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CAPÍTULO 22: “Comamos E Bebamos, Porque Amanhã Morreremos”

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No capítulo 22 Isaías profetiza acerca dos últimos dias precedendo a época em que Jerusalém seria destruída. Seu povo seria atacado, açoitado e levado em cativeiro pela Babilônia. No capítulo 22 também se encontra as profecias concernentes ao Messias, que possuiria as chaves da casa de Davi, herdaria glória e seria pregado bem como os cravos no lugar seguro. Neste capítulo Isaías refere-se à Jerusalém alternadamente como “o vale da visão”, a “filha do meu povo”, e a “cidade de Davi”.

O versículo 1 começa: “Peso do vale da visão. Que tens agora, pois que com todos os teus subiste aos telhados?” “Peso do vale da visão” significa “uma mensagem de condenação para Jerusalém”. A expressão “vale da visão” refere-se à Jerusalém como sendo a cidade dos profetas. Os telhados permitiam uma boa vista para se observar o que estava acontecendo, e oferecia uma medida de segurança contra os exércitos invasores. Os telhados eram também um lugar tradicional para os que estavam de luto.[1]

No versículo 2, o profeta continua: “Tu, cheia de clamores, cidade turbulenta, cidade alegre, os teus mortos não foram mortos à espada, nem morreram na guerra”.[2]  A frase “Cheia de clamores” significa cheia de barulho. Os mortos da cidade estão mortos para as coisas espirituais e justas, ao invés de terem sidos feridos pela espada. “Cidade alegre”, juntamente com “cidade turbulenta”, conotam cenas de folia e festas.

No versículo 3, Isaías prevê: “Todos os teus governadores juntamente fugiram, foram atados pelos arqueiros; todos os que em ti se acharam, foram amarrados juntamente, e fugiram para longe”. Os governantes e outros com habilidades que podiam ser usadas pelos conquistadores invasores babilônicos seriam preservados, porém seriam amarrados e levados cativos. A menção aos “arqueiros” refere-se ao exército invasor, ou aos seus componentes.

No versículo 4 Isaías chora ao ver nesta visão a invasão e assolação da cidade de Jerusalém: “Portanto digo: Desviai de mim a vista, e chorarei amargamente; não vos canseis mais em consolar-me pela destruição da filha do meu povo”. Ele lamenta, apesar de repudiar as iniquidades do povo. A menção que Isaías fez acerca de Jerusalém como a “filha do meu povo”, refere-se à beleza da amada cidade.

O versículo 5 começa: “Porque dia de alvoroço, e de atropelamento, e de confusão é este da parte do Senhor DEUS dos Exércitos, no vale da visão; dia de derrubar o muro e de clamar até aos montes”. Isaías reconhece que, apesar de seu sofrimento expressado no versículo 4, a destruição de Jerusalém é da vontade do Senhor DEUS dos exércitos. “Dia de derrubar o muro e de clamar até aos montes” são maiores detalhes sobre a destruição e a angústia.

O versículo 6 descreve a aliança dos antigos adversários de Jerusalém com a Babilônia para destruí-la: “Porque Elão tomou a aljava, juntamente com carros de homens e cavaleiros; e Quir descobriu os escudos”. Elão é a Pérsia, e Quir é a capital de Moabe.

No versículo 7, Isaías descreve a invasão assustadora e o cerco da hoste destruidora: “E os teus mais formosos vales se encherão de carros, e os cavaleiros se colocarão em ordem às portas”.[3] Os cavaleiros, ou guerreiros montados, colocar-se-iam nos portões de Jerusalém a fim de controlarem a entrada e a saída.

O versículo 8 descreve a total humilhação de Judá: “E ele tirou a coberta de Judá” tem um significado semelhante à frase “descobrir suas partes secretas”,[4] um significado no idioma hebraico é “envergonhá-los”. Isaías continua: “E naquele dia olhaste para as armas da casa do bosque”. Isto significa que Zedequias confiaria em forças militares, ao invés de no Senhor.

A casa do bosque era um segundo palácio edificado por Salomão no monte do templo, usado para o armazenamento de armaduras e armas.[5] Era chamado de casa do bosque porque foi construído com materiais importados dos bosques do Líbano.

O versículo 9 refere-se à “derrubar o muro” da cidade, mencionada no versículo 5: “E vistes as brechas da cidade de Davi, porquanto já eram muitas, e ajuntastes as águas do tanque de baixo”. Os defensores tentariam preservar um abastecimento de água para a cidade; parar o fornecimento de água aos habitantes da cidade é uma estratégia efetiva durante o período de cerco. O tanque de baixo foi construído durante o reinado de Ezequias.[6]

O versículo 10 descreve medidas adicionais adotadas pelos defensores da cidade: “Também contastes as casas de Jerusalém, e derrubastes as casas, para fortalecer os muros”. A fim de combater os esforços dos invasores de quebrar os muros do lado de fora, os defensores, em desespero, derrubaram casas em Jerusalém para prover materiais para fortalecer os muros da cidade do lado de dentro.

No versículo 11, Isaías prediz outros esforços para preservar os reservatórios de água durante o cerco: “Fizestes também um reservatório entre os dois muros para as águas do tanque velho, porém não olhastes acima, para aquele que isto tinha feito, nem considerastes o que o formou desde a antiguidade”.[7] Os defensores de Jerusalém não se voltaram ao Senhor para que os socorresse.

Os versículos 12 e 13 falam sobre o chamado do Senhor ao arrependimento e a subsequente rejeição de Jerusalém a este chamado; continuando com suas celebrações, como de costume. O versículo 12 começa: “E o Senhor DEUS dos Exércitos, chamou naquele dia para chorar e para prantear, e para raspar a cabeça, e cingir com o cilício”. Cingir com cilício, prantear e raspar a cabeça são sinais exteriores de arrependimento.

O versículo 13 descreve as constantes folias e festas de Jerusalém: “Porém eis aqui gozo e alegria, matam-se bois e degolam-se ovelhas, come-se carne, e bebe-se vinho, e diz-se: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Suas festividades eram para desafiar o chamado do Senhor ao arrependimento, que foi transmitido pelo profeta.

A última frase do versículo 13 foi citada pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento: “Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.[8]

Néfi, no Livro de Mórmon, parafraseou e expandiu esta frase, descrevendo a forma de pensar dos iníquos:

“Sim, e haverá muitos que dirão: Comei, bebei e alegrai-vos, porque amanhã morreremos; e tudo nos irá bem.
“E muitos também dirão: Comei, bebei e diverti-vos; não obstante, temei a Deus—ele justificará a prática de pequenos pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos de alguém por causa de suas palavras, abri uma cova para o vosso vizinho; não há mal nisso. E fazei todas estas coisas, porque amanhã morreremos; e se acontecer de sermos culpados, Deus nos castigará com uns poucos açoites e, ao fim, seremos salvos no reino de Deus.”[9]

Os ímpios criam desculpas para não se arrependerem.

No versículo 14, Isaías testifica contra os habitantes impenitentes de Jerusalém: “Mas o SENHOR dos Exércitos revelou-se aos meus ouvidos, dizendo: Certamente esta maldade não vos será expiada até que morrais, diz o Senhor DEUS dos Exércitos”.[10]

Nos versículos 15 até 19 o Senhor envia uma advertência pessoal a Sebna, através de Isaías. Sebna era um escriba e tesoureiro da casa do rei Ezequias, o qual testemunhou o discurso blasfemo de Rabsaqué, servo do rei assírio Senaqueribe, bem como os acontecimentos que culminaram quando o Senhor feriu os 185.000 das hostes assírias.[11] O versículo 15 inicia: “Assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos: Anda e vai ter com este tesoureiro, com Sebna, o mordomo, e dize-lhe” — Sebna era responsável pelo palácio do rei e por seus negócios.

No versículo 16, continuando a sentença do versículo anterior, começa a exortação do Senhor para Sebna: “Que é que tens aqui, ou a quem tens tu aqui, para que cavasses aqui uma sepultura? Cavando em lugar alto a sua sepultura, e cinzelando na rocha uma morada para ti mesmo?”[12] O Senhor diz que sua posição na casa do rei resultaria em sua morte—que seus esforços em estabelecer sua posição como o cabeça na casa do rei, era como cavar sua própria sepultura.

Os versículos 17 até 19 continua a admoestação do Senhor para Sebna. O versículo 17 afirma: “Eis que o Senhor te arrojará violentamente como um homem forte, e de todo te envolverá”. Era de costume transportar os prisioneiros com os olhos vendados. Ezequiel profetizou: “…cobrirás o teu rosto, para que não vejas a terra…”. Muitos dos que foram carregados cativos estavam com seus olhos vendados, para não poderem ver como regressar.[13]

O versículo 18 continua: “Certamente com violência te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso; ali morrerás, e ali acabarão os carros da tua glória, ó opróbrio da casa do teu senhor”. Sebna seria carregado para Assíria, onde passaria o resto de sua vida.

O versículo 19 conclui: “E demitir-te-ei do teu posto, e te arrancarei do teu assento”.[14] Sebna seria removido pelo Senhor de sua posição elevada na casa do rei.

Os versículos 20 e 21 descrevem a época em que Eliaquim, um servo de Ezequias, que também testemunhou o discurso blasfemo de Rabsaqué (o servo do rei assírio Senaqueribe), seria colocado na posição de Sebna. O versículo 20 começa: “E será naquele dia que chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias”.

O versículo 21 afirma: “E vesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto”, que representa a transferência da honra, que antes pertencia a Sebna. “E entregarei nas suas mãos o teu domínio, e será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá”.[15] A posição de Sebna na casa do rei seria dada a Eliaquim.

Nos versículos 22 até 25, o ponto principal de repente muda, adiantando-se mais de 100 anos, falando agora de uma outra pessoa com o mesmo—Eliaquim, o filho de Josias, que tornar-se-ia rei. O significado hebraico deste nome, Eliaquim, é “Deus levanta” ou “Deus estabelece”.[16]  Nos versículos 22 até 25, este nome simbólico vem a ser um símbolo para o Salvador.

O versículo 22 declara: “E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro”, que significa que tanto Eliaquim, o filho de Josias, quanto Jesus Cristo, o Messias, “abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá”. Estas duas frases referem-se ao poder de selamento do Sacerdócio de Melquisedeque, que o rei Eliaquim não possuía, mas que Jesus Cristo possui.[17] Para Eliaquim, estas frases descrevem autoridade real absoluta.

João, o revelador, no Novo Testamento, citou o versículo 22: “E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre”.[18] Aqui João refere-se ao direito da herança davídica e ao santo sacerdócio que o Senhor Jesus Cristo possui.

O versículo 23 declara, referindo-se a Eliaquim e ao Senhor Jesus Cristo: “E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme, e será como um trono de honra para a casa de seu pai”. Quando está falando de Cristo, está se referindo à crucificação; mas quando se trata do rei Eliaquim—um predecessor de Cristo como herdeiro do trono de Davi—refere-se ao fato que ele seria estabelecido firmemente no poder. Para os discípulos do Senhor, no tempo da Sua Segunda Vinda, quando Ele assumir a liderança como um herdeiro do trono de Davi, este conhecimento do significado desta frase servirá como um teste de suas crenças.[19]

Os versículos 22 e 23 contêm um quiasma:

A: (22) E porei a chave da casa de Davi
B: sobre o seu ombro;
C: e abrirá,
D: e ninguém fechará;
D: fechará,
C: e ninguém abrirá.
B: (23) E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme,
A: e será como um trono de honra para a casa de seu pai.

Tanto Eliaquim como Cristo seriam herdeiros do trono de Davi; ambos seriam poderosos.

O versículo 24 refere-se novamente ao rei Eliaquim e ao prometido Messias: “E nele pendurarão toda a honra da casa de seu pai, a prole e os descendentes, como também todos os vasos menores, desde as taças até os frascos”, ou seja, tudo o que pertence ao trono de Davi, até mesmo os vasos menores da casa. “Nele pendurarão” é uma frase meio estranha para descrever os atributos reais a serem dados a ambos; mas em referência ao Senhor Jesus Cristo está falando sobre quando Ele foi pregado e pendurado na cruz.

O versículo 24 contém um quiasma:

A: (24) E nele pendurarão
B: toda a honra da casa de seu pai,
C: a prole
C: e os descendentes,
B: como também todos os vasos menores,
A: desde as taças até os frascos.

Os vasos da casa do rei servem como símbolos da glória, ou autoridade, tanto do rei quanto do prometido Messias.

O versículo 25 conclui: “Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, o prego fincado em lugar firme será tirado; e será cortado, e cairá, e a carga que nele estava se desprenderá, porque o Senhor o disse”. Esta passagem refere-se a Cristo, quando foi retirado da cruz depois de sua morte, mas também refere-se a Eliaquim, quando foi removido de sua posição como rei de Judá, colocado em grilhões e carregado cativo para a Babilônia.[20] Quando se refere a Cristo, “a carga que nele estava” refere-se à inestimável carga do pecado que Ele tomou sobre si no Jardim do Getsêmani, a qual seria retirada de todos os que se arrependerem. Isaías, ao referir-se à expiação de Cristo, falou no capítulo 53: “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.[21]

O versículo 25 contém um quiasma:

A: (25) Naquele dia, diz o Senhor dos exércitos,
B: o prego fincado em lugar firme será tirado;
C: e será cortado,
C: e cairá;
B: e a carga que nele estava se desprenderá,
A: porque o Senhor o disse.

