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CAPÍTULO 56: “Também Os Levarei Ao Meu Santo Monte, E Os Alegrarei Na Minha Casa De Oração”

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Neste capítulo o Senhor declara que nos últimos dias todos aqueles que guardam Seus mandamentos, pertencendo ou não à linhagem de Israel, serão recebidos como parte do povo do convênio—podendo participar integralmente das bênçãos e convênios do Senhor, inclusive das ordenanças do templo. Esta profecia de Isaías foi, em parte, cumprida quando foi revelado a Pedro que o evangelho deveria ser pregado aos gentios. A profecia foi cumprida ainda mais quando foi anunciado pela Primeira Presidência, em 8 de junho de 1978, que todos os homens dignos, membros da Igreja, poderiam receber o sacerdócio, inclusive as bênçãos do templo, sem acepção de raça ou cor. O capítulo termina com uma vívida descrição de ministros que abandonaram o Senhor, contrastado-os com o povo justo que não fazia parte da linhagem do convênio, mas que aceitou o Senhor.

O conceito principal deste capítulo reflete-se nas palavras do hino “Alegres Cantemos”:

Alegres cantemos, não somos estranhos,
Podemos na terra encontrar salvação;
Alegres notícias os povos recebem;
Em breve virá a final redenção (ênfases adicionadas).[1]

O versículo 1 declara: “Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar”. O Senhor adverte que o dia da salvação, quando Ele se manifestará, está prestes a vir. “Justiça”, como foi usado aqui, significa “equidade”.[2] Outros significados encontrados na obra de Isaías incluem justiça social,[3] retribuição,[4] raciocínio são,[5] e um sistema de lei equitativo.[6] O Senhor adverte a todos a fazer justiça.

No versículo 2, o Senhor declara a necessidade de guardar Seus mandamentos: “Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal”.[7] A retidão pessoal nos preparará para o dia do Senhor. “Homem” e “filho do homem” significa qualquer membro da família humana, independente de seus ancestrais ou sexo. Guardar o sábado, ou o dia do Senhor, é um convênio que fazemos com Deus que mostra nosso amor e lealdade a Ele.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo,
B: e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar.
C: (2) Bem-aventurado o homem que fizer isto,
C: e o filho do homem que lançar mão disto;
B: que se guarda de profanar o sábado,
A: e guarda a sua mão de fazer algum mal.

“Guardai o juízo” complementa “guarda a sua mão de fazer algum mal”, que define mais precisamente o significado desta frase. “Fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar” corresponde-se com “que se guarda de profanar o sábado”. Esta equidade quiasmática enfatiza a importância de guardar o dia santificado. Ao guardar o juízo e evitar o mal, juntamente com guardar o dia do Senhor, prepara o homem no caminho da retidão para salvação do Senhor, que está prestes a vir.

Nos versículos 3 até 6, o Senhor declara que aqueles que antes eram excluídos sob a Lei de Moisés seriam um dia recebidos para compartilhar de todas as bênçãos do evangelho, baseando-se somente no princípio de retidão pessoal. O versículo 3 começa: “E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca”. Os estrangeiros—ou seja, aqueles que não eram parte da casa de Israel, mas que aceitaram o evangelho apesar de não serem parte da linhagem do convênio—receberão as mesmas bênçãos que o povo do convênio receber.[8] Os eunucos, que sob a Lei de Moisés eram excluídos,[9] também serão bem-vindos a compartilharem das bênçãos e ordenanças do Senhor, baseando-se na retidão pessoal. Os estrangeiros e os eunucos também representam aqueles que, desde os tempos antigos, eram proibidos de receberem as bênçãos do sacerdócio devido suas descendências.[10]

O versículo 4 declara: “Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança”— A retidão pessoal por guardar os mandamentos seria o único requerimento para receber as bênçãos e convênios do Senhor.

No versículo 5, o Senhor promete grandes bênçãos aos eunucos que O servirem: “Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará”. [11] A palavra hebraica traduzida como “lugar” neste passagem é “família de descendentes”.[12] Aqueles que foram negados a oportunidade de terem filhos durante a vida mortal por causa de problemas físicos, receberão bênçãos ainda maiores baseando-se na retidão pessoal. “Um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará” refere-se ao nome da família sendo perpetuado através de seus descendentes, por toda a eternidade. A casa do Senhor é o lugar onde as bênçãos mencionadas serão concedidas.

No versículo 6 Isaías resume: “E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança”. Isaías declara que as bênçãos do convênio ficariam disponíveis a todos—inclusive aos justos que não fazem parte da linhagem escolhida. “O sábado” não significa somente o dia de descanso e adoração;[13] sob a Lei de Moisés, dias de celebrações importantes eram consideradas como sábados, ou dias santificados.[14] Havia também anos de sábado, ou santificado[15] e anos de júbilo, cada um com requerimentos e observâncias específicos.

Durante Seu ministério terreno o Senhor Jesus Cristo profetizou que o evangelho e as bênçãos do sacerdócio seriam concedidos aos membros da casa de Israel primeiro, e por último aos outros; mas nos últimos dias a ordem seria invertida: “Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.[16]

Néfi predisse estas mesmas coisas acerca das dispensações do evangelho que viria depois dele:

“E chegará o tempo em que ele se manifestará à todas as nações, tanto aos judeus como aos gentios; e depois de haver-se manifestado aos judeus e também aos gentios, ele manifestar-se-á aos gentios e também aos judeus; e os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.[17]

O evangelho seria dado aos gentios, porque os judeus rejeitariam o Messias durante Seu ministério terreno. Na dispensação da plenitude dos tempos, os gentios e outros receberiam as bênçãos do evangelho antes que o povo judeu tivessem a oportunidade de recebê-las.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Porque assim diz o Senhor
B: a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:
C: (5) Também lhes
D: darei na minha casa e dentro dos meus muros
E: um lugar e um nome, melhor do que o de filhos
E: e filhas;
D: um nome eterno darei a cada um deles,
C: que nunca se apagará.
B: (6) E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem,
A: e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança—

A mensagem deste quiasma é que os que foram excluídos de receber as bênçãos do Senhor sob a Lei de Moisés—os que não faziam parte da linhagem do convênio e aqueles incapazes de terem progenitura devido à problemas físicos—serão bem-vindos nos últimos dias a compartilharem de todas as bênçãos do Senhor, baseando-se só na retidão pessoal. “Assim diz o Senhor” corresponde-se com “para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança”. Se amamos o Senhor, daremos ouvidos às Suas palavras. “A respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança” complementa “e aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem”.

O versículo 7 prediz a disponibilidade mundial das ordenanças do templo: “Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios [ou seja, convênios] serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. O Senhor receberia todos os povos, mesmo os que não faziam parte do povo do convênio, no templo e aceitaria suas ordenanças e ofertas. O “meu santo monte” significa o templo e suas sagradas ordenanças e convênios.[18]

Jesus citou parte do versículo 7 quando expulsou os comenciantes e cambistas do templo: “E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.[19]

Desde o tempo de Isaías, esta profecia predizendo que os que não eram da linhagem do convênio receberiam a mensagem, bênçãos e ordenanças do evangelho foi cumprida devido dois acontecimentos.

