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CAPÍTULO 39: “Tudo Quanto Houver Em Tua Casa … Será Levado Para Babilônia”

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O capítulo 39 é o ultimo dos quatro capítulos na obra de Isaías chamados de “capítulos históricos” que descrevem uma série de acontecimentos que ocorrem durante a vida de Isaías. Estes acontecimentos são de grande importância para nós; e servem como símbolos proféticos para acontecimentos que ocorrerão nos últimos dias.[1] Este capítulo também marca o fim da primeira importante divisão no livro de Isaías, abrangendo os capítulos 2 até 39, onde Israel é descrita em sua terra natal num estado de iniquidade.[2]

Os acontecimentos profetizados no capítulo 39 foram cumpridos 150 anos depois que foram preditos por Isaías. Entretanto, seu antigo cumprimento não devem cessar o nosso interesse neles nos últimos dias. O duplo cumprimento desta profecia—primeiro nos tempos antigos e novamente em nosso tempo—é a essência destes capítulos históricos.

Os acontecimentos do capítulo 39 também foram registrados pelos escribas do rei.[3] Uma comparação cuidadosa revela que as diferenças em uso de palavras entre as duas narrativas ocorrem em quase todos os versículos sem alterar significantemente o sentido.

Importantes acontecimentos registrados no capítulo 39 são: a visita dos dignitários da Babilônia, Ezequias mostrando suas riquezas para eles, a visita de Isaías a Ezequias, e a profecia de Isaías sobre o cativeiro babilônico. Os acontecimentos deste capítulo 39 ocorreram pouco depois dos acontecimentos do capítulo anterior, como foi mencionado no primeiro versículo.

O versículo 1 começa a narrativa: “Naquele tempo enviou Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei da Babilônia, cartas e um presente a Ezequias, porque tinha ouvido dizer que havia estado doente e que já tinha convalescido”. Emissários foram enviados para representarem o filho do rei da Babilônia, ao invés dele ter vindo em pessoa.

O versículo 2 continua: “E Ezequias se alegrou com eles, e lhes mostrou a casa do seu tesouro, a prata, e o ouro, e as especiarias, e os melhores unguentos, e toda a sua casa de armas, e tudo quanto se achava nos seus tesouros; coisa nenhuma houve, nem em sua casa, nem em todo o seu domínio, que Ezequias não lhes mostrasse”.[4] O registro dos escribas apresenta assim “E Ezequias lhes deu ouvidos …”.[5] Precipitadamente, Ezequias mostrou aos emissários visitantes toda sua riqueza. Este ato resultou em Jerusalém sendo considerada um prêmio valioso a ser conquistado pelos exércitos da Babilônia, mesmo depois de muitas gerações. É notável que Ezequias ainda possuía muitas riquezas, mesmo depois de haver dado um grande resgate ao rei da Assíria.[6]

No versículo 3, Isaías começa suas perguntas: “Então o profeta Isaías veio ao rei Ezequias, e lhe disse: Que foi que aqueles homens disseram, e de onde vieram a ti? E disse Ezequias: De uma terra remota vieram a mim, de Babilônia”.

No versículo 4, Isaías continua: “E disse ele: Que foi que viram em tua casa? E disse Ezequias: Viram tudo quanto há em minha casa; coisa nenhuma há nos meus tesouros que eu deixasse de lhes mostrar”. A pergunta de Isaías revela seu grande conhecimento sobre o que ocorreu.

Os versículos 5 até 7 contêm a profecia de Isaías sobre o cativeiro babilônico. O versículo 5 começa: “Então disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do Senhor dos Exércitos”:[7]

O versículo 6 continua: “Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, e o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR”. Isaías falando sobre a visita dos emissários babilônicos, descreve terríveis consequências para Ezequias por haver mostrado suas riquezas. Na situação política global de hoje, um análogo seria a imprudência de compartilhar segredos militares e tecnológicos com adversários. Isaías ao mostrar isto para os leitores dos últimos dias, pode estar indicando que tal divulgação imprudente de segredos nacionais desempenharia um papel importante nas cenas finais do mundo antes da Segunda Vinda do Senhor.

Os versículos 3 até 6 contêm um quiasma:

(3) Então o profeta Isaías veio ao rei Ezequias, e lhe disse: Que foi que aqueles homens disseram, e de onde vieram a ti? E disse Ezequias:
A: De uma terra remota vieram a mim, de Babilônia.
B: (4) E disse ele: Que foi que viram em tua casa?
C: E disse Ezequias: Viram tudo quanto há em minha casa;
D: coisa nenhuma há nos meus tesouros
D: que eu deixasse de lhes mostrar. (5) Então disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do Senhor dos Exércitos:
C: (6) 6 Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa,
B: e o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje,
A: será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR.

“Que foi que viram em tua casa?” complementa “o que entesouraram teus pais …”. O lado ascendente do quiasma apresenta as perguntas de Isaías e as respostas de Ezequias, e o lado descendente contém a resposta profética de Isaías. A combinação dos elementos neste quiasma sugere uma relação de causa-e-consequência do ato de Ezequias mostrar suas riquezas aos dignitários babilônicos e a futura conquista de Jerusalém pela Babilônia.

O versículo 7 conclui a declaração profética de Isaías: “7 E até de teus filhos, que procederem de ti, e tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia”.[8] “Eunuco” vem do grego, e significa literalmente “guardião da cama”.[9] Um dos significados é um homem emasculado, que, obviamente, se podia confiar para proteger o harém, ou “cama”, do rei. Outro significado mais amplo, que provavelmente foi o intencionado neste caso, é um official no governo do rei que não tem autoridade, mas que segue instruções ou regras explícitas.

No versículo 8, o rei vê algo positivo nas tristes predições de Isaías: “Então disse Ezequias a Isaías: Boa é a palavra do Senhor que disseste. Disse mais: Pois haverá paz e verdade em meus dias”. O registro dos escribas diz: “… Disse mais: E não haverá, pois, em meus dias paz e verdade?”[10] Ezequias se conforta ao saber que estes acontecimentos ocorrerão depois de sua morte.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 36, 37 e 38 e comentário pertinente.
[2]. Os capítulos 2 até 39 descreve Israel em sua terra natal num estado de iniquidade; capítulos 40 até 54 descreve Israel em exílio no mundo em geral, interagindo com pessoas e acontecimentos; e capítulos 55 até 66 descreve o retorno glorioso de Israel à sua terra natal depois de seu arrependimento e purificação.
[3]. Ver 2 Reis 20:12-19.
[4]. O versículo 2 contém um quiasma: Ezequias … lhes mostrou/casa/tesouro/prata/ouro/especiarias//melhores unguentos/toda a sua casa de armas/tudo quanto se achava/seus tesouros/casa/Ezequias não lhes mostrasse.
[5]. 2 Reis 20:13.
[6]. 2 Reis 18:14-16; também Isaías 36 e comentário pertinente.
[7]. Os versículos 2 até 5 contêm um quiasma: Ezequias/lhes mostrou/casa do seu tesouro/Ezequias/o profeta Isaías/terra remota//Babilônia/ele/ Ezequias/casa … meus tesouros/de lhes mostrar/Ezequias.
[8]. Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma: Babilônia/filhos/procederem/ti//tu/gerares/eunucos/Babilônia.
[9]. Ernest Klein, A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language [Um Dicionário Etimológico Completo do Inglês]:Elsevier Publishing Company, New York, 1971, p. 261.
[10]. 2 Reis 20:19.

CAPÍTULO 38: “Assim Retrocedeu O Sol Os Dez Graus Que Já Tinha Declinado”

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O capítulo 38 é o terceiro de quatro capítulos no Livro de Isaías chamados de “capítulos históricos”, que descrevem certos acontecimentos que ocorreram durante a vida de Isaías. Estes acontecimentos são símbolos proféticos para ocorrências nos últimos dias; são portanto de grande importância para nós.[1]

Os acontecimentos profetizados no capítulo 38 foram cumpridos pouco tempo depois que foram preditos por Isaías. Os agressores assírios, entretanto, são símbolos de uma superpotência equivalente nos últimos dias que ameaçaria o povo justo do Senhor. Assim como Ele defendeu Ezequias e seu povo nos tempos antigos, o Senhor defenderá Seu povo nos últimos dias.[2] O sinal dado a Ezequias de testemunhar que ele seria curado de suas enfermidades, também foi dado para toda a cidade de Jerusalém como promessa do Senhor de que eles seriam livrados dos assírios. Semelhantemente, o sinal dado naquela época pode ser dado novamente ao povo justo do Senhor, para assegurá-lo de que ele será livrado do equivalente moderno dos assírios. O duplo cumprimento desta profecia, uma vez na antiguidade e a outra em nossos dias, é a mensagem deste capítulo.

Os acontecimentos do capítulo 38 também foram registrados pelos escribas do rei, em 2 Reis 20:1-8. Uma comparação cuidadosa das passagens equivalentes revela que diferenças nas palavras usadas nas duas narrações ocorrem em quase todos os versículos sem alterar significantemente o sentido. Entretanto, a narrativa dos escribas do rei fornece mais detalhes acerca dos acontecimentos deste capítulo. A falta de detalhes na narração de Isaías talvez indique que a parte histórica não é tão importante para nós como o símbolo profético apresentado.

Acontecimentos importantes registrados no capítulo 38 são que Ezequias fica seriamente doente, Isaías declara as palavras do Senhor a Ezequias que ele iria morrer, Ezequias implora ao Senhor para que poupe sua vida, Isaías retorna e informa Ezequias que o Senhor lhe permitiria viver mais quinze anos, um sinal é dado a Jerusalém que o Senhor lhe defenderia contra a Assíria e a Ezequias que ele se recuperaria, e Ezequias louva e agradece ao Senhor. Ao invés de continuar a narração do capítulo anterior, os acontecimentos do capítulo 38 ocorreram antes ou ao mesmo tempo dos do capítulo 37.[3]

O versículo 1 começa: “Naqueles dias Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal; e veio a ele o profeta Isaías, filho de Amós, e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás”. “Naqueles dias” indica que estes acontecimentos ocorreram antes ou durante o tempo dos acontecimentos registrados no capítulo anterior, ao invés de sequencialmente depois.