“Diz o Senhor dos exércitos” corresponde-se à frase “porque o Senhor o disse”. Isaías presta um grande testemunho de que suas palavras vieram de Deus e não de um homem.

NOTAS

[1]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 196.
[2]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Que tens agora/cidade turbulenta//cidade alegre/os teus mortos não são mortos à espada/nem morreram na guerra.
[3]. O versículo 7 contém um quiasma: Vales/se encherão de carros/cavaleiros/se colocarão em ordem /às portas.
[4]. Isaías 3:17.
[5]. 1 Reis 7:2.
[6]. 2 Reis 20:20.
[7]. Ver Isaías 7:3.
[8]. 1 Coríntios 15:32.
[9]. 2 Néfi 28:7-8.
[10]. Os versículos 1 até 14 contêm um quiasma de grande escala: Que tens agora/cidade alegre/chorarei amargamente/porque dia de alvoroço…é/no vale da visão/Elão tomou a aljava//Quir descobriu os escudos/teus mais formosos vales/ele tirou a coberta de Judá/chamou naquele dia para chorar/gozo e alegria/esta maldade não vos será expiada até que morrais.
[11]. Ver 2 Reis 18:18-37 e 2 Reis 19.
[12]. O versículo 16 contém um quiasma: Que é que tens aqui/a quem tens tu aqui//para que cavasses aqui uma sepultura?/cavando em lugar alto a tua sepultura/cinzelando na rocha uma morada para ti mesmo?
[13]. Ver Ezequiel  12:3-6, 11-13.
[14]. Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma: Te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso/ali morrerás/carros da tua glória//ó opróbrio da casa do teu senhor/demitir-te-ei do teu posto/te arrancarei do teu assento.
[15]. Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Naquele dia/chamarei a meu servo Eliaquim/vesti-lo-ei//cingi-lo-ei/entregarei nas suas mãos o teu domínio/será como pai para os moradores de Jerusalém.
[16]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 471, p. 45.
[17]. Ver 1 Reis 17:1; Malaquias 4:5; Helamã 10:7; D&C 1:8; D&C 132:46 .
[18]. Apocalipse 3:7.
[19]. Ver Isaías 49:16 e comentário pertinente. Ver também Russell M. Nelson, “Preparação Pessoal Para as Bênçãos do Templo”, A Liahona, Julho de 2001, p. 38.
[20]. Ver 2 Crônicas 36:4-9.
[21]. Isaías 53:5.

CAPÍTULO 21: “Vai, Põe Uma Sentinela, E Ela Que Diga O Que Vir”

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O capítulo 21 descreve a queda da Babilônia, significando tanto o antigo império quanto o mundo pecador atual. Os efeitos desta catástrofe, sobre outras nações também foram descritos aqui. A destruição da Babilônia atual seguirá à destruição da superpotência moderna equivalente ao Egito, pelas mãos do equivalente moderno da Assíria. A destruição e humilhação do Egito foram descritas nos capítulos anteriores.[1]

O versículo 1 começa: “Peso do deserto do mar. Como os tufões de vento do sul, que tudo assolam, ele virá do deserto, de uma terra horrível”. “Peso do deserto do mar” significa “uma profecia sobre o deserto adjacente ao mar”. Esta declaração feita por Isaías designa o ponto de entrada de um exército invasor vindo de “uma terra horrível” —passando pelo deserto como um grande redemoinho de vento, sem dúvidas levantando enormes nuvens de poeira.

O versículo 2 começa: “Dura visão me foi anunciada: o pérfido trata perfidamente, e o destruidor anda destruindo. Sobe, ó Elão, sitia, ó Média, que já fiz cessar todo o seu gemido”. “O pérfido” significa “aquele que age de má fé” ou “enganosamente”.[2] A frase final do versículo 2 revela os nomes dos invasores antigos— Elão (Pérsia) e Média.[3] Esta frase também refere-se aos seus homólogos modernos simbolicamente. Os efeitos pessoais que esta dolorosa visão causou a Isaías são descritas mais tarde nos versículos 3 e 4.

O versículo 2 contém um quiasma:

A: (2) Dura visão me foi anunciada:
B: o pérfido trata perfidamente,
C: e o destruidor anda destruindo.
C: Sobe, ó Elão,
B: sitia, ó Média;
A: já fiz cessar todo o seu gemido.

“O pérfido trata perfidamente” corresponde com “sitia, ó Média”, identificando o pérfido; e “o destruidor anda destruindo” corresponde à “sobe, ó Elão”, identificando o destruidor.

Os versículos 3 e 4 descrevem a angústia de Isaías ao receber esta visão. O versículo 3 declara: “Por isso os meus lombos estão cheios de angústia; dores se apoderam de mim como as dores daquela que dá à luz; fiquei abatido quando ouvi, e desanimado vendo isso”. Estes símiles descrevem as dores que Isaías sentiu quando recebeu esta visão. Suas declarações atestam que ele viu e ouviu vividamente, indicando seu papel como vidente e profeta.

O versículo 4 continua: “O meu coração se agita, o horror apavora-me; a noite que desejava, se me tornou em temor”. Isaías ficou admirado com as cenas catastróficas que viu nesta visão, apesar do fato de que a nação destruída foi a nação inimiga.[4] “O meu coração se agita” provavelmente significa “o meu coração batia”; “a noite que desejava” significa que a sua noite de sono agradável foi perturbada.[5]

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

A: (3) Por isso os meus lombos estão cheios de angústia;
B: dores apoderaram-se de mim
C: como as dores daquela que dá à luz;
D: fiquei abatido quando ouvi,
D: e desanimado vendo isso.
C: (4) O meu coração se agita,
B: o horror apavora-me;
A: a noite que desejava, se me tornou em temor.

Este quiasma descreve vividamente a angústia de Isaías ao receber esta revelação.

O versículo 5 descreve as preparações para batalha, primeiramente cuidando da nutrição e vigilância adequadas: “Põem-se a mesa, estão de atalaia, comem, bebem; levantai-vos, príncipes, e untai o escudo”.[6]  A frase “untai o escudo” refere-se à aplicação de graxa ou óleo no escudo para melhorar a capacidade em desviar os golpes das armas de um inimigo.

No versículo 6, Isaías revela a fonte desta admoestação para se preparar para a guerra: “Porque assim me disse o Senhor:” Isaías então proclama: “Vai, põe uma sentinela; e ela que diga o que vir”. Uma sentinela ou vigia na torre é um símbolo de profetas dos últimos dias declarando os sinais dos tempos, inclusive a grande destruição da Babilônia atual. Isaías também usa o simbolismo de uma sentinela nos capítulos 52, 56 e 62.[7]

No versículo 7, a sentinela vê grupos de carros de guerra, cada um puxado por diferentes animais: “E quando vir um carro com um par de cavaleiros, um carro com jumentos, e um carro com camelos, ela que observe atentamente com grande cuidado”. Estas tropas de diferentes animais simbolizam os medos e os persas, assim como os seus homólogos modernos. A sentinela dos últimos dias será diligente e prestará muita atenção.

O versículo 8 começa: “E clamou: Um leão, meu Senhor!” O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “e o vidente exclamou, meu Senhor!”,[8] sem nenhuma referência a um leão. O significado da passagem é provavelmente “E clamou como um leão”, ou gritar com alta voz. As palavras gritadas em alta voz foram: “Meu Senhor! Sobre a torre de vigia estou em pé continuamente de dia, e de guarda me ponho noites inteiras”. A sentinela oferece testemunho pessoal de sua diligência inabalável, vigiando dia e noite.

Os versículos 6 até 8 contêm um quiasma:

A: (6) Porque assim me disse o Senhor:
B: Vai, põe uma sentinela,
C: e ela que diga o que vir.
D: (7) E quando vir um carro com um par de cavaleiros,
D: um carro com jumentos, e um carro com camelos,
C: ela que observe atentamente com grande cuidado.
B: (8) E clamou como um leão:
A: Meu Senhor! Sobre a torre de vigia estou em pé continuamente de dia, e de guarda me ponho noites inteiras.

“Vai, põe uma sentinela” corresponde com “E clamou como um leão”, identificando quem clamou (uma sentinela). “Ela que diga o que vir” compare-se com “ela que observe atentamente com grande cuidado” mostrando que a sentinela é extraordinariamente fiel em seu trabalho e relata o que vê. O relato da sentinela apresenta acontecimentos previstos em forma simbólica; os carros conduzidos por diferentes animais de tração representam os vários exércitos invasores vistos pela diligente sentinela.

O discurso da sentinela continua no versículo 9: “E eis agora vem um carro com homens, e um par de cavaleiros”. Continua a sentinela: “Então respondeu e disse: Caída é Babilônia, caída é! E todas as imagens de escultura dos seus deuses quebraram-se no chão”. O carro com homens simboliza a queda da Babilônia, como foi explicado na sentença final. As imagens de escultura dos deuses da Babilônia caíram e quebraram-se no chão; os ídolos da Babilônia não foram capazes de salvá-la. Para a Babilônia moderna, nem suas riquezas nem o materialismo poderão salvá-la.[9] A diligente sentinela na torre testemunhou tudo, até mesmo a grande destruição.

Em revelações modernas, o Senhor explica melhor:

“Não buscam o Senhor para estabelecer sua justiça, mas todo homem anda em seu próprio caminho e segundo a imagem de seu próprio deus, cuja imagem é à semelhança do mundo e cuja substância é a de um ídolo que envelhece e perecerá em Babilônia, sim, Babilônia, a grande, que cairá.”[10]

Os versículos 6 até 9 ajuda-nos a compreender melhor as funções de um profeta dos últimos dias, em contraste com um profeta da antiguidade. Ao invés de declarar sobre acontecimentos que ocorrerão num future distante, o profeta moderno interpreta o que ele vê na sociedade atual e acontecimentos descritos em antigas profecias, bem como os princípios do evangelho. O que é para acontecer na nossa época já foi profetizado; agora é o tempo do cumprimento das profecias antigas. A tarefa de um profeta moderno é o de advertir e preparar o povo; e a nossa tarefa é a de ouvir e obedecer as palavras dos nossos profetas vivos.

O versículo 9 contém um quiasma:

A: (9) E eis agora vem um carro com homens, e um par de cavaleiros. Então respondeu e disse:
B: Caída é
C: Babilônia,
C: caída é!
B: E todas as imagens de escultura dos seus deuses
A: quebraram-se no chão.

Um exército, simbolizado pelo carro com homens e um par de cavaleiros, derrota a Babilônia e destrói seus ídolos. O Senhor usaria este exército como um instrumento para cumprir Seus propósitos. “Caída” compara-se com “todas as imagens de escultura dos seus deuses”, indicando que “Babilônia” conota idolatria. “Babilônia” corresponde com “caída é!”, enfatizando sua queda estupenda.  A palavra “Caída” é repetida duas vezes para dar ênfase.

O versículo 10 começa: “Ah, malhada minha, e trigo da minha eira! O que ouvi do Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, isso vos anunciei”. A frase introdutória provavelmente refere-se a uma praga comum que dava no trigo, desvalorizando a safra inteira. Isaías falou aos sobreviventes israelitas sobre a queda da Babilônia;[11] ele testificou que o que ele anunciou foi exatamente o que ele ouviu do Senhor.

O versículo 11 declara: “Peso de Dumá. Gritam-me de Seir: Guarda, que houve de noite? Guarda, que houve de noite?” A voz clama, pedindo ao fiel sentinela que lhe diga quanto tempo mais, a escuridão e a opressão, durariam. Dumá fica no centro da Arábia, ao leste de Midiã;[12]foi nomeada em memória ao sexto filho de Ismael.[13] Seir é um cume montanhoso ao sul do Mar Morto.[14]

O Elder Vaughn J. Featherstone citou este versículo: “Em Isaías, pergunta o profeta: ‘Guarda, que houve de noite?’ Esta geração de jovens serão os futuros archoteiros (carregadores das tochas), possivelmente no período mais escuro do mundo”.[15] O significado intencionado por Isaías, da escuridão e opressão espirituais, está bem claro.

A resposta da sentinela aparece no versículo 12: “E disse o guarda: Vem a manhã, e também a noite; se quereis perguntar, perguntai; voltai, vinde”.[16] O fim da opressão—na antiguidade, o cativeiro da Babilônia—viria logo, mas depois disto haveria outra noite de escuridão espiritual, ou apostasia, e outro opressor. Sua resposta quer dizer: Pergunte novamente, mais tarde.[17]

O versículo 13 muda o enfoque, mas não o assunto: “Peso contra Arábia. Nos bosques da Arábia passareis a noite, ó viandantes de Dedanim”. Dedã—possivelmente o mesmo nome—fica localizada na Arábia.[18]

No versículo 14, descreve-se a situação difícil dos que estavam fugindo da devastação da Babilônia: “Saí com água ao encontro dos sedentos; moradores da terra de Tema, saí com pão ao encontro dos fugitivos”. O povo misericordioso de Tema proporcionaria água e pão para os que estavam fugindo dos estragos da guerra; Tema fica localizada na Arábia ao nordeste de Dedã.[19]

Como foi descrito no versículo 15, muitos fugiriam dos horrores da guerra: “Porque fogem de diante das espadas, de diante da espada desembainhada, e de diante do arco armado, e de diante do peso da guerra”.[20]

Os versículos 16 e 17 descrevem a queda iminente de uma tribo no norte da Arábia.[21] O versículo 16 declara: “Porque assim me disse o Senhor: Dentro de um ano, como os anos de jornaleiro, desaparecerá toda a glória de Quedar”. “A glória de Quedar”, como foi usado aqui, significa força militar.[22] Quedar era um dos filhos de Ismael e um ancestral de Muhammad, segundo alguns genealogistas árabes.[23] Um jornaleiro é um mercenário, ou um soldado que trabalha por um salário, tipicamente contratado para trabalhar por um período de tempo, que neste caso era um ano.

