Arquivo da tag: e todos os que trabalham por salário ficarão com tristeza de alma

CAPÍTULO 19: “Na Verdade São Loucos os Príncipes de Zoã; O Conselho Dos Sábios Conselheiros de Faraó Se Embruteceu”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

__________________________________________________________________________________________

Este capítulo é um peso, ou profecia de condenação, a respeito do Egito. Fiel ao padrão de múltiplos níveis de significados, neste capítulo Isaías entrelaça profecias a respeito do Egito antigo e do moderno, bem como de seu equivalente moderno, a superpotência dos Estados Unidos da América. O conhecimento da história do Egito antigo serve como orientação, ajudando-nos a reconhecer nesta profecia que elementos pertencem ao Egito antigo ou moderno, quais pertencem ao Estados Unidos da América, e quais pertencem a ambos. É bastante claro que Isaías está falando sobre o future, porque os acontecimentos descritos neste capítulo, que iriam acontecer nos impérios desaparecidos do Egito e da Assíria, não aparecem em suas histórias. Nosso desafio é reconhecer atores modernos no cenário antigo de Isaías.

Por que há essa associação do Egito com os Estados Unidos da América? No capítulo 18 Isaías descreveu uma terra distante “que está além dos rios”, “que envia embaixadores por mar em navios de junco sobre as águas, dizendo: Ide, mensageiros velozes” à Israel dispersa.[1] A tribo de José, dividida entre seus dois filhos Efraim e Manassés, exibia aspectos da cultura egípcia—inclusive as línguas falada e escrita—bem depois das doze tribos estabelecerem-se na Terra Prometida. Suas escrituras foram escritas no egípcio, em placas de latão.[2] Os nefitas, descendentes de José, que haviam imigrado para o continente americano e recebido-o como sua terra de herança, escreveu as suas escrituras em egípcio reformado, usando as placas de latão como modelo.

A maioria dos habitantes atuais dos Estados Unidos da América são descendentes de José, que foram guiados pelas mãos do Senhor a saírem da Europa e outros lugares durante a época da colonização dos Estados Unidos, e mais tarde quando o evangelho foi pregado nestas áreas.[3] Leí profetizou: “…ninguém virá a esta terra a menos que seja trazido pela mão do Senhor”.[4] Os missionários que vão para a Israel dispersa nos últimos dias são principalmente membros da tribo de José. Eles levam o Livro de Mórmon, escrituras que relatam a história dos remanescentes da tribo de José, traduzido do egípcio reformado. Este elo cultural com o Egito antigo é representado simbolicamente pelos “navios de junco sobre as águas” que levam “mensageiros velozes” à Israel dispersa.[5]

O Egito antigo[6] ganhou destaque em mais ou menos 3100 a.C. quando o reino do Alto Egito conquistou o Baixo Egito. O rei Menes uniu o país e formou um governo nacional, um dos primeiros no mundo. Ele criou Mênfis como a capital, que se encontra atualmente perto de Cairo. Ele também criou a primeira dinastia, ou uma série de governantes da mesma família. Em sucessão, mais de 30 dinastias governaram o Egito antigo. Sua história é dividida pelos egiptólogos em três períodos caracterizados por governantes poderosos, conquistas militares e outros desenvolvimentos notáveis. Estes são:  O Antigo Império (2686-2181 a.C.), o Médio Império (1991-1786 a.C.), e o Novo Império (1570-1070 a.C.). Intervalos entre estes grupos, tipicamente durando vários anos, são caracterizados por dinastias fracas durante as quais a proeminência do Egito declinou.

O Antigo Império foi caracterizado pelas construções de pirâmides. Durante o Médio Império a influência do Egito cresceu e incluiu Núbia, Palestina, e Síria; e durante o Novo Império o Egito antigo tornou-se a maior potência do mundo. Depois do final da vigésima dinastia em 1070 a.C., o Egito começou a declinar rapidamente e foi dominado por entidades estrangeiras incluindo os governantes da Núbia, da Assíria, e da Pérsia. Alexander, o Grande, adicionou o Egito ao seu império em 332 a.C. e fundou a cidade de Alexandria, notável por seus museus e grandes bibliotecas de rolos de papiros, e os romanos conquistaram o Egito em 30 a.C. Os muçulmanos da Arábia tomaram a Alexandria e completaram a conquista do Egito em 642 d.C.