O versículo 2 continua: “Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor”.

O versículo 3 resume a oração de Ezequias: “E disse: Ah! Senhor, peço-te, lembra-te agora, de que andei diante de ti em verdade, e com coração perfeito, e fiz o que era reto aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo”. Ezequias diz em sua oração que ele andou em retidão perante o Senhor. Seu pedido para que sua vida fosse poupada é implicado, ao invés de falado diretamente, na breve narrativa de Isaías. Todas as ocorrências do nome “Ezequias” nos versículos 1 até 3 são equivalentes quiasmaticamente, bem como todas as ocorrências do título o Senhor” ou “Ah! Senhor”.[4]

A retidão de Ezequias é manifestada em suas ações:

Ele [Ezequias] tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã …. Porque se chegou ao Senhor, não se apartou dele, e guardou os mandamentos que o Senhor tinha dado a Moisés.[5]

O versículo 4 continua: “Então veio a palavra do Senhor a Isaías, dizendo”— com a sentença continuando no próximo versículo. A narrativa dos escribas do rei fornece mais detalhes: “Sucedeu, pois, que, não havendo Isaías ainda saído do meio do pátio, veio a ele a palavra do Senhor dizendo”—[6]

O versículo 5 apresenta as palavras do Senhor, continuando a sentença do versículo 4: “Vai, e dize a Ezequias: Assim diz o Senhor, o Deus de Davi teu pai: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que acrescentarei aos teus dias quinze anos”.[7] A frase “O Deus de Davi teu pai” está acentuando que os convênios do Senhor com o rei Davi também pertenciam a Ezequias.

O registro dos escribas provê mais detalhes, com o Senhor se dirigindo a Isaías:

Volta, e dize a Ezequias, capitão do meu povo: Assim diz o Senhor, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor.[8]

No versículo 6, o Senhor declara: “E livrar-te-ei das mãos do rei da Assíria, a ti, e a esta cidade, e defenderei esta cidade”. Esta declaração feita pelo Senhor mostra que a enfermidade de Ezequias e o que estava se passando com a nação ao mesmo tempo ocorreram antes da destruição do exército assírio, descrito no capítulo anterior.[9] O primeiro versículo deste capítulo também apoia esta conclusão, que começa com “Naqueles dias …”.[10] O registro dos escribas do rei adiciona: “… e ampararei esta cidade por amor de mim, e por amor de Davi, meu servo”.[11] A razão do Senhor em defender Jerusalém é a de honrar Seu convênio com Davi e seus sucessores, de que Ele os defenderia se estivessem andando em retidão. “Por amor de mim” reflete o apelo de Ezequias em sua oração: “Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, livra-nos da sua [do rei da Assíria] mão; e assim saberão todos os reinos da terra, que só tu és o Senhor”.[12]

“Assim diz o Senhor” no versículo 5 é seguido pela frase paralela “o Deus de Davi teu pai”. Esta frase, por sua vez, é seguida por cinco frases paralelas. As primeiras duas frases começam com “ouvi” e “vi”, ambas no versículo 5, referindo-se às oração e lágrimas de Ezequias. As outras três frases seguinte mencionam as coisas que o Senhor fará como respostas à oração de Ezequias. Estas são “acrescentarei aos teus dias quinze anos” no versículo 5, e “livrar-te-ei das mãos do rei da Assíria, a ti, e a esta cidade” e “defenderei esta cidade”, ambas no versículo 6.

Neste ponto da narrativa dos escribas do rei, informações são fornecidas que só foram apresentadas no registro de Isaías no final do capítulo, onde aparece quase como se fosse um adendo. (Ver versículos 21 e 22):

“Disse mais Isaías: Tomai uma pasta de figos. E a tomaram, e a puseram sobre a chaga; e ele sarou. E Ezequias disse a Isaías: Qual é o sinal de que o Senhor me sarará, e de que ao terceiro dia subirei à casa do Senhor?”[13]

O versículo 7 (voltando agora à narrativa de Isaías) declara: “E isto te será da parte do Senhor como sinal de que o Senhor cumprirá esta palavra que falou”.[14] O que o Senhor faria, descrito nas frases paralelas do registro dos escribas citadas acima, seria curar Ezequias e livrar Jerusalém das mãos do rei da Assíria. O sinal teria, então, duplo propósito—aos habitantes de Jerusalém seria uma afirmação de que o Senhor lhes defenderia contra os assírios, e para Ezequias era uma promessa de que ele seria curado e viveria por mais 15 anos.

No versículo 9 do registro dos escribas, Isaías pergunta a Ezequias acerca do sinal: Isto te será sinal, da parte do Senhor, de que o Senhor cumprirá a palavra que disse: Adiantar-se-á a sombra dez graus, ou voltará dez graus atrás? ”[15] Os versículos seguintes fornecem mais detalhes: “Então disse Ezequias: É fácil que a sombra decline dez graus; não seja assim, mas volte a sombra dez graus atrás”,[16] indicando que foi Ezequias que escolheu qual das duas opções apresentadas por Isaías serviria como sinal.

No versículo 8 (novamente, retornando à narrativa de Isaías), o Senhor declara: “Eis que farei retroceder dez graus a sombra lançada pelo sol declinante no relógio de Acaz. Assim retrocedeu o sol os dez graus que já tinha declinado”. Em um dia solar, isto equivaleria à dois-terços de uma hora, ou, 40 minutos. Note que “assim retrocedeu o sol os dez graus que já tinha declinado” é a sexta declaração paralela que começa com “ouvi” e “vi” no versículo 5. Bem como as primeiras cinco, a sexta também possui uma estrutura quiasmática.

O Senhor, falando sobre os sinais nos últimos dias, declarou numa revelação ao profeta Joseph Smith:

“E acontecerá que aquele que me teme estará esperando que venha o grande dia do Senhor, sim, os sinais da vinda do Filho do Homem.
“E verão sinais e maravilhas, pois serão mostrados em cima nos céus e embaixo na Terra.”[17]

Grandes sinais e maravilhas, somos informados, caracterizariam o período bem depois da Segunda Vinda do Senhor. Imagine a consternação dos cientistas modernos quando eles tentam achar uma explicação para o sol haver retornado os dez graus que já tinha declinado! Entretanto, os que estiverem familiarizados com as palavras de Isaías serão confortados por elas.

Os versículos 9 até 20 abrangem um salmo escrito pelo rei Ezequias acerca de sua enfermidade e recuperação miraculosa. O versículo 9 introduz o salmo: “O escrito de Ezequias, rei de Judá, de quando adoeceu e sarou de sua enfermidade: ”

Nos versículos 10 até 14, Ezequias descreve sua enfermidade e grande angústia que sentia com a possibilidade de sua morte. O versículo 10 começa: “Eu disse: No cessar de meus dias ir-me-ei às portas da sepultura; já estou privado do restante de meus anos”.

O versículo 11 continua: “Disse: Não verei ao Senhor, o Senhor na terra dos viventes; jamais verei o homem com os moradores do mundo”.[18] O Grande Pergaminho de Isaías omite a segunda iteração do “Senhor”.[19] Esta declaração fornece uma perspectiva interessante sobre as crenças messiânicas de Ezequias. Durante toda sua vida, aparentemente, ele esperou pela possibilidade de que o Senhor Jeová viria durante o periodo de sua vida mortal. Com a possibilidade de morrer, ele expressou um grande desapontamento de que sua esperança não seria cumprida. Além disso, ele expressou seu desapontamento de que perderia sua associação com os homens da Terra.

No versículo 12, Ezequias lamenta ainda mais o fim de sua vida: “Já o tempo da minha vida se foi, e foi arrebatada de mim, como tenda de pastor; cortei a minha vida como tecelão; ele me cortará do tear; desde a manhã até à noite me acabarás”. Estes símiles descrevem a condição transitória de nossas vidas, comparando com uma tenda que pode ser desmontada e dobrada, ou com um tecelão corta um tecido.

No versículo 13, Ezequias reconta uma noite que passou sem dormir: “Esperei com paciência até à madrugada; como um leão quebrou todos os meus ossos; desde a manhã até à noite me acabarás”. Ele pensou no processo da morte, a fraqueza de seu corpo, o fim de sua vida.

O versículo 14 continua: “Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba”. Ezequias descreve seus soluços, comparando-os aos sons que fazem esses pássaros. “Alçava os meus olhos ao alto; ó Senhor, ando oprimido, fica por meu fiador”. Olhava para os céus, clamando ao Senhor. “Fica por meu fiador” vem do hebraico e quer dizer “seja minha segurança”.[20]

No versículo 15, Ezequias reconhece que o Senhor curou-lhe: “Que direi? Como me prometeu, assim o fez; assim passarei mansamente por todos os meus anos, por causa da amargura da minha alma”. Ele ficou sem palavras com a magnanimidade do Senhor ao poupar-lhe a vida—“Como me prometeu, assim o fez”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “… e Assim ele me curou: assim passarei mansamente por todos os meus anos, para que eu não ande na amargura da minha alma”.[21] Devido sua gratidão pelo Senhor haver restaurado sua vida, ele decide a andar “mansamente”—ou seja, deliberadamente (com determinação e propósito) [22]—toda a sua vida, para que não seja tragado pela armagura de sua alma. Esta amargura, ou tristeza, vem ao reconhecer o quanto a vida é passageira.