O versículo 17 conclui: “E os restantes do número dos flecheiros, os poderosos dos filhos de Quedar, serão diminuídos, porque assim disse o Senhor Deus de Israel”.[24]

NOTAS

[1]. Ver Isaías capítulos 19 e 20.
[2]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 898, p. 93.
[3]. Ver Mapa 2, da edição da Bíblia SUD em inglês para localizer estas nações antigas.
[4]. Ver Isaías 21:3, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 3a.
[5]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2837, p. 366.
[6]. O versículo 5 contém um quiasma: Põem-se a mesa/estão de atalaia /comem//bebem/levantai-vos/untai o escudo.
[7]. Ver Isaías 52:8; 56:10; 62:6 e comentário pertinente.
[8]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research and Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 96.
[9]. Ver Isaías 2:7-9 e comentário pertinente.
[10]. Doutrina e Convênios 1:16.
[11]. Isaías 21:10, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 10a.
[12]. Ver Mapa Bíblico (na versão SUD da Bíblia em inglês) número 9.
[13]. Ver Gênesis 25:13-14.
[14]. Dicionário Bíblico—Seir.
[15]. Vaughn J. Featherstone, “Chamado Como Por Uma Voz do Céu”, A Liahona, Janeiro de 1984, p. 68.
[16]. O versículo 12 contém um quiasma: Vem a manhã, e também a noite/perguntar//perguntai/voltai, vinde.
[17]. Isaías 21:12, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 12a.
[18]. Ver Mapa Bíblico (na versão SUD da Bíblia em inglês) número 9.
[19]. Ver Mapa Bíblico (na versão SUD da Bíblia em inglês) número 9.
[20]. Os versículos 14 e 15 contêm um quiasma: Fugitivos/fogem/espadas//espada desembainhada/arco armado/peso da guerra.
[21]. Ver Mapa Bíblico (na versão SUD da Bíblia em inglês) número 9.
[22]. Ver Isaías 8:7; 10:18; 16:14; 17:3-4; 20:5; 22:18; 66:12.
[23]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 230.
[24]. Os versículos 16 e 17 contêm um quiasma: Porque assim me disse o Senhor/glória de Quedar/flecheiros//poderosos/ filhos de Quedar/assim o disse o Senhor, Deus de Israel.

CAPÍTULO 20: “Nus e Descalços…Para Vergonha Do Egito”

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No capítulo 20 Isaías descreve como a Assíria invadirá e envergonhará o Egito. Isto se refere tanto ao Egito antigo quanto a seu homólogo moderno, os Estados Unidos da América.[1]

O versículo 1 estabelece o tempo em que esta profecia foi dada a Isaías: “No ano em que Tartã, enviado por Sargom, rei da Assíria, veio a Asdode, e guerreou contra ela, e a tomou”. Este evento aconteceu por volta de 711 a.C.[2] Asdode era uma cidade ao norte da Filístia, onde se fomentou um movimento de resistência contra a Assíria. “Tartã” significa “marechal de campo”,[3] cujo nome não foi revelado. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta como “comandante supremo”.[4]

O versículo 2 continua: “Nesse mesmo tempo falou o Senhor por intermédio de Isaías, filho de Amós, dizendo: Vai, solta o cilício de teus lombos, e descalça os sapatos dos teus pés. E ele assim o fez, indo nu e descalço”. O Senhor aqui está mandando Isaías a viver uma parábola—para ser um “símbolo” para acontecimentos vindouros.

Hoje, andar nu e descalço está muito além dos limites que a sociedade permite, porém a nudez era vista diferente no mundo de Isaías. Numa ocasião o Rei Saul fez o mesmo:

“Então foi para Naiote, em Ramá; e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, e ia profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá.
“E ele também despiu as suas vestes, e profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite; por isso se diz: Está também Saul entre os profetas?”[5]

A nudez era, aparentemente, uma prática comum entre os profetas daquele tempo. A Grécia antiga é conhecida por permitir a nudez pública; os participantes da Olimpíada antiga ficavam nus. A palavra “ginásio” vem do grego, que significa “lugar para treinar os nus”.[6] A nudez de Isaías era, aparentemente, não mais que um meio de iniciar a conversa, para lhe dar a oportunidade de falar sobre a vergonha predita para o Egito pelas mãos da Assíria.

O profeta do Velho Testamento, Miquéias, ao prever a destruição de Samaria e Jerusalém pelos babilônios, entristeceu-se grandemente. Ele disse: “Por isso lamentarei, e gemerei, andarei despojado e nu…”.[7]

Este acontecimento predito foi descrito nos versículos 3 e 4. O versículo 3 começa: “Então disse o Senhor: Assim como o meu servo Isaías andou três anos nu e descalço, por sinal e prodígio sobre o Egito e sobre a Etiópia”.

O versículo 4 continua: “Assim o rei da Assíria levará em cativeiro os presos do Egito, e os exilados da Etiópia, tanto moços como velhos, nus e descalços, e com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito”. O cumprimento desta profecia ocorreu durante a vida de Isaías, quando os assírios derrotaram a rebelião que começou em Asdode. A mensagem de Isaías para Judá era para não participar com Asdobe e o Egito na rebelião contra a Assíria.[8] Em tempos modernos, os Estados Unidos da América serão derrotados militarmente pelas superpotências modernas, que foram representadas aqui pela Assíria. Acontecimentos, para os quais este antigo evento é um símbolo, podem marcar o fim da dominância militar americana, depois dos acontecimentos descritos por Isaías no capítulo 19.[9]

O versículo 5 continua: “E assombrar-se-ão, e envergonhar-se-ão, por causa dos etíopes, sua esperança, como também dos egípcios, sua glória”. A glória do Egito, como usada aqui, significa poder militar.[10] Em outras palavras, o povo de Judá ficaria assustado com o poder da Assíria, dissipando qualquer esperança de auxílio dos equivalentes modernos do Egito e Etiópia.[11]

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

A: (4) Assim o rei da Assíria levará em cativeiro os presos do Egito,
B: e os exilados da Etiópia,
C: tanto moços como velhos,
D: nus e descalços,
D: e com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito.
C: (5) E assombrar-se-ão, e envergonhar-se-ão,
B: por causa dos etíopes, sua esperança,
A: como também dos egípcios, sua glória.

“Nus e descalços” correlaciona-se à frase “com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito”. O quiasma não deixa dúvidas sobre o significado literal de “nus e descalços”.

O versículo 6 descreve o desânimo enfrentado por Judá: “Então os moradores desta ilha dirão naquele dia: Vede que tal é a nossa esperança, à qual fugimos por socorro, para nos livrarmos da face do rei da Assíria! Como pois escaparemos nós?” Com o Egito derrotado e humilhado, Judá não saberia onde buscar ajuda quando a Assíria fosse ameaçar-lhe.

A mensagem de Isaías é que somente com a ajuda do Senhor Judá poderia escapar da humilhação e do cativeiro. Semelhantemente, os Estados Unidos da América só podem escapar da humilhação e da derrota fazendo uma aliança com o Senhor.

NOTAS

[1]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mórmon [O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon]: Deseret Book Co., Salt Lake City, Utah, 1988, p. 72-76.
[2]. Ver Isaías 20:1, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 1a.
[3]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 8661, p. 1077.
[4]. Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 94.
[5]. 1 Samuel 19:23-24.
[6]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 327.
[7]. Miquéias 1:8.
[8]. Ludlow, p. 223-224.
[9]. Isaías 19; Ver também comentário pertinente.
[10]. Ver Isaías 8:7; 10:18; 16:14; 17:3-4; 21:16-17; 22:18; 66:12.
[11]. Ver Isaías 20:5, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 5a.

CAPÍTULO 17: “Eis Que Damasco Será Tirada, E Já Não Será Cidade”

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O capítulo 17 é um “peso”, ou profecia de condenação para Damasco. Damasco e o reino de Israel Setentrional (ao norte) seriam conquistados e dispersos pela Assíria, e ambos perderiam suas identidades como nação. Israel seria espalhada por haver esquecido de seu Deus; mas por causa das promessas feitas à Israel, as nações que a assolarem seriam destruídas.

O versículo 1 começa com uma declaração com propósito: “Peso de Damasco”, que significa uma mensagem ou profecia de condenação para Damasco. E continua: “Eis que Damasco será tirada, e já não será cidade, antes será um montão de ruínas”. Esta declaração prediz a destruição de toda a nação da Síria, não só da capital, Damasco.

O versículo 2 descreve cidades em Efraim, ou o reino de Israel Setentrional, que seriam destruídas ao mesmo tempo que Damasco: “As cidades de Aroer serão abandonadas; hão de ser para os rebanhos que se deitarão sem que alguém os espante”. As cidades de Aroer ficavam no reino de Israel, no “ribeiro de Arnom”[1] que formava a fronteira com Moabe ao leste do Mar Morto.[2] Depois da destruição, as cidades de Aroer serviria somente como lugares de refúgios para os rebanhos de ovelhas. A destruição do reino de Efraim resultou no cativeiro das dez tribos, que abrangiam este reino.[3]

O versículo 3 continua a descrição da queda de Efraim e Síria: “E a fortaleza de Efraim cessará, como também o reino de Damasco e o restante da Síria; serão como a glória dos filhos de Israel, diz o Senhor dos Exércitos”. Os governos de Efraim e Damasco seriam destruídos, prestes a serem conquistados pela Assíria. Os remanescentes da Síria “serão como a glória dos filhos de Israel”, que significa que Síria e Israel seriam deixadas em semelhantes circunstancias, grandemente debilitadas. Damasco não seria mais um lugar poderoso e seguro para Efraim fugir buscando proteção.

O versículo 4 descreve com mais detalhes a devastação que sobreviria ao reino de Israel: “E naquele dia será diminuída a glória de Jacó, e a gordura da sua carne ficará emagrecida”. “Glória”, como foi usada aqui e no versículo 3, significa força militar, que seria aniquilada em ambos países pela destruição.[4] “Gordura da sua carne” é outra descrição para força militar.

O versículo 5 compara a obra de destruição pelos assírios com um segador colhendo um campo de trigo: “Porque será como o segador que colhe a cana do trigo e com o seu braço sega as espigas; e será também como o que colhe espigas no vale de Refaim”. O vale de Refaim, conhecido por suas abundantes safras, ficava ao sudoeste de Jerusalém;[5] e foi nomeado por uma nação antes dos Israelitas, que habitaram aquela área e que eram conhecidos por sua grande estatura.[6]

No versículo 6, os poucos sobreviventes de Efraim e Damasco são comparados primeiramente à “colheita de uvas” que restaram na vinha, e depois às poucas azeitonas que restaram nas oliveiras depois da colheita: “Porém ainda ficarão nele alguns rabiscos, como no sacudir da oliveira: duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos, e quatro ou cinco nos seus ramos mais frutíferos, diz o Senhor Deus de Israel”.[7], [8]

 A comparação de Israel com uma oliveira sugere que Isaías talvez conhecia bem as palavras do profeta Zenos. As palavras de Zenos foram incluídas nas placas de latão, juntamente com as de Isaías, que estavam sobre a posse dos nefitas. Jacó, o irmão de Néfi, citou as palavras de Zenos quando mencionou a alegoria da oliveira.[9] O apóstolo Paulo talvez também conhecia as palavras de Zenos—principalmente a alegoria da oliveira,[10] embora que, lamentavelmente, estas palavras tenham sido perdidas do texto bíblico atual.

Depois da destruição, em sua privação, os sobreviventes começariam a arrepender-se, como foi descrito nos versículos 7 e 8. O versículo 7 começa: “Naquele dia atentará o homem para o seu Criador, e os seus olhos olharão para o Santo de Israel”. O arrependimento e as bênçãos, frequentemente vêm depois da catástrofe.