Embora não se saiba muitos fatos para conectar historicamente acontecimentos no Egito aos registrados na Bíblia até o reinado dos reis israelitas, durante a época dos Patriarcas, o Egito era um império poderoso (o Novo Império). A residência temporária de Abraão lá[7] sem dúvidas coincide com o desenvolvimento notável da astronomia no Egito. Foram mostradas “as estrelas e elas eram muito grandes…”[8]  a Abraão, que tinha em sua posse o Urim e Tumim.[9] O Senhor deu razões específicas para instruir Abraão desta maneira: “Abraão, mostro-te estas coisas antes de ires para o Egito, para que declare todas estas palavras”.[10] Grandes reformas religiosas—possivelmente inspiradas por Abraão—foram iniciadas por Akhenaton, que se tornou o rei do Egito em 1367 a.C. Entretanto, esta reforma enfureceu muitos egípcios e os sucessores restauraram a antiga religião politeísta. O Egito estava enfraquecido durante a época da proeminência de Israel sob os reinados de Saul, Davi, e Salomão e continuou a sua decadência durante os reinos subsequentes de Judá e Israel. Durante o tempo de Isaías, a proeminência do Egito como uma potência mundial já era coisa do passado e seu declínio sob governantes estrangeiro já havia começado.

No capítulo 19, Isaías prediz que o Egito seria ferido e destruído pelo Senhor. A destruição talvez coincidiu-se com as invasões de Alexandre, o Grande, da Roma ou dos invasores Árabes, ao que se refere ao Egito antigo; mas a maior parte desta profecia aplica-se ao equivalente moderno do Egito, ou seja, os Estados Unidos da América.[11] Depois de sua destruição o Senhor curará o Egito, e três nações modernas—chamadas por Isaías de Egito, Assíria, e Israel—serão abençoadas também.

No versículo 1, Isaías declara: “Peso do Egito. Eis que o SENHOR vem cavalgando numa nuvem ligeira, e entrará no Egito; e os ídolos do Egito estremecerão diante dele, e o coração dos egípcios se derreterá no meio deles”. A idolatria politeísta do Egito antigo é bem conhecida, e a idolatria difusiva da América moderna —o materialismo—foi descrita no capítulo 2 por Isaías.[12]

Que “nuvem ligeira” poderia entrar nos Estados Unidos da América atual, enviada pelo Senhor para destruir a idolatria? Uma possibilidade é uma repentina mudança política, que traria um período de escuridão espiritual e colapso econômico. Outras possibilidades incluem guerra nuclear, explosivos projetados para espalhar materiais radioativo mortais, uma onda de choque eletromagnética que desativaria eletrônicas e transmissão de energia elétrica, ou nuvens de produtos químicos tóxicos que se espalham rapidamente para exterminar multidões de pessoas. Parry et al. descreve a nuvem ligeira como um meio de transporte para o Senhor. Independentemente de sua natureza precisa [13], o Senhor permitiria a devastação trazida por esta nuvem ligeira.

O versículo 2 descreve conflitos internos devastadores; isto não caracteriza a destruição do monarca do Egito antigo, que foi invadido sucessivamente por entidades estrangeiras: “Porque farei com que os egípcios, se levantem contra os egípcios, e cada um pelejará contra o seu irmão, e cada um contra o seu próximo, cidade contra cidade, reino contra reino”. O cumprimento desta profecia talvez tenha começado com a Guerra Civil Americana, mas sem dúvidas ainda será completamente cumprida no futuro. O interessante aqui é que os conflitos coincidem com o colapso dos elementos sociais inclusive a família, vizinhança e cidades, bem como de nações e reinos.[14] Quais circunstancias atuais vemos ao nosso redor que se tornarão na anarquia descrita por Isaías? O Senhor, entretanto, não permitirá a auto destruição dos Estados Unidos da América, contanto que Ele ainda possa usar o presente governo como uma influência estabilizadora mundial, para permitir que o evangelho continue a espalhar-se por toda a Terra.

