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CAPÍTULO 22: “Comamos E Bebamos, Porque Amanhã Morreremos”

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No capítulo 22 Isaías profetiza acerca dos últimos dias precedendo a época em que Jerusalém seria destruída. Seu povo seria atacado, açoitado e levado em cativeiro pela Babilônia. No capítulo 22 também se encontra as profecias concernentes ao Messias, que possuiria as chaves da casa de Davi, herdaria glória e seria pregado bem como os cravos no lugar seguro. Neste capítulo Isaías refere-se à Jerusalém alternadamente como “o vale da visão”, a “filha do meu povo”, e a “cidade de Davi”.

O versículo 1 começa: “Peso do vale da visão. Que tens agora, pois que com todos os teus subiste aos telhados?” “Peso do vale da visão” significa “uma mensagem de condenação para Jerusalém”. A expressão “vale da visão” refere-se à Jerusalém como sendo a cidade dos profetas. Os telhados permitiam uma boa vista para se observar o que estava acontecendo, e oferecia uma medida de segurança contra os exércitos invasores. Os telhados eram também um lugar tradicional para os que estavam de luto.[1]

No versículo 2, o profeta continua: “Tu, cheia de clamores, cidade turbulenta, cidade alegre, os teus mortos não foram mortos à espada, nem morreram na guerra”.[2]  A frase “Cheia de clamores” significa cheia de barulho. Os mortos da cidade estão mortos para as coisas espirituais e justas, ao invés de terem sidos feridos pela espada. “Cidade alegre”, juntamente com “cidade turbulenta”, conotam cenas de folia e festas.

No versículo 3, Isaías prevê: “Todos os teus governadores juntamente fugiram, foram atados pelos arqueiros; todos os que em ti se acharam, foram amarrados juntamente, e fugiram para longe”. Os governantes e outros com habilidades que podiam ser usadas pelos conquistadores invasores babilônicos seriam preservados, porém seriam amarrados e levados cativos. A menção aos “arqueiros” refere-se ao exército invasor, ou aos seus componentes.

No versículo 4 Isaías chora ao ver nesta visão a invasão e assolação da cidade de Jerusalém: “Portanto digo: Desviai de mim a vista, e chorarei amargamente; não vos canseis mais em consolar-me pela destruição da filha do meu povo”. Ele lamenta, apesar de repudiar as iniquidades do povo. A menção que Isaías fez acerca de Jerusalém como a “filha do meu povo”, refere-se à beleza da amada cidade.

O versículo 5 começa: “Porque dia de alvoroço, e de atropelamento, e de confusão é este da parte do Senhor DEUS dos Exércitos, no vale da visão; dia de derrubar o muro e de clamar até aos montes”. Isaías reconhece que, apesar de seu sofrimento expressado no versículo 4, a destruição de Jerusalém é da vontade do Senhor DEUS dos exércitos. “Dia de derrubar o muro e de clamar até aos montes” são maiores detalhes sobre a destruição e a angústia.

O versículo 6 descreve a aliança dos antigos adversários de Jerusalém com a Babilônia para destruí-la: “Porque Elão tomou a aljava, juntamente com carros de homens e cavaleiros; e Quir descobriu os escudos”. Elão é a Pérsia, e Quir é a capital de Moabe.

No versículo 7, Isaías descreve a invasão assustadora e o cerco da hoste destruidora: “E os teus mais formosos vales se encherão de carros, e os cavaleiros se colocarão em ordem às portas”.[3] Os cavaleiros, ou guerreiros montados, colocar-se-iam nos portões de Jerusalém a fim de controlarem a entrada e a saída.

O versículo 8 descreve a total humilhação de Judá: “E ele tirou a coberta de Judá” tem um significado semelhante à frase “descobrir suas partes secretas”,[4] um significado no idioma hebraico é “envergonhá-los”. Isaías continua: “E naquele dia olhaste para as armas da casa do bosque”. Isto significa que Zedequias confiaria em forças militares, ao invés de no Senhor.

A casa do bosque era um segundo palácio edificado por Salomão no monte do templo, usado para o armazenamento de armaduras e armas.[5] Era chamado de casa do bosque porque foi construído com materiais importados dos bosques do Líbano.

O versículo 9 refere-se à “derrubar o muro” da cidade, mencionada no versículo 5: “E vistes as brechas da cidade de Davi, porquanto já eram muitas, e ajuntastes as águas do tanque de baixo”. Os defensores tentariam preservar um abastecimento de água para a cidade; parar o fornecimento de água aos habitantes da cidade é uma estratégia efetiva durante o período de cerco. O tanque de baixo foi construído durante o reinado de Ezequias.[6]

O versículo 10 descreve medidas adicionais adotadas pelos defensores da cidade: “Também contastes as casas de Jerusalém, e derrubastes as casas, para fortalecer os muros”. A fim de combater os esforços dos invasores de quebrar os muros do lado de fora, os defensores, em desespero, derrubaram casas em Jerusalém para prover materiais para fortalecer os muros da cidade do lado de dentro.

No versículo 11, Isaías prediz outros esforços para preservar os reservatórios de água durante o cerco: “Fizestes também um reservatório entre os dois muros para as águas do tanque velho, porém não olhastes acima, para aquele que isto tinha feito, nem considerastes o que o formou desde a antiguidade”.[7] Os defensores de Jerusalém não se voltaram ao Senhor para que os socorresse.