No versículo 8, os sobreviventes abandonarão suas idolatrias: “E não atentará para os altares, obra das suas mãos, nem olhará para o que fizeram seus dedos, nem para os bosques, nem para as imagens”. A palavra “bosques” foi traduzida de uma palavra hebraica Asherah, que significa “árvore ou estaca sagrada”. Asherah é um eufemismo bíblico referindo-se a uma forma de idolatria caracterizada por um cerimonial de sexo ilícito.[11] Asherah era o nome da deusa cananéia da fortuna ou da sorte; ela era a esposa de Baal.[12]

O versículo 9 menciona novamente a metáfora da colheita da oliveira, mencionada previamente no versículo 6: “Naquele dia as suas cidades fortificadas serão como lugares abandonados, no bosque ou sobre o cume das montanhas, os quais foram abandonados ante os filhos de Israel; e haverá assolação”. Estes poucos sobreviventes seriam poupados pelos assírios por causa das promessas do Senhor aos filhos de Israel. Por causa do pequeno número de sobreviventes, tal como as azeitonas em um galho que foram negligenciadas pelos ceifeiros, os homens voltar-se-iam ao Senhor para fortalecerem-se. Por causa da destruição, os sobreviventes arrepender-se-iam e abandonariam suas idolatrias.[13]

Os versículos 10 e 11 relembra à decaída Israel de sua apostasia. O versículo 10 explica: “Porque te esqueceste do Deus da tua salvação, e não te lembraste da rocha da tua fortaleza, portanto farás plantações formosas, e assentarás nelas sarmentos estranhos”. Ao esquecer-se do Senhor Israel foi levada à apostasia, idolatria, à predita destruição e ao cativeiro. “Plantações formosas” e “sarmentos estranhos” referem-se às práticas idólatras dos “bosques”. Os bosques ou jardins eram plantados e mantidos para prover um ambiente agradável para suas idolatrias, com uma variedade de plantas raras trazidas da Babilônia.

O versículo 11 continua: “E no dia em que as plantares as farás crescer, e pela manhã farás que a tua semente brote; mas a colheita voará no dia da angústia e das dores insofríveis”.  A única colheita que será obtida através da idolatria, representada pelas “plantações formosas” e “sarmentos estranhos”, é sofrimento e tristeza.

Os versículos 12 até 14 formam um oráculo de pesar, atestando que as nações que perseguirem Israel serão destruídas. O versículo 12 começa dizendo: “Ai do bramido dos grandes povos que bramam como bramam os mares, e do rugido das nações que rugem como rugem as impetuosas águas”. O bramido dos mares é uma metáfora que significa o império assírio, que se consistia de muitas nações.[14]

O versículo 13 continua: “13Rugirão as nações, como rugem as muitas águas, mas Deus as repreenderá e elas fugirão para longe; e serão afugentadas como a pragana dos montes diante do vento, e como o que rola levado pelo tufão”. Apesar de seu imenso poder, as nações do império assírio seriam destruídas pelas mãos do Senhor— reduzidas à quase nada, como à “pragana dos montes”. Note que “montes” significa “nações”.[15]

O versículo 14 resume: “Ao anoitecer eis que há pavor, mas antes que amanheça já não existe; esta é a parte daqueles que nos despojam, e a sorte daqueles que nos saqueiam”. Apesar do fato de que Israel seria espalhada por haver esquecido de seu Deus, as nações que a assolarem seriam destruídas.

Os versículos 12 até 14 contêm um quiasma:

A: (12) Ai do bramido dos grandes povos
B: que bramam como bramam os mares,
C: e do rugido das nações
D: que rugem como o rugido de impetuosas águas.
E: (13) Rugirão as nações,
F: como rugem as muitas águas,
G: mas Deus as repreenderá
G:  e elas fugirão para longe;
F: e serão afugentadas como a pragana dos montes diante do vento
E: e como o que rola levado pelo tufão.
D: (14) Ao anoitecer eis que há pavor,
C: mas antes que amanheça já não existe;
B: esta é a parte daqueles que nos despojam,
A: e a sorte daqueles que nos saqueiam.

“Ai do bramido dos grandes povos” complementa “a sorte daqueles que nos saqueiam”, identificando os “grandes povos”. O lado ascendente deste quiasma (elementos no versículo 12 e na primeira parte do versículo 13) descrevem os saqueadores assírios, usando cinco repetições para “rugido” ou uma forma desta palavra, já do lado descendente deste quiasma (a última parte do versículo 13 e todo o versículo 14) descrevem a fuga e destruição do exército assírio depois da repreensão de Deus. Algumas das frases no lado descendente complementam ou completam a ideia de seus homólogos no lado ascendente.

NOTAS

[1]. Ver Deuteronômio 2:36.
[2]. Ver Mapa Bíblico ( na versão SUD da Bíblia em inglês) número 9.
[3]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 42:24; 43:6; 49:12; 54:7.
[4]. Ver Isaías 8:7; 10:18; 16:14; 20:5; 21:16-17; 22:18; 66:12.
[5]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 168.
[6]. Ver Dicionário Bíblico—Refaim.
[7]. Ver Deuteronômio 24:20; compare Isaías 24:13.
[8]. Versículos 3 até 6 contêm um quiasma: Diz o Senhor dos Exércitos/naquele dia será diminuída a glória de Jacó/ a gordura da sua carne ficará emagrecida/será como o segador/colhe a cana do trigo//sega as espigas/será também como o que colhe espigas/Porém ainda ficarão nele alguns rabiscos/duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos/diz o Senhor Deus de Israel.
[9]. Ver Jacó 5.
[10]. Ver Romanos 11:17-24.
[11]. Ver Êxodo 34:13; Deuteronômio 7:5; 12:3; Juízes 3:7; 1 Reis 14:15, 23; 2 Reis 17:10-11; 18:4; 23:14; 2 Crônicas 14:3; 17:6; 19:3; 24:18; 31:1; 33:3, 19; 34:3-4, 7; Isaías 27:9; Jeremias 17:2; Miquéias 5:14.
[12].  F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 842, p. 81.
[13]. Versículos 7 até 9 contêm um quiasma: Naquele dia atentará o homem para o seu Criador/não atentará para os altares//o que fizeram seus dedos//nem para os bosques/naquele dia as suas cidades fortificadas serão como lugares abandonados.
[14]. Isaías 8:7; 28:2, 17; 43:2.
[15]. Ver Isaías 2:2; 13:4 e comentário pertinente.

CAPÍTULO 16: “Portanto Moabe clamará por Moabe”

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No capítulo 16 Isaías continua sua profecia concernente a Moabe, que começou no capítulo 15. Devido à iniquidade Moabe está condenada e seu povo sofrerá. Apesar de estarem envolvidos em grandes iniquidades Moabe reconhece que o Messias sentar-se-á no trono de Davi, buscando julgamento e acelerando a retidão.

No versículos 1 até 5 Isaías prediz o apelo de Moabe à Jerusalém para refugiar-se dos saqueadores assírios. Os versículos 6 até 8 Isaías prediz a rejeição do apelo por parte de Jerusalém; nos versículos 9 até 11 Isaías lamenta a situação de Moabe. Nos versículos 12 até 14 Isaías explica que apesar das orações fervorosas de Moabe, o Senhor não os ouvirá, por causa de suas maldades; dentro de três anos Moabe seria derrotada e seu numeroso povo destruído, deixando somente um pequeno e débil número de remanescentes.

Nos primeiros cinco versículos, Isaías prediz que Moabe apelaria à Jerusalém para refugiar-se dos exércitos invasores assírios. No versículo 1, Moabe mandaria um cordeiro sacrificial de presente para Jerusalém: “Enviai o cordeiro ao governador da terra, desde Sela, no deserto, até ao monte da filha de Sião”. Sela era a cidade mais meridional de Moabe,[1] e “o monte da filha de Sião” refere-se à capital de Judá, Jerusalém.[2]

O versículo 2 refere-se à angustia sofrida por Moabe, resultando no apelo à Judá: “De outro modo sucederá que serão as filhas de Moabe junto aos vaus de Arnom como o pássaro vagueante, lançado fora do ninho”. As filhas de Moabe buscariam refúgio além dos vaus de Arnom, como um pássaro assustado fugindo de seu ninho. Arnom é um riacho em Moabe que drena para o Mar Morto das montanhas no leste, o que denota a fronteira norte da parte habitada de Moabe.[3] Aqueles que se encontravam no riacho de Arnom fugiriam dos invasores avançando do sul.

Os versículos 3 e 4 predizem as palavras do apelo moabita diante do rei de Judá. O versículo 3 começa: “Toma conselho, executa juízo, põe a tua sombra no pino do meio-dia como a noite; esconde os desterrados, e não descubras os fugitivos”, que significa esconde-nos na sua sombra ampla; “esconde os refugiados, e não traias aquele que vagueia”. “Executa juízo” significa “julgue-nos com equidade”.[4]

O versículo 4 continua: “Habitem contigo os meus desterrados, [implora] ó Moabe; serve-lhes [Judá] de refúgio perante a face do destruidor; porque o homem violento terá fim; a destruição é desfeita, e os opressores são consumidos sobre a terra”. [5] Os emissários de Moabe reconhecem que os invasores ficariam por um curto período de tempo, já que suas intenções eram só de roubar e matar.

No versículo 5 os emissários moabitas reconhecem que o Messias sentar-se-á no trono de Davi: “Porque o trono se firmará em benignidade, e sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará em verdade um que julgue, e busque o juízo, e se apresse a fazer justiça”. “Fazer justiça”, neste caso, significa “equidade”.[6] Apesar dos Moabitas não serem da religião hebraica, eles reconheciam suas crenças fundamentais. Em sua forma de pensar, já que o Messias reinaria em Jerusalém um dia, Jerusalém seria um lugar seguro para o futuro previsível e poderia prover proteção.

Nos versículos 6 até 8, Isaías prediz a rejeição de Jerusalém do apelo moabita. A resposta começa no versículo 6: “Ouvimos da soberba de Moabe, que é soberbíssimo; da sua altivez, da sua soberba, e do seu furor; porém, as suas mentiras não serão firmes”. “Soberba” significa “conceito elevado” ou “vaidade”.[7] Os judeus veem a vaidade e soberba de Moabe como causa de sua queda.  Em nossos dias a vaidade, soberba e mentiras têm um papel importante na corrupção e queda das nações.[8]

O versículo 7 pronuncia a rejeição pungente de Judá: “Portanto Moabe clamará por Moabe; todos clamarão; gemereis pelos fundamentos de Quir-Haresete, pois certamente já estão abatidos”. Eles serão abandonados e ficarão sem consolo em seu sofrimento. Quir-Haresete era a capital de Moabe.[9]

No versículo 8, Isaías continua a profecia: “Porque os campos de Hesbom enfraqueceram, e a vinha de Sibma; os senhores dos gentios quebraram as suas melhores plantas que haviam chegado a Jazer e vagueiam no deserto; os seus rebentos se estenderam e passaram além do mar” Nomes de lugares que eram familiares para Isaías reforçam o tom pessoal da profecia. “Enfraqueceram” significa que os invasores pisariam nas vinhas, destruindo a safra principal de Moabe. “Os seus rebentos se estenderam e passaram além do mar” refere-se à conhecida indústria de vinho da antiga Moabe e a extensão de sua exportação.[10]

Nos versículos 9 até 11 Isaías lamenta a situação de Moabe; apesar de sua ominosa profecia ele só sente tristeza. O versículo 9 começa: “Por isso prantearei, com o pranto de Jazer, a vinha de Sibma; regar-te-ei com as minhas lágrimas, ó Hesbom e Eleale; porque o júbilo dos teus frutos de verão e da tua sega desapareceu”.[11] A agricultura produtiva cessaria depois dos ataques devastadores. A indústria de vinho da antiga Moabe seria devastada pelos saqueadores assírios.

O versículo 10 continua: “E fugiu a alegria e o regozijo do campo fértil, e nas vinhas não se canta, nem há júbilo algum; já não se pisarão as uvas nos lagares. Eu fiz cessar o júbilo”.[12] A tristeza reinará; não se ouvirá sobre a alegria da colheita. Só alguns restarão para fazer a colheita das uvas e fazer o vinho.

No versículo 11, Isaías descreve sua angústia: “Por isso o meu íntimo vibra por Moabe como harpa, e o meu interior por Quir-Heres”.

No versículos 12 e 13 Isaías explica que apesar das orações sinceras de Moabe, o Senhor não os ouvirá, devido as iniquidades do povo. O versículo 12 declara: “E será que, quando virem Moabe cansado nos altos, então entrará no seu santuário a orar, porém não prevalecerá”.[13] Os “altos” significa um lugar de adoração idólatra; o Senhor não responderá, quando Moabe se voltar a Ele.

O versículo 13 continua: “Esta é a palavra que o Senhor falou contra Moabe desde aquele tempo”. Isaías sumariza, atestando que a informação veio do Senhor a ele.

No versículo 14 as palavras do Senhor são dadas: “Porém agora falou o Senhor, dizendo: Dentro de três anos (tais como os anos de jornaleiros), será envilecida a glória de Moabe, com toda a sua grande multidão; e o restante será pouco, pequeno e impotente”. A nação de Moabe seria destruída, juntamente com um grande número de seu povo, deixando somente um pequeno e débil número de remanescentes. “A glória de Moabe”, como foi usado aqui, significa forças militares.[14] Um jornaleiro é um soldado contratado, ou mercenário. Tipicamente, mercenários eram contratados por um certo período de tempo.