No versículo 3, Isaías continua sua descrição da anarquia predita: “E o espírito do Egito se esvaecerá no seu interior, e destruirei o seu conselho; e eles consultarão aos seus ídolos, e encantadores, e aqueles que têm espíritos familiares e feiticeiros”. “O espírito do Egito se esvaecerá” provavelmente significa que os grandes princípios fundamentais estabelecidos pelos fundadores da nação dos Estados Unidos serão abandonados e rejeitados. As crenças religiosas reduzir-se-ão ao espiritismo e às feitiçarias. “Aqueles que têm espíritos familiares” são aqueles que dizem se comunicar com os mortos.[15]

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

(1) Peso do Egito. Eis que o SENHOR vem cavalgando numa nuvem ligeira, e entrará no Egito;
A: e os ídolos do Egito estremecerão diante dele, e o coração dos egípcios se derreterá no meio deles.
B: (2) Porque farei com que
C: os egípcios, se levantem contra os egípcios,
D: e cada um pelejará contra o seu irmão,
D: e cada um contra o seu próximo,
C: cidade contra cidade,
B: reino contra reino.
A: (3) E o espírito do Egito se esvaecerá no seu interior, e destruirei o seu conselho; e eles consultarão aos seus ídolos, e encantadores, e aqueles que têm espíritos familiares e feiticeiros.

Se este quiasma for lido em ordem reflexiva,  começando do primeiro elemento no lado ascendente, e depois o seu reflexivo no lado descendente, e assim por diante até chegar ao enfoque central do quiasma, um padrão informativo emerge: “Peso do Egito. Eis que o SENHOR vem cavalgando numa nuvem ligeira, e entrará no Egito; e os ídolos do Egito estremecerão diante dele, e o coração dos egípcios se derreterá no meio deles. E o espírito do Egito se esvaecerá no seu interior, e destruirei o seu conselho; e eles consultarão aos seus ídolos, e encantadores, e aqueles que têm espíritos familiares e feiticeiros. Porque farei com que reino [se levantem] contra reino, os egípcios se levantem contra os egípcios, cidade contra cidade, e cada um pelejará contra o seu irmão, e cada um contra o seu próximo”.

Quando o quiasma é lido desta forma, uma sucessão lógica de eventos emerge: Primeiro, um evento cataclísmico, ou “ato de Deus”; depois o fracasso dos princípios fundamentais do governo; seguido pela dependência em idolatria, superstição e feitiçaria ao invés da prática dos verdadeiros princípios religiosos. Os conflitos, e logo a dissolução acontecem—primeiro entre reinos, em seguida contra compatriotas; cidades revoltando-se contra outras cidades, e famílias e vizinhos desintegrando-se. O resultado seria anarquia e caos.

No versículo 4, a anarquia será substituída pela dominação e servidão: “E entregarei os egípcios nas mãos de um senhor cruel, e um rei rigoroso os dominará, diz o Senhor, o SENHOR dos Exércitos”. O cumprimento desta profecia pode ter ocorrido com os invasores estrangeiros conquistando o Egito antigo, inclusive os governantes da Núbia, Assíria, e Pérsia, Alexander o Grande, os Romanos, e os Muçulmanos; porém o atual “senhor cruel” e “rei rigoroso” governando sobre a nação decaída dos Estados Unidos, ainda está para ser cumprido. Um significado alternativo em hebraico para “senhor cruel” é “mestres cruéis”.[16] Devido aos conflitos dividindo os reinos, as nações, as cidades, as famílias e vizinhanças, o análogo atual do Egito antigo será deixado debilitado e vulnerável militarmente e será facilmente conquistado por um “senhor cruel”.

Os versículos 3 e 4 contêm um quiasma:

A: (3) E o espírito do Egito se esvaecerá no seu interior, e destruirei o seu conselho; e eles consultarão aos seus ídolos, e encantadores, e aqueles que têm espíritos familiares e feiticeiros.
B: (4) E entregarei os egípcios nas mãos
C: de um senhor cruel,
C: e um rei rigoroso
B: os dominará,
A: diz o Senhor, o SENHOR dos Exércitos.

“Ídolos, e encantadores, e aqueles que têm espíritos familiares e feiticeiros” contrasta-se com “o Senhor, o SENHOR dos Exércitos”. Ao invés de colocarem sua confiança no Senhor, o homólogo atual do Egito iria contar com magia, espiritismo e idolatria. “Entregarei os egípcios nas mãos” complementa “os dominará”, indicando que o Senhor permitiria que esta transição de poder acontecesse. Sem a proteção do Senhor, um rei rigoroso e cruel governará sobre os Estados Unidos da América moderno.

