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CAPÍTULO 22: “Comamos E Bebamos, Porque Amanhã Morreremos”

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No capítulo 22 Isaías profetiza acerca dos últimos dias precedendo a época em que Jerusalém seria destruída. Seu povo seria atacado, açoitado e levado em cativeiro pela Babilônia. No capítulo 22 também se encontra as profecias concernentes ao Messias, que possuiria as chaves da casa de Davi, herdaria glória e seria pregado bem como os cravos no lugar seguro. Neste capítulo Isaías refere-se à Jerusalém alternadamente como “o vale da visão”, a “filha do meu povo”, e a “cidade de Davi”.

O versículo 1 começa: “Peso do vale da visão. Que tens agora, pois que com todos os teus subiste aos telhados?” “Peso do vale da visão” significa “uma mensagem de condenação para Jerusalém”. A expressão “vale da visão” refere-se à Jerusalém como sendo a cidade dos profetas. Os telhados permitiam uma boa vista para se observar o que estava acontecendo, e oferecia uma medida de segurança contra os exércitos invasores. Os telhados eram também um lugar tradicional para os que estavam de luto.[1]

No versículo 2, o profeta continua: “Tu, cheia de clamores, cidade turbulenta, cidade alegre, os teus mortos não foram mortos à espada, nem morreram na guerra”.[2]  A frase “Cheia de clamores” significa cheia de barulho. Os mortos da cidade estão mortos para as coisas espirituais e justas, ao invés de terem sidos feridos pela espada. “Cidade alegre”, juntamente com “cidade turbulenta”, conotam cenas de folia e festas.

No versículo 3, Isaías prevê: “Todos os teus governadores juntamente fugiram, foram atados pelos arqueiros; todos os que em ti se acharam, foram amarrados juntamente, e fugiram para longe”. Os governantes e outros com habilidades que podiam ser usadas pelos conquistadores invasores babilônicos seriam preservados, porém seriam amarrados e levados cativos. A menção aos “arqueiros” refere-se ao exército invasor, ou aos seus componentes.

No versículo 4 Isaías chora ao ver nesta visão a invasão e assolação da cidade de Jerusalém: “Portanto digo: Desviai de mim a vista, e chorarei amargamente; não vos canseis mais em consolar-me pela destruição da filha do meu povo”. Ele lamenta, apesar de repudiar as iniquidades do povo. A menção que Isaías fez acerca de Jerusalém como a “filha do meu povo”, refere-se à beleza da amada cidade.

O versículo 5 começa: “Porque dia de alvoroço, e de atropelamento, e de confusão é este da parte do Senhor DEUS dos Exércitos, no vale da visão; dia de derrubar o muro e de clamar até aos montes”. Isaías reconhece que, apesar de seu sofrimento expressado no versículo 4, a destruição de Jerusalém é da vontade do Senhor DEUS dos exércitos. “Dia de derrubar o muro e de clamar até aos montes” são maiores detalhes sobre a destruição e a angústia.

O versículo 6 descreve a aliança dos antigos adversários de Jerusalém com a Babilônia para destruí-la: “Porque Elão tomou a aljava, juntamente com carros de homens e cavaleiros; e Quir descobriu os escudos”. Elão é a Pérsia, e Quir é a capital de Moabe.

No versículo 7, Isaías descreve a invasão assustadora e o cerco da hoste destruidora: “E os teus mais formosos vales se encherão de carros, e os cavaleiros se colocarão em ordem às portas”.[3] Os cavaleiros, ou guerreiros montados, colocar-se-iam nos portões de Jerusalém a fim de controlarem a entrada e a saída.

O versículo 8 descreve a total humilhação de Judá: “E ele tirou a coberta de Judá” tem um significado semelhante à frase “descobrir suas partes secretas”,[4] um significado no idioma hebraico é “envergonhá-los”. Isaías continua: “E naquele dia olhaste para as armas da casa do bosque”. Isto significa que Zedequias confiaria em forças militares, ao invés de no Senhor.