NOTAS

[1]. Ver Mapa Bíblico ( na versão SUD da Bíblia em inglês) número 1.
[2]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 10:32; 37:22; 52:2; 62:11.
[3]. Ver Mapa Bíblico ( na versão SUD da Bíblia em inglês) número 10.
[4]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 42:4; 59:15.
[5]. O versículo 4 contém um quiasma: Habitem contigo os meus desterrados/a face do destruidor/ o homem violento terá fim/ a destruição é desfeita / opressores/ consumidos sobre a terra.
[6]. Para referências de outros significados de “justiça”, Ver versículo 3.
[7]. Jactâncias Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. Disponível na http://www.infopedia.pt/pesquisa.
[8]. Ver Isaías 9:15; 28:15, 17; 59:3-4 e comentário pertinente.
[9]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 192-194.
[10]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 164.
[11]. Os versículos 8 e 9 contêm um quiasma: Campos de Hesbom enfraqueceram/vinha de Sibma/Jazer/seus rebentos se estenderam//passaram além do mar/Jazer/vinha de Sibma/frutos de verão e da tua sega desapareceu.
[12]. O versículo 10 contém um quiasma: Fugiu a alegria e o regozijo do campo fértil/vinhas não se canta/nem há júbilo algum//já não se pisarão/uvas nos lagares/Eu fiz cessar o júbilo.
[13]. Os versículos 7 até 12 contêm um quiasma: Moabe/Quir-Haresete/Hesbom/Sibma/Jazer//Jazer/Sibma/Hesbom/ Eleale/Moabe. Em Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 259.
[14]. Ver Isaías 8:7; 10:18; 17:3-4; 20:5; 21:16-17; 22:18; 66:12.

CAPÍTULO 10: “Porque Daqui A Bem Pouco Se Cumprirá A Minha Indignação”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 10 prediz a destruição de Israel pelas mãos da Assíria. A Assíria serviria como instrumento nas mãos de Deus para trazer a punição e destruição à Israel impenitente, mas a Assíria também seria destruída. A destruição da Assíria é um símbolo para—ou, é típico da—destruição dos iníquos na Segunda Vinda. Por causa da maldade desenfreada que precedeu a destruição naquela época, poucos restariam depois da destruição dos ímpios. O Senhor conforta aqueles em Sião, assegurando-os que a indignação duraria por apenas um curto período de tempo; então o Senhor derrotaria os invasores.

Uma chave importante para compreender este capítulo é notar cuidadosamente quem está falando e quando muda de orador. Na primeira parte—um oráculo de pesar (versículos 1 até 4) —o Senhor está falando, declarando uma maldição sobre os líderes iníquos e especificando uma destruição que lhes sobreviria. O oráculo de pesar é seguido por uma frase explanatória expressada por Isaías— “Com tudo isto a sua ira não cessou, mas ainda está estendida a sua mão” na última parte do versículo 4. O Senhor, então, continua a falar, declarando destruição sobre “uma nação hipócrita”, referindo-se a antiga Israel e seu equivalente nos tempos atuais, pelas mãos dos assírios e seus paralelos nos últimos dias (versículos 5 até 7). O Senhor vocaliza os pensamentos orgulhosos do rei da Assíria (versículos 8 até 11) e decreta uma rápida destruição sobre ele, seu exército, e seu equivalente moderno (versículo 12). Depois disto segue-se mais sobre os pensamentos orgulhosos do rei da Assíria, vangloriando-se de suas conquistas (versículos 13 e 14). Isaías, então, exorta a Assíria por não haver reconhecido que a devastação que eles trouxeram sobre Israel foi obra do Senhor, que usou os assírios como um instrumento (versículo 15). Isaías, continuando a falar, declara uma rápida destruição sobre a Assíria (versículos 16 até 19). Esta declaração é seguida por uma profecia, expressada por Isaías, sobre o retorno dos remanescentes de Israel que seriam espalhados por todas as nações (versículos 20 até 23).

Nos últimos versículos deste capítulo (versículos 24 até 34) Isaías de repente muda o assunto, e começa a profetizar sobre uma invasão pela antiga Assíria contra Jerusalém, a qual é repelida pela milagrosa destruição do exército assírio pelas mãos do Senhor. Esta profecia foi cumprida durante o reinado de Ezequias,[1] mas serve como um símbolo para os nossos dias.

Néfi cita este capítulo por completo; compare 2 Néfi 20. Diferenças presentes no texto do Livro de Mórmon são mostradas em itálico onde forem citadas. Este capítulo tem vários quiasmas que adiciona muito à nossa compreensão dos significados intencionados por Isaías.

Os versículos 1 até 4 contêm um oráculo de pesar no qual o Senhor declara más consequências sobre os líderes injustos. O oráculo de pesar é o último de quatro que contêm uma mensagem profética importante, ou “sermão sacerdotal”, dirigido ao reino de Israel Setentrional e à Judá. O versículo 1 começa: “Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão”. A frase “prescrevem opressão” significa decretos ou leis injustas que impedem cidadãos de seus direitos, recursos ou propriedades.

O versículo 2, continuando a sentença do versículo 1, descreve a perseguição dos pobres por líderes iníquos: “Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” Os líderes iníquos ganhariam seu poder ao tirar vantagem dos pobres, viúvas e órfãos.

No versículo 3 o Senhor faz umas perguntas acusatórias: “Mas que fareis vós no dia da visitação, e na desolação, que há de vir de longe? A quem recorrereis para obter socorro, e onde deixareis a vossa glória”― “Visitação” é traduzido da palavra hebraica que significa “punição” ou “responsabilidade”.[2] O Senhor irá abandoná-los no dia da visitação por causa de suas iniquidades, deixando-os sem defesa contra “a desolação, que há de vir de longe”, que significa a invasão do exército assírio e seu equivalente moderno.

O versículo 4 conclui a maldição pronunciada pelo Senhor: “Sem que cada um se abata entre os presos, e caia entre mortos?” Os líderes iníquos seriam contados entre os prisioneiros e entre os mortos.

A frase final do versículo 4, pronunciada por Isaías, “com tudo isto a sua ira não cessou, mas ainda está estendida a sua mão” significa que a justiça da ira do Senhor continua e está estendida a sua mão contra eles para puni-los. O profeta explica o significado desta frase anteriormente, no capítulo 5, onde é precedido no mesmo versículo por uma frase com palavras um pouco diferentes, porém com o mesmo sentido: “Por isso se acendeu a ira do Senhor contra o seu povo, e estendeu a sua mão contra ele, e o feriu”.[3] A frase é repetida três vezes no capítulo 9, além da que aparece no versículo 4, todas com o mesmo significado.[4]

O Senhor declarou a Joseph Smith com referência aos governantes arrogantes dos últimos dias:

“E para que eu os visite no dia da visitação, quando eu tirar o véu que me cobre a face, para designar a porção do opressor entre os hipócritas, onde há ranger de dentes, caso rejeitem meus servos e meu testemunho que lhes revelei.”[5]

Os versículos 1 até 4 contêm um quiasma que começa com a frase final do último versículo do capítulo 9:

A: (9:21) …Com tudo isto não cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.
B: (1) Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão.
C: (2) Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!
D: (3) Mas que fareis vós no dia da visitação,
D: e na desolação, que há de vir de longe?
C: A quem recorrereis para obter socorro, e onde deixareis a vossa glória,
B: (4) Sem que cada um se abata entre os presos, e caia entre mortos?
A: Com tudo isto a sua ira não cessou, mas ainda está estendida a sua mão.

Este quiasma pronuncia uma maldição sobre os governantes injustos. A frase inicial, “com tudo isso não se apartou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão”, é refletida no final por uma repetição da mesma frase. A frase “Ai dos que decretam leis injustas” complementa a “sem que cada um se abata entre os presos, e caia entre mortos”, significando especialmente que os governantes injustos serão escolhidos para serem levados como prisioneiros ou assassinados. “Para desviarem os pobres do seu direito” complementa “a quem recorrereis para obter socorro[?]”, indicando que a ajuda que recusaram aos necessitados, ser-lhes-á recusada como retribuição; e a frase “que fareis vós no dia da visitação?” compara-se com “na desolação, que há de vir de longe?” declarando que quando a destruição vier, esses governantes injustos serão responsáveis por suas maldades contra aqueles que dependiam deles para ajudá-los.[6]

No versículo 5 o Senhor volta a falar, declarando que a Assíria é um instrumento em Suas mãos para trazer justiça aos iníquos de Israel: “Ai da Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas mãos”. O exército assírio é figurativamente a vara que o Senhor está usando para punir Israel e Judá por suas maldades. O Livro de Mórmon apresenta assim: “vara da minha ira, e a sua indignação”;[7] esta interpretação inclui a ira dos invasores. “Indignação” significa revolta ou sentimento de desprezo provocado por uma circunstância que demonstra indignidade, que neste caso é a corrupção.

No versículo 6 o Senhor, que ainda está falando, declara: “Enviá-la-ei contra uma nação hipócrita, e contra o povo do meu furor lhe darei ordem, para que lhe roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas”.[8] O Livro de Mórmon apresenta assim: “para que lhe tome os despojos e roube-lhe a presa”, que foi traduzido do hebraico Maer-Salal-Has-Baz, o nome do segundo filho de Isaías, indicando que a destruição predita seria para cumprir a profecia de Isaías dada na época da concepção de seu filho.[9]  “Uma nação hipócrita” significa Israel e Judá, e seus equivalentes modernos. Destruição virá pelas mãos dos assírios e suas superpotências modernas equivalentes.

No versículo 7 o Senhor explica que o rei da Assíria não compreende que ele é simplesmente um instrumento de destruição nas mãos do Senhor: “Ainda que ele não cuide assim, nem o seu coração assim o imagine; antes no seu coração intenta destruir e desarraigar não poucas nações”.

No versículos 8 até 11 o Senhor cita os pensamentos orgulhosos do rei da Assíria. O versículo 8 questiona: “Porque diz: Não são meus príncipes todos eles reis?” Ele argumenta que seus príncipes são tão nobres quanto os reis.

O versículo 9 continua: “Não é Calno como Carquemis? Não é Hamate como Arpade? E Samaria como Damasco?” Estes são países que ficaram desolados depois dos ataques assírios, os quais foram incapazes de resistirem. Síria nesta época pagava tribute aos governantes assírios.

No versículos 10 e 11 o rei da Assíria continua a se vangloriar. O versículo 10 declara: “Como a minha mão alcançou os reinos dos ídolos, cujas imagens esculpidas eram melhores do que as de Jerusalém e do que as de Samaria”. O Livro de Mórmon apresenta: “Assim como minha mão fundou os reinos dos ídolos…”.[10] “Fundou” significa “estabelecer” ou “edificar desde os alicerces”.[11]

O versículo 11 continua: “Porventura como fiz a Samaria e aos seus ídolos, não o faria igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos?” Aqui o rei ridiculariza a idolatria de Jerusalém, dizendo que seus ídolos seriam tão incapazes em defender a nação contra os exércitos invasores, quanto os ídolos dos outros países, inclusive seu país vizinho, a Samaria. Era costume entre os antigos conquistadores destruírem ou levarem consigo os ídolos das nações derrotadas, para mostrarem que seus deuses eram superiores aos deles. No capítulo 46, Isaías prediz a derrota da Babilônia ao descrever seus ídolos sendo levados cativos.[12]

No versículo 12, o Senhor decreta uma destruição rápida sobre o rei da Assíria, seu exército, e seu equivalente moderno, uma vez que tenham cumprido os propósitos do Senhor: “Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então castigarei o fruto da arrogante grandeza do coração do rei da Assíria e a pompa da altivez dos seus olhos”. A palavra “Sião” é usada duas vezes no capítulo 10 da mesma forma, com duplo sentido—um lugar para a coligação espiritual nos últimos dias, como também como um sinônimo para Jerusalém, tanto a antiga quanto a moderna. A frase “toda a sua obra” inclui as destruições preditas neste capítulo, bem como a restauração nos últimos dias e a coligação de Israel sob condições dignas.[13]

No versículos 13 e 14 o rei da Assíria continua a se vangloriar: “Porquanto disse: Com a força da minha mão o fiz, e com a minha sabedoria, porque sou prudente; e removi os limites dos povos, e roubei os seus tesouros, e como valente abati aos habitantes. E achou a minha mão as riquezas dos povos como a um ninho, e como se ajuntam os ovos abandonados, assim eu ajuntei a toda a terra, e não houve quem movesse a asa, ou abrisse a boca, ou murmurasse”. O Livro de Mórmon apresenta assim: “…com a minha sabedoria fiz essas coisas…”.[14] Isto é preocupante, porque o equivalente moderno da Israel antiga—uma “nação hipócrita” —de alguma maneira se encontraria tão indefesa que um exército invasor seria capaz de saquear a terra sem nenhuma oposição.

No versículo 15 Isaías continua a falar, repreendendo a Assíria por não haver reconhecido que a destruição que eles trariam sobre Israel seria obra do Senhor, com o Senhor usando-os como instrumento: “Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele, ou presumirá a serra contra o que puxa por ela, como se o bordão movesse aos que o levantam, ou a vara levantasse como não sendo pau?” A palavra hebraica de onde “pau” foi traduzido significa “lenha”.[15] Todas as metáforas neste versículo, apresentadas como perguntas retóricas, fazem a mesma pergunta: Pode um homem—especificamente, o rei da Assíria—vencer a Deus?

No versículos 16 até 19 Isaías, continuando a falar, declara uma destruição rápida sobre a Assíria. O versículo 16 começa: “Por isso o Senhor, o Senhor dos Exércitos, fará definhar os que entre eles são gordos, e debaixo da sua glória ateará um incêndio, como incêndio de fogo”.[16] A frase “Por isso o Senhor…fará definhar os que entre eles são gordos” significa que o Senhor enviaria fraqueza entre os mais vigorosos guerreiros do rei da Assíria.