Os versículos 5 até 10 descrevem calamidades econômicas que acompanharão estes acontecimentos políticos. O versículo 5 começa: “E secarão as águas do mar, e o rio se esgotará e secará”.

A proeminência do Egito antigo era baseada na sua força econômica, derivada das abundantes colheitas cultivadas nos solos férteis ao longo do Rio Nilo.[17] Estes solos eram renovados cada ano, durante a enchente anual do Rio Nilo, que se correspondiam com as chuvas sazonais no interior africano ao sul. A falta de água do mar e do rio incapacitaria totalmente o Egito economicamente, mas tal ocorrência não se encontra nos registros históricos do antigo Egito— exceto acontecimentos como os sete anos de fome durante a época de José: “E as sete vacas feias à vista e magras, que subiam depois delas, são sete anos, e as sete espigas miúdas e queimadas do vento oriental, serão sete anos de fome”.[18] A fome foi causada pelo “vento oriental”, um vento forte, seco e quente vindo dos desertos do Oriente Médio que não permitiam que as safras crescessem. Isto afetou toda a região, não somente o Vale do Nilo.[19]

Ludlow, em seu comentário do capítulo 19, afirma que a profecia de Isaías sobre a calamidade econômica foi cumprida no Egito moderno com a construção da Represa Alta de Assuã.[20] Entretanto, relatos terríveis de desastres social, econômico e ecológico devido a construção da represa são, em grande parte, propagandas políticas, como mostrado por subsequentes estudos científicos. A Represa Alta de Assuã é, em fato, uma das melhores represas do mundo por causa dos grandes benefícios que trouxe para o Egito moderno e seu povo.[21]

Na década dos 1950 os americanos concordaram em prover fundos financeiros para a construção da Represa Alta de Assuã, que tomaria o lugar de uma estrutura antiga que provou ser inadequada para controlar enchentes catastróficas. Por várias razões, os americanos ficaram descontentes com o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, e retirou sua oferta de ajuda financeira. A União Soviética rapidamente adiantou-se, oferecendo para fornecer financiamento e conhecimento técnico. Estes eventos resultaram em considerável rivalidade entre as superpotências da época da Guerra Fria, ou seja, os Estados Unidas da América e a União Soviética. As agências e os jornalistas americanos criaram uma avalanche de propagandas negativas depois que a represa estava pronta, dizendo que a represa foi um desastre econômico, social e ecológico de proporções assustadoras.[22]

A construção da Represa Alta de Assuã—que terminou em 1964—ajudou na estabilização do fluxo do Rio Nilo, minimizando as inundações anuais. Ainda que a renovação anual do solo por meio de depósito de novo sedimento tenha cessado—fazendo necessário o uso de fertilizantes sintéticos—o estabelecimento de povoados permanentes na planície de inundação do rio tem permitido a implementação de métodos modernos mecanizados de cultivo. Apesar do número de peixes haver reduzido por alguns anos por causa da mudança das condições ecológicas, tanto no Rio Nilo quanto nas partes perto do Mar Mediterrâneo, a quantidade prévia de peixes retornou e uma nova indústria pesqueira formou-se no Lago Nasser, a reserva formada pela Represa Alta de Assuã.[23] Está claro que o desastre econômico predito por Isaías não se aplica aos efeitos da Represa Alta de Assuã; além disso, as referências de Isaías ao Egito aqui é um símbolo para os Estados Unidos da América atualmente.[24]

O versículo 6 continua: “Também os rios exalarão mau cheiro e se esgotarão e secarão os canais do Egito; as canas e os juncos murcharão”. “Os canais do Egito” eram para irrigação; as safras do Egito—incluindo o trigo para exportação—seriam destruídos sem estes canais.

O versículo 7 declara: “A relva junto ao rio, junto às ribanceiras dos rios, e tudo o que foi semeado junto ao rio, secará, será arrancado e não subsistirá”.

