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CAPÍTULO 65: “Não Te Chegues A Mim, Porque Sou Mais Santo Do Que Tu”

Neste capítulo o Senhor reconta como a antiga Israel foi rejeitada por causa da sua rebelião, apostasia, e idolatria. Devido a rebelião de Israel, outros que não são da linhagem do convênio receberiam as promessas e bênçãos do Senhor. Entretanto, Israel será restaurada e redimida nos últimos dias e desfrutará de grandes bênçãos. Durante o reinado milenar do Senhor, as nações agressoras se apaziguarão com suas vítimas perpétuas e Satanás será amarrado, sem poderes para tentar os justos.

Os versículos 1 até 7 recontam quando a antiga Israel rejeitou o Senhor, e logo depois disto o evangelho foi dado aos gentios. No versículo 1 o Senhor descreve como as nações gentias buscariam as bênçãos do evangelho: “Fui buscado dos que não perguntavam por mim, fui achado daqueles que não me buscavam; a uma nação que não se chamava do meu nome eu disse: Eis-me aqui. Eis-me aqui”. A Tradução de Joseph Smith (TJS) apresenta “Fui achado dos que perguntavam por mim, não fui achado daqueles que não me buscavam, e não perguntavam por mim”.[1] A antiga Israel rejeitando o Senhor serviu como um símbolo para os últimos dias, quando ministros e discípulos das igrejas entre os gentios também rejeitarão o verdadeiro evangelho; por conseguinte, o verdadeiro evangelho e suas bênçãos seriam restaurados à linhagem do convênio que se arrepender.

Néfi explica, concisamente, como o evangelho seria rejeitado pela linhagem do convênio, os gentios receberiam o evangelho e, subsequentemente, rejeitá-lo-iam, e a linhagem do convênio recebê-lo-ia novamente:

“E chegará o tempo em que ele se manifestará a todas as nações, tanto aos judeus como aos gentios; e depois de haver-se manifestado aos judeus e também aos gentios, ele manifestar-se-á aos gentios e também aos judeus; e os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.[2]

Durante Seu ministério terreno, o Senhor Jesus Cristo retratou esta relação usando as mesmas palavras, porém sem a detalhada explanação.[3]

O versículo 1 contém um quiasma:

A: (1) Fui achado dos que perguntavam por mim;
B: não fui achado daqueles que não me buscavam,
C: ou não perguntavam por mim;
C: a uma nação que não se chamava do meu nome
B: eu disse: Eis-me aqui.
A: Eis-me aqui.

O Senhor chamou a antiga Israel, mas Israel não deu ouvidos; as nações gentias receberam o evangelho depois do ministério terreno do Senhor e, nos últimos dias, receberão o Senhor. “Fui achado dos que perguntavam por mim” é complementado por “eis-me aqui”; o Senhor responde àqueles que O buscam. “Não fui achado daqueles que não me buscavam” é complementado por “eis-me aqui”; o Senhor chamou até mesmo aqueles que não Lhe buscavam. A repetição das frases complementárias no lado descendente é para dar ênfase, como se estivesse sublinhando.

No versículo 2, o Senhor reconta como Ele insistiu com Israel, mas ela não deu ouvidos: “Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, após os seus pensamentos”. TJS, onde inclui algumas das palavras usadas na tradução de João Ferreira de Almeida do versículo 1, apresenta:

“Eu disse ao meu servo, Eis-me aqui, olhai para mim; Eu te enviarei a uma nação que não se chamava do meu nome, porque estendi as minhas mãos o dia todo a um povo que não anda pelos meus caminhos, e as suas obras são más e não são bons, e anda após os seus próprios pensamentos”.[4]

“Anda por caminho que não é bom” contrasta-se com o caminho do Senhor, ou o Plano da Salvação.[5] A rejeição dos antigos é um protótipo para os gentios que, depois de haverem recebido o evangelho após a crucificação do Senhor, rejeitariam, coletivamente, o evangelho restaurado nos últimos dias.

