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CAPÍTULO 32: “Ao Vil Nunca Mais Se Chamará Liberal”

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Este capítulo é a respeito dos governantes políticos. Começa com uma descrição do arquétipo rei justo, o Messias cujo reinado na Terra trará inauditas bênçãos, paz, e segurança. O uso desta descrição por Isaías no começo, descrevendo a corrupção dos governantes políticos, é um contraste literário—uma comparação de extremos para fazer as descrições de cada uma mais vívida.[1] Esta comparação acentua nas mentes dos leitores tanto a severidade da iniquidade prevalente como a retidão infinita do Senhor. Esta iniquidade e corrupção descrevem tanto a Israel antiga quanto a dos últimos dias, com as condições da Israel antiga servindo como exemplo das condições futuras. Este capítulo termina com uma descrição quiasmática—refletindo nos primeiros quatro versículos do capítulo—da retidão do Senhor e das condições favoráveis que prevalecerão sob Seu reinado.

O versículo 1 descreve o reinado do Senhor na Sua Segunda Vinda: “Eis que reinará um rei com justiça, e dominarão os príncipes segundo o juízo”.[2]Como foi usado aqui, “justiça” significa “honestidade, retidão”.[3] O Senhor é o arquétipo de um rei justo; governantes políticos sob Seu comando governarão em retidão.

O versículo 2 apresenta uma série de símiles que descrevem a segurança e paz que será desfrutava pelos justos sob o reinado do Senhor: “E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta”. Depois das destruições dos últimos dias o Senhor será visto pelos sobreviventes justos como um grande alívio das tribulações. “Ribeiros de águas em lugares secos” simbolizam inspirações e revelações dos céus.[4] Cada um destes símiles descreve um grande contraste entre o alívio e consolo provido pelo Senhor em Seu reinado benévolo e o caos, miséria e sofrimento sob opressão dos governantes iníquos que O precederam. Suas regras injustas foram caracterizadas neste versículo como “vento”, “tempestade”, “lugares secos” e “terra sedenta”.

O versículo 3 descreve metaforicamente os dons espirituais que abundarão entre os justos sob o reinado do Senhor: “E os olhos dos que veem não olharão para trás; e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos”.[5] “Os que veem” significa “videntes”, e aqueles com a habilidade de identificar e compreender coisas espirituais, enquanto que “os que ouvem” refere-se àqueles com habilidades de ouvir a voz do Espírito. “Estarão atentos” significa aqueles que ouvem responderão os sussurros do Espírito. Esta declaração compara-se com uma descrição de Isaías sobre a chegada do Livro de Mórmon no capítulo 29, usando as mesmas metáforas físicas para descreverem qualidades espirituais: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão”.[6]

O versículo 4 continua com outras metáforas semelhantes: “E o coração dos imprudentes entenderá o conhecimento; e a língua dos gagos estará pronta para falar distintamente”. “Os imprudentes” significam “aqueles que agem impetuosamente”[7], enquanto que “os gagos” significam “aqueles que falam inarticuladamente”.[8] Este significado contrasta-se com “assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo” usado no capítulo 28, onde descreve os representantes do Senhor falando em línguas estrangeiras.[9]

O versículo 5 descreve o fim dos valores distorcidos característicos dos últimos dias: “Ao vil nunca mais se chamará liberal; e do avarento nunca mais se dirá que é generoso”. “Vil” significa “pessoa desprezível”.[10]

Estas frases paralelas enfatizam definições corretas das duas palavras que tiveram seus significados distorcidos intencionalmente em nosso tempo. Isaías prediz um tempo quando os líderes que têm títulos de nobreza, mas que na realidade são vis, grosseiros, avarentos, mentirosos ou trapaceiros não serão mais chamados de generoso.Isaías descreve esta inversão de significados deliberada no capítulo 5: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!”[11]

No versículo 6, Isaías provê uma dica simples para reconhecer os líderes iníquos—por suas ações ao invés de por suas posições elevadas: “Porque o vil fala obscenidade, e o seu coração pratica a iniquidade, para usar hipocrisia, e para proferir mentiras contra o Senhor, para deixar vazia a alma do faminto, e fazer com que o sedento venha a ter falta de bebida”.[12], [13] A palavra hebraica traduzida como “obscenidade” significa “loucura sem sentido” ou “profanação”.[14]

O versículo 7 continua a exposição de Isaías para que saibamos distinguir um governante iníquo: “Também todas as armas do avarento são más; ele maquina invenções malignas, para destruir os mansos com palavras falsas, mesmo quando o pobre chega a falar retamente”.[15] Esta frase significa que governantes corruptos com más intenções elaboram esquemas para enganar, medindo suas palavras cuidadosamente ou mentindo.

Quão impressionante é esta descrição de Isaías dos governantes iníquos de nosso tempo! Eles fingem que estão cuidando dos carentes para acumularem poderes políticos, mas eles destroem os pobres com suas mentiras. O Senhor deu esta mesma dica para distinguir malfeitores no Sermão da Montanha: “Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”[16]

O versículo 8 provê a verdade contrastante: “Mas o liberal projeta coisas liberais, e pela liberalidade está em pé”.[17] Liberalidade é uma qualidade pessoal grandemente valorizada pelo Senhor. O verdadeiro líder, aquele que reconhece o que se espera de um líder digno, atinge as expectativas.