O versículo 17 revela a causa da conflagração: “Porque a Luz de Israel virá a ser como fogo e o seu Santo por labareda”―Estas frases equivalentes ensinam-nos que “a Luz de Israel” é o mesmo que “o seu Santo”, que significam o Messias ou Jesus Cristo.

Continuando no versículo 17, Isaías declara: “que abrase e consuma os seus espinheiros e as suas sarças num só dia”. “Seus” como foi usado aqui refere-se ao equivalente moderno do rei da Assíria, e “espinheiros” e “sarças” significam as mentiras e doutrinas falsas que ele plantou nos corações das pessoas.[17] Previamente, no capítulo 9, Isaías descreve a destruição na Segunda Vinda do Senhor. Ao invés de cenas comuns de batalhas com “tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue”, nesta destruição todos “serão queimados, servindo de combustível ao fogo”.[18]

O versículo 18 continua a descrição do rei da Assíria e suas hostes, tanto antigos quanto modernos: “Também consumirá a glória da sua floresta, e do seu campo fértil, desde a alma até à carne, e será como quando desmaia o porta-bandeira”.[19] “Sua floresta” significa os nobres ou líderes da Assíria, e “seu campo fértil” significa seus aparatos econômicos.[20] “Glória” como foi usado aqui significa força militar.[21] “Desde a alma até à carne” significa que a Assíria desapareceria completamente, tanto política quanto culturalmente. O porta-bandeira, em guerras do passado, fazia o papel vital de comunicação entre o comandante e seu exército. Com o porta-bandeira incapaz de prover esta comunicação, aconteceria um caos total.

Versículos 16 até 18 contêm um quiasma:

A: (16) Por isso o Senhor, o Senhor dos Exércitos, fará definhar os que entre eles são gordos,
B: e debaixo da sua glória
C: ateará um incêndio, como incêndio de fogo.
D: (17) Porque a Luz de Israel virá a ser como fogo
D: e o seu Santo por labareda,
C: que abrase e consuma os seus espinheiros e as suas sarças num só dia.
B: (18) Também consumirá a glória da sua floresta, e do seu campo fértil, desde a alma até à carne,
A: e será como quando desmaia o porta-bandeira.

“Fará definhar os que entre eles são gordos”, refere-se a debilidade física, que seria enviada ao exército assírio e a seu equivalente moderno, e compara-se com “quando desmaia o porta-bandeira”, o que resultaria numa confusão militar total. “Sua glória”, que significa a glória do Senhor na Sua vinda, é contrastada com “a glória da sua floresta”, que significa glória do mundo e força militar dos orgulhosos líderes da antiga Assíria e seu equivalente moderno. A frase “Ateará um incêndio, como incêndio de fogo” reflete-se na frase “que abrase e consuma os seus espinheiros e as suas sarças num só dia”. “A Luz de Israel virá a ser como fogo” é equivalente ao “seu Santo por labareda”, que contém o enfoque central deste quiasma.

Será que este incêndio refere-se a um holocausto nuclear, ou, está se referindo aos injustos sendo consumido pela glória da presença do Senhor? A combinação de elementos deste quiasma indica que a glória do Senhor será o fogo consumidor—os que não forem dignos da Sua presença e não puderem suportá-la serão consumidos. Note que além das destruições físicas, as verdades que serão manifestadas na Segunda Vinda do Senhor destruirão todas as mentiras e falsas doutrinas do equivalente moderno do rei da Assíria, e seus exércitos, num dia só.

No versículo 19, as “árvores” e a “floresta” referem-se aos líderes ou nobres da Assíria: “E o resto das árvores da sua floresta será tão pouco em número, que um menino poderá contá-las”. Quase todos seriam assassinados, dizimando suas fileiras.

No versículos 20 até 23, Isaías profetiza do retorno dos remanescentes de Israel, que estavam espalhados por todas as nações, nos últimos dias. O versículo 20 declara: “E acontecerá naquele dia que os restantes de Israel, e os que tiverem escapado da casa de Jacó, nunca mais se estribarão sobre aquele que os feriu; antes estribar-se-ão verdadeiramente sobre o Senhor, o Santo de Israel”. A palavra hebraica de onde o termo “se estribarão” foi traduzido, significa “confiar” ou “apoiar”.[22] Ao invés de colocarem sua confiança em déspotas malignos, os remanescentes colocariam sua confiança no Senhor.

O versículo 21 declara: “Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó”.[23] O Livro de Mórmon apresenta: “Os remanescentes retornarão, sim, os remanescentes de Jacó…”.[24]  A frase “os remanescentes retornarão” é a tradução em português para o nome do filho mais velho de Isaías, Sear-Jasube, indicando que este acontecimento profetizado para os últimos dias seria em cumprimento da profecia dada na época do nascimento do filho de Isaías.[25]

O versículo 22 continua: “Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça”. Israel como “a areia do mar” significa numerosos, mas espalhados. “Destruição” vem da palavra hebraica que significa “completa aniquilação”;[26] e “trasbordando em justiça” significa que a destruição cumpriria os desígnios justos do Senhor.

O versículo 23 declara: “Porque determinada já a destruição, o Senhor DEUS dos Exércitos a executará no meio de toda esta terra”. O significado é que os injustos seriam completamente destruídos da face da Terra.

No versículos 24 até 34, os últimos versículos deste capítulo, Isaías muda de assunto de repente, profetizando de uma invasão pela Assíria contra Jerusalém, onde encontram uma resistência milagrosa com a destruição do exército assírio pelo anjo do Senhor. Esta profecia foi cumprida durante o reinado de Ezequias.[27] Não somente a profecia prediz a derrota da antiga Assíria; isto é um símbolo da destruição do equivalente moderno da Assíria.

No versículo 24 Isaías declara autoritariamente: “Por isso assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos”, seguido pelas palavras do Senhor nos versículos 24 e 25: “Povo meu, que habitas em Sião, não temas à Assíria, quando te ferir com a vara, e contra ti levantar o seu bordão à maneira dos egípcios”. “À maneira dos egípcios” significa a crueldade dos Egípcios em outras épocas.[28] “Sião” é usada aqui com duplo sentido—um lugar para a coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para a antiga Jerusalém, particularmente sob seu rei justo. Estes significados refletem as diferentes épocas que esta profecia deveria se cumprir.[29]

O versículo 25 continua a sentença do versículo 24: “Porque daqui a bem pouco se cumprirá a minha indignação e a minha ira, para a consumir”. O ataque devastador da Assíria—tanto nos dias de Ezequias e no confronto equivalente nos últimos dias—duraria por um curto período de tempo. Esta declaração seria um grande conforto para aqueles que compreenderem a significância dos acontecimentos nos últimos dias.[30]

No versículos 26 e 27, Isaías descreve o que acontecerá naquela época. O versículo 26 declara: “Porque o Senhor dos Exércitos suscitará contra ela um flagelo, como na matança de Midiã junto à rocha de Orebe; e a sua vara estará sobre o mar, e ele a levantará como sucedeu aos egípcios”. A frase “matança de Midiã junto à rocha de Orebe” refere-se à quando Gideão liderou um exército de 300 Israelitas, identificados por sua maneira de beber água de um riacho—lambendo “as águas com a sua língua”, “levando a mão à boca”. Este pequeno exército assustou os Midianitas com trombetas e luzes; os resultados foram lutas, abate e derrota entre os Midianitas.[31] “Como sucedeu aos egípcios” neste caso refere-se à época quando os exércitos Egípcios foram destruídos pelas águas que retornaram quando tentaram perseguir Israel através das águas divididas do Mar Vermelho.[32]

No versículo 27, Isaías afirma que a opressão assíria seria desfeita: “E acontecerá, naquele dia, que a sua carga será tirada do teu ombro, e o seu jugo do teu pescoço; e o jugo será despedaçado por causa da unção”. A “unção” refere-se ao convênio do Senhor com Abraão[33] e também a promessa a Davi que seus descendentes justos sobre o trono de Judá seriam sustentados pelo Senhor.[34]

Apesar desta passagem predizer um acontecimento milagroso específico, que ocorreu durante o reinado de Ezequias, isto é um exemplo que prediz a intervenção do Senhor a favor de Seu povo nos últimos dias. Com certeza, isto também seria um grande milagre.

Os versículos 24 até 27 contêm um quiasma:

(24) Por isso assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos:
A: Povo meu, que habitas em Sião,
B: não temas à Assíria, quando te ferir com a vara, e contra ti levantar o seu bordão
C: à maneira dos egípcios.
D: (25) Porque daqui a bem pouco se cumprirá a minha indignação e a minha ira, para a consumir.
D: (26) Porque o Senhor dos Exércitos suscitará contra ela um flagelo, como na matança de Midiã junto à rocha de Orebe;
C: e a sua vara estará sobre o mar, e ele a levantará como sucedeu aos egípcios.
B: (27) E acontecerá, naquele dia, que a sua carga será tirada do teu ombro, e o seu jugo do teu pescoço;
A: e o jugo será despedaçado por causa da unção.

“Povo meu, que habitas em Sião” compara-se com “unção”, indicando que seria a retidão de Seu povo do convênio—apesar de provavelmente excedido em número pelos iníquos entre o povo—que levaria a intervenção miraculosa do Senhor contra o exército assírio. Também refere-se à unção de um rei davídico—neste caso Ezequias, que se humilharia diante do Senhor. “Quando te ferir com a vara, e contra ti levantar o seu bordão” contrasta-se com “que a sua carga será tirada do teu ombro, e o seu jugo do teu pescoço”, indicando que apesar dos açoites do rei da Assíria, sua opressão seria miraculosamente removida. “À maneira dos egípcios” no versículo 24 significa a opressão suportada pelos Israelitas escravizados no Egito, enquanto que “como sucedeu aos egípcios” no versículo 26 refere-se à destruição do exército egípcio no Mar Vermelho quando eles perseguiram os Israelitas guiados por Moisés. “A minha indignação” compara-se com “o Senhor dos Exércitos”, indicando quem está falando e de quem é a indignação que causaria a destruição.

Nos versículos 28 até 32, o avanço aterrorizante do rei da Assíria e seu exército é descrito por Isaías, mencionando vários bairros e vilas, finalmente chegando na base do outeiro onde Jerusalém está localizada:

“Já vem chegando a Aiate, já vai passando por Migrom, e em Micmás deixa a sua bagagem.
“Já passaram o desfiladeiro, já se alojam em Geba; já Ramá treme, e Gibeá de Saul vai fugindo.
“Clama alto com a tua voz, ó filha de Galim! Ouve, ó Laís! Ó tu pobre Anatote!
“Madmena já se foi; os moradores de Gebim vão fugindo em bandos.
“Ainda um dia parará em Nobe; acenará com a sua mão contra o monte da filha de Sião, o outeiro de Jerusalém.”

Alguns dos locais citados podem ser encontrados nos mapas bíblicos; veja especialmente o Mapa 4, “O Império de Davi e Salomão” na bíblia SUD em inglês.[35] A sucessão de nomes de lugares indica que o rei da Assíria avançaria do norte em direção a Jerusalém.

Isaías usa “o monte da filha de Sião” com duplo significado no versículo 32. O sentido principal aqui é como sinônimo para Jerusalém, mas quando esses acontecimentos são considerados como símbolos para acontecimentos nos últimos dias, outros significados podem ser observados. Em particular, refere-se ao lugar de coligação espiritual nos últimos dias, o qual estará sob ataque e será defendido miraculosamente pelo Senhor.[36] O Grande Pergaminho de Isaías mostra “…o monte da casa de Sião” no versículo 32.[37]

Os versículos 33 e 34 descrevem a derrota do exército assírio naquela época:

“Mas eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, cortará os ramos com violência, e os de alta estatura serão cortados, e os altivos serão abatidos.
“E cortará com ferro a espessura da floresta, e o Líbano cairá à mão de um poderoso.”