Nos versículos 16 até 20 Ezequias descreve as grandes bênçãos que recebeu do Senhor. No versículo 16, Ezequias ora: “Senhor, por estas coisas se vive, e em todas elas está a vida do meu espírito, portanto cura-me e faze-me viver”. A Tradução de Joseph Smith adiciona outra frase: “… e por todas estas coisas te louvarei”.[23] A palavra hebraica traduzida como “cura-me” significa “restaura-me”.[24] Os homens passam pela vida sabendo que a vida é transitória, e como todos homens, Ezequias um dia partiria. A restauração de sua vida pelo Senhor também dá-lhe pleno entendimento de sua mortalidade.

O versículo 17 continua a oração: “Eis que foi para a minha paz que tive grande amargura, mas a ti agradou livrar a minha alma da cova da corrupção; porque lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “Eis que foi para a minha paz que tive grande amargura, mas a ti agradou salvar–me da cova da corrupção …”.[25] Apesar de sua tristeza ao reconhecer o quanto a vida é curta, ele regozija-se em saber sobre os dois estagios da salvação provida pelo Senhor; primeiro, que a vida será restaurada a todos os homens na ressurreição; e segundo, que o Senhor dará um caminho para sermos perdoados de nossos pecados.

No versículo 18, Ezequias expressa mais gratidão: “Porque não te louvará a sepultura, nem a morte te glorificará; nem esperarão em tua verdade os que descem à cova”. Louvar e glorificar a misericordia do Senhor são ações que pertencem à mortalidade, e esperar pela vinda do Messias, ele conclui, pertence aos vivos.

O versículo 19 conclui a oração de Ezequias: “O vivente, o vivente, esse te louvará, como eu hoje o faço; o pai aos filhos fará notória a tua verdade”. Ezequias, sendo permitido a continuar vivendo, louvou ao Senhor. Como um pai e um rei, ele reconhece sua responsabilidade em ensinar seus filhos, e também seus súditos, os princípios do evangelho.

No versículo 20, Ezequias resume: “O Senhor veio salvar-me; por isso, tangendo em meus instrumentos, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do Senhor”. Este salmo foi, aparentemente, cantado acompanhado por um instrumento de cordas no templo.

Os versículos 10 até 20 contêm um quiasma:[26]

A: (10) Eu disse: No cessar de meus dias ir-me-ei às portas da sepultura; já estou privado do restante de meus anos.
B: (11) Disse: Não verei ao Senhor, o Senhor
C: na terra dos viventes; jamais verei o homem com os moradores do mundo.
D: (12) Já o tempo da minha vida se foi, e foi arrebatada de mim, como tenda de pastor; cortei a minha vida como tecelão; ele me cortará do tear; desde a manhã até à noite me acabarás.
E: (13) Esperei com paciência até à madrugada; como um leão quebrou todos os meus ossos;
F: desde a manhã até à noite me acabarás.
G: (14) Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus olhos ao alto; ó Senhor, ando oprimido, fica por meu fiador.
H: (15) Que direi? Como me prometeu,
H: assim ele me curou; assim passarei mansamente por todos os meus anos, para que eu não ande na amargura da minha alma.
G: (16) Senhor, por estas coisas se vive, e em todas elas está a vida do meu espírito,
F: portanto cura-me e faze-me viver,e por todas estas coisas te louvarei.
E: (17) Eis que foi para a minha paz que tive grande amargura, mas a ti agradou salvar a minha alma da cova da corrupção; porque lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados.
D: (18) Porque não te louvará a sepultura, nem a morte te glorificará; nem esperarão em tua verdade os que descem à cova.
C: (19) O vivente, o vivente, esse te louvará, como eu hoje o faço; o pai aos filhos fará notória a tua verdade.
B: (20) O Senhor veio salvar-me;
A: por isso, tangendo em meus instrumentos, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do Senhor.

O salmo de Ezequias é estruturado como um quiasma. No enfoque do quiasma, o Senhor cura-o de sua enfermidade: “Como me prometeu, assim ele me curou”. No lado ascendente Ezequias contempla sua enfermidade e sua morte inevitável; ele sofre muito, vendo que as alegrias e glórias terrenas logo ficariam para trás. No lado descendente ele reconhece a grande paz que tem recebido do Senhor ao ser curado, tanto física quanto espiritualmente. Ezequias resolve cantar cânticos de louvor ao Senhor pelo resto de sua vida. A frase “Eu disse: No cessar de meus dias ir-me-ei às portas da sepultura” contrasta-se com “por isso, tangendo em meus instrumentos, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do Senhor”.

O versículo 21 declara: “E dissera Isaías: Tomem uma pasta de figos, e a ponham como emplastro sobre a chaga; e sarará”. “A ponham” vem do hebraico e significa “esfregue-o no”.[27] Isto, juntamente com a declaração no versículo 22, são adicionados por Isaías falando na terceira pessoa, quase como um adendo. O conteúdo deste versículo foi apresentado anteriormente no registro dos escribas do rei.[28]

O versículo 22 adiciona: “Também dissera Ezequias: Qual será o sinal de que hei de subir à casa do Senhor? ” Esta declaração foi colocada no final do capítulo para diminuir sua importância na história, elevando, assim, a importância e significância da outra razão para o sinal do sol voltando dez graus—para testificar que o Senhor defenderia Seu povo contra os assírios, como mencionado no versículo 6. Aos leitores modernos, a mensagem de Isaías neste capítulo é a mesma: o Senhor defenderá Seus discípulos justos contra o homólogo dos antigos assírios nos últimos dias.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 36 e 37 e comentário pertinente.
[2]. Ver Isaías 45:3; Isaías 54:17 e D&C 71:9-10; Isaías 29:8; 52:12; 58:8; D&C 45:66; 63:34; 97:25.
[3]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 330.
[4]. Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma: Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal/o SENHOR/ morrerás//não viverás/orou ao Senhor/chorou Ezequias muitíssimo. Os versículos 2 e 3 contêm um quiasma sobreposto: Ezequias/orou/ao Senhor/Ah! Senhor/peço-te/Ezequias.
[5]. 2 Reis 18:4, 6.
[6]. 2 Reis 20:4.
[7]. Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma: Palavra do Senhor/Isaías/dizendo//dize/a Ezequias/Assim diz o Senhor.
[8]. 2 Reis 20:5.
[9]. Ver Isaías 37:36.
[10]. Isaías 38:1.
[11]. 2 Reis 20:6.
[12]. Isaías 37:20.
[13]. 2 Reis 20:7-8.
[14]. O versículo 7 contém um quiasma: E isto te será/do Senhor como sinal//o Senhor cumprirá/esta palavra.
[15]. 2 Reis 20:9.
[16]. 2 Reis 20:10.
[17]. Doutrina e Convênios 45:39-40.
[18]. Os versículos 10 e 11 contêm um quiasma: No cessar de meus dias/às portas da sepultura/ao Senhor//o Senhor/na terra dos viventes/jamais verei o homem.
[19]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 155.
[20]. Brown et al., 1996, Número de Strong 6148, p. 786.
[21]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 207.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1718, p. 186.
[23]. JST, p. 207.
[24]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2421, p. 1092.
[25]. JST, p. 207.
[26]. Compare Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 332-334.
[27]. Isaías 38:21, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 21a.
[28]. 2 Reis 20:7.

CAPÍTULO 37: “Não Temas À Vista Das Palavras Que Ouviste”

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O capítulo 37 é o segundo dos quatro capítulos chamados de “capítulos históricos” que descrevem uma série de acontecimentos que ocorreram durante a vida de Isaías. Estes acontecimentos são importantes para nós nos últimos dias porque servem como um símbolo profético para acontecimentos que ocorrerão em nosso próprio tempo.[1]

Estes acontecimentos eram o tema de algumas das prévias profecias de Isaías.[2] Entretanto, o cumprimento antigo destas profecias, como descritos nestes capítulos, não é a história completa. Os agressores assírios servem como exemplo de uma superpotência equivalente nos últimos dias que ameaçará o povo do Senhor e, tal como Ele defendeu Ezequias e seu povo na antiguidade, o Senhor defenderá Seu povo justo nos últimos dias.[3] Os detalhes pertinentes ao cumprimento duplo desta profecia foram fornecidos no capítulo 37.

Os acontecimentos de Isaías no capítulo 37 também estão registrados em 2 Reis capítulo 19. Uma comparação cuidadosa revela que as diferenças na escolha de palavras entre os dois relatos aparecem em quase todos os versículos sem alterar consideravelmente o significado.[4]

Os acontecimentos mais importantes do capítulo 37, continuando o relato do capítulo anterior, são os seguintes: Ezequias, ao ouvir o relatório de Eliaquim e seus companheiros, rasga as suas vestes como sinal de consternação. Ezequias então envia Eliaquim e outros ao profeta Isaías, para buscar conselho. Isaías profetiza a derrota dos assírios e a morte de Senaqueribe. Senaqueribe envia uma carta blasfema a Ezequias, e Ezequias ora ao Senhor para livra-los. O Senhor fala novamente a Isaías, predizendo a defesa de Jerusalém contra Senaqueribe e, mais tarde, o cativeiro e retorno dos judeus. Finalmente, o anjo do Senhor mata 185,000 do exército assírio e Senaqueribe é morto em sua própria terra por seus filhos.

A abundância de quiasmas neste capítulo reforça o argumento que Isaías mesmo foi quem escreveu este e os outros “capítulos históricos”, visto que se mantém o mesmo aspecto importante do estilo narrativo de Isaías.

O versículo 1 continua a narrativa do capítulo anterior, descrevendo a resposta de Ezequias às informações trazidas por Eliaquim e seus dois companheiros: “E aconteceu que, tendo ouvido isso, o rei Ezequias rasgou as suas vestes, e se cobriu de saco, e entrou na casa do SENHOR”. As informações causaram Ezequias uma grande angústia . O ato de rasgar as suas vestes foi um sinal exterior da angústia que sentia dentro de si, e o ato de cobrir-se ou vestir-se com roupas feitas de saco indica que ele foi ao templo em jejum. Estas roupas de saco eram feitas com pelos ásperos de cabra ou de camelo, normalmente usados para fazer bolsas.