Os versículos 9 até 11 exortam as mulheres de Israel, e como um exemplo, as mulheres dos últimos dias. O versículo 9 começa: “Levantai-vos, mulheres, que estais sossegadas, e ouvi a minha voz; e vós, filhas, que estais tão seguras, inclinai os ouvidos às minhas palavras”. “Sossegada” significa “tranquila” atualmente, mas a palavra hebraica de onde “sossegada” foi traduzida significa “confiante” ou “segura”.[18]

O versículo 10 continua: “Porque num ano e dias vireis a ser turbadas, ó mulheres que estais tão seguras; porque a vindima se acabará, e a colheita não virá”. Apesar da facilidade e conforto que gozam no presente, muitos anos de deprivação esperam por eles no futuro.

O versículo 11 conclui: “Tremei, mulheres que estais sossegadas, e turbai-vos vós, que estais tão seguras; despi-vos, e ponde-vos nuas, e cingi com saco os vossos lombos”.[19] Isaías prediz muitos anos de dificuldades e deprivação que lhes esperam—admoestando-os a tremerem e preocuparem-se, despirem-se ou retirarem o orgulho de dentro de si, e cingirem-se ou vestirem-se em sacos, que representam a humildade e o arrependimento.[20]

O versículo 12 descreve sua melancolia por haverem perdido o ambiente agradável que antes desfrutavam: “Baterão nos peitos, pelos campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas”.

Os versículos 8 até 12 contêm um quiasma:

A: (8) Mas o liberal projeta coisas liberais, e pela liberalidade está em pé.
B: (9) Levantai-vos, mulheres, que estais sossegadas,
C: e ouvi a minha voz;
D: e vós, filhas que estais tão seguras, inclinai os ouvidos às minhas palavras.
E: (10) Porque num ano e dias vireis a ser perturbadas,
F: ó mulheres que estais tão seguras;
G: porque a vindima se acabará,
G: e a colheita não virá.
F: (11) Tremei, mulheres que estais sossegadas,
E: e turbai-vos
D: vós, que estais tão seguras;
C: despi-vos e ponde-vos nuas,
B: e cingi com saco os vossos lombos.
A: (12) Baterão nos peitos, pelos campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas.

O termo “Coisas liberais” é complementado pelos “campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas”, que nos dá uma dica do que o profeta quis dizer. “Levantai-vos, mulheres que estais sossegadas” é contrastado com “cingi com saco os vossos lombos”, admoestando os privilegiados a arrependerem-se de sua arrogância. “Ouvi a minha voz” é equivalente a “despi-vos e ponde-vos nuas”, dando-nos uma explicação com sentido espiritual para a comparação. Aqueles que derem ouvidos à voz de advertência de Isaías deixarão de ser orgulhosos, colocando em lugar do orgulho as vestimentas do verdadeiro arrependimento. Devido a sobreposição destes quiasmas, todas as frases semelhantes a frase “mulheres que estais seguras” são equivalentes.

O versículo 13 descreve tanto o abandono físico da terra depois da queda de Jerusalém quanto a negligência mundial de assuntos espirituais.: “Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e sarças, como também sobre todas as casas onde há alegria, na cidade jubilosa”. Além do sentido literal de espinheiros e sarças crescendo numa terra negligenciada, também representam doutrinas falsas que surgem quando a vinha do Senhor é negligenciada devido a iniquidade.[21]

O versículo 14 continua a descrição de uma terra abandonada pelos seus habitantes: “Porque os palácios serão abandonados, a multidão da cidade cessará; e as fortificações e as torres servirão de cavernas para sempre, para alegria dos jumentos monteses, e para pasto dos rebanhos”. Animais ferozes andarão pelos palácios e fortificações abandonados de Jerusalém.

O versículo 15 descreve as condições que trará o fim deste período de devastação, abandono e negligência de assuntos espirituais: “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque”. O renascer espiritual descrito neste versículo refere-se à restauração nos últimos dias, predita anteriormente por Isaías.[22] Estas declarações paralelas, “o deserto se tornará em campo fértil” e “o campo fértil será reputado por um bosque” , indicam que a restauração espiritual seria universal—como precursor do reinado justo do Senhor. “Bosque” refere-se ao povo, e “campo fértil” significa seus sistemas econômicos.[23] Estas frases têm quase as mesmas palavras usadas por Isaías no capítulo 29 para descrever a restauração, exceto que aqui “deserto” foi substituído por “Líbano:” “Porventura não se converterá o Líbano, num breve momento, em campo fértil? E o campo fértil não se reputará por um bosque?”[24]

Os versículos 16 até 20 retornam quiasmaticamente ao reinado justo do Senhor, descrito nos versículos 1 até 4. O versículo 16 começa: “E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil”. O Senhor reinará em retidão durante Seu reinado milenar. “Juízo” significa “equidade” ou “justiça”.[25] Outros significados de “juízo” que se aplicam ao reinado do Senhor são: justiça social,[26] raciocínio são ou sensato,[27] e um sistema equitativo de leis.[28]

Os versículos 17 e 18 descrevem a paz que estará presente no reinado justo do Senhor. O versículo 17 começa: “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre”. Aqui Isaías descreve a segurança de saber que estamos vivendo de acordo com a votade de Deus.[29]

O versículo 18 continua: “E o meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso”. Não só estas condições prevalecerão durante o reinado do Senhor, é possível—pelo menos até um certo ponto, em épocas de iniquidade e tumultos mundiais—sentirmos paz em nossas próprias vidas e em nossos lares ao obedecermos com exatidão os mandamentos do Senhor.