“Ramos”, “os de alta estatura” e a “floresta” referem-se aos líderes ou nobres assírios, que seriam cortados pelo poderoso machado de ferro do Senhor. Os elementos da metáfora nos são bem familiares.[38]

Esta profecia foi cumprida quando 185,000 soldados do exército assírio foram mortos durante a noite por um anjo do Senhor:

“Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram cadáveres.
“Então Senaqueribe, rei da Assíria, partiu, e se foi, e voltou e ficou em Nínive.
“E sucedeu que, estando ele prostrado na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada; porém eles escaparam para a terra de Ararate; e Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar.”[39]

NOTAS

[1]. Ver 2 Reis 18 e 19; também Isaías 36 e 37.
[2]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 6486, p. 824.
[3]. Isaías 5:25.
[4]. Isaías 9:12, 17, e 21.
[5]. Doutrina e Convênios 124:8.
[6]. Versículo 4 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: E abata/entre os presos//entre mortos/caia. Em Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 258.
[7]. 2 Néfi 20:5.
[8]. Versículos 4 até 6 contêm um quiasma: Se abata/a sua ira/Assíria//a vara/da minha ira/para ser pisado aos pés.
[9].  Ver 2 Néfi 10:6; também ver Isaías 8:3 e debate de Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 105.
[10]. 2 Néfi 20:10.
[11]. Fundou Em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/Fundou.
[12]. Ver Isaías 46:1.
[13]. Ver Isaías 1:27; 3:16; 4:3-4; 8:18; 10:24; 12:6; 51:3.
[14]. 2 Néfi 20:13.
[15]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6086, p. 781.
[16]. Ver Isaías 1:7, 28; 5:24; 9:5, 18-19 e comentário pertinente.
[17]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 9:18; 27:4; 32:13 e comentário pertinente.
[18]. Ver Isaías 9:5.
[19]. Versículos 17 e 18 contêm um quiasma: Os seus espinheiros e as suas sarças/glória da sua floresta//do seu campo fértil/desde a alma até à carne.
[20]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:33-34; 14:8; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[21]. Ver Isaías 8:7; 16:14; 17:3-4; 20:5; 21:16-17; 22:18; 66:12 e comentário pertinente.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 8172, p. 1043.
[23]. Versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Os restantes de Israel/se estribarão sobre aquele que os feriu//estribar-se-ão verdadeiramente sobre o Senhor/os restantes se converterão.
[24]. 2 Néfi 20:21.
[25]. Ver Isaías 7:3; também, Ver debate de Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 109.
[26]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3617, p. 478.
[27]. Ver 2 Reis 18 e 19; também Isaías 36 e 37.
[28]. Ver Isaías 10:24, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 24b.
[29]. Ver Isaías 1:27; 3:16; 4:3-4; 8:18; 10:12; 12:6; 51:3.
[30]. Ver Isaías 26:20; 30:29 e comentário pertinente.
[31]. Ver Juízes 7.
[32]. Êxodo 14:24-28.
[33]. Ver Gênesis 22:9-12, 15-18.
[34]. Ver Gênesis 49:10; 1 Reis 2:33; 1 Samuel 15:27-28.
[35]. Ver Mapa Bíblico 4.
[36]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 16:1; 37:22; 52:2; 62:11. Também ver Isaías 1:27; 3:16; 4:3-4; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 51:3.
[37]. Parry,  Harmonizing Isaiah [Harmonizando Isaías], 2001, p. 71.
[38]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:18-19; 14:8; 29:17; 32:15; 37:24; 55:12.
[39]. 2 Reis 19:35-37.

CAPÍTULO 8: “Porquanto Este Povo Desprezou As Águas De Siloé”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 8 começa com uma profecia da destruição que logo viria pelas mãos dos assírios, abrangendo os versículos 1 até 10. Esta profecia continua a mensagem de Isaías para Acaz, que começou no capítulo 7. A profecia é seguida por um sermão sacerdotal, abrangendo os versículos 11 até 18, onde Isaías declara que Cristo servirá de pedra de tropeço, e de rocha de escândalo, às duas casas de Israel, devido suas iniquidades. A parte final, que abrange os versículos 19 até 22, é uma condenação das iniquidades de Israel, por confiarem em médios e adivinhos para orientação espiritual, e as consequências por haverem feito isto.

Néfi citou este capítulo por completo com algumas modificações; diferenças na redação são mostradas em itálicos onde for citado. Compare 2 Néfi 18.

Isaías e seus filhos foram dados a Israel por sinais e por maravilhas do Senhor, como foi declarado no versículo 18.[1] Um exemplo foi dado no versículo 1, no qual o Senhor instrui Isaías: “Disse-me também o SENHOR: Toma um grande rolo, e escreve nele com caneta de homem: Apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa”. A frase “Apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa” é a tradução do nome hebraico do filho de Isaías, Maer-Salal-Has-Baz.

No versículo 2, Isaías declara: “Então tomei comigo fiéis testemunhas, a Urias sacerdote, e a Zacarias, filho de Jeberequias”. Na Lei de Moisés era requerido duas ou três testemunhas para se estabelecer qualquer assunto.[2]

O versículo 3 declara: “E fui ter com a profetisa, e ela concebeu, e deu à luz um filho; e o Senhor me disse: Põe-lhe o nome de Maer-Salal-Has-Baz”. O termo “a profetisa”, como foi usado neste versículo por Isaías refere-se à sua esposa, provavelmente refletindo sua sensibilidade espiritual.  O longo nome dado a seu filho, que em hebraico significa “apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa”,[3] como foi apresentado no versículo 1, é uma predição da destruição e cativeiro de Judá.[4]

As circunstancias da concepção e nascimento do filho mais velho de Isaías foram designadas pelo Senhor e realizadas expressamente por Isaías; o nome deste filho seria um sinal de um acontecimento futuro.

No versículo 4 encontramos o significado de “sinais e maravilhas”[5]: “Porque antes que o menino saiba dizer meu pai, ou minha mãe, se levarão as riquezas de Damasco, e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria”. O Livro de Mórmon apresenta esta passagem com pequenas mudanças: “Pois eis que antes que o menino saiba dizer meu pai e minha mãe, serão levadas as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria ao rei da Assíria”.[6] Isto testifica do pouco tempo antes destes acontecimentos começarem, Síria e Israel seriam derrotados e suas riquezas levadas para o rei da Assíria.[7], [8]

No versículos 5 e 6, Isaías declara: “E continuou o Senhor a falar ainda comigo, dizendo:
Porquanto este povo desprezou as águas de Siloé que correm brandamente, e alegrou-se com Rezim e com o filho de Remalias” ― Aqui o Senhor menciona as razões da destruição prestes a acontecer.

“Siloé”, traduzido da palavra hebraica Shiloach, significa “o Enviado”.[9] Como apresentado por algumas traduções Bíblicas, este é o nome dado a um manancial ao sudoeste de Jerusalém, que provia água potável para esta cidade antiga.[10], [11]  O termo “As águas de Siloé” metaforicamente, significa o evangelho de Jesus Cristo; porém antes de Seu ministério mortal, significava a Lei de Moisés. Nesta metáfora a fonte de água potável para a cidade de Jerusalém é comparada à fonte divina da água viva—o Salvador, que provê a salvação eterna.[12]

“Siloé” no versículo 6 é equivalente, quiasmaticamente, ao “Senhor” no versículo 7, revelando o significado intencionado por Isaías. A frase “As águas de Siloé que correm brandamente” significa que o evangelho é mais fácil de ser praticado do que suportar a opção oposta—caos, iniquidades, dissensão e destruição pelas mãos do exército Assírio. Compare as palavras do Redentor: “Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.[13] Em contraste, “Rezim e…o filho de Remalias” representam os líderes iníquos da Síria e do Reino Setentrional de Israel, junto com suas típicas características mundanas.

“Siló”, traduzido da palavra hebraica Shiyloh em alguns casos[14], significa “aquele a quem pertence”[15], e é pronunciado semelhante a palavra hebraica Shiloach. Assim, a palavra “Siloé”, usada no versículo 6, descreve o papel do Senhor como o Criador e dono supremo da Terra e seus recursos, para quem prestamos conta de nossa mordomia. No fim da longa vida do patriarca Jacó, ele abençoou a cada um de seus doze filhos; sobre os descendentes de Judá ele conferiu o direito a realeza: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló (significando “aquele a quem pertence”) e a ele se congregarão os povos”.[16] Davi e seus descendentes, inclusive Jesus Cristo, eram descendentes de Judá e tinham parte nesta bênção.

“Siló” é usado pelo profeta Joseph Smith em sua tradução inspirada de uma parte de Gênesis:

“E disse José a seus irmãos: Eu morro e vou para meus pais; e desço à sepultura com alegria. O Deus de meu pai Jacó esteja convosco, para livrar-vos da aflição nos dias de vosso cativeiro; pois o Senhor visitou-me e obtive do Senhor uma promessa de que, do fruto dos meus lombos, o Senhor suscitará um ramo justo de meus lombos; e a ti, a quem meu pai Jacó chamou Israel, um profeta; (não o Messias que é chamado Siló;) e esse profeta libertará meu povo do Egito nos dias da tua escravidão.”[17]

Obviamente, “Siloé” ou “Siló” significa Jesus Cristo, o Messias que viria—o Criador, e portanto o Dono, da Terra e seus recursos. Como foi usado aqui por Isaías, também refere-se ao que deu a lei: Aquele cujo dedo escreveu sobre as placas de pedra no Monte Sinai. Esta verdade essencial deve ser evidente a todos os leitores das escrituras. Jeová—apresentado como “o Senhor” na verão da Bíblia de João Ferreira de Almeida, no Velho Testamento—e Jesus Cristo são o mesmo.

O nome Siló, pronunciado semelhante a “Siloé”, foi dado a um local da herança dos descendentes de Efraim, um dos filhos de José.[18] Quando as Doze Tribos, liderada por Josué, entraram na terra de Canaã, o Tabernáculo—incluindo a arca do Convênio—foi primeiramente colocado em Siló.[19] Quando Israel, consistindo das dez tribos do norte ou setentrional, separaram-se de Judá, que se consistia das duas tribos do sul ou meridional, Siló tornou-se um centro religioso equivalente a Jerusalém, incluindo a edificação e estabelecimento de um templo. A Arca do Convênio ficou lá por muitos anos.[20] Depois da conquista e cativeiro das dez tribos, Siló tornou-se parte de Samaria.

Nos versículos 7 e 8 Isaías descreve os exércitos invasores Assírios metaforicamente, como se fossem uma enchente inundando a terra. O versículo 7 começa: “Portanto eis que o Senhor fará subir sobre eles as águas do rio, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; e subirá sobre todos os seus leitos, e transbordará por todas as suas ribanceiras”.  A palavra “glória”, como foi usada neste caso, significa forças armadas.[21] Nesta declaração Isaías dá a interpretação da metáfora, que foi aplicada em vários outros lugares em sua obra. A frase “as águas do Rio” significa o rio Eufrates, o que é um símbolo para rei da Assíria.[22] O uso de “o Senhor” neste caso, enfatiza Seu papel como comandante militar, usando o rei da Assíria como representante. O Grande Pergaminho de Isaías usa neste caso “Jeová e “o Senhor”.[23]

Os versículos 4 até 7 contêm um quiasma:

A: (4) Porque antes que o menino saiba dizer meu pai, ou minha mãe, se levarão as riquezas de Damasco, e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria.
B: (5) E continuou o Senhor a falar ainda comigo, dizendo: (6) Porquanto este povo desprezou as águas
C: de Siloé que correm brandamente,
D: e alegrou-se com Rezim
D: e com o filho de Remalias,
C: (7) Portanto eis que Jeová o Senhor fará subir sobre eles
B: as águas do Rio, fortes e impetuosas,
A: isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; e subirá sobre todos os seus leitos, e transbordará por todas as suas ribanceiras.

“Rei da Assíria” no versículos 4 e 7 engloba o elemento introdutório e suas reflexões. “Águas [de Siloé]” é o oposto de “as águas do Rio”, contrastando a paz e segurança da obediência ao evangelho com a destruição pelo exército invasor da Assíria—caracterizado metaforicamente como uma enchente furiosa. “Siloé” é equivalente ao “Senhor”, identificando claramente o comandante militar. Alegrar-se com Rezim e com o filho de Remalias, ao invés de com o Senhor, é a razão desta destruição predita.

Versículo 8 continua: “E passará a Judá, inundando-o, e irá passando por ele e chegará até ao pescoço; e a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra, ó Emanuel”. “Tua terra, ó Emanuel” refere-se à terra prometida pelo Senhor—o Salvador que viria—ao Seu povo.

Versículos 7 e 8 contêm um quiasma:

A: (7) Portanto eis que Jeová o Senhor fará subir sobre eles
B: as águas do Rio, fortes e impetuosas,
C: isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória;
D: e subirá sobre todos os seus leitos,
D: e transbordará por todas as suas ribanceiras.
C: (8) E passará a Judá, inundando-o, e irá passando por ele e chegará até o pescoço;
B: e a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra,
A: ó Emanuel.

Jeová o Senhor” é quiasmaticamente equivalente a “Emanuel”, que significa “Deus conosco”, novamente identificando Jeová como o Senhor—o comandante militar representado aqui pela Assíria—como o Messias que viria. As duas metáforas “as águas do Rio” e “asas” descrevem o avanço dos exércitos da Assíria e como se espalhariam sobre a terra. “Assíria” contrasta-se com “Judá”, denotando sua relação conflituosa. “Subirá sobre todos os seus leitos” é equivalente a “transbordará por todas as suas ribanceiras”, que, como ponto central do quiasma, descreve metaforicamente as invasões do exército Assírio.

Os versículos 9 e 10 contêm ameaças e advertências, que foram profeticamente preditas por Isaías, que seriam feitas pelo rei da Assíria. O versículo 9 começa: “Ajuntai-vos, ó povos, e sereis quebrantados; dai ouvidos, todos os que sois de terras longínquas; cingi-vos e sereis feitos em pedaços, cingi-vos e sereis feitos em pedaços”. O significado desta passagem é que não seria de nenhum proveito para Jerusalém ser coligada, nem para os seus defensores serem cingidos com armaduras e armas, pois seriam todos feitos em pedaços. A repetição dupla destas frases finais enfatiza a seriedade da ameaça.