O versículo 2 declara: “Então enviou Eliaquim, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e os anciãos dos sacerdotes, cobertos de sacos, ao profeta Isaías, filho de Amós”. Note que o cronista, Joá filho de Asafe que estava presente com Eliaquim e Sebna durante o pronunciamento de Rabsaqué no capítulo 36, não foi enviado a Isaías; em seu lugar foram enviados alguns “anciãos dos sacerdotes”.

O versículo 3 inicia a declaração do mensageiro a Isaías: “E disseram-lhe: Assim diz Ezequias: Este dia é dia de angústia, e de vitupério, e de blasfêmias; porque chegados são os filhos ao parto, e força não há para dá-los à luz”. O povo se encontrava angustiado por causa da blasfêmia e ameaças de guerra feitas por Rabsaqué. Sem dúvidas, o povo também estava se recordando da desolação do reino setentrional de Israel, depois de ter sido conquistado e levado em cativeiro pelos assírios. A metáfora usada neste versículo descreve a grande angústia. Antes do desenvolvimento de técnicas da medicina moderna uma gestante com as dores do parto, mas sem forças para dar à luz, pereceria, causando uma angústia indescritível aos familiares, devido a perda da mãe e da criança.

Os versículos 1 até 3 contêm um quiasma:

A: (1) E aconteceu que, tendo ouvido isso, o rei Ezequias rasgou as suas vestes,
B: e se cobriu de saco,
C: e entrou na casa do SENHOR.
D: (2) Então enviou Eliaquim,
C: o mordomo,
B: e Sebna, o escrivão, e os anciãos dos sacerdotes, cobertos de sacos, ao profeta Isaías, filho de Amós.
A: (3) E disseram-lhe: Assim diz Ezequias: Este dia é dia de angústia, e de vitupério, e de blasfêmias; porque chegados são os filhos ao parto, e força não há para dá-los à luz.

O quiasma conta a história em forma poética: Ezequias veste-se com saco e entra na casa do Senhor. Envia Eliaquim, Sebna e os anciãos dos sacerdotes, também cobertos de sacos, a Isaías para buscar o conselho do Senhor.

No versículo 4, os mensageiros dão seu recardo a Isaías: “Porventura o SENHOR teu Deus terá ouvido as palavras de Rabsaqué, a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo, e para vituperá-lo com as palavras que o SENHOR teu Deus tem ouvido; faze oração pelo remanescente que ficou”. O Grande Pergaminho de Isaías declara “o remanescente que permaneceram na cidade ”.[5] O exército assírio tinha devastado completamente Judá, exceto a capital, Jerusalém; muitos foram mortos ou levados em cativeiro, e alguns tinham fugidos para a cidade à frente dos saqueadores. A esperança expressada pelos mensageiros é que o Senhor, depois de haver ouvido as blasfêmias de Rabsaqué contra Deus, puni-lo-á e salvará Judá da destruição. Eles pedem que Isaías ore pelos judeus.

O versículo 4 contém um quiasma:

A: (4) Porventura o SENHOR teu Deus
B: terá ouvido as palavras
C: de Rabsaqué,
C: a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo,
B: e para vituperá-lo com as palavras
A: que o SENHOR teu Deus tem ouvido; faze oração pelo remanescente que ficou.

Este quiasma expressa a esperança de que o Senhor estará irado pelas palavras blasfemas de Rabsaqué e defenderá Judá. “Rabsaqué” complementa “para afrontar o Deus vivo”, uma declaração de que o próprio Rabsaqué era um opróbrio.

O versículo 5 sumariza: “E os servos do rei Ezequias foram ter com Isaías”.

Os versículos 6 e 7 apresenta a resposta de conforto de Isaías. O versículo 6 começa: “E Isaías lhes disse: Assim direis a vosso senhor: Assim diz o SENHOR: Não temas à vista das palavras que ouviste, com as quais os servos do rei da Assíria me blasfemaram”.

Os versículos 4 até 6 contêm dois quiasmas sobrepostos, que por sua vez sobrepõem o quiasma do versículo 4:

(4) Porventura o SENHOR teu Deus terá ouvido as palavras de Rabsaqué,
A: a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo,
B: e para vituperá-lo com as palavras
C: que o SENHOR teu Deus tem ouvido; faze oração pelo remanescente que ficou.
D: (5) E os servos do rei Ezequias
E: foram ter com Isaías.
E: (6) E Isaías lhes disse:
D: Assim direis a vosso senhor:
C: Assim diz o SENHOR:
B: Não temas à vista das palavras que ouviste,
A: com as quais os servos do rei da Assíria me blasfemaram.

O lado ascendente do quiasma apresenta a súplica dos servos de Ezequias a Isaías, enquanto que o lado descendente começa com a resposta do Senhor dada através do profeta.

Os quiasmas sobrepostos contidos nestes mesmos versículos proveem mais conexões interpretativas:

(4) Porventura o SENHOR teu Deus terá ouvido as palavras de Rabsaqué,
A: a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo, e para vituperá-lo com as palavras que o SENHOR teu Deus tem ouvido; faze oração pelo remanescente que ficou.
B: (5) E os servos do rei Ezequias foram ter com Isaías.
C: (6) E Isaías lhes disse: Assim direis a vosso senhor:
C: Assim diz o SENHOR: Não temas à vista das palavras que ouviste,
B: com as quais os servos do rei da Assíria
A: me blasfemaram.

O primeiro quiasma centra em “Isaías lhes disse”, e “os servos do rei Ezequias” equivale à frase “vosso senhor”. No quiasma sobreposto “os servos do rei Ezequias” contrasta-se com “os servos do rei da Assíria” e “assim direis a vosso senhor” compara-se com “assim diz o SENHOR”. Em ambos quiasmas, “afrontar o Deus vivo” corresponde-se à “me blasfemaram”. Devido aos quiasmas sobrepostos, todas as vezes que o termo “o Senhor” aparece nos versículos 4 até 6 são estruturalmente equivalentes.

O versículo 7 continua com as palavras do Senhor, transmitidas por Isaías: “Eis que porei nele um espírito, e ele ouvirá um rumor, e voltará para a sua terra; e fá-lo-ei cair morto à espada na sua terra”. “Espírito” significa “vento” ou “respiração pesada através das narinas com ira”.[6]

A profecia de Isaías concernente Senaqueribe, o rei da Assíria, contém três partes: Primeiro, a ira do Senhor, ou maldição, será enviada sobre ele; segundo, ele ouvirá um rumor que o fará retornar à sua terra; e terceiro, cairá morto à espada em sua própria terra.

No versículo 8, ao retornar, o capitão assírio descobre que as circunstâncias mudaram: “Voltou, pois, Rabsaqué, e achou ao rei da Assíria pelejando contra Libna; porque ouvira que já se havia retirado de Laquis”. Senaqueribe ouviu que um adversário, Libna, já se havia retirado da cidade de Laquis; por conseguinte, Senaqueribe o seguiu para continuar o conflito.

O versículo 9 provê detalhes explicando porque Senaqueribe não foi imediatamente a Jerusalém para começar as operações militares lá: “E, ouviu ele dizer que Tiraca, rei da Etiópia, tinha saído para lhe fazer guerra. Assim que ouviu isto, enviou mensageiros a Ezequias, dizendo: ” O Grande Pergaminho de Isaías declara “ele voltoue enviou mensageiros a Ezequias …”.[7] O propósito de Senaqueribe era o de promover urbanização adicional em Jerusalém para terminar o confronto com Ezequias, evitando, assim, guerra em ambas frentes. Aprendemos mais adiante, no versículo 14, que a mensagem foi enviada em forma de uma ou mais cartas, levada pelos mensageiros a Ezequias.

Os versículos 10 até 13 contêm o texto das cartas. O versículo 10 começa com instruções aos mensageiros: “Assim falareis a Ezequias, rei de Judá, dizendo: Não te engane o teu Deus, em quem confias, dizendo: Jerusalém não será entregue na mão do rei da Assíria”. O uso de frases negativas por Senaqueribe pode obscurecer o significado desta passagem. A primeira frase, “Não te engane o teu Deus, em quem confias, dizendo …” essencialmente, declara: “Não creia no que tu pensas que teu Deus está falando”. A segunda apresenta a suposição de Senaqueribe de que Deus diria a Ezequias: “Jerusalém não será entregue na mão do rei da Assíria”. Embora mais tarde esta declaração tenha sido provada verdadeira, Senaqueribe quis dizer exatamente o oposto—que nem mesmo o Deus de Israel poderia proteger Jerusalém da invasão dos assírios.

O versículo 10 contém um quiasma:

A: (10) Assim falareis a Ezequias, rei de Judá,
B: dizendo:
C: Não te engane
D: o teu Deus,
D: em quem
C: confias,
B: dizendo: Jerusalém não será entregue
A: na mão do rei da Assíria.

Este quiasma ilustra que a intenção de Senaqueribe era de intimidar; e a de Ezequias era de confiar no Senhor.

Nos versículos 11 até 13 a carta continua:

“Eis que já tens ouvido o que fizeram os reis da Assíria a todas as terras, destruindo-as totalmente; e escaparias tu?
“Porventura as livraram os deuses das nações que meus pais destruíram: Gozã, e Harã, e Rezefe, e os filhos de Éden, que estavam em Telassar?
“Onde está o rei de Hamate, e o rei de Arpade, e o rei da cidade de Sefarvaim, Hena e Iva?”

O Grande Pergaminho de Isaías adiciona à lista de Senaqueribe “e Samaria”.[8] O rei de Assíria faz uma série de perguntas retóricas, na qual afirma sua intenção e sua capacidade de destruir Jerusalém, bem como ele e seus antecessores dominaram reis após reis e destruíram reinos após reinos.