O versículo 19 descreve a destruição que precederia o reinado justo do Senhor: “Mas, descendo ao bosque, cairá saraiva e a cidade será inteiramente abatida”. Aqui a destruição dos iníquos é caracterizada por uma tempestade de granizo, um dos elementos desta destruição predita. “Bosque” representa a nobreza, já “a cidade” neste caso, representa a humanidade em geral.

Está bem claro nas escrituras que a saraiva será um elemento de destruiçãos que ocorrerá antes da Segunda Vinda do Senhor. Anteriormente, no capítulo 28, Isaías declarou: “Eis que o Senhor tem um forte e poderoso; como tempestade de saraiva, tormenta destruidora, e como tempestade de impetuosas águas que transbordam, ele, com a mão, derrubará por terra” (ênfases adicionadas).[30] Da mesma forma: “E regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo” (ênfases adicionadas).[31]

“A linha” e “o prumo” são metáforas representando a retidão pessoal, e “a saraiva” e “as águas” representam o imponente exército assírio que devastaria Israel. “A saraiva” e “as águas” são também símbolos de incidentes literais de granizo (saraiva) e enchentes nos últimos dias. João, o Revelador, predisse uma chuva de granizo com efeitos cataclísmicos: “E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva; porque a sua praga era mui grande” (ênfases adicionadas).[32]

O versículo 20 descreve o estado abençoado dos sobreviventes justos no equivalente do Egito moderno: “Bem-aventurados vós os que semeais junto a todas as águas; e deixais livres os pés do boi e do jumento”. A queda econômica do Estados Unidos da América foi predita anteriormente por Isaías em termos das indústrias do Egito antigo, cuja agricultura era baseada em plantações ao longo do Rio Nilo.[33] Portanto, “vós os que semeais junto a todas as águas” refere-se diretamente aos Estados Unidos da América usando o Egito antigo como símbolo. Não haverá somente plantações e colheitas, mas também existirá a pecuária durante o reinado do Senhor sobre a Terra.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 53:5; 60:2; 63:7 e comentário pertinente.
[2]. O versículo 1 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Reinará/um rei//príncipes/dominarão. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 260.
[3]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 33:5; 41:1; 49:4; 53:8.
[4]. Ver Isaías 12:3; 27:3; 35:6-7; 55:11; 58:11.
[5]. O versículo 3 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Não olharão para trás/os olhos dos que veem//os ouvidos dos que ouvem/estarão atentos. Em Parry, 2001, p. 260.
[6]. Isaías 29:18.
[7]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 4116, p. 554-555.
[8]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5926, p. 748.
[9]. Ver Isaías 28:11.
[10]. Vil Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/vil.
[11]. Isaías 5:20.
[12]. Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma: O coração dos imprudentes/falar distintamente/ao vil nunca mais se chamará liberal//do avarento nunca mais se dirá que é generoso/fala obscenidade/seu coração.
[13]. O versículo 6 contém três quiasmas reconhecidso no hebraico original: Fala obscenidade/pratica a iniquidade/ para usar hipocrisia/proferir mentiras. Fala/obscenidade//iniquidade/seu coração pratica. Deixar/faminto/o sedento/venha a ter falta de bebida. Parry, 2001, p. 261.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5039, p. 615.
[15]. Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma: Faminto/o sedento venha a ter falta de bebida/maquina invenções//malignas/destruir os mansos com palavras falsas/pobre.
[16]. Mateus 7:16.
[17]. Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma: Maquina invenções malignas/palavras falsas//falar retamente/liberal projeta coisas liberais.
[18]. Brown et al., 1996, Número de Strong 982, p. 105.
[19]. Os versículos 9 até 11 contêm um quiasma: Mulheres, que estais sossegadas/filhas, que estais tão seguras/num ano//dias/mulheres que estais tão seguras/mulheres que estais sossegadas.
[20]. Compare Alma 5:28-29.
[21]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 9:18; 10:17; 27:4 e comentário pertinente.
[22]. Isaías 2:2-4; 18:1-7; 29:11-14.
[23]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:18-19, 33-34; 14:8; 29:17; 37:24; 55:12.
[24]. Isaías 29:17.
[25]. Ver Isaías 1:21; 30:18; 32:1; 33:5; 41:1; 49:4; 53:8.
[26]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 9:7; 42:1; 59:8, 14.
[27]. Ver Isaías 1:17; 28:7; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[28]. Ver Isaías 5:7; 51:4; 54:17.
[29]. Eldred G. Smith, “Peace” [Paz], Ensign, July 1972, p. 117.
[30]. Isaías 28:2.
[31]. Isaías 28:17.
[32]. Apocalipse 16:21; Ver também Apocalipse 8:7; 11:19; D&C 109:30.
[33]. Ver Isaías 19:5-10.