A casa do bosque era um segundo palácio edificado por Salomão no monte do templo, usado para o armazenamento de armaduras e armas.[5] Era chamado de casa do bosque porque foi construído com materiais importados dos bosques do Líbano.

O versículo 9 refere-se à “derrubar o muro” da cidade, mencionada no versículo 5: “E vistes as brechas da cidade de Davi, porquanto já eram muitas, e ajuntastes as águas do tanque de baixo”. Os defensores tentariam preservar um abastecimento de água para a cidade; parar o fornecimento de água aos habitantes da cidade é uma estratégia efetiva durante o período de cerco. O tanque de baixo foi construído durante o reinado de Ezequias.[6]

O versículo 10 descreve medidas adicionais adotadas pelos defensores da cidade: “Também contastes as casas de Jerusalém, e derrubastes as casas, para fortalecer os muros”. A fim de combater os esforços dos invasores de quebrar os muros do lado de fora, os defensores, em desespero, derrubaram casas em Jerusalém para prover materiais para fortalecer os muros da cidade do lado de dentro.

No versículo 11, Isaías prediz outros esforços para preservar os reservatórios de água durante o cerco: “Fizestes também um reservatório entre os dois muros para as águas do tanque velho, porém não olhastes acima, para aquele que isto tinha feito, nem considerastes o que o formou desde a antiguidade”.[7] Os defensores de Jerusalém não se voltaram ao Senhor para que os socorresse.

Os versículos 12 e 13 falam sobre o chamado do Senhor ao arrependimento e a subsequente rejeição de Jerusalém a este chamado; continuando com suas celebrações, como de costume. O versículo 12 começa: “E o Senhor DEUS dos Exércitos, chamou naquele dia para chorar e para prantear, e para raspar a cabeça, e cingir com o cilício”. Cingir com cilício, prantear e raspar a cabeça são sinais exteriores de arrependimento.

O versículo 13 descreve as constantes folias e festas de Jerusalém: “Porém eis aqui gozo e alegria, matam-se bois e degolam-se ovelhas, come-se carne, e bebe-se vinho, e diz-se: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Suas festividades eram para desafiar o chamado do Senhor ao arrependimento, que foi transmitido pelo profeta.

A última frase do versículo 13 foi citada pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento: “Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.[8]

Néfi, no Livro de Mórmon, parafraseou e expandiu esta frase, descrevendo a forma de pensar dos iníquos:

“Sim, e haverá muitos que dirão: Comei, bebei e alegrai-vos, porque amanhã morreremos; e tudo nos irá bem.
“E muitos também dirão: Comei, bebei e diverti-vos; não obstante, temei a Deus—ele justificará a prática de pequenos pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos de alguém por causa de suas palavras, abri uma cova para o vosso vizinho; não há mal nisso. E fazei todas estas coisas, porque amanhã morreremos; e se acontecer de sermos culpados, Deus nos castigará com uns poucos açoites e, ao fim, seremos salvos no reino de Deus.”[9]

Os ímpios criam desculpas para não se arrependerem.

No versículo 14, Isaías testifica contra os habitantes impenitentes de Jerusalém: “Mas o SENHOR dos Exércitos revelou-se aos meus ouvidos, dizendo: Certamente esta maldade não vos será expiada até que morrais, diz o Senhor DEUS dos Exércitos”.[10]

Nos versículos 15 até 19 o Senhor envia uma advertência pessoal a Sebna, através de Isaías. Sebna era um escriba e tesoureiro da casa do rei Ezequias, o qual testemunhou o discurso blasfemo de Rabsaqué, servo do rei assírio Senaqueribe, bem como os acontecimentos que culminaram quando o Senhor feriu os 185.000 das hostes assírias.[11] O versículo 15 inicia: “Assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos: Anda e vai ter com este tesoureiro, com Sebna, o mordomo, e dize-lhe” — Sebna era responsável pelo palácio do rei e por seus negócios.