Os versículos 12 e 13 falam sobre o chamado do Senhor ao arrependimento e a subsequente rejeição de Jerusalém a este chamado; continuando com suas celebrações, como de costume. O versículo 12 começa: “E o Senhor DEUS dos Exércitos, chamou naquele dia para chorar e para prantear, e para raspar a cabeça, e cingir com o cilício”. Cingir com cilício, prantear e raspar a cabeça são sinais exteriores de arrependimento.

O versículo 13 descreve as constantes folias e festas de Jerusalém: “Porém eis aqui gozo e alegria, matam-se bois e degolam-se ovelhas, come-se carne, e bebe-se vinho, e diz-se: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Suas festividades eram para desafiar o chamado do Senhor ao arrependimento, que foi transmitido pelo profeta.

A última frase do versículo 13 foi citada pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento: “Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.[8]

Néfi, no Livro de Mórmon, parafraseou e expandiu esta frase, descrevendo a forma de pensar dos iníquos:

“Sim, e haverá muitos que dirão: Comei, bebei e alegrai-vos, porque amanhã morreremos; e tudo nos irá bem.
“E muitos também dirão: Comei, bebei e diverti-vos; não obstante, temei a Deus—ele justificará a prática de pequenos pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos de alguém por causa de suas palavras, abri uma cova para o vosso vizinho; não há mal nisso. E fazei todas estas coisas, porque amanhã morreremos; e se acontecer de sermos culpados, Deus nos castigará com uns poucos açoites e, ao fim, seremos salvos no reino de Deus.”[9]

Os ímpios criam desculpas para não se arrependerem.

No versículo 14, Isaías testifica contra os habitantes impenitentes de Jerusalém: “Mas o SENHOR dos Exércitos revelou-se aos meus ouvidos, dizendo: Certamente esta maldade não vos será expiada até que morrais, diz o Senhor DEUS dos Exércitos”.[10]

Nos versículos 15 até 19 o Senhor envia uma advertência pessoal a Sebna, através de Isaías. Sebna era um escriba e tesoureiro da casa do rei Ezequias, o qual testemunhou o discurso blasfemo de Rabsaqué, servo do rei assírio Senaqueribe, bem como os acontecimentos que culminaram quando o Senhor feriu os 185.000 das hostes assírias.[11] O versículo 15 inicia: “Assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos: Anda e vai ter com este tesoureiro, com Sebna, o mordomo, e dize-lhe” — Sebna era responsável pelo palácio do rei e por seus negócios.

No versículo 16, continuando a sentença do versículo anterior, começa a exortação do Senhor para Sebna: “Que é que tens aqui, ou a quem tens tu aqui, para que cavasses aqui uma sepultura? Cavando em lugar alto a sua sepultura, e cinzelando na rocha uma morada para ti mesmo?”[12] O Senhor diz que sua posição na casa do rei resultaria em sua morte—que seus esforços em estabelecer sua posição como o cabeça na casa do rei, era como cavar sua própria sepultura.

Os versículos 17 até 19 continua a admoestação do Senhor para Sebna. O versículo 17 afirma: “Eis que o Senhor te arrojará violentamente como um homem forte, e de todo te envolverá”. Era de costume transportar os prisioneiros com os olhos vendados. Ezequiel profetizou: “…cobrirás o teu rosto, para que não vejas a terra…”. Muitos dos que foram carregados cativos estavam com seus olhos vendados, para não poderem ver como regressar.[13]

O versículo 18 continua: “Certamente com violência te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso; ali morrerás, e ali acabarão os carros da tua glória, ó opróbrio da casa do teu senhor”. Sebna seria carregado para Assíria, onde passaria o resto de sua vida.

O versículo 19 conclui: “E demitir-te-ei do teu posto, e te arrancarei do teu assento”.[14] Sebna seria removido pelo Senhor de sua posição elevada na casa do rei.

Os versículos 20 e 21 descrevem a época em que Eliaquim, um servo de Ezequias, que também testemunhou o discurso blasfemo de Rabsaqué (o servo do rei assírio Senaqueribe), seria colocado na posição de Sebna. O versículo 20 começa: “E será naquele dia que chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias”.

O versículo 21 afirma: “E vesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto”, que representa a transferência da honra, que antes pertencia a Sebna. “E entregarei nas suas mãos o teu domínio, e será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá”.[15] A posição de Sebna na casa do rei seria dada a Eliaquim.

Nos versículos 22 até 25, o ponto principal de repente muda, adiantando-se mais de 100 anos, falando agora de uma outra pessoa com o mesmo—Eliaquim, o filho de Josias, que tornar-se-ia rei. O significado hebraico deste nome, Eliaquim, é “Deus levanta” ou “Deus estabelece”.[16]  Nos versículos 22 até 25, este nome simbólico vem a ser um símbolo para o Salvador.

O versículo 22 declara: “E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro”, que significa que tanto Eliaquim, o filho de Josias, quanto Jesus Cristo, o Messias, “abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá”. Estas duas frases referem-se ao poder de selamento do Sacerdócio de Melquisedeque, que o rei Eliaquim não possuía, mas que Jesus Cristo possui.[17] Para Eliaquim, estas frases descrevem autoridade real absoluta.

João, o revelador, no Novo Testamento, citou o versículo 22: “E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre”.[18] Aqui João refere-se ao direito da herança davídica e ao santo sacerdócio que o Senhor Jesus Cristo possui.