CAPÍTULO 3: “Os Que Te Guiam Te Enganam, E Destroem O Caminho Das Tuas Veredas”

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Neste capítulo Isaías prediz que, por causa da desobediência, Judá e Jerusalém seriam punidas com fome, opressão, insolência, pobreza e conflitos entre eles. O Senhor Jesus Cristo apela por e julga Seu povo. As filhas de Sião, tanto da antiguidade quanto da época de hoje, serão amaldiçoadas e atormentadas por causa de seu mundanismo. Néfi no Livro de Mórmon cita este capítulo por completo—compare 2 Néfi 13.

Esta profecia foi cumprida na antiguidade com a destruição de Israel pela Assíria e, mais tarde, a destruição de Judá pela Babilônia. Líderes governamentais e religiosos, soldados, artesãos e mestres—a maioria homens—foram levados cativos ou assassinados. Um número pequeno de sobreviventes, quase todos mulheres e crianças, foram deixados desamparados em sua terra. O que resultou em fome, anarquia e pobreza; mulheres e crianças foram deixados como governantes da terra.[1] Somos advertidos nos últimos dias de que o Senhor não permitirá que Seu povo permaneça por muito tempo em iniquidade. O materialismo extremo, o orgulho e grande iniquidade que vemos na sociedade de hoje são precursores para o julgamento, destruição e humilhação preditos.

No versículo 1 o Senhor proclama que Ele causará uma severa escassez sobre Judá e Jerusalém: “Porque, eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, tirará de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio; a todo o sustento de pão e a todo o sustento de água” — Várias escassezes históricas cumpriram esta profecia, inclusive aquelas dos séculos sétimo a.C. e sétimo d.C.[2] As escassezes preditas para os últimos dias, antes da Segunda Vinda de Cristo, são de grande significância para nós.[3]

É costume em muitas culturas que quando uma pessoa é colocada na prisão, a responsabilidade recai nos familiares e amigos de prover comida, água e roupas para ela.  O Senhor lembra à Judá e à Jerusalém, através desta analogia, que são tão dependentes Dele para seu sustento quanto um prisioneiro é dependente sobre aqueles fora de sua cela.

Novamente neste versículo a frase “Senhor, o SENHOR dos Exércitos” foi usada.[4] Aqui se denota a força e poder do Senhor como o comandante de exércitos inumeráveis; tendo, sem dúvidas, o poder de controlar a chuva e a colheita.

Nos versículos 2 e 3, Isaías descreve todos aqueles que se humilharão por causa da fome, enviada devido as suas iniquidades. O versículo 2 declara: “O poderoso, e o homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião” — Note que Isaías aqui incluiu “o adivinho”, que significa aqueles que preveem o futuro, mas não pelo poder do Senhor. Se eles pudessem prever o futuro de acordo com o conhecimento e poder Senhor, eles serviriam diligentemente e guardariam Seus mandamentos.

O versículo 3 continua: “O capitão de cinquenta, e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloquente orador” — Todos são iguais perante a Deus; todos serão igualmente punidos por suas corrupções.

As condições que Isaías descreve da antiga Jerusalém—que resultaram na derrota da cidade e captura do povo por potências estrangeiras—são exemplos das condições prevalente nos últimos dias entre os ímpios.

Como somos advertidos pelo profeta Amós, nem todas as fomes são de pão e água:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR.
“E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão.”[5]

Isaías sugere uma fome de ouvir a palavra Senhor, em conjunção com a fome de pão e água ao mencionar “o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião [que significa autoridade eclesiástica], o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloquente orador” que se envolve em esforços mentais, espirituais e consciente, que são muito diligentes em obter a palavra Senhor. O Senhor se comunica com Seu povo com a condição de retidão pessoal, através do Espírito Santo.[6] Uma fome espiritual se resulta da iniquidade prevalente, não de uma ação impetuosa do Senhor.[7]

No versículo 4, o Senhor declara: “E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles” O Livro de Mórmon apresenta assim: “E dar-lhes-ei mancebos por príncipes e crianças governá-los-ão”.[8] O jovem e os inexperientes, ou aqueles com um conhecimento imaturo sobre as leis de Deus e dos imperativos morais, serão líderes. Somos lembrados de cenas terríveis, como as que se passaram na Camboja no final dos anos 70, onde crianças perambulavam em busca de “inimigos do povo”, ao encontrarem aqueles que sabiam ler ou tinham alguma outra habilitação além de agricultor, essas crianças os condenavam a execução pelas mãos de revolucionários comunistas Pol Pot. Podemos antecipar mais destas atrocidades no futuro.

O versículo 5 descreve as consequências caóticas do domínio de pessoas que não conhecem as leis Deus ou que não tem um alicerce moral desenvolvido: “E o povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre”. Esta passagem descreve a anarquia evidente em bairros urbanos, que se espalharão até engolfar toda a terra. Podemos ver o cumprimento desta profecia neste versículo em nossas cidades, onde a criminalidade, violência de quadrilhas de marginais e terrorismo se espalharão por toda terra. Outro cumprimento desta profecia são as rebeliões comunistas mundiais, onde os lavradores (o proletariado) se organizam contra os donos de propriedades (a burguesia). A maior parte dessas condições acontecem por causa de leis injustas que enfraquecem o respeito pela lei e ordem, pela unidade da família, pela ética de trabalho e pela vida em geral.  O desrespeito ou insolência— “o menino se atreverá contra o ancião” —é prevalente em nossa sociedade.