O Apóstolo Paulo citou os versículos 1 e 2 em sua epístola aos Romanos:

“E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.
“Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente”.[6]

Paulo declara que aqueles que foram descritos no versículo 2 são os descendentes de Israel, implicando que aqueles no versículo 1 que encontraram o Senhor são os gentios.

O versículo 3 descreve abominações cometidas pela Israel rebelde: “Povo que de contínuo me irrita diante da minha face, sacrificando em jardins e queimando incenso sobre altares de tijolos”. Sob a Lei de Moisés, era requerido que os altares fossem feitos de pedras não lavradas, ao invés de pedras talhadas ou esculpidas, ou outros materiais;[7] e também, os altares deveriam ser construídos em áreas longe de árvores.[8]

O versículo 4 continua a descrição do Senhor das abominações: “Que habita entre as sepulturas, e passa as noites junto aos lugares secretos; come carne de porco e tem caldo de coisas abomináveis nos seus vasos”. TJS apresenta “… e caldo de bestas abomináveis, e polui os seus vasos”.[9] “Habita” significa “sentar-se” entre as sepulturas, em hebraico.[10] Israel foi ordenada a abster-se de comer carne de porco,[11] evitar tocar em sepulturas,[12] e evitar comer qualquer outro animal que fosse uma abominação, ou declarado impuro.[13] Se um vaso estivesse contato com algo impuro, teria que ser minuciosamente lavado ou, se fosse um pote de barro, deveria ser quebrado.[14] Isaías descreve atos que demonstram desprezo pela Lei Mosaica.

No versículo 5, o Senhor descreve a extrema arrogância do povo: “Que dizem: Fica onde estás, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu. Estes são fumaça no meu nariz, um fogo que arde todo o dia”. Apesar da frase usada por Isaías “sou mais santo do que tu” não aparecer em nenhum outro lugar nas escrituras, tornou-se uma caracterização universal para a hipocrisia arrogante. A hipocrisia é uma ofensa aos olhos do Senhor; aqui Ele compara a hipocrisia com a opressiva “fumaça no nariz” que persiste todo o dia.

No versículo 6 o Senhor declara que deve se fazer justiça: “Eis que está escrito diante de mim: não me calarei; mas eu pagarei, sim, pagarei no seu seio”. O mal praticado pelas apóstatas Israel antiga e moderna será julgado pelo Senhor, que dará a recompensa justa. A frase “Pagarei no seu seio”, neste versículo, e seus equivalentes quiásticos no versículo 7, refletem a profunda angústia que sentirão os iníquos no dia do julgamento. A passagem que está escrita, a qual Isaías está se referindo aqui, não é facilmente identificada, mesmo usando técnicas de busca computadorizadas.[15]

Os versículos 2 até 6 contêm um quiasma:

A: (2) Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho, que não é bom, após os seus pensamentos;
B: (3) Povo que de contínuo me irrita diante da minha face,
C: sacrificando em jardins
D: e queimando incenso sobre altares de tijolos;
E: (4) Que habita entre as sepulturas,
E: e passa as noites junto aos lugares secretos;
D: come carne de porco
C: e tem caldo de coisas abomináveis nos seus vasos;
B: (5) Que dizem: Fica onde estás, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu. Estes são fumaça no meu nariz, um fogo que arde todo o dia.
A: (6) Eis que está escrito diante de mim: não me calarei; mas eu pagarei, sim, pagarei no seu seio.

Neste quiasma o Senhor promete uma dolorosa recompense à rebelde Israel por sua desobediência intencional da Lei Mosaica, representada aqui, por vários pontos marcantes. “Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho, que não é bom, após os seus pensamentos” complementa “Eis que está escrito diante de mim: não me calarei; mas eu pagarei, sim, pagarei no seu seio”.