Primeiro, o Apóstolo Pedro—depois de ter-lhe sido mostrado num sonho que o evangelho seria pregado aos gentios—declarou: “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo”.[20] Depois disto o evangelho foi pregado extensivamente entre os gentios, como é evidente no Novo Testamento nas inúmeras epístolas às congregações de crentes gentios.

Segundo, no dia 8 de junho de 1978 o Presidente Spencer W. Kimball anunciou à Igreja e ao mundo que o tempo havia chegado quando todo homem digno, membro da Igreja, de qualquer raça poderia ser ordenado ao sacerdócio e compartilhar das bênçãos que dele provém, inclusive as bênçãos do templo:

“Ao testemunharmos a expansão da obra do Senhor na Terra, sentimo-nos gratos por terem os povos de muitas nações aceitado a mensagem do evangelho restaurado, filiando-se à Igreja em número cada vez maior. Isso despertou em nós o desejo de conceder a todos os membros dignos da Igreja todos os privilégios e bênçãos que o evangelho proporciona.
“Cônscios das promessas feitas pelos profetas e presidentes da Igreja que nos precederam, de que, a um dado momento no plano eterno de Deus, todos os nossos irmãos dignos receberiam o sacerdócio; e testemunhando a fidelidade daqueles que haviam sido impedidos de recebê-lo, imploramos longa e fervorosamente por esses nossos fiéis irmãos, passando muitas horas na Sala Superior do Templo, a suplicar a orientação divina do Senhor.
“Ele ouviu nossas orações e, por revelação, confirmou que era chegado o dia, há muito prometido, em que todo homem da Igreja fiel e digno poderia receber o santo sacerdócio, com o poder para exercer sua autoridade divina e usufruir, com seus entes queridos, todas as bênçãos que dele provém, incluindo-se as bênçãos do templo. Portanto todos os homens dignos da Igreja podem ser ordenados ao sacerdócio, independentemente de sua raça ou cor. Instruímos os líderes do sacerdócio a seguirem a diretriz de, cuidadosamente, entrevistar todos os candidatos à ordenação, seja ao Sacerdócio Aarônico ou ao de Melquisedeque, para verificar se atendem aos padrões de dignidade estabelecidos.
“Declaramos solenemente que o Senhor deu agora a conhecer sua vontade para bênção de todos os seus filhos, em toda a Terra, que atenderem à voz de seus servos autorizados e se prepararem para receber todas as bênçãos do evangelho”.[21]

A construção de mais de 140 templos também é de grande significância em trazer as bênçãos do evangelho a todo o mundo, tornando disponível as mais altas ordenanças e convênios à muitas nações, sob inspiração dos Presidentes Gordon B. Hinckley e Thomas S. Monson.[22], [23]

O versículo 7 contém um quiasma:

A: (7) Também os levarei ao meu santo monte,
B: e os alegrarei na minha casa de oração;
C: os seus holocaustos
C: e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar;
B: porque a minha casa será chamada casa de oração
A: para todos os povos.

Este quiasma prediz que nos últimos dias o Senhor convidará a todos, independentemente de raça ou descendência, a participarem integralmente das ordenanças e bênçãos do evangelho. “Os levarei ao meu santo monte” corresponde-se com “todos os povos”.

O versículo 8 proclama: “Assim diz o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram”.[24] Outros que não são da linhagem do convênio serão coligados, juntamente com Israel, nos últimos dias.

Os versículos 1 até 8 contêm um quiasma de grande escala:[25]

A: (1) Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar.
B: (2) Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto;
C: que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal.
D: (3) E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo;
E: nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca.
F: (4) Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados,
F: e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:
E: (5) Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará.
D: (6) E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos,
C: todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança,
B: (7) Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.
A: (8) Assim diz o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram.

O enfoque deste quiasma é “porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança”, mostrando que a retidão pessoal é de importância primordial para o indivíduo receber as bênçãos do Senhor —independentemente de linhagem ou condições físicas. “A minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar” complementa “o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel”, identificando a época como sendo a da coligação de Israel quando o Senhor autorizará oferecer as bênçãos do sacerdócio e as bênçãos do templo a todos, basendo-se somente na retidão pessoal. “Que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal” é equivalente a “todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança”, ressaltando a importância da observância do dia santificado como um componente da retidão pessoal.

Nos versículos 9 até 12, Isaías condena a negligência dos líderes e ministros apóstatas de Israel que abandonaram o Senhor—um contraste marcante com os fiéis que não fazem parte do povo do convênio, cujo potencial para as bênçãos é descrito nos versículos anteriores neste capítulo. O povo foi deixado desprotegido dos perigos que virão, devido a grande negligência de seus líderes.

No versículo 9, Isaías prediz o avanço das nações gentias, descrevendo-os metaforicamente como predadores ferozes que atacariam o desprevinido povo do convênio: “Vós, todos os animais do campo, todos os animais dos bosques, vinde comer”. Como leões vorazes, as nações gentías devorariam e dispersariam o rebanho desprotegido.

Os versículos 10 até 12 descrevem ministros e líderes gananciosos da antiga Israel—comparando-os com cães de guarda que não ladram—cujo desamparo resultou em Israel sendo levada cativa e dispersa. Esta mesma descrição corresponde com os potentados e ministros na época de Cristo, cuja rejeição do Messias resultou em Israel sendo, novamente, ferida e dispersa. A descrição de Isaías também corresponde-se aos ministros dos últimos dias que negam a Restauração, não reconhecendo a mão do Senhor na preparação para a Sua Segunda Vinda.

Primeiro, Isaías descreve os líderes e ministros negligentes como atalaias cegos; depois ele compara-os com cães mudos e gananciosos; finalmente, ele os descreve como pastores que não compreendem nada. O versículo 10 começa: “Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono”. “Os seus atalaias” refere-se àqueles que têm a responsabilidade de fornecer orientação moral, que professam ter autoridade sacerdotal e discernimento profético. Isaías apresentou o símile de “atalaias” antes, no capítulo 21.[26]

O versículo 11 continua: “11E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte”. “Todos eles se tornam para o seu caminho” contrasta-se com o caminho do Senhor, ou o Plano de Salvação.[27] A ganância toma o lugar do amor e interesse por aqueles por quem têm responsabilidade eclesiástica.

Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma:

A: (10) Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem;
B: todos são cães mudos, não podem ladrar;
C: andam adormecidos,
C: estão deitados, e gostam do sono.
B: (11) E estes cães são gulosos, não se podem fartar;
A: e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte.

“Atalaias” e “pastores” são equivalentes, ambos significando ministros ou líderes que deveriam ter sido fiéis ao Senhor. Estes ministros preguiçosos são gulosos (gananciosos) e egoístas, preocupados somente com seus próprios ganhos. Como se estivessem adormecidos, eles são incapazes de dar advertências a tempo.