Nos versículos 6, 7, e 8 continua a predição dos resultados de líderes que desconhecem as leis de Deus. O versículo 6 começa: “Quando alguém pegar de seu irmão na casa de seu pai, dizendo: Tu tens roupa, sê nosso governador, e toma sob a tua mão esta ruína”. O Livro de Mórmon apresenta assim: “e não deixes que esta ruína venha sob tua mão”.[9]

O versículo 7 continua: “Naquele dia levantará este a sua voz, dizendo: Não posso ser médico, nem tampouco há em minha casa, pão, ou roupa alguma; não me haveis de constituir governador sobre o povo”. Aqueles capazes de uma liderança moral se retiram ou declinam servir, para que não sejam culpados da ruína trazidas pela completa iniquidade, violência e escassez. O significado em hebraico é “Eu não posso curar suas feridas” (resolver seus problemas).[10]

Versículo 8 declara: “Porque Jerusalém está arruinada, e Judá caída; porque a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para provocarem os olhos da sua glória”.[11] Isaías resume a causa da ruína como fazendo o mau contra o Senhor, conscientemente, provocando Sua ira.

Versículos 1 até 8 contêm um quiasma:

A: (1) Porque, eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos,
B: tirará de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio;
C: a todo o sustento de pão e a todo o sustento de água;
D: (2) O poderoso, e o homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião, (3) O capitão de cinquenta, e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloquente orador.
E: (4) E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles.
F: (5) E o povo será oprimido; um será contra o outro,
F: e cada um contra o seu próximo;
E: o menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre.
D: (6) Quando alguém pegar de seu irmão na casa de seu pai, dizendo: Tu tens roupa, sê nosso governador, e não deixes que sob a tua mão venha esta ruína;
C: (7) Naquele dia levantará este a sua voz, dizendo: Não posso ser médico, nem tampouco há em minha casa pão, ou roupa alguma; não me haveis de constituir governador sobre o povo.
B: (8) Porque Jerusalém está arruinada, e Judá caída;
A: porque a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para provocarem os olhos da sua glória.

Este quiasma se centraliza na opressão, “cada um contra o seu próximo”. As razões são dadas nas declarações auxiliares—crianças agindo com insolência contra aqueles que merecem respeito e líderes do povo que carecem um julgamento moral amadurecido. Consequentemente, estas são as causas para o Senhor trazer a fome sobre o povo. Calamidade cairia sobre Jerusalém por causa da iniquidade de todos, da criança até os líderes.

No versículo 9, Isaías descreve a imoralidade manifesta—o iníquo declara seus pecados abertamente, até mesmo com orgulho, sem nenhuma vergonha: “O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos”. O Livro de Mórmon apresenta assim: “…declara que seu pecado é como Sodoma eles não podem escondê-lo…”.[12]

Os efeitos do pecado podem ser vistos em suas faces, que testificam contra eles. Esta imoralidade inclui, por exemplo, a homossexualidade. Bem como aqueles na Sodoma antiga que declaravam seus pecados abertamente, tornando-se o assunto público predominante, vemos o mesmo acontecendo em nossa sociedade. A homossexualidade, adultério, fornicação e corrupção de todos os tipos são praticados abertamente. Livros, filmes e televisão celebram os atos de imoralidade sem mostrar quaisquer consequências, atraindo, assim, o ingênuo ou o que se deixa levar a participar destas iniquidades.

Elder Spencer V. Jones do quórum dos Setenta recontou uma experiência que ele passou com Elder Richard G. Scott:

“Mas sempre, para o nosso Pai Celestial, e muitas vezes para líderes, pais e amigos espiritualmente sensíveis, nossos pecados transparecem vividamente. Em um serão para jovens com o Élder Richard G. Scott, notei jovens no meio da congregação, cujo semblante ou expressão corporal pareciam quase bradar que algo estava espiritualmente errado na vida deles. Depois da reunião, quando mencionei os cinco jovens ao Élder Scott, respondeu simplesmente: ‘eram oito’.”[13]

Versículos 8 e 9 contêm um quiasma:

A: (8) Porque Jerusalém está arruinada, e Judá caída; porque a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para provocarem os olhos da sua glória.
B: (9) O aspecto do seu rosto testifica contra eles;
C: e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam
C: e eles não podem escondê-lo.
B: Ai da sua alma!
A: Porque fazem mal a si mesmos.

A ruína é trazida sobre Judá e Jerusalém porque a ira do Senhor foi provocada pela grande imoralidade do povo. “Está arruinada”, “caída”, e “contra o Senhor” são equivalentes à “fazem mal”. Aqueles que pecam, colhem o mal para si mesmos, consequências de suas próprias escolhas. A frase “aspecto do seu rosto” complementa “sua alma”, ilustrando que os rostos das pessoas refletem a condição moral de suas almas. “Eles não podem escondê-lo” ensina que a condição da alma de uma pessoa não pode ser escondida—muito menos de Deus.