No versículo 7 o Senhor condena a idolatria de Israel: “As vossas iniquidades, e juntamente as iniquidades de vossos pais, diz o Senhor, que queimaram incenso nos montes, e me afrontaram nos outeiros; assim lhes tornarei a medir as suas obras antigas no seu seio”.[16] O Senhor, no dia da Sua recompensa, restaurará mal por mal e bem por bem. Aqueles que escolheram o mal sentirão uma profunda angústia quando forem julgados. Neste versículo “montes” e “outeiros” significam grandes e pequenas nações;[17] portanto, a blasfêmia condenada pelo Senhor envolve muitas nações.

Nos versículos 8 até 10, o Senhor resolve não destruir completamente Israel, apesar de sua rebelião. O versículo 8 proclama: “Assim diz o Senhor: Como quando se acha mosto num cacho de uvas, dizem: Não o desperdices, pois há bênção nele, assim farei por amor de meus servos, que não os destrua a todos”.[18] O Senhor compara a antiga Israel a um cacho de uvas que está se apodrecendo, mas onde ainda há algumas uvas boas. Os servos, mencionados pelo Senhor, são os antigos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, a quem o Senhor prometeu inumeráveis posteridade.

No versículo 9 o Senhor explica: “E produzirei descendência a Jacó, e a Judá um herdeiro que possua os meus montes; e os meus eleitos herdarão a terra e os meus servos habitarão ali”. Os justos remanescentes de Jacó e Judá serão levantados pelo Senhor, juntados, e herdarão as terras prometidas aos eleitos. A “descendência a Jacó” não é o mesmo que o rebento—que quer dizer Joseph Smith—nem o Tronco de Jessé, que é Cristo—citado no capítulo 11 por Isaías.[19] Como descrito acima no versículo 7, “montes” significa “nações”.

O versículo 10 descreve a restauração de Israel: “E Sarom servirá de curral de rebanhos, e o vale de Acor lugar de repouso de gados, para o meu povo, que me buscou”. Sarom é a planície marítima que se estende desde Carmelo à Jope.[20] O vale de Acor é provavelmente localizado na área oeste de Jericó e leste da cidade canaanita de Ai, localizada a algumas milhas norte de Jerusalém.[21] Estes dois locais descrevem extremos geográficos, abrangendo toda a Terra Prometida. Na época da coligação nos últimos dias a terra prometida seria tipicamente completamente habitada pelos descendentes de Israel.

Os versículos 9 e 10 contêm um quiasma:

A: (9) E produzirei descendência a Jacó,
B: e a Judá um herdeiro que possua os meus montes;
C: e os meus eleitos herdarão a terra
C: e os meus servos habitarão ali.
B: (10) E Sarom servirá de curral de rebanhos, e o vale de Acor lugar de repouso de gados,
A: para o meu povo, que me buscou.

Neste quiasma, o Senhor promete que os remanescentes justos da casa de Jacó herdarão a Palestina nos últimos dias. “Produzirei descendência a Jacó” complementa “para o meu povo, que me buscou”; porque ali permaneceu um remanescente dos justos em Jacó, o Senhor produziria descendência—ou renascimento da nação—de Jacó.

Os versículos 11 até 16 reconta a rebelião e apostasia de Israel, fazendo com que o Senhor escolhesse outros para receberem Suas bênçãos. No versículo 11, o Senhor dirige Sua repreensão à antiga Israel—e, como um exemplo, aos apóstatas gentios dos últimos dias: “Mas a vós, os que vos apartais do Senhor, os que vos esqueceis do meu santo monte, os que preparais uma mesa para a Fortuna, e que misturais a bebida para o Destino”. O significado hebraico de “Fortuna” é Gad, ídolo pagão da fortuna, e o significado de “Destino” é Meni, ídolo pagão do destino.[22] “Meu santo monte” significa o santo templo do Senhor.[23] Ao invés de fazer as ordenanças do templo perante o Senhor em justiça, o povo adorava aos deuses pagãos ou mesmo ao diabo.