O versículo 14 descreve a reação de Ezequias: “Recebendo, pois, Ezequias as cartas das mãos dos mensageiros, e lendo-as, subiu à casa do Senhor; e Ezequias as estendeu perante o Senhor”.

O versículo 15 declara: “E orou Ezequias ao Senhor, dizendo: ”

No versículo 16, começa a oração de Ezequias, continuando a sentença do versículo 15: “Ó Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, que habitas entre os querubins; tu mesmo, só tu és Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra”. A frase “que habitas entre os querubins” refere-se ao altar nos santos dos santos no templo. O Senhor, ao falar com Moisés, explicou o significado:

“E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.”[9]

O sagrado altar foi o lugar designado para os profetas—e neste caso um rei justo—receberem revelações do Senhor. Ezequias reconhece que o Senhor é o único Deus verdadeiro e vivo, criador dos céus e da Terra.

A oração de Ezequias continua no versículo 17: “Inclina, ó Senhor, o teu ouvido, e ouve; abre, Senhor, os teus olhos, e vê; e ouve todas as palavras de Senaqueribe, as quais ele enviou para afrontar o Deus vivo”. O sentido desta passagem no texto original em hebraico é “… blasfemar contra o Deus vivo”.[10]

Nos versículos 18 e 19 Ezequias reconhece a verdade de parte das palavras de Senaqueribe: “Verdade é, Senhor, que os reis da Assíria assolaram todas as nações e suas terras. E lançaram no fogo os seus deuses; porque deuses não eram, senão obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso os destruíram”.

No versículo 20, Ezequias conclui sua oração com uma súplica para a libertação: “Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, livra-nos da sua mão; e assim saberão todos os reinos da terra, que só tu és o Senhor”. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “só tu és Deus”.[11] Ao livrar os judeus do exército assírio, o mundo inteiro veria que o Deus de Israel é o único Deus verdadeiro.

Os versículos 16 até 20, que contêm a oração de Ezequias, formam um quiasma:

A: (16) Ó Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, que habitas entre os querubins;
B: só tu és Deus
C: de todos os reinos da terra;
D: tu fizeste os céus e a terra.
E: (17) Inclina, ó Senhor, o teu ouvido, e ouve;
E: abre, Senhor, os teus olhos, e vê; e ouve todas as palavras de Senaqueribe, as quais ele enviou para blasfemar contra o Deus vivo.
D: (18) Verdade é, Senhor, que os reis da Assíria assolaram
C: todas as nações e suas terras.
B: (19) E lançaram no fogo os seus deuses; porque deuses não eram, senão obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso os destruíram.
A: (20) Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, livra-nos da sua mão; e assim saberão todos os reinos da terra, que só tu és o Senhor.

“Só tu és Deus …” complementa “deuses não eram”, mostrando a falha da lógica de Senaqueribe. O Senhor é o criador de tudo, em contraste com os ídolos impotentes de outras nações, feitos por mãos de homens. “Fizeste os céus e a terra” contrasta-se com “assolaram”, colocando o poder de criação em contraste com o de destruição e caos.

A resposta do Senhor à prece de Ezequias é dada nos versículos 21 até 35. O versículo 21 começa: “Então Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Quanto ao que pediste acerca de Senaqueribe, rei da Assíria”. O Grande Pergaminho de Isaías adiciona “Assim diz o Senhor Deus de Israel, a quem tu oraste …”.[12] Isaías enviou uma mensagem ao rei, ao invés de ir em pessoa.

No versículo 22 Isaías proclama a palavra do Senhor, falando contra Senaqueribe: “Esta é a palavra que o Senhor falou a respeito dele: A virgem, a filha de Sião, te despreza, de ti zomba; a filha de Jerusalém meneia a cabeça por detrás de ti”. A frase “a virgem, a filha de Sião” é equivalente quiasmaticamente à “filha de Jerusalém”; conforme foi usado aqui, significa a cidade de Jerusalém.[13] A equivalência entre “a filha de Sião” e “a filha de Jerusalém” reflete o sentido duplo desta profecia e seus cumprimentos em duas épocas diferentes. Compare a profecia anterior de Isaías referente a estes acontecimentos: “Ainda um dia parará [o rei da Assíria] em Nobe; acenará com a sua mão contra o monte da filha de Sião, o outeiro de Jerusalém”.[14]

Compare também a variedade de significados destes dísticos paralelos “porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”.[15] O Senhor defendeu Jerusalém no tempo de Ezequias e defenderá Sião nos últimos dias, ambas de forma semelhante e ambas em cumprimento desta profecia.

No versículo 23, o Senhor faz e depois responde às perguntas retóricas: “A quem afrontaste e blasfemaste? E contra quem alçaste a voz, e ergueste os teus olhos ao alto? Contra o Santo de Israel”. A blasfêmia do rei da Assíria foi feita contra o Senhor Deus, o Santo de Israel.

Os versículos 21 até 23 contêm um quiasma:

(21) Então Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias:
A: Assim diz o Senhor Deus de Israel:
B: Quanto ao que pediste
C: acerca de Senaqueribe, rei da Assíria,
D: (22) Esta é a palavra que o Senhor falou a respeito dele:
E: A virgem, a filha de Sião,
F: te despreza,
F: de ti zomba;
E: a filha de Jerusalém meneia a cabeça por detrás de ti.
D: (23) A quem afrontaste e blasfemaste?
C: E contra quem
B: alçaste a voz, e ergueste os teus olhos ao alto?
A: Contra o Santo de Israel.

Este quiasma apresenta as palavras do Senhor a Ezequias, dadas por meio do profeta Isaías. “O Senhor Deus de Israel” é equivalente ao “Santo de Israel”. “Filha de Sião” e “filha de Jerusalém” são equivalentes; sua equivalência fortalece a teses de que esta profecia é para ser cumprida em duas épocas diferentes. O Senhor defendeu Jerusalém na época de Ezequias e defenderá Sião nos últimos dias, ambas de maneira semelhante e ambas em cumprimento desta profecia.

O versículo 24 continua a acusação do Senhor: “Por meio de teus servos afrontaste o Senhor, e disseste: Com a multidão dos meus carros subi eu aos cumes dos montes, aos últimos recessos do Líbano; e cortarei os seus altos cedros e as suas faias escolhidas, e entrarei na altura do seu cume, ao bosque do seu campo fértil”. A metáfora de altas árvores como homens nobres é usada por todo o livro de Isaías.[16]

Estas palavras, dirigidas ao antigo rei da Assíria, serve como um símbolo profético para os acontecimentos nos últimos dias. Uma superpotência equivalente nos últimos dias ameaçará a Sião moderna depois de haver devastado as regiões vizinhas.

A metáfora de árvores foi apresentada anteriormente por Isaías, provendo a interpretação: “E contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã”.[17]

A frase “os cumes dos montes” no versículo 24 provê uma conexão com os acontecimentos dos últimos dias. Esta frase foi usada anteriormente por Isaías: “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações” (ênfases adicionadas).[18]

Isaías falou sobre o atual Estado de Utah, cujo nome significa “os cumes dos montes” no idioma dos índios Ute,[19] onde se edificaria um templo.

Os versículos 23 e 24 contêm um quiasma:

A: (23) A quem
B: afrontaste e blasfemaste?
C: E contra quem
D: alçaste a voz,
D: e ergueste os teus olhos ao alto?
C: Contra o Santo de Israel.
B: (24) Por meio de teus servos afrontaste
A: o Senhor, e disseste ….

“A quem” corresponde ao “Senhor”; “contra quem” corresponde à “contra o Santo de Israel”, e “alçaste a voz” corresponde à frase “ergueste os teus olhos ao alto”. O Senhor foi ofendido com as palavras blasfema de Senaqueribe.

No versículo 25 Isaías descreve a vanglória do rei da Assíria: “Eu cavei, e bebi as águas; e com as plantas de meus pés sequei todos os rios dos lugares sitiados”.[20] O Grande Pergaminho de Isaías diz “e bebi as águas estrangeiras”,[21] que quer dizer as águas em nações estrangeiras. Os antigos assírios foram capazes de atravessarem as vastas regiões desertas cavando poços onde quer que fossem, ao invés de confiar na existência de córregos e nascentes, aumentando, assim, a extensão de suas conquistas.

No versículo 26, o Senhor repreende Senaqueribe por sua vanglória: “Porventura não ouviste que já há muito tempo eu fiz isto, e já desde os dias antigos o tinha formado? Agora porém o fiz vir, para que tu fosses o que destruísse as cidades fortificadas, e as reduzisse a montões de ruínas”. O Senhor atesta que Ele havia erguido o rei da assíria para destruir as cidades.

No versículo 27 o Senhor menospreza as conquistas do rei da Assíria: “Por isso os seus moradores, dispondo de pouca força, andaram atemorizados e envergonhados; tornaram-se como a erva do campo, e a relva verde, e o feno dos telhados, e o trigo queimado antes da seara”. O Grande Pergaminho de Isaías diz “… queimadodiante de um vento do leste”.[22] O Senhor explica que estes eram reinos enfraquecidos e de pouca importância, que eram facilmente intimidados e desanimados. “Queimado” refere-se a qualquer uma das pragas destruidoras que resultaram em plantas secas antes de estarem maduros, além do significado do Grande Pergaminho de Isaías de dessecação perante um vento quente e seco.

O versículo 28 revela que o Senhor sabia sobre a malevolência do rei da Assíria: “Porém eu conheço o teu assentar, e o teu sair, e o teu entrar, e o teu furor contra mim”.

No versículo 29, o Senhor prediz a partida do rei depois de ser derrotado: “Por causa do teu furor contra mim, e porque a tua arrogância subiu até aos meus ouvidos, portanto porei o meu anzol no teu nariz e o meu freio nos teus lábios, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste”. “O meu anzol no teu nariz” e “o meu freio nos teus lábios” referem–se aos dispositivos usados para controlar animais, causando-lhes dor ou direcionando sua visão, usados aqui metaforicamente.