O versículo 12 conclui a descrição dos ministros negligentes: “Vinde, dizem, trarei vinho, e beberemos bebida forte; e o dia de amanhã será como este, e ainda muito mais abundante”. O Grande Pergaminho de Isaías diz “vinde, dizem, traiamos nós vinho …”.[28] Os ministros são gananciosos e buscam seus próprios interesses; eles abandonaram o Senhor e Seus caminhos.

Anteriormente, no capítulo 28, Isaías atesta sobre a falta de inspiração desses ministros: “Mas também estes erram por causa do vinho, e com a bebida forte se desencaminham …”.[29] Esta sentença significa que suas artimanhas sacerdotais, orgulho e busca das riquezas e honra do mundo deixaram-nos destituídos das coisas espirituais, que são obtidas somente através de revelação de Deus. “Até o sacerdote e o profeta” que professam ter autoridade sacerdotal e discernimento profético “erram por causa da bebida forte; são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo”.[30] Devido aqueles que assumem autoridade eclesiástica terem-se entregue aos apetites mundanos e suas gratificações, suas visões e julgamentos são incorretos e eles não são inspirados pelo Senhor. Esta descrição também caracteriza a decadência espiritual e moral, muito comum nas predominantes religiões de nossos dias.

NOTAS

[1]. Hinos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990, Hino número 3, “Alegres Cantemos”, estrofe 1.
[2]. Ver Isaías 1:21; 53:8; 59:9, 11, 14, 15; 61:8.
[3]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 9:7; 42:1; 59:8.
[4]. Ver Isaías 1:17; 3:14; 4:4; 34:5.
[5]. Ver Isaías 1:17; 28:7; 40:14, 27; 42:3; 59:8.
[6]. Ver Isaías 51:4; 54:17.
[7]. Este quiasma dos versículos 1 e 2 tem outra forma alternativa: Guardai o juízo/fazei justiça/salvação está prestes a vir//minha justiça, para se manifestar/o homem que fizer isto/que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal.
[8]. Ver Deuteronômio 23:3.
[9]. Ver Deuteronômio 23:1.
[10]. Ver Moisés 7:22; Abraão 1:26-27.
[11]. O versículo 5 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Lhes darei/um nome//um nome/darei a cada um deles. Em Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[12]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1004, p. 108.
[13]. Ver Êxodo 20:10-11; Deuteronômio 5:15.
[14]. Ver Levítico 23:24-32, 39-43.
[15]. Ver Levítico 25:2-7.
[16]. Mateus 20:16; Ver também Marcos 10:31 e Lucas 13:30.
[17]. 1 Néfi 13:42; Ver também Éter 13:12.
[18]. Ver Isaías 2:3; 30:29; 65:11; 66:20 e comentário pertinente.
[19]. Mateus 21:13; Ver também Marcos 11:17; Lucas 19:46.
[20]. Atos 10:34-35.
[21]. Doutrina e Convênios, Declaração Oficial 2.
[22]. Gordon B. Hinckley, “A Igreja se Fortalece”, A Liahona, Maio de 2004, p. 4-5.
[23]. Brook P. Hales, “Relatório Estatístico de 2013”, A Liahona, Maio de 2014, p. 4-5.
[24]. O versículo 8 contém um quiasma: O Senhor DEUS, que congrega/os dispersos/outros//aos/que já se/lhe ajuntaram.
[25]. Compare com Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 470-471.
[26]. Ver Isaías 21:6; 52:8; 62:6 e comentário pertinente.
[27]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 35:8; 40:3; 49:11; 51:10; 62:10 e comentário pertinente.
[28]. Parry, 2001, p. 220.
[29]. Isaías 28:7.
[30]. Isaías 28:7.

CAPÍTULO 55: “Porque Os Meus Pensamentos Não São Os Vossos Pensamentos, Nem Os Vossos Caminhos Os Meus Caminhos”

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Este capítulo começa com um desafio de deixar para trás atividades mundanas e compartilhar das espirituais, que estão disponíveis abundantemente e sem preço através de revelações de Deus. Os homens são ordenados a buscar ao Senhor—cuja recompensa é a salvação eterna. Os pensamentos do Senhor são superiores aos dos homens, mas Ele promete derramar revelações e orientação, se pedirmos em fé. O povo do Senhor em todas as épocas pode ser reconhecido pelas revelações recebidas.

Este capítulo marca o princípio de uma grande divisão do Livro de Isaías, que abrange os capítulos 55 até 66, no qual é descrito o glorioso retorno de Israel à sua terra natal, depois do arrependimento e purificação.[1]

O versículo 1 começa: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”. As bênçãos da Expiação estão disponíveis sem preço temporal.[2] “Às águas” significam inspiração e revelação dos céus.[3] “Sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” são metáforas para alimento e conhecimento espirituais, provido pelo Senhor de graça aos que creem através da Sião dos últimos dias e seus recolhidos de Israel.

Néfi parafraseia o versículo 1, fornecendo explicações interpretativas:

“Ele [o Senhor Deus] nada faz que não seja em benefício do mundo; porque ama o mundo a ponto de entregar sua própria vida para atrair a si todos os homens. Portanto a ninguém ordena que não participe de sua salvação.
“Eis que clama ele a alguém, dizendo: Afasta-te de mim? Eis que vos digo: Não; mas ele diz: Vinde a mim todos vós, extremos da Terra, comprai leite e mel sem dinheiro e sem preço”.[4]

O versículo 2 continua a mesma metáfora, fornecendo um desafio de deixar pra trás as atividades mundanas a favor das espirituais: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura”. A palavra hebraica traduzida como “gordura” significa “abundância”.[5] “Aquilo que não é pão” é qualquer coisa na qual investimos dinheiro ou esforços que não nos traz nenhum proveito eterno.

Jacó, o irmão de Néfi, parafraseia os versículos 1 e 2, expandindo o significado:

“Vinde, meus irmãos, todos os que tendes sede, vinde às águas; e aquele que não tem dinheiro venha comprar e comer; sim, vinde comprar vinho e leite, sem dinheiro e sem preço.
“Portanto não despendais dinheiro naquilo que não tem valor, nem vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer. Ouvi-me atentamente e lembrai-vos das palavras que disse; e vinde ao Santo de Israel e fartai-vos daquilo que não perece nem pode ser corrompido; e deixai que vossa alma se deleite na abundância”.[6]

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro,
B: vinde, comprai, e comei; sim, vinde,
C: comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
C: (2) Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?
B: Ouvi-me atentamente e lembrai-vos das palavras que disse; e vinde ao Santo de Israel e fartai-vos daquilo que não perece nem pode ser corrompido;
A: e a vossa alma se deleite com a gordura.