No versículo 12 o Senhor descreve as consequências da rebelião de Israel: “Também vos destinareis à espada, e todos vos encurvareis à matança; porquanto chamei, e não respondestes; falei, e não ouvistes; mas fizestes o que era mau aos meus olhos, e escolhestes aquilo em que não tinha prazer”.[24] Israel—e, como exemplo, os gentios apóstatas dos últimos dias—sofrerão morte e massacre por haverem praticado o mal diante do Senhor.

No versículo 13, o Senhor escolhe outros para receber Suas bênçãos: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que os meus servos comerão, mas vós padecereis fome; eis que os meus servos beberão, porém vós tereis sede; eis que os meus servos se alegrarão, mas vós vos envergonhareis”. O Grande Pergaminho de Isaías apresenta “portanto assim diz o Senhor …”[25] em lugar de “o Senhor DEUS”. “Os meus servos” referem-se àqueles que obedeceram ao Senhor e guardaram Seus mandamentos. Isaías usa de contrastes literários para enfatizar a comparação entre justos e apóstatas.

O versículo 14 continua a comparação, usando outro contraste literário: “Eis que os meus servos exultarão pela alegria de coração, mas vós gritareis pela tristeza de coração; e uivareis pelo quebrantamento de espírito”. Os justos deverão cantar e ter regozijo, enquanto que os injustos chorarão e uivarão.

O versículo 15 resume: “E deixareis o vosso nome aos meus eleitos por maldição; e o Senhor DEUS vos matará; e a seus servos chamará por outro nome”—A Israel rebelde será ferida pela mão do Senhor. Os justos chamar-se-ão por um nome novo, “que a boca do Senhor designará”,[26] enquanto que o nome de Israel tornar-se-á uma maldição.

Os versículos 13 até 15 contêm um quiasma:

A: (13) Portanto assim diz o Senhor DEUS:
B: Eis que os meus servos comerão,
C: mas vós padecereis fome;
B: eis que os meus servos beberão,
C: porém vós tereis sede;
B: eis que os meus servos se alegrarão,
C: mas vós vos envergonhareis;
B: (14) Eis que os meus servos exultarão pela alegria de coração,
C: mas vós gritareis pela tristeza de coração;
D: e uivareis
D: pelo quebrantamento de espírito.
C: (15) E deixareis o vosso nome
B: aos meus eleitos por maldição;
A: e o Senhor DEUS vos matará; e a seus servos chamará por outro nome.

Este quiasma, que usa uma forma escalonada, afirma que os que fazem parte da linhagem do convênio, que não serviram ao Senhor, serão quebrantados de espírito e serão mortos. “Portanto assim diz o Senhor DEUS” complementa “o Senhor DEUS vos matará; e a seus servos chamará por outro nome”. As quatro repetições do segundo elemento (B) no lado ascendente—“Eis que os meus servos comerão”; “eis que os meus servos beberão”; “eis que os meus servos se alegrarão”; e “eis que os meus servos exultarão pela alegria de coração”—comparam-se com “aos meus eleitos”, indicando quem são os que receberão as bênçãos mencionadas. As quatro repetições do terceiro elemento (C) no lado ascendente— “mas vós padecereis fome”; “porém vós tereis sede”; “mas vós vos envergonhareis”; e “mas vós gritareis pela tristeza de coração”—comparam-se com “e deixareis o vosso nome [… por maldição]”, que significa aqueles que escolherem o mal. O enfoque do quiasma é “e uivareis pelo quebrantamento de espírito”.