Os versículos 26 até 29 contêm um quiasma:

A: (26) Porventura não ouviste que já há muito tempo eu fiz isto,
B: e já desde os dias antigos o tinha formado?
C: Agora porém o fiz vir,
D: para que tu fosses o que destruísse as cidades fortificadas, e as reduzisse a montões de ruínas.
E: (27) Por isso os seus moradores, dispondo de pouca força,
F: andaram atemorizados
F: e envergonhados;
E: tornaram-se como a erva do campo, e a relva verde, e o feno dos telhados, e o trigo queimado antes da seara.
D: (28) Porém eu conheço o teu assentar, e o teu sair, e o teu entrar, e o teu furor contra mim.
C: (29) Por causa do teu furor contra mim, e porque a tua arrogância subiu até aos meus ouvidos,
B: portanto porei o meu anzol no teu nariz e o meu freio nos teus lábios,
A: e te farei voltar pelo caminho por onde vieste.

No lado ascendente deste quiasma o Senhor atesta que Ele é o criador de todas as coisas e levantou o rei da Assíria para destruir. No lado descendente o Senhor menospreza as conquistas do rei da Assíria, quando as compara com Suas próprias obras como Criador, então declara que Ele fará Senaqueribe voltar pelo caminho por onde veio.

Os versículos 30 até 32 dão um sinal ao rei da Assíria e ao povo de Jerusalém. O versículo 30 declara: “E isto te será por sinal: Este ano se comerá o que espontaneamente nascer, e no segundo ano o que daí proceder; porém no terceiro ano semeai e segai, e plantai vinhas, e comei os frutos delas”. O pronome singular, “te” dirige a declaração ao rei da Assíria, enquanto que os verbos na segunda pessoa do plural (vós), “semeai”, “segai”, “plantai” e “comei” são dirigidos aos habitantes de Jerusalém. Isto significa que por dois anos a terra de Judá permaneceria caída por causa do conflito com a Assíria e o perigo em estar fora das muralhas protetoras da cidade, porém no terceiro ano os judeus seriam capazes de trabalhar em suas terras, plantar e colher. Outra dimensão deste sinal é como um símbolo para o cativeiro de Judá na Babilônia por três gerações, depois do qual um remanescente voltaria.

Este segundo sentido se manifesta claramente nos versículos 31 e 32. O versículo 31 começa: “Porque o que escapou da casa de Judá, e restou, tornará a lançar raízes para baixo, e dará fruto para cima”. A profecia é apresentada metaforicamente, como uma planta crescendo no solo.

O versículo 32 continua: “Porque de Jerusalém sairá o restante, e do monte de Sião os que escaparem; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto”. O restante de Jerusalém e de Sião escaparia e retornaria no futuro. Lembre anteriormente de um sinal, que foi dado ao rei Acaz, que também descreveu acontecimentos que ocorreriam mais tarde: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.[23]

Ambos sinais proclamam que Jerusalém sobreviveria suas dificuldades atuais, permitindo o cumprimento da profecia num futuro distante. O “monte de Sião” como foi usado aqui significa tanto no monte do templo de Jerusalém[24] quanto do lugar de coligação espiritual nos últimos dias,[25] indicando, assim, o cumprimento duplo da profecia, tanto na antiguidade quanto nos últimos dias.

No versículo 33 o Senhor sumariza: “Portanto, assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma; tampouco virá perante ela com escudo, ou levantará trincheira contra ela”. Senaqueribe não seria permitido lançar sequer uma flecha contra Jerusalém.

O versículo 34 prediz a partida de Senaqueribe: “Pelo caminho por onde vier, por esse voltará; porém nesta cidade não entrará, diz o Senhor”.

No versículo 35 o Senhor atesta: “Porque eu ampararei esta cidade, para livrá-la, por amor de mim e por amor do meu servo Davi”.[26] “Meu servo Davi” significa o herdeiro atual do trono de Davi, o justo rei Ezequias.[27]

O versículo 36 descreve a intervenção do Senhor: “Então saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, quando se levantaram pela manhã cedo, eis que todos estes eram corpos mortos”. A Tradução de Joseph Smith apresenta “e, quando os que foram deixados se levantarampela manhã …”.[28] Sem dúvidas as notícias sobre este acontecimento singular se propagariam por terras longínquas, em cumprimento do apelo de Ezequias ao Senhor: “Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, livra-nos da sua mão; e assim saberão todos os reinos da terra, que só tu és o Senhor”.[29]

Esta destruição do exército assírio serve como exemplo de acontecimentos nos últimos dias. Por intervenção milagrosa, o Senhor deterá um exército bem disciplinado na periferia do domínio de Seu povo justo, depois do exército haver devastado muitas das regiões ao redor. Anteriormente, no capítulo 14, Isaías afirma:

“O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.
“Quebrantarei a Assíria na minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros.”[30]

A declaração do Senhor “nas minhas montanhas” significa a área que rodeava Jerusalém nos tempos antigos, bem como um símbolo profético para a Sião moderna nas montanhas.[31] Além disso, pode ser um símbolo para Jerusalém nos últimos dias e os acontecimentos que ocorrerão lá.

Como descreveu Isaías no capítulo 28, o Senhor proverá força e coragem para o pequeno exército de efraimitas justos, que fará um exército invasor regressar pela mesma porta da cidade de Sião: “E por espírito de juízo, para o que se assenta a julgar, e por fortaleza para os que fazem recuar a peleja até à porta”.[32]

Os versículos 37 e 38 descrevem o cumprimento da profecia concernente a morte do rei da Assíria:

“Assim Senaqueribe, rei da Assíria, se retirou, e se foi, e voltou, e habitou em Nínive.
“E sucedeu que, estando ele prostrado na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada; escaparam para a terra de Ararate; e Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar.”

Assim, Senaqueribe foi morto na casa de seu deus por seus próprios filhos, e Ezequias e Jerusalém foram defendidos por seu Deus contra invasores de uma terra estrangeira. O Deus verdadeiro, adorado por Ezequias e por seu povo, salvou-lhes ao milagrosamente destruir o exército assírio, enquanto que Senaqueribe, que blasfemava que o Senhor Jeová não seria capaz de salvar Ezequias e seu povo, foi morto na presença de seu deus falso, que não possuía nenhum poder para salvá-lo.

NOTAS

[1]. Ver Isaías 36 e comentário pertinente.
[2]. Isaías 10:24-34.
[3]. Ver Isaías 10 e comentário pertinente.
[4]. Ver Isaías 36 e comentário pertinente.
[5]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 149.
[6]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 7307, p. 924.
[7]. Parry, 2001, p. 150.
[8]. Parry, 2001, p. 150.
[9]. Êxodo 25:22.
[10]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2778, p. 357.
[11]. Parry, 2001, p. 151.
[12]. Parry, 2001, p. 151.
[13]. Ver 2 Reis 19:21, 31; Salmos 9:14; 51:18; Isaías 10:32; 16:1; 52:2; 62:11.
[14]. Isaías 10:32.
[15]. Isaías 2:3; Ver comentário pertinente. Ver também Isaías 10:12; 24:23; 31:9; 52:1, 2.
[16]. Ver Isaías 9:18; 10:18-19, 33-34; 14:8; 29:17; 32:15; 55:12.
[17]. Ver Isaías 2:13; 9:18; 10:18-19, 33-34; 14:8; 29:17; 32:15; 55:12.
[18]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[19]. Joseph Fielding McConkie, Gospel Symbolism [Simbolismos no Evangelho]: Bookcraft, Inc. Salt Lake City, UT, pp. 129-130. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[20]. Os versículos 24 e 25 contêm um quiasma: Com a multidão dos meus carros/aos cumes dos montes//Líbano/os seus altos cedros/na altura do seu cume/com as plantas de meus pés.
[21]. Parry, 2001, p. 152.
[22]. Parry, 2001, p. 152.
[23]. Isaías 7:14.
[24]. Ver Salmos 9:11; 14:7; 74:2; 78:68-69; Isaías 1:8; 4:3-4; 10:12, 32; 16:1; 18:7; 30:19; 31:4; 34:8; D&C 133:18, 56.
[25]. Ver Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Ver Isaías 3:16; 33:5, 14, 20; 34:8; 40:9; 41:27; 51:3.
[26]. Os versículos 32 até 35 contêm um quiasma: O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto/assim diz o Senhor/Não entrará nesta cidade/caminho por onde vier//por esse voltará/porém nesta cidade não entrará/diz o Senhor/eu ampararei esta cidade.
[27]. Ver Gênesis 49:10; 1 Reis 2:33; 1 Samuel 15:27-28.
[28]. JST, 1970, p. 206.
[29]. Isaías 37:20.
[30]. Isaías 14:24-25.
[31]. Ver Isaías 2:2; 37:24; e comentário pertinente.
[32]. Isaías 28:6.

CAPÍTULO 36: “Nem Tampouco Ezequias Vos Faça Confiar No Senhor”

Para ver os comentários de cada capítulo de Isaías, bem como cada introdução, desça até encontrar, à direita, uma lista de todos os capítulos sob a seção “Categorias”. Clique no capítulo que deseja ler. ===>

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O capítulo 36 é o primeiro de quatro capítulos que descreve certos acontecimentos que ocorreram durante a vida de Isaías. Por isso os capítulos 36 até 39 são chamados “capítulos históricos”.