“Todos os que tendes sede, vinde às águas” é complementado por “a vossa alma se deleite com a gordura”; aqueles que têm fome e sede de conhecimento espirituais e aproxima-se do Senhor serão satisfeitos. “Comprai, sem dinheiro e sem preço” contrasta-se com “por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?” As atividades mundanas não resultam em alimento ou satisfação espiritual.

No versículo 3, o Senhor desafiou-nos a sintonizar-nos com a voz do Espirito Santo: “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi”. Se ouvirmos e obedecermos, o Senhor fará convênios eternos conosco.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor fez desafios semelhantes: “… buscai sempre a face do Senhor para que, em paciência, possuais vossa alma; e tereis vida eterna”.[7] Também em Doutrina e Convênios, o Senhor afirma que para Ele achegar-Se à nós é necessário que nos acheguemos a Ele: “Achegai-vos a mim e achegar-me-ei a vós; procurai-me diligentemente e achar-me-eis; pedi e recebereis; batei e ser-vos-á aberto”.[8]

O Senhor deu o significado da frase “vossa alma viverá” como sendo levantado na ressurreição:

Portanto, se dormistes em paz, bem-aventurados sois; porque como agora me vedes e sabeis que eu sou, assim também vireis a mim e vossa alma viverá e vossa redenção será aperfeiçoada; e os santos ressurgirão dos quatro cantos da Terra (ênfases adicionadas).[9]

“Se dormistes em paz” significa ter vivido em retidão ao ponto que, ao deparar-se com a morte, não tenha medo de prestar conta de seus atos perante Deus.

O profeta Amós desafiou: “Buscai ao Senhor, e vivei, para que ele não irrompa na casa de José como um fogo, e a consuma, e não haja em Betel quem o apague”.[10] Se não buscarmos o Senhor, a destruição será certa, mesmo que façamos parte da linhagem do convênio e frequentemos o templo sagrado (Betel).

Paulo, ao falar aos Judeus de Antioquia da Pisídia, explicou o significado da frase de Isaías, “as santas e fiéis bênçãos de Davi”:

“E que o ressuscitaria dentre os mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei.
“Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a vontade de Deus, dormiu, foi posto junto de seus pais e viu a corrupção.
“Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu.
“Seja-vos, pois, notório, homens irmãos, que por este [Jesus] se vos anuncia a remissão dos pecados.
“E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê” (ênfases adicionadas).[11]

“As santas e fiéis bênçãos de Davi” é a promessa da ressurreição incondicional—juntamente com a exaltação, que poderemos receber mediante o perdão de nossos pecados através do arrependimento—por meio da Expiação de Jesus Cristo. O termo “corrupção”, como foi usado aqui por Paulo, significa a deterioração do corpo na morte. Também, o fato de que Jesus não veria corrupção, expressa o estado sem pecado de Cristo, enquanto que Davi havia cometido sérios pecados.[12]

No versículo 4, o Senhor descreve a missão dada a Davi: “Eis que eu o dei por testemunha aos povos, como líder e governador dos povos”. Na antiguidade, o Senhor escolheu Davi para ser um líder e um exemplo para o povo; este versículo refere-se a um Davi moderno a quem seria dado a mesma responsabilidade.

No versículo 5, Isaías profetizou sobre acontecimentos que ocorreriam nos últimos dias: “Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque ele te glorificou”. Israel nos últimos dias espalhará o evangelho entre as nações gentias; os povos das nações gentias fugirão para a Sião moderna buscando refúgio por causa da glória que lhe deu o Senhor.

Compare as palavras do Senhor ao Profeta Joseph Smith:

“Em verdade eu digo a vós todos: Erguei-vos e brilhai, para que vossa luz seja um estandarte para as nações;
“E para que a reunião na terra de Sião e em suas estacas seja uma defesa e um refúgio contra a tempestade e contra a ira, quando for derramada, sem mistura, sobre toda a Terra”.[13]

No versículo 6, Isaías faz um desafio: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto”.[14] O Senhor ordena-nos que O busquemos sem demoras, porque um dia será tarde demais.

O Senhor fez este mesmo desafio ao Profeta Joseph Smith e seus companheiros:

“E também, em verdade vos digo, meus amigos: Deixo-vos estas palavras para que pondereis em vosso coração com este mandamento que vos dou de que me invoqueis enquanto estou perto
“chegai-vos a mim e achegar-me-ei a vós; procurai-me diligentemente e achar-me-eis; pedi e recebereis; batei e ser-vos-á aberto” (ênfases adicionadas).[15]

No Novo Testamento, Tiago estendeu a mesma promessa, a qual o jovem Joseph Smith aceitou em 1820:

“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.
“Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que dúvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte”.[16]

Deus é a maior fonte de sabedoria espiritual, a quem podemos recorrer com fé, sem medo.

Maiores detalhes concernente a este mandamento foram dados a Joseph Smith:

“Tendes ordem porém de, em todas as coisas, pedir a Deus, que dá liberalmente; e aquilo que o Espírito vos testificar, assim quisera eu que fizésseis em toda santidade de coração, andando retamente perante mim, refletindo sobre o resultado de vossa salvação, fazendo todas as coisas com oração e ação de graças …”.[17]

No versículo 7, Isaías estabelece a doutrina do arrependimento: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. O perdão e a misericórdia do Senhor estão dependentes do arrependimento do homem, que significa abandonar os pensamentos e atos malignos. O caminho dos iníquos contrasta-se com o caminho do Senhor, que é o Plano de Salvação.[18]

As palavras de Isaías fazem referências ao proverbio de Salomão: “Deixai os insensatos e vivei; e andai pelo caminho do entendimento”.[19]

Ao citar os versículos 6 e 7, Delbert L. Stapley ensinou:

“Este conselho é tão importante para nós hoje em dia quanto foi em tempos antigos. Os progressivos e frustrantes problemas mundiais, agravados pelo abandono geral dos verdadeiros ensinamentos e éticas cristãos, são sinais de iminentes perigos e muito sofrimento, a menos que o homem abandone seus pecados e volte-se a Deus com sincero arrependimento. Somente evitando as armadilhas do mal e seguindo o conselho de Isaías poderemos esperar receber a misericórdia e o perdão abundante de Deus”.[20]

Nos versículos 8 e 9, o Senhor explica que Seus pensamentos e caminhos são superiores aos dos homens. O versículo 8 começa: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor”. Os pensamentos e os caminhos do Senhor estão muito mais elevados do que o do homem.

Os versículos 7 e 8 contêm um quiasma:

A: (7) Deixe o ímpio o seu caminho,
B: e o homem maligno os seus pensamentos,
C: e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele;
C: torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.
B: (8) Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
A: nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.

Pensamentos e atos iníquos devem ser abandonados; se nos arrependermos e retornarmos ao Senhor, Ele nos perdoará completamente. Então, através de revelações, o Senhor nos elevará ao nível de seus pensamentos. “Deixe o ímpio o seu caminho” complementa “nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor”. O iníquo terá que abandonar o seu caminho e aceitar o caminho do Senhor.