O versículo 23 declara, referindo-se a Eliaquim e ao Senhor Jesus Cristo: “E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme, e será como um trono de honra para a casa de seu pai”. Quando está falando de Cristo, está se referindo à crucificação; mas quando se trata do rei Eliaquim—um predecessor de Cristo como herdeiro do trono de Davi—refere-se ao fato que ele seria estabelecido firmemente no poder. Para os discípulos do Senhor, no tempo da Sua Segunda Vinda, quando Ele assumir a liderança como um herdeiro do trono de Davi, este conhecimento do significado desta frase servirá como um teste de suas crenças.[19]

Os versículos 22 e 23 contêm um quiasma:

A: (22) E porei a chave da casa de Davi
B: sobre o seu ombro;
C: e abrirá,
D: e ninguém fechará;
D: fechará,
C: e ninguém abrirá.
B: (23) E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme,
A: e será como um trono de honra para a casa de seu pai.

Tanto Eliaquim como Cristo seriam herdeiros do trono de Davi; ambos seriam poderosos.

O versículo 24 refere-se novamente ao rei Eliaquim e ao prometido Messias: “E nele pendurarão toda a honra da casa de seu pai, a prole e os descendentes, como também todos os vasos menores, desde as taças até os frascos”, ou seja, tudo o que pertence ao trono de Davi, até mesmo os vasos menores da casa. “Nele pendurarão” é uma frase meio estranha para descrever os atributos reais a serem dados a ambos; mas em referência ao Senhor Jesus Cristo está falando sobre quando Ele foi pregado e pendurado na cruz.

O versículo 24 contém um quiasma:

A: (24) E nele pendurarão
B: toda a honra da casa de seu pai,
C: a prole
C: e os descendentes,
B: como também todos os vasos menores,
A: desde as taças até os frascos.

Os vasos da casa do rei servem como símbolos da glória, ou autoridade, tanto do rei quanto do prometido Messias.

O versículo 25 conclui: “Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, o prego fincado em lugar firme será tirado; e será cortado, e cairá, e a carga que nele estava se desprenderá, porque o Senhor o disse”. Esta passagem refere-se a Cristo, quando foi retirado da cruz depois de sua morte, mas também refere-se a Eliaquim, quando foi removido de sua posição como rei de Judá, colocado em grilhões e carregado cativo para a Babilônia.[20] Quando se refere a Cristo, “a carga que nele estava” refere-se à inestimável carga do pecado que Ele tomou sobre si no Jardim do Getsêmani, a qual seria retirada de todos os que se arrependerem. Isaías, ao referir-se à expiação de Cristo, falou no capítulo 53: “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.[21]

O versículo 25 contém um quiasma:

A: (25) Naquele dia, diz o Senhor dos exércitos,
B: o prego fincado em lugar firme será tirado;
C: e será cortado,
C: e cairá;
B: e a carga que nele estava se desprenderá,
A: porque o Senhor o disse.

“Diz o Senhor dos exércitos” corresponde-se à frase “porque o Senhor o disse”. Isaías presta um grande testemunho de que suas palavras vieram de Deus e não de um homem.

NOTAS

[1]. Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [Compreendendo Isaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 196.
[2]. Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma: Que tens agora/cidade turbulenta//cidade alegre/os teus mortos não são mortos à espada/nem morreram na guerra.
[3]. O versículo 7 contém um quiasma: Vales/se encherão de carros/cavaleiros/se colocarão em ordem /às portas.
[4]. Isaías 3:17.
[5]. 1 Reis 7:2.
[6]. 2 Reis 20:20.
[7]. Ver Isaías 7:3.
[8]. 1 Coríntios 15:32.
[9]. 2 Néfi 28:7-8.
[10]. Os versículos 1 até 14 contêm um quiasma de grande escala: Que tens agora/cidade alegre/chorarei amargamente/porque dia de alvoroço…é/no vale da visão/Elão tomou a aljava//Quir descobriu os escudos/teus mais formosos vales/ele tirou a coberta de Judá/chamou naquele dia para chorar/gozo e alegria/esta maldade não vos será expiada até que morrais.
[11]. Ver 2 Reis 18:18-37 e 2 Reis 19.
[12]. O versículo 16 contém um quiasma: Que é que tens aqui/a quem tens tu aqui//para que cavasses aqui uma sepultura?/cavando em lugar alto a tua sepultura/cinzelando na rocha uma morada para ti mesmo?
[13]. Ver Ezequiel  12:3-6, 11-13.
[14]. Os versículos 18 e 19 contêm um quiasma: Te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso/ali morrerás/carros da tua glória//ó opróbrio da casa do teu senhor/demitir-te-ei do teu posto/te arrancarei do teu assento.
[15]. Os versículos 20 e 21 contêm um quiasma: Naquele dia/chamarei a meu servo Eliaquim/vesti-lo-ei//cingi-lo-ei/entregarei nas suas mãos o teu domínio/será como pai para os moradores de Jerusalém.
[16]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 471, p. 45.
[17]. Ver 1 Reis 17:1; Malaquias 4:5; Helamã 10:7; D&C 1:8; D&C 132:46 .
[18]. Apocalipse 3:7.
[19]. Ver Isaías 49:16 e comentário pertinente. Ver também Russell M. Nelson, “Preparação Pessoal Para as Bênçãos do Templo”, A Liahona, Julho de 2001, p. 38.
[20]. Ver 2 Crônicas 36:4-9.
[21]. Isaías 53:5.