Embora os acontecimentos contidos nestes capítulos terem ocorrido durante a vida de Isaías, eles são importantes para nós nos últimos dias porque servem como símbolos proféticos de acontecimentos que ocorrerão em nossos dias. Quando os acontecimentos preditos começarem a ocorrrer, este relato fornecerá conforto e a certeza que a proteção do Senhor será dada aos seus discípulos modernos, assim como dada à antiga Jerusalém e seu rei justo, Ezequias. Quando estes acontecimentos começarem a se passar, lembremos das palavras do profeta Sofonias:

“Naquele dia se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se enfraqueçam as tuas mãos.
“O Senhor teu Deus, o poderoso, está no meio de ti, ele salvará; ele se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo”.[1]

Obviamente, o propósito de Isaías ao escrever estes capítulos não era o de produzir um relato histórico nem mesmo o de resumir acontecimentos históricos importantes. O evento político mais importante da vida de Isaías, quando as dez tribos de Israel foram levadas em cativeiro, não foi nem sequer mencionado aqui.[2] O propósito de Isaías são dois: Primeiro, lembrar os futuros leitores que o Senhor proveu milagres no passado na defesa de Seu povo justo; e segundo, para dar aos leitores nos últimos dias um exemplo ou padrão de acontecimentos em suas próprias vidas, que de outra forma causariam grande temor e desespero.

Anteriormente, no capítulo 10, Isaías profetizou concernente a estes acontecimentos que se passariam durante sua vida e que serviriam como exemplo ou símbolos de acontecimentos nos últimos dias: “Por isso assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos: Povo meu, que habitas em Sião, não temas à Assíria, quando te ferir com a vara, e contra ti levantar o seu bordão à maneira dos egípcios” (ênfases adicionadas).[3] A palavra “Sião” refere-se à antiga Jerusalém, bem como a Sião dos últimos dias, e “Assíria” significa, simultaneamente, a antiga superpotência e equivalente moderna.

Os acontecimentos destes capítulos também estão registrados pelos escribas de Ezequias, rei de Judá.[4] Uma comparação cuidadosa revela que as diferenças entre as redações entre os dois relatos ocorrem em quase todos os versículos. Por examplo, o versículo 1 de Isaías, capítulo 36 diz: “E aconteceu no ano décimo quarto do rei Ezequias, que Senaqueribe, rei da Assíria, subiu contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou”. O versículo 13 de 2 Reis, capítulo 18 diz: “Porém no ano décimo quarto do rei Ezequias subiu Senaqueribe, rei da Assíria, contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou” (ênfases adicionadas). Note que as diferenças nas colocações das palavras não alteram o significado.

Importantes acontecimentos no capítulo 36 de Isaías são os seguintes: Senaqueribe, rei da Assíria, declara guerra contra Judá, levando todas as cidades fortificadas exceto Jerusalém. O exército assírio reuni-se em Jerusalém e os emissários do rei da Assíria conferenciam com os representantes de Ezequias, rei de Judá. Os assírios insultam os judeus e blasfemam contra o Senhor, proclamando que o Senhor não tinha poder para proteger Jerusalém. Os representantes de Ezequias rasgam suas vestimentas e reportam estas coisas ao rei Ezequias.

O versículo 1 declara: “E aconteceu no ano décimo quarto do rei Ezequias, que Senaqueribe, rei da Assíria, subiu contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou”. Judá, este vesículo nos informa, foi atacada pelos assírios que conquistaram todas as cidades fortificadas de Judá exceto Jerusalém. Isto ocorreu depois da conquista do reino de Israel e das dez tribos terem sido levadas em cativeiro.[5] O restante do capítulo 36 e todo o capítulo 37 descrevem acontecimentos que se passaram quando o exército assírio, subsequentemente, cercou Jerusalém.

Um relato que não está incluido na narrative de Isaías occurreu nesta época e está registrado em 2 Reis 18:14-16. O fato que Isaías não menciona esta parte sugere que esta não faz parte do exemplo ou protótipo profético e que as ações de Ezequias, como mencionadas nestes três versículos, não servem como orientação aos discípulos do Senhor nos últimos dias.

2 Reis 18:14 começa: “Então Ezequias, rei de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro”. Aqui Ezequias tenta aplelar aos invasores, dizendo que fará o que eles quiserem, se eles recuarem. Obsequiosamente, o rei da Assíria demanda um resgate enorme: trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro. O valor hoje em dia deste resgate é desconhecido, mas é sem dúvida na casa de milhões de dólares.

2 Reis 18:15 declara: “Assim deu Ezequias toda a prata que se achou na casa do Senhor e nos tesouros da casa do rei”. Ezequias não só deu aos assírios sua própria riqueza; mas também deu as riquezas que estavam dentro do templo.

2 Reis 18:16 declara: “Naquele tempo cortou Ezequias o ouro das portas do templo do Senhor, e das ombreiras, de que ele, rei de Judá, as cobrira, e o deu ao rei da Assíria”. Aqui está descrevendo a remoção do ouro das portas e ombreiras do templo. Embora a recompensa ter sido paga por Ezequias, os assírios não recuam, não cumprindo, assim, sua parte no acordo. O que Isaías está tentando ensinar é que o apaziguamento ou pagamento de resgates não deverão ser parte do modelo para os acontecimentos nos últimos dias.

O versículo 2—voltando ao relato de Isaías—declara: “Então o rei da Assíria enviou a Rabsaqué, de Laquis a Jerusalém, ao rei Ezequias com um grande exército, e ele parou junto ao aqueduto do açude superior, junto ao caminho do campo do lavandeiro”. “Aqueduto do açude superior” é quiasmaticamente equivalente à frase “caminho do campo do lavandeiro”. Estas duas características geográficas lineares servem como coordenadas para descrever precisamente o lugar da reunião. “Rabsaqué”, ao invés de ser um nome, é um título que significa “chefe dos oficiais” em hebraico.[6]

O versículo 3 continua:Então saíram a ter com ele Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o cronista”. Três representantes da casa de Ezequias saíram para encontrar Rabsaqué e os outros. Estes três eram: o administrador do palácio do rei, um escrivão, e um cronista. A lei requeria duas ou três testemunhas para documentarem acontecimentos importantes,[7] cumprido por Ezequias ao enviar estes três representantes.

No versículo 4, os emissários assírios declaram seu motivo: “E Rabsaqué lhes disse: Ora dizei a Ezequias: Assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é esta, em que esperas?”[8] Ezequias recusou pagar mais resgates; os assírios suspeitaram que ele tinha feito aliança com outra potência para protegê-lo dos invasores, dando-lhe a confiança de que podia resistir os assírios.

No versículo 5, o emissário assírio repete sua pergunta com ênfase: “Bem posso eu dizer: Teu conselho e poder para a guerra são apenas vãs palavras; em quem, pois, agora confias, que contra mim te rebelas?” A Tradução de Joseph Smith (JST) esclarece: “Bem posso eu dizer,quando dizes: Teu conselho e poder para a guerra são apenas vãs palavras; em quem, pois, agora confias, que contra mim te rebelas?”[9] Novamente, o emissário do rei da Assíria supõe que Ezequias havia feito aliança com outra potência política para receber proteção contra os invasores.

Os versículos 4 e 5 contêm um quiasma:

(4) E Rabsaqué lhes disse: Ora dizei a Ezequias:
A: Assim diz o grande rei, o rei da Assíria:
B: Que confiança é esta, em que esperas?
C: (5) Bem posso eu dizer,
C: quando dizes:Teu conselho e poder para a guerra são apenas vãs palavras;
B: em quem, pois, agora confias,
A: que contra mim te rebelas?

“O grande rei, o rei da Assíria” compara-se com “que contra mim te rebelas?” Isaías mostra quem falou estas palavras—o rei da Assíria, através de seus representantes. A omissão de “Bem posso eu dizer” pelos escribas no começo do versículo 5 interfere com a simetria do quiasma.[10] Isto sugere que Isaías provavelmente escreveu o relato original; sua narrativa foi alterada mais tarde e expandida conforme o documento pelos escribas, que aparentemente não reconheciam a sutuleza da obra de Isaías.

No versículo 6, o porta-voz do rei da Assíria responde sua própria pergunta: “Eis que confias no Egito, aquele bordão de cana quebrada, o qual, se alguém se apoiar nele lhe entrará pela mão, e a furará; assim é Faraó, rei do Egito, para com todos os que nele confiam”. Os humanistas assírios pensaram errôneamente que Ezequias havia apelado ao Egito por proteção, uma superpotência antiga mas agora enfraquecida, sem capacidade de proteger Jerusalém. A metáfora usada pelos assírios—uma cana quebrada que entrará pela mão daquele que se apoiasse nela—ilustra a perceptível fraqueza egípcia, e a inabilidade de prover a proteção necessária e as desastrosas consequências para aqueles que colocasse tanta confiança nele. O reino de Israel, que se consistia das dez tribos, foi levado em cativeiro pelos assírios apesar dos apleos de Oséias ao Egito.[11]

Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma:

(5) Bem posso eu dizer,quando dizes: Teu conselho e poder para a guerra são apenas vãs palavras; em quem, pois, agora confias, que contra mim te rebelas?
A: em quem,
B: pois, agora confias
C: que contra mim te rebelas?
B: (6) Eis que confias
A: no Egito, aquele bordão de cana quebrada, o qual, se alguém se apoiar nele lhe entrará pela mão, e a furará; assim é Faraó, rei do Egito, para com todos os que nele confiam.

“Em quem” corresponde à “no Egito”, dando a resposta da pergunta.

O versículo 6 contém um quiasma que sobrepõe ao dos versículos 5 e 6:

A: (6) Eis que confias
B: no Egito, aquele bordão de cana quebrada, o qual, se alguém se apoiar nele
C: lhe entrará pela mão,
C: e a furará;
B: assim é Faraó, rei do Egito
A: para com todos os que nele confiam.

Elementos sobrepostos compartilhados por este quiasma e pelo quiasma dos versículos 5 e 6 enfatizam que os assírios pensaram que Ezequias havia estabelecido uma aliança com o Egito. “Egito”, o segundo elemento do lado ascendente do quiasma do versículo 6, é o mesmo que o último elemento do lado descendente do quiasma dos versículos 5 e 6. Assim, “em quem, pois, agora confias” é equivalente ao “Egito” em ambos quiasmas.