O versículo 9 continua a explicação do Senhor, que começou no versículo 8: “Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”. Os pensamentos e caminhos do Senhor são mais altos do que os dos homens mundanos e são incompreensíveis para eles.

Os versículos 8 e 9 contêm um quiasma:

A: (8) Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
B: nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.
C: (9) Porque assim como os céus
C: são mais altos do que a terra,
B: assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos,
A: e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.

Este quiasma ensina que bem como os céus são mais altos do que a terra, os caminhos do Senhor são superiores aos dos homens. “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos” é equivalente a “os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”.

No versículo 10, o Senhor descreve o processo natural da chuva e do crescimento da safra: “Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come”— O propósito da chuva é o de beneficiar a Terra, ao invés de beneficiar as nuvens de onde vieram.

O versículo 11 explica a metáfora: “Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei”. “Regam a terra” como foi usado no versículo 10 e explicado no versículo 11 é uma metáfora para inspiração e revelações dos céus.[21] As palavras do Senhor serão todas cumpridas, assim como Ele deseja.

A metáfora de Isaías sobre as revelações de Deus, descendendo sobre a Terra como a chuva, foi bem explicada nas palavras do hino “Qual Orvalho Que Cintila”:

Qual orvalho que cintila
Nos canteiros do vergel
E os envolve brandamente,
Gotejando lá do céu.

Faze ó Pai onipotente
Teus ensinos orvalhar
Nossas almas, concedendo,
Teu eterno bem-estar.[22]

Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma:

A: (10) Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar,
B: e dar semente ao semeador, e pão ao que come,
C: (11) Assim será a minha palavra,
C: que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia,
B: antes fará o que me apraz,
A: e prosperará naquilo para que a enviei.

Neste quiasma o Senhor compara a chuva com as revelações divinas; ambas realizando seus bons intentos sobre a Terra. Bem como a chuva não retorna aos céus da mesma forma, mas resulta numa colheita produtiva, a palavra do Senhor não voltará para Ele vazia, mas realizará o bem que Ele deseja. “Assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar” é complementado por “[a palavra do Senhor] prosperará naquilo para que a enviei”.

No versículo 12, Isaías prevê o resultado abençoado de Sião por receber e ouvir as revelações do Deus: “Porque com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cântico diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas”. O Grande Pergaminho de Isaías diz “Porque com alegria saireis, e em paz voltareis …”.[23] “Montes” e “outeiros” significam nações, grandes e pequenas;[24] “as árvores do campo” significam líderes das nações,[25] esclarecendo quem bateriam as suas palmas.

No capítulo 44, usando estas mesmas metáforas, Isaías exultou: “Cantai alegres, vós, ó céus, porque o Senhor o fez; exultai vós, as partes mais baixas da terra; vós, montes, retumbai com júbilo; também vós, bosques, e todas as suas árvores; porque o Senhor remiu a Jacó, e glorificou-se em Israel” (ênfases adicionadas).[26]

No versículo 13, Isaías usa outra metáfora para melhor descrever as bênçãos de revelações contínuas dadas ao povo do Senhor: “Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta; o que será para o Senhor por nome, e por sinal eterno, que nunca se apagará”. Os espinheiros e as sarças representam doutrinas falsas,[27] dissipadas pelas revelações do Senhor. A faia e a murta representam as doutrinas verdadeiras do Senhor, que tomam o lugar das doutrinas falsas; a faia e a murta são reconhecidas por sua agradável fragrância. O povo do Senhor sempre será reconhecido como um povo que recebe continuamente revelações do Senhor, um “sinal eterno, que nunca se apagará”.
NOTAS

[1]. Os capítulos 2 até 39 descrevem Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; os capítulos 40 até 54 descrevem Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e os capítulos 55 até 66 descrevem o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[2]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 488.
[3]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:11; 58:11 e comentário pertinente.
[4]. 2 Néfi 26:24-25.
[5]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1880, p. 206.
[6]. 2 Néfi 9:50-51.
[7]. Doutrina e Convênios 101:38.
[8]. D&C 88:63.
[9]. D&C 45:46.
[10]. Amós 5:6.
[11]. Atos 13:34, 36-39.
[12]. Ver 2 Samuel 11:1-19; 12:1-10.
[13]. D&C 115:5-6.
[14]. Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma: Chamarás a uma nação/uma nação que nunca te conheceu/correrá para ti/Senhor teu Deus//Santo de Israel/ele te glorificou/buscai ao Senhor/invocai-o.
[15]. D&C 88:62-63.
[16]. Tiago 1:5-6.
[17]. D&C 46:7.
[18]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 40:3; 56:11 e comentário pertinente.
[19]. Provérbios 9:6.
[20]. Delbert L. Stapley, “The Path to Eternal Glory” [O Caminho à Glória Eterna], Ensign, Julho 1973, p. 99.
[21]. Ver Isaías 12:3; 30:25; 35:6-7; 55:1; 58:11 e comentário pertinente.
[22]. Hinos da A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1990, Hino número 91, “Qual Orvalho Que Cintila”, estrofes 1 e 2.
[23]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 216.
[24]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[25]. Ver Isaías 9:18; 10:18-19, 33-34; 14:8; 29:17; 32:15; 37:24.
[26]. Isaías 44:23.
[27]. Ver Isaías 5:6; 9:18; 10:17; 27:4; 32:13 e comentário pertinente.

CAPÍTULO 54: “Não O Impecas; Alonga As Tuas Cordas, E Fixa Bem As Tuas Estacas”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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Este capítulo é uma profecia da coligação e restauração de Israel nos últimos dias. Isaías usa a metáfora de uma mulher desprezada e viúva para representar a posteridade de Israel, ferida e dispersa, mas que será reunida nos últimos dias e receberá grandes bênçãos. O profeta usa outra metáfora—o antigo tabernáculo israelita, o qual era um templo transportável—para representar a Sião dos últimos dias, o meio pelo qual a coligação de Israel será realizada. Os filhos mencionados são a posteridade de Israel que estará reunida em Sião, membros conversos da Igreja.

Este capítulo é o último da grande divisão no Livro de Isaías, que abrange os capítulos 40 até 54, na qual a antiga nação de Israel é descrita em exílio no mundo em geral, interagindo com as pessoas e acontecimentos.[1] Este capítulo, então, representa o final do longo período de exílio e o princípio da fase gloriosa da coligação e restauração.