No versículo 16, continuando a sentença do versículo anterior, começa a exortação do Senhor para Sebna: “Que é que tens aqui, ou a quem tens tu aqui, para que cavasses aqui uma sepultura? Cavando em lugar alto a sua sepultura, e cinzelando na rocha uma morada para ti mesmo?”[12] O Senhor diz que sua posição na casa do rei resultaria em sua morte—que seus esforços em estabelecer sua posição como o cabeça na casa do rei, era como cavar sua própria sepultura.

Os versículos 17 até 19 continua a admoestação do Senhor para Sebna. O versículo 17 afirma: “Eis que o Senhor te arrojará violentamente como um homem forte, e de todo te envolverá”. Era de costume transportar os prisioneiros com os olhos vendados. Ezequiel profetizou: “…cobrirás o teu rosto, para que não vejas a terra…”. Muitos dos que foram carregados cativos estavam com seus olhos vendados, para não poderem ver como regressar.[13]

O versículo 18 continua: “Certamente com violência te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso; ali morrerás, e ali acabarão os carros da tua glória, ó opróbrio da casa do teu senhor”. Sebna seria carregado para Assíria, onde passaria o resto de sua vida.

O versículo 19 conclui: “E demitir-te-ei do teu posto, e te arrancarei do teu assento”.[14] Sebna seria removido pelo Senhor de sua posição elevada na casa do rei.

Os versículos 20 e 21 descrevem a época em que Eliaquim, um servo de Ezequias, que também testemunhou o discurso blasfemo de Rabsaqué (o servo do rei assírio Senaqueribe), seria colocado na posição de Sebna. O versículo 20 começa: “E será naquele dia que chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias”.

O versículo 21 afirma: “E vesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto”, que representa a transferência da honra, que antes pertencia a Sebna. “E entregarei nas suas mãos o teu domínio, e será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá”.[15] A posição de Sebna na casa do rei seria dada a Eliaquim.

Nos versículos 22 até 25, o ponto principal de repente muda, adiantando-se mais de 100 anos, falando agora de uma outra pessoa com o mesmo—Eliaquim, o filho de Josias, que tornar-se-ia rei. O significado hebraico deste nome, Eliaquim, é “Deus levanta” ou “Deus estabelece”.[16]  Nos versículos 22 até 25, este nome simbólico vem a ser um símbolo para o Salvador.

O versículo 22 declara: “E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro”, que significa que tanto Eliaquim, o filho de Josias, quanto Jesus Cristo, o Messias, “abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá”. Estas duas frases referem-se ao poder de selamento do Sacerdócio de Melquisedeque, que o rei Eliaquim não possuía, mas que Jesus Cristo possui.[17] Para Eliaquim, estas frases descrevem autoridade real absoluta.

João, o revelador, no Novo Testamento, citou o versículo 22: “E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre”.[18] Aqui João refere-se ao direito da herança davídica e ao santo sacerdócio que o Senhor Jesus Cristo possui.

O versículo 23 declara, referindo-se a Eliaquim e ao Senhor Jesus Cristo: “E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme, e será como um trono de honra para a casa de seu pai”. Quando está falando de Cristo, está se referindo à crucificação; mas quando se trata do rei Eliaquim—um predecessor de Cristo como herdeiro do trono de Davi—refere-se ao fato que ele seria estabelecido firmemente no poder. Para os discípulos do Senhor, no tempo da Sua Segunda Vinda, quando Ele assumir a liderança como um herdeiro do trono de Davi, este conhecimento do significado desta frase servirá como um teste de suas crenças.[19]

Os versículos 22 e 23 contêm um quiasma:

A: (22) E porei a chave da casa de Davi
B: sobre o seu ombro;
C: e abrirá,
D: e ninguém fechará;
D: fechará,
C: e ninguém abrirá.
B: (23) E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme,
A: e será como um trono de honra para a casa de seu pai.

Tanto Eliaquim como Cristo seriam herdeiros do trono de Davi; ambos seriam poderosos.