O rei da Assíria continua no versículo 10: “Tomai juntamente conselho, e ele será frustrado; dizei uma palavra, e ela não subsistirá, porque Deus é conosco”. Por causa da iniquidade dos Israelitas, Deus traria seu grande exército sobre eles para destruí-los e levá-los cativos. Não daria em nada o fato de juntarem-se em conselho. A frase pronunciada pelo rei da Assíria, “Deus é conosco”, se tornou realidade; o rei da Assíria agiria como instrumento na mão de Deus.

Versículos 8 até 10 contêm um quiasma:

A: (8) …ó Emanuel.
B: (9) Ajuntai-vos, ó povos, e sereis quebrantados; dai ouvidos, todos os que sois de terras longínquas;
C: cingi-vos e sereis feitos em pedaços,
C: cingi-vos e sereis feitos em pedaços.
B: (10) Tomai juntamente conselho, e ele será frustrado; dizei uma palavra, e ela não subsistirá,
A: porque Deus é conosco.

“Emanuel” é equivalente quiasmaticamente a “Deus é conosco”, mostrando a definição hebraica deste nome.[24] “Ajuntai-vos, ó povos” é equivalente a “tomai juntamente conselho”, provendo o sentido intencionado. Duas repetições da frase “cingi-vos e sereis feitos em pedaços” enfatizam a seriedade das ameaças do rei da Assíria.

Note que o quiasma dos versículos 7 e 8 se transpassa com quiasma dos versículos 8 até 10, com as declarações introdutórias de ambos quiasmas sendo equivalentes. “Jeová, o Senhor”, “Emanuel” e “Deus é conosco” são todos equivalentes, denotando que o Deus do Velho Testamento é o mesmo que nasceu de uma virgem.[25] Ele é um ser diferente e distinto de Deus, o Pai, que se chama Eloím em hebraico, cujas palavras foram registradas por Isaías mais tarde, na primeira parte do capítulo 42.[26]

Os versículos 11 até 18 contêm um sermão sacerdotal. O versículo 11 começa: “Porque assim o Senhor me disse com mão forte, e me ensinou que não andasse pelo caminho deste povo, dizendo” — “Com mão forte” significa Seu forte aperto de mão, ou com poder.[27] Esta declaração descreve um relacionamento pessoal entre o Senhor e Seu profeta. O “caminho deste povo” geralmente significa o conhecimento do Plano de Salvação, porém entre o povo que Isaías pregava, este termo foi grandemente corrompido.[28]

O versículo 12 continua a sentença do versículo 11: “Não chameis conjuração, a tudo quanto este povo chama conjuração; e não temais o que ele teme, nem tampouco vos assombreis”. O sentido intencionado por Isaías é “não concorde com aqueles que querem formar uma aliança para a defesa, e livra-se de seus medos sem fé”.

No versículo 13, Isaías declara que o povo deve mudar seus caminhos: “Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro”, o profeta admoestou.

Os versículos 12 e 13 foram parafraseados pelo apóstolo Pedro:

Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis;
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós (ênfases adicionadas).[29]

O povo de Judá, entretanto, não ouviu os conselhos de Isaías. Somos informados em 2 Reis que Acaz, rei de Judá:

“…enviou mensageiros a Tiglate-Pileser, rei da Assíria, dizendo: Eu sou teu servo e teu filho; sobe, e livra-me das mãos do rei da Síria, e das mãos do rei de Israel, que se levantam contra mim.
“E tomou Acaz a prata e o ouro que se achou na casa do Senhor, e nos tesouros da casa do rei, e mandou um presente ao rei da Assíria.
“E o rei da Assíria lhe deu ouvidos; pois o rei da Assíria subiu contra Damasco, e tomou-a e levou cativo o povo para Quir, e matou a Rezim.”[30]

No versículo 14 o sermão de Isaías continua: “Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém”. Para os justos os mandamentos do Senhor servem como um santuário dos problemas da vida. Os ensinamentos do Senhor abrem o caminho para recebermos orientação espiritual, conforto e segurança nesta vida e na vida eterna no mundo vindeiro.[31] Para os que recusam os Seus mandamentos, Ele servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo.

O versículo 14 foi citado por Pedro e Paulo no Novo Testamento. Paulo diz: “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido”.[32]

O versículo 15 descreve o resultado da obstinação dos iníquos: “E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos”. Tropeçando e caindo são consequências espirituais por não dar atenção à verdade, ou por dar ouvidos às falsas doutrinas, enquanto sendo quebrantados, enlaçados, e levados em cativeiro são consequências temporais, preditas aqui por Isaías.

No versículo 16 diz: “Liga o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos”. Apesar da interpretação desta passagem apresentar alguns desafios, é apresentada da mesma forma no Livro de Mórmon[33] e no Grande Pergaminho de Isaías,[34] indicando que este é o significado do original em hebraico. A palavra hebraica traduzida como “lei” significa “ensinamentos” ou “doutrina”.[35]

O versículo 16 contém duas frases paralelas, “liga o testemunho” e “sela a lei”. Devido serem frases paralelas, “liga” e “sela” são sinônimos, e “testemunho” e “lei” são sinônimos também. Note que estas palavras são combinadas em ordem inversa no versículo 20, no lado descendente do quiasma.

A sinonímia apresenta-se em duas passagens de Doutrina e Convênios onde são intercambiadas. Numa passagem aparece como “ligar a lei e selar o testemunho”,[36] enquanto na outra como “que selem a lei e liguem o testemunho”.[37] O sentido permanece o mesmo em ambas passagens.

A “lei”, refere-se a lei de Moisés, ou a lei do evangelho, depois do ministério de Cristo, com referências especiais às escrituras. No Novo Testamento, a frase “a lei e os profetas” é usada para designar o cânon judaico de escrituras.[38] Então a lei ou o evangelho, como foi registrado nas escrituras, é o que será selado nas mentes e corações dos discípulos.

“Ligar o testemunho” e “selar a lei entre os meus discípulos” tem sido a tarefa principal dos profetas e líderes eclesiásticos durante todas as eras, ordenada pelo Senhor; e pais devem aceitar semelhante responsabilidade concernente a criação de seus filhos. No versículo 16 esta tarefa é dada pelo Senhor a Isaías.

O significado da passagem é aparente na suplicação de Joseph Smith na oração dedicatória do Templo de Kirtland: “Portanto, ó Senhor, livra teu povo da calamidade dos iníquos; permite a teus servos que selem a lei e liguem o testemunho, a fim de que estejam preparados para o dia da queima” (ênfases adicionadas).[39]

O mesmo sentido foi apresentado pelo Apóstolo Paulo: “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo”.[40]

Um significado literal para o versículo 16 pode ser que Isaías levou o pergaminho onde escreveu estas profecias, enrolou-o e amarrou-o com uma corda de couro, e depois selou-o com um selo de argila, como símbolo de que as profecias estavam cumpridas. Isaías, então, deu as profecias para seus discípulos para futuras referências. Quando suas profecias viessem a se cumprir no futuro, isto seria um testemunho de que ele era um verdadeiro profeta.[41]

No versículo 17 Isaías testifica que ele aceitou a incumbência dada pelo Senhor no versículo 16: “E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei”. O Senhor esconde seu rosto da casa de Jacó por causa das iniquidades.

Além disso, no versículo 18, o profeta oferece a si mesmo e seus filhos como instrumentos ao Senhor: “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião”. Um exemplo disto são os nomes que Isaías deu a seus filhos: Maer-Salal-Has-Baz, que significa “apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa”[42] e Sear-Jasube, que significa “um resto voltará”.[43] O nome Isaías significa “Jeová salva”.[44] O “Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião” denota que seria Jeová quem viria habitar na Terra nos últimos dias. “Monte de Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para Jerusalém, especialmente o templo em Jerusalém.[45]

Nos versículos 19 e 20 o Senhor adverte contra a feitiçaria. O versículo 19 declara: “Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?” O Livro de Mórmon apresenta: “para que os vivos ouçam os mortos?”[46] Esta pergunta retórica revela a tolice que é confiar em adivinhos. “Chilreiam” significa fazer sons repetidos sem sentido.

O versículo 20 afirma: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles”. Aqui, “a lei e ao testemunho” referem-se às escrituras escritas e aos convênios contidos nelas, para onde o povo deve retornar.

Nos versículos 21 e 22 Isaías descreve o que sobrecairia aos que não tivessem nenhuma luz dentro de si. O versículo 21 começa: “E passarão pela terra duramente oprimidos e famintos; e será que, tendo fome, e enfurecendo-se, então amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus, olhando para cima”. A palavra “oprimido” significa “que sofre opressão” ou “reprimido”.[47] “Oprimido” implica ser desabrigado.

Os versículos 14 até 21 contêm um quiasma:

A: (14) Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém. (15) E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos.
B: (16) Liga o testemunho,
C: sela a lei entre os meus discípulos.
D: (17) E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei.
E: (18) Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião.
E: (19) Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram:
D: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?
C: (20) À lei
B: e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.
A: (21) E passarão pela terra duramente oprimidos e famintos; e será que, tendo fome, e enfurecendo-se, então amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus, olhando para cima.

“Pedra de tropeço e de rocha de escândalo” é igual a “amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus”, descrevendo como os ímpios tropeçarão. “Testemunho” e “lei” refletem-se em “lei” e “testemunho” em ordem inversa; e “esperarei ao Senhor” contrasta-se com “não consultará um povo a seu Deus?” “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas” é o oposto de “Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram”. A tolice de procurar adivinhos que chilreiam é contrastado com o ato de receber orientação e inspiração do Senhor.

O versículo 22 conclui: “E, olhando para a terra, eis que haverá angústia e escuridão, e sombras de ansiedade, e serão empurrados para as trevas”. Esta descrição do estado dos iníquos é semelhante às descrições usadas em outros lugares por Isaías para descrever as terras onde os eleitos deverão juntar-se nos últimos dias: “E bramarão contra eles naquele dia, como o bramido do mar; então olharão para a terra, e eis que só verão trevas e ânsia, e a luz se escurecerá nos céus”.[48]  Trevas e ânsia, e escuridão espiritual—condições predominantes dos iníquos—caracterizam as terras onde Israel será coligada nos últimos dias.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 8:18.
[2]. Deuteronômio 19:15.
[3]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4122, p. 555; ver Isaías 10:6.
[4]. Versículos 1 até 3 contêm um quiasma: Disse-me/o SENHOR/toma/Urias//Zacarias/E fui/o Senhor/me disse.
[5]. Ver Isaías 8:18.
[6]. 2 Néfi 18:4.
[7]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12; 54:7.
[8]. Versículos 3 e 4 contêm um quiasma: E fui ter com a profetisa/filho/nome//Maer-Salal-Has-Baz/menino/ pai…mãe.
[9]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7975, p. 1019.
[10]. Neemías 3:15; ver a tradução da Biblia Reina-Valera (SUD, 2009) em espanhol, a tradução King James (SUD, 1979) em Inglês, e outras. Na versão de João Ferreira de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, o nome do manancial foi traduzido como Hasselá.
11]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet: [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta] Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 148.
[12]. Compare João 4:10-14.
[13]. Mateus 11:30.
[14]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7886, p. 1010.
[15]. Gênesis 49:10; Ver Dicionário Bíblico—Shiloh.
[16]. Gênesis 49:10.
[17]. Seleções da Tradução de Joseph Smith da Bíblia (em Inglês), TJS, Gênesis 50:24; Ver também Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p.114-116.
[18]. Ver Josué 18:1; 1 Samuel 3:21.
[19]. Ver Josué 18:1.
[20]. Ver 1 Samuel 4:4.
[21]. Ver Isaías 10:18; 16:14; 17:3-4; 20:5; 21:16-17; 22:18; 66:12.
[22]. Isaías 17:12-13; 28:2, 17; 43:2.
[23]. Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research and Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University, [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young]:  Provo, Utah, 2001, pages 60 e 270.
[24]. Ver Mateus 1:23.
[25]. Ver Isaías 7:14.
[26]. Ver Isaías 42:1-7 e comentário pertinente.
[27]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías] Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 86.
[28]. Ver Isaías 3:12; 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[29]. 1 Pedro 3:14-15.
[30]. 2 Reis 16:7-9.
[31]. Ver D&C 59:23.
[32]. Romanos 9:33; Ver também 1 Pedro 2:8.
[33]. 2 Néfi 18:16.
[34]. Parry,  Harmonizing Isaiah [Harmonizando Isaías]: 2001, p. 62.
[35]. Brown et al., 1996, Número de Strong 8451, p. 435.
[36]. Doutrina e Convênios 88:84.
[37]. D&C 109:46.
[38]. Ver Mateus 7:12; 22:40; Lucas 16:16; 24:44; João 1:45; Atos 13:15; 24:14; 28:23; Romanos 3:21.
[39]. D&C 109:46.
[40]. Hebreus 8:10. Ver também Isaías 51:7, Jeremias 31:33, e Provérbios 3:3.
[41]. David Rolph Seely, “Isaiah Chapter Review [Revisão do Cap]: 2 Néfi 18/Isaías 8”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial para o Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 373.
[42]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4122, p. 555.
[43]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7610, p. 984.
[44]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3470, p. 447.
[45]. Ver Isaías 1:27; 3:16; 4:3-4; 10:12, 24; 12:6; 51:3.
[46]. 2 Néfi 18:19.
[47]. Oprimido em Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/oprimido.
[48]. Isaías 5:30.