Os capítulos 48 até 54 são citados por completo ou em parte no Livro de Mórmon[2] e são explicados e expandidos em detalhes. O capítulo 54 é citado por completo pelo Senhor ressuscitado aos Seus discípulos nefitas; a redação no Livro de Mórmon, em 3 Néfi capítulo 22, é quase idêntica à versão de João Ferreira de Almeida. A citação deste capítulo enfatiza a intenção de ser uma instrução para os últimos dias, já que seria propagada por todo o mundo depois da Restauração como parte do Livro de Mórmon. Depois de haver citado este capítulo, Jesus instruiu aos nefitas: “Portanto, dai ouvidos a minhas palavras; escrevei as coisas que vos disse; e conforme o tempo e a vontade do Pai, chegarão aos gentios”.[3] Tantos os gentios quanto os israelitas seriam reunidos a fim de compartilharem das bênçãos de Sião.[4]

Nos versículos 1 até 6 Isaías descreve uma mulher—estéril, desprezada e viúva—como uma metáfora para a posteridade de Israel que foi desprezada, ferida e dispersa devido suas iniquidades. O versículo 1 começa: “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR”. O Senhor ressuscitado no Livro de Mórmon inseriu “E então o que está escrito acontecerá” no começo do versículo 1, que estabelece o período nos últimos dias quando esta profecia será cumprida.[5] Aqui, o profeta prediz a coligação nos últimos dias, a retidão, e o produtividade da Israel penitente e seus prosélitos. Juntamente com os descendentes literais de Israel, os gentios aceitariam o evangelho restaurado e tornar-se-iam dignos das bênçãos de Abraão, sendo acrescentados àqueles que seriam coligados.

Isaías usou a mesma metáfora anteriormente, no capítulo 49:

“E dirás no teu coração: Quem me gerou estes? Pois eu estava desfilhada e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara; quem, pois, me criou estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?”[6]

O Apóstolo Paulo citou o versículo 1: “Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido”.[7] As palavras de Paulo variam das de Isaías.

O versículo 2 usa outra metáfora importante apresentada anteriormente:[8] “Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas”. Nesta metáfora Isaías compara a Sião predita dos últimos dias com o tabernáculo dos israelitas antigos, o qual era um templo transportável. Estacas e cordas eram usadas para estabilizar a viga central e a própria tenda.

Isaías ensina que Sião—a igreja restaurada nos últimos dias—é o instrumento pelo qual Israel seria reunida e voltaria a ser justa. Uma “estaca”, conforme foi usada aqui, é uma unidade da igreja em uma área geográfica específica, na qual todos os programas, autoridade do sacerdócio, ordenanças e bênçãos do evangelho restaurado, necessários para a exaltação, estão disponíveis aos membros—inclusive as bênçãos do templo. Uma estaca consiste de várias “alas”, que são divisões geográficas locais, na qual os membros reúnem-se em várias congregações. Uma estaca é dirigida por uma presidência, que consiste do presidente e dois conselheiros; eles são auxiliados na administração dos assuntos da estaca por um sumo conselho, consistindo de doze sumo sacerdotes. A liderança da estaca é subordinada às autoridades gerais, que têm autoridade administrativa sobre a igreja no mundo inteiro. As autoridades gerais e as organizações auxiliares tendo autoridade administrativa geral formam a estaca central de Sião, que são, por sua vez, auxiliadas pelas estacas localizadas pelo mundo todo.

A metáfora de Isaías sobre o antigo tabernáculo israelita representando a Sião nos últimos dias foi apresentada no capítulo 33 para afirmar que Sião sobreviveria: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará”.[9]

Os termos “Sião” e “Jerusalém” nesta passagem são sinônimos, ambos referindo-se ao povo justo do Senhor nos últimos dias. Sião nos últimos dias não sendo removida significa que nunca mais haveria uma apostasia geral. “Solenidades” significa repetidas celebrações ou cerimônias durante as quais ordenanças sagradas são realizadas.[10]

Morôni, descrevendo profeticamente a restauração nos últimos dias, parafraseou outra declaração de Isaías:

“E desperta e levanta-te do pó, ó Jerusalém; sim, e veste-te com teus vestidos formosos, ó filha de Sião; e fortalece tuas estacas e alarga tuas fronteiras para sempre, a fim de que já não sejas confundida, para que se cumpram os convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó casa de Israel! (Ênfase adicionada).[11]

O Senhor, ao direcionar a obra da restauração nos últimos dias, através de revelações a Joseph Smith, frequentemente referiu-se à organização e fortalecimento das estacas. Ao ordenar que uma estaca fosse organizada em Kirtland, Ohio, o Senhor declarou:

“Pois consagrei a terra de Kirtland, no meu próprio e devido tempo, para benefício dos santos do Altíssimo e como uma estaca de Sião.
“Pois Sião deve crescer em beleza e em santidade; suas fronteiras devem ser expandidas; suas estacas devem ser fortalecidas; sim, em verdade vos digo: Sião deve erguer-se e vestir suas formosas vestes”.[12]

Note que o Senhor parafraseou a declaração profética de Isaías, confirmando o seu significado.[13]

Merrill J. Bateman descreveu o cumprimento desta profecia nos últimos dias:

“Isaías … (fala) da tenda que representa o evangelho de Cristo. Ele declara que nos últimos dias as cordas da tenda seriam estendidas por toda a Terra e plantar-se-iam estacas em todas as terras. Literalmente, estamos vendo isso cumprir-se nos dias de hoje. Ao considerar essas passagens, fiquei pensando na imensa tarefa de ajudar as Autoridades Gerais a levar o evangelho a toda nação, tribo, língua e povo …. Devido às visões de Isaías e Daniel, imploro-vos, irmãos, que nos auxilieis com vossa fé e com vossas orações. Desejo, de todo o coração, ser um servo desses homens e do Senhor o Salvador, Jesus Cristo”.[14]

O versículo 2 contém dois quiasmas reconhecidos no original em hebraico, que foram organizados aqui para corresponder com a construção hebraica:[15]

A: Amplia
B: o lugar da tua tenda,
B: e as cortinas das tuas habitações
A: estendam-se.

A: Não o impeças; alonga
B: as tuas cordas,
B: e as tuas estacas
A: fixa bem.

“Tenda”, “cortinas”, “cordas” e “estacas” formam o enfoque deste quiasma. As palavras chaves nas declarações introdutórias e suas reflexões são todas verbos de ação: “Amplia”, “estendam-se”, “alonga” e “fixa bem”.

O versículo 3 prediz o crescimento e florescimento da Sião nos últimos dias: “Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. Como será que as cidades dos gentios—aqueles que não quiserem aceitar o evangelho restaurado—ficarão assoladas? Algumas possibilidades podem sem que elas seriam abandonadas antes dos exércitos invasores atacarem[16] ou assoladas por pestilências, radiação ou condições climáticas adversas.[17]

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

A: (1) Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria,
B: tu que não tiveste dores de parto;
C: porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR.
D: (2) Amplia o lugar da tua tenda,
E: e estendam-se as cortinas das tuas habitações;
E: não o impeças; alonga as tuas cordas,
D: e fixa bem as tuas estacas.
C: (3) Porque transbordarás para a direita e para a esquerda;
B: e a tua descendência possuirá os gentios
A: e fará que sejam habitadas as cidades assoladas.

A Israel dos últimos dias expandir-se-ia grandemente, ocupando lugares que antes eram habitados pelos gentios. Estacas serão estabelecidas e fortalecidas entre o povo reunido. “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria” é complementado por “fará que sejam habitadas as cidades assoladas”. A mulher que antes era estéril, representando Israel, regozija-se porque as cidades assoladas dos gentios deverão ser habitadas por sua descendência. “Tu que não tiveste dores de parto” contrasta-se com “a tua descendência possuirá os gentios”.