No versículo 7, Rabsaqué continua seu discurso: “Porém se me disseres: No Senhor, nosso Deus, confiamos; porventura não é este aquele cujos altos e altares Ezequias tirou, e disse a Judá e a Jerusalém: Perante este altar adorareis?” Estes assírios sabian das destruições de altares e lugares idólatras feitas por toda a terra de Judá por Ezequias.[12] Rabsaqué assumiu erroneamente que estes eram altares para adorar ao Senhor Jeová, fazendo com que toda a adoração fosse feita exclusivamente no templo em Jerusalém. Isto, pensaram os assírios, poderia ser visto pelos judeus como um afronto ao Senhor e que eles poderiam ser facilmente convencidos de que o Senhor recusaria a proteger Judá e Jerusalém.

No versículo 8, o porta-voz assírio exige: “Ora, pois, empenha-te com meu senhor, o rei da Assíria, e dar-te-ei dois mil cavalos, se tu puderes dar cavaleiros para eles”. Ao dizer “empenha-te com meu senhor”, Rabsaqué quis dizer “entre para o exército assírio”. Ele também oferece a prover dois mil cavalos aos alistados, como incentivo adicional. Isto, Rabsaqué insinua, seria um resultado bem melhor do que o massacre e cativeiro, se tal oferta fosse rejeitada.

No versículo 9, Rabsaqué continua com uma pergunta: “Como, pois, poderás repelir a um só capitão dos menores servos do meu senhor, quando confias no Egito, por causa dos carros e cavaleiros?” Isto quer dizer “Como poderia rejeitar tal oferta e colocar sua confiança no Egito?” O uso deste exagero por Rabsaqué ,“um só capitão dos menores servos do meu senhor”, é ao mesmo tempo uma tentativa de modéstia e uma ameaça adicional: Se os judeus não estivessem intimidados por Rabsaqué e suas hostes, outros batalhões do exército assírio eram maiores e ainda mais formidável do que o dele.

Os versículos 7 até 9 contêm um quiasma:

A: (7) Porém se me disseres: No Senhor, nosso Deus, confiamos;
B: porventura não é este aquele cujos altos e altares Ezequias tirou, e disse a Judá e a Jerusalém: Perante este altar adorareis?
C: (8) Ora, pois, empenha-te,
D: com meu senhor,
D: o rei da Assíria,
C: e dar-te-ei dois mil cavalos, se tu puderes dar cavaleiros para eles.
B: (9) Como, pois, poderás repelir a um só capitão dos menores servos do meu senhor,
A: quando confias no Egito, por causa dos carros e cavaleiros?

“No Senhor, nosso Deus, confiamos” contrasta-se com “confias no Egito, por causa dos carros e cavaleiros”. Para o capitão assírio, entretanto, ambas opções eram imprudentes. “Ora, pois, empenha-te” compara-se com “dar-te-ei dois mil cavalos”, a segunda frase declarando o que o porta-voz assírio faria se a oferta fosse aceita.

No versículo 10, o porta-voz assírio alega que o Senhor [Jeová] enviou-lhe para destruir essa nação: “Agora, pois, subi eu sem o Senhor contra esta terra, para destruí-la? O Senhor mesmo me disse: Sobe contra esta terra, e destrói-a”.[13]

No versículo 11, os representantes judeus respondem: “Então disseram Eliaquim, Sebna e Joá a Rabsaqué: Pedimos-te que fales aos teus servos em siríaco, porque bem o entendemos, e não nos fales em judaico, aos ouvidos do povo que está sobre o muro”. Eliaquim e seus companheiros pediram para que o porta-voz assírio falasse na língua oficial do Império Pérsa, o Aramaico,[14] ao invés do hebraico, falado pelos cidadãos de Jerusalém, que podiam ouvir e compreender o que estavam falando. Eliaquim usa “teus servos” como uma expressão de cortesia para um visitante dignitário.

No versículo 12, o capitão assírio, indignado, nega o pedido e faz um rude discurso: “Rabsaqué, porém, disse: Porventura mandou-me o meu senhor ao teu senhor e a ti, para dizer estas palavras e não antes aos homens que estão assentados sobre o muro, para que comam convosco o seu esterco, e bebam a sua urina?” Rabsaqué enfatiza que o rei assírio enviou-lhe para falar com todos os cidadãos de Jerusalém, não somente Ezequias e seus representantes. Rabsaqué aqui prediz que o povo seria forçado a comer e beber seu próprio detritos sob sitia assíria de Jerusalém, que deprivaria o povo de comida e bebida.[15]

No versículo 13, o capitão assírio falou com a população sob sua audiência: “Rabsaqué, pois, se pôs em pé, e clamou em alta voz em judaico, e disse: Ouvi as palavras do grande rei, do rei da Assíria”.

Nos versículos 14 e 15, Rabsaqué entrega a mensagem do rei assírio. O versículo 14 começa: “Assim diz o rei: Não vos engane Ezequias; porque não vos poderá livrar”. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta: “Assim diz o rei da Assíria …”.[16]

O versículo 15 continua: “Nem tampouco Ezequias vos faça confiar no Senhor, dizendo: Infalivelmente nos livrará o Senhor, e esta cidade não será entregue nas mãos do rei da Assíria”.[17] De acordo com este desafio arrogante, nem Ezequias nem o Senhor Jeová são fortes suficiente para derrotar os assírios.

Os versículos 16 e 17 descreve o plano dos assírios para dispersar a população das cidades conquistadas:

Não deis ouvidos a Ezequias; porque assim diz o rei da Assíria: Aliai-vos comigo, e saí a mim, e coma cada um da sua vide, e da sua figueira, e beba cada um da água da sua cisterna;
Até que eu venha, e vos leve para uma terra como a vossa; terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas.

O relato dos escribas do rei adiciona: “terra de oliveiras, de azeite e de mel; e assim vivereis, e não morrereis”.[18]

No versículo 18, o capitão assírio reitera seu arrogante desafio: “Não vos engane Ezequias, dizendo: O Senhor nos livrará. Porventura os deuses das nações livraram cada um a sua terra das mãos do rei da Assíria?”[19]

Os versículos 19 e 20 dá o arrogante desafio dos assírios, comparando o Senhor Jeová aos ídolos vãos em terras conquistadas. O versículo 19 começa: “Onde estão os deuses de Hamate e de Arpade? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Porventura livraram a Samaria da minha mão?”[20] O relato dos escribas inclui os deuses de mais três reinos conquistados, os “deuses de Sefarvaim, Hena e Iva”.[21]

O versículo 20 continua: “Quais dentre todos os deuses destes países livraram a sua terra das minhas mãos, para que o Senhor [Jeová] livrasse a Jerusalém das minhas mãos?” Os assírios blasfemaram contra o Senhor ao negar que Ele tem poder para livrar a Jerusalém das suas mãos.

Os versículos 19 e 20 contêm um quiasma:

A: (19) Onde estão os deuses de Hamate e de Arpade? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Porventura livraram a Samaria da minha mão?
B: (20) Quais dentre todos os deuses
C: destes países,
C: livraram a sua terra das minhas mãos,
B: para que o Senhor livrasse a Jerusalém
A: das minhas mãos?

Neste quiasma “deuses” é equivalente ao capitão assírio com “o Senhor”, ilustrando sua afirmação blasfema que o Senhor Jeová era equivalente aos deuses das terras que já haviam sido derrotadas pela Assíria e que não podiam defender Jerusalém.

O versículo 21 descreve a resposta dos judeus: “Eles, porém, se calaram, e não lhe responderam palavra alguma; porque havia mandado do rei, dizendo: Não lhe respondereis”.

No versículo 22 os emissários judeus reportam a Ezequias: “Então Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o cronista, vieram a Ezequias, com as vestes rasgadas, e lhe fizeram saber as palavras de Rabsaqué”. O ato de rasgar as vestimentas era um sinal de profundo sofrimento.

NOTAS

[1]. Sofonias 3:16-17.
[2]. 2 Reis 17:6; Ver também Dicionário Bíblico—Cronologia.
[3]. Isaías 10:24; Ver os versículos 24-34 e comentário pertinente.
[4]. 2 Reis 18:13-37; 19; e 20:1-19.
[5]. Ver 2 Reis 18:9-12.
[6]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 7262, p. 913.
[7]. Ver Deuteronômio 17:6.
[8]. Os versículos 2 até 4 contêm um quiasma: Rabsaqué/rei Ezequias/aqueduto do açude superior//caminho do campo do lavandeiro/Eliaquim … Sebna … Joá/Rabsaqué.
[9]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 206.
[10]. Ver 2 Reis 18:19-20.
[11]. Ver 2 Reis 17:4.
[12]. Ver 2 Reis 18:3-4.
[13]. O versículo 10 contém um quiasma: Subi/o Senhor/contra esta terra//para destruí-la/o Senhor/sobe.
[14]. Isaías 36:11, nota de rodapé da versão SUD da Bíblia de King James em inglês 11a.
[15]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 321.
[16]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 148.
[17]. Os versículos 13 até 15 contêm um quiasma: Rei da Assíria/Não vos engane Ezequias//nem tampouco Ezequias vos faça confiar/rei da Assíria.
[18]. 2 Reis 18:32.
[19]. Os versículos 15 até 18 contêm um quiasma: Infalivelmente nos livrará o Senhor/não deis ouvidos a Ezequias/ vide … figueira … água … cisterna//trigo … mosto … pão … vinhas/não vos engane Ezequias/o Senhor nos livrará.
[20]. Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma: Livraram cada um a sua terra das mãos do rei da Assíria/deuses de Hamate e de Arpade//deuses de Sefarvaim/livraram a Samaria da minha mão. Parry, 2001, p. 261.
[21]. 2 Reis 18:34.