CAPÍTULO 7: “Eis Que a Virgem Conceberá, E Dará À Luz Um Filho”

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A primeira parte do capítulo 7 é um discurso por um mensageiro onde o profeta é um emissário do Senhor ao rei Acaz e fala sobre uma guerra que Efraim e Síria faria contra Judá, predizendo o resultado desta guerra. Isaías apresenta a profecia de Emanuel sobre o nascimento virginal de Cristo a Acaz como sinal da veracidade de suas palavras. Uma profecia predizendo a destruição de Efraim e Síria pelas mãos dos Assírios compreende a última parte da mensagem de Isaías a Acaz. Os versículos finais deste capítulo descrevem a condição desolada de Efraim e Síria—e mais tarde, da maior parte de Judá—depois do despovoamento pelas mãos do rei assírio. Néfi citou este capítulo por completo com poucas modificações. Compare 2 Néfi 17; as poucas diferenças na versão do Livro de Mórmon aparecem em itálico.

Esta guerra, feita pela Síria e pelo reino de Israel Setentrional (ao norte) contra Judá, aconteceu porque Acaz recusou-se em formar uma aliança com estas nações para a defesa mútua contra Assíria. Eles planejaram conquistar Acaz e colocar um rei sobre Judá que cooperaria com eles em unificar defesas contra Assíria. Devido Acaz ter recusado as instruções do Senhor, que lhe foram enviadas através do profeta Isaías, os exércitos de Rezim e Peca invadiram Judá, matando ou levando cativo milhões dos súditos do rei Acaz.  Aqueles que foram levados cativos voltaram mais tarde.[1] Acaz então formou uma aliança com Tiglate-Pileser, rei da Assíria, contra Síria e o reino de Israel Setentrional para defender-se de seus dois vizinhos conspiradores. Por conseguinte, Tiglate-Pileser invadiu e conquistou Síria e o reino de Israel Setentrional, matando Rezim.[2]

O versículo 1 declara que uma guerra começou entre Judá e seus adversários: “Sucedeu, pois, nos dias de Acaz, filho de Jotão, filho de Uzias, rei de Judá, que Rezim, rei da Síria, e Peca, filho de Remalias, rei de Israel, subiram a Jerusalém, para pelejarem contra ela, mas nada puderam contra ela”. Esta guerra começou durante o reinado de Acaz, que era rei de Judá, desde 742 a.C. A genealogia de Acaz também foi relatada: Acaz era filho de Jotão, que era rei de Judá desde o ano 758 a.C.; e Jotão era o filho de Uzias, que foi rei de Judá desde o ano de 811 a.C.[3] A guerra aconteceu durante o começo do ministério de Isaías, de 740 até 726 a.C.[4] Mas os adversários de Judá “nada puderam contra ela”.

No versículo 2, “E deram aviso à casa de Davi” refere-se ao rei Acaz e sua aristocracia, visto que os reis de Judá eram descendentes de Davi. A mensagem que “a Síria fez aliança com Efraim” causou uma grande atribulação, não só para o rei mas também para seu povo: “Então se moveu o seu coração, e o coração do seu povo, como se movem as árvores do bosque com o vento”.

Os versículos 3 até 9 contêm o discurso de Isaías no qual o profeta envia a mensagem ao rei Acaz. O versículo 3 começa: “Então disse o Senhor a Isaías”, mas não está claro no texto quando que Isaías começa a falar com Acaz. Primeiramente, o Senhor comanda a Isaías: “Agora, tu e teu filho Sear-Jasube, saí ao encontro de Acaz”― O Senhor informa-lhe onde será esta reunião: “ao fim do canal do tanque superior, no caminho do campo do lavandeiro”. O significado em hebraico do nome do filho de Isaías, Sear-Jasube, é “um resto voltará”.[5] Naquela época, Sear-Jasube deveria ser um bebê ou uma criancinha; ele viria a servir como um exemplo para a lição que Isaías daria para Acaz.

Nos versículos 4, 5, e 6 o Senhor dá a Isaías palavras proféticas para serem transmitidas ao rei. O versículo 4 começa: “E dize-lhe: Acautela-te, e aquieta-te; não temas, nem se desanime o teu coração por causa destes dois pedaços de tições fumegantes; por causa do ardor da ira de Rezim, e da Síria, e do filho de Remalias”. O Senhor exorta Acaz para não temer, apesar da seriedade das ameaças.

O versículo 5 continua: “Porquanto a Síria teve contra ti maligno conselho, com Efraim, e com o filho de Remalias, dizendo” ― os governantes destas duas nações vizinhas formaram uma aliança entre eles contra Judá.

O versículo 6 continua a sentença do versículo anterior: “Vamos subir contra Judá, e molestemo-lo e repartamo-lo entre nós, e façamos reinar no meio dele o filho de Tabeal”.  O Livro de Mórmon apresenta assim: “Subamos contra Judá e atormentemo-la; repartamo-la entre nós…”.  “Molestemo-lo” é traduzido de uma palavra hebraica que significa “fender” ou “abrir forçosamente”.[6] Rezim e Peca queriam conquistar Judá, nomear seu próprio rei para reinar sobre Judá, e dividir a terra e suas riquezas entre eles.

No versículo 7, Isaías proclama: “Assim diz o Senhor DEUS: Isto não subsistirá, nem tampouco acontecerá”. As palavras de conforto foi que este plano maligno não teria sucesso.