O versículo 16 continua: “Assim [por outro nome] que aquele que se bendisser na terra, se bendirá no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos”. Nos últimos dias Israel seria purificada e restaurada; os verbos bendizer e jurar significam fazer convênios com o Senhor,[27] nos altares do templo. Com o arrependimento de Israel as bênçãos do Senhor serão restauradas e seus pecados serão perdoados. Como o Senhor declarou em Doutrina e Convênios: “Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro”.[28] Jeremias predisse esses mesmos acontecimentos, usando semelhantes palavras: “E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados (ênfases adicionadas).[29]

Os versículos 17 até 25 predizem a restauração de Israel e o reinado glorioso do Senhor no Milênio. O versículo 17 declara: “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”. A Terra será renovada e elevada ao estado terrestrial, e permanecerá neste estado durante o Milênio. A décima Regra de Fé resume:

“Cremos na coligação literal de Israel e na restauração das Dez Tribos; que Sião (a Nova Jerusalém) será construída no continente americano; que Cristo reinará pessoalmente na Terra; e que a Terra será renovada e receberá sua glória paradisíaca”.[30]

O versículo 18 descreve a grande alegria na época destes acontecimentos: “Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém uma alegria, e para o seu povo gozo”. [31] O significado é “eis que eu trago a Jerusalém uma alegria …”.

João o Revelador previu os acontecimentos descritos nos versículos 17 e 18:

“E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
“E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido”.[32]

Os versículos 16 até 18 contêm um quiasma:

A: (16) Assim que aquele que se bendisser na terra, se bendirá no Deus da verdade;
B: e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade;
C: porque já estão esquecidas as angústias passadas,
D: e estão escondidas dos meus olhos.
D: (17) Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra;
C: e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.
B: (18) Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio;
A: porque eis que crio para Jerusalém uma alegria, e para o seu povo gozo.

Este quiasma prediz uma nova ordem que surgirá nos últimos dias, tomando o lugar da antiga que caiu com a apostasia. “Porque já estão esquecidas as angústias passadas” é o mesmo que “não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”; e a sentença “estão escondidas [as angústias passadas] dos meus olhos” compara-se com “porque, eis que eu crio novos céus e nova terra”. “Aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade” significa fazer convênios com Deus. Isto é complementado por “mas vós folgareis e exultareis perpetuamente”, que descreve a grande alegria sentida pelos que fazem e guardam convênios sagrados.

O versículo 19 descreve a alegria que o Senhor sentirá por causa da Jerusalém justa: “E exultarei em Jerusalém, e me alegrarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor”. Este versículo consiste de duas declarações paralelas, sinônimas. A equivalência indica que o Senhor chorou por Jerusalém quando esta se encontrava em um estado iníquo—o Senhor é comparado em ambas as frases com a palavra choro. O choro e a voz de clamor cessarão para os habitantes de Jerusalém que foram maltratados devido suas iniquidades. No capítulo 35 Isaías descreveu Sião sentindo a mesma alegria: “E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”.[33]

O versículo 20 descreve como, durante o Milênio, os seres humanos viverão mais tempo: “Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado”. TJS apresenta:

“Naqueles dias não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino não morrerá mas viverá até a idade de cem anos; porém o pecador que viver até cem anos será amaldiçoado”.[34]

A expectativa de vida normal de um ser humano será de cem anos. Se os pecadores vivessem tanto tempo assim, suas vidas seriam cheias de sofrimento— a morte precoce é uma misericórdia ao pecador. Em Doutrina e Convênios, o Senhor descreve a morte entre os justos durante o Milênio usando palavras semelhantes: “Nesse dia uma criança não morrerá antes de envelhecer; e sua vida será como a idade de uma árvore. E quando morrer, não dormirá, isto é, na terra, mas será transformada num piscar de olhos e será arrebatada; e seu descanso será glorioso”.[35]

O versículo 21 descreve a paz duradoura: “E edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto”. Os exércitos invasores não expulsariam o povo de suas casas; mas o povo teria tempo de colher o que plantaram sem ter suas colheitas pisoteadas ou consumidas por saqueadores. Estas palavras foram usadas com o mesmo significado em Doutrina e Convênios.[36]

O versículo 22 continua a descrição da paz: “Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus eleitos gozarão das obras das suas mãos”. A paz duradoura prevalecerá; os justos viverão expectativas de vidas normais como descrito no versículo 20, e também desfrutarão dos benefícios de suas obras.

