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CAPÍTULO 4: “E Será Que Aquele Que For Deixado em Sião, e Ficar em Jerusalém, Será Chamado Santo”

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Apesar deste capítulo ter só seis versículos, contém ricas informações relativas aos nossos dias. O capítulo 4 relata as condições de Sião, o povo do Senhor, durante o começo do Milênio, quando Cristo reinará sobre a Terra. Os habitantes da Terra—aqueles que foram justos suficiente para sobreviverem as guerras, julgamentos e devastações mencionadas nos capítulos anteriores—serão redimidos e purificados, para que todos os que permanecerem mereçam ser chamados santos. Néfi cita este capítulo completamente, com somente pequenas modificações. Compare 2 Néfi 14.

Como foi descrito no versículo 1, o número de homens que sobreviverão as devastações que precederão a Segunda Vinda será tão pequeno que, a fim de que as mulheres possam desfrutar das bênçãos do casamento, a poligamia será praticada: “E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio”. Aqueles que sobreviverem o despovoamento, a maioria mulheres, estarão desprovidos.

De certa forma a situação profetizada por Isaías é semelhante as que existiram no começo da Igreja, porém em outros aspectos são bem diferentes. Em Utah no século dezenove, na maioria dos casamentos plurais as mulheres mantinham uma autonomia econômica com pouco ou nenhum apoio financeiro do marido. A descrição de Isaías sobre as mulheres depois das devastações preditas, estando dispostas a proverem para si mesmas dentro de um casamento plural, indica que as condições econômicas da época não seriam ideais para uma família grande. O opróbrio mencionado pelas mulheres reflete seus desejos de serem casadas e criarem seus filhos. Esta profecia, aparentemente, será cumprida em algum tempo no future. É interessante notar que o nome José, que Raquel (a esposa estéril de Jacó ou Israel) deu a seu filho primogênito, significa “Deus tirou o meu opróbrio” em hebraico.[1]

Wilford Woodruff descreveu uma visão na qual lhe foi mostrado o futuro cumprimento desta profecia no versículo1:

“Parecia que eu estava acima da Terra, olhando para ela enquanto ia na direção leste e vi as ruas cheias de pessoas, principalmente mulheres, levando somente o que podiam carregar nas costas…. Foi muito marcante para mim ver quão poucos homens havia entre elas….  Onde quer que eu fosse eu podia vê-las…cenas de horror e desolação…roubo, morte e destruição por toda a parte. Não posso nem descrever com palavras o horror que parecia rodear-me completamente.  Era impossível de descrever e inconcebível pela mente humana…. Foi-me dado a entender que os mesmos horrores estavam sendo promulgados por todo o país…. Então, uma voz disse: ‘E acontecerá que aquilo que profetizou Isaías, o profeta, que sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem’, etc.”[2]

As condições da Terra durante o Milênio foram descritas no versículo 2: “Naquele dia o renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória; e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel”. No Grande Pergaminho de Isaías lemos: “…os que escaparem de Israel e Judá”.[3]

No princípio do Milênio, como dito na décima Regra de Fé, “…a Terra será renovada e receberá sua glória paradisíaca”.[4] Em sua condição renovada, a Terra produzirá abundantemente para os sobreviventes da destruição. As bênçãos e honra do Senhor, tanto temporais quanto espirituais, serão derramadas sobre aqueles que perseveraram em guardar os mandamentos durante a época de grande iniquidade—aqueles que foram merecedores da proteção do Senhor durante as destruições.

Maiores informações em como os justos escaparão, o que é pertinente a todos nós em nossa época, são dadas pelo Senhor em Doutrina e Convênios:

“Vigiai, portanto, porque não sabeis o dia nem a hora.
“Portanto, os que estiverem no meio dos gentios, fujam para Sião.
“E os que forem de Judá fujam para Jerusalém, para as montanhas da casa do Senhor.
“Saí dentre as nações, sim, de Babilônia, do meio da iniquidade, que é a Babilônia espiritual.
“Mas em verdade assim diz o Senhor: Que vossa fuga não seja às pressas, mas que se preparem todas as coisas com antecedência; e o que for não olhe para trás, para que não lhe sobrevenha uma destruição repentina.”[5]

Em outra parte de Doutrina e Convênios, o Senhor reitera: “E saí do meio dos iníquos. Salvai-vos. Sede limpos, vós que portais os vasos do Senhor”.[6] O Senhor inequivocamente nos instrui com a maneira de escapar das destruições nos últimos dias.

O versículo 3 descreve o estado de retidão daqueles que sobreviverão: “E será que aquele que for deixado em Sião, e ficar em Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os viventes em Jerusalém”― O Livro de Mórmon apresenta assim: “E acontecerá que aqueles que ficarem em Sião e os que permanecerem em Jerusalém serão chamados santos. Todos os que estiverem inscritos entre os vivos em Jerusalém” ―[7] De ambas versões entendemos que haverá coligações tanto em Sião quanto em Jerusalém, distinta uma da outra. O pré-requisito principal para a sobrevivência naquela época será a retidão pessoal.

O versículo 4 descreve o processo de purificação, continuando a sentença do versículo 3: “Quando o Senhor lavar a imundície das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusalém, do meio dela, com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor”. A imundície espiritual das filhas de Sião foi descrita no capítulo 3. A frase “Limpar o sangue de Jerusalém” refere-se aos assassinatos e outros terríveis pecados, purificados “com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor”.[8] Gileadi[9] traduz esta parte assim: “no espírito de justiça, por um vento ardente”. A tradução de Gileadi é válida porque, em hebraico, “espírito” e “vento” são a mesma palavra. [10] Será que o vento ardente é parte da abominação da desolação mencionada por Daniel?[11] “O espírito de justiça” como foi usado aqui neste versículo significa “retribuição”[12].