Os versículos 10 e 11 mencionam uma lei imutável. O versículo 10 declara: “Dizei ao justo que bem lhe irá; porque comerão do fruto das suas obras”. Os justos são abençoados com as recompensas de suas ações.

O versículo 11 contrasta: “Ai do ímpio! Mal lhe irá; porque a recompensa das suas mãos se lhe dará”. O Livro de Mórmon apresenta assim: “Ai dos ímpios, porque perecerão; porque de suas próprias mãos receberão a recompensa!”[14] Os ímpios serão amaldiçoados por causa de suas ações, enquanto os justos serão abençoados. Em cada caso, a lei da colheita se aplica; colhemos o que plantamos.[15]

Versículos 9 até 11 contêm um quiasma:

(9) O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. E eles não podem escondê-lo.
A: Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos.
B: (10) Dizei ao justo
C: que bem lhe irá;
D: porque comerão do fruto das suas obras.
C: (11) Ai
B: do ímpio! porque perecerão;
A: porque de suas próprias mãos receberão a recompensa!

Tanto a retidão quanto a iniquidade são devidamente recompensados pelo Senhor. Os justos recebem as bênçãos e benefícios de suas virtudes, enquanto que os injustos não poderão escapar as más consequências de sua imoralidade. Neste quiasma o bem-estar dos justos é contrastado com as angústias dos injustos; tanto os justos quanto os injustos “comerão do fruto das suas obras”.

O versículo 12 tem o mesmo significado do versículo 4: “Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele; ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas”. A frase “o caminho das tuas veredas” significa o conhecimento do Plano de Salvação; o caminho estreito e apertado que leva à salvação se tornaria retorcido e corrupto pelos governantes.[16] “Crianças” caracterizam os líderes que não possuem um julgamento moral amadurecido, ao passo que “mulheres” caracterizam os líderes eclesiásticos sem a autoridade do sacerdócio—ao invés de estar diminuindo a capacidade da mulher de governar justa e efetivamente.

Esta descrição caracteriza as antigas Judá e Israel depois que a maioria foi levada em cativeiro —especialmente líderes e pessoas com habilidades úteis—e os homens que resistiram foram mortos, deixando mulheres e crianças desamparados na terra. Para nós, esta passagem prediz as condições prevalecentes nos últimos dias.

O versículo 13 mostra que o Senhor—Jeová, ou Jesus Cristo—será o juiz de Israel: “O Senhor se levanta para pleitear, e põe-se de pé para julgar os povos”. Durante Seu ministério mortal o Senhor Jesus Cristo enfatizou Seu papel de juiz: “Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem”.[17] O Senhor fará justiça para as nações oprimidas.

O versículo 14 testifica que o Senhor julgará os opressores do povo: “O Senhor entrará em juízo contra os anciãos do seu povo”, que significa os líderes eclesiásticos, e os que deveriam ter uma sabedoria amadurecida, “e contra os seus príncipes”, que significa líderes políticos; “é que fostes vós que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está em vossas casas”. Os líderes do povo se enriqueceram por haver roubado e perseguido os pobres. “Juízo”, como foi usado neste versículo, significa “retribuição”, ou dar aos líderes o que merecem por sua grande iniquidade.[18]

Néfi, interpretou as profecias de Isaías concernentes a esta corrupção dos políticos e líderes eclesiásticos:

“Sim, e haverá muitos que ensinarão desta maneira doutrinas falsas, vãs e tolas; e encherão o coração de orgulho e procurarão esconder profundamente do Senhor os seus desígnios secretos; e farão as suas obras às escuras.
“E o sangue dos santos clamará contra eles, desde a terra.
“Sim, todos saíram do caminho; eles corromperam-se.
“Por causa do orgulho e por causa de falsos mestres e falsas doutrinas, suas igrejas corromperam-se e suas igrejas exaltaram-se; porque estão inchados de orgulho.
“Roubam os pobres por causa de seus belos santuários; roubam os pobres por causa de suas ricas vestimentas; e perseguem os mansos e os de coração contrito, porque estão inchados de orgulho.
“Têm a cerviz dura e a cabeça levantada; sim, e por causa de seu orgulho e iniquidades e abominações e libertinagens, desviaram-se todos, exceto alguns poucos, que são os humildes seguidores de Cristo; não obstante, são guiados de tal maneira que erram em muitas coisas, porque são ensinados pelos preceitos dos homens.”[19]

Somos testemunhas de tais corrupções num grau extremo em nossa sociedade.

No versículo 15, o Senhor pronuncia uma séria acusação: “Que tendes vós, que esmagais o meu povo e moeis as faces dos pobres? Diz o Senhor DEUS dos Exércitos”. Novamente, Sua ira é dirigida aos líderes políticos e eclesiásticos, que têm se enriquecido as custas do pobre.

Os versículos 12 até 15 contêm um quiasma:

A: (12) Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele;
B: ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas.
C: (13) O Senhor se levanta para pleitear, e põe-se de pé para julgar os povos.
C: (14) O Senhor entrará em juízo
B: contra os anciãos do seu povo, e contra os seus príncipes; é que fostes vós que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está em vossas casas.
A: (15) Que tendes vós, que esmagais o meu povo e moeis as faces dos pobres? Diz o Senhor DEUS dos Exércitos.