O versículo 23 descreve mais bênçãos: “Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a perturbação; porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles”. O significado é que eles não terão filhos debalde (em vão), nem para perturbação, mas sim para receberem as bênçãos do Senhor. Os filhos serão criados por pais justos; eles serão uma bênção para os pais.

LeGrand Richards ensinou:

“Nós sabemos destas coisas, e Isaías disse que, ao chegar esse dia, teremos um novo céu e nova terra, na qual o cordeiro e o leão apascentarão juntos, nós construiremos nossas casas e nela habitaremos, e plantaremos nossas vinhas e comeremos de seus frutos. Não edificaremos para que outro habite, pois todo homem gozará das obras de suas próprias mãos, e são os benditos do Senhor e os seus descendentes com eles”.[37]

No versículo 24, o Senhor promete que responderá rapidamente as orações dos justos: “E será que antes que clamem eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei”. Estas condições prevalecerão entre os justos durante o Milênio. Anteriormente, no capítulo 58, Isaías descreve o desejo do Senhor de responder as orações dos justos: “Então clamarás, e o Senhor te responderá”.[38] É realmente uma grande bênção receber respostas do Senhor às nossas orações.

Os versículos 21 até 24 contêm um quiasma:

A: (21) E edificarão casas,
B: e as habitarão;
A: e plantarão vinhas,
B: e comerão o seu fruto.
A: (22) Não edificarão
B: para que outros habitem;
A: não plantarão
B: para que outros comam;
C: porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore,
C: e os meus eleitos gozarão
B: das obras das suas mãos.
A: (23) Não trabalharão debalde,
B: nem terão filhos para a perturbação;
A: porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles.
B: (24) E será que antes que clamem
A: eu responderei;
B: estando eles ainda falando,
A: eu os ouvirei.

Este quiasma, que também exibe uma forma escalonada, declara que devido sua retidão, o Senhor protegerá Seus eleitos das agressões e tribulações, e eles viverão vidas longas e produtivas. As quatro repetições do primeiro elemento (A) no lado ascendente— “edificarão casas”, “plantarão vinhas”, “Não edificarão” e “não plantarão” igualam-se, coletivamente, com as quatro repetições do primeiro elemento (A) no lado descendente— “não trabalharão debalde”, “são a posteridade bendita do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles”, “eu responderei” e “eu os ouvirei”. O lado ascendente enumera as bênçãos temporais, enquanto que o lado descendente enumera as espirituais. As quatro repetições do segundo elemento (B) no lado ascendente— “e as habitarão [casas]”, “e comerão o seu fruto [vinhas]”, “para que outros [não as] habitem” e “para que outros [não as] comam” igualam-se, coletivamente, com as quatro repetições do segundo elemento (B) no lado descendente— “[os meus eleitos gozarão] das obras das suas mãos”, “nem terão filhos para a perturbação”, “será que antes que clamem [eu responderei]” e “estando eles ainda falando [eu os ouvirei]”.

O versículo 25 descreve mais sobre as condições no Milênio: “O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor”. Estas palavras referem-se à profecia de Isaías encontrada no capítulo 11, onde os predadores e suas presas naturais servem como metáforas para as nações historicamente agressoras e suas perpétuas vítimas, para quem o Milênio trará reconciliação.[39] O “santo monte” do Senhor significa as nações da Terra que são fiéis ao Senhor.[40] “Pó será a comida da serpente” apresenta uma nova metáfora— as nações injustas não serão mais permitidas a predarem em suas vítimas. Outro significado pode ser que esteja se referindo a Satanás, que no Jardim do Éden foi amaldiçoado por tentar a Adão e Eva.[41] Durante o Milênio, Satanás será preso, não tendo nenhum poder para tentar os justos.[42]

Estruturalmente, o versículo 25 consiste de dupla declarações paralelas. “O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos” é o mesmo que “o leão comerá palha como o boi”; e “pó será a comida da serpente” é o mesmo que “não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor”. Nações agressoras da antiguidade coexistirão em paz com as suas antigas vítimas.