“Sião” foi usada nos versículos 3 e 4 com sentido duplo—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias e como sinônimo da Jerusalém moderna.[13]

Os versículos 5 e 6 descrevem acontecimentos que se passarão no Milênio. O versículo 5 declara: “E criará o Senhor sobre todo o lugar do monte de Sião, e sobre as suas assembleias, uma nuvem de dia e uma fumaça, e um resplendor de fogo flamejante de noite; porque sobre toda a glória haverá proteção”. O Livro de Mórmon apresenta assim: “…porque sobre toda a glória de Sião haverá uma defesa”. O significado do “monte Sião” como foi usado aqui, é um lugar de coligação espiritual nos últimos dias.[14]

A nuvem de fumaça de dia e o fogo flamejante durante a noite, profetizados por Isaías, são um sinal da presença do Senhor. O sinal nos faz lembrar de semelhantes manifestações da presença do Senhor diante dos Israelitas quando estavam saindo do Egito.[15] No tempo previsto, manifestações da presença do Senhor estarão sobre cada lugar de habitação, indicando a santificação de cada indivíduo, como também a santificação de toda o “monte”, ou nação. “As suas assembleias” significam convocações ou reuniões sagradas;[16] “proteção/defesa” foi traduzido de uma palavra hebraica que significa “dossel”,[17] para proteção.

A manifestação de uma nuvem de fumaça de dia e uma coluna de fogo a noite foram testemunhadas por centenas de pessoas—tantos os que criam quanto os descrentes—na dedicação do templo de Kirtland em Ohio, em abril de 1836.[18] O Senhor declarou o seguinte a respeito do templo de Kirtland:

“Que se regozije o coração de vossos irmãos e o coração de todo o meu povo, que, com sua força, construiu esta casa ao meu nome.
“Pois eis que aceitei esta casa e meu nome aqui estará; e manifestar-me-ei a meu povo com misericórdia nesta casa.
“Sim, aparecerei a meus servos e falar-lhes-ei com minha própria voz….”[19]

Ludlow adicionou:

“Em tempos antigos, uma coluna de fogo e uma nuvem de fumaça singulares cobriam somente o Santos dos Santos, o qual era acessado somente pelo sumo sacerdote.[20] Agora, sob o tabernáculo ou dossel de casamento, o [simbólico] recasamento de [Jeová] e seu povo, prometido e profetizado em Isaías e por todo o Velho Testamento, será finalmente consumado.”[21]

Por causa do novo convênio trazido pelo Senhor Jesus Cristo, a nuvem de fumaça e a coluna de fogo designando a presença do Senhor seriam manifestadas em cada humilde lar e sob cada lugar de coligação, já que todos estariam dignos e autorizados de desfrutarem de Sua presença.

O versículo 6 continua: “E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia; e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva”. A presença protetora do Senhor estará sobre os justos durante a época da destruição. A tempestade e a chuva simbolizam as forças destrutivas que separarão os justos dos injustos.[22]

Os versículos 5 e 6 contêm um quiasma:

A: (5) E criará o Senhor sobre todo o lugar do monte de Sião, e sobre as suas assembleias,
B: uma nuvem de dia e uma fumaça,
C: e um resplendor de fogo flamejante de noite;
C: porque sobre toda a glória haverá proteção.
B: (6) E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia;
A: e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva.

Sião, glorificada pela presença do Senhor, se tornará um lugar de refúgio para os justos. Note que “nuvem” é equivalente à palavra “sombra”, indicando que o propósito da nuvem durante o dia e do tabernáculo para sombra é o mesmo.

Para nós nos últimos dias, a mensagem deste capítulo é clara: Se esperamos sobreviver as destruições que precederão a Segunda Vinda, a retidão pessoal é indispensável.

NOTAS

[1]. Gênesis 30:22‑24; Ver também notas de rodapé pertinentes na Bíblia SUD em inglês.
[2]. Wilford Woodruff, Journal of Wilford Woodruff  [Diário de Wilford Woodruff], Junho 15, 1878, Departamento Histórico, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Salt Lake City.
[3]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah [A Harmonização de Isaías]: Foundation for Ancient Research and Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University, [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 49.
[4]. Ver também Isaías 11:1-9.
[5]. Doutrina e Convênios 133:11-15.
[6]. D. e C. 38:42.
[7]. 2 Néfi 14:3.
[8]. Ver Isaías 1:7, 28; 5:24; 9:5, 18-19 e comentário pertinente.
[9]. Avraham Gileadi, The Book of Isaiah: A new translation with interpretive keys from The Book of Mormon [O Livro de Isaías: Uma nova tradução com Chaves Interpretativas do Livro de Mórmon]: Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City, Utah 84130, 1988, p. 103.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 7307, p. 924.
[11]. Ver Mateus 24:15 e Daniel 9:27.
[12]. Ver Isaías 1:17; 3:14; 28:6; 34:5.
[13]. Ver Isaías 3:16; 1:27; 8:18; 10:12, 24; 12:6; 51:3.
[14]. Ver Isaías 1:8 e comentário pertinente. Ver também Salmos 102:13, 16; 129:5; 132:13; Isaías 1:27; 2:3; 14:32; 24:23; 28:16; 31:9; 35:10; 46:13; 51:16; 52:7, 8; 59:20.
[15]. Êxodo 13:21-22.
[16]. Brown et al., 1996, Número de Strong 4744, p. 896.
[17]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2646, p. 342.
[18]. F.W. e S.W. Richards, Journal of Discourses [Diário de Discursos]: (26 Vols., Liverpool, Engle: 1854-1886), v. 2, pp. 214-216.
[19]. D. e C. 110:6-8.
[20]. Ver Êxodo 33:8-10.
[21]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 110.
[22]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 49.