No versículo 4 o Senhor consola os coligados de Israel: “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”. O Livro de Mórmon apresenta “… porque te esquecerás da vergonha da tua mocidade e não te lembrarás do opróbrio da tua juventude e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez”.[18] “Tua mocidade” representa o período de iniquidade de Israel na Terra Prometida, já a “tua viuvez” representa o período quando Israel estava dispersa entre as nações da Terra, abandonada pelo Senhor.

No versículo 5, o Senhor explica a metáfora: “Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”.

O versículo 6 oferece maior explicação: “Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu Deus”. Para a palavra “desamparada”, o original em hebraico usa “rejeitada” ou “desprezada”.[19] O Senhor chama a nova Israel nos últimos dias para ser o Seu povo, apesar da rejeição anterior devido as iniquidades.

Os versículos 4 até 6 contêm um quiasma:

A: (4) Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada;
B: antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade,
C: e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.
D: (5) Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome;
E: e o Santo de Israel
E: é o teu Redentor;
D: que é chamado o Deus de toda a terra.
C: (6) Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito;
B: como a mulher da mocidade,
A: que fora desprezada, diz o teu Deus.

Neste quiasma a metáfora de uma mulher desprezada é usada para explicar o amor e cuidado do Senhor para com Israel, apesar de sua iniquidade anterior. “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada” contrasta-se com “que fora desprezada, diz o teu Deus”. Mesmo que Israel tenha sido desprezada devido suas transgressões, nos últimos dias ela não será envergonhada.

O versículo 7 resume: “Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei”. Aqui, o Senhor prediz a coligação de Israel das terras para onde foi dispersa por tanto tempo.[20] O “breve momento”, o qual de acordo com o modo de calcular dos homens é mil anos, durante o qual Israel há sido desprezada, pode refletir o ponto de vista do Senhor de que qualquer iniquidade que foi cometida no passado é de pouca consequência depois do completo arrependimento.[21]

O Senhor oferece semelhante consolação ao Profeta Joseph Smith durante seu encarceramento na Cadeia de Liberty, Missouri:

“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento;
“E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos” (ênfases adicionadas).[22]

A prometida exaltação de Joseph Smith é típica da que será dada à Israel penitente nos últimos dias.

O Senhor continua Seu consolo à moderna Israel no versículo 8: “Com um pouco de ira escondi a minha face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor”. O Senhor explicou a Ezequiel a razão pela qual Ele escondeu Sua face de Israel: “Conforme a sua imundícia e conforme as suas transgressões me houve com eles, e escondi deles a minha face”.[23]

No versículo 9 o Senhor declara: “Porque isto será para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não passariam mais sobre a terra; assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei”.[24] O Livro de Mórmon omite a última frase, “nem te repreenderei”.[25] O Senhor compara Seu convênio com Noé—que não haveria mais dilúvios que cobririam toda a Terra[26]—com o convênio que fez com os penitentes de Israel, de que não se irará mais contra a casa de Israel.

O versículo 10 declara: “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti”. As promessas do Senhor são mais duradouras e imutáveis do que os montes e os outeiros. Além de representarem características topográficas, “montes” e “outeiros” também significam nações, grandes e pequenas.[27] Os convênios do Senhor com Israel—feitos com seu pai, Abraão, e seus herdeiros[28]—ainda estão em efeito, mesmo que as grandes e pequenas nações possam surgir e cair.

O versículo 11 descreve mais sobre o convênio do Senhor com Israel: “Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada, eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras”. Estas pedras preciosas são símbolos da fundação das verdades eternas que são inestimáveis. Safiras são pedras preciosas azuis compostas de coríndon, ou óxido de alumínio. “Safira” vem da palavra hebraica sappir.[29]

Ao citar o versículo 11, Aileen H. Clyde da Presidência Geral da Sociedade de Socorro descreveu o simbolismo destas pedras preciosas:

“Neste mundo atribulado, os alicerces em que confio assentam-se em meus convênios com o Senhor. São realmente como safiras e tesouros inestimáveis. Por meio deles, estou eternamente ligada a meus entes queridos e a Deus. Refiro-me aos princípios e ordenanças restaurados do evangelho de Jesus Cristo, aos quais todo homem e mulher justos podem ter acesso por meio do poder do santo sacerdócio de Deus, que incluem: o batismo, o dom do Espírito Santo, o sacramento e os convênios do templo. São esses os meios que nos foram oferecidos, os quais somos livres para aceitar a fim de garantirmos nossa vida eterna”.[30]

O versículo 12 continua o simbolismo, descrevendo melhor o convênio do Senhor: “E farei os teus vitrais de rubis, e as tuas portas de carbúnculos, e todos os teus termos de pedras aprazíveis”. O Livro de Mórmon apresenta: “E as tuas janelas farei de ágata e as tuas portas, de rubis …”

As janelas do Templo SUD de San Antonio, Texas, foram decoradas com ágatas tiradas do mesmo outeiro do Templo em reconhecimento a esta passagem nas escrituras. Não só o Senhor abençoará à Israel penitente com grande abundância; mas como também colocará verdades preciosas e eternas como sua fundação e adorno. Ágata é uma variedade de calcedônia, uma sílica microcristalina que apresenta camadas de partes claras e escuras; carbúnculo é uma variedade de granada vermelha preciosa. A palavra “aprazíveis” no hebraico é “deleitável”.[31]

O versículo 13 proclama: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”.[32] Observe a causa e consequência: Os filhos sendo ensinados do Senhor resulta na paz abundante que eles terão; reciprocamente, a paz abundante dos filhos vem devido os filhos sendo ensinados do Senhor. Não há outra fonte no mundo onde podemos encontrar a duradoura paz.

Spencer W. Kimball explicou o versículo 13:

“E que grandioso legado para nossos filhos Isaías prometeu: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Certamente todos bons pais gostariam que seus filhos tivessem essa paz, que vem através da vida simples do verdadeiro Santo dos Últimos Dias quando ele faz o melhor no seu lar e em sua família”.[33]

Jesus citou o versículo 13 durante Seu ministério mortal: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”.[34]

Os versículos 11 até 13 contêm um quiasma:

A: (11) Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada,
B: eis que eu assentarei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre as safiras.
C: (12) E farei os teus vitrais de ágata,
C: e as tuas portas de rubis,
B: e todos os teus termos de pedras aprazíveis.
A: (13) E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante.

“Tu, oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada” contrasta-se com “e todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. Apesar de Israel ter sofrido muito, seus filhos—se forem ensinado sobre o Senhor e Suas doutrinas—desfrutarão da paz abundante. A paz a ser desfrutada pelos filhos dependerá se eles estarão alicerçados nas verdadeiras doutrinas, que foi representadas aqui pelas pedras preciosas ou semipreciosas. A paz deverá ser ensinada e aprendida—não acontecerá espontaneamente.