O versículo 8 declara: “E os pescadores gemerão, e suspirarão todos os que lançam anzol ao rio, e os que estendem rede sobre as águas desfalecerão”. A pesca era a maior indústria e fonte alimentar no Egito antigo.[25]

O versículo 9 diz: “E envergonhar-se-ão os que trabalham em linho fino, e os que tecem pano branco”. Os antigos egípcios eram conhecidos por sua habilidade em têxteis; faziam redes de pesca de linho.[26]

O versículo 10 conclui: “E os seus fundamentos serão despedaçados, e todos os que trabalham por salário ficarão com tristeza de alma”.[27] A tradução de Parry do Grande Pergaminho de Isaías apresenta o versículo 10 assim: “E os tecelões serão esmagados, e todos os assalariados entrarão em desespero”.[28]

Nestes versículos Isaías prediz uma paralização econômica total dos Estados Unidos, descrevendo-a em termos das proeminentes indústrias do Egito antigo.

Os versículos 11 até 14 descrevem as causas deste colapso social. O versículo 11 começa: “Na verdade são loucos os príncipes de Zoã; o conselho dos sábios conselheiros de Faraó se embruteceu; como, pois, a Faraó direis: Sou filho de sábios, filho de antigos reis?” Zoã era uma grande cidade no nordeste do delta do Nilo.[29] A dependência na reputação de ancestrais célebres, ao invés de em sua própria diligência e aplicação, prepara o caminho para este colapso.

O versículo 12 continua: “Onde estão agora os teus sábios? Notifiquem-te agora, ou informem-te sobre o que o Senhor dos Exércitos determinou contra o Egito”. O desaparecimento dos sábios indica insensatez predominante, ou o abandono de valores e princípios verdadeiros. “Notifiquem-te agora … o que o Senhor dos exércitos determinou contra o Egito” apresenta um desafio impossível para os que tem sua ética comprometida. A confusão toma o lugar da crença religiosa e a ignorância encobre os propósitos de Deus. A dependência nos princípios fundamentais divinamente inspirados será abandonada.

O versículo 13 declara: “Loucos tornaram-se os príncipes de Zoã, enganados estão os príncipes de Nofe”. Nofe, ou Mênfis, era a capital do Egito antigo;[30] as cidades mencionadas neste versículo são lugares governamentais de grande importância. “Eles fizeram errar o Egito, aqueles que são a pedra de esquina das suas tribos”.[31] “A pedra de esquina das suas tribos” significa os chefes de famílias,[32] que seriam enganados pelos príncipes e governantes.

O versículo 14 declara: “O Senhor derramou no meio dele um perverso espírito; e eles fizeram errar o Egito em toda a sua obra, como o bêbado quando se revolve no seu vômito”. A insensatez dos líderes políticos dos Estados Unidos da América causaria uma enorme crise moral, que afetaria todos os aspectos da vida pública e privada.

O versículo 15 é um resumo dos efeitos dos colapsos morais e econômico: “E não aproveitará ao Egito obra alguma que possa fazer a cabeça, a cauda, o ramo, ou o junco”. O resultado final do colapso econômico predominante, aludido nos versículos 6 até 10, será o desemprego. “A cabeça, a cauda, o ramo, ou o junco” significa os diferentes níveis sociais,[33] este mesmo simbolismo é usado no capítulo 9 por Isaías.[34]

O julgamento iminente do Senhor sobre este moderno homólogo do Egito causaria grande temor, descrito no versículo 16: “Naquele tempo os egípcios serão como mulheres, e tremerão e temerão por causa do movimento da mão do Senhor dos Exércitos, que há de levantar-se contra eles”. A ameaça do castigo do Senhor causaria grande temor.

Os versículos 14 até 16 contêm um quiasma:

A: (14) O Senhor derramou no meio dele um perverso espírito;
B: e eles fizeram errar o Egito em toda a sua obra,
C: como o bêbado quando se revolve no seu vômito.
D: (15) E não aproveitará ao Egito obra alguma
E: que possa fazer a cabeça, a cauda,
E: o ramo, ou o junco.
D: (16) Naquele tempo os egípcios serão como mulheres,
C: e tremerão
B: e temerão
A: por causa do movimento da mão do Senhor dos Exércitos, que há de levantar-se contra eles.

O lado ascendente do quiasma expressa uma insensatez, erro e bebedices predominantes, já do lado descendente expressa temor devido a estes atributos negativos. O colapso econômico desta superpotência moderna seria provocado pela insensatez predominante, ou pelo abandono de princípios morais orientadores.

Os Estados Unidos da América em um estado enfraquecido, depois do colapso econômico, temeriam grandemente os judeus, como foi descrito no versículo 17: “E a terra de Judá será um espanto para o Egito; todo aquele a quem isso se anunciar se assombrará, por causa do propósito do Senhor dos Exércitos, que determinou contra eles”. Aqueles que sabem dos juízos de Deus temerão por causa do poder que será dado à Judá.