NOTAS

[1]. Joseph Smith’s “New Translation” of the Bible [“Nova Tradução” da Bíblia por Joseph Smith]: Herald Publishing House, Independence, Missouri, 1970, p. 212.
[2]. 1 Néfi 13:42; Ver também Jacó 5:63; Éter 13:12; D&C 29:30.
[3]. Ver Mateus 19:30; 20:16; Marcos 10:31; Lucas 13:30.
[4]. TJS, p. 212-213.
[5]. Ver Isaías 26:7-8; 28:7; 40:3 e comentário pertinente.
[6]. Romanos 10:20-21.
[7]. Ver Josué 8:30-31; Êxodo 20:24-25.
[8]. Ver Deuteronômio 12:1-6.
[9]. TJS, p. 213.
[10]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 3427, p. 442.
[11]. Ver Levítico 11:7; Ver também Isaías 66:17.
[12]. Ver Números 19:16.
[13]. Ver Levítico 11:10-23.
[14]. Ver Levítico 11:32-33.
[15]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 571.
[16]. Os versículos 6 e 7 contêm um quiasma: Pagarei no seu seio/as vossas iniquidades/diz o Senhor//queimaram incenso/me afrontaram/medir as suas obras antigas no seu seio.
[17]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[18]. O versículo 8 contém um quiasma: Se acha mosto/não o desperdices/pois há bênção nele//assim farei/por amor de meus servos/não os destrua a todos.
[19]. Ver Isaías 11:1.
[20]. Dicionário Bíblico—Sarom.
[21]. Ver Josué 7:24, 26; compare Mapa Bíblico 4.
[22]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1409, p. 151 (Gad); Número de Strong 4487, p. 584 (Meni); Ver também Isaías 65:11, notas de rodapé 11a e 11b.
[23]. Ver Isaías 2:3; 30:29; 56:7; 66:20 e comentário pertinente.
[24]. Os versículos 11 e 12 contêm um quiasma: Vos apartais do Senhor/vos esqueceis do meu santo monte/vos destinareis à espada//todos vos encurvareis à matança/porquanto chamei, e não respondestes/fizestes o que era mau aos meus olhos.
[25]. Donald W. Parry, Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 245.
[26]. Ver Isaías 62:2 e comentário pertinente.
[27]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1288, p. 138 (ajoelhar); Ver também Isaías 65:16, notas de rodapé 16a e 16b.
[28]. Doutrina e Convênios 58:42.
[29]. Jeremias 31:34.
[30]. Regras de Fé 1:10.
[31]. O versículo 18 contém um quiasma: Vós folgareis e exultareis/que eu crio//crio/Jerusalém uma alegria. Parry, 2001, p. 265.
[32]. Apocalipse 21:1-2.
[33]. Isaías 35:10.
[34]. TJS, p. 213.
[35]. D&C 101:30-31; Ver também D&C 63:51.
[36]. D&C 101:101.
[37]. LeGrand Richards, “Um Alicerce Para o Milênio,” A Liahona, Agosto de 1972, p. 15.
[38]. Isaías 58:9; compare D&C 101:27.
[39]. Ver Isaías 11:6-7, 9 e comentário pertinente.
[40]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25; 66:20 e comentário pertinente.
[41]. Ver Gênesis 3:14; Moisés 4:20.
[42]. Ver Apocalipse 20:2; D&C 43:31; 45:55; 84:100; 88:110.