O Senhor julgará tanto os oprimidos quanto os opressores. Líderes eclesiásticos e civis têm oprimido os pobres para o seu próprio proveito; líderes corruptos fazem com que o povo se desvie dos caminhos do Senhor. Como consequência, crianças e mulheres governariam o povo.

No versículos 16 e 17, o Senhor ferirá as filhas de Sião por sua altivez. O versículo 16 descreve suas libertinagens: “Diz ainda mais o Senhor: Porquanto as filhas de Sião se exaltam, e andam com o pescoço erguido, lançando olhares impudentes; e quando andam, caminham afetadamente, fazendo um tilintar com os seus pés” —

A palavra hebraica Sião, que significa “lugar seco”,[20] tem diferentes significados nas escrituras. Durante a época de Davi era o nome de um forte perto de Jerusalém;[21] a Arca do Convênio foi trazida de lá para o templo em Jerusalém por Salomão.[22] O monte onde ficava o templo em Jerusalém era conhecido como o Monte de Sião,[23] e Sião foi usada por muitos autores bíblicos como um sinônimo poético para Jerusalém.[24] Sião também se refere à coligação espiritual nos últimos dias —a restauração da plenitude do evangelho e o estabelecimento de um povo que viveria segundo os princípios do evangelho.[25]  Sião, portanto, é um lugar onde os puros de coração habitariam.[26] Esta definição pode ser substituída pela palavra Sião para auxiliar a compreensão da passagem: “Porquanto as filhas dos puros de coração são altivas…”. Em contraste, a Jerusalém dos últimos dias significa um lugar para a coligação física das tribos perdidas de Israel, seja no lugar original em Jerusalém ou outro lugar.[27] Uma “Nova Jerusalém” para a coligação de algumas das tribos seria estabelecida no continente americano.[28] A variedade de significados de palavras como “Sião” e “Jerusalém” fornece uma chave para entendermos os significados ocultos e o cumprimento recorrente das profecias de Isaías em várias dispensações.

No versículo 16 Sião tem duplo significado—um lugar para a coligação espiritual nos últimos dias, como também um sinônimo para a Jerusalém antiga e a dos últimos dias.[29] As acusações proféticas de Isaías de mundanismo se aplicam tanto ao povo do convênio do Senhor da antiguidade quanto ao moderno.

O Senhor admoestou os Santos dos Últimos Dias a respeito de vaidade:

“E em tempos passados, vossa mente escureceu-se por causa da descrença e porque tratastes com leviandade as coisas que recebestes—
“Vaidade e descrença essas que levaram toda a igreja à condenação.[30]

A vaidade aflige à Sião moderna como afligiu à antiga Israel.

O versículo 17 descreve a maldição: “Portanto o Senhor fará tinhoso o alto da cabeça das filhas de Sião, e o Senhor porá a descoberto a sua nudez”. “Porá a descoberto a sua nudez” vem do hebraico e significa “colocar em desonra”.[31]

Nos versículos 18 até 23 ornamentos, acessórios, e peças de roupas são mencionados. A nota de rodapé 18a na Bíblia SUD em inglês diz: “As autoridades nem sempre concordam com a natureza dos ornamentos femininos alistado…”[32] A tradução de João Ferreira de Almeida usa palavras com significados que são, em geral, comumente usados e que são familiares para os leitores. No entanto, a comparação dessas palavras com suas definições no dicionário[33] ou no léxico hebraico[34] pode ajudar.

No versículo 18 começa a lista de Isaías de acessórios: “Naquele dia tirará o Senhor os ornamentos dos pés, e as toucas, e adornos em forma de lua”.
Ornamentos dos pés: tudo o que serve para ornamentar ou abrilhantar; adorno[35]. Ornamento que se coloca no tornozelo.
Toucas: Arcos para a cabeça.[36]
Adornos em forma de lua: ornamentos em forma de lua crescente.[37]

O versículo 19 continua a alistar mais acessórios a serem usados pelas mulheres vãs dos últimos dias: “Os pendentes, e os braceletes, as estolas”.
Pendentes: pequeno objeto ou ornamento que pende ou se pendura[38]
Braceletes: adorno circular para trazer no braço; pulseira[39]
Estolas: acessório do vestuário feminino, geralmente de peles, que é utilizado à volta do pescoço ou sobre os ombros[40].

O versículo 20 alista mais itens de roupas e ornamentos: “Os gorros, e os ornamentos das pernas, e os cintos e as caixinhas de perfumes, e os brincos”
Ornamentos das pernas: Tornozeleiras.[41] Tornozeleiras que tilintam quando a mulher anda.
Cintos:  Cintos para ornamentação.[42]

O versículo 21 menciona joias: “Os anéis, e as joias do nariz”.
Joias do nariz: Anéis de nariz ou pedras preciosas.[43]

Versículo 22 descreve mais peças de roupas e acessórios: “Os vestidos de festa, e os mantos, e os xales, e as bolsas”
Vestidos de festa: Roupas ou fantasias usadas nas festas.[44]
Mantos: Túnicas.[45] Túnica é uma peça de vestuário ampla, com ou sem mangas.[46]
Xales: Traduzido da palavra hebraica que significa capas.[47]