Os versículos 18 até 21 afirmam que haveria algumas pessoas no homólogo moderno do Egito, apesar da grande iniquidade, que acreditariam no Senhor. O versículo 18 começa: “Naquele tempo haverá cinco cidades na terra do Egito [apenas algumas] que falarão a língua de Canaã”, que significa compreender as coisas do Espírito. “A língua de Canaã”, claro, é o hebraico, mas isto é simbólico do significado espiritual mais profundo. O versículo continua: “E farão juramento ao Senhor dos Exércitos; e uma se chamará: Cidade de destruição”. “Farão juramento ao Senhor” significa fazer convênios sagrados.

“Cidade de destruição” é traduzido do hebraico iyr-heh’res.[35] O uso de paronomásia (trocadilho) no hebraico forma esta palavra iyr-cherec, que significa “cidade do sol”,[36] ou Heliopolis em grego, Isaías prediz o destino da cidade: o lugar onde o sol era adorado será destruído. Heliopolis, uma cidade antiga do Baixo Egito, é atualmente ruínas. Este jogo sutil de palavras se perde na tradução.[37] Algumas traduções da Bíblia, como a Bíblia Inglesa Básica e a Vulgata Latina traduzem “cidade do sol”, já outras usam “cidade de destruição”, inclusive a versão de João Ferreira de Almeida[38] e a Reina-Valera de 2009 em espanhol.[39] Haverá uma analogia moderna para uma cidade antiga, que agora está destruída?

O versículo 19 continua a descrição daqueles que crerem, apesar da iniquidade desenfreada: “Naquele tempo o Senhor terá um altar no meio da terra do Egito, e uma coluna se erigirá ao Senhor, junto da sua fronteira”. A coluna, ou obelisco, na tradição egípcia, refere-se a um lugar sagrado.

O versículo 20 descreve o significado do altar e da coluna: “E servirá de sinal e de testemunho ao Senhor dos Exércitos na terra do Egito, porque ao Senhor clamarão por causa dos opressores, e ele lhes enviará um salvador e um protetor, que os livrará”. Aqueles que acreditarem no Senhor clamariam ao Senhor por libertação; o Senhor enviaria um libertador, um grande líder militar, que os libertaria. A tradução de “salvador” com letra minúscula indica que não está se referindo ao Senhor vindo em pessoa para libertá-los.

O versículo 21 descreve a profundidade da crença daqueles que sobreviveriam no Egito moderno: “E o Senhor se dará a conhecer ao Egito, e os egípcios conhecerão ao Senhor naquele dia, e o adorarão com sacrifícios e ofertas, e farão votos ao Senhor, e os cumprirão”.[40] Os sobreviventes farão convênios com o Senhor, e cumprirão estes convênios. Depois do colapso econômico desta superpotência moderna e sua conquista por um senhor ou rei cruel, uma nova ordem surgiria, baseada no conhecimento do evangelho verdadeiro e a verdadeira adoração ao Senhor. Os sobreviventes do colapso desta poderosa nação, representada aqui pelo Egito antigo, seguirão ao Senhor, obedecerão Seus mandamentos, e farão convênios com o Senhor.

Apesar do fato que o Egito será ferido pelo Senhor, o Senhor mostrará compaixão depois da destruição, como descrito no versículo 22: “E ferirá o Senhor ao Egito, ferirá e o curará; e converter-se-ão ao Senhor, e mover-se-á às suas orações, e os curará”.[41] A superpotência moderna, representada pelo Egito antigo, seria curada pelo Senhor depois do colapso.

O versículo 23 descreve o estabelecimento de relações amistosas entre antigos inimigos: “Naquele dia haverá estrada do Egito até à Assíria, e os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria; e os egípcios servirão com os assírios”. A estrada simboliza também o caminho da retidão;[42] isto sugere que as nações modernas, representadas por estas superpotências antigas, seguiriam o verdadeiro evangelho.

No versículo 24, Israel juntar-se-á com os outros países: “Naquele dia Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra”. “O terceiro com” significa que Israel formará uma aliança amistosa com as outras duas nações mencionadas.