No versículo 8, Isaías profetiza ainda mais: “Porém a cabeça da Síria será Damasco, e a cabeça de Damasco Rezim; e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será destruído, e deixará de ser povo”. O final da Israel Setentrional, ou o reino do norte—também conhecida como Efraim—ocorreu em 721 a.C., quando o reino foi destruído e seus habitantes, as dez tribos de Israel, foram assassinados ou levados cativos pela Assíria. A destruição de Efraim, na realidade, aconteceu dentro de um terço do tempo designado por Isaías nesta profecia.[7]

O versículo 9 proclama: “Entretanto a cabeça de Efraim será Samaria, e a cabeça de Samaria o filho de Remalias [Peca]; se não o crerdes, certamente não haveis de permanecer”. O que Isaías quis dizer foi que tão certo como a cabeça de Efraim é Samaria, e tão certo como o filho de Remalias, Peca, é o rei de Samaria, o iníquo rei Acaz não acreditaria nas palavras da profecia.

Depois que Isaías transmitiu esta mensagem, encontramos nos versículos 10 e 11: “E continuou o Senhor a falar com Acaz, dizendo: Pede para ti ao Senhor teu Deus um sinal; pede-o, ou em baixo nas profundezas, ou em cima nas alturas”. O Senhor oferece a Acaz um sinal através de Isaías, a fim de ajudá-lo a crer na mensagem.

Versículos 7 até 10 contêm um quiasma:

A: (7) Assim diz o Senhor DEUS:
B: Isto não subsistirá, nem tampouco acontecerá.
C: (8) Porém a cabeça da Síria será Damasco, e a cabeça de Damasco Rezim;
D: e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será destruído,
D: e deixará de ser povo.
C: (9) Entretanto a cabeça de Efraim será Samaria, e a cabeça de Samaria o filho de Remalias;
B: se não o crerdes, certamente não haveis de permanecer.
A: (10) E continuou o Senhor a falar com Acaz, dizendo—

Neste quiasma “a cabeça da Síria será Damasco” compara-se com “a cabeça de Efraim será Samaria”, nomeando os dois conspiradores. “Isto não subsistirá” combina com “não haveis de permanecer”. Devido a incredulidade de Acaz, seu próprio reinado não seria estabelecido—com o mesmo resultado do plano traiçoeiro feito contra ele. A declaração central do quiasma prova que “Efraim será quebrantado, e deixará de ser povo”. Para que o reino de Acaz ou o plano contra ele tivesse êxito, a intervenção do Senhor seria necessária.

O versículo 12 informa: “Acaz, porém, disse: Não pedirei, nem tentarei ao Senhor”. Esta resposta não é um sinal de humildade, mas de um desinteresse irreverente de um rei iníquo. Isaías enfureceu-se.

O versículo 13 continua: “Então ele disse: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é afadigardes os homens, senão que também afadigareis ao meu Deus?” A incredulidade de Acaz é ofensivo para o Senhor e Isaías.

Então, Isaías transmite uma profecia assombrosa a respeito do nascimento virginal do Senhor Jesus Cristo, começando no versículo 14: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”. O Grande Pergaminho de Isaías, apresenta “Jeová” ao invés de “o mesmo Senhor.”[8] O significado em hebraico de Emanuel é “Deus conosco”[9], que descreve a herança divina do Senhor e Seu papel como Jeová no mundo pré-mortal. Apesar da profecia que o reinado de Acaz não permaneceria estabelecido por causa de sua incredulidade, o Messias nasceria entre o povo de Acaz num tempo futuro. Em cumprimento da profecia que sem dúvidas o rei Acaz conhecia, o Messias nasceria como um descendente e herdeiro dos reis davídicos.[10]

Por que será que o Senhor deu estas informações concernente ao Messias como sinal para um rei iníquo? O reinado de Acaz não iria durar muito, devido sua iniquidade, mas sua nação sobre a qual governava continuaria a existir, pelo menos até o tempo predito quando o ministério terreno do Messias acontecesse. Este conhecimento foi dado como uma garantia divina, que apesar da ameaça de guerra que ele estava encarando, o povo de Acaz e sua linhagem real continuariam a existir por centenas de anos. Além disso, o nascimento do Salvador é uma das mais ponderosas manifestações do amor de Deus pela humanidade, e até mesmo por este rei iníquo.

O versículo 14 é citado no Novo Testamento por Mateus, descrevendo o nascimento de Jesus em Belém como o cumprimento da profecia de Isaías.[11] Mateus inclui a interpretação de “Emanuel” como “Deus conosco.” De todas as profecias de Isaías citadas no Novo Testamento, referentes ao ministério terreno de Jesus Cristo, esta passagem é uma das mais importante.[12]

As palavras do versículo 14 foram imortalizadas em “O Messias” de Handel, parte 1 número 8, Recitativo para contralto: “Eis que uma virgem conceberá”.