O versículo 24 refere-se novamente ao rei Eliaquim e ao prometido Messias: “E nele pendurarão toda a honra da casa de seu pai, a prole e os descendentes, como também todos os vasos menores, desde as taças até os frascos”, ou seja, tudo o que pertence ao trono de Davi, até mesmo os vasos menores da casa. “Nele pendurarão” é uma frase meio estranha para descrever os atributos reais a serem dados a ambos; mas em referência ao Senhor Jesus Cristo está falando sobre quando Ele foi pregado e pendurado na cruz.

O versículo 24 contém um quiasma:

A: (24) E nele pendurarão
B: toda a honra da casa de seu pai,
C: a prole
C: e os descendentes,
B: como também todos os vasos menores,
A: desde as taças até os frascos.

Os vasos da casa do rei servem como símbolos da glória, ou autoridade, tanto do rei quanto do prometido Messias.

O versículo 25 conclui: “Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, o prego fincado em lugar firme será tirado; e será cortado, e cairá, e a carga que nele estava se desprenderá, porque o Senhor o disse”. Esta passagem refere-se a Cristo, quando foi retirado da cruz depois de sua morte, mas também refere-se a Eliaquim, quando foi removido de sua posição como rei de Judá, colocado em grilhões e carregado cativo para a Babilônia.[20] Quando se refere a Cristo, “a carga que nele estava” refere-se à inestimável carga do pecado que Ele tomou sobre si no Jardim do Getsêmani, a qual seria retirada de todos os que se arrependerem. Isaías, ao referir-se à expiação de Cristo, falou no capítulo 53: “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.[21]

O versículo 25 contém um quiasma:

A: (25) Naquele dia, diz o Senhor dos exércitos,
B: o prego fincado em lugar firme será tirado;
C: e será cortado,
C: e cairá;
B: e a carga que nele estava se desprenderá,
A: porque o Senhor o disse.

“Diz o Senhor dos exércitos” corresponde-se à frase “porque o Senhor o disse”. Isaías presta um grande testemunho de que suas palavras vieram de Deus e não de um homem.

NOTAS

[1]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 196.
[2]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Que tens agora/cidade turbulenta//cidade alegre/os teus mortos não são mortos à espada/nem morreram na guerra.
[3]. O versículo 7 contém um quiasma: Vales/se encherão de carros/cavaleiros/se colocarão em ordem /às portas.
[4]. Isaías 3:17.
[5]. 1 Reis 7:2.
[6]. 2 Reis 20:20.
[7]. Ver Isaías 7:3.
[8]. 1 Coríntios 15:32.
[9]. 2 Néfi 28:7-8.
[10]. Os versículos 1 até 14 contêm um quiasma de grande escala: Que tens agora/cidade alegre/chorarei amargamente/porque dia de alvoroço…é/no vale da visão/Elão tomou a aljava//Quir descobriu os escudos/teus mais formosos vales/ele tirou a coberta de Judá/chamou naquele dia para chorar/gozo e alegria/esta maldade não vos será expiada até que morrais.
[11]. Ver 2 Reis 18:18-37 e 2 Reis 19.
[12]. O versículo 16 contém um quiasma: Que é que tens aqui/a quem tens tu aqui//para que cavasses aqui uma sepultura?/cavando em lugar alto a tua sepultura/cinzelando na rocha uma morada para ti mesmo?
[13]. Ver Ezequiel  12:3-6, 11-13.
[14]. Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma: Te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso/ali morrerás/carros da tua glória//ó opróbrio da casa do teu senhor/demitir-te-ei do teu posto/te arrancarei do teu assento.
[15]. Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Naquele dia/chamarei a meu servo Eliaquim/vesti-lo-ei//cingi-lo-ei/entregarei nas suas mãos o teu domínio/será como pai para os moradores de Jerusalém.
[16]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 471, p. 45.
[17]. Ver 1 Reis 17:1; Malaquias 4:5; Helamã 10:7; D&C 1:8; D&C 132:46 .
[18]. Apocalipse 3:7.
[19]. Ver Isaías 49:16 e comentário pertinente. Ver também Russell M. Nelson, “Preparação Pessoal Para as Bênçãos do Templo”, A Liahona, Julho de 2001, p. 38.
[20]. Ver 2 Crônicas 36:4-9.
[21]. Isaías 53:5.