Finalmente, no versículo 25 as nações modernas, que Isaías compara com o Egito e a Assíria, serão abençoadas juntamente com Israel: “Porque o Senhor dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança”.

NOTAS

[1]. Isaías 18:1-2.
[2]. Ver 1 Néfi 3:3.
[3]. Ver 3 Néfi 15:12-13; também Éter 13:6-8.
[4]. 2 Néfi 1:6.
[5]. Ver Isaías 18:2.
[6]. Leonard H. Lesko, Ancient Egypt [O Egito Antigo]: The World Book Encyclopedia 1986 edition, volume 6, pp. 91-100. Dr. Lesko é um Professor de Egiptologia na Brown University.
[7]. Ver Abraão 2:21-25.
[8]. Ver Abraão 3:1-14.
[9]. Ver Abraão 3:1.
[10]. Abraão 3:15.
[11]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mórmon [O Livro de Isaías: Uma nova tradução com chaves interpretativas do Livro de Mórmon]: Deseret Book Co., Salt Lake City, Utah, 1988, p. 72-76.
[12]. Ver Isaías 2:8-18 e comentário pertinente.
[13].  Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 178.
[14]. Parry et al., p. 179.
[15]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 178, p. 15.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7186, p. 904.
[17]. Lesko.
[18]. Gênesis 41:27.
[19]. Ver Gênesis 41:27; 56-57.
[20]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 213-216.
[21]. Asit K. Biswas, Aswan Dam Revisited: The Benefits of a Much-Maligned Dam: [Represa de Assuã Revisitada: Os Benefícios da Represa Tão Difamada] Deutsche Stiftung Für Internationale Entwicklung, D+C Development e Cooperation, número 6, Novembro/Dezembro 2002, p. 25-27.
[22]. Biswas.
[23]. Sayed El-Sayed e Gert L. Van Dijken, The Southeastern Mediterranean Ecosystem Revisited: Thirty Years After the Construction of the Aswan High Dam [O Ecosistema Sudeste Mediterrâneo Revisitado: Trinta anos depois da Construção da Represa Alta de Assuã]: The Quarterdeck, Texas A&M University, Departmento de Oceanografía, College Station, Texas 77843-3146, vol. 3, número 1, 1995, p.1-4.
[24]. Gileadi.
[25]. Lesko.
[26]. Lesko.
[27]. Os versículos 8 até 10 contêm um quiasma: Pescadores/todos os que lançam anzol ao rio/desfalecerão/os que trabalham em linho fino//os que tecem pano branco/os seus fundamentos serão despedaçados/todos os que trabalham por salário/ficarão com tristeza de alma.
[28]. Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 93.
[29]. Ver Mapa Bíblico (na versão SUD da Bíblia em inglês) número 2.
[30]. Lesko.
[31]. Os versículos 11 até 13 contêm um quiasma: São loucos os príncipes de Zoã/sábios conselheiros de Faraó/filho de sábios//filho de antigos reis/onde estão agora os teus sábios?/Loucos tornaram-se os príncipes de Zoã.
[32]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6438, p. 819.
[33]. Ver Isaías 19:15, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em Inglês 15a.
[34]. Ver Isaías 9:14.
[35]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2041, p. 249; também Strong’s número 5892, p. 746.
[36]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2775, p. 357; também Strong’s número 5892, p. 746.
[37]. J. R. Dummelow, The One Volume Bible Comentário[Comentário Bíblico de Um Volume]: Macmillan Publishing Company, New York, NY, 1909, p. 429.
[38]. Uma variedade de traduções da Bíblia está disponível na “The Unbound Bible” [“A Bíblia Desencadernada]”, online at http://unbound.biola.edu. Este site é provido e mantido pela Biola University [Universidade Biola], Administrative Computing [Computação Administrativa], 3800 Biola Ave., La Mirada, California 90639.
[39]. Santa Bíblia, Reina-Valera, 2009: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Salt Lake City, Utah, E.U.A.
[40]. Versículo 21 contém um quiasma: O Senhor/se dará a conhecer/Egito//os egípcios/conhecerão/ao Senhor.
[41]. Versículo 22 contém um quiasma: Ferirá o Senhor ao Egípto, ferirá e o curará/converter-se-ão /ao Senhor//mover-se-á/às suas orações/os curará.
[42]. Ver Isaías 11:16; 35:8; 40:14; 49:11 e comentário pertinente.