O versículo 14 promete: “Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão, porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”. Através da retidão, o Senhor promete liberdade da opressão, do medo e do temor.

No versículo 15 o Senhor promete defender Seu povo do convênio contra os opressores: “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. O Livro de Mórmon apresenta: “Eis que certamente se ajuntarão contra ti …”.[35]

Jesus, ao mencionar a parábola do trigo e do joio, descreveu a ordem em que os iníquos e os justos serão reunidos: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”.[36] A reunião de grandes exércitos acontecerá primeiro, seguido pela coligação dos justos em Sião. Mesmo que sua intensão era a de lutar contra o povo do convênio do Senhor, o resultado será a sua destruição, cumprindo, assim, os propósitos do Senhor. Sua destruição seria seguida pela coligação dos justos de Sião, onde encontrarão segurança.

No versículo 16 o Senhor descreve Seu propósito ao levantar exércitos com intenção de destruir os justos: “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também criei o assolador, para destruir”.

O versículo 17 resume, declarando que a segurança é a herança dos que servem ao Senhor: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. O termo “juízo”, como foi usado aqui, significa “litígio”; bem como “um sistema de lei”.[37] O significado é que aqueles que formarem exércitos ou levantarem ações legais contra os justos serão desafiados, derrotados e condenados.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor repete a promessa aos Seus discípulos dos últimos dias:“Em verdade, assim vos diz o Senhor: Arma alguma que se forme contra vós prosperará;
“E se contra vós algum homem erguer a voz, em meu próprio e devido tempo será confundido”.[38]

Nesta inspirada oração dedicatória para o Templo de Kirtland, o Profeta Joseph Smith parafraseia o versículo 17 e outras partes do capítulo 54, confirmando seus significados:

“Rogamos-te, Pai Santo, que estabeleças o povo que adorará e honrosamente terá um nome e uma posição nesta tua casa por todas as gerações e pela eternidade;
“Que arma alguma formada contra eles prospere; que o que cavar uma cova para eles, nela caia ele mesmo;
“Que nenhuma combinação iníqua tenha poder para levantar-se e prevalecer contra teu povo, sobre quem se colocará teu nome nesta casa;
“E se algum povo se erguer contra este povo, que tua ira se acenda contra ele”.[39]

Os versículos 14 até 17 contêm um quiasma:

A: (14) Com justiça serás estabelecida; estarás longe da opressão,
B: porque já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti.
C: (15) Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti.
D: (16) Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra;
D: também criei o assolador, para destruir.
C: (17) Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás;
B: esta é a herança dos servos do Senhor,
A: e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor.

Elementos deste quiasma são complementários; o quiasma pode ser lido em ordem refectiva para ser melhor compreendido: “Com justiça serás estabelecida;”; “a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor”. “Já não temerás; e também do terror, porque não chegará a ti”; “esta é a herança dos servos do Senhor”. “Eis que seguramente poderão vir a juntar-se contra ti, mas não será por mim; quem se ajuntar contra ti cairá por causa de ti”. “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás”. “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra”; “também criei o assolador, para destruir”. A Israel moderna—depois de coligada e restaurada—será estabelecida, ou fundada, sobre os princípios de retidão do Senhor; liberdade do terror é também parte da herança dos servos do Senhor. Apesar do Senhor levantar exércitos destruidores a fim de levar a cabo Seus propósitos, eles são limitados e controlados pelo Senhor e não terão sucesso contra a Israel justa.
NOTAS

[1]. Os capítulos 2 até 39 descrevem Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; os capítulos 40 até 54 descrevem Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e os capítulos 55 até 66 descrevem o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[2]. Isaías 48 e 49 são citados em 1 Néfi 20 e 21; Isaías 50 e 51 são citados em 2 Néfi 7 e 8; Isaías 52:1-2 é citado em 2 Néfi 8:24-25; Isaías 52:1-3 é citado em 3 Néfi 20:36-38; Isaías 52:6-7 é citado em 3 Néfi 20:39-40; Isaías 52:7-10 é citado em Mosias 12:21-24; Isaías 52:8-10 é citado em 3 Néfi 20:32-35; Isaías 52:11-15 é citado em 3 Néfi 20:41-45; Isaías 53 é citado em Mosias 14; e Isaías 54 é citado em 3 Néfi 22.
[3]. 3 Néfi 23:4.
[4]. Victor L. Ludlow, “Isaiah Chapter Review [Revisão dos Capítulos de Isaías]: 3 Néfi 22/Isaías 54”, Book of Mormon Reference Companion [Companheiro Referencial do Livro de Mórmon]: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p. 397.
[5]. 3 Néfi 22:1.
[6]. Isaías 49:21.
[7]. Gálatas 4:27.
[8]. Ver Isaías 33:20.
[9]. Isaías 33:20.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 2282, p. 290.
[11]. Morôni 10:31; compare Isaías 52:1-2.
[12]. Doutrina e Convênios 82:13-14. Ver também D&C 68:26; 94:1; 96:1; 104:48; 109:59; 133:9.
[13]. Isaías 52:1-2.
[14]. Merrill J. Bateman, “Estender as Cordas da Tenda”, A Liahona, Julho de 1994, p. 72.
[15]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 263.
[16]. Ver Isaías 7:17-25; 8:7-8.
[17]. Ver D&C 45:31; 5:19; também Daniel 9:27; 11:31; D&C 84:96-97; 88:85.
[18]. 3 Néfi 22:4.
[19]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3988, p. 549; Ver também Isaías 54:6, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 6d.
[20]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 7:8; 8:4; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12.
[21]. Ver Hebreus 8:12; 10:16-17; D&C 58:42.
[22]. D&C 121:7-8.
[23]. Ezequiel 39:24.
[24]. Os versículos 7 até 9 contêm um quiasma: Te deixei/um pouco de ira/mas com benignidade eterna/o Senhor//o teu Redentor/as águas de Noé/assim jurei/não me irarei mais contra ti.
[25]. 3 Néfi 22:9.
[26]. Ver Gênesis 9:13-16.
[27]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[28]. Ver Gênesis 12:1-3; 17:1-2, 21; 21:12.
[29]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]: Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 705; Ver também Brown et al., 1996, Número de Strong 5601, p. 705.
[30]. Aileen H. Clyde, “Convênio de Amor”, A Liahona, Julho de 1995, p. 29.
[31]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2656, p. 343.
[32]. O versículo 13 contém um quiasma: Todos os teus filhos/ensinados//do Senhor/a paz/teus filhos.
[33]. Spencer W. Kimball, “The Family Influence” [A influência da Família], Ensign, Julho 1973, p. 15.
[34]. Ver João 6:45; também Mateus 26:56.
[35]. 3 Néfi 22:15.
[36]. Mateus 13:30.
[37]. Ver Isaías 1:17; 5:7; 51:4.
[38]. D&C 71:9-10.
[39]. D&C 109:24-27.