Concernente a esta passagem, Gordon B. Hinckley exortou:

“Crede nele que é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, que foi a fonte de inspiração de todos os antigos profetas – que falaram, movidos pelo Espírito Santo. Esses profetas falaram por Ele, ao depreenderem reis, ao admoestarem nações, e quando, como videntes, anunciaram a vinda de um prometido Messias, declarando pelo poder de revelação: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.”[13]

Néfi, que conhecia muito bem as palavras de Isaías, viu os acontecimentos previsto neste versículo, como resposta a seu pedido para saber o significado da árvore da vida, isto foi feito através de uma visão que ele e seu pai, Leí, tiveram:

“E aconteceu que olhei e vi a grande cidade de Jerusalém e também outras cidades. E vi a cidade de Nazaré; e na cidade de Nazaré vi uma virgem que era extremamente formosa e branca.
“E aconteceu que vi os céus se abrirem; e um anjo desceu e, pondo-se na minha frente, disse: Néfi, que vês tu?
“E eu respondi: Uma virgem mais bela e formosa que todas as outras virgens…”E disse-me ele: Eis que a virgem que vês é a mãe do Filho de Deus, segundo a carne.
“E aconteceu que eu a vi ser arrebatada no Espírito. E depois de haver sido ela arrebatada no Espírito por um certo espaço de tempo, o anjo falou-me, dizendo: Olha!
“E eu olhei e tornei a ver a virgem carregando uma criança nos braços.
“E disse-me o anjo: Eis o Cordeiro de Deus, sim, o Filho do Pai Eterno! Sabes tu o significado da árvore que teu pai viu?
“E respondi-lhe, dizendo: Sim, é o amor de Deus….”[14]

Néfi, sentindo a ponderosa influência do Espirito Santo quando viu o maravilhoso acontecimento que se passaria em Nazaré e Belém no meridiano dos tempos, concluiu corretamente que a árvore da vida representava o amor de Deus para Seus filhos—tantos os iníquos quanto os justos. Aprendemos no Livro de Mórmon que o nascimento mortal do Messias é uma manifestação superlativa do amor de Deus.

O versículo 15 continua a profecia de Isaías: “Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem”. O fato de comer manteiga e mel—ou, coalhada e mel, as únicas comidas disponíveis aos pobres em certas épocas[15]—fez com que Salvador soubesse como “rejeitar o mal e escolher o bem”, é evidente que isto se refere ao alimento espiritual, ao invés de simplesmente a nutrição física. Ele nasceria e cresceria num tempo de grande privação entre o povo que não buscaria iluminação espiritual.

O Senhor, através de revelações modernas, citou uma parte dos registros de João Batista concernente a nutrição do Messias mortal no começo de sua vida: “E eu, João, vi que no princípio ele não recebeu da plenitude, mas recebeu graça por graça…mas continuou de graça em graça, até receber a plenitude; E assim foi chamado de Filho de Deus, porque não recebeu da plenitude no princípio.”[16]

O filho do Deus recebeu nutrição espiritual pouco a pouco até receber a plenitude. De onde veio tal nutrição? João Batista testificou sobre a realidade do desenvolvimento natural e progresso no crescimento de Jesus, da infância até a maturidade. Sua fonte de nutrição espiritual certamente não foi limitada a pais terrenos ou mestres; Ele recebeu sua iluminação dos céus. Considere a cena quando, na idade de doze anos, Jesus foi encontrado no templo:

“E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os.
“E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas.
“E quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos.
“E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?
“E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.”[17]

A reprimenda gentil de Jesus afirma que Deus era literalmente Seu pai, não José. Obviamente, Ele não recebeu esta marcante compreensão de seus pais terrenos, que “não compreenderam as palavras que lhes dizia”.[18] Sua compreensão veio através de revelação de Seu Pai Celestial, bem como profetizou Isaías.

No versículo 16 Isaías continua sua profecia a Acaz, testificando que os acontecimentos militares preditos aconteceriam num futuro imediato: “Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis”. Aqui, a criança se refere ao filho de Isaías, Sear-Jasube,[19] não Emanuel, mencionado e predito nos versículos 14 e 15. Isaías provavelmente mudou o assunto de Emanuel, a criança sagrada que nasceria de uma virgem, para seu próprio filho, a fim de evitar que o rei Acaz, em sua maldade, compreendesse completamente a natureza dos sinais que seriam dados.[20] Isaías foi instruído pelo Senhor para levar seu filho pequeno com ele, quando fosse transmitir esta mensagem profética;[21] A bondade e inocência de Sear-Jasube compara-se com o estado sem pecado do Salvador, Emanuel. As terras abomináveis mencionadas por Isaías eram a Síria e o reino de Israel Setentrional (ao norte), cujos reis, Rezim e Peca, conspiraram contra Acaz.[22]

Nos versículos 17 até 20 Isaías profetiza a respeito da destruição que logo resultaria na queda de Israel e Síria, e que isto seria um exemplo da destruição nos últimos dias. No versículo 17 ele descreve o horror trazido pelo rei da Assíria: “Porém o Senhor fará vir sobre ti, e sobre o teu povo, e sobre a casa de teu pai, pelo rei da Assíria, dias tais, quais nunca vieram, desde o dia em que Efraim se separou de Judá”. Efraim partiu de Judá sob o servo de Salomão, Jeroboão, em 975 a.C.[23]

Os versículos 14 até 17 contêm um quiasma:

A: (14) Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho,
B: e chamará o seu nome Emanuel.
C: (15) Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem.
C: (16) Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem,
B: a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis.
A: (17) Porém o Senhor fará vir sobre ti, e sobre o teu povo, e sobre a casa de teu pai, pelo rei da Assíria, dias tais, quais nunca vieram, desde o dia em que Efraim se separou de Judá.

