palavra “juízo”, ver o versículo 6.
[40]. Klein, “plumb” [“prumo”], p. 570.
[41]. Isaías 8:7; 17:12-13; 28:2, 43:2.
[42]. Doctrina and Convênios 97:21.
[43]. D&C 5:19.
[44]. Ver 2 Samuel 5:19-20; também 1 Crônicas 14:10-11.
[45]. Ver Josué 10:8-14.
[46]. D&C 101:93-95; Ver também D&C 95:4.
[47]. Malaquias 3:2-3.