O versículo 23 completa a lista: “Os espelhos, e o linho finíssimo, e os turbantes, e os véus”.
Linho finíssimo: Roupa usada como roupa íntima ou como roupa de dormir; feita de fábrica fina ou linho fino.[48]
Turbantes: espécie de banda de tecido que se enrola à volta da cabeça. [49]
Véus: tecido mais ou menos transparente com que se encobre o rosto ou qualquer objeto.[50]

O versículo 24 descreve o resultado da ira do Senhor haver se derramado sobre as filhas de Sião: “E será que em lugar de perfume haverá mau cheiro; e por cinto uma corda; e em lugar de encrespadura de cabelos, calvície; e em lugar de veste luxuosa, pano de saco; e queimadura em lugar de formosura”. Pano de saco é um antigo hábito fúnebre ou de penitência.[51]  “Queimadura” significa marca ou cicatriz.[52] Antigamente era costume marcar os escravos com um estigma ou ferrete. Na época atual esses tipos de estigmas são raros; talvez foi mostrado a Isaías as tatuagens que estão cada vez mais comuns nos homens e mulheres. As pessoas, por causa de suas iniquidades, seriam feridas, assassinadas e vendidas como escravos.

Os versículos 25 e 26 descreve a devastação que recairia sobre Jerusalém da antiguidade e sobre Sião nos últimos dias. O versículo 25 declara: “Teus homens cairão à espada e teus poderosos na peleja”.

O versículo 26 completa a profecia: “E as suas portas gemerão e prantearão; e ela, desolada, se assentará no chão”. Ao invés de sentar em esplendor num lugar de honra, o trono de Jerusalém seria removido—deixando somente o chão para se sentar. Esta profecia se refere à época que Jerusalém foi destruída em 587 a.C., e também ao tempo futuro quando o orgulho tomaria conta dos corações das mulheres de Sião, que terão que pagar as consequências mencionadas. Quem poderia argumentar as claras descrições que Isaías deu sobre o nosso tempo e o comportamento das pessoas orgulhosas em nossa sociedade?

NOTAS

[1]. Victor L. Ludlow, “Isaiah Chapter Review[Revisão dos Capítulos de Isaías]: 2 Nephi 13/Isaiah 3”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 360-362.
[2]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 101.
[3]. Ver Doutrina e Convênios 87:6; Joseph Smith—História1:45.
[4]. Ver também Isaías 1:24.
[5]. Amós 8:11-12.
[6]. Ver 1 Néfi 17:45; Efésios 4:19.
[7]. Ver 1 Crônicas 21:9-12.
[8]. 2 Néfi 13:4.
[9]. 2 Néfi 13:6.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [ Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2280, p. 289.
[11]. Versículo 8 contém um quiasma reconhecido no hebraico: Arruinada/Jerusalém/Judá /caída. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research and Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 258.
[12]. 2 Néfi 13:9.
[13]. Spencer V. Jones, “Sobrepujar o Mau Cheiro do Pecado”, A Liahona, Mayo de 2003, p. 88.
[14]. 2 Néfi 13:11.
[15]. Ver Jó 4:8; Oséias 10:12; Mosias 7:30-31; D. e C.  6:33.
[16]. Ver Isaías 8:11; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[17]. João 5:26-27.
[18]. Ver Isaías 1:17; 4:4; 28:6; 34:5.
[19]. 2 Néfi 28:9-14.
[20]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [ Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, 1216 p.; Número de Strong 6726, p. 851.
[21]. Ver 2 Samuel 5:7; 2 Crônicas 5:2.
[22]. Ver 1 Reis 8:1.
[23]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69.
[24]. Ver, por exemplo, Isaías 1:8.
[25]. Compare Moisés 7:17-21, onde descreve um povo antigo de Sião.
[26]. Ver D. e C. 97:21.
[27]. Ver Isaías 51:11.
[28]. Ver 3 Néfi 20:22; Éter 13:3-6, 10; D. e C. 84:2-4; Apocalipse 3:12; 21:2; 3 Néfi 21:23-24; D. e C. 42:9, 35, 62, 67; 45:66; 133:56; Moisés 7:62; Regras de Fé 1:10.
[29]. Ver Isaías 1:27; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 51:3.
[30]. D. e C. 84:54-55.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6168, p. 788; Ver também Isaías 3:17, nota de rodapé 17a na Bíblia SUD em inglês.
[32]. Isaías 3:18, nota de rodapé 18a na Bíblia SUD em inglês.
[33]. Dicionário da Língua Portuguesa da Editora Porto – com Acordo Ortográfico [Em Linha]: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/
[34]. Brown et al., 1996, 1185 p.
[35]. Ornamentos Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ornamentos.
[36]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7636, p. 987.
[37]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7720, p. 962.
[38]. Pendentes Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/pendentes.
[39]. Braceletes Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/braceletes.
[40]. Estolas Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/estolas.
[41]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6807, p. 857.
[42]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1549, p. 163.
[43]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5141, p. 633.
[44]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4254, p. 323.
[45]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4595, p. 742.
[46]. Túnica Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na  http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/túnica
[47]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4304, p. 381.
[48]. Brown et al., 1996, Número de Strong 5466, p. 690.
[49]. Turbante Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/turbante
[50]. Véus Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/véus
[51]. Saco Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/saco
[52]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3587, p. 465.