O lado ascendente do quiasma descreve o nascimento e os primeiros anos de vida do Messias, já o lado descendente reflete a inocência do filho de Isaías, Sear-Jasube, a derrota da aliança Efraim-Síria e sua destruição pelas mãos do rei da Assíria no tempo de Acaz e Isaías. A frase “o mesmo Senhor vos dará um sinal” é refletida pela frase “o Senhor fará vir sobre ti…”. Estas declarações, também relacionadas, demonstram mais uma parte do sinal dado a Acaz, a presciência da destruição de Efraim e Síria, e a grande tribulação que sobreveio à Judá pelas mãos dos assírios. “Emanuel” compara-se com “será desamparada dos seus dois reis”, denotando que o Senhor Emanuel, o herdeiro legítimo do trono de Davi, traria a destruição de Israel e Síria. A primeira instância “rejeitar o mal e escolher o bem” refere-se a Emanuel, já a segunda instância da mesma frase refere-se ao filho de Isaías. Note que a frase “Manteiga e mel comerá” aplica-se somente a Emanuel.

Eruditos bíblicos têm tido dificuldades com alguns aspectos da profecia de Isaías sobre Emanuel. Eles argumentam que a profecia registrada nos versículos 14 e 15 refere-se a criança que nasceria da esposa de Isaías, possivelmente a segunda esposa, não a mãe de Sear-Jasube, que serviria como um símbolo para o nascimento do Messias. Esta criança, cujo crescimento e desenvolvimento seriam acompanhados por Isaías e Acaz, daria o sinal do cumprimento da segunda parte da profecia concernente à queda da Síria e o reino de Israel Setentrional.[24]

Várias dificuldades aparecem com esta explicação. Mais importante ainda, é que haveria somente um nascimento virginal—o do Messias, Jesus Cristo, o “unigênito do Pai.”[25] Ninguém além do Filho de Deus seria merecedor do nome descritivo, Emanuel, por causa de Sua concepção[26] e Sua posição elevada na vida pré-mortal.[27] Nenhum outro nascimento poderia adequadamente servir como exemplo.

O Senhor mandou Isaías trazer seu filho pequeno, Sear-Jasube, para a entrevista com Acaz, indicando que o tempo que levaria para o crescimento e desenvolvimento de Sear-Jasube seria o mesmo para a destruição da Síria e do reino de Israel Setentrional. É fácil imaginar Isaías apontando para seu filho quando ele falou: “Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis”.[28]

A esposa de Isaías, a mãe de Maer-Salal-Has-Baz[29] e provavelmente a mãe de Sear-Jasube também, é a única esposa de Isaías que se conhece mediante os registros bíblicos. Se seu segundo filho, Maer-Salal-Has-Baz, tipifica o nascimento do Messias, como alguns argumentam, não se pode dizer que seria um nascimento virginal nem sequer o primeiro nascimento. Que se saiba não foi dado a nenhum dos filhos de Isaías o nome de Emanuel, nem mesmo como segundo nome.

A estrutura quiasmática dos versículos 14 até 17, provê uma explicação que não exige suposições inverificáveis. O Filho que nasceria de uma virgem e receberia o nome de Emanuel é descrito no lado ascendente do quiasma, já o outro menino, cujo crescimento e desenvolvimento serviriam como sinal da destruição de Israel e Síria, numa época muito diferente, é descrito no lado descendente. O desenvolvimento gradual da responsabilidade pessoal—o saber rejeitar o mal e escolher o bem—é o elemento comum que liga as duas diferentes descrições.

No versículo 18, o assunto muda para a Assíria e o Egito: “Porque há de acontecer que naquele dia assobiará o Senhor às moscas, que há no extremo dos rios do Egito, e às abelhas que estão na terra da Assíria”. “Naquele dia” indica que Isaías está predizendo os acontecimentos dos últimos dias. As moscas e as abelhas representam grupos de soldados de duas superpotências opostas representadas aqui pelo Egito e Assíria, as duas superpotências no tempo de Isaías. O fato desses soldados poderem voar, não deve ser ignorada, dadas as práticas modernas de guerra.

O Egito não estava diretamente envolvido na conquista da Síria e Israel em 721 a.C.  Esta referência ao Egito, portanto, indica ainda mais que esta profecia é um exemplo a ser cumprido nos últimos dias. O Egito representa uma superpotência moderna ocidental, enquanto que a Assíria representa uma superpotência moderna do oriente médio ou do oriente.[30]

No versículo 19, os grupos de invasores foram descritos com maiores detalhes: “E todas elas virão, e pousarão nos vales desertos e nas fendas das rochas, e em todos os espinheiros e em todos os arbustos”. As hostes invasoras apoderariam-se da terra.

O versículo 20 descreve a humilhação total que se sofreria pelas mãos do rei da Assíria: “Naquele mesmo dia rapará o Senhor com uma navalha alugada, que está além do rio, isto é, com o rei da Assíria, a cabeça e os cabelos dos pés; e até a barba totalmente tirará”. O Livro de Mórmon omite “isto é”. “Aqueles que estão “além do Rio” refere-se aos exércitos da Assíria do outro lado do rio Eufrates, mas também é um símbolo para um grande tirano dos últimos dias. Raspar a cabeça, os pés, e a barba são símbolos de completa derrota e humilhação—total destruição dos exércitos, com seus combatentes sendo assassinados ou levados como prisioneiros—que se sofreria pelas mãos do rei da Assíria. Note que na conquista predita os invasores cumpririam a vontade do Senhor, como se fossem, figurativamente, contratados pelo Senhor como mercenários—a “navalha alugada”.[31]

Os últimos versículos do capítulo 7 descreve a desolação da terra depois que os habitantes de Israel e Judá forem assassinados ou levados cativos. No versículos 21 e 22 a relativa abundância de alimento, devido a dizimação da população é descrita:

“E sucederá naquele dia que um homem criará uma novilha e duas ovelhas.
“E acontecerá que por causa da abundância do leite que elas hão de dar, comerá manteiga; e manteiga e mel comerá todo aquele que restar no meio da terra.”

Os restantes sobreviveriam devido a autossuficiência. Manteiga e mel—ou, coalhada e mel, às vezes seriam os únicos alimentos disponíveis aos pobres autossuficientes,[32]—indicam a situação difícil dos sobreviventes.

No versículo 15, note que manteiga e mel referem-se à nutrição espiritual que o jovem Jesus receberia. No versículo 22 esta mesma frase refere-se à nutrição temporal e à espiritual—temporal devido as dificuldades da população dizimada, e espiritual por cause da destruição dos líderes que desviavam o povo para o mau caminho, dando fim às suas artimanhas sacerdotais. Os remanescentes seriam livres para seguir a retidão.[33]

O cultivo da terra cessaria completamente, como foi descrito no versículos 23 até 25, devido à grande redução na população. O versículo 23 prediz: “Sucederá também naquele dia que todo o lugar, em que houver mil vides, do valor de mil siclos de prata, será para as sarças e para os espinheiros”. Ao invés de vinhas valiosas do valor de mil siclos de prata, somente sarças e espinheiros cresceriam.

O versículo 24 descreve a terra, porque seria revertia em deserto, adequada somente para a caça: “Com arco e flecha se entrará ali, porque toda a terra será sarças e espinheiros”, devido à falta de pessoas para cultivar a terra.

O versículo 25 descreve os campos que foram cultivados no passado: “E quanto a todos os montes, que costumavam cavar com enxadas, para ali não irás por causa do temor das sarças e dos espinheiros; porém servirão para se mandarem para lá os bois e para serem pisados pelas ovelhas”. Ou, esses campos que antes eram cultivados, serviriam somente como pastos para bois ou ovelhas.[34]

A terra ficaria desolada exceto por uns poucos zeladores sob comando Assírio. O Senhor não estaria espiritualmente com eles, apesar das referências à manteiga e mel (nutrição espiritual) no versículo 15; coisas sagradas seriam profanadas, como pelos “bois, e para serem pisados pelas ovelhas.” Falsas doutrinas surgiriam como as “sarças e espinheiros,” para sufocarem as doutrinas verdadeiras que foram dadas originalmente pelo Senhor.[35], [36]

NOTAS

[1]. Ver 2 Crônicas 28:5-15.
[2]. Ver 2 Reis 15:29; 16:7-9.
[3]. Ver Dicionário Bíblico—Cronologia.
[4]. Ver Dicionário Bíblico—Cronologia; também Dicionário Bíblico—Isaías.
[5]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [Léxico Hebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 7610, p. 984.
[6]. Brown et al., 1996, Número de Strong 1234, p. 131-132.
[7]. Ver 2 Reis 17:6-8; Isaías 8:4; 17:2; 42:24; 43:6; 49:12; 54:7.
[8]. Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University, [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 58.
[9]. Brown et al., 1996, Número de Strong 410, p. 41.
[10]. Ver Gênesis 49:10; Mateus 1:1-16.
[11]. Mateus 1:22-23.
[12]. Ver Isaías 6:10, comentário pertinente e notas no final do texto.
[13]. Gordon B. Hinckley, “Não sejas incrédulo”, A Liahona, Outubro de 1978, p. 100.
[14]. 1 Néfi 11:13-15, 18-22.
[15]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2529, p. 326, 328; Ver também Isaías 7:15, nota de rodapé 15a na Bíblia SUD em inglês.
[16]. Doutrina e Convênios 93:12-14.
[17]. Lucas 2:46-50.
[18]. Lucas 2:50.
[19]. Ver Isaías 7:3.
[20]. Ver Isaías 6:9-10 e comentário pertinente; Ver também D. e C. 82:3 e Lucas 12:48.
[21]. Ver Isaías 7:3.
[22]. Ver Isaías 7:1.
[23]. Dicionário Bíblico—Cronologia.
[24]. Ver comentário de Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, pp. 143-145.
[25]. Ver João 1:14; 3:16, 18; Alma 9:26; D. e C. 76:22-24.
[26]. Ver Lucas 1:31-35.
[27]. Ver Isaías 40:28; 41:20; 42:5-6; 44:24; 45:12; Moisés 1:33; 4:2.
[28]. Isaías 7:16.
[29]. Ver Isaías 8:1-4.
[30]. Ver Gileadi, p. 72-73.
[31]. Terry B. Ball, “Revisão do Capítulo de Isaías: 2 Néfi 17/Isaías 7”,  Companheiro Referencial do Livro do Mórmon: Dennis L. Largey, ed., Deseret Book Company, Salt Lake City, UT, 2003, p.371.
[32]. Brown et al., 1996, Número de Strong 2529, p. 326, 328.
[33]. Versículo 22 contém um quiasma: comer/manteiga/manteiga/comer. In Parry,  Harmonizing Isaiah, [Harmonizando Isaías] 2001, p. 258.
[34]. Brown et al., 1996, Número de Strong 7716, p. 961.
[35]. Ver Isaías 55:13; 5:6; 9:18; 10:17; 27:4; 32:13 e comentário pertinente.
[36]. Versículos 21 até 25 contêm um quiasma: Uma novilha e duas ovelhas/ houver mil vides, do valor de mil siclos de prata/será para as sarças e para os espinheiros/arco//flecha/sarças e espinheiros/cavar com enxadas/